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GRUPO - FUGACIDADE, RITMO E FORMA Este livro expõe o modelo de trabalhos com grupos da Psicologia Humanista, ao mesmo tempo em que busca ampliar uma compreensão e explicação de seus fundamentos. Uma concepção abrangente, voltada para a . consideração pelo indivíduo, como singularidade, no grupo e pelo grupo. Busca, desta forma, um clima que possa, simultaneamente, potencializar a criatividade do indivíduo e do grupo, otimizando a capacidade destes na realização de suas tarefas. N. charn.: PSI 302.3 F676g Autor: Fonseca, Afonso Henrique Lisboa da Titulo. Grúpo : fugacidade. ritmo e Ilmllllllllllllllllllll~11111I1I11 1111111111111111111111111111111111111 ~~~~:~ 13 Ex.2 Afonso H. Lisboa da Fonseca PSicólogo, psicoterapeuta e facilitador de grupos, trabalhando na linha dos referenciais da gestalterapia e da abordagem centrada na pessoa. Participou de programas de treinamento do "Center 85'1 ""346 .•••{or the Studies of the Person" no Brasil, E.U.A. E Jí~l~\l~í~J~~~JI~l~::~d::~;~~:;~:~~e::'~:~~:i:;:::~: • "",,4;O"S""~.""u@'",:'!:""~' r, ~/ 111 1\1 . FUGAC IDADE RITMO E FORMA PROCESSO DEGRUPO E FAC1LlTAÇAoNA PSICOLOGIA HUMANISTA GRUPO - FUGACIDADE, RITMO E FORMA Processo de Grupo e Facilitação na Psicologia Humanista ÍNDICE Prefácio 9 Introdução 13. CAPÍTULO 1 A Proposta do Grupo Vivencial 19 CAPÍTULO 2 Grupo, Fugacidade, Ritmo e Forma O Trágico e o Plástico na Vivência Grupal ; 47 CAPÍTULO 3 "Toques" Sobre o Processo da Facilitação A Configuração de Fragmentos 79 CAPÍTULO 4 Empatia, Visibilidade e Disciplina Empatia, Controle da Diferença ou Pregnância da Outri- dade 117 CAPÍTULO 5 Multiplicidade, Diferença, Experienciação, Intensidade e Retorno Dimensões Terapêuticas do Grupo Vivencial 131 CAPÍTULO 6 Grupo) Sociedade de Consumo e Necessidades Humanas 147 CAPÍTULO 7 Grupo e "Pessoa" ................................ 169 CAPÍTULO 8 O que Chamamos de "Grupo"? 175 PREFÁCIO o filósofo político Ernest Becker, no seu livro Angel in Armor, atesta que: "O Homem é o único animal criado pela evolução que pode usar seu poder para uma liberação maior dos indivíduos, da contínua ação coerciva dos grupos" (p. 112). O que será que isso significa? . Que grupos controlem seus membros raramente é contestado. A sociedade,por exemplo, continua a limitar as inovações individuais a despeito do seu valor para o grupo. No seu ensaio, Individual Liberty and Public Control, Bertrand Russell sugeriu que o próprio progresso pode também acarretar a ilusão que não é necessária mais nenhuma inovação. "Cada geração é tolerante somente com as ino- vações do passado. As do seu próprio tempo encontram as mesmas perseguições como se jamais se tivesse ouvido falar do princípio da tolerância." Os psicólogos não foram tímidos em culpar o grupo pelos males do indivíduo. Catl Ro er, por exemplo, acusou: "As influências culturais é que são o fator principal das más condutas". Ele vê os membros da espécie humana "como essencialmente construtivos na sua natureza fundamental, mas estragados pela sua experiência" (1981). "A única questão", Rogers adverte, é: "Será que estou vivendo de um modo que é plenamente satisfatório para mim, e que verda- deiramente me expressa?" (1961, p. 119). Esta atitude pode ser um passo importante no processo de liberação do indivíduo da coerção dos grupos. Entretanto, por ignorar a relação inseparável entre o grupo e seus membros e quando seguida como princípio generali- zador, tende a funcionar somente para uns poucos indivíduos e realmente não "libera os indivíduos da contínua coerção dos grupos". A responsabilidade do indivíduo na formação da cultura não pode ser posta de lado. "Quem faz esta cultura", perguntou RolIo 9 May, "se não estas mesmas .pessoas como você e eu? ... Não há sel]. senão na interação com uma cultura, e nenhuma cultura que não se conceitua de selves" (1982). Então será que deveremos nos voltar para Os grupos a fim de liberar os indivíduos? Deveríamos entender a' proposta de Becker como um mero manifesto de revolu- cionários políticos? Um pequeno grupo de fanáticos que ganha o apoio das massas e depõe o grupo dominante, será que realmente libera o indivíduo? Além de impor uma nova moralidade, a nova ordem freqüentemente difere muito pouco da velha e o indivíduo não passa melhor do que antes. Não, não é nem o indivíduo nem o grupo: é o Homem que tem o poder de liberar os indivíduos. O Homem é você e eu, os pais de nossos pais e os filhos de nossos filhos, nossos atos, nossos artefatos, como vivemos e morre- mos. "Sentamos juntos e conversamos", escreveu Schopenhauer no seu ensaio sobre a indestrutibilidade do nosso Ser pela Morte, "e ' ficamos excitados, e nossos olhos brilham e nossas vozes ficam agudas: assim também outros sentaram e conversaram mil anos atrás: era a mesma coisa, e eram as mesmas pessoas: e será assim também daqui a mil anos. O dispositivo que nos impede de perceber isto é o tempo". Assim, ao nos perguntarmos se estamos vivendo de um modo que "verdadeiramente nos expressa" e realizando quem somos, no tempo, e realizando as conseqüências das nossas ações, estamos assumindo a responsabilidade pela cultura e liberando os indivíduos da coerção dos grupos. Mas exatamente como os indivíduos são influenciados pela cultura e a influenciam é muito complexo. Tendo nascido numa cultura e ordem social que já estava formada e na qual pessoalmente tivemos muito pouco a dizer na sua formação, somos nós próprios moldados, algumas vezes para pior. Nossos atos, como indivíduos, tomados juntos alteram e redefinem a cultura e a ordem social, tanto direta quanto indiretamente. Assim o Homem está numa posição peculiar de criar algo que ele está seguindo. Ignorar a influência e a responsabilidade do grupo ou ignorar a influência e a responsabilidade do indivíduo são igualmente graves. Para as transições práticas precisamos deste livro do Fonseca e outros como ele. Este livro nos ajuda a entender a natureza dos grupos que têm como um dos seus propósitos explícitos a liberação dos membros individuais da sua própria repressão. Entender a natu- reza dos grupos é um passo adiante na direção da compreensão de como você e eu podemos inovar, inventar, expressar originalidade e 10 contribuir com consciência para o todo do qual somos parte, nossos atos (tomados juntos) definindo uma sociedade mais sábia e efetiva. [ohn Keith W ood Estância Jatobá, 26 de janeiro de 1988: REFERÊNCIAS Rogers, C. R., On Becoming e Person, Boston, Houghton Mifflin, 1961. ___ ' , Notes on Rollo May, Perspectives, 2(1}, Humanistíc Psychology Institute, San Francisco, p. 16, 1981. May, R., The problem of evil: An <;,pen letter to Carl Rogers, Iournal oi Humanistic Psychology, Summer issue, 1982. 11 INTRODUÇÃO o conjunto de ensaios que compõe este volume não carrega pretensões de que eles se configurem como um conjunto que abranja a globalidade do tema, que o esgote ou mesmo que o trate exausti- vamente. Compõe-se, entretanto, de reflexões, observações, associações e elaborações teóricas que emergem essencialmente da simples pro- posição, vivência e prática dos grupos vivenciais' e da sua facili- tação, a partir, originalmente, dos modelos formulados por Rogers e companheiros, em particular nos anos 70, com marcadas influências do clima da Psicologia Humanista de então e, portanto, da Gestal- terapia. Julgamos importante que possamos, enquanto conjunto de pro-. fissionais e de estudantes, refletir coletiva e sistematicamente sobre nossos objetos de estudo, perspectivas, posturas e métodos de trabalho e contribuir, a partir de nossas reflexões particulares, para um processo coletivo de elaboração teórica criativa e eficiente, que possa realimentar os nossos modelos e possibilidades de trabalho. Naturalmente que uma teorização desse tipo não pode confun- dir-se com umcientificismo estéril, ou com a simples especulação abstrata, desvinculada dos processos concretos. Sabemos dos limites . e dos malefícios do cientificismo ou da "erudição" que, em suas suspeitas esoterizações de todos os conhecimentos, servem, de modos cada vez mais nítidos, à manutenção e à reprodução de estruturas necrófilas de desempenho do poder. Conhecemos com freqüência os limites da ciência como forma de conhecimento e intervenção huma- nos, nós em particular, que confrontamos e que vivemos cotidiana- mente as evidências de que a produtividade em nossos trabalhos está sempre inteiramente impregnada do artístico. * Para efeitos práticos, sempre que nos referimos ao grupo, aqui estamos considerando a modalidade do grupo vivencial de fim de semana, que é uma forma mais completa e que inclui as demais. 13 Existe, entretanto, um preconceito generalizado contra a teori- zação, preconceito que não se radica numa crítica saudável da teo- rização como modo exclusivo ou como modo maior de conhecimento, nem na crítica do teoricismo abstrato e vazio, ou na crítica da teoria como modo primário de conhecimento, mas que pretende banir toda e qualquer forma de teorização, como inútil, como desnecessária, como espúria. Existe uma variedade de equívocos e de indícios de suspeição numa tal postura. Sabemos que a vida precede a teorização e que existe aí uma relação hierarquizada. A teorização, entretanto, é um momento, ainda que subalterno, irrecusável da produção e da aplicação de conhe- cimento e da própria produção da realidade, principalmente quando consideramos a intrínseca e irrevogável natureza coletiva desses processos. Marco de referência, a teorização é um nível fundamental de comunicação no processo de criação e recriação de conhecimentos e da própria realidade física e social. De modo que bani-lasignifica a obstrução de suas possibilidades nesse sentido. . Acredito que existe um tipo particular de equívoco ao nível da Psicologia Humanista. Contrariando certas tendências da psico-· terapia ou do que se chama de "aconselhamento", ou. do trabalho com grupos, as linhas da Psicologia Humanista fundaram-se numa postura experimental. Postura esta que prescinde de teorização,seja ela moral, ínterpretativa, técnica, "iluminada" e outras, no momento particular de sua prática. Essa postura, perfeitamente válida e inova- dora da Psicologia Humanista, no seio das psicologias ocidentais, não significa, entretanto, uma abolição da teorização como uma das formas possíveis de seu crescimento e de comunicação entre os seus praticantes. Lamentavelmente, isso nem sempre tem sido bem entendido, e execra-se, desinformadamente, a teorização em si como um modo espúrio de desenvolvimento e de comunicação, ao mesmo tempo em que se patina flagrante e festivamente num lodaçal de conceitos alie- nígenas e alienados, de chavões coloridos e fúteis e de lugares-comuns, que militam. no sentido da pretensão de garantir uma abstenção ao movimento da realidade e de manter estática uma certa ordem do mundo. Reconhecemos os limites da teorização e mesmo da ciência, Como dissemos, como forma de comunicacão humana e como instru- mentos de produção de conhecimentos, de crescimento e da criação e recriação da realidade, mas não podemos deixar de reconhecer a sua importância, dentro dos seus limites próprios. Mesmo porque a boa teorização impõe-se por si mesma,auto- -evidencia-se, não pede licença, nem mesmo àqueles que a articulam, 14 num momento individual de um processo que é eminentemente coletivo. De um modo simples e despretencioso, é isso que pret~ndemos que sejam os momentos mais criativos. dos presente~ ensaios. M~- mentos modestos de um processo coletivo de produçao do conheci- mento e de produção da realidade, no âmbito .em particular dc:s qu~ trabalhamos com grupos. Se faz ou não sentido essa pretensao, so os seus efeitos poderão dizer. A tentativa, no entanto, é natural e spontânea, sincera e alegre; e a nosso ver, justifica-se simplesmente por isso. A teorizacão sobre os grupos vivenciais tem sido muito limitada c escassa, ainda que· hajam contribuições significativas. Mesmo da parte daqueles que os propuseram originalm~nte, na forma que eles têm tomado na Psicologia Humanista. Acreditamos mes~o ·que estes que elaboraram o model~ origi~al - .no qu.e pese a n9-ueza des~e modelo - nunca consegurram dizer satisfatoriamente as linhas gerais daquilo que têm intuído. É evidente que seria imp~ssível, e mesmo contraproducente, uma descrição minuciosa e exaustiva. No .e~tan!o, o que presenciamos não é uma sábi~ abstenção A d~ exphclt~ço~S excessivas mas uma impotência no dizer. Impotência que nao e, naturalmente dos indivíduos, mas de sua articulação coletiva, e que decorre,' em grande parte, do preconceito e da aversão à teori- zação de que vimos tratando. Isso dá lugar, por um lado, ao surgimento, ao desdobramento, em vários níveis, de uma série de distorções, que são .bas!a~te evidentes. E, por outro, a uma dissipação progressiva das intuiçoes originais e das implicações de sua. prática, que,. ~elo simples fato de não serem comunicadas e efetivamente explicitadas, perdem-se progressivamente, exaurindo-se abortivamente sem terem efetivado as suas potencialidades e involuindo precocemente, em vez de serem transcendidas na prática pela crítica efetiva. Isso é, evidentemente, um efeito maior do riiilismo que grassa no âmbito da Psicologia Humanista e que exigiria um outro espaço para ser efetivamente comentado. Acreditamos na importância do modelo de trabalho dos grupos vivenciais, tanto em termos de suas aplicações mais freqüen.tes, na clínica psicológica, nos grupos de crescimento, na pedagogia =. como em inúmeros outros campos, praticamente inexplorados, quais sejam, por exemplo, o d~. autogestão na ?:gatiiza~ão da sociedade civil, o das relações familiares, da educaçao ambiental, das nego- ciações coletivas e outros. Por isso é que reconhecemos a importância de "conversarmos" sobre os fundamentos do que fazemos em nosso trabalho, sobre o 15 que aprendemos, descobrimos, sobre as associações que nos ocorrem, sobre as dificuldades, dúvidas e "grilos" em geral, no sentido de uma movimentação criativa de nossos modelos de trabalho, de nossas perspectivas, de nossas posturas e métodos. Este volume tem a pretensão de servir de veículo para al- guns aportes em conversas desse tipo. Apartes que se originam, nessa -sua forma, de alguém que conhece bem - porque consciente- mente co~primido por ela - a estreiteza dos seus próprios limites, mas cônscio também da relevância da efetivação da simples alegria de dizer, sem que, portanto, seja necessário concorrer à remissão dos pecados. O que aqui está colocado nestes ensaios deriva da prática con- creta do grupo vivencial e surge espontaneamente como uma reflexão necessária a um aprofundamento e clarificação de referenciais de trabalho. Surge, também, como uma inevitável elaboração teórica dessa prática, elaboração essa que se dá muito mais pelo seu prazer do que pela pretensão de uma verdade privilegiada. Buscamos inicialmente (capítulo 1) mapear os contornos da proposta do grupo vivencial. Acreditamos que um esboço dessa proposta pode ser útil, tanto no sentido de delimitá-Ia como no sentido de clarificá-Ia para quem por ela se interessa e nela even- tualmente se inicia. A seguir (capítulo 2), tentamos abordar dimensões do grupo que fogem aos arcabouços conceituais com os' quais ele tem sido tratado e,. diga-se de passagem, com os quais a própria psicologia tem sido tratada, e que, não obstante, são dimensões fundamentais da vivência grupal e da produção de seus efeitos. Dizem respeito ao caráter "coletivo" e fugaz da vivência grupal e, em particular, à natureza trágica (no sentido nietzschiano) de sua pro- posta. Sempre implícita, mas nunca explicitada, como ocorre aliás, com as posturas da Psicologia Humanista.Acreditamos, como já foi mencionado por Rogers, O'Hara e Wood, que o grupo vivencial configura o resgate de uma modalidade antiga de regeneração e de revitalização da socialidade humana e do indivíduo. Nesse sentido, parece bastante interessante pensá-lo se- gundo as perspectivas sociológicas elaboradas por Michel Maffesoli, que tematiza a vivência nos espaços coletivos em todas as sociedades como uma forma de vivência intensa da socialidade humana. A seguir, coletamos no capítulo 3 uma série de reflexões relativas a temas do processo da facilitação. Essas reflexões visam elucidar questões concretas desse processo e explicitar um certo conhecimento a elas relativo. . A empatia é um tema maior da Abordagem Centrada na Pessoa e da Gestalterapia, e mesmo de todas as abordagens psicoterapêuticas. 16 Tem um papel muito importante na facilitação do grupo vivencial e mesmo crucial em certos momentos. Não são poucos, entretanto, os riscos conceituais e as possibilidades de distorção e de uso mani- pulativo dessa idéia de empatia. Tentamos no capítulo 4 tratar desses riscos e possibilidades, fazendo uma crítica do conceito e tentando ressaltar a importância da preservação e mesmo do privile- giamento da tensão de diferença entre os sujeitos de uma relação empática. No capítulo 5 tentamos elucidar alguns aspectos psicote- rapêuticos do grupo vivencial. Aspectos que consideramos não-for- mais e aspectos que podem ser compreendidos a partir da perspec- tiva das teorias da terapia da Abordagem Centrada na Pessoa e da Gestalterapia. Os capítulos 6, 7 e 8 buscam trabalhar referenciais para uma contextualização do grupo vivencial. É cada vez mais evidente que os subsídios teóricos fornecidos pela Psicologia Huma- nista, e mesmo pela Psicologia, não dão conta de uma compreensão ampla do grupo vivencial, sendo necessário o concurso de outras áreas de ciência e da filosofia. Nesses três capítulos tentamos pensar o grupo a partir da perspectiva de sua pertinência ao contexto da estrutura de necessidades da sociedade de consumo (capítulo 6). No capítulo 7 tentamos pensar de um modo menos individualizante o conceito de pessoa e a importância e implicações de uma tal perspectiva para a concepção e prática da proposta do grupo viven- cial. No capítulo 8, por fim, buscamos conceituar o "grupo" segundo referenciais mais amplos do que os que nos pode propiciar a teori- . zação da Psicologia Humanista. É possível que uma compreensão mais abrangente e contextualizante do grupo nos possa propiciar importantes subsídios para a sua compreensão, para a compreensão de seus processos e para a compreensão da vivência particular de seus participantes. . São Paulo, dezembro de 1987. 17 CAPÍTULO 1 A PROPOSTA DO GRUPO VIVENCIAL "A palavra nasce substancialmente, vez após vez, entre homens que, nas suas profundidades, são cap- tados e abertos pela dinâmica de um elementar estar juntos. O inter-humano propicia aqui uma abertura àquilo que de outra maneira permanece fechado." (M. Buber em Do Diálogo e do Dialógico) "Ao transcender a' si próprio, o indivíduo agrega a outros elementos contraditórios para formar um todo que, por seu turno, valoriza sua existência. ( ... ) Só podemos existir na medida em que fizermos parte de uma ordem na qual integramos a nossa diferença assumida /Ium todo que vai além de /Iós." (M. Maffesoli em A Sombra de Dionísio) A proposta do grupo vivencial, tal como a trabalhamos aqui, é uma proposta já desenvolvida e testada por mais de trinta anos, desde os seus primórdios, com os chamados "Grupos de Encontro". B, não obstante, uma proposta precariamente explícita, em particular no que se refere a suas modalidades mais recentes. Isso parece dever-se, em grande parte, ao profundo empirismo de suas origens, que, tendo revelado importantes frutos, parece chegar a um esgota- mento inescapável, que solicita o concurso de uma explicitação ade- quada dos modelos de trabalho elaborados e uma vigorosa e compe- tente reflexão teórica sobre eles, sobre seus efeitos e contextos, para que novas, desconhecidas e incertas florescências possam ser via- bilizadas, Um trabalho desse tipo, naturalmente, só pode ser desenvolvido, como trabalho coletivo, pelo conjunto de profissionais que por ele se interessa. O que aqui pretendo é tentar explicitar uma visao pessoal e, certamente, incompleta e provisória, da proposta do grupo vivencial, tal como a tenho aprendido, vivido e recriado - como inevitavel- 19 mente o faz quem quer que a operacionalize -, de modo a colaborar com esse processo coletivo de. explicitação e reflexão acerca de suas formas e conteúdos. 1. MODALIDADE DO GRUPO VIVENCIAL I. 'I A proposta dos grupos vivenciaís e da facilitação tem uma estrutura básica que possibilita uma certa variedade de modalidades. Pretendemos empreender inicialmente a uma descricão sucinta destas modalidades. ' Quanto ao seu caráter mais geral, Os grupos podem ser "resi- denciais" OU "não-residenciais". Osgi'upos resídenciaís . são grupos com mais de um dia de duração, com atividadesde reunião "formal" de grupo e com a possibilidade de reuniões e encontros informais entre os participantes. Nessa modalidade, os participantes fazem conjuntamente as suas refeições e alojam-se num mesmo local, pelo período de duração do grupo, sendo necessário que se providencie a infra-estrutura para tal. Podem ter dois dias de duração, por exemplo, ou' desenvolverem-se em um final de semana, o que é mais comum, ou ainda durante uma semana, dez ou quinze dias. Os grupos "não-residenciais" são grupos que têm a' duração de menos de um dia, e os participantes fazem as suas refeições, ou pelo" menos dormem, em suas residências. Os participantes desse tipo de' grupo podem reunir-se uma única vez, ou por várias vezes sucessi- vamente, como um mesmo conjunto 'de pessoas, com sessões de maior ou menor duração, mais ou menos intensivamente. Podem reunir-se igualmente, por exemplo, durante um final de se!llana - sexta-feira à noite; sábado, pela manhã, à tarde e/ou à noite; e domingo pela manhã e/ou à tarde, a critério dos parti- cipantes -, sendo que, como foi dito, dormem em suas residências, fazendo por conta própria as suas refeições (não são raros,entre- tanto, os grupos que decidem fazê-Ias conjuntamente). Esses grupos não-residenciais podem ser mais ou menos exten- sivos, contando, de um modo geral, com o mesmo conjunto de parti- cipantes. Podem assim reunir-se durante um dia de semana, ou uma vez por semana, ou ainda durante um certo período de tempo, como três, seis, meses, um ano etc. . Existem, naturalmente, algumas diferencas estruturais entre os grupos de caráter residencial e os de caráter não-residencial. Além das diferenças relativas às questões de infra-estrutura, é importante ressaltar as diferenças relativas aos modos de convivência dos parti- cipantes, já que nos grupos residenciais eles compartilham uma certa 20 cotidianidade particular nos momentos de refeição, nos horários vagos e de lazer, dormindo num mesn;o. co~junto de a~os~~tos .. O compartilhamento dessa cotidianidade e, ~nexIstente ou s~g~lÍ1cat1V~- mente reduzido nos grupos não-residenciais, tendendo a limitar-se as "reuniões formais" de grupo, que são apenas um dos tipos possíveis de atividade comum nos grupos residenciais. Nestes, portanto, os participantes têm amplas oportunidades para .co?tatos informais em relações diádicas ou múltiplas, o que potencializa enormemente as possibilidades da vívência grupal, que dispõe então de uma contex- tualização vivencial mais ampla .. Não obstante, a proposta básica do grupo e a relação básica do facilitador com este e com os participantes é a mesma. Quanto ao número de participantes, os grupos vivenciais podem . também variar. O mínimo ideal parece ser o de um conjunto de dez ou doze' participantes. O que não impede que se façam grupos menores de atétrês participantes, por exemplo. Deve-se, nesses casos, naturalmente, esperar um processo mais "concentrado", diga- mos. Se pensamos, por exemplo, que a terapia diádic~ é u~ grupo de dois participantes e que pode ser bastante produtivo e intenso, vemos que não há por que não fazer pequenos grup?s, mes~o que com três participantes apenas, desde que esses estejam motlvados, disponíveis e conscientes do tipo do grupo. O "pequeno grupo" pode ter até vinte participantes. Um bom número para grupos residenciais de cur~a duração - um fim de semana, por exemplo - parece ser o de vinte e c.mco a trinta pessoas. Grupos maiores podem ser ev:ntualmente reahz~dos. Em grupos com um maior período de duraçao pod:m' ~aver trinta, cinqüenta, oitenta, cem participantes. Grupos excepcionais podem ter mais que isso. . 2. ENCONTRO, ESPONTANEIDADEE AFIRMAÇÃO Uma característica fundamental dos grupos vivenciais é que o Iacilitador não tem nenhum programa a priori par~ o grup~. O <J~e interessa à sua proposta é que as pessoas, as realidades exístenciais ue se encontram no grupo, efetivamente se encontrem. Que se descubram, que se criem e recriem ativamente, a partir da esponta- n idade da dinâmica das relações da multiplicidade de suas perspec- tlvas pessoais e coletivas, tanto em termos da subjetividade, comp~r- tumentos e ações de seu conjunto global como em termos da subje- tividade, comportamentos e ações dos segmentos deste e das pessoas Individuais. 21 Ê nesse sentido que o facilitador investe o poder que lhe faculta a possibilidade de criar esse encontro e de nele manter-se como facilitador; é nesse sentido que ele investe suas capacidades, habili- dades, sentidos e o momento de sua própria atualidade existencial. De modo que a proposta do grupo vivencial é, em síntese, a da ~riação, e participação nos desdobramentos espontâneos, da opor- tunidade de um encontro particular e imediato de pessoas num microgrupo transitório, isto é, efêmero, a partir da influência autô- noma da multiplicidade de suas dimensões constituintes, quer sejam elas pessoais, subgrupais ou efeitos do conjunto do coletivo grupal. Criada a oportunidade do encontro, interessa que se configurem e que se desdobrem plenamente - segundo os padrões automoti- vados, autodirigidos e regulados por seus agentes - as relacões interindividuais e intersubgrupais, as relações indivíduos-grupo ~ as configurações grupais espontâneas que se constituem na contingência própria desse encontro particular. Interessa igualmente o livre fluxo, constituição, reconstituição e desdobramento, e a ativa e eventual expressividade, motivada pelo interesse de seus agentes, da expe- riência subjetiva concomitante às relações contingentes ao encontro. O que é que se. encontra no encontro, através dos agentes pessoais que a ele constituem? Numa certa perspectiva, são as relações sócio-culturais e histó- ricas que os constituem como pessoas e que intermediam as suas interações, que, de uma forma ou de outra, influenciam a consti- tuição de suas atualidades existenciais e a constituicão dos sub- sistemas de que eles participam no contexto do grupo. São, por outro lado, as formas particulares da pessoalidade de cada um deles e do "momento" de então de suas atualidades existenciais. São as necessidades, interesses, capacidades, potencialidades e sentidos desse momento que confundem no encontro, constituindo-o e reconstituin- do-o e sendo por ele constituídos e reconstituídos. Interessa que, como "encontro", essa confluência de momentos de atualidades existenciais se constitua e se desdobre, multidimen- sional e dinamicamente, a partir da participação automotivada de c~da um de. seus agentes individuais, dos subsistemas que as condi- çoes pessoais comuns, eventualmente, determinam, e a partir dos fluxos e refluxos subjetivos, objetivadores e objetivados do processo coletivo global do conjunto em que eles se articulam. .0 .grup? vivencial não tem, pois, nenhum tipo de programa a prtori. O interesse de sua proposta é o de que o seu "aconteci- t " dmen o se engen te como processo espontâneo de constituicão e de ?esd~bramento das relações interpessoais, intersubgrupais ~ grupais imediatas de seus participantes, a partir de seus interesses pessoais e coletivos. 22 O momento da atualidade existencial de cada um dos parti- cipantes individuais, assim como a situação de cada um dos sub- sistemas eventuais em que eles se articulam a partir de suas condições, necessidades e interesses, são privilegiados como focos autônomos e ativos de constituição e reconstituição do encontro/processo grupal. Interessa, pois, que este se constitua e se desdobre dinamicamente de modo heterogêneo e descentralizado, como processo multidimen- sional, gerado a partir dos dinamismos próprios das relações da multiplicidade de dimensões de seus elementos constituintes. A proposta do grupo vivencial só pode, pois, ser ?ensad!, compreendida e explicada adeq,:adamente a partir da c~nfIgu:açao de uma diversidade de perspectivas que abordem a particularidade da vivência das várias de suas dimensões simultâneas, distintas, mas dialeticamente articuladas. De modo que parece interessante pensar distinta e simultaneamente a proposta do grupo vivencial da perspec- tiva do "grupo" enquanto sistema global, da perspectiva do partici- pante individual, da perspectiva dos subsistemas em que eles event?al ou necessariamente se articulam dentro do grupo e da perspectiva do facilitador/equipe de facilitadores. Na perspectiva do grupo como sistema global é importante res- saltar a sua intrínseca dependência para com o facilitador, ou para com a equipe de facilitação. Dependência que pode diluir-se, à medida do transcurso do processo grupal, mas que é fundamental nos primórdios deste. No que pesem as características "democráticas", digamos, ~e sua proposta, o grupo vivencial constitui-se necessariamente a partir do poder do Iacilitador. Na verdade, como observei em um outro texto,' ao criar o grupo, o facilitador cria um universo para o seu poder. Este poder carece de ser visto em (pelo menos) dois níveis distintos. Como "poder institucional", oriundo do sistema social mais amplo, e que se presentifica nas credenciais e habilitações para as práticas institucionais que o facilitador desenvolve; e como o poder que em grande parte deste deriva, mas que se gera ao nível, digamos, da "interioridade" do sistema grupal particular. Ainda que derive basicamente do primeiro - ou seja, que se origine extrinse- camente ao sistema grupal particular, na estrutura institucional da sociedade -, este segundo nível tende, nos casos bem-sucedidos, a diferenciar-se particularmente dentro do sistema grupal, a consti- 1. Fonseca, A. H. L., "Instituição, Poder e Vida - Idéias sobre a Faci- litação de Grupos Centrada na Pessoa", in Rogers, C. R., Wood, J. K., Q'Hara, M, M., Em Busca de Vida, São Paulo, Summus, 1983. 23 . difei t' '. f di' t d /tuír-se, 1 erenciar-se e me amor osear-se com o esenvo vimen o o I seu processo. Nesse momento, então, não se trata simplesmente do' poder extrinsecamente conferido pela estrutura do sistema social mais amplo, mas é, agora, um nível de poder intrínseca e particular- mente elaborado e conquistado pelo facilitador no próprio processo de constituição e desdobramento do grupo como sistema singular. O desempenho competente e racional de sua função por parte do facilitadorpermite ao grupo gerir consensualmente e sem mani- pulações o poder institucional que lhe diz respeito e a gerar a dimen- são particular de poder que se constitui com o encontro grupal. . Desempenhando competentemente as suas funções, o' facilitador rea- firma-se e confirma-se como agente racional de poder institucional, articulando o poder institucional pelo qual se credencia com a di- mensão' singular de poder emergente do encontro grupal, possibili- tando e potencializando asua constituição, exercício e desdobra- mentos.' Dessa forma, os dois níveis .de poder articulam-se dinamica- mente, . diferenciando-se o segundo a partir do primeiro e sendo por ele potencializado. De passagem, isto significa dizer que não havendo o primeiro nível, o segundo não haverá, ou, em havendo, estaremos, pelo menos, diante de uma exceção. "De posse" do poder que lhe facultam as suas credenciais e . habilitações, o facilitador "decide" usar de uma certa forma p.arti- cular este poder e criar o grupo vivencial. Num primeiro nível, ele decide providenciar a infra-estrutura, propor o grupo, divulgar, inscrever' e receber os participantes, executando ou administrando todas as. tarefas pertinentes ao "pré-grupo".' Ao nível da vivência geral, propriamente dita, não é qualquer tipo de encontro de pessoas que interessa à investidura do poder. do facilitador, é um certo tipo específico e caracterizado. Não é; por exemplo, um tipo de encontro em que ele vá servir como "orien- tador" do grupo e das pessoas; ou um tipo de encontro em que ele vá dar aulas aos participantes ou prédicas morais ou ministrar qualquer forma de sabedoria; não é, por exemplo ainda, um tipo de encontro no qual ele vá ser o "comandante" ou o chefe supremo, ainda que exista a especificidade de sua função institucional. O tipo de encontro que o facilitador funda com o seu poder, e em cujo transcurso o investe deliberada e ativamente, tem como 2. lbidem. * É importante observar que, num certo sentido concreto, o grupo não existe nesse momento como um sistema globalizado de relações descentrali- zadas, mas como um sistema de relações biunívocas entre o facilitador, ou . seus prepostos, e cada um dos participantes. 24 especificidade mais geral o f~to de A qu~ interessa ao fac1litador que o conjunto das relações, dos intercâmbios de todos os generos entre os participantes do grupo se constitua, paula!~naI?ente, d~ um modo descentralizado, a partir da ação, da expenencia, dos interesses e excitações de cada um dos participantes e dos subgrupos a que eles necessariamente pertencem, ou eventualmente engendram no contexto grupal imediato .. Interessa ao facilitador a "ordem orgânica" que se cria como "Processo Grupal", a partir da interação .da t?ultiplicidade, ~e dife- renças presentes no encontro. Interessa o mter].og~ do exerc~cl<: e da criacão e recriacão dessas diferenças, decnaçao e recnaçao do brilho mais ou menos intenso do(s) Euts) em encontro e confronto com o(s) Tu(s). Do brilho momentâneo e delicado does) Nós. Inte- ressa ao facilitador a afirmação ea recriação espontânea das pre- sencas, determinadas' pelas ações, interesses e excitações da atuali- dad~ existencial dos participantes e dos subsistemas em que eles se organizam. . Quando pessoas estão juntas, organizadas a partir das influên- cias descentralizadas da multiplicidade de dimensões human.as. pre- sentes em seu encontro, isso acontece de modo bastante intenso. De modo que, com relação ao-...:'grupo" enquanto sistema global.. interessa ao falicitador que ele se .organize dina.~ic~mente,.e. que = desdobre plenamente, como a reahdadee consclenCl~ ~ulhdlm~nsl0- nalmente articuladas que se elaboram com confluência, tensional- mente diferenciada e dinâmica, das influências da ação, dos inte- resses e excitações da atualidade existencial ~e cada um dos pa~ti- cipantes e dos subsistemas em que eles. se articulam .. Na p:rspecttva de sua globalidade o grupo vivencial é Isto, esta configuração h~r~o- nicamente diferenciada e dinâmica, constituída apartir, e constltull~- te da atualidade existencial de seus participantes. Interessa ao faci- litador. que cada uma das influências dessas atualidades existenciais seja como um deus .na plenitude de seus po~eres. !nteressa que o grupo, como experiência subjetiva, como. confI~ura~a~ ~e processos particulares de objetivação e como conhf~raçao. dinâmica ~e. pro- dutos objetivados: seja. a resultante n:uItldImens~?nal:_ harmoOlca" ~ tensionalmente diferenciada das relaçoes desse pateao de deus . Nesse sentido a sua perspectiva de poder é essencialmente. "po- liteísta". Não interessa ao facilitador uma. unificação ou uma centra- lização - explícita ou' camufiada - do processo grupal, a partir da influência do poder de que dispõe.' Interessa que este processo 3. Maffesoli, Michel, A Sombra de Dionisio, 'Rio de Janeiro, Graal, 1985, p. 71. 25 constitua-se como articulação dinâmica da multiplicidade de focos de influência efetivamente presentes no encontro grupal. Nos limites de sua duração, o grupo é para o participante o ambiente social humano imediato. A ele esse participante conflui e constitui com as várias dimensões de sua atualidade existencial, com seu conhecimento, com sua dominância de necessidades e de inte- resses, com suas excitações, com as condições de seus sentidos, com as suas capacidades e potenciais, e, em particular, com as emer- gências da configuração presente de suas questões existenciais. Dessa forma, ele participa, constitui, cria e recria o "grupo", em colabo- ração com os demais participantes, ao mesmo tempo em que é, de modos mais ou menos intensos e profundos, constituído, criado e recriado pela apreensão e vivência dos dinamismos desse e de suas próprias vivências e interações pessoais particulares. Interessa à proposta do grupo vivencial que o participante viva intensamente, a partir dos critérios próprios de suas motivações e interesses, a expansão, em todas as direções, da sua experiência e da sua ação no contexto da vivência grupal. Tanto na relação com o grupo como sistema global como na relação com os subsistemas do grupo e no nível da relação interindividual. Interessa à proposta do grupo vivencial que ele experimente naturalmente, e a partir de sua própria recepção, os efeitos múltiplos da retroação e das respostas aos produtos de suas objetivações; que ele se recrie com essa vivência, que ela crie e recrie nesse interjogo de influências os seus processos de objetivação. Interessa que ele desfrute e frua, na plenitude de suas intensidades naturais, a experiência de ser, estar e movimen- tar-se no interior do contexto grupal efêmero: que ele "curta", arrisque, tente, erre e acerte, a partir do critério dos interesses da dominância de suas necessidades presentes. Num certo sentido, a situação grupal em questão é uma situação fútil, perfeitamente dispensável e descartável, só serve para isso mesmo, para uma experimentação, que não obstante pode ser rica e enriquecedora. É uma situação viva e profundamente real, e como. tal pode ser profunda e intensamente vivida, ainda que isso se dê eventualmente de um modo manso. Significa estar coletiva e pessoal- mente, grupal e interindividualmente, com gente, de um modo pre- sentemente imediato, na multiplicidade simultânea de dimensões que isso implica. De modo que, criada a oportunidade do encontro de pessoas, privilegiada a afirmação dos elementos da multiplicidade natural de dimensões de suas presenças, enquanto indivíduos e como coletivo, interessa à proposta do grupo vivencial que ele seja para o parti- cipante individual, nos limites de sua duração, um espaço de uma (até fútil) experienciação e experimentação de si, a partir dos cri- 26 / / térios próprios dos interesses de sua atualidade exis.tet;c~al, no inter- jogo natural de influências, sempre de dupla constItul?aO, presentes na multiplicidade de dimensões do encontro grupal singular. Como observamos, então, criada a oportunidade do encontro, interessa ao facilitador investir no sentido da autogestão do grupo e na criacão de condições para uma participação automotivada das pessoas; ~ poder institucional que lhe per~ite criar o grup.o. e ser dele o facilitador. Interessa investir nesse sentido as suas habilidades e a sua presença pessoal, ocupando, d~~sa forn;a, o ~eu lugar pessoal e institucional próprios. Cabe ao facilitador,a medida que o gru~o s~ desenvolve, uma entrega a uma certa diluição d.e ~eu papel. IJ?S!I- tucional à um processo ativo de metamorfose, recnaçao e redefinição deste, a partir dos efeitos concretos do seu dese~p~n_ho no contexto da realidade grupal particular. De fato, essa diluição da presença do poder institucional do facilitador não significa .q~e esse poder tende a extinguir-se. Significa, antes, que ele se rel~tI.vIza e coloca-se a serviço da criação de condições para a expressividade natural e autônoma, e para os desdobramentos naturais plenos dos elementos, da multiplicidade de dimensões e de relações constituintes do mo- mento do encontro grupal e do momento da atualidade das pessoas que dele participam. O poder institucional de que dispõe o facilitador coloca-se, assim, a serviço da expressividade natural das pesso.as, a partir da dominância dos interesses .e necessidades de sua atualidade existencial no contexto da vivência grupal; a serviço da criação de condições para a atualização das possibilidades do engen~ram.ent? natural das relacões interindividuais, da dialética das relaçoes indi- víduos-grupo, índivíduos-subgrupos. subgrupos-grupo e subgrupos- -subgrupos. A serviço da paulatina constituição, expressividade e existência do grupo, a partir da dinâmica dessas relações, como sistema global, singular e efêmero, tanto nos termos de sua subjeti- vidade coletiva particular como em termos de seus processos de objetivação e dos produtos objetivados desses. Sist~rr:a que s~ auto- constitui e reconstitui, que se atualiza e que se dISSIpa ao final de seu transcurso. À medida que o grupo se inicia e se desdobra, as relações, que na fase do "pré-grupo" são apenas biunívocas entre os facilitadores e os participantes individualmente, complexificam-se, com .o encontro simultâneo desses no interior do conjunto grupal, configurando-se dinamicamente numa rede de interações de níveis extremamente variados, que vão desde as relações interindividuais, passando pelas relacões dos indivíduos com os subgrupos e com o grupo como globalidade, pelas relações entre os subgrupos até à dinâmica global de relações subjetivas, objetivadoras e objetivadas do processo grupal. Todas essas relações são naturalmente mediadas, de uma forma ou 27 de outra, pelo papel institucional do facilitador e pelo seu desem- ....penho pessoal. O ponto máximo de "concentração" da função institucíonal do facilitado r no interior do processo grupal é quando ele "abre" o grupo, quando ele "dá a largada oficialmente", explicitando para os participantes "recém-encontrados" a sua .proposta para esse encontro, o seu papel como facilitador, o seu estado de espírito, expectativas etc. A partir daí, ele deixa paulatinamente de ser o "centro" (que . nos bons grupos será cada vez mais difícil de encontrar), à medida queafloram e em que se configuram e se diferenciam ativamente os vários níveis de relação, de experienciação, de expressividade e objetivação. De um modo ou de outro, ele sempre está presente, em sua função institucional, no processo do grupo enquanto globalidade. Em geral, entretanto, essa função encontra-se diluída no "fundo" do processo, ainda que possa, momentaneamente, assumir um caráter figural para, em seguida, diluir-se novamente nesse fundo. Pressupõe-se no facilitador um fascínio natural e entusiasmado pelas pessoas, pelos dinamismos e pela expressivídade dos dinamis- mos de suas atualidades existenciais. Pressupõe-se igualmente um fascínio pela paulatina e complexa emergência e configuração da realidade grupal, nas articulações de seus vários níveis de. sutileza ou de evidenciação, de intensidade ou de diluição. No seu conjunto e nas articulações de que ele participa .mais diretamente, essa reali- dade não é simplesmente para ele uma alteridade, mas uma confi- guração de processos subjetivos e de objetivação da qual ele é ine- rentemente parte, ator institucional e pessoal. Esse fascínio envolve, naturalmente, o fascínio pelo modo como ressoam em si próprio, como trans-formam a si próprio, a expressi- vidade, a afirmação da outridade de cada pessoa participante, a outridade dos subsistemasque eventualmente se configuram no processo grupal e a outridade do próprio grupo como coletivo global. De modo que o facilitador não está isento nem é exterior à realidade grupal, como uin sujeito que manipula um objeto que lhe é independente. Institucionalmente o grupo se constitui a partir da função que ele encarna. Pessoalmente, a experiência da realidade grupal constitui-se particularmente nele - da mesma forma que se constitui nos demais participantes - corno área de subjetividade coletivamente compartilhada, e intimamente articulada à experiência de sua subjetividade pessoal particular, com a qual interage intensa- mente - a exemplo do que acontece com os demais participantes ~, incitando-a a um contínuo e eventualmente intenso processo de regeneração e recriação, que igualmente se dá no sentido inverso. Dessa forma, o facilitador compartilha, a seu modo particular e idiossincrásico, a subjetividade coletiva particular que se elabora 28 no encontro grupal. Num certo sentido, a sua função é a da objeti- vaçãoj criação ativa dessa subjetividade e dos processos e P~O?utos de objetivação dela. Nisso reside, em grande parte, a sua. ~tlV1dade de facilitação, o que livremente aproxima da arte essa atividade. A um só tempo, não obstante, o faci1itado~ ~a~ parte da .idep.ti- da de dessa subjetividade, da identidade da subjetividade coletiva do grupo, e é com relação a ela diferente. Seu processo pes~oal de identidade, sua subjetividade pessoal conferemcl~e heterogeneidade ~ a possibilidade de um distanciamento c?~ ~elaçao a ela. Essa dupli- cidade permite~lhe. expressar essa subJetl.vIAda~e no seu comporta- mento e na sua ação no contexto da vivencia grupal, ao mesmo tempo em que permite-lhe confrontá-Ia. e intr?duzir eventualmente, a partir das dimensões heterogêneas e diferenciadas de se~s .,::ompor- tamentos e ações, elementos dissimilares e novos ?e. r.ecnaçao d~la, elementos que advêm da interação com e~sa. subJetlV1da~e COle!IV~ do grupo, que ele compartilha, de sua propna e exclusiva subjeti- vidade pessoal particular. Essa inevitável tensão e conflito é uma das fontes mais férteis das possibilidades ~ri~ti~~s da facilit~~ão. Talvez seja _ in~etess~nt~ observar que essa dissimilitude do Iacilitador com relaçao a subjeti- . vidade coletiva do grupo nem sempre se manifesta de modo. explo- sivo ocorrendo normalmente como simples e eventualmente despre-, .. tensiosa participação. Dessa forma é interessante considerar que ninguém participa de um grupo impunemente - muito menos, .e principalm:~te, o facilitador. E isso é particularmente verdade para um facilitador que se disponha a efetivamente participar. e faci1it~r o .grupo. ~s possibilidades de plasticidade de sua atualidade existencial estarao em temporada de "ouriçamento" e inevitavelmente transformar-se-ão em condições, fonte e elementos de sua atividade de. facilitação, atualizando as possibilidades de autotransformação de sua pessoa. No essencial, e de modos mais ou menos intensos são a atualidade de si mesmo .e as possibilidades da dinâmica de seus processos de auto-trans-form-ação· que o facilitador investe na sua atividade de facilitação. De modo que além de propiciar elementos heterocriativos esta atividade é assumidamente autocriativa. Talvez a esse respeito seja interessante recordar Hesse: "Só se vive intensamente à custa do próprio Eu ... " E facilitar grupos exige e motiva uma intensidade de vivência. Intensidade que não precisa ser dramática ou explosiva, podendo ser tranqüila e suave. De forma que não se quer dizer que as transformações por que passa o facilitador - ou os participantes _ careçam necessariamente de ser sempre radicais ou dramáticas. 29 Longe disso. Podem-no ser; eventualmente, mas em geralsão apenas homeopáticas e múltiplas, confluindo em processos de mudança já em andamento. Freqüentemente, oriundas no processo grupal, só se configuram muito tempo depois, quando as pessoas preenchem em suas vidas práticas as suas condições de possibilidade. O facilitador participa, pois, ativamente, como pessoa, acom- panha e cria (como os outros participantes) os fluxos do processo grupal nas suas dimensões simultaneamente subjetivas e objetiva- doras, ao mesmo tempo em que sofre os efeitos desse processo, o que recria continuamente as possibilidades de sua participação no grupo, a sua atividade de facilitação. Assim sendo, é importante que, na relação com o grupo como sistema e com as pessoas individuais, o facilitado r possa elaborar e expressar permanentemente o lado pessoal da duplicidade "insti- tuição-pessoa" em que está envolvido. Ele não pode - por impossível - simplesmente abdicar de sua condição institucional. Mas pode, assumindo-a, elaborar um certo distanciamento, um certo descolamento e transcendência com relacão a ela, ao mesmo tempo em que atualiza, elabora e expressa natural- mente a sua diferenciação como pessoa. A superação. de sua condição institucional e a fluidez do trânsito entre essa condição e a sua condição de pessoa é um dos aspectos fundamentais do processo da facilitação. Como, aliás, parece ser de toda a atividade em impor- tantes áreas da psicologia. Ao nível do grupo, esse trânsito entre a institucionalidade e a pessoa do facilitador configura-se à medida que ele privilegia, nos seus comportamentos e ações no contexto da vivência grupal, os influxos naturais da experiência de suavivência pessoal particular nesse contexto, a expressividade de sua atualidade existencial, ao mesmo tempo em que desempenha as práticas institucionais neces- sárias à criação e desdobramento' do grupo. Ao nível da relação com os participantes individuais, esse trân- sito entre a pessoalidade e a institucionalidade do facilitador tem a ver com uma relação e comunicação idiossincrática, temperadas de razoável tolerância, com cada pessoa, quando for o caso, e no momento oportuno. Uma comunicação sintônica e sincrônica com a comunicação dela, aberta para as ressonâncias em si próprio das diferenças e novidades particulares da pessoa em questão. Ê importante que a franqueza para consigo próprio e para com o outro seja um dos elementos fundamentais do processo de relação do facilitador com os demais participantes. Isso, naturalmente, tem a ver com o que Rogers definia como "congruência" ou "genuini- dade". Por outro lado, é importante considerar efetivamente as 30 ntitudes de empatia e de respeito incondicional pela validade da ixperiência e da pessoa de um participante que se expressa. Um .slorço, animado pelo fascínio, para a compreensão do sentido pes- S al e idiossincrático da comunicação do outro, sentido e outro nos [uais interessam para o facilitador a diferenca essencial com relacão u si próprio, a alteridade essencial. É interessante entender nesse sentido que isso quer dizer que o facilitador privilegia, disponibilíza franqueia, na relação com a pessoa, o momento de sua própria atualidade existencial, confrontando a pessoa - no seio de uma disposição mais ampla de tolerância -, se for o caso, ou sendo umigável, caloroso ou humanamente fraterno. Marcando e afirmando naturalmente a sua diferença própria , m relação ao outro, com relação a sua expressividade e comuni- 'ação, o facilitador colabora para que ele se identifique, crie e r crie os limites de seu próprio Eu, ou seja, os limites de sua dife- rença particular." É importante - tanto para as pessoas individuais em questão c mo para o grupo como um todo - que o facililador tenha chegado a um certo grau de familiaridade com o fato da diversidade e da multiplicidade infinita das formas de vida, das formas da experiên- cia e de sua expressividade, das formas das relações interpessoais, das formas e situações do humano, enfim, mesmo quando se apre- icntem de modos que possam parecer bizarros. A multiplicidade de luis formas que se apresentam no grupo exige que o facilitado r possa entendê-Ias como naturais. Não se improvisa, evidentemente, .ssa capacidade. As formas, entretanto, da vida e da expressividade da atualidade existencial das pessoas são inevitavelmente idiossicrá- slcas, inevitavelmente diferentes com relação as nossas. Ê interessante que possamos nos fascinar e até nos entusiasmar com a descoberta delas, descoberta que é sempre criação também, ou seja, descoberta m que estamos sempre implicados no descoberto. Para a proposta do grupo vivencial o que importa é que as pessoas sintam-se seguras e confiantes para se comunicarem em . nsonância com os fluxos de sua própria experiência. Que possam, IIU medida de seu interesse, expressar a particularidade de sua atua- lidade existencial e sentir, pelo menos, e às vezes até principal- 111 nte, que de parte do facilitador elas são reconhecidas como forma de existência e de expressão humana incondicionalmente válidas • 1110 tais. O grupo em geral tem um profundo senso de aceitação. R gers observava que, em sua experiência de grupo, freqüentemente 11 [uilo que um participante tinha de mais íntimo, de mais pessoal, 4. Maffesoli, M., op. cit., p. 83. 31 de mais idiossincrásico, era sempre reconhecido, quando se expres- sava, como profundamente compartilhado. De modo que é interessante que o facilitador esteja natural- mente preparado por sua prática, vivência e disposições· pessoais para a novidade de cada forma de ser e estar, porque é essa novidade, a particularidade e a expressão da particularidade mais ou menos momentânea de cada pessoa, uma fonte e dimensão fundamental do processo grupal. A esse respeito parece-me bastante interessante um trecho de um poema de Fernando Pessoa, que uma colega me mostrou quando comemorávamos todos numa "adega" de Curitiba o encerramento de um curso de Gestalt: o meu olhar é nítido como um girassol,' . Tenho o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vez em quando olhando para trás ... E o que vejo a cada momento É aquilo. que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem ... Sei ter o pasmo essencial Que tem uma criança se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras ... Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo ... 5 . Sendo assim, é interessante que o facilitador esteja preparado para interagir, quando for o caso, com a diferença dos modos idios- sincrásicos de ser, estar e expressar-se. Preparado para ser surpre- endído e espantar-se, vale dizer transformar-se ~ ainda que homeo- paticamente -, por. eles. Para confrontá-los, quando for o caso, mas sobretudo e antes de tudo para descobri-Ios, aprendê-Ias em sua especificidade própria, compreendê-los, Estará assim, também e invariavelmente, descobrindo e apreendendo a outridade de si pró- prio, uma vez que, tal como aponta Buber, o Eu se constitui na relação com o Tu (vale especificar: com a diferença do Tu). Dito isto, espero ter esboçado, em grandes pinceladas, as carac- terísticas básicas da proposta do grupo vivencial, que contém implí- citas, naturalmente, a proposta da facilitação. 5. Pessoa, Fernando, O Eu Profundo e os Outros Eus: Seleção Poética; seleção e nota editorial de Afrânio Coutinho, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980. 32 Reunido o grupo, é interessante ofacilitador dar-lhe abertura, de acordo com o seu estilo pessoal e explicitar que o grupo não tem nenhuma programação definida a priori e que se centra no encontro e no desdobramento do encontro particular dessas pessoas parti- culares, nesse lugar particular, por um período limitado de tempo. Rapidamente o coletivo grupal começa a dar "sinal de vida" - já que individualmente os participantes o dão mais cedo ainda - e, se o facilitador não atrapalhar muito, assumirá natural e autono-mamente a atividade de elaboração do processo grupal. Recoste-se na sua almofada, abra os olhos, os ouvidos, o coração e a imagi- nação e seja simplesmente gente. Mas não esqueça, e· sobretudo não queira esconder, que você é "também" instituição - o facili- tador - e dispõe de um poder diferenciado que se origina tanto dentro quanto fora do grupo. Desempenhe ativa e desencucada- mente esse poder, a serviço da configuração da particularidade singular, polifacetada e dinâmica do grupo e da expressividade e criação da atualidade existencial de seus participantes. 3. ALGUNS REFERENCIAIS TEORICOS DA FACILITAÇÃO Um amigo sábio e conhecedor dos processos de nossa aprendi- zagem tobserva sempre que é difícil, senão impossível, explicar a alguém "o gosto que tem a sardinha". O mais interessante, nesse caso, é dar a própria sardinha para a pessoa comer, assim ela aprenderá, em "primeira mão", o gosto da sardinha e nunca mais esquecerá. A aprendizagem da prática da facilitação do grupo vivencial não foge, naturalmente, a esse modelo de aprendizagem humana. O imprescindível para ela é a própria vivência da facilitação, de preferência na companhia de alguém que já tenha uma prática significativa dessa vivência. Só assim é que pode haver uma razoável familiarização com a operacionalização e vivência da prática da proposta do grupo vi- vencial, com o próprio grupo, em seu processo; evidências e suti- lezas, com as pessoas no contexto grupal e com o desempenho do papel de facilitador. Mesmo assim, parece. interessante a constituição e explicitação de referenciais teóricos para a facilitação, da mesma forma que a reflexão e a contínua criação e recriação deles. Isso é importante em particular porque, diante da abertura própria da proposta do * Professor K. Sato. 33 grupo vivencial e do caráter pessoal que pode assumir em certos momentos o desempenho do facilitador, interpreta-se com freqüência que "qualquer um" pode facilitar grupos vivenciais e que "o que se fizer está bem feito". Na prática, não parece ser bem assim. Facilitar o grupo viven- cial exige uma compreensão, assimilação e aceitação efetivas da sua proposta, ao mesmo tempo que uma vivência significativa de grupos e do processo da facilitação. Exige uma compreensão da posição de si como facilitador, no contexto e no processo da vivência grupal, e uma compreensão e habilidade para o desempenho da dialética da simultaneidade das condições de si próprio, como pessoa, fluida cambiante; e como instituição, facilitador. O que só advém, eviden- temente, com a prática efetiva. Exige, por outro lado, um estado de razoável satisfação de suas próprias necessidades pessoais, de modo que não se seja levado a utilizar o poder de que se dispõe como facilitador para manipular egocentricamente o grupo, em função de suas necessidades insatisfeitas. E importante compreender, na prática da facilitação, a dupli- cidade básica dos níveis de relacionamento do facilitador: 1) com a estrutura, gênese e dinâmica do grupo, como sistema global, com sua consciência, subjetividade, comportamento e ações coletivas, e 2) com as pessoas individuais, no contexto da vivência grupal. Há ainda que se considerar a relação do facilitador com os subsistemas que se constituem no seio do grupo. Ainda que se interpenetrem, esses níveis básicos de relação do facilitador são, também, concretamente distintos (ver adiante). Como observamos antes do início do grupo - em função do fato de que, de um modo geral, os participantes não têm um contato entre si - predominam relações biunfvocas entre o facilitado r e cada um dos participantes. Quando o grupo se reúne, para além dessas relações, que tendem a diluir-se, configura-se paulatinamente entre os participantes uma rede multidimensional de relações, em níveis mais ou menos sutis, mais ou menos explícitos, que tende a ser em grande parte autônoma com relação ao Iacilitador. Ê na criação de condições para o desenvolvimento dessa rede de relacões e de sua autonomia que o facilitador investe o seu poder e a· sua habilidade. De um modo geral, não é com o facilitador que se desenvolvem as relações mais importantes do participante no contexto do grupo, ainda que as relações com o facilitado r tenham para este o seu lugar de relevância nas reuniões formais. Nada mais longe da proposta do grupo vivencial do que um facilitador que corre a dar uma 34 It nção ostensiva, ou a acudir, a qualquer pessoa que se manifesta. li C tipo de "íacilitador-ambulância" está simplesmer:te desin~or- li ndo ou muito mais ligado em controlar ° grupo, atraves desse tipo d mecanismo, em consonância com os seus próprios medos pessoais, III mais interessado, ainda, no estrelismo de sua própria pessoa, sem IJU , de fato, cogite a possibilidade de ser útil, desempenhando dessa [orma um "teatro" de muito mau gosto. O fato de que as relações mais significativas para os partící- I untes, mesmo quando nas reuniões formais do g~u'p0' desenv.ol- vnm-se não com o facilitador mas com outros participantes, eXIge. 'V ntualmente do facilitado r modéstia e parcimonia, e urna boa dose natural de discriminação, para identificar quando é, ou não, rele- V inte o seu impulso de participar. De um modo geral, as relações uruis relevantes para os participantes estão inseridas nas próprias r lações particulares com os demais, no contexto da vivência sin- Kular, São relações com outros participantes individuais, co~ sub- K1'lIPOS ou com o coletivo grupal, sendo as relações com o facilitador ipcnas urna das formas possíveis, ainda que possam vir. a ser bastante nificatívas. O Iacilitador tem que se contentar e VIver bem com so, ainda que seu ego possa eventualmente querer mais. De qualquer forma, existem momentos relevantes em que o fn i1itador se mobiliza ou é mobilizado pelo momento da vivência ti um participante. Nesses momentos é importante que o facilitador tcja atento e aberto para o participante, para entendê-Io, para I' sponder efetivamente às suas demandas, mesmo que s~Ja apenas I ura confrontá-I o sincera, natural e diretamente, a partir de seu I nto de vista pessoal, e não técnico, e das contingências da situação. I)a( ser importante uma atenção constante do facilitador:. mesmo [LlC eventualmente difusa, para com o grupo e seus participantes, 1i nção na qual os facilitadores da equipe devem se revezar orgânica na turalmente. N as reuniões vivenciais formais do grupo é interessante que o Incilitador tenha uma prática e possa manifestar as condições facili- íudoras preconizadas pela Abordagem Centrada na Pessoa, da mesma f rrna que esteja familiarizado com os princípios da Gestalterapia. A efetivação dessas condições e princípios permite a criação de um clima de segurança psicológica para que o participante se en- tr egue ao fluxo de. sua própria experiência organísmica e ação naturais, potencializando a sua centração no presente delas e uma mobilização de sua criatividade. Por outro lado, a manifestação dessas condições e princípios videnciarn para o participante um compromisso assumido do poder lustitucional no grupo com os livres engendramentos e fluxos e com 35 a expressividade auto-regulada .da experiência de sua atualidade existencial no contexto da vivência grupal. Manifestando as condições e princípios preconizados pela Abor- dagem Centrada na Pessoa e pela' Gestalterapia, o facilitador pode constituir-se para o participante como um "outro", assumido em sua diferença, potencializando e possibilitando ao participante uma cen- tração no presente de sua experiência e na particularidade ativa de si próprio como pessoa. O principal mobilizador de sua atuação no grupo é, para o facilitador, a sua própria experiência organísmica no momento e no contexto da vivência grupal particular, a sua própria experiência, na confluência de sua atualidade existencial com a situação grupaI particular. Ê o fluxo de sua consciênciaorganísmica, o fluxo de seus interesses e excitações, o fluxo da configuração dinâmica de seus sentimentos, conhecimento, raciocínio e intuição, como resultante da confluência das dominâncias de sua atualidade existencial com os vários acontecimentos, e configurações de acontecimentos da vivên- cia grupal, que se constitui como elemento privilegiado e fonte de mobilização de seu desempenho no contexto da vivência. Sem esquecer, naturalmente, que, em sendo ofacilitador, nunca ele é "simplesmente uma pessoa entre outras" no contexto da vi- vência grupaI. Ocupa, inevitavelmente, uma posição e dispõe de um papel, institucionais dentro do grupo, e carece de saber o que fazer com isso, e como. Pessoalmente, todavia, o facilitador é um partícipe da particula- ridade da situação grupalque se cria com o encontro. A realidade grupal particular configura-se também nele próprio como fluxo de uma certa subjetividade coletiva, que ele compartilha, e como fluxo de processos coletivos de objetivação. Em momento algum, como observamos, o grupo particular é para ele meramente um objeto passível. de intervenções isentas. Por outro lado, ao expressar-se no grupo, ele duplamente expressa e cria a si próprio, ao mesmo tempo em que constitui, cria e expressa o grupo particular; Como facilitador, possui um poder particular, e deve possuir a habilidade a este concernente, de influência no sentido da constituicão da realidade grupal, a partir de sua posição privilegiada. Espera-se, desta forma, que ele tenha igualmente, e atualize, a habilidade de expressar natu- ralmente o grupo, no seu desempenho, como produto integrado da multiplicidade de influências que o constituem, sendo assim um agente efetivo e criativo da articulação dessa multiplicidade, da expressão e criação dela como vivência grupal particular. . O facilitador tem também com relação, ao grupo, enquanto SIstema global, uma relação dúplice, no sentido de que, em certos 36 momentos, ele interpreta (em essência, no sentido teatral, e não no J icanalítico) e expressa a subjetividade coletiva do grupo que nele próprio se constitui, sendo, assim, momentaneamente "isomórfico" Wood) com relação a ela. Noutros momentos, sua subjetividade l dividual confronta essa subjetividade coletiva que nele próprio se . nstitui: daí, ele reinterpreta, recria ou rejeita-a de modo que, Il expressar-se, ele. expressa a sua diferença, a sua disparidade com ,. ilação à subjetividade coletiva particular do grupo - que se, cons- tui em cada participante, ainda que idiossincrasicamente i e=, Il tencializando, assim, os fluxos de sua constituição e reconstituição. Dessa forma, o facilitador alterna ritmicamente - com o fluxo d s interesses e excitações de sua experiência no contexto imediato da vivência grupal - momentos de "isomorfia", em que ele objetiva, xpressa, e, portanto, cria e recria interpretativamente a subjetividade . letiva particular do grupo com momentos em que confronta, com exercício da disparidade de sua própria subjetividade individual, fl subjetividade coletiva do grupo, co-laborando, a partir de sua liíerença pessoal, com os fluxos de constituição e reconstituição dessa subjetividade coletiva. ' Isso está, naturalmente, pressuposto no comportamento normal de qualquer um dos participantes do grupo, sendo o facilitador upenas um participante diferenciado pela posição, prática e poder diferenciados de que dispõe. Nessas condições, o desempenho de uma equipe de facilitação rem características peculiares e interessantes. Nela, os facilitadores t m uma eerta "homogeneidade" de comportamento - determinada I ela posição compartilhada no contexto do grupo, por sua prática, Interesses ete. -, ao mesmo tempo em que têm dimensões hetero- ti neas, díspares, de subjetividade e de comportamento, a partir de uas individualidades. Ê interessante que os dois extremos dessa I laridade possam ser sempre reafirmados no desempenho da equipe, da mesma forma que o fluxo da tensão dinâmica entre ambos. \ interessante que os facilitadores reafirmem, em seus comporta- m ntos e ações, o compartilhamento de sua condição, de seus inte- rc ses comuns, de sua prática e experiências, ao mesmo tempo em que se diferenciain segundo ditames de suas individualidades e atua- lidades existenciais, e da vivência destas no contexto do grupo. Dessa r rma, ao mesmo tempo em que se constitui homogeneamente como r co de geração e de facilitação do grupo, a equipe de facilitadores I de responder -de um modo diversificado, multiplamente diferen- 'lodo, à multiplicidade de dimensões das pessoas individuais, das ,. ilações interpessoais, dos subgrupos e do conjunto do coletivo rupal. 37 Existe, assim, uma tensão criativa e dinâmica entre unidade e diversidade no interior da equipe de facilitacão e nas relacões desta com o restante do grupo, tensão que articula' e que se artic~la com a multiplicidade de dimensões presentes na vivência grupal particular. Parece evidente a importância de que haja um consenso básico entre os Iacilitadores com relação à concepção da proposta do grupo vivencial e com relação ao papel e modos de desempenho do facili- tador. Parece importante, da mesma forma, que os facilitadores se entendam e se entrosem num nível pessoal, sem que isso signifique, naturalmente, a pressuposição de um unanimismo ou de uma relacão perfeita. Parece fora de dúvida, todavia, que é fundamental um entrosamento básico e uma afinada compreensão entre os facilita- dores, no período de seu desempenho como tais, no contexto da vivênci.a grupal. Compreensão e entrosamento estes que são exigidos a funcionar naturalmente até em níveis não-verbais. Uma cisão significativa entre os facilita dores tende a levar o grupo, em seu conjunto, também a uma cisão em sua estrutura básica. O que tende a gerar uma falta profunda de confianca no ambiente grupal e, por conseqüência, uma acentuada insegurança. Ainda que o conflito natural seja um dos mais importantes "motores" do grupo, uma cisão desse tipo parece levar bem mais à paralisia do 9ue a qualquer processo criativo, sendo o tempo do grupo con- sumido em contendas estéreis e insolúveis. (O que, diga-se de pas- sagem, é sempre um objetivo maior de um mau facilitador.) . Há: .nos _primórdios. do grupo, um peso relativamente grande da ~artICIpaçao da equipe de facilitação nas relações grupais. À medida que se elabora e complexifica a rede de relacões entre os par~cipantes, ~á uma saudável e desejável diluição desta partici- paçao da eqmpe de facilitação. Diluição esta que nunca é total, naturalmente. O que se pode dizer é que se tornam mais sutis . delica~~s e_diferenciadas as articulações entre os membros da equipe de facilitação e entre estes e os participantes individuais e o conjunto do sistema grupal. L 4. CONSTITUIÇÃO DA EQUIPE DE FACILITAÇÃO .Um aspecto aparentemente dos mais simples, mas na verdade dos mais importantes e delicados, no processo de constituicão do grupo vivencial, é o da composição de uma equipe de facilitação. , . Nad~ ,impede que um pequeno grupo seja facilitado por um uruco Iacilítador, desde que ele esteja efetivamente habilitado para tal. Em g~ral, en~r.etanto, é interessante e mesmo importante que os grupos sejam facilitados por pelo menos dois facilitadores. No caso 38 11' p quenos grupos ou de grupos de tamanho médio, o segundo I1 'ilitador pode mesmo ser um treinando mais apto. Nos ca~os de I' I])OS maiores (mais de vinte pessoas), é de fundamental impor- I ncia que trabalhem dois ou três facilitadores. Acredito que três facilitadores já constituem uma equipe "gran- ti ". Não parece interessante a idéia comun: .de que deve ~aver um uirnento, proporcional ao número de partlCIpantes: no numero de r I .ílitadores. Ainda que isso seja naturalmente relativo e que grupos muito grandes exijam uma quantidade maior de facilitadores. ~rês I'ocilitadores, entretanto, podem muito bem - desde qu~efetlva~ mente habilitados - facilitar grupos de, por exemplo, oitenta ate cem participantes, que são grupos excepcionais. O processo psicossocial de um grupo. vivencia~.' ao lado dos momentos agradáveis e de segurança, caI?mha fre~~entemente por rcas extremamente particulares, de conflito, de dúvida, de perple- xidade, de espanto, de frustração, de indeíinição e mudanJa, d~ d sorientação e novidade. O Iacilitador, como obser~amos, nao esta imune à influência dessas experiências e ao pote~clal de transf~r- mação da vivência grupal. Na duração dela, n!OVlme.nta-se. ~ambem a sua subjetividade, a sua atualidade e questoes eXIstenCIaIS, suas crenças e incertezas, potência e vulnerabilidade. De forma. que, num nível genérico da subjetividade grupal, que ~leAcompartilha, e n~ nível de sua própria subjetividade pessoal, a vlv,encIa grupa~, mexe com ele. "Mexida" esta que, perfeitamente toleravel e manejável nos limites humanos naturais, está longe de ser irrelevante; ao mesmo tempo em que se constitui como um processo fundamental de elabo- ração de sua atividade de facilitação. Razão porque, dentre outras, não interessa que seja "engessada" por uma atitude de pretensa invulnerabilidade ou de distanciamento (que eventualmente pode aparecer sob a forma de um rígido caráter "caloroso", "compreen- sivo", "sensível" ou coisas c., gênero) . Na sua posição singular enqua.nto tal.dentro do grup~,. o fa~i1i- tador experiencia de um modo muito particular todas as cunensoes, fluxos e refluxos subjetivos, objetivadores e objetivados do processo grupal. A posição única que ele ocupa; .tanto instltuc.io~al quanto pessoalmente, determina uma forma part1c~l~r. de sohdao em ~ua vivência. Solidão que não tem grandes mistérios, mas que deriva simplesmente desta sua condição particular. Essa solidão, entretanto, ainda que natural, pode, se não for adequadamente elaborada, levar a modos meramente irracionais de intervenção no processo grupal. Como "minoria", ao ocupar no grupo essa posição única, a sutileza, o caráter diáfono, inefável e mesmo inverossímel de certas experiências, relativas a um ou outro participante individual, rela- tivas a segmentos ou a dimensões particulares do processo grupal, 39 relativas ao conjunto do grupo, ou relativas mesmo a si próprio, tendem a ser distorcidas, ou a perder a sua consistência de realidade; tendem a parecer "alucinatórias", ou a ser devidamente expurgadas pelos seus mecanismos de defesa. Para uma boa facilitação, e até mesmo para o próprio cresci- mento natural do facilitador, é aí que reside o problema. É impor- tante que essas experiências sutis, diáfanas, ou mesmo aparente- mente inverossímeis existam e se expandam, de acordo com seus sentidos e potência próprios na subjetividade do facilitador, consti- tuindo-se fluidamente como elementos particulares das configurações de seus processos de objetivação. Freqüentemente essas experiências são ressonâncias expressivas de "processos nobres", digamos, da apreensão da vivência de um participante, da apreensão das arti- culações criativas da subjetividade coletiva do grupo particular ou mesmo da experiência pessoal do próprio facilitador. Negá-Ias, esca- moteá-Ias, distorcê-las, expurgá-Ias significa a extinção de possibi- lidades criativas da relação com a pessoa do outro participante, com o grupo ou mesmo com a sua própria atualidade existencial. Infeliz- mente, é um processo freqüente na prática de muitos facilitadores. Processo que não se interrompe aí, levando o facilitador a investir o seu poder no controle e manipulação do grupo, para cornpati- bilizar o processo deste com o conteúdo do seu medo de certas áreas de sua experiência. Nesse sentido é que é importante, no contexto da vivência grupal, a relação do facilitador com outro facilitador que compar- tilhe com ele, apesar de suas idiossincrasias, a mesma posição pes- soal e institucional, podendo compartilhar, dessa forma, o mesmo nível de experiência, que de outro modo seria vivenciado solitaria- mente. O compartilhamento da sutileza, do caráter inefável, diáfano e mesmo inverossímel de certas experiências importantes reduz as possibilidades de que elas se manifestem como fantasmáticas, "aluci- natórias", carentes de realidade ou fóbicas, permitindo ao Iacili- tador melhores possibilidades de elaboração e de integração delas na sua subjetividade e na sua atividade de facilitação, enriquecendo esta atividade pelo resgate e afirmação de conteúdos experienciais importantes, engendrados no interior do processo grupal, e que do contrário seriam distorcidos ou expurgados da consciência do facilitador. Por outro lado, quando funcionam mais de um facilitador, cada um deles tem mais liberdade para relaxar, ou mesmo para se retrair, quando for o caso, já que haverá pelo menos um outro atento às comunicações dos participantes. Havendo um facilitador apenas, quando ele se retrai há sempre a possibilidade de que um participante que se comunica se sinta ignorado, ou preterido, mesmo que não seja necessária em todos os momentos a atenção do facilitador. 40 / É importante considerar, também, que eventualmente um faci- litador pode passar por momentos difíceis durante uma vivência. A presença de outro facilitador propicia uma possibilidade. adequada de diálogo e eventualmente de apoio, o que apenas excepclOnalment~ é possível ~ e. menos ainda satisfatório - com um simples parti- cipante do grupo. É importante considerar a inevitabilidade de problemas, con- flitos e confrontos naturalmente humanos entre os membros da equipe de facilitação. Numa equipe de facilitadores mais amadure- cidos e acostumados a essas dimensões de suas relações elas são relativizadas, ainda que não possam ser escamoteadas ou sub~sti- madas, constituindo-se,' então, como focos relevantes de expressaoj cria cão da experiência e. da atualidade existencial de cada uma das partes, e configurando-se, portanto, como criativas no contexto da vivência grupal. Idealmente , Os facilitadores devem estar acostumados, em suas relacões com o grupo e no interior da equipe, à naturalidade de uma "atitude dialógica" (Buber) - que privilegia o encontro e a recriação de si mesmos .a partir do contato aberto e confronto com a diferença -, de modo que tais problemas e conflitos, competição, confrontos etc. podem ser importantes fontes de aprendizagem tanto para as partes como para o grupo como um todo, se esse chega a envolver-se. Por outro lado, é importante ter em mente que o próprio processo da vivência grupal freqüentemente e~idenc~a, mobiliza e aguça conflitos latentes entre os membros da equipe, nao raro mesmo criando-os .. À parte os conflitos insolúveis, é fundamental, não obstante, que se imponha entre os membros. da equipe de facilitação um respeito e confiança recíprocos pelo desempenho does) outro(s) companheiro(s), mesmo quando não se tem muito claro, eventual- mente, o sentido de um certo comportamento ou colocação. Isso não se consegue simplesmente com boas intenções, derivando natu- ralmente, apenas, de uma familiaridade com a proposta e com a vivência do grupo e da facilitação, e de um entrosamento, de fato, da equipe; entrosamento este que inclusive precede o momento do encontro grupal, podendo transcendê-lo. Ê importante, também, que esse entrosamento propicie condi- ções naturais para um apoio recíproco, natural e sincero entre os facilitadores. Apoio mais ou menos difuso, mas sempre disponível. que de modo algum significa a alimentação de um espírito corpo- rativista na equipe de facilitação contra os "outros", ou seja, contra s demais participantes do grupo. 41 B interessante não negligenciar o fato de que são possíveis e naturais as rupturas inevitáveis e as incompatibilidades irredutíveis entre os membros da equipe - mesmo que se tenham integrado satisfatoriamente no período antecedente ao grupo. Rupturas e incom- patibilidades que freqüentemente
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