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34 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 Unidade II Unidade II 7 DIREITO DO CONSUMIDOR 7.1 Conceito e previsão legal A Constituição Federal de 1988 estabeleceu a defesa do consumidor como princípio da ordem econômica, com isso, o constituinte impôs ao legislador ordinário a tarefa de criar um conjunto de normas capazes de harmonizar a defesa do consumidor e o desenvolvimento econômico fundado na economia de mercado e na livre concorrência. A proteção ao consumidor é abordada em diversos dispositivos constitucionais, tais como: • art. 1º, III: garante a dignidade da pessoa humana; • art. 3º, I: sociedade justa; • art. 5º, XXXII: defesa do consumidor na forma da lei; • art. 170, V: ordem econômica deve respeitar o consumidor. Com a finalidade de proteger o consumidor, o art. 48 da ADCT ordenou ao Congresso Nacional que, no prazo de 120 dias contados da promulgação da Constituição, criasse um diploma legal que protegesse o consumidor. E, em 1990, por meio da Lei nº 8.078, surge o Código de Defesa do Consumidor. Este código traz normas de ordem pública e de interesse social, conforme diz o art. 1º: “[...] o presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal, e art. 48 de suas Disposições Transitórias”. Isso ocorre em razão de o consumo interessar diretamente ao Estado, na medida em que possui um cunho social e, principalmente, em razão da ordem econômica do país. Além disso, dentro de uma relação de consumo, é princípio elementar reconhecer o consumidor como vulnerável e hipossuficiente na relação de consumo. Quando falamos em vulnerabilidade, esta existe em razão de três tipos: • vulnerabilidade técnica: o consumidor não possui conhecimentos técnicos específicos sobre o produto ou o serviço que está adquirindo ou não detém o poder de produzir ou controlar os meios de produção; • vulnerabilidade científica: o consumidor não possui conhecimentos científicos específicos, como, por exemplo, conhecimentos de contabilidade, economia ou jurídicos, bem como pode se encontrar 35 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 FUNDAMENTOS DO DIREITO COMERCIAL E DO CONSUMIDOR sob influência constrangedora e coercitiva para que adquira um produto ou serviço. Neste ponto, podemos nos lembrar da Lei nº 12.653, que intitula crime exigir do consumidor alguma caução (cheque, nota promissória ou formulários) para garantir o pagamento do atendimento médico- hospitalar; • vulnerabilidade econômica: é a análise da relação de consumo para saber se o fornecedor tem, de fato, uma superioridade econômica sobre o consumidor. Em resumo, a vulnerabilidade do consumidor ocorre na medida em que ele, consumidor, é inferiorizado economicamente ou não controla a linha de produção do que consome ou, ainda, está exposto às práticas abusivas dos fornecedores num mercado cada vez mais capitalista. 8 RELAÇÃO DE CONSUMO É aquela formada entre o consumidor, de um lado, e o fornecedor, de outro, ligados entre si por um produto e/ou serviço. Portanto analisaremos, a partir de agora, estes sujeitos e objetos presentes nas relações de consumo. 8.1 Consumidor Conforme o artigo 2°: “[...] consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. O consumidor pode ser tanto uma pessoa natural – pessoa física – bem como uma pessoa criada por Lei nº – pessoa jurídica (empresas, associações, fundações etc.) – que irá adquirir, por meio de compra ou doação, ou utilizar, por meio da posse temporária, produtos ou serviços. Todavia, o ponto mais importante está na expressão “destinatário final”. É justamente nesta expressão que saberemos se estamos diante de uma relação de consumo ou não. Se há a relação de consumo, há a defesa do consumidor. Desse modo, a expressão “destinatário” representa aquele consumidor que adquire o bem ou serviço para uso próprio e de sua família, sem finalidade de produção de outros produtos e serviços. Esse conceito é válido para a pessoa natural. Mas e as pessoas jurídicas, como ficam? Ou seja, quando a pessoa jurídica poderá ser considerada consumidora? Para a conceituação da pessoa jurídica como consumidora é necessário verificar sua hipossuficiência e demonstrar se houve: • aquisição de bens de consumo e não bens de capital, ou seja, aquele bem comprado é um produto e não uma mercadoria, uma vez que a mercadoria é um bem ligado diretamente com a atividade desenvolvida por aquela pessoa jurídica, o que, de fato, exclui a incidência das relações de consumo nestes casos; • se há entre o fornecedor e o consumidor um desequilíbrio que prejudique o consumidor. 36 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 Unidade II 8.2 Fornecedor Segundo o artigo 3º do CDC: “[...] fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”. O fornecedor possui como base a atividade, que pode ser de produção ou de montagem, desde que possua quatro elementos: 1) continuidade; 2) duração; 3) obtenção de lucro; 4) profissionalismo. Ou seja, o ponto comum dessas atividades é que todas são voltadas para o mercado de consumo. 8.3 Produto Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial; é qualquer objeto em dada relação de consumo quando destinado à satisfação das necessidades do consumidor. 8.4 Serviço Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo mediante remuneração. Inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista; é uma atividade que será fornecida no mercado mediante remuneração, ainda que indiretamente. Assim, serviço gratuito não será relação de consumo. 9 POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO Diz o artigo 4º da lei: “[...] a Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo [...]”. Trata-se da política governamental no sentido de proteger efetivamente os interesses dos consumidores e, para que isso ocorra, resta traduzido em alguns princípios. São eles: • princípio da boa-fé objetiva: trata-se do pensamento digno da pessoa enquanto fornecedora e consumidora em uma relação de consumo, que se traduz na conduta exteriorizada condizente com a vontade de consumir; 37 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 FUNDAMENTOS DO DIREITO COMERCIAL E DO CONSUMIDOR • princípio da transparência: o fornecedor deve ser o mais claro e transparente possível nas informações e descrições do produto ou serviço que irá prestar; • princípio da confiança: deve ocorrer entre as partes a credibilidade acerca do produto ou do serviço que foi adquirido; • princípio da proteção: em razão do reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor, a proteção será dada pelo Estado, diretamente por meio dos seus órgãos e pela tomada de ações governamentais ou indiretamente pelo fomento à criação das associações de defesa do consumidor; • princípio da harmonia: é a representação da harmoniaque deve existir em razão dos interesses do consumidor, de um lado, e da necessidade do desenvolvimento econômico e tecnológico do nosso país por meio da boa-fé objetiva das partes; • princípio da vulnerabilidade do consumidor: a Constituição reconhece o consumidor como vulnerável e, portanto, necessita de proteção em qualquer relação de consumo; • princípio da informação: o fornecedor tem que prestar informações necessárias sobre os riscos à saúde e segurança dos consumidores; • princípio da liberdade: é o respeito que deve ser dado ao consumidor a partir do momento em que ele poderá escolher o que comprar e o quanto comprar, respeitadas as limitações legais; • princípio da isonomia: os fornecedores, no exercício de suas atividades, devem tratar os seus consumidores de forma igualitária. 10 DIREITOS BÁSICOS DOS CONSUMIDORES De acordo com o artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, os direitos básicos dos consumidores são: • proteção à vida, à saúde e à segurança: o consumidor deve ser informado sobre os riscos dos produtos ou dos serviços e tem o direito de não ser exposto a perigo que atinja sua incolumidade física; • educação é informação: diz respeito ao funcionamento do produto, devendo ser efetuada (a informação) de maneira clara e precisa, geralmente utilizada nos manuais de instrução. E a educação diz respeito àquilo que é dado nas escolas e, também, a cargo do próprio fornecedor e dos órgãos públicos; • proteção em face de propaganda enganosa ou abusiva: neste caso, a publicidade é tratada como oferta e, como tal, vincula o proponente que a fizer, ou seja, a oferta vincula o proponente. Caso o fornecedor não cumpra com a oferta publicada, se abrem ao consumidor três possibilidades: 1) exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; 38 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 Unidade II 2) aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; 3) rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos; • inversão do ônus da prova: regra de direito processual civil, na medida em que a obrigação de provar o alegado fica a cargo do fornecedor. É a situação em que o fornecedor deverá demonstrar ao juiz que aquilo que o consumidor está alegando não é a verdade dos fatos. Portanto o dever de provar o alegado – que é a regra de todo processo – no direito do consumidor poderá ser passado para a outra parte. Para isso é necessário convencer o juiz sobre: 1) verossimilhança: é o conteúdo de verdade do consumidor; 2) hipossuficiência: significa a dificuldade que tem o consumidor de provar determinadas situações, ou seja, o consumidor não tem condições materiais de provar o alegado. • a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas: é direito do consumidor rever qualquer contrato em razão de prestações desproporcionais ou, ainda, em razão de fatos supervenientes que ocorreram após a contratação – que tornou, ao consumidor, uma cláusula excessivamente onerosa; • a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral: o fornecedor também poderá ser uma pessoa jurídica de direito público. E aqui estão incluídos os serviços de saúde pública, por meio dos hospitais, postos de atendimento etc. Os serviços públicos devem ser adequados e eficazes para os seus consumidores. 11 RESPONSABILIDADES DO FORNECEDOR 11.1 Responsabilidade pelo fato do produto ou serviço Os artigos 12 e 14 do Código de Defesa do Consumidor dispõem sobre a responsabilidade do fornecedor em razão do fato do produto ou serviço. Responsabilidade pelo fato do produto ou serviço significa a presença de um dano material ou imaterial. Ou seja, o consumidor, ao consumir determinado produto ou serviço, sofre um dano de qualquer natureza. E, neste caso, a responsabilidade sempre será objetiva, ao passo que não é necessário discutir a culpa do fornecedor, mas simplesmente demonstrar o dano e o nexo causal entre este e o defeito do produto ou serviço. Trata-se, também, de responsabilidade solidária, ou seja, tendo mais de um autor a ofensa, o consumidor pode escolher de quem ele irá cobrar o dano. A quem foi escolhido fica garantido o direito de regresso contra os outros fornecedores. 11.2 Responsabilidade pelo vício do produto ou serviço É a responsabilidade pelo “defeito” do produto ou serviço. 39 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 FUNDAMENTOS DO DIREITO COMERCIAL E DO CONSUMIDOR Esse defeito pode ser em razão da qualidade, que pode ser aparente (por exemplo, o produto ultrapassou o limite do prazo de validade) ou oculto. Se há vício em razão da qualidade, o fornecedor deverá reparar o produto, trocar as partes viciadas ou consertá-las no prazo de 30 dias. Ultrapassado esse prazo o consumidor pode alternativamente e à sua escolha pedir: • a substituição do produto por outro da mesma espécie; • a devolução do valor pago, devidamente atualizado; e • abatimento proporcional do preço. O consumidor não precisará aguardar o prazo de 30 dias para que o fornecedor possa sanar o vício quando o produto for essencial ou o defeito atingir parte essencial do produto ou diminuir seu valor. Assim, ele pode escolher uma das três opções com a imediata constatação do vício. Pode ser, ainda, em razão da quantidade, ou seja, a desproporção existente entre a informação que consta no rótulo de embalagem e o efetivo conteúdo do produto. Neste caso o consumidor pode escolher: • abatimento proporcional do preço; • complementação do peso ou da medida; • substituição do produto por outro; e • restituição imediata das quantias pagas devidamente atualizadas. O vício do serviço pode ser de qualidade e de quantidade. Os de qualidade são representados pelos serviços impróprios ao consumo ou que lhes diminuam o valor, como, por exemplo, o médico que dá um diagnóstico totalmente diferente dos sintomas do paciente; o de quantidade é aquele que apresenta falha na informação, apresentando desproporção com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária. Em ambos os casos pode o consumidor exigir: • nova execução do serviço sem custo adicional; • restituição imediata da quantia paga, devidamente atualizada; e • abatimento proporcional do preço. 40 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 Unidade II 12 DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO A decadência e a prescrição correspondem ao prazo em que o consumidor, diante de um defeito do produto ou do serviço, tem para reclamar. Se for simplesmente por defeito do produto, o consumidor terá 30 dias, tratando-se de fornecimento de produtos ou serviços não duráveis; 90 dias, tratando-se de fornecimento de produtos ou serviços duráveis. A distinção entre produtos duráveis ou não duráveis ocorre com a observação do gênero a que ele faz parte, tomando-se por referência a vida útil do bem ou serviço contratado. Será não durável se, com o seu uso, houver a destruição imediata do produto ou do serviço (gêneros alimentícios, roupas, bebidas, serviço de limpeza etc.) e será durável se, com o seu uso, não houver a destruição imediata do produto (automóveis, eletrodomésticos etc.). No caso de responsabilidade por danos em acidentes causados por defeitos dos produtos ou serviços – responsabilidade pelo fato – o prazo que terá o consumidor para reclamar será de cinco anos. 13 PRÁTICAS COMERCIAIS São as situações irregulares, proibidas, de negociações nas relações deconsumo que ferem a boa-fé, os bons costumes, a ordem pública e a ordem jurídica prejudicando o consumidor. O artigo 39 traz as hipóteses legais de práticas abusivas: • condicionamento do fornecimento de produtos ou serviços: isso ocorre em razão de uma venda casada ou uma venda quantitativa. O consumidor só é obrigado a consumir o que ele quer, nem mais, nem menos, pois isso fere o seu direito de liberdade; • recusa de atendimento à demanda do consumidor: não atender às pretensões do consumidor, desde que o produto ou serviço esteja disponível. O fornecedor poderá recusar atendimento de acordo com o ramo do negócio; por ordem pública; lotação do estabelecimento; • fornecimento não solicitado: o consumidor só deve receber aquilo que ele solicitou. Se não for solicitado, o produto ou serviço fornecido será considerado amostra grátis, inexistindo obrigação de pagamento. Se o produto ou serviço causar dano ao consumidor, o fornecedor deverá ser responsabilizado; • aproveitamento da hipossuficiência: prevalecer da falta de informação ou fraqueza – em razão da idade, da condição econômica, da saúde ou do pouco conhecimento – do consumidor para obrigá-lo a adquirir produtos ou contratar serviços; • exigência da vantagem excessiva: exigir do consumidor vantagens superiores às condições do consumidor, ou seja, vantagem manifestamente excessiva. Trata-se de cláusulas contratuais abusivas; 41 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 FUNDAMENTOS DO DIREITO COMERCIAL E DO CONSUMIDOR • serviços sem orçamento: executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor. O valor orçado terá validade de dez dias contados do recebimento do fornecedor. Não será necessária a aprovação do orçamento quando se tratar de serviços urgentes, entendidos àqueles que, se não realizados, irão causar prejuízo maior ao consumidor – por exemplo, o atendimento médico urgente ou quando o consumidor já realizava negócios com o fornecedor e era comum esse consumidor não realizar a aprovação do orçamento; • inexistência de prazo de entrega ou conclusão: é dever do fornecedor informar o prazo de entrega do produto ou conclusão do serviço, além do preço e da forma de pagamento; • divulgação de informações negativas a respeito do consumidor: repassar informação depreciativa referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos; • colocação no mercado de produtos ou serviços em desacordo com as normas técnicas: produtos ou serviços em desacordo com os órgãos oficiais devem ser retirados do mercado. Ex.: Inmetro; • elevar sem justa causa o preço do produto ou serviço; • aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido; • recusar venda de bens ou prestação de serviços diretamente ao consumidor que se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento. 14 CONTRATO DE CONSUMO Será contrato de consumo aquele existente entre o consumidor e o fornecedor, em razão da aquisição ou utilização de um produto ou um serviço. Há necessidade do conhecimento prévio do consumidor sobre o conteúdo do contrato sob pena de não estar obrigado ao seu cumprimento do conteúdo. Para tanto é necessário conter a redação clara e compreensível para que a obrigação assumida seja exigida. As cláusulas contratuais serão interpretadas da maneira mais favorável ao consumidor. 14.11 Garantia contratual É uma condição adicional oferecida ao consumidor pelo fornecedor, podendo ser fixada livremente e feita por escrito, entregando ao consumidor no momento da conclusão do contrato devidamente preenchida. 14.2 Direito de arrependimento Trata-se da possibilidade do consumidor voltar em sua declaração de vontade de celebrar o contrato de consumo. Ou seja, em determinadas situações, a Lei nº permite ao consumidor se arrepender, desfazendo o contrato sem ônus. Para que isso ocorra é necessário que o contrato seja realizado fora do 42 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 Unidade II estabelecimento comercial, em razão da falta de contato com o produto. A Lei nº fixa o prazo de sete dias para o consumidor refletir sobre a necessidade do produto, tendo direito à devolução imediata das quantias eventualmente pagas ao fornecedor. 14.3 Cláusulas abusivas São cláusulas notoriamente desfavoráveis ao consumidor, devendo ser declaradas nulas de pleno direito. De acordo com o artigo 51 do CDC, são cláusulas abusivas: • cláusula de não indenizar: a indenização é um direito do consumidor, conforme artigo 6º da lei. Essa indenização pode ser tanto em razão de um dano físico ou psíquico, material ou moral; • cláusula de renúncia ou disposição de direitos: os direitos básicos do consumidor são irrenunciáveis, ou seja, mesmo que o consumidor queira, ele não pode abrir mão dos seus direitos. São direitos indisponíveis. Assumem as características de direitos irrenunciáveis, conforme característica dos direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal; • cláusula de limitação da indenização com consumidor/pessoa jurídica: só admitida quando o consumidor for pessoa jurídica que, para aceitar, negocia alguma vantagem em troca; • cláusula que impeça o reembolso da quantia paga pelo consumidor: trata-se de um direito do consumidor e, como tal, não pode ser suprimida em razão de um contrato; • transferência de responsabilidade a terceiros: os fornecedores devem arcar com os ônus e as obrigações decorrentes da relação de consumo; • colaboração do consumidor em desvantagem exagerada; • cláusula incompatível com a boa-fé e a equidade: neste caso, deve-se analisar qual a expectativa do consumidor em relação ao contrato de consumo. • inversão prejudicial do ônus da prova: o contrato não pode ir contra, nem acrescentar regras ao que a Lei nº determina. A inversão só poderá ocorrer em favor do consumidor; • arbitragem compulsória: não é admitida cláusula que obrigue o consumidor a participar de uma câmara ou um tribunal arbitral para a solução do seu conflito; • representante imposto para concluir outro negócio jurídico pelo consumidor; • opção exclusiva do fornecedor para concluir o contrato: neste caso, há quebra do equilíbrio contratual; 43 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 FUNDAMENTOS DO DIREITO COMERCIAL E DO CONSUMIDOR • alteração unilateral do preço: qualquer alteração de preço no contrato de consumo deve ser discutida entre as partes, em igualdade de condições, sob pena de se tornar excessivamente onerosa ao consumidor; • cancelamento unilateral do contrato por parte do fornecedor: qualquer uma das partes pode pedir o cancelamento do contrato. Entretanto é abusiva a cláusula que permite apenas ao fornecedor esta possibilidade; • ressarcimento unilateral dos custos de cobrança; • modificação unilateral do contrato: qualquer alteração no contrato deve ser discutida entre as partes; • violação das normas ambientais: se, em decorrência da relação de consumo, houver prejuízo ao meio ambiente natural, cultural, artificial ou do trabalho, mesmo sendo favorável ao consumidor, a cláusula não será válida; • discordância com o sistema de proteção ao consumidor: qualquer cláusula que afronte o sistema de proteção ao consumidor não será válida; • renunciar à indenização por benfeitorias necessárias: quando o consumidor precisar realizar benfeitorias necessárias na coisa, terá direito ao ressarcimento em face dos gastos realizados. Assim, não poderá haver cláusula no contrato que impeça essa direito. Há, ainda, outras cláusulas abusivas entendidas pelo SuperiorTribunal de Justiça (STJ). São elas: • será considerada abusiva a cláusula que limita o tempo de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI); • será considerada abusiva a cláusula que estabelece qual deverá ser o foro competente em caso de litígio entre as partes, em contrato de adesão, pois o foro deverá ser o do domicílio do réu. 14.4 Contrato de adesão São considerados de adesão os contratos cujas cláusulas ou são aprovadas pela autoridade competente, ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente o contrato. Em regra, não é considerado nulo e é caracterizado por: • ser prévia e unilateralmente elaborado; • ser ofertado de maneira generalizada e uniforme; 44 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 Unidade II • ser aceito pelo consumidor com sua simples adesão ao contrato que, desta feita, faz com que se vincule à vontade de quem fez a oferta. Todas as cláusulas contratuais, mesmo nos contratos de adesão, deverão ser interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. 15 DA DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO Art. 81: “[...] a defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente ou a título coletivo. Parágrafo único: a defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos, os decorrentes de origem comum”. Art. 82: “[...] para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: I - o Ministério Público; II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código; IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam, entre seus fins institucionais, a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear. § 1°: o requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas no art. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido”. Art. 83: “[...] para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela”. Art. 84: “[...] na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 1°: a conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado 45 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 FUNDAMENTOS DO DIREITO COMERCIAL E DO CONSUMIDOR prático correspondente. § 2°: a indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa. § 3°: sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu. § 4°: o juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito. § 5°: para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial”. Art. 87: “[...] nas ações coletivas de que trata este código não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogados, custas e despesas processuais. Parágrafo único: em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos”. Art. 88: “[...] na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide”. Art. 90: “[...] aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e da Lei nº n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não contrariar suas disposições”. 16 DO SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR Art. 105: “[...] integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), os órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais, e as entidades privadas de defesa do consumidor”. Art. 106: “[...] o Departamento Nacional de Defesa do Consumidor, da Secretaria Nacional de Direito Econômico (MJ), ou órgão federal que venha substituí-lo, é organismo de coordenação da política do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, cabendo-lhe: I - planejar, elaborar, propor, coordenar e executar a política nacional de proteção ao consumidor; II - receber, analisar, avaliar e encaminhar consultas, denúncias ou sugestões apresentadas por entidades representativas ou pessoas jurídicas de direito público ou privado; III - prestar aos consumidores orientação permanente sobre seus direitos e garantias; IV - informar, conscientizar e motivar o consumidor através dos diferentes meios de comunicação; V - solicitar à polícia judiciária a instauração de inquérito policial para a apreciação de delito contra os consumidores, nos termos da legislação vigente; 46 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 Unidade II VI - representar ao Ministério Público competente para fins de adoção de medidas processuais no âmbito de suas atribuições; VII - levar ao conhecimento dos órgãos competentes as infrações de ordem administrativa que violarem os interesses difusos, coletivos, ou individuais dos consumidores; VIII - solicitar o concurso de órgãos e entidades da União, Estados, do Distrito Federal e Municípios, bem como auxiliar a fiscalização de preços, abastecimento, quantidade e segurança de bens e serviços; IX - incentivar, inclusive com recursos financeiros e outros programas especiais, a formação de entidades de defesa do consumidor pela população e pelos órgãos públicos estaduais e municipais; X - desenvolver outras atividades compatíveis com suas finalidades. Parágrafo único: para a consecução de seus objetivos, o Departamento Nacional de Defesa do Consumidor poderá solicitar o concurso de órgãos e entidades de notória especialização técnico-científica”. 47 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 REFERÊNCIAS Textuais BARROS, F. M. Manual de Direitodo Consumidor. São Pauo: Rideel, 2011. BRANCIER, A. S. H. Direito Empresarial. Curitiba: Ibpex, 2011. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 5 maio 2014. ___. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 5 maio 2014. ___. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Brasília, 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm>. Acesso em: 5 maio 2014. COELHO, F. U. Manual de Direito Comercial. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. ___. O futuro do Direito Comercial, São Paulo: Saraiva, 2010. FRONTINI, P. S. Código de Defesa do Consumidor interpretado. Barueri: Manole, 2013. MARTINS, F. Curso de Direito Comercial. 22ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996. NUNES, R. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. REQUIÃO R. Curso de Direito Comercial. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. RIZZATO, N. Curso de Direito do Consumidor. São Paulo: Saraiva. 2013. 48 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 49 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 50 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 51 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 52 Re vi sã o: A m an da - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 8/ 05 /1 4 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000
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