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2017 - 05 - 25 Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil: artigo por artigo - Edição 2016 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL PARTE ESPECIAL. LIVRO II. DO PROCESSO DE EXECUÇÃO TÍTULO I. DA EXECUÇÃO EM GERAL CAPÍTULO I. DISPOSIÇÕES GERAIS ART. 775. Livro II DO PROCESSO DE EXECUÇÃO TÍTULO I DA EXECUÇÃO EM GERAL Capítulo I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 771. Este Livro regula o procedimento da execução fundada em título extrajudicial, e suas disposições aplicam-se, também, no que couber, aos procedimentos especiais de execução, aos atos executivos realizados no procedimento de cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos processuais a que a lei atribuir força executiva. Parágrafo único. Aplicam-se subsidiariamente à execução as disposições do Livro I da Parte Especial. *Correspondência Legislativa: art. 598 CPC/73. Outras ref. normativas: V. art. 513, NCPC. Sumário: 1. O procedimento da execução fundada em título executivo extrajudicial e sua aplicação subsidiária; 2. Atos ou fatos processuais que a lei atribuir força executiva. 3. Os atos executivos. 4. O parágrafo único: aplicação subsidiária do Livro I da Parte Especial ao processo de execução de título extrajudicial. 1. O procedimento da execução fundada em título executivo extrajudicial e sua aplicação subsidiária. Este dispositivo inaugura o procedimento da execução fundada em título extrajudicial com a observação de que as disposições deste Livro também se aplicam aos procedimentos especiais de execução, aos atos executivos cometidos na fase de cumprimento de sentença, bem como aos atos ou fatos que a lei atribuir força executiva. 2. Atos ou fatos processuais que a lei atribuir força executiva. A parte final do caput deixa clara a aplicação das disposições deste Livro também aos atos e fatos processuais. A expressão é uma novidade e contém evidente carga de subjetividade. Para Fabiano Carvalho a expressão sugere a possibilidade de atividade executiva mesmo sem título executivo, em exceção ao princípio da nulla executio sine titulo. Segundo o mencionado autor, um exemplo da atividade executiva de ato ou fato processual reside em negócio jurídico processual (art. 191), mediante o qual as partes acordam o rateio de despesas processuais e uma das partes o descumpre.1 3. Os atos executivos. Além do procedimento da execução fundada em título extrajudicial, suas disposições trazem, ainda, os atos executivos tendentes à satisfação do exequente os quais, salvo uma ou outra regra específica, v.g., a prisão civil aplicável tão somente às execuções de obrigações alimentares, têm aplicação em todo e qualquer processo executivo. 3.1. Uma das conotações do princípio da tipicidade dos atos executivos, diretamente decorrente do princípio do devido processo legal, traduz a ideia de que os atos executivos são “típicos”, ou seja, são aqueles previstos pelo legislador. Tais atos, em grande parte, estão previstos neste Livro. 3.2. Sempre que a força executiva se voltar contra o patrimônio de alguém, as disposições deste Livro deverão ser aplicadas, tratando-se de título executivo extrajudicial ou judicial. 4. O parágrafo único: aplicação subsidiária do Livro I da Parte Especial ao processo de execução de título extrajudicial. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente ao processo de execução e ao cumprimento de sentença. Tal norma também consta do art. 318, parágrafo único: “O procedimento comum aplica-se subsidiariamente ao demais procedimentos especiais e ao processo de execução.” O procedimento comum, portanto, é por assim dizer, um procedimento “padrão”, que serve para preencher eventuais lacunas dos demais procedimentos. 4.1 Para que se possibilite a aplicação subsidiária das normas do procedimento comum à execução, deve haver ausência de regra específica no regramento específico e, bem assim, compatibilidade procedimental. Art. 772. O juiz pode, em qualquer momento do processo: I - ordenar o comparecimento das partes; II - advertir o executado de que seu procedimento constitui ato atentatório à dignidade da justiça; III - determinar que sujeitos indicados pelo exequente forneçam informações em geral relacionadas ao objeto da execução, tais como documentos e dados que tenham em seu poder, assinando-lhes prazo razoável. * Correspondência legislativa: art. 599, I e II do CPC/73. Sumário: 1. Os poderes do juiz na execução. 2. Determinação para terceiros fornecerem informações e documentos. 1. Os poderes do juiz na execução. Tal dispositivo, inserido nas disposições gerais da execução, visa a dotar o juiz de mecanismos com vistas à efetividade da execução.Pode o juiz, em qualquer momento do processo, tomar as seguintes atitudes: (i) ordenar o comparecimento da parte; (ii) advertir o executado que sua conduta configura ato atentatório à dignidade da justiça; (iii) determinar que sujeitos indicados pelo exequente forneçam informações e documentos ao juízo no intuito de encontrar bens do executado. 2. Determinação para terceiros fornecerem informações e documentos. A providência mencionada no item “iii” precedente, de forma expressa, constitui uma novidade. Isto não significa que o juiz não possa fazê-lo sob a égide do CPC/73, mas a previsão expressa na lei de intimação do terceiro, a fim de contribuir na execução, sepulta qualquer dúvida a esse respeito. 2.1 Questão interessante repousa na hipótese do terceiro descumprir a ordem do juiz, ou seja, recusar-se a fornecer as informações, dados ou documentos que lhe foram solicitados. O terceiro (e, portanto, estranho ao processo) poderá sujeitar-se às medidas coercitivas e sub-rogatórias determinadas pelo juiz? A resposta deve ser positiva, como, aliás, sugere o dispositivo legal do art. 773 a ser comentado na sequência. Art. 773. O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias ao cumprimento da ordem de entrega de documentos e dados. Parágrafo único. Quando, em decorrência do disposto neste artigo, o juízo receber dados sigilosos para os fins da execução, o juiz adotará as medidas necessárias para assegurar a confidencialidade. Sumário: 1. Documentos e dados em poder do executado ou de terceiros. 2. Atuação do juiz para efetivação da ordem. 3. Descumprimento da ordem. 4. Dados sigilosos. 1. Documentos e dados em poder do executado ou de terceiros. A norma em foco permite ao juiz, de ofício ou provocado pela parte, “determinar as medidas necessárias ao cumprimento da ordem de entrega de documentos e dados”, estejam, a nosso ver, em poder do executado ou mesmo de terceiros. 2. Atuação do juiz para efetivação da ordem. A norma é genérica e não traz sequer exemplos de como poderia o juiz atuar. Melhor assim. Pode o juiz atuar por meio de medidas coercitivas ou sub-rogatórias para ter acesso às informações e documentos a que necessita. Pode, por exemplo, ordenar a entrega de algum documento, sob pena de multa diária; pode, ao revés, determinar a busca e apreensão de tal documento. 3. Descumprimento da ordem. Sem prejuízo das sanções civis, o descumprimento da ordem, pelo executado ou pelo terceiro, pode gerar ofício ao Ministério Público para apuração de eventual crime de desobediência. 2 4. Dados sigilosos. Dispõe o parágrafo único que se houver a entrega de dados ou documentos sigilosos, o juiz adotará as medidas necessárias a salvaguardar a sua confidencialidade. Visa-se, com isso, limitar o acesso à informação, limitando-o tão somente à parte requerente e seu patrono. É o caso, por exemplo, de resposta de ofícios à Receita Federal que, no processo físico é arquivado em pasta própria e, noprocesso eletrônico fica indisponível para acesso público. Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou omissiva do executado que: I - frauda a execução; II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; III - dificulta ou embaraça a realização da penhora; IV - resiste injustificadamente às ordens judiciais; V - intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, nem exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus. Parágrafo único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz fixará multa em montante não superior a 20% (vinte por cento) do valor atualizado do débito em execução, a qual será revertida em proveito do exequente, exigível nos próprios autos do processo, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material. * Correspondência legislativa: arts. 600, I, II, III, IV e 601 do CPC/73. Outras ref. normativas: V. arts. 5.º, 792, 808 e 856, § 3.º, NCPC. Sumário: 1. Conduta considerada como atentatória à dignidade da justiça. 2. Fraudar a execução. 3. Opor-se maliciosamente à execução. 4. Dificultar ou embaraçar a realização da penhora. 5. Resistir injustificadamente às ordens judiciais. 6. Não indicar bens quando intimado para tanto. 6. Não indicar bens quando intimado para tanto. 7. Sanções. 8. Execução da sanção pecuniária nos mesmos autos. 1. Conduta considerada como atentatória à dignidade da justiça. A primeira observação que deve ser feita é a de que somente a conduta do executado (e não do terceiro) pode ser tarifada como ato atentatório à dignidade da justiça. Além disso, o dispositivo esclarece que a conduta comissiva e a omissiva podem gerar o mesmo efeito. As condutas que são consideradas como atos atentatórios à dignidade da justiça estão explicitadas nos incisos, a seguir comentados. Como se verá a seguir, os incisos pecam pelo excesso, porquanto, ao fim e ao cabo, tudo se resume na resistência aos atos executivos e no descumprimento das ordens judiciais. Melhor assim. O “pecado do excesso”, in casu, é bem-vindo, na medida em que quanto mais clara e exemplificativa for a lei, menos discussão haverá quanto à atitude do executado enquadrar-se, ou não, na hipótese legal, a fim de sujeita-lo às sanções pertinentes. 2. Fraudar a execução. Conforme o inc. I, o executado que ““frauda à execução”” comete ato atentatório. Isso significa que, havendo ato de disposição de bens em fraude à execução (art. 792), tal conduta, além de ineficaz para o autor da ação preexistente, será entendida como ato atentatório à dignidade da justiça. Parte da doutrina entende que a expressão “fraude à execução” deve ser interpretada de forma ampla, para designar qualquer tipo de fraude perpetrada par frustrar a atividade executiva e não somente a figura típica fraude à execução prevista no art. 792.3 3. Opor-se maliciosamente à execução. O inc. II prevê a hipótese do executado que se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos. Trata-se de conceito vago, de forma que a conduta do executado deverá ser avaliada à luz do caso concreto. A ideia, de qualquer forma, é punir a atitude do executado que lança mão de expedientes infundados e maliciosos para se opor à execução. Assim, se o executado lançar mão de expedientes ilegítimos ou infundados (questão de forma) ou mesmo se alegar matéria infundada, mentirosa ou ardilosa, mesmo em sede de expediente legítimo como os embargos à execução ou mesmo a exceção de preexecutividade (questão de fundo), também se configura a hipótese. 4. Dificultar ou embaraçar a realização da penhora. Também cometerá ato atentatório o executado que de alguma forma dificulte ou embarace a penhora, nos termos do inc. III. Trata-se de uma novidade do NCPC. Em realidade, a atitude de obstaculizar não só a penhora, mas qualquer ato executivo ou preparatório, deve ser compreendido neste mesmo inciso, e.g., arresto, arrolamento, sequestro, busca e apreensão, avaliação. 5. Resistir injustificadamente às ordens judiciais. De igual forma, a resistência do executado em acatar o cumprir qualquer ordem judicial também configura ato atentatório à dignidade da justiça. É o que se lê do inc. IV. Este é um ponto que merece ser destacado: há, no Brasil, uma incrível resistência ao cumprimento das ordens judiciais. Espera-se que este dispositivo – que não se traduz em nenhuma novidade – seja cada vez mais aplicado. 6. Não indicar bens quando intimado para tanto. Por fim, o inc. V repete disposição trazida pela Lei 11.382/2006, de forma que se o executado for intimado para indicar seus bens e não o fizer, cometerá ato atentatório à dignidade da justiça. Além de indicar os bens deverá apresentar seu valor, os documentos que comprovam a sua propriedade e, se o juiz o solicitar, certidão de negativa de ônus. 7. Sanções. As sanções, por sua vez, estão previstas no parágrafo único que possibilita ao juiz fixar multa ao executado em montante de até vinte por cento do valor atualizado do débito em execução. Tal multa, esclarece expressamente o dispositivo, é reversível ao autor, conforme aliás entendimento jurisprudencial unânime.4 Além da sanção pecuniária, tem o juiz liberdade para fixar outras sanções de natureza processual ou material. 8. Execução da sanção pecuniária nos mesmos autos. Concluindo, esclarece ainda o parágrafo único que a execução desta multa se dá nos mesmos autos. Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva. Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o seguinte: I - serão extintos a impugnação e os embargos que versarem apenas sobre questões processuais, pagando o exequente as custas processuais e os honorários advocatícios; II - nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do impugnante ou do embargante. * Correspondência legislativa: art. 569 caput, parágrafo único, a, b, do CPC/73. Outras ref. normativas: V. arts. 200, parágrafo único e 485, § 4.º, NCPC. Sumário: 1. A livre disponibilidade da execução. 2. Desistência da execução. 1. A livre disponibilidade da execução. Este preceito reflete um dos princípios da execução, qual seja, o da livre disponibilidade da execução pelo exequente. Toda execução se processa em favor do exequente, daí porque ele poderá, a qualquer momento e sem necessidade de anuência da parte contrária, desistir da execução ou mesmo de alguma das medidas executivas. 2. Desistência da execução. A desistência sem a anuência da parte contrária, em princípio, só é possível enquanto não houver impugnação ou embargos. Mesmo nestas hipóteses, a desistência unilateral será possível, desde que a impugnação ou os embargos tratem tão somente de questão processual, cabendo ao exequente responder pelas custas processuais e honorários advocatícios. Quando os embargos ou a impugnação versarem sobre outras questões, além daquelas exclusivamente processuais, a desistência somente será possível mediante formal concordância do impugnante ou embargante. Art. 776. O exequente ressarcirá ao executado os danos que este sofreu, quando a sentença, transitada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a obrigação que ensejou a execução. * Correspondência legislativa: art. 574 do CPC/73. Responsabilidade objetiva pelos danos causados ao executado. Este artigo de lei traz a regra de que o exequente responde pelos danos causados ao executado na hipótese de a obrigação estampada no título ser declarada inexistente no todo ou em parte. Conquanto a letra da lei refira-seà “sentença”, obviamente tal expressão deve ser entendida como qualquer pronunciamento judicial. De qualquer forma, trata-se de responsabilidade objetiva do exequente que responde se o título, ao final, for desdourado. 5 Art. 777. A cobrança de multas ou de indenizações decorrentes de litigância de má-fé ou de © desta edição [2016] prática de ato atentatório à dignidade da justiça será promovida nos próprios autos do processo. * Correspondência legislativa: art. 739-B do CPC/73. Procedimento para cobrança de valores decorrentes de litigância de má-fé. Esta norma esclarece que a multa ou as indenizações decorrentes da litigância de má-fé ou ainda de ato atentatório à dignidade da justiça podem ser executadas diretamente no próprio processo de execução onde foram fixadas, sem necessidade de ação autônoma. O procedimento para cobrança se faz por meio de execução por quantia certa e, se for o caso, pode ser precedido de liquidação de sentença. FOOTNOTESFOOTNOTES 1. Fabiano Carvalho. Breves Comentários ao Novo Código de Processo Civil, p. 1772. 2. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. MULTA DIÁRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 372/STJ. 1. Em sede de ação cautelar de exibição de documentos, não cabe a aplicação da multa cominatória prevista no art. 461 do CPC. Súmula 372/STJ. 2. Se a documentação estiver na posse de terceiros, cabível a busca e apreensão, inclusive mediante uso de força policial, tudo sem prejuízo da responsabilização por crime de desobediência, nos termos do artigo 362 do CPC. 3. Agravo regimental não provido, com aplicação de multa. (STJ, AgRg no REsp 1151817/RS, 4.T., j. 05.06.2012, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 15.06.2012). (Grifos nossos). 3. Nesse sentido, Fabiano Carvalho, Breves Comentários, op. cit., p. 1777. 4. AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO FISCAL – EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – PARCELAMENTO – SUBSTITUIÇÃO DOS BENS PENHORADOS POR DEBÊNTURES EMITIDAS PELA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE – LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. (...) A imposição da multa pressupõe a comprovação do dolo da parte no entravamento do trâmite processual, manifestado por conduta maliciosa e temerária, com o efetivo prejuízo ocasionado à parte contrária, a quem reverte o produto da arrecadação da multa. (TRF-3, AI 0020447-04.2011.4.03.0000, 6.T., j. 05.07.2012, Rel. Des. Fed. Mairan Maia, DJe 20.07.2012). 5. “À semelhança do que acontece com as despesas, de regra responderá pelos honorários advocatícios o executado, às expensas do qual se realiza a execução. No entanto, a responsabilidade tocará, às vezes, ao exequente vencido, cuja execução acabou extinta, seja qual for o motivo. Tampouco importa o meio – embargos ou exceção de pré-executividade – utilizado pelo executado. Por tal motivo, cabe a condenação do exequente na hipótese de o juiz acolher a exceção de pré-executividade” (Araken de Assis. Manual da Execução. cit. p. 604).
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