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Módulo III – Desigualdade de Clausis, Entropia, Geração de Entropia. Variação da Entropia em Substâncias Puras, Relações Termodinâmicas (Tds), Diagramas T-s e h-s, Entropia em Substâncias Incompressíveis, Entropia em Gás Ideal. Desigualdade de Clausius Aplicável para qualquer ciclo reversível ou irreversível. Ela foi desenvolvida pelo físico alemão R. J. E. Clausius (1822-1888) e é expressa por: ∮ ( 𝛿𝑄 𝑇 ) 𝑓𝑟𝑜𝑛𝑡𝑒𝑖𝑟𝑎 ≤ 0 onde δQ/T representa a soma de todo calor transferido de ou para um sistema dividida pela temperatura da fronteira. A desigualdade tem a mesma interpretação do enunciado de Kelvin-Planck: a igualdade é válida quando não ocorre irreversibilidades internas, e a desigualdade é válida quando irreversibilidades estão presentes. Com isso podemos escrever a desigualdade como: ∮ ( 𝛿𝑄 𝑇 ) 𝑓𝑟𝑜𝑛𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎 = −𝜎𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 Sendo: 𝜎𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 { = 0, 𝑎𝑢𝑠ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑖𝑟𝑟𝑒𝑣𝑒𝑟𝑠𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 > 0, 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛ç𝑎 𝑑𝑒 𝑖𝑟𝑟𝑒𝑣𝑒𝑟𝑠𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 < 0, 𝑖𝑚𝑝𝑜𝑠𝑠í𝑣𝑒𝑙 Entropia Ao contrário da massa e energia que se conservam, a entropia é produzida sempre que estão presentes condições de irreversibilidade (como por exemplo, o atrito). “É impossível para qualquer sistema operar de uma forma que a entropia seja destruída”. A entropia é uma propriedade que nos permite aplica as 2ª Lei da Termodinâmica de forma quantitativa e derivá-la de um ciclo para um processo Suponha um processo reversível de 1 para 2 indo pelo caminho A e retornando pelo caminho B ou C como mostrado na figura. Segundo a desigualdade de Clausis para o ciclo AB temos: (∫ 𝛿𝑄 𝑇 2 1 ) 𝐴 + (∫ 𝛿𝑄 𝑇 1 2 ) 𝐵 = −𝜎𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 = 0(𝑟𝑒𝑣𝑒𝑟𝑠í𝑣𝑒𝑙) O mesmo acontece indo pelo caminho C e retornando por B: (∫ 𝛿𝑄 𝑇 2 1 ) 𝐶 + (∫ 𝛿𝑄 𝑇 1 2 ) 𝐵 = −𝜎𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 = 0(𝑟𝑒𝑣𝑒𝑟𝑠í𝑣𝑒𝑙) Subtraindo as equações temos: (∫ 𝛿𝑄 𝑇 2 1 ) 𝐴 = (∫ 𝛿𝑄 𝑇 2 1 ) 𝐶 Portanto a integral depende apenas dos estados inicial e final e não do caminho tomado. 𝑆2 − 𝑆1 = ∆𝑆 = (∫ 𝛿𝑄 𝑇 2 1 ) 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑟𝑒𝑣𝑒𝑟𝑠í𝑣𝑒𝑙 [ 𝑘𝐽 𝐾 ] 𝑜𝑢 [ 𝐵𝑡𝑢 𝑅 ] 𝑠2 − 𝑠1 = ∆𝑠 = (∫ 𝛿𝑞 𝑇 2 1 ) 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑟𝑒𝑣𝑒𝑟𝑠í𝑣𝑒𝑙 [ 𝑘𝐽 𝑘𝑔 𝐾 ] 𝑜𝑢 [ 𝐵𝑡𝑢 𝑙𝑏 𝑅 ] Não existe um cenário físico associado com a entropia, portanto seu melhor entendimento será no uso. Porém a entropia através dessa maneira é de difícil obtenção, então podemos buscar a variação da entropia através de propriedades mais facilmente determináveis como veremos nos módulos adiante. Geração de Entropia A entropia é gerada durante um processo irreversível, e essa geração deve totalmente as irreversibilidades presentes no processo. Matematicamente o balanço de entropia para um sistema fechado toma a forma: 𝑠2 − 𝑠1 = ∆𝑠 = (∫ 𝛿𝑞 𝑇 2 1 ) 𝑓𝑟𝑜𝑛𝑡𝑒𝑖𝑟𝑎 + 𝜎 onde σ é a geração de entropia que pode ser escrito como Sger. Observe que a geração de entropia é sempre uma quantidade positivo ou nula. Por depender do processo esse valor não é uma propriedade do sistema. Com isso percebemos que para um sistema isolado a entropia sempre aumenta ou, no caso limite de um processo reversível, ela permanece constante. Isso é conhecido com princípio do aumento de entropia. O princípio do aumento da entropia não significa que a entropia de um sistema não possa diminuir. A variação da entropia de um sistema pode ser negativa durante um processo, mas a geração de entropia não pode. 𝜎 𝑜𝑢 𝑆𝑔𝑒𝑟 { > 0 𝑃𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜 𝑖𝑟𝑟𝑒𝑣𝑒𝑟𝑠í𝑣𝑒𝑙 = 0 𝑃𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜 𝑟𝑒𝑣𝑒𝑟𝑠í𝑣𝑒𝑙 < 0 𝑃𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜 𝑖𝑚𝑝𝑜𝑠𝑠í𝑣𝑒𝑙 Utilizando Gráficos de Entropia Para aplicação da segunda lei é útil à representação de processos tendo a entropia como uma das coordenadas. Os diagramas com essa propriedade que mais frequentemente são utilizados são os diagramas temperatura-entropia e entalpia-entropia. No diagrama T-s na região de vapor superaquecido as linhas de volume específico tem uma inclinação maior que as linhas de pressão constante. Além disso, nessa região as linhas de entalpia constante tornam-se horizontais com o aumento da entropia. Isso significa que onde as linhas de entalpia estão horizontais o modelo de gás ideal fornece uma aproximação apropriada. O diagrama de entalpia-entropia, também conhecido como diagrama de Mollier, é construído com o intuito de avaliar as propriedades em estados de vapor superaquecido e para misturas bifásicas líquido-vapor. Na região em que as linhas de temperatura constante se tornam horizontais com o aumento da entropia também é possível se ter uma aproximação apropriada com a equação dos gases ideais. Equações Tds Apesar de a entropia poder ser determinada pelas equações vistas nos módulos anteriores, esses cálculos podem não ser tão fáceis de serem realizados. Para isso iremos obter equações que envolvam a entropia com propriedades mais facilmente determináveis. As equações Tds são desenvolvidas considerando-se um sistema puro, compressível e simples submetido a um processo internamente reversível. (𝛿𝑄)𝑟𝑒𝑣 = 𝑑𝑈 + (𝛿𝑊)𝑟𝑒𝑣 (𝛿𝑊)𝑟𝑒𝑣 = 𝑝𝑑𝜗 𝑑𝑆 = (𝛿𝑄)𝑟𝑒𝑣 𝑇 → (𝛿𝑄)𝑟𝑒𝑣 = 𝑇𝑑𝑆 Substituindo temos: 𝑇𝑑𝑆 = 𝑑𝑈 + 𝑝𝑑𝜗 Porém H= U + pϑ e consequentemente dH= dU + pdϑ + ϑdp. Isolando dU + pdϑ e substituindo na equação anterior: 𝑇𝑑𝑆 = 𝑑𝐻 − 𝜗𝑑𝑝 Reescrevendo as equações em base mássica e em base molar temos: 𝑇𝑑𝑠 = 𝑑𝑢 + 𝑝𝑑𝑣 𝑜𝑢 𝑇𝑑�̅� = 𝑑�̅� + 𝑝𝑑�̅� 𝑇𝑑𝑠 = 𝑑ℎ − 𝑣𝑑𝑝 𝑜𝑢 𝑇𝑑�̅� = 𝑑ℎ̅ − �̅�𝑑𝑝 Embora sejam obtidas para processos internamente reversíveis, a variação de entropia para essas equações é valida para qualquer processo entre dois estados de equilíbrio em um sistema. Variação da Entropia para uma Substância Incompressível O modelo de substância incompressível admite que o volume específico seja constante e que a energia interna específica dependa somente da temperatura. Com isso du = c(T)dT, sendo c o calor específico da substânica. 𝑇𝑑𝑠 = 𝑑𝑢 + 𝑝𝑑𝑣 𝑇𝑑𝑠 = 𝑐(𝑇)𝑑𝑇 𝑑𝑠 = 𝑐(𝑇)𝑑𝑇 𝑇 = ∫ 𝑐(𝑇)𝑑𝑇 𝑇 𝑇2 𝑇1 Se o calor específico for constante: 𝑠2 − 𝑠1 = 𝑐 ln 𝑇2 𝑇1 (𝑖𝑛𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠í𝑣𝑒𝑙 𝑒 𝑐𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐í𝑓𝑖𝑐𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒) Variação da Entropia de um Gás Ideal Podemos utilizar as equações Tds para avaliar a variação de entropia entre dois estados para um gás ideal. 𝑇𝑑𝑠 = 𝑑𝑢 + 𝑝𝑑𝑣 𝑇𝑑𝑠 = 𝑑ℎ − 𝑣𝑑𝑝 Para um gás ideal, du = cv(T)dT, dh = cp(T)dT e pv = RT. Substituindo nas equações de entropia temos: 𝑑𝑠 = 𝑐𝑣(𝑇) 𝑑𝑇 𝑇 + 𝑅 𝑑𝑣 𝑣 𝑑𝑠 = 𝑐𝑝(𝑇) 𝑑𝑇 𝑇 − 𝑅 𝑑𝑝 𝑝 Integrando as equações obtemos: 𝑠(𝑇2, 𝑣2) − 𝑠(𝑇1, 𝑣1) = ∫ 𝑐𝑣(𝑇) 𝑑𝑇 𝑇 + 𝑅 ln 𝑣2 𝑣1 𝑇2 𝑇1 𝑠(𝑇2, 𝑝2) − 𝑠(𝑇1, 𝑝1) = ∫ 𝑐𝑝(𝑇) 𝑑𝑇 𝑇 − 𝑅 ln 𝑝2 𝑝1 𝑇2 𝑇1 Como R é constante podemos integrar o ultimo termo, mas precisamos de uma função de gases ideais que relacionem os valores de calor específico. Sabendo que cp(T) = cv(T) + R, o conhecimento de qualquer um dos calores específicos é suficiente Utilizando tabelas de gás ideal temos que: 𝑠° = ∫ 𝑐𝑝(𝑇) 𝑑𝑇 𝑇 𝑇2 𝑇1 𝑠(𝑇2, 𝑝2) − 𝑠(𝑇1, 𝑝1) = 𝑠 °(𝑇2) − 𝑠 °(𝑇1) − 𝑅ln 𝑝2 𝑝1 Ou na base molar: �̅�(𝑇2, 𝑝2) − �̅�(𝑇1, 𝑝1) = �̅� °(𝑇2) − �̅� °(𝑇1) − �̅� ln 𝑝2 𝑝1 Assumindo calores específicos constantes teremos: 𝑠(𝑇2, 𝑣2) − 𝑠(𝑇1, 𝑣1) = 𝑐𝑣 ln 𝑇2 𝑇1 + 𝑅 ln 𝑣2 𝑣1 𝑠(𝑇2, 𝑝2) − 𝑠(𝑇1, 𝑝1) = 𝑐𝑝 ln 𝑇2 𝑇1 − 𝑅 ln 𝑝2 𝑝1 Ou na base molar: �̅�(𝑇2, 𝑣2) − �̅�(𝑇1, 𝑣1) = 𝑐�̅� ln 𝑇2 𝑇1 + �̅� ln 𝑣2 𝑣1 �̅�(𝑇2, 𝑝2) − �̅�(𝑇1, 𝑝1) = 𝑐�̅� ln 𝑇2 𝑇1 − �̅� ln 𝑝2 𝑝1 Assumindo a temperatura constante, mas com pressão e volume variando temos: 𝑠(𝑣2) − 𝑠(𝑣1) = 𝑅 ln 𝑣2 𝑣1 𝑠(𝑝2) − 𝑠(𝑝1) = −𝑅 ln 𝑝2 𝑝1 Exemplos 1) Um arranjo cilindro-pistão contém uma mistura de água líquida e vapor d’água a 300 K. Durante um processo a pressão constate, 750 kJ de calor transferidos para a água. Como consequência, parte do líquido do cilindro é vaporizada. Determine a variação de entropia da água durante o processo. Resolução: ΔS = Q/T = 750/300 ΔS = 2,5 kJ/K 2) Água, inicialmente no estado de líquido saturado a 150°C, está contida em um conjunto cilindro-pistão. A água é submetida a um processo que a leva ao estado correspondente de vapor saturado, durante o qual o pistão se move livremente ao longo do cilindro. Não ocorre transferência de calor para a vizinhança. Se a mudança de estado acontece pela ação de um agitador, determine o trabalho líquido por unidade massa e a quantidade de entropia produzida por unidade de massa Resolução: ΔU + ΔEC + ΔEP = Q – W W/m = - (u2 – u1) Das tabelas termodinâmicas temos que: u1 = 631,68 kJ/kg e u2 = 2559,5 kJ/kg W/m = - (2559,5 – 631,68) W/m = -1927,82 kJ/kg ΔS = Q/T + σ σ/m = s2 – s1 Das tabelas termodinâmicas temos que: s1 = 1,8418 kJ/kgK e s2 = 6,8379 kJ/kgK σ/m = 6,8379 – 1,8418 σ/m = 4,9961 kJ/kgK 3) Metano líquido é normalmente usado em diversas aplicações criogênicas. A temperatura crítica do metano é de 191 K e, portanto, o metano deve ser mantido abaixo desse valor para que permaneça na fase líquida. Determine a variação da entropia do metano líquido durante o processo de 110 K e 1 MPa até 120 K e 5 MPa: a) usando as propriedades tabeladas e b) aproximando o metano líquido por uma substância incompressível. Qual o erro associado ao segundo caso. Resolução: a) Das tabelas s1 = 4,875 kJ/kgK, cp1 = 3,471 kJ/kgK, s2 = 5,145 kJ/kgK e cp2 = 3,486 kJ/kgK Δs = s2 – s1 = 5,145 – 4,875 = 0,270 kJ/kgK b) Δs = cmédio ln(T2/T1) cmédio = (cp1 + cp2)/2 Δs = 3,4785 ln(120/110) = 0,303 kJ/kgK Erro = |Δsreal – Δsideal| / Δsreal Erro = 0,122 ou 12,2% 4) Ar é comprimido a partir de um estado inicial de 100 kPa e 17°C até um estado final de 600 kPa e 57°C. Determine a variação de entropia do ar durante esse processo de compressão, usando a) valores de propriedades da tabela de ar e b) calores específicos médios Resolução a) Da tabela de propriedades s2° = 1,79783 kJ/kgK, s1° = 1,66802 kJ/kgK e R = 0,287 kJ/kgK s2 – s1 = s2° - s1° - R ln(P2/P1) = 1,79783 – 1,66802 – [0,287 ln (600/100)] s2 – s1 = - 0,3844 kJ/kgK b) Tmédia = 37°C, cp, médio = 1,006 kJ/kgK s2 – s1 = cp, médio ln (T2/T1) – R ln(P2/P1) s2 – s1 = 1,006 [ln (330/290)] - 0,287 ln (600/100) s2 – s1 = - 0,3842 kJ/kgK
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