Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Reflexão sobre o tema: funcionamento e desenvolvimento do grupo na formação de educadores Neisa Maria Martins da Cunha (SIRH) sirh@centroin.com.br Resumo: Na busca de um fórum de discussão sobre a importância do estudo e a aplicação dos conteúdos relacionados aos fatores que influenciam o processo e desenvolvimento do grupo, dentro do contexto de disciplinas da Formação de Educadores, apresentamos, como um recorte deste assunto, a Teoria das Necessidades Interpessoais, de William Schutz, objetivando a justificação deste tema para o currículo dos futuros profissionais da área educacional. Palavras-chave: Formação de Educadores, Processo de Grupo e Teoria das Necessidades Interpessoais. Reflection on the theme: operation and development of a group in teachers training Abstract In search of a forum for discussion on the importance of studying and implementing the contents related to the factors that influence the process and development of the group, within the context of disciplines of the Teachers Training, presented as a clip of this matter, the Theory of Interpersonal Needs, by William Schutz, aiming at the justification of this topic to the curriculum for future educational professionals. Key-words: Teacher Training, Group Process and Theory of Interpersonal Needs. 2 1 Introdução Apresenta-se, inicialmente, como referência ao campo do desenvolvimento dos grupos, alguns temas relevantes, tais como processo de grupo, fenômenos da dinâmica dos grupos e desenvolvimento de equipe, constantes do trabalho de muitos autores, na sua maioria, pesquisadores da área da Psicologia Social (MOSCOVICI, 1985). Existem, portanto, diversas teorias sobre o referido campo. Segundo Joseph Luft (1970), a dinâmica de grupo surgiu na decáda de 50, na França, com férteis aplicações em diversas áreas, alternando-se conclusões satisfatórias com, por vezes, aparentes, porém duvidosas soluções, caso sigamos o rigor científico esperado em investigações experimentais. Desde então, vêm ocorrendo mudanças, como aponta Luft (1970, p. 74): O volume das investigações e das publicações cresceu enormemente desde então, mas nem por isso o professor encontrou grande quantidade de conhecimentos de que se possa servir. A sua situação permanece semelhante ao que era então: independente e solitária. O objectivo das observações que faremos acerca dele não é para lhe mostrar como ensinar, mas de preferência para chamar a sua atenção sobre certas características do seu trabalho referentes aos fenômenos de grupo. Insistindo sobre a função dos processos de grupo no ensino e na aprendizagem, o professor pode tirar proveito de um novo exame de alguns problemas fundamentais que tem de enfrentar quotidianamente. É importante relembrar que Kurt Lewin, nos Estados Unidos, foi o fundador da moderna dinâmica de grupo, ao elaborar a Teoria do Campo na psicologia contemporânea, tendo sido um dos precursores dessas pesquisas sobre os processos de grupo e as relações humanas, por volta dos anos 30 (LUFT, 1970, p. 16). Contudo, Lewin faleceu muito cedo e foram os seus colaboradores que deram continuidade aos estudos dessa área. William Schutz, um dos colaboradores de Lewin, por meio de observação e experimentação, postula sua teoria da dinâmica de grupo, demonstrando que o processo de grupo tem sempre um desenvolvimento natural, observável e previsível. Nessa ótica, ele objetivava pesquisar os fenômenos que ocorriam nos processos intra-grupais. A Teoria das Necessidades Interpessoais de Schutz (1974, p.101), portanto, será a norteadora deste artigo. 3 Com essa Teoria, Schutz postula fases e fenômenos previsíveis para o desenvolvimento dos grupos, durante o seu processo de amadurecimento, com o objetivo de atingir, no futuro, o status de equipe. No contexto da Dinâmica dos Grupos, teorias com base em observações científicas relatam haver uma previsibilidade dos fenômenos grupais no processo e desenvolvimento dos grupos. Assim sendo, pergunta-se: quando planejamos um treinamento ou ministramos uma aula, podemos esperar que os fenômenos teorizados por Schutz ocorrerão? Este conteúdo teórico pode dar respaldo à prática dos responsáveis pelos planejamentos de treinamentos ou de aulas? E como utilizá-la? Em que condições a Teoria das Necessidades Interpessoais pode dar suporte teórico às práticas didáticas, no âmbito organizacional na área de treinamento ou no âmbito educacional na área escolar? Tais questões levantaram posições teóricas e práticas, que proponho refletir neste artigo. O Princípio das Dimensões Básicas de William Schutz (1989, p.103) foi por mim eleito por sua logicidade, no período em que tive a oportunidade de coordenar e supervisionar, desde seu processo de divulgação, doze Cursos de Formação para Profissionais da área de Treinamento e Desenvolvimento de Empresas, de grande e de médio porte. Esta vivência reafirmou minha crença na relevância do conhecimento e da prática dessa Teoria, auxiliada pelos demais arcabouços teóricos referentes ao funcionamento e desenvolvimento do grupo e, portanto, a seu processo. No meu entendimento, um educador ou um instrutor precisam adquirir conhecimento sobre o caminho percorrido por um grupo, para que possa melhor lidar com os fenômenos que dele surgem, com base em seus inter-relacionamentos e em sua sinergia, decorrentes da dinâmica relacional que se estabelece e pode encontrar este apoio na Psicologia Social. Um profissional consciente do processo grupal e, portanto, desejoso do melhor funcionamento e desenvolvimento de seu grupo só terá vantagens em sua prática e desempenho. Deste modo, ele poderá, com mais clareza, apoiar os participantes em suas necessidades e, assim, suscitar reflexões que os encaminharão a exercer as habilidades de diagnosticar suas dificuldades e, para elas, buscar soluções. Ao reforçar este pensamento, postula Fela Moscovici (1985, p.73): "Quando se deseja estudar um grupo em funcionamento e compreender a sequência de eventos, as modalidades de interação e suas consequências, faz- se mister identificar os componentes relevantes dos processos de grupo." 4 Ainda, citando Moscovici (1985), há a possibilidade de se analisar um grupo através de sua composição, estrutura e ambiente. Neste caso, analisam-se as pessoas que o compõem, as posições relativas que elas ali ocupam, suas relações entre si e o espaço físico e psicossocial desse ambiente. Pode-se, também, estudar um grupo considerando-se sua dinâmica e os componentes que constituem forças em ação e que determinam os processos dessa estrutura. Desde o momento em que é constituído, e ao longo de toda a sua existência, um grupo sofre a influência de três tipos de fatores: o ambiente, o próprio grupo e o indivíduo, o que explica de que forma alguns grupos conseguem transformar-se em equipes, e outros não. Um grupo é influenciado, em primeiro lugar, pelo ambiente em que foi formado e vive, o tipo de organização na qual se encontra inserido, as definições estratégicas e operacionais que recebe ou deixa de receber da administração a que está subordinado, as facilidades ou dificuldades materiais e psicológicas para trabalhar ou estudar, e muitos outros fatores irão afetar esse grupo positiva ou negativamente. Uma das principais influências sobre essa categoria são as decisões administrativas que determinam a formação, a modificação ou a supressão de grupos dentro de qualquer estrutura formal. De outro lado, qualquer ambiente sempre oferece ameaças e oportunidades, que podem ser reais ou percebidas pelo grupo, afetando sua coesão e sentimentos. Em segundo lugar, o grupo recebe influências de si próprio. Os grupos distinguem-se uns dos outros por suas propriedadesintrínsecas. Entre estas, destacam-se tamanho, idade, ideologia peculiar, tipo de missão e o efeito sinérgico que o conjunto de indivíduos produz, como resultante de sua agregação. Grupos recém-formados, por exemplo, tendem a ter um comportamento diferente daqueles cujos membros coexistem há um certo tempo. A experiência e a pesquisa demonstram também que o tamanho afeta o desempenho: é muito mais provável que uma equipe de cinco pessoas chegue a algum tipo de resultado prático ou consenso, do que uma comissão de quarenta. Em terceiro lugar, estão indivíduo, com seu conjunto característico de fatores de personalidade, treinamento, interesses e experiências que, combinados com outros fatores dos demais membros do grupo, contribuem para que este tenha uma identidade e um desempenho específicos. Portanto, aqui, são ressaltadas as diferenças individuais, pois cada pessoa é única e possui uma personalidade distinta dos outros participantes, pois estes receberam influência de 5 meios os mais diversos e, sob a luz de seus sentidos e de sua percepção, foram construindo a sua própria história de vida, repleta de valores, crenças morais, tradições, sentimentos, emoções, racionalidade, constituídos de profunda subjetividade. São três os fatores que afetam o grupo: O AMBIENTE - Organização; - Administração; - Imagem Externa; - Condições materiais. O GRUPO PROPRIAMENTE DITO - Tamanho; - Idade dos participantes; - Missão; - Percepções mútuas; - Efeitos sinérgicos. O INDIVÍDUO - Personalidade; - Formação; - Valores; - Interesses; - Aptidões; - Experiência. Proponho-me, portanto, com base nas idéias acima, discutir os principais componentes do funcionamento do grupo e as respectivas fases do processo grupal, à luz da Teoria das 6 Necessidades Interpessoais, de William Schutz (1989) e, desta maneira, trazer à reflexão a importância deste tema na Formação de Educadores. 2 Teoria das Necessidades Interpessoais, de William Schutz O modelo de Schutz se aplica à vida grupal. Observa-se que os grupos iniciam suas atividades num clima de Inclusão (I). Os componentes procuram conhecer-se mutuamente, as relações são mais intelectuais do que afetivas, cada qual se revela em graus diversos. Em termos de tempo, o período de Inclusão é variado, podendo durar de algumas horas a dias ou meses. Na segunda fase, a de Controle (C), começam a despontar os líderes, há uma competição pelo poder, definem-se os rebeldes e os seguidores. É um período mais agitado, competitivo, muitas vezes agressivo. Sua duração também é variável. Definidos os papéis na escala de mando, as hostilidades decrescem e o grupo entra numa fase de Abertura (A) (SCHUTZ, 1994, p.49) de “enamoramento” coletivo, de solidariedade, de pertencimento recíproco, de “todos por um e um por todos”. É uma fase muito gratificante para os participantes, que se ligam por laços de amizade, às vezes bastante profundos e duradouros. Schutz observou que essa sequência de fases se repete ciclicamente: (ICA)....(ICA)...(ICA).... É o período em que o grupo tem existência mais longa. E quando a existência desse grupo se aproxima do fim, há uma inversão da última fase: (ICA)...(ICA)... (ACI). Isto é, há um período de abertura mais longo, seguido de erupções de controle e da fase final, então, denominada de inclusão negativa. Muitas vezes, o grupo é dissolvido formalmente, antes de esgotar a sequência das fases, isto é, antes de atingir a fase final da Inclusão. Quando a interrupção se dá no estágio de Controle, via de regra os participantes se separam mais ou menos desgostosos com as competições em andamento. E quando a dissolução se dá no estágio de Abertura, os membros continuam se encontrando, depois de o grupo ter terminado oficialmente, para se reverem, bater papo, tomar chope etc, até que a afetividade se dissolve. 2.1 Fenômenos das Fases do Processo de Grupo Ainda segundo Shutz (1989, p. 110): Estas três dimensões – inclusão, controle e abertura – ocorrem, nessa ordem, no desenvolvimento dos grupos. As questões da inclusão, a decisão de quem está dentro ou fora do grupo, são as primeiras a surgir, seguidas pelas questões de controle (estar por cima ou por baixo) e, finalmente, pelas questões da abertura (estar 7 próximo ou distante). Esta ordem não é rígida, mas a natureza da vida em grupo é tal que as pessoas tendem primeiro a determinar se querem ou não ficar num grupo, depois a determinar que grau de influência irão exercer e, finalmente, a decidir quão pessoalmente próximas irão se tornar. 2.1.1 Fase de Inclusão Querer ou não pertencer ao grupo não envolve fortes ligações emocionais. O gosto pela inclusão caracteriza-se pela busca de interação com as pessoas, pelo desejo de atenção, de reconhecimento, de prioridade, de apreciação e prestígio. Citando Schutz (1989, p. 105), O comportamento de inclusão se refere à associação entre as pessoas: exclusão, inclusão, pertinência, proximidade. O desejo de ser incluído manifesta-se como desejo de atenção, de interação, de ser distinto dos demais. Ser completamente identificável implica que alguém está tão interessado em mim que descobre minhas características singulares. 2.1.2 Fase de Controle Diz respeito às relações já iniciadas. Refere-se, primordialmente, às relações de poder, processo de tomada de decisão, áreas de liderança, influência, competição e autoridade. Ainda citando Schutz (1989, p. 107): O comportamento de controle se refere ao processo de tomada de decisão entre pessoas na área do poder, da influência e da autoridade. O desejo de controlar varia segundo um continuum, desde meu desejo de ter autoridade sobre os outros (e de, portanto, controlar o meu futuro), até meu desejo de ser controlado e isentado de toda responsabilidade. (...) (...) O comportamento de controle também é manifestado em relação a pessoas que tentam controlar. A demonstração de independência e de revolta exemplifica uma falta de propensão a ser controlada, ao passo que a anuência, a submissão e o cumprimento de ordens indicam os graus variáveis da aceitação do controle. 2.1.3 Fase de Abertura Em grupos, caracteriza-se por demonstrações de amizade e diferenciação entre os membros, expressão de sentimentos positivos, formação de pares, intensificação de emoções e honestidade direta. E Schutz (1989, p. 108) complementa: O comportamento de afeto (abertura) descreve sentimentos de proximidade, pessoais e emocionais, entre duas pessoas. O afeto é uma relação diádica (dual), quer dizer, ocorre entre pares de pessoas, ao passo que tanto a inclusão quanto o controle são relações que podem ocorrer ou em díades (duplas), ou entre uma pessoa e um grupo. 8 2.2 Inclusão, Controle e Abertura (ICA) como Descrição de Perfis de Comportamento As relações que as pessoas estabelecem entre si são múltiplas e variadas. Schutz, no entanto, define uma tipologia para classificar as diversas formas de relacionamento interpessoal. Segundo ele, a maneira como nos dirigimos aos outros pode ser enquadrada em um dos seguintes tipos: - Inclusão (I); - Controle (C); - Abertura (A). Todos nós usamos as três formas de interação; ora uma, ora outra. Mas, grosso modo, uma delas predomina em nosso estilo geral. A Inclusão (I) se refere a estabelecer interação com os outros, a iniciar e manter contatos, a travar conhecimento, a comunicar-se, a participar de encontros, a cultivar o companheirismo. As pessoas que têm alto nível de inclusão se dão facilmente com todos e têm grande círculo de relações, gozam de prestígio, valorizam a fama e a popularidade. As pessoas que têm inclusão negativa são retraídas, se desligam das funções sociais, apreciam o isolamento. O Controle(C) se refere ao estabelecimento de relações de mando e autoridade; ao domínio e ao processo decisório entre pessoas. Os indivíduos que têm alto índice de controle gostam de influir, liderar, persuadir, chefiar. As pessoas que expressam controle negativo não dominam; ao contrário, são submissas e seguidoras, ou são rebeldes e resistentes. Em outras palavras, ou se submetem ao controle dos outros, ou a ele se opõem, mas não assumem o controle elas próprias. A abertura (A) se refere ao estabelecimento de relações afetivas, sentimentos íntimos e particulares, contatos amistosos, não indiscriminados, mas eletivos. A fase (A) tem a ver com a aproximação emocional, sendo mais profunda e menos extensa. As pessoas com Abertura Negativa são mais frias e distantes, menos amorosas, menos íntimas, fazem menos confidências. Como dissemos anteriormente, os três tipos de relação são usados por todos, embora haja o predomínio de um estilo preferencial. Sob outro enfoque, o modelo de Schutz também pode ser aplicado à evolução do indivíduo. Em grandes pinceladas, podemos dizer que a infância é uma fase de Inclusão 9 (outras pessoas vão sendo incorporadas, no relacionamento social); a adolescência é uma fase de Controle (há rebeldias e conflitos com as figuras de autoridade); e a idade adulta é uma fase de Abertura (estabelecem-se vínculos afetivos profundos e duradouros). 3 Contribuições da Teoria das Necessidades Interpessoais a situações escolares 3.1 A relação professor e aluno A interação entre as pessoas ocorre em função da percepção que temos de nós mesmos e dos outros, principalmente, com relação às características que lhes atribuímos, portanto, se os alunos são observados e, com segurança, podemos percebê-los como pessoas com mais necessidades de inclusão ou de controle ou de abertura, seguramente, ao respeitarmos essas condições inerentes a cada indivíduo, obteremos um melhor relacionamento interpessoal e, conseqüentemente, melhores rendimentos e aproveitamento escolar. Desta maneira, evitam-se rótulos tão nocivos ao desenvolvimento humano, pois o que está sendo privilegiado é o essencial ou a essência de cada ser, a partir da diversidade já esperada e com a possibilidade de ser notada. 3.2 A cooperação social Sem dúvida, a cooperação social na sala de aula pode ter reflexos extremamente positivos, até mesmo para a aprendizagem. Contudo, segundo Schutz, este fenômeno social só ocorrerá depois da integração e da competição, ou seja, o que deve ser esperado dentro do processo grupal, inicialmente, são situações de identificação, de necessidade de apoio, suporte e reconhecimento do ser como indivíduo. Após a superação desses fatores, surgirá a necessidade de confronto, de liderança, de poder, redundando na descoberta do espaço vital de cada indivíduo dentro da turma. Então, só a partir da resolução dessas necessidades citadas anteriormente o aluno estará pronto para, de fato, trabalhar cooperativamente, com cumplicidade e trocas verdadeiras. Este processo natural e previsível pode e deve ser acompanhado e trabalhado, através da administração das dificuldades e conflitos que por ventura surgirem, objetivando o crescimento da turma como equipe. 3.3 O professor como influenciador social Creio que a Teoria das Necessidades Interpessoais nos oferece um “roteiro” que facilita o desempenho do papel de influenciador social para o professor. As seis razões pelas quais respondemos positivamente à influência de outra pessoa foram assim descritas por French e Raven (apud RODRIGUES, 1981, p. 74): 10 [...] quando alguém nos influencia a fazer algo e nós o fazemos, isto se dá por uma das seguintes seis razões: a) porque assim fazendo, receberemos uma recompensa (poder de recompensa); b) porque assim evitaremos uma punição (poder de coerção); c) porque reconhecemos naquela pessoa legitimidade para determinar que façamos o que disse (poder legítimo); d) porque nos identificamos com aquela pessoa e gostamos de fazer o que ela solicita (poder de referência); e) porque reconhecemos conhecimento especializado naquela pessoa e seguimos suas determinações no assunto em que é especialista (poder de perícia); f) porque entendemos a razão de ser do que nos foi solicitado e achamos que devemos, de fato, proceder como nos foi sugerido por aquela pessoa (poder de informação). O professor exerce todos esses tipos de poder; contudo, ao tomar ciência das fases de um processo grupal, acreditamos que cabe a ele, de forma consciente, adequar sua conduta na busca de melhores resultados de aprendizagem. Num primeiro momento do processo de grupo, o aluno apresenta-se dependente e necessita de estímulos e de reconhecimentos. Talvez mais adiante, necessite de limite, de rever determinada conduta e refletir sobre ela. Mais adiante, encontra-se pronto para colaborar e servir de apoio para tarefas de rotina da turma. Creio que cabe reforçar esse ponto, os caminhos exigem atenção e todos eles são distintos, pois cada turma é composta de pessoas únicas. Finalizando, declaro que essas considerações não se esgotam, pois creio que a proposta de Schutz, através da Teoria das Necessidades Interpessoais, nos possibilita planejar e executar os conteúdos a serem transmitidos e debatidos pelas classes com mais certeza e confiança de estarmos propiciando o crescimento não apenas do saber e do conhecimento dos alunos, como também, o desenvolvimento das relações e dos papéis sociais dos mesmos. 4 Conclusão Defendo a idéia de que é relevante para os educadores, em suas disciplinas de Formação, obter conhecimento sobre o processo do grupo, na medida em que são profissionais que trabalham com grupos, cotidianamente, atuando em seu interior e para esses grupos. É minha crença pessoal que pequenos grupos que se formam e se reúnem para atingir um objetivo viverão um processo, um desenvolvimento, um caminho observável e previsível. No meu entender, um professor, terapeuta de grupos, palestrante, enfim, qualquer profissional que atue com grupos deve conhecer, estudar e aplicar os saberes que advêm de propostas teóricas, como a de Schutz, através da Teoria das Necessidades Interpessoais. 11 Refletir a respeito da dinâmica do grupo passa a ser um conhecimento e uma aplicação que fará toda a diferença no cotidiano profissional dos educadores. Para eles, os fenômenos grupais como: rejeição, agressão, competição, cumplicidade e outros, não serão mais uma surpresa, e sim, comportamentos esperados e entendidos como comuns e inerentes à maioria dos processos grupais estudados pelos diversos pesquisadores desta área. Enfim, meu objetivo, neste artigo, é chamar a atenção para essa área da Psicologia Social que muito pode ser útil a outros profissionais responsáveis por influenciar pessoas em um contexto de grupo. Influenciar ou liderar pessoas individualmente exige competências distintas das que são exigidas quando temos à frente um grupo de pessoas com necessidades interpessoais que geram uma sinergia grupal. Enfatizo, em conclusão, que é imensa a importância de pesquisar e refletir sobre os estudos existentes em relação ao processo do grupo. Eles são ferramentas indispensáveis ao educador, em sua tarefa de mentor e treinador da aprendizagem e de estimulador do desenvolvimento de seus alunos, que deverão se tornar um grupo integrado, que o educador conhece e, por isso, prevê seu caminhar. 4 Referências LUFT, Joseph. Introdução à Dinâmica de Grupos. Lisboa: Moraes Editores, 1970. MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal. Rio de Janeiro: Atlas, 1985. RODRIGUES, Aroldo. Aplicações da Psicologia Social: à escola, à clínica, às organizações, à ação comunitária. Petrópolis: Vozes, 1981. SCHUTZ, William C. O Prazer – expansão da consciência humana. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda, 1974. ______,William C. Profunda simplicidade. Trad: Maria Sílvia Mourão Netto. São Paulo: Ágora, 1989. ______, William C. The Human Element: Productivity, Self-Esteem and the Bottom Line, San Francisco: Jossey-Bass Inc., Publishers, 1994.
Compartilhar