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LUTA ANTIMANICOMIAL

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Luta antimanicomial no Brasil
18 de maio dia de luta e é esta data ficou estipulada em 1987 por força de um Encontro dos Trabalhadores de Saúde Mental ocorrido em Bauru. A fonte inspiradora foi o italiano Franco Basaglia nos anos 60, quando idealizou e inseriu a prática da desinstitucionalização psiquiátrica (psiquiatria institucionalizada foi criticada arduamente por diversos autores, como Szasz, Foucault, Pissoti, etc..). O movimento teve por origem a Reforma Sanitária Brasileira (pasmem: foi dela que resultou o SUS). Durante anos de luta por mudanças nas condições de tratamentos dos pacientes com transtorno mental no Brasil - Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), criou-se uma nova política pública de atenção à saúde mental, conhecida como Lei 12016/01 ( Lei Paulo Delgado).
É relevante compreender que a Luta Antimanicomial é fruto de enfrentamentos e percalços há mais de quatro séculos, em que se marginaliza o sujeito com transtorno mental, taxando-lhe o estigma da loucura e os remetendo à internação. A realidade brasileira apresenta um frágil histórico no trato da doença mental, sendo que o primeiro hospício surgiu no Rio de Janeiro, em 1841, tendo por essência o ideal separatista de Esquirol, em que o interno tinha que ser apartado da sociedade e da família.
O Brasil, no começo do século XX, ainda não tinha políticas públicas de tratamento. Apenas, em 1930, que se criou o Serviço Nacional de Doentes Mentais, cuja tarefa era de fiscalização dos serviços existentes e articulação de novos; todavia no plano da concretude, não se realizou nada de significativo.
Frisa-se que, até 1950, o tratamento despendido as pessoas com transtorno mental eram banhos quentes e frios, cadeira giratória, eletrochoque e a medicação, sendo que esta se iniciou na década de sessenta e, na atualidade, é utilizada em larga escala. Na atualidade o descaso com os ambientes hospitalares é notório, cabendo aos profissionais da saúde o trabalho hercúleo de lidar com um sistema da internação involuntária, cujo reflexo da luta pelo fim dos manicômios demonstra um déficit estrutural no acolhimento e no atendimento dos pacientes.
Com o intuito de acabar com os manicômios, o projeto de reforma psiquiátrica no Brasil visava substituir, aos poucos, o tratamento dado até então por serviços comunitários. O paciente seria encorajado a um exercício maior de cidadania, fortalecendo seus vínculos familiares e sociais, e nunca sendo isolado destes. A partir da reforma, o Estado não poderia construir e nem mesmo contratar serviços de hospitais psiquiátricos. Em substituição às internações, os pacientes teriam acesso a atendimentos psicológicos, atividades alternativas de lazer, e tratamentos menos invasivos do que aqueles que eram dados. A família, aqui, teria papel fundamental na recuperação do paciente, sendo a principal responsável por ele.
O Movimento de Luta Antimanicomial consistiu em um diálogo de conscientização com as instituições legais e com os cidadãos ao elaborar o discurso de que os portadores de transtornos mentais não representam ameaça ou risco ao círculo social. Ao contrário, este seria um grande componente para sua recuperação. Por outro lado, seria necessária uma reeducação no modo de compreender os transtornos mentais, não como um estigma, mas um modo alternativo de ver e estar no mundo. O respeito e a conscientização seriam armas necessárias para reformular o modo como os pacientes eram tratados até aquele momento, dentro e fora de instituições responsáveis pelo tratamento.
É importante ressaltar que a reforma psiquiátrica teve início nos anos 80 e ainda hoje não foi completada. A luta pela reforma e a garantia de que a nova legislação seja aplicada, ainda é uma questão a ser discutida e constantemente relembrada, uma vez que ainda existem muitos hospitais psiquiátricos no Brasil, acumulando relatos de abusos, e inúmeros casos de mortes por negligência.  Entre os anos de 2006 e 2009 foram notificadas 233 mortes em lugares como esse apenas em Sorocaba (SP). 102 delas ocorreram no Hospital Vera Cruz, cujo fechamento está previsto para o fim de 2016.
REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL E OS CENTROS DE AÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS):
Na década de 90, novas soluções foram aplicadas para a saúde mental. Aos poucos, o Ministério da Saúde substituiu o tratamento em hospitais por atendimentos comunitários.
Através das Leis Federais 8.080/1990 e 8.142/90, foi instituída a rede de atenção à saúde mental, junto com a criação do SUS (Sistema Único de Saúde). As leis atribuíram ao Estado a responsabilidade de promover um tratamento em comunidade, possibilitando a livre circulação dos pacientes e não mais a internação e o isolamento, contando com os serviços de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT); os Centros de Convivência e Cultura, as Unidade de Acolhimento (UAs), e os leitos de atenção integral (em Hospitais Gerais, nos CAPS III).
Os CAPS, que foram criados em 1992, são serviços públicos oferecidos em unidades regionais, que oferecem tratamentos intensivos, semi-intensivos e não intensivos. No tratamento intensivo, são oferecidos atendimentos diários com objetivo de reinserir o paciente na sociedade. Havendo necessidade de internação, é o próprio CAPS que encaminha o paciente para leitos de saúde mental em hospitais que oferecem internação de curto prazo. Esses serviços de internação fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que têm como função substituir a internação em asilos, priorizando um tratamento que visa à autonomia do paciente e o respeito à cidadania.
Fruto do movimento pelo fim das internações compulsórias, o CAPS tem como ferramentas o atendimento individualizado, com rodas de conversa, oficinas artísticas e o tratamento terapêutico individual e em grupo. Busca-se oferecer um tratamento ambulatorial mais humanizado, no lugar de hospitais psiquiátricos e longas internações.
LEI PAULO DELGADO (10.216/2001):
A Lei Paulo Delgado faz parte da Reforma iniciada na década de 70. Ela foi promulgada apenas em 2001, com o intuito de garantir os direitos de pacientes portadores de transtornos mentais a receberem atendimentos menos invasivos e priorizando o tratamento através da reinserção na família, no trabalho e na comunidade. Os pacientes passam a ter direito a informações a respeito de sua condição e sobre os tratamentos possíveis, além de estar protegidos contra qualquer abuso e exploração.
A lei também impede que sejam feitas internações compulsórias, ou seja, feitas sem o consentimento do paciente ou de terceiros (familiares e responsáveis). Estas devem feitas apenas após laudo médico, em casos de extrema urgência, quando o paciente é tido como uma ameaça para si e para terceiros. Nesses casos, o médico é obrigado a notificar o Ministério Público sobre a internação e depois sobre a alta do paciente.
A reforma psiquiátrica tem como objetivo dar voz ao paciente no que concerne aos seus interesses e o tratamento que pode ser mais adequado para ele. Todo diagnóstico e terapia devem depender de seu consentimento ou de sua família. O paciente deixaria então de ser um objeto, para se tornar protagonista da busca pelo seu próprio bem estar. No entanto, ainda existem em torno de 160 hospitais psiquiátricos no Brasil, com mais de 20.000 leitos. E não há previsão para serem fechados.
Dentre as diferentes práticas e mecanismos de exclusão e controle que vêm operando e se sofisticando em nossas sociedades, sobressai-se, em seus múltiplos aspectos, a realidade do “louco e da loucura”. Transformada, pelos saberes médicos, em doença, alienação, desajuste, irracionalidade e perversão, a loucura carrega um conjunto de práticas, concepções e saberes que, ancorados em uma moralidade ditada pelos bons costumes, pela ordem e pelo trabalho produtivo, faz desligar, de forma explicitamente violenta, os diferentes laços de construção e pertencimento humanos. Legitimado pelo saber, esse desligamento opera através de um discurso que “subtrai a totalidade subjetivae histórico-social a uma leitura classificatória do limite dado pelo saber médico [...] uma leitura produtora da redução, exclusão e morte social”.
O manicômio é a tradução mais completa dessa exclusão, controle e violência. Seus muros escondem a violência (física e simbólica) através de uma roupagem protetora que desculpabiliza a sociedade e descontextualiza os processos sóciohistóricos da produção e reprodução da loucura. A ruptura com o modelo manicomial significa, para o movimento, muito mais do que o fim do hospital psiquiátrico, pois toma como ponto de partida, de acordo com Abou-Yd & Silva, a crítica profunda aos olhares e concepções acerca deste fenômeno. Significa a “contraposição à negatividade patológica construída na observação favorecida pela segregação e articuladora de noções e conceitos como a incapacidade, a periculosidade, a invalidez e a inimputabilidade”. “Significa ainda mirar a cidade como o lugar da inserção”; a possibilidade de ocupação, produção e compartilhamento do território a partir de uma cidadania ativa e efetiva.
Seguindo concepção de Foucault, militantes do movimento, a exemplo de Paulo Amarante, utilizam os termos loucos e loucura numa perspectiva mais ampla e geral: “Talvez sem definição precisa, mas que se opõe à doença mental, conceito construído pela psiquiatria que reduz a complexidade daquela concepção mais geral, inespecífica, inexplicável em sua totalidade, que é a de loucura, e que a reduz a apenas um distúrbio biológico ou psicossocial (ou ambos). Então loucura se refere a esta experiência humana de estar no mundo de uma forma diversa daquela que o homem, ideológica e idealisticamente, considera como normal. E louco é o sujeito destas vivências (“erlebenis”) e destas experiências”. (Depoimento pessoal. Paulo Amarante, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ)
O objetivo deste evento nessa semana é o incentivo ao diálogo sobre a questão da saúde mental, na perspectiva da Luta Antimanicomial à luz da proposta da humanização do tratamento evocada na Lei Paulo Delgado, mais popularmente conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira. A Reforma Psiquiátrica ressalta a importância do papel da família nas intervenções terapêuticas e na remodelação do sistema, pugnando pela extinção dos manicômios, de modo a oportunizar um tratamento distante dos ranços da reclusão. Na busca de desconstruir estigmas e labutar conjuntamente pelo fim da violência institucionalizada nos manicômios em defesa de um tratamento digno e respeitoso a pessoa com transtorno mental.
Gleidson Alves Barros

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