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Marcelo Torres Tese Corrigida (1)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ 
NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS 
DOUTORADO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO 
ÚMIDO 
 
 
 
MARCELO FERREIRA TORRES 
 
 
 
A PESCA ORNAMENTAL NA BACIA DO RIO GUAMÁ: 
sustentabilidade e perspectivas ao manejo 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belém 
2007 
 
 
 
 
MARCELO FERREIRA TORRES 
 
 
 
A PESCA ORNAMENTAL NA BACIA DO RIO GUAMÁ: 
sustentabilidade e perspectivas ao manejo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belém 
2007 
Tese apresentada ao Núcleo de Altos 
Estudos Amazônicos – NAEA, como 
requisito do Curso de Doutorado em 
Desenvolvimento Sustentável do Trópico 
Úmido-PDTU para a obtenção do grau de 
doutor em Ciências Sócio-Ambientais pela 
Universidade Federal do Pará – UFPA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Biblioteca do NAEA 
__________________________________________________________________ 
 
Torres, Marcelo Ferreira 
 A Pesca Ornamental na Bacia do Rio Guamá: sustentabilidade e 
perspectivas ao manejo / Marcelo Ferreira Torres; orientador David Gibbs 
McGrath. – 2007. 
 287 f.; 29 cm 
 Inclui bibliografias 
 
 Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos Estudos 
Amazônicos, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do 
Trópico Úmido. Belém, 2007. 
 
1. Pesca – Pará. 2. Pesca – Legislação - Pará. 3. Pesca – Aspectos econômicos – 
Pará. 4. Política pesqueira – Pará. 5. Desenvolvimento sustentável – Pará. 6. 
Pesca artesanal. I. McGrath, David Gibbs, orientador. II.Título. 
 
 CDD 21 ed. 639.2098115 
 
Marcelo Ferreira Torres 
 
 
A PESCA ORNAMENTAL NA BACIA DO RIO GUAMÁ: 
sustentabilidade e perspectivas ao manejo 
 
 
 
 
 
Aprovado em 31 / 10 / 2007 . 
 
Banca Examinadora: 
________________________________ 
Prof. Dr. David Gibbs McGrath 
Orientador 
________________________________ 
Prof. Dr. Juarez Pezzuti 
Examinador Interno 
________________________________ 
Profa. Dra Oriana Trindade Almeida 
Examinadora Interna 
________________________________ 
Profa. Dra Flávia Lucena Frédou 
Examinadora Externa 
________________________________ 
Prof. Dra Victoria Judith Isaac 
Examinadora Externa 
Conceito: _______________________ 
Tese apresentada ao Núcleo de Altos 
Estudos Amazônicos – NAEA, como 
requisito do Curso de Doutorado em 
Desenvolvimento Sustentável do Trópico 
Úmido-PDTU para a obtenção do grau de 
doutor em Ciências Sócio-Ambientais pela 
Universidade Federal do Pará – UFPA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à minha mãe, 
D. Amélia, e à minha esposa, Ellen, que me 
apoiaram desde o início e souberam ser 
pacientes. 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, pela sua magnificência como o Criador da vida, que me possibilitou existir, 
perscrutar e admirar a natureza em toda sua perfeição. 
Ao meu orientador Prof. David McGrath, pela amizade e orientação na realização desta 
tese, e pelas valiosas contribuições ao meu conhecimento durante suas aulas no curso de 
doutorado e animados bate-papos no seu escritório. 
À minha co-orientadora e amiga Dra. Flávia Frédou, e também ao seu esposo Dr. Thierry 
Frédou, que muito ajudaram no desenvolvimento de meu trabalho, sempre dispostos em 
contribuir, e sempre afetuosos em nosso dia-a-dia de trabalho no curso de Oceanografia da 
UFPA. Obrigado pela confiança creditada a mim. 
Ao amigo e mestre pescador Orlandino Jorge dos Santos, que com todo o conhecimento 
empírico de uma vida inteira dedicada à pesca, fez-me perceber que o saber acadêmico 
deve muito aos saberes tradicionais. Agradeço ainda pelo mesmo não medir esforços 
durante a realização dos trabalhos de campo, sempre ajudando e participando ativamente de 
todo o trabalho. 
Ao NAEA, que me deu a possibilidade de realizar este doutoramento, e ao “staff” de 
professores e técnicos, que também contribuíram com meu crescimento durante minha 
permanência nesta casa. 
À CAPES, que financiou a bolsa de estudos ao longo do curso. 
À SECTAM, que possibilitou o financiamento do trabalho de campo através do Fundo 
Estadual de Ciência e Tecnologia – FUNTEC (Edital 01/2003 - Processo no 307.290). 
Aos mestres queridos: Ronaldo Borges Barthem, Victoria Judith Isaac, David Gibbs 
McGrath e recentemente à Flávia Lucena Frédou, que ao longo de anos muito contribuíram 
e ainda contribuem para o meu aperfeiçoamento acadêmico e profissional. 
Aos colegas de doutoramento, que possibilitaram agradáveis momentos de discussão 
durante as aulas do curso e nas nossas reuniões informais, sempre muito divertidas. 
Aos colegas do Laboratório DIMAR/CG/UFPA, especialmente à Andréa Pontes Viana, que 
foram sempre amáveis e prestativos, durante os trabalhos de campo e durante a rotina de 
trabalho. 
Aos meus alunos (“desorientandos”) que participaram dos trabalhos de campo e 
enfrentaram comigo as difíceis horas de trabalho, pela companhia e colaboração. 
Aos colegas da Escola Agrotécnica Federal de Castanhal-PA, em especial à Andréa Maria 
Mello Costa Lima (Chefe da Coordenação Geral de Ensino - CGE) e ao Prof. Dr. Cícero 
Paulo Ferreira (Diretor do Departamento de Desenvolvimento Educacional – DDE), pelo 
apoio em importantes momentos necessários à finalização da redação deste trabalho. 
À toda a equipe de profissionais da Biblioteca do NAEA, pela paciente revisão do texto e 
contribuições à formatação final, em especial à Rosângela Caldas Mourão. 
 
A todos que contribuíram direta ou indiretamente na realização deste empreendimento, 
meus sinceros agradecimentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Feliz aquele que transfere o que sabe e que 
aprende o que ensina. 
Cora Coralina 
 
RESUMO 
No presente trabalho fez-se uma análise da pesca ornamental na bacia do rio Guamá, em 
seu trecho médio, em uma área localizada no município de Ourém, nos limites deste e 
Capitão Poço, à jusante, e São Miguel do Guamá, à montante. A análise concentrou-se 
sobre as zonas ripárias, onde se assenta uma vegetação de mata ciliar que se apresenta 
abundante em algumas partes, enquanto noutras ela praticamente inexiste. A região como 
um todo se encontra sob forte impacto antrópico, causado principalmente por atividades de 
agricultura e pecuária extensiva, além da exploração de jazidas de seixo. A atividade 
pesqueira se resume praticamente à pesca de subsistência, sendo que há algumas poucas 
famílias que também se dedicam alternativamente à pesca ornamental. Considerando-se 
este cenário, procurou-se avaliar a influência que os impactos antrópicos causados pela 
pesca ornamental e pela modificação da paisagem trouxeram às comunidades ícticas e, em 
especial, aos peixes ornamentais. Constatou-se que as áreas com maior cobertura vegetal, 
menor presença de atividades humanas e de pesca apresentaram diferenças estatisticamente 
significativas entre os indicadores ecológicos que descrevem as comunidades ícticas, tais 
como riqueza e diversidade, além de apresentar um índice extremamente alto de espécies 
endêmicas, quando comparadas àquelas áreas com impactos mais severos. A 
descaracterização das áreas marginais, com uma perda de 47% da cobertura vegetal nas 
zonas ripárias nos últimos 19 anos pode ter influenciado a redução do número de espécies 
em até 37% nas áreas mais impactadas. A atividade de pesca ornamental foi caracterizada 
como tendo um pico de atividade nos meses de estiagem, sendo realizadaalternativamente 
como fonte de subsistência por poucas dezenas de pessoas, que a praticam de forma 
extrativista e concentram seu esforço sobre apenas algumas poucas espécies de valor 
comercial. Dentre estas, observou-se que em número de indivíduos a captura está 97% 
representada por Otocinclus sp. e por Corydoras julii, enquanto em relação à renda bruta há 
um domínio dos acaris (Loricariidae), que correspondem a 56% da receita total. A pesca 
ornamental praticada nestes moldes em Ourém e Capitão Poço demonstrou pouco impacto 
às comunidades ícticas, concluindo-se que o principal fator responsável pela perda de 
biodiversidade foi a remoção da mata ciliar às margens do rio. 
 
Palavras-chave: Pesca ornamental. Rio Guamá. Conservação de recursos pesqueiros 
ornamentais. 
 
ABSTRACT 
 
This study presents an analysis of ornamental fisheries in Guamá Basin, in its middle 
course, which one is in the northeast Micro region of Para state, placed between Capitão 
Poço and São Miguel do Guamá. In the present study a relative diagnosis to the change in 
the vegetal covering of the region-target became, evidencing an advance in the 
deforestation of the ciliar bush throughout the edges of the Guamá River. There are strong 
evidences of anthropogenic disturbs may cause a significant depreciation from its 
ichthyologic biodiversity due to reduction of the ciliar bush of basic importance for the 
maintenance of such communities. In the period from 1986 until 2005 the ciliar bush area 
presented a reduction of 47%, whereas the deforested area presented a rise of 36,5%. In the 
Guamá basin, the uses of the land for agriculture, cattle, lumber extraction and mining they 
had been stretch intensified in the last few decades, generating impacts of high magnitude 
for ichthyofauna, having the deforestation caused about 37% losses of fish species. The 
ornamental fishery is practiced by families of fishermen who dedicates just a time for this 
and still owns extractives characters. The summer concentrates the most of fishery activity, 
but it is insignificant and it has no evidence of overexploitation from stock fish. The most 
important species are Otocinclus sp. and Corydoras julii, which ones corresponding 97% of 
total caught. Loricariid catfishes are the most important and contribute with 56% of total 
income. To the level of ictiofauna, in particular, of the commercialized species as 
ornamental fish, we conclude that ornamental fishery is not dangerous to the local species; 
the impacts also have been perceived more severely in the areas with less ciliar bush, high 
level of human activities and fisheries too. Some ecological parameters such as richness 
and diversity were significantly different, keeping high values only in the best areas 
characterized for a ciliar bush having great conditions. 
 
Key Words: Ornamental fishery. Guamá River. Ornamental resources management and 
conservation. 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
Esquema 1 - Atores socioeconômicos na cadeia produtiva da pesca ornamental 
no Guamá. 
 
66
Esquema 2 – Cadeia de custódia e diferença de custos associados ao cardinal 
tetra capturado em Barcelos-AM, exportado e vendido em Boston (USA). 
 
66
Esquema 3 - Dinâmica de interação entre as variáveis ecológicas e 
socioeconômicas que regem o sistema pesca ornamental. 
 
234
Mapa 1 - Localização da área de estudo em destaque azul no mapa. 26
Mapa 2 - Bacias hidrográficas dos principais afluentes do rio Guamá. 28
Mapa 3 - Áreas de produção pesqueira ornamental na bacia do rio Guamá e 
tributários. 
 
54
Mapa 4 - Principais itens comercializados oriundos do rio Guamá, considerando-
se as áreas de produção no sentido de jusante à montante. 
 
65
Mapa 5 - Imagem orbital da bacia do rio Guamá com destaque para a área de 
cobertura das imagens utilizadas no presente trabalho. 
113
Mapa 6 - Mapa temático do uso e cobertura do solo para o ano de 1986. 115
Mapa 7 - Mapa temático do uso e cobertura do solo para o ano de 2005. 116
Mapa 8 - Localização das unidades amostrais ao longo da área de estudo. 150
Quadro 1 - Impactos aos recursos hídricos observados em quatro localidades em 
Ourém. 
123
Quadro 2 - Métodos de pesca empregados e respectivas utilizações 148
Quadro 3 - Caracterização e classificação das unidades amostrais em relação às 
mudanças na cobertura dos solos e atividades antrópicas impactantes. 
 
149
Quadro 4 - Relação das unidades amostrais 151
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
Gráfico 1 - Evolução das exportações brasileiras em comparação ao comércio 
mundial de peixes para fins ornamentais. 
 
40
Gráfico 2 - Demonstrativo das exportações brasileiras em relação aos cinco 
maiores produtores/exportadores mundiais de peixes para fins ornamentais. 
 
41
Gráfico 3 - Tempo em horas diárias gasto na atividade pesqueira por pessoa. 61
Gráfico 4 - Distribuição da produção da pesca ornamental em 2006. 62
Gráfico 5 - Participação relativa das espécies ornamentais para a composição das 
receitas brutas com a pesca ornamental em 2006. 
 
64
Gráfico 6 - Variação sazonal dos fatores abióticos condutividade, pH, potencial 
redox, oxigênio dissolvido e temperatura da água do rio Guamá. 
 
167
Gráfico 7 - Variação dos fatores abióticos do rio Guamá, em relação aos 
ecossistemas explorados. 
169
Gráfico 8 - Representatividade das famílias de peixes em número de espécies. 172
Gráfico 9 - Distribuição por unidades amostrais das médias, variâncias e desvios 
da média da abundância relativa (CPUE) por artes de pesca. 
 
173
Gráfico 10 - Distribuição bimensal das médias, variâncias e desvios da média da 
abundância relativa (CPUE), de acordo com a arte de pesca empregada. 
 
174
Gráfico 11 - Distribuição das médias, variâncias e desvios da média da 
abundância relativa, em relação aos impactos à cobertura do solo. 
 
175
Gráfico 12 - Distribuição das médias, variâncias e desvios da média da 
abundância relativa (CPUE), em relação à intensidade pesqueira. 
 
176
Gráfico 13 - Distribuição por unidades amostrais das médias, variâncias e 
desvios da média da riqueza observada (S) por artes de pesca. 
 
178
Gráfico 14 - Distribuição bimensal das médias, variâncias e desvios da média da 
riqueza observada (S), de acordo com a arte de pesca empregada. 
 
179
Gráfico 15 - Distribuição das médias, variâncias e desvios da média da riqueza 
(S), em relação aos níveis de impactos pela alteração na cobertura do solo. 
 
180
Gráfico 16 - Distribuição das médias, variâncias e desvios da média da 
abundância, em relação à intensidade pesqueira nas áreas consideradas. 
 
181
 
Gráfico 17 - Riqueza de espécies observada (S) e estimada pelo índice de 
Margalef (d) em relação aos períodos em meses. 
 
182
Gráfico 18 - Riqueza de espécies observada e estimada pelo índice de Margalef 
em relação às unidades amostrais. 
 
183
Gráfico 19 - Riqueza de espécies estimada pelo método de Rarefração em 
relação aos impactos oriundos da mudança na cobertura dos solos. 
 
184
Gráfico 20 - Número de espécies exclusivas em relação às áreas quanto aos 
impactos relativos às alterações da cobertura do solo. 
 
185
Gráfico 21 - Distribuição por unidades amostrais das médias, variâncias e 
desvios da média da diversidade (H’) por artes de pesca. 
 
190
Gráfico 22 - Distribuição bimensal das médias, variâncias e desvios da média da 
diversidade (H’), de acordo com a arte de pesca empregada. 
 
191
Gráfico 23 - Distribuição das médias, variâncias e desvios da média da 
diversidade (H’) de acordo com os impactos pela alteração na paisagem. 
 
192
Gráfico 24- Distribuição das médias, variâncias e desvios da média da 
diversidade (H’), de acordo com a intensidade pesqueira. 
 
193
Gráfico 25 - Agrupamentos resultantes da análise de cluster sobre as 
abundâncias de espécies por unidades amostrais. 
 
194
Gráfico 26 - Análise MDS com utilização do fator impactos pela alteração na 
cobertura do solo para as 21 áreas amostradas. 
 
195
Gráfico 27 - Análise de cluster sobre as abundâncias de espécies por unidades 
amostrais, usando como fator os meses. 
 
200
Gráfico 28 - Análise de agrupamento e ordenação para os dados de riqueza 
obtidos no período seco (setembro-novembro). 
 
201
Gráfico 29 - Análise de agrupamento e ordenação para os dados de diversidade 
obtidos no período seco (setembro-novembro). 
 
202
Gráfico 30 - Análise de agrupamento e ordenação para os dados de riqueza 
obtidos no período de transição (janeiro-março). 
 
204
Gráfico 31 - Análise de agrupamento e ordenação para os dados de diversidade 
obtidos no período de transição (janeiro-março). 
 
205
Gráfico 32 - Análise de agrupamento e ordenação para os dados de riqueza 
 
obtidos no período de chuvas (maio). 207
Gráfico 33 - Análise de agrupamento e ordenação para os dados de diversidade 
obtidos no período de transição (janeiro-março). 
 
208
 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1 - Valor médio das exportações de peixes ornamentais por continentes, 
no período de 1985 – 2005. 
 
42
Tabela 2 - Valor médio das exportações de peixes ornamentais pelos países sul-
americanos, no período de 1985 – 2005. 
 
43
Tabela 3 - Número de indivíduos e freqüência relativa das principais espécies 
capturadas, considerando-se a sazonalidade das chuvas no ano de 2006. 
 
63
Tabela 4 - Categorização das áreas marginais do rio quanto à área de cobertura 
vegetal ciliar remanescente nas zonas ripárias do rio Guamá e afluentes. 
 
119
Tabela 5 - Áreas correspondentes às classes de vegetação. 120
Tabela 6 - Atividades responsáveis pela degradação ambiental na região. 121
Tabela 7 - Situação dos ambientes de pesca em relação aos impactos percebidos. 124
Tabela 8 - Modificações em termos da abundância e composição das espécies 
ícticas da bacia do rio Guamá. 
 
125
Tabela 9 - Relação das espécies que se tornaram raras. 125
Tabela 10 - Impactos no meio aquático de rios e igarapés em Ourém. 126
Tabela 11 - Estatus da atividade reprodutiva de peixes nas áreas de pesca 
impactadas. 
 
126
Tabela 12 - Análise de variância das médias amostrais das variáveis abióticas, 
considerando o fator tempo. 
 
165
Tabela 13 - Análise BIO-ENV das variáveis abióticas, utilizando a correlação 
não-paramétrica de Spearman (ρ). 
 
166
Tabela 14 - Análise de variância das médias amostrais das variáveis abióticas, 
considerando os igarapés, lagos e canal principal. 
 
168
Tabela 15 - Análise de variância das médias amostrais das variáveis abióticas 
considerando os impactos causados pelas mudanças na cobertura do solo. 
 
170
Tabela 16 - Análise de variância das abundâncias relativas por artes de pesca, 
considerando os meses, unidades amostrais e impactos. 
 
177
Tabela 17 - Análise de variância da riqueza por artes de pesca, considerando os 
meses, unidades amostrais e impactos. 
 
182
 
Tabela 18 - Ranking das espécies de maior freqüência de ocorrência entre as 
estações e ao longo do ano, e das espécies de maior abundância numérica. 
 
185
Tabela 19 - Dominância de espécies por unidades amostrais e por categorias 
referentes aos impactos. 
 
186
Tabela 20 - Dominância de espécies pelos meses do ano 187
Tabela 21 - Análise de variância da diversidade por artes de pesca, considerando 
os meses, unidades amostrais e impactos. 
 
187
Tabela 22 - Índices ecológicos de abundância, riqueza, eqüitabilidade e 
diversidade calculados por cruzeiros. 
 
188
Tabela 23 - Índices ecológicos de abundância, riqueza, eqüitabilidade e 
diversidade calculados por estações de coleta. 
 
189
Tabela 24 - Dissimilaridade média entre grupos de amostras (DISS/SD) e 
porcentagem de contribuição das principais espécies nos clusters formados. 
 
198
Tabela 25 - Análise de variância das médias amostrais da abundância relativa 
(CPUE), riqueza (S) e diversidade (H’) considerando os clusters. 
 
199
Tabela 26 - Análise de variância das médias amostrais da abundância relativa 
(CPUE), riqueza (S) e diversidade (H’) no período seco (set.-nov.). 
 
203
Tabela 27 - Análise de variância das médias amostrais da abundância relativa 
(CPUE), riqueza (S) e diversidade (H’) no período de transição (jan.-mar.). 
 
206
Tabela 28 - Análise de variância das médias amostrais da abundância relativa 
(CPUE), riqueza (S) e diversidade (H’) no período chuvoso (maio). 
208
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ACEPOPA Associação dos Criadores e Exportadores de Peixes Ornamentais do 
Estado do Pará 
ADEPARA Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará 
BACEN Banco Central do Brasil 
CODEAMA Centro de Desenvolvimento, Pesquisa e Tecnologia do Estado do 
Amazonas 
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente 
DIMAR Laboratório de Dinâmica, Avaliação e Manejo de Recursos Pesqueiros 
DOU Diário Oficial da União 
FAO Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação 
IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 
Renováveis 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
ICLARM International Center for Living Aquatic Resources Management 
IDESP Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado do Pará 
INFRAERO Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária 
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais 
LAIT Laboratório de Análise de Imagens do Trópico Úmido 
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 
MMA Ministério do Meio Ambiente 
OFI Ornamental Fish International 
SEAP/PR Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República 
SECTAM Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente 
SEDECT Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia 
SEDESA/MAPA Serviço de Sanidade Agropecuária do Ministério da Agricultura, 
Pecuária e Abastecimento 
SEPAq Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura 
SEPOF Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Finanças 
SUDAM Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia 
SUDEPE Superintendência do Desenvolvimento da Pesca 
 
UFPA Universidade Federal do Pará 
UMIACS University of Maryland Institute for Advanced Computer Studies 
WWF World Wide Fund for Nature 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO GERAL 21
1.1 ANTECEDENTES E PROBLEMATIZAÇÃO 21
1.2 ÁREA DE ESTUDO 25
1.2.1 Características do Meio Físico 26
1.3 DEFINIÇÃO DA ÁREA E HIPÓTESES 33
1.4 OBJETIVOS 35
1.4.1 Objetivo Principal 36
1.4.2 Objetivos Específicos 36
1.5 ESTRUTURA DA TESE 36
2 A PESCA ORNAMENTAL NA BACIA DO RIO GUAMÁ 38
2.1 INTRODUÇÃO 38
2.2 MATERIAIS E MÉTODOS 52
2.2.1 Coleta de Dados e Desenho Amostral 52
2.3 RESULTADOS 55
2.3.1 Caracterização Socioeconômica do Município de Ourém 55
2.3.2 Caracterização Socioeconômica da Pesca Ornamental 59
2.3.3 Produção da Pesca Ornamental 61
2.3.4 A Cadeia de Comercialização da Pesca Ornamental 65
2.3.5 Esforço de Pesca e Consequências aos Estoques 67
2.3.6 Processamento dos Peixes Ornamentais desde a Captura à Exportação 68
2.3.6.1 Processos Iniciais da Pesca Ornamental e Fatores Limitantes 68
2.3.6.2 Processamento Final dos Peixes para Exportação 75
2.3.7 O Gerenciamento e o Ordenamento da Pesca Ornamental 77
2.3.7.1 A Gestão Governamental77
2.3.7.2 A Legislação 79
2.4 DISCUSSÃO 83
2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS RELATIVAS AO 
PRESENTE CAPÍTULO 
103
3 A QUESTÃO AMBIENTAL E IMPLICAÇÕES PARA A PESCA 
ORNAMENTAL 
105
 
3.1 INTRODUÇÃO 105
3.2 MATERIAIS E MÉTODOS 111
3.2.1 Coleta de Dados 111
3.2.2 Análise de Dados 119
3.3 RESULTADOS 120
3.3.1 Impactos Decorrentes das Alterações Ambientais 120
3.4 DISCUSSÃO 127
3.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS RELATIVAS AO 
PRESENTE CAPÍTULO 
137
4 PADRÕES ECOLÓGICOS DA BIODIVERSIDADE ÍCTICA NO RIO 
GUAMÁ 
139
4.1 INTRODUÇÃO 139
4.2 MATERIAIS E MÉTODOS 147
4.2.1 Coleta de Dados 147
4.2.2 Seleção de Variáveis Indicadoras 152
4.2.3 Análise de Dados 154
4.2.3.1 Programas Computacionais 154
4.2.3.2 Análise Descritiva das Amostras 154
4.2.3.3 Análise das Variáveis do Meio Físico 155
4.2.3.4 Análise da Estrutura da Comunidade Íctica 156
4.2.3.4.1 Diversidade 156
4.2.3.4.2 Riqueza 158
4.2.3.4.3 Constância de Ocorrência e Dominância de Espécies 159
4.2.3.5 Análises Multivariadas 159
4.2.3.5.1 Construção da Matriz de Dados 159
4.2.3.5.2 Análise de Agrupamento 160
4.2.3.5.3 Análise de Ordenação 161
4.2.3.5.4 Análise de Similaridade 162
4.2.3.5.5 Relação entre Padrões Ecológicos da Comunidade de Peixes e os Impactos 
relativos à Mudança na Cobertura do Solo e à Pesca 
163
4.3 RESULTADOS 164
 
4.3.1 Variações do Ambiente 164
4.3.2 Padrões de Abundância e Biodiversidade 170
4.3.3 Padrões de Riqueza de Espécies 177
4.3.4 Constância e Dominância de Espécies 184
4.3.5 Padrões de Diversidade Ecológica 187
4.3.6 Padrões de Similaridade entre as Comunidades 193
4.4 DISCUSSÃO 209
4.4.1 Variáveis Abióticas 209
4.4.2 Composição da captura e Biodiversidade 211
4.4.3 Constância e Dominância 213
4.4.4 Padrões de Abundância 217
4.4.5 Padrões de Riqueza 219
4.4.6 Padrões de Diversidade 223
4.4.7 Padrões de Similaridade entre as Comunidades de Peixes 225
4.4.8 Impactos pela Pesca Ornamental 229
5 DISCUSSÃO GERAL 232
5.1 O MANEJO DA PESCA ORNAMENTAL NA AMAZÔNIA 232
5.2 PERSPECTIVAS PARA ESTUDOS FUTUROS 241
5.3 CONCLUSÕES 243
REFERÊNCIAS 245
ANEXOS 267
 
1 INTRODUÇÃO GERAL 
1.1 ANTECEDENTES E PROBLEMATIZAÇÃO 
Historicamente, o extrativismo de peixes ornamentais ou pesca ornamental, como é 
chamada, desenvolveu-se na Amazônia no início do século passado em uma região 
localizada entre a Colômbia, Brasil e Peru (BARTHEM et al., 1995). Surgida inicialmente 
como alternativa econômica às populações ribeirinhas que antes subsistiam apenas do 
extrativismo de produtos silvestres, da caça e também da pesca, a captura de peixes 
ornamentais progrediu a uma atividade de tempo integral e, nas últimas décadas, em 
algumas áreas da região amazônica ela passou a ser a principal fonte de renda e emprego 
para milhares de pessoas, que direta ou indiretamente subsistem da extração dos peixes 
vivos principalmente para venda aos mercados aquariofilistas nacional e internacional 
(PRANG, 2004). 
Até o início da década de 1980, as várias dificuldades representadas pelo acesso às 
áreas de captura, falta de recursos técnicos para a manutenção dos espécimes vivos, 
transporte inadequado, doenças, entre outros aspectos, contribuíam para elevados índices de 
mortalidade e vultosos prejuízos às micro e pequenas empresas que se dedicavam à 
comercialização destes produtos, que eram oriundos apenas do extrativismo (TORRES, 
1994). Na atualidade, entretanto, em muitas regiões tais circunstâncias não mais se 
verificam, pois com o acúmulo de experiências e investimentos do setor produtivo, a 
mortalidade recrudesceu a níveis mínimos, situando-se entre 3 a 15% do total capturado 
dependendo da espécie considerada (TORRES, 2006). Com os recentes avanços 
tecnológicos, a rápida expansão dos mercados via globalização e a melhoria dos sistemas 
de comunicação ao nível global, o comércio de peixes ornamentais cresceu 
 
vertiginosamente, ameaçando a sobrevivência da atividade extrativista e colocando em 
risco de colapso os estoques de algumas espécies-alvo (TORRES, 2006). 
Concomitantemente a estes eventos, a Amazônia tornou-se o palco de várias 
transformações na sua paisagem natural como resultado de processos antrópicos diversos 
que resultaram no desflorestamento de grandes áreas, cujas conseqüências ao nível da 
ictiofauna ainda são desconhecidas e somente há pouco começaram a ser melhor 
compreendidas cientificamente em outras partes do mundo (CROSS; MOSS, 1987; 
BROWN, 2000; STAUFFER et al., 2000; GERHARD et al., 2004; McCLEARY et al., 
2004). Entre os principais efeitos podem-se citar a perda de biodiversidade e as alterações 
nos padrões das comunidades ecológicas, que demonstram modificações nas relações de 
dominância e de abundância entre espécies. 
Torres (2006) afirma que os peixes ornamentais são, em grande parte, bastante 
suscetíveis às ações antrópicas causadoras de impactos aos ecossistemas florestais nas 
zonas ripárias, pois a retirada da vegetação ciliar os predispõem a severas ameaças de 
extinção local, principalmente pela modificação das condições ambientais nos ecótonos 
marginais dos rios e igarapés, às quais os peixes encontram-se adaptados. Segundo o 
mesmo autor, estes peixes são, em sua maioria, espécies de pequeno porte que têm hábitos 
sedentários ou que realizam curtas migrações ao longo dos igarapés, mantendo com as 
matas ciliares uma forte dependência baseada no uso de variadas fontes tróficas 
disponibilizadas ao longo do ano, em sincronia com o ciclo hidrológico, além do uso de 
abrigos para nidificação ou proteção contra predadores, entre outras. 
O desconhecimento acerca dos impactos que a pesca ornamental, bem como as 
mudanças na paisagem e uso do solo nas zonas ripárias causam às comunidades ícticas 
também é alarmante, especialmente no caso das espécies ou famílias com elevado grau de 
 
endemismo, como as dos peixes loricarídeos (acaris), além de dezenas de espécies de 
caracídeos (tetras, pacus, piranhas, etc), ciclídeos (carás) e calictídeos (papa-areias, 
tamoatás e cascudos), que são a base dos itens comercializados para os mercados 
aquariofilistas nacional e internacional (TORRES, 1994). 
O extrativismo de peixes ornamentais além de economicamente importante para a 
subsistência de milhares de pessoas em toda a Amazônia, suprindo um comércio de milhões 
de dólares anualmente, também desponta como uma possível solução a vários problemas 
relacionados à sustentabilidade ambiental e econômica das populações ribeirinhas em 
algumas áreas (WHITTINGTON et al., 2000; NORRIS; CHAO, 2002). Isto porque o 
respeito às próprias características de exploração dos recursos tende a promover uma 
diminuição da pressão sobre a floresta e sobre a fauna silvestre, e também permite o livre 
acesso às populações ribeirinhas sem oportunidade de trabalho (CHAO; PRANG, 1997). 
A pesca ornamental, pela sua fragilidade e importância, necessita urgentemente de 
um plano de manejo adequado às suas características e que contemple não apenas medidas 
de restrição à pesca, mas principalmente a conservação de áreas que garantam a 
sobrevivência dos estoques e a manutenção das funções sistêmicas do ambiente, pois sua 
sustentabilidade depende destas condições (TORRES, 2006). O conceito de 
sustentabilidade significa que um recurso deve ter continuidade no tempo como entidade 
biológica e produtiva e, em se tratando da pesca, que este recurso preste benefícios 
contínuos tanto a nível econômico como social; é, portanto, um processo harmonioso que 
deve integrar o aproveitamento racional dos recursos, o direcionamento dos investimentos, 
a orientação do desenvolvimento tecnológico e as ações institucionais que satisfaçamas 
necessidades e aspirações das comunidades envolvidas na atividade pesqueira 
(HANESSON, 1993; BAYLEY, 1995). 
 
Apesar de que esta possa ser uma atividade promissora, a situação é de alerta, pois 
há estudos que apontam o declínio de alguns estoques dentre as principais espécies 
ornamentais, indicando sinais de sobrepesca. A inexistência de um bom gerenciamento 
destes recursos ao longo de décadas e o aumento da demanda contribuíram para o 
comprometimento de alguns estoques, conforme fora constatado para o cardinal 
(Paracheirodon axelrodi) e o disco (Symphysodon discus) no Estado do Amazonas 
(BAYLEY; PETRERE, 1989; CRAMPTON, 1999). 
Outras espécies ornamentais que também são apontadas como vulneráveis, segundo 
a resolução 054/2007 da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM, 
2006) que homologa a lista de espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção no 
Estado do Pará, são o acari zebra (Hypancistrus zebra) e o pacu capivara (Ossubtus 
xinguense) no sistema Xingu-Iriri. Além destes há o pacu curupeté (Mylesinus 
paucisquamatus, renomeado para Carlana paucisquamatus), um bagre pimelodídeo 
(Aguarunichthys tocantinsensis) e um batracoidídeo (Potamobatrachus trispinosus) 
considerados vulneráveis; e um anostomídeo (Sartor tucuruiense) além de três espécies de 
ciclídeos (Crenicichla cyclostoma, Crenicichla jegui e Teleocichla cinderella) considerados 
criticamente ameaçados, todos da bacia do rio Tocantins (SECTAM, 2006). 
Este quadro é potencialmente perigoso na Amazônia oriental, cuja pesca ornamental 
é desenvolvida desde o estuário e alcança todos os grandes tributários das bacias 
amazônica, do nordeste paraense e do Tocantins-Araguaia (TORRES, 2006). O 
extrativismo responde pela quase totalidade dos espécimes de peixes ornamentais 
exportados do Brasil, representados por espécies de água doce e marinhas capturadas em 
seus habitats naturais (NOTTINGHAM et al., 2005). Dentre estas a maior parte é composta 
por peixes continentais (CHAO; MARCON, 2000; ALBUQUERQUE-FILHO, 2003). 
 
Segundo Torres (2006), no município de Ourém, localizado na mesorrregião do 
Nordeste paraense, as atividades extrativistas ainda são importantes fontes de renda ou de 
suprimentos à alimentação das famílias que vivem em comunidades mais isoladas. Dentre 
aquelas verifica-se a pesca ornamental, que é praticada por um número restrito de pessoas, 
mas que dela subsistem pelo menos por alguns meses do ano, na estação seca. Esta 
atividade, que se iniciou na região no final da década de 1960, significa para os ribeirinhos 
que a praticam uma consistente fonte de renda alternativamente à agricultura familiar. 
O contexto ambiental em que se realiza tal atividade é que desperta maior interesse, 
visto que a região supracitada encontra-se sob fortes pressões de desflorestamento 
(CAPOBIANCO et al., 2001) devidas a atividades diversas, como a pecuária extensiva, 
agricultura, além de atividades mineradoras. Estas têm produzido alterações da paisagem 
nas zonas ripárias do rio Guamá, que podem estar afetando prejudicialmente os 
ecossistemas marginais, com riscos potenciais à biota aquática. 
Considerando tais questões, procuramos avaliar a situação das comunidades ícticas 
frente à pesca e aos impactos causados pelas mudanças na cobertura dos solos nas zonas 
ripárias de uma região da Amazônia Oriental, localizada na porção média do rio Guamá, 
entre os municípios de Ourém e Capitão Poço, Estado do Pará. O propósito é de estabelecer 
um modelo adequado que possa servir como base para uma estratégia de conservação 
destes recursos pesqueiros nesta bacia hidrográfica e que possa ser replicável para outras 
microbacias onde se realiza a pesca ornamental. 
1.2 ÁREA DE ESTUDO 
Para o presente estudo foi escolhida uma área do rio Guamá com aproximadamente 
70 km de extensão, que apresenta junto às áreas ripárias diferentes extratos de vegetação 
 
ciliar, cujas características variam desde áreas completamente desflorestadas até outras com 
relativamente abundante vegetação. Esta área situa-se entre os paralelos de 47º21’W e 
47º02’W, incluindo os pequenos povoamentos ao longo da PA-251 no trecho de São 
Miguel do Guamá a Ourém (Mapa 1). 
MAPA DE LOCALIZAÇÃO
(Área de Estudo )
Localização: 
País: Brasil
Estado: Pará
Sistemas de 
Coordenadas:
Datum SAD 69
CidadesMalha Rodoviária
Legenda: 
UTM UPS
{ Vilarejos
 
Mapa 1 – Localização da área de estudo (em destaque azul no mapa). 
Fonte: Torres (2007) 
1.2.1 Características do Meio Físico 
O conhecimento do meio físico ajuda a compreender como a biota responde às 
pressões adaptativas na própria estruturação das comunidades ícticas. Também são 
importantes porque fatores ambientais tais como clima, topografia e solos podem 
 
determinar as trajetórias de mudanças no uso e cobertura dos solos, e nos processos de 
formação e consolidação de fronteiras agrícolas (McCRACKEN et al., 2002). Por isso as 
mudanças no uso e cobertura do solo que tiveram lugar em todo o nordeste do Estado nas 
últimas décadas constituem um importante fator que pode estar impactando de forma 
significativa as comunidades de peixes em toda a região, com conseqüências indiretas sobre 
a atividade pesqueira. 
a) Hidrografia 
A bacia do rio Guamá tem uma área de drenagem de 87.389,5 km2 que corresponde 
a 7% da área do Estado do Pará, e segue no sentido leste-oeste, servindo de divisor natural 
entre vários municípios. Este rio, que mais se assemelha a um afluente do rio Capim, se 
localiza no setor que define o limite nordeste da Amazônia, na subárea do alto rio 
Capim/região Bragantina do Pará (correspondente à célula espacial 20 na setorização 
proposta por Ab’Saber (1994). Com um curso total de aproximadamente 380 km, nasce nas 
matas dos municípios de Ipixuna e de Nova Esperança do Piriá, acima de Paragominas, 
seguindo por Capitão Poço e Garrafão do Norte, a sudoeste, e finalmente dirigindo-se para 
norte-nordeste até o município de Ourém. Deste ponto em diante o rio flete para oeste, 
divisando São Miguel do Guamá de outros três municípios. Junta-se então ao rio Capim na 
altura da cidade de São Domingos do Capim e, engrossado a partir deste ponto, vem 
desaguar na baía do Guajará, em Belém. Seus afluentes mais importantes pela margem 
esquerda são os rios Capim, Acará e Moju (Mapa 2). 
Os mapas produzidos não ilustram precisamente a origem do rio, formada pela 
anastomose de vários igarapés e riachos temporários. Observa-se tão somente que o rio 
toma forma na parte sul do município de Capitão Poço e, subindo, separa-o de Garrafão do 
 
Norte, cuja divisa se faz através do Igarapé Tauari; depois divide aquele município 
separando-o de Santa Luzia do Pará e, em seguida, de Ourém. Margeia os municípios de 
Irituia, São Domingos do Capim e Bujaru, delimitando-os do município de São Miguel do 
Guamá, à direita; também separa Bujaru dos municípios de Inhangapi e Santa Izabel do 
Pará; e ainda separa Acará dos municípios de Benevides, Ananindeua e Belém. 
 
Mapa 2 – Bacias hidrográficas dos principais afluentes do rio Guamá. 
Fonte: SECTAM (2006). 
A área aqui investigada estendeu-se pelo município de Ourém, desde o limite 
territorial entre este e São Miguel do Guamá, às proximidades do povoado de Urucuriteua 
(47º21’W), até o povoado de Igarapé-Açu, no município de Capitão Poço (47º02’W). Nesta 
porção do sistema hídrico o rio Guamá limita a oeste os municípios de Ourém (na margem 
direita) e Capitão Poço (margem esquerda). O rio Cuxiú, um de seus afluentes, serve de 
limite natural, à noroeste, entre aquele município e o de São Miguel do Guamá. 
 Bacia do Rio Guamá 
 Bacia do Rio Mojú 
 Bacia do Rio Acará 
 Bacia do Rio Capim 
 
O rioGuamá é o de maior importância para o município de Ourém, servindo de 
limite natural entre este e o município de Capitão Poço, em toda sua porção norte e leste. 
Para este rio converge toda a trama de pequenos afluentes que se inserem nos municípios 
da microrregião do Guamá; uns, em direção sul/norte, como os rios Irituia, Pacuí-Miri, 
Pacuí-Claro, Pacuí-Grande e Pacuí-Açu; outros, em direção sudoeste/nordeste, como os 
igarapés Água-Azul, Trapiche, e os rios Arauaí e Jacaiacá; e na direção norte/sul têm-se os 
igarapés Induá e o Capitão Poço, o qual passa pela sede municipal homônima. 
O rio Guamá também possui outros afluentes de grande extensão como o rio Cuxiú, 
que atravessa o município de Garrafão do Norte, além dos igarapés Jipuúba, Tucumã, 
Paixão, Mamorana e Araçarana. O rio Irituia, afluente da margem esquerda do rio Guamá, 
que tem a direção sul-norte, possui como afluentes, pela margem direita, os igarapés 
Borges, Itabocal, Açu-de-Cima, Açu-de-Baixo, Patauateua, Ajará, Puraquequara e 
Peripindeua, que serve de limite entre os municípios de Irituia e Mãe do Rio. Destaca-se 
ainda o rio Caeté, com início na foz do rio Grande, em Ourém. 
b) Climatologia 
O regime climático em toda a região Norte é definido e marcado pela presença e 
deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) que caracteriza os períodos 
chuvosos e menos chuvosos nesta região. Ao nível da Amazônia Oriental, o clima é quente 
úmido, com períodos de estiagem variando de 1 a 2 meses (IBGE, 2006). Por isso as bacias 
hidrográficas do nordeste paraense são bastante influenciadas por este regime 
pluviométrico, com períodos de cheia e seca bem marcados, encontrando-se sob o 
“Domínio Morfoclimático dos Planaltos Amazônicos ou Dissecados, das áreas colinosas e 
planícies revestidas por florestas densas” (IBGE, 2006). Seguindo a classificação de 
 
Köppen-Geiger (apud PEEL et al., 2007) esta região compreende a chamada Zona 
Climática A ou Zona Tropical Chuvosa, que abrange três variedades climáticas: Af (clima 
tropical úmido ou equatorial), Aw (clima subtropical com chuvas de inverno) e Amw 
(clima de monção com chuvas de inverno), dentre os quais o último predomina na área das 
bacias dos rios Capim e Guamá. 
De acordo com as informações disponíveis (SECTAM, 2006) e os dados 
climatológicos apresentados pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia 
(SUDAM, 1984), o clima predominante ao longo da bacia do Guamá é considerado 
mesotérmico e úmido, com temperatura média anual elevada, em torno de 25ºC. O período 
mais quente tem médias mensais em torno de 25,5ºC e as temperaturas mínimas, de 20ºC. 
Seu regime pluviométrico fica, geralmente, entre 2.250 mm/ano e 2.500 mm/ano. As 
chuvas, apesar de regulares, não se distribuem igualmente durante o ano, sendo de janeiro a 
junho sua maior concentração (cerca de 80%), implicando grandes excedentes hídricos e, 
conseqüentemente, grandes escoamentos superficiais e cheias dos rios. Segundo o Instituto 
de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado do Pará (IDESP, 2006) a umidade 
relativa do ar se mantém em torno de 85%. 
c) Pedologia 
Segundo os dados da Secretaria Executiva de Estado de Planejamento e Finanças 
(SEPOF, 2006), na área em questão existe uma predominância de solos com horizontes B 
Latossólicos, caracterizados pelos seguintes tipos: Latossolo Amarelo, textura média e 
textura argilosa; Latossolo Amarelo Cascalhento, textura média; Latossolo Amarelo 
Distrófico, textura média; Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico, textura argilosa e 
textura média. Além destes há ainda solos Podzólicos Vermelho-Amarelo, Concrecionário, 
 
Podzólico Vermelho, textura argilosa; e Podzol Hidromórfico. Também estão presentes 
solos Aluviais e Hidromórficos Indiscriminados, além do Plintossolo e Gley Pouco 
Húmico. Apresenta também solos areno-quartzosos representados pela Areia Quartzosa e 
Concrecionários Lateríticos Distróficos, textura indiscriminada. Nas áreas inundáveis, 
próximas aos rios Guamá e Capim aparecem Gley Pouco Húmico Distrófico, textura 
argilosa; solos Aluviais Eutróficos e Distróficos; e Hidromórficos Indiscriminados. 
d) Geologia 
O rio Guamá tem suas cabeceiras numa extensa e contínua área de platô do 
Terciário (Formação Barreiras), seguindo através de trechos de chapadas formadas por 
rochas do Paleozóico e Cenozóico, até alcançar a planície sedimentar de inundação do 
Quaternário, onde o rio se alarga. Na região que corresponde ao município de Peixe-Boi, 
também localizado no nordeste paraense e banhado por um rio homônimo existe, nas suas 
proximidades, um alto estrutural que se estende entre o rio Capim e seu afluente da margem 
direita, o rio Surubim. Esta área está coberta pela Formação Itapecuru, a qual se mostra 
levemente arqueada e fraturada no sentido NW–NE, o que determina o direcionamento dos 
rios desta região (SECTAM, 2006; SEPOF, 2006). 
De acordo com as fontes acima consultadas, na área estudada a geologia é 
representada basicamente pelas rochas do Pré-Cambriano do Grupo Gurupi, constituído de 
filitos vermelhos, xistos e micaxistos cortados por veios de quartzo, auríferos, e pela 
sedimentação cenozóica representada pelos litotipos que constituem a Formação Barreiras e 
o Quaternário Subatual e Recente. Há a presença de rochas do Complexo Maracaçumé, que 
constituem as pedreiras da região Bragantina; aparecendo, também, nas proximidades da 
sede municipal, denominados como "Arenito Guamá", provavelmente da Era Cenozóica, 
 
do período Cretáceo. A Formação Itapecuru proveniente do Cretáceo aparece em Garrafão 
do Norte. Morfoestruturalmente, a área investigada insere-se no Planalto Rebaixado da 
Amazônia (da zona Bragantina). 
e) Relevo 
O relevo nesta região apresenta-se pouco movimentado, verificando-se a presença 
de colinas baixas dissecadas em áreas do cristalino e de superfícies aplainadas em áreas 
sedimentares, representadas por um relevo tabuliforme, terraços e várzeas. As altitudes 
encontradas entre 20 e 100 metros, mostram, por esse intervalo, que há compartimentos 
topográficos diferenciados. A topografia do município de Ourém é um pouco mais 
expressiva apenas nas áreas cristalinas, onde se apresenta levemente movimentada. 
Entretanto, apresenta altitudes bastante modestas, sendo que, na microrregião do Guamá 
apresenta-se moderadamente plana, com valores mínimos de 10 metros acima do nível do 
mar no município de São Miguel do Guamá e a cota máxima de 141 metros no sul do 
Município de Garrafão do Norte (SECTAM, 2006; SEPOF, 2006). 
f) Fisiografia 
A cobertura vegetal na região dos rios Capim e Guamá foi outrora dominada por 
uma vegetação arbórea com espécies emergentes, constituída principalmente de uma 
formação de floresta densa do tipo Floresta Ombrófila dos Platôs. Esta apresentava uma 
estrutura bastante uniforme, composta de árvores grossas e bem altas, sem palmeiras e com 
raras lianas. Nela não se observava um estrato florístico arbustivo, sendo as plantas de 
pequeno porte aí encontradas, em sua maioria, representadas por árvores jovens em 
crescimento. Atualmente, a vegetação foi bastante afetada em face aos constantes 
desmatamentos, havendo apenas florestas secundárias, com eventuais testemunhos de mata 
 
primária, cujos subtipos originais pertencem à Floresta Densa dos Baixos Platôs e Floresta 
Densa em Relevo Dissecado das áreas metassedimentares. Segundo os dados do Projeto 
RADAM (1974), a floresta ombrófila revestia grande área do Médio Capim e Guamá, 
alcançando cerca de 18.173 Km2, com pequenas manchas de campo, variando suas 
unidades fisionômicas em função de seu posicionamento topográfico. 
Nas áreas aluviais, sob influência do rio Guamá, a vegetação predominante é a 
FlorestaEquatorial Latifoliada, representada pelos subtipos Floresta Densa dos Platôs, 
Floresta Densa dos Terraços Aluviais ou Floresta de Várzea. Nas áreas marginais do rio 
Guamá e seus afluentes, caracterizadas pela influência de inundações, aparece a mata de 
várzea, com suas espécies ombrófilas, dicotiledôneas e palmáceas e as matas de galeria. 
Nas áreas flúvio-litorâneas do município de Ourém houve o domínio do mangue. Essa 
vegetação se assenta sobre solos do tipo Latossolo Amarelo Distrófico de textura argilosa e 
muito argilosa (SECTAM, 2006; SEPOF, 2006). Também se observa a influência de marés 
que promovem a oscilação diária do nível do rio, com ocorrência em locais próximos à sede 
municipal de Ourém. 
1.3 DEFINIÇÃO DA ÁREA E HIPÓTESES 
A definição da área de estudo atendeu a alguns critérios a fim de investigar os níveis 
de impactos pela pesca ornamental e pelo desflorestamento dàs zonas ripárias, e suas 
conseqüências ao nível da biodiversidade íctica. Considerou-se inicialmente que: 
a) A ictiofauna deste sistema fluvial encontra-se pouco investigada cientificamente e, em 
certos trechos, ainda sem qualquer informação; 
 
b) O acesso relativamente fácil à área em questão, que também é quase totalmente 
navegável para pequenas embarcações, possibilita um bom apoio logístico para sua 
prospecção. 
c) A experiência pessoal acumulada após muitos anos de trabalho nesta mesma área. 
Tendo-se em vista as suas características hidrográficas e as atividades em 
desenvolvimento na região, algumas hipóteses foram levantadas acerca das temáticas de 
desmatamento, biodiversidade íctica e pesca ornamental: 
a) A variada fisiografia do rio Guamá em seu curso médio, com trechos de fluxo lento e 
rápido, afloramentos de rochas formando corredeiras esporádicas, substrato arenoso, 
lodoso ou pedregoso, etc, propicia variados nichos que favorecem uma alta 
biodiversidade; 
b) Ao longo de considerável extensão do seu curso médio, este rio e seus tributários são o 
cenário de ação de famílias de ribeirinhos e pescadores que se dedicam à pesca e ao 
extrativismo de peixes ornamentais como fonte de subsistência; 
c) A área em questão, apresentando um índice de pressão antrópica avaliado como alto a 
muito alto, sofre grande degradação ambiental pela perda da cobertura vegetal, 
especialmente nas zonas ripárias, devido ao desenvolvimento desordenado de 
atividades agrícolas, pecuária extensiva e outras, que alcançam as suas margens e 
tributários. 
O rio Guamá também se constitui um laboratório natural para avaliar o impacto 
dessas atividades sobre a biodiversidade íctica desta microbacia, com implicações sobre 
como melhor manejar essas espécies e também acerca de outras importantes questões 
ambientais que contribuem para a discussão sobre o manejo de recursos pesqueiros 
ornamentais na Amazônia, tais como: 
 
a) Quais os impactos às comunidades ícticas produzidos pelas modificações na paisagem, 
especificamente pela degradação das matas ciliares? 
b) Como os diferentes padrões de uso da terra influenciam na modificação da 
biodiversidade íctica local? 
Justificando-se, afinal, o paradigma de promover uma pesca ornamental 
economicamente rentável e ecologicamente sustentável implica um amplo entendimento 
dos ecossistemas naturais e dos sistemas socioculturais envolvidos, através de estudos 
sobre a diversidade de peixes e habitats, além dos processos socioeconômicos pertinentes à 
área. O conhecimento acerca do meio natural, os fenômenos sociais envolvidos e os 
impactos à ictiofauna causados pelas alterações na cobertura vegetal, notadamente pelo 
desflorestamento das zonas ripárias, também permitem melhor avaliar a necessidade de se 
investir na estratégia de preservação de espécies e/ou na conservação de áreas. Vale ainda 
ressaltar que este constitui um estudo pioneiro para a região, que pode subsidiar a 
formulação de políticas mais eficazes para o setor. 
1.4 OBJETIVOS 
Com base nos antecedentes considerados acima, e tendo-se como hipótese geral que 
a diversidade de peixes tem sido influenciada pela perda de cobertura vegetal ripária no 
sistema límnico do rio Guamá em seu curso médio, a presente tese teve por objetivos: 
 
1.4.1 Objetivo Principal 
a) Caracterizar de forma integrada a pesca ornamental realizada na bacia do rio Guamá, 
em seus contextos ecológico e sócio-econômico, frente aos impactos antrópicos através 
das alterações na cobertura florestal ciliar das zonas ripárias e pesca. 
1.4.2 Objetivos Específicos 
a) Estudar os aspectos relativos à dinâmica socioeconômica da pesca ornamental 
realizada na referida área, além dos impactos do extrativismo de peixes ornamentais 
sobre estes recursos pesqueiros; 
b) Avaliar os impactos ecológicos decorrentes do desflorestamento da mata ciliar nas 
zonas ripárias e pesca ornamental, e suas conseqüências ao nível da biodiversidade 
íctica. 
1.5 Estrutura da Tese 
No capítulo 2 apresenta-se o contexto histórico em que a pesca ornamental se 
desenvolveu na Amazônia e uma síntese sobre a realidade socioeconômica desta atividade 
na Pan-Amazônia. Também é apresentada uma análise da cadeia produtiva da pesca 
ornamental e um diagnóstico da produção no médio rio Guamá, analisando-se a 
composição das capturas em relação às áreas e aos meses do ano, além de descrever as 
pescarias, mapeando a atividade e revelando as espécies-alvos e as artes utilizadas 
localmente. Também foram analisados os aspectos pertinentes ao ordenamento da pesca 
 
ornamental, identificando-se os principais óbices que se apresentam ao crescimento desta 
atividade no Estado do Pará. 
O capítulo 3 apresenta um diagnóstico sócio-ambiental da área em questão 
utilizando o processamento de imagens digitais e também prospecções de campo por meio 
de uma pesquisa etnobiológica, avaliando-se como as mudanças na cobertura vegetal ciliar 
ocorridas ao nível das zonas ripárias afetaram a biota e as populações ribeirinhas do entorno 
do rio Guamá. São também discutidas as conseqüências do desflorestamento e os efeitos 
ecológicos sobre a biodiversidade íctica e a pesca ornamental. 
O capítulo 4 tendo como fio condutor a relação entre o extrativismo de peixes 
ornamentais, as atividades sócio-econômicas em desenvolvimento e as mudanças na 
cobertura vegetal ciliar ocorridas nas últimas duas décadas, apresenta um diagnóstico da 
biodiversidade íctica em que são demonstradas as alterações dos padrões ecológicos das 
comunidades de peixes em decorrência destes fenômenos. Nele é apresentada uma 
discussão acerca das questões pertinentes à conservação da biodiversidade íctica em relação 
às alterações da paisagem, com as conseqüências advindas deste evento sobre a atividade 
pesqueira. Em seu bojo as teorias e a análise empírica são reunidas a fim de apresentar uma 
explicação acerca dos processos humanos envolvidos com a mudança da paisagem na 
região de Ourém-PA que têm levado à perda de biodiversidade localmente. 
No capítulo final são sintetizadas as principais conclusões do trabalho, estruturadas 
sob uma base analítica que vislumbra a situação atual da pesca ornamental na região frente 
aos resultados apresentados e ao referencial teórico adotado. Então são revistas as hipóteses 
iniciais e oferecidas as devidas respostas, abrangendo a totalidade do estudo. 
 
2 A PESCA ORNAMENTAL NA BACIA DO RIO GUAMÁ 
2.1 INTRODUÇÃO 
A pesca é uma das mais antigas e tradicionais atividades extrativistas e de 
subsistência da Bacia Amazônica, além de ser uma atividade de fundamental importância 
econômica, social e cultural para a região (SMITH, 1979; FURTADO, 1981; LOUREIRO, 
1985; PETRERE et al., 1992). Barthem et al. (1997) classificaram a atividade pesqueira na 
Amazôniacomo industrial e artesanal, e esta pode ser dividida em comercial ou difusa, 
dependendo de um conjunto de fatores como a dimensão dos barcos, tipos de aparelhos 
usados, tipos de pescadores e estoques explotados. De acordo com a destinação a que se 
presta o pescado, estes autores também tipificaram a pesca em cinco categorias: pesca de 
subsistência, pesca comercial, pesca industrial, pesca esportiva e pesca ornamental. 
A pesca ornamental é, pois, uma modalidade da pesca artesanal orientada para a 
captura de peixes vivos, a maioria destinada ao comércio aquariofilista nacional e 
internacional, além de museus, aquários de exposição pública e colecionadores (TORRES, 
1994; SANTOS, G.; SANTOS, A., 2005). Ela representa apenas um segmento da indústria 
relativa aos peixes ornamentais que, segundo esclarece Prang (2004), representa a 
totalidade de produtores, agentes comerciais, cientistas, editores e entusiastas cujos 
interesses, se econômicos ou estéticos, dependem da manutenção de peixes vivos em 
cativeiro. Outra particularidade sobre a pesca ornamental é que as áreas de produção de 
peixes ornamentais e os aparelhos de pesca empregados são distintos daqueles utilizados 
pela pesca artesanal de consumo, não havendo por isso sobreposição dos esforços de pesca 
e nem das frotas (BARTHEM et al., 1995). Em geral, a pesca ornamental é praticada com o 
uso de canoas pequenas e puçás ou cacuris (SANTOS, G.; SANTOS, A., 2005). 
 
A indústria pet de organismos aquáticos ornamentais que inclui o comércio de 
peixes e outros vertebrados, invertebrados, algas e plantas, assim como a venda de 
equipamentos e acessórios para aquários evoluiu significativamente. Esta indústria como 
um todo movimentara US$ 4,0 bilhões em 1971, e depois alcançou US$ 7,2 bilhões em 
1986 (ANDREWS, 1992). Entre 1985 a 1996 o crescimento ultrapassou 300% ao nível 
global, com pequena redução de 18% entre 1996 e 1999 (PRANG, 2004). Atualmente, de 
acordo com as estatísticas oficiais em todo o mundo o comércio de organismos aquáticos 
ornamentais incluindo, além de produtos especializados, gera receitas de até US$ 15 
bilhões por ano (DAWES, 2001). 
O comércio de peixes ornamentais considerado isoladamente representa uma fração 
menor da indústria como um todo, estimada em menos de 1% do valor total de todas as 
transações com peixes no mundo. Ainda assim, o comércio de peixes para o mercado 
aquariofilista internacional movimenta uma indústria global de aproximadamente US$ 1,0 
bilhão no atacado e US$3,0 bilhões com a venda no varejo (OLIVIER, 2001; FAO, 2005). 
Em termos globais, desde 1976 ao presente momento as exportações de peixes 
ornamentais demonstram um crescimento de 718,8%, com uma receita bruta de US$265 
milhões em 2005 (Gráfico 1). De 1980 até meados da década de 2000 o incremento anual 
desta atividade foi de 14% (LIMA et al., 2000). Apesar disso, enquanto o valor médio das 
exportações de peixes ornamentais em nível mundial situou-se em US$197,4 milhões nos 
últimos dez anos, o Brasil contribuiu em média com irrisórios US$ 3,4 milhões ao ano 
(FAO, 2005). A maior parcela das receitas geradas nacionalmente é composta pela venda 
de peixes continentais (CHAO, 1992; CHAO; MARCON, 2000; ALBUQUERQUE-
FILHO, 2003) embora as espécies marinhas também contribuam significativamente, 
 
considerando-se que o valor unitário dos espécimes comercializados é comparativamente 
maior ao das espécies dulcícolas (BARRETO, 2002). 
0
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0 
TO
TA
L
Brazil
TOTAL 
 
Gráfico 1 - Evolução das exportações brasileiras em comparação ao comércio mundial de peixes 
para fins ornamentais. 
Fonte: FAO (2007). 
 
Quanto ao número de peixes comercializados globalmente, este é bastante 
impreciso, mas estimativas iniciais situavam-no entre 150 milhões a 350 milhões de peixes 
ornamentais (FITZGERALD, 1989; ANDREWS, 1990). No momento considera-se que 
este valor ultrapassa 1 bilhão de exemplares de aproximadamente 4.000 espécies de águas 
continentais e 1.500 marinhas provenientes de mais de 100 países (WOOD, 2001; 
WABNITZ et al., 2003; FAO, 2007). Deste montante 90% são oriundos de águas 
continentais e o restante é marinho (FAO, 2007). O mesmo se verifica em relação ao Brasil 
(NOTTINGHAM et al., 2005). 
Em termos mundiais a pesca ornamental no contexto das receitas geradas ao nível 
global é considerada de pouca importância. A maior parcela dos peixes comercializados é 
de espécies continentais oriundas de cultivos empresariais, alcançando em torno de 90% do 
total (WHITTINGTON et al., 2000; OFI, 2003). Estes organismos são reproduzidos em 
 
pisciculturas em Cingapura, Malásia, Japão, Israel, Tailândia, Hong Kong e Estados 
Unidos. 
Cingapura é o maior exportador de peixes ornamentais reproduzidos em cativeiro 
(FERNANDO; PHANG, 1994), com uma receita média de aproximadamente US$41,867 
milhões no mesmo período, alcançando um considerável crescimento de US$ 54,162 
milhões em 2005 (FAO, 2007). Também a República Tcheca destaca-se com uma receita 
média de US$12,635 milhões (8,23% do total global), seguida pelos Estados Unidos com 
US$ 11,485 milhões (7,48%), China (Hong Kong) com US$ 10,719 milhões (6,98%) e 
Filipinas com US$ 6,993 milhões (4,55%) (Gráfico 2). O Brasil ocupa a 18a colocação no 
ranking global, com uma participação pouco significante, com média de US$ 2,662 milhões 
no período de 1985–2005. Isto representa apenas 1,73% da média mundial. 
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.0
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Cingapura
República Tcheca
Estados Unidos
China
Filipinas
Brasil
 
Gráfico 2 – Demonstrativo das exportações brasileiras em relação aos cinco maiores 
produtores/exportadores mundiais de peixes para fins ornamentais 
Fonte: FAO (2007). 
 
Apesar da sua pouca importância no contexto global da indústria pet de organismos 
aquáticos, a pesca ornamental é muito significativa para a sobrevivência de milhares de 
pessoas ao redor do mundo, especialmente na América do Sul. Embora as receitas sejam 
inferiores às da Ásia, Europa e América do Norte (Tabela 1), ao contrário do que se observa 
nestas outras regiões, os peixes provenientes daquele continente são quase inteiramente 
originários do extrativismo. Trata-se de um mercado bastante diverso em número de 
espécies e, embora não existam dados precisos, centenas delas são exportadas anualmente 
de todas as grandes bacias, principalmente do Amazonas e do Orinoco. 
Tabela 1 - Valor médio das exportações de peixes ornamentais por continentes, no período de 1985 
– 2005. 
Continentes 
Média Anual Total Mundial 
(US$ 1.000) % 
Ásia 96.746 63,0 
Europa 30.480 19,9 
América do Norte 12.637 8,2 
América do Sul 8.743 5,7 
África 2.827 1,8 
Oceania 2.190 1,4 
Média Mundial 153.517 100,0 
 Fonte: FAO (2007). 
Prang (2004) afirma que as principais fontes de peixes ornamentais capturados na 
natureza são: i) América do Sul, que tem a Colômbia como o maior fornecedor para o 
mercado global, seguido pelo Brasil e Peru; ii) África, representada pela Nigéria, Zaire e os 
Grandes Lagos Rift; iii) Ásia, cujos peixes selvagens provêm do Sri Lanka, Malásia, 
Indonésia e Filipinas; e iv) algumas dentre as ilhas do Caribe que também contribuem para 
este mercado.No Brasil a situação é que a pesca ornamental fornece a quase totalidade dos peixes 
vivos comercializados ao exterior, sendo que 99,67% das exportações provêm de peixes 
extraídos de águas interiores, principalmente da Amazônia brasileira. 
Segundo Barthem et al. (1995), na Pan-Amazônia a explotação de peixes 
ornamentais teve início por volta da década de 1950, na região de fronteiras entre Peru, 
Colômbia e Brasil. A atividade logo prosperou e a exportação de peixes ornamentais 
cresceu nas décadas seguintes, gerando receitas superiores a US$ 4 milhões ao ano e 
empregando mais de 20.000 pessoas. Somente estes países comercializam entre 3 e 16 
milhões de peixes ornamentais. Os demais países amazônicos demonstram uma produção 
insignificante (Bolívia e Equador) ou não têm registros de dados estatísticos de 
desembarques (Venezuela). Segundo a FAO (2007) no contexto sul-americano a Colômbia 
representa 40,03% das exportações de peixes ornamentais, seguida pelo Brasil, com 
28,89% das receitas, e Peru, com 26,75% (Tabela 2). 
Tabela 2 - Valor médio das exportações de peixes ornamentais pelos países sul-americanos, no 
período de 1985 – 2005. 
Países 
Média Anual Total Mundial América do Sul 
US$ 1.000 % % 
Colômbia 3.688 2,40 40,03 
Brasil 2.662 1,73 28,89 
Peru 2.465 1,61 26,75 
Guiana 196 0,13 2,13 
Venezuela 65 0,04 0,71 
Bolívia 45 0,03 0,49 
Equador 33 0,02 0,36 
Paraguai 23 0,01 0,25 
Argentina 18 0,01 0,20 
Chile 7 0,00 0,08 
Guiana Francesa 6 0,00 0,07 
Uruguai 6 0,00 0,07 
Média Anual Mundial 153.517 100,00 100,00 
Fonte: FAO (2007). 
 
De acordo com relatório recente da Worldwide Fund for Nature (WWF, 2006) na 
Amazônia peruana 80% dentre as 776 espécies de peixes exportados provêm das bacias 
Ucaialy, Nanay e Tapiche e são coletados no verão. Existem 123 zonas de pesca em 13 
rios, e as espécies mais capturadas em 2003 foram otocinclos - Otocinclus affinis (2,4 
milhões de unidades com rendimentos de US$32.500), aruanã - Osteoglossum bicirrhosum 
(1,26 milhões de unidades e rendimentos de US$852.000) e corredora juli - Corydoras julii 
(649 mil unidades e US$20.900). Os principais mercados são a América do Norte (Miami e 
Los Angeles), Ásia (Tóquio e Hong Kong) e Europa (Frankfurt). Foram reportadas 35 
empresas em Iquitos, as quais exportaram do país de 8 a 11 milhões de unidades entre 1999 
e 2003. Quase toda a produção do país sai a partir de Iquitos. 
Hanek (1982) agrupou as espécies ornamentais capturadas na Amazônia peruana em 
quatro grupos: o primeiro é representado pelo neon tetra (Paracheirodon innesi), que no 
início da década de 1980 ocupava o primeiro lugar das exportações; o segundo, 
representado pelos bagres ou “catfishes”, com várias famílias como Callichthyidae, 
Loricariidae, Doradidae, Bunocephalidae e Pimelodidae; o terceiro, representado por várias 
espécies de peixes dotados de escamas e pertencentes às famílias Characidae, Anostomidae, 
Chilodontidae, Gasteropelecidae, Hemiodontidae e Cichlidae; e, finalmente, o grupo dos 
peixes de alta cotação, representado pelo acará disco (Symphysodon discus), acará bandeira 
(Pterophyllum scalare), pacus (Metynnis sp. e Myloplus sp.), aruanã e pirarara 
(Phractocephalus hemioliopterus), entre outras. Nesta região a pesca ornamental emprega 
direta ou indiretamente aproximadamente 3.000 pessoas (WWF, 2006). 
Na Colômbia, embora não existam dados detalhados sobre esta atividade comercial, 
estima-se que 30% das exportações de peixes ornamentais do país provenham da região 
amazônica. Em 1992 elas alcançaram 3 milhões de exemplares, com um valor próximo de 
 
600 mil dólares. O comércio de peixes ornamentais na Colômbia é quase totalmente 
voltado à exportação, e das mais de cem espécies comercializadas as corredoras (Corydoras 
spp.), com pelo menos cinco espécies de grande valor, representavam no início da década 
de 1990 cerca de 33% do total, seguido pelo aruanã com 27% e pelo otocinclo (Otocinclus 
sp.) com 19% (BARTHEM et al., 1995). Os peixes também provêm em sua quase 
totalidade do meio natural, principalmente das bacias do Orinoco (88%) e Amazonas 
(10%), e as espécies mais exportadas são principalmente Siluriformes e ciclídeos (WWF, 
2006). Segundo este relatório, atualmente os principais centros de armazenamento para os 
peixes ornamentais do Orinoco são Puerto Inirida e Villavicencio, enquanto para o 
Amazonas é a cidade de Letícia. As exportações em 2004 ultrapassaram 20 milhões de 
exemplares com um valor superior a 7 milhões de dólares, principalmente para a América 
do Norte (com 38%); Ásia (30%) – Japão; Europa (24%) – Alemanha e América Central 
(6%). São legalizadas cerca de 135 espécies para comercialização. 
Na Amazônia venezuelana os ciclídeos e peixes siluriformes são as espécies mais 
capturadas e exportadas, enquanto para o mercado interno são os caracídeos os mais 
demandados. Os Estados de Amazonas, Apure, Bolivar e Puerto Ayacucho são os 
principais centros de produção, especialmente no verão, enquanto Caracas, Carabobo, 
Miranda e Apure são os principais centros de desembarque e armazenamento. Os peixes 
são exportados para a Europa (60%) - Alemanha, Dinamarca, Bélgica, Inglaterra e Áustria; 
e América do Norte, mas o mercado não está regulamentado, operando o livre comércio 
pela lei de oferta e demanda. Existem 51 criadores de peixes ornamentais registrados que 
criam 75% das espécies, principalmente exóticas, provenientes dos Estados Unidos e 
Tailândia. Dentre os peixes importados cerca de 71% são marinhos, embora 90% de todas 
as exportações sejam representadas por espécies continentais (WWF, 2006). 
 
Na Amazônia brasileira o extrativismo de peixes ornamentais foi iniciado em 
Benjamin Constant em 1959, na fronteira com o Peru, estendendo-se posteriormente a todo 
o Estado do Amazonas (LEITE; ZUANON, 1991) e por último também no Pará. É 
realizado principalmente nas bacias dos rios Negro, Xingu, Araguaia, Tapajós, Tocantins, 
Guamá e região das ilhas, (CHAO, 1993; TORRES, 1994; 2006), mas também inclui a área 
estuarina (TORRES, 1994). 
De acordo com Barthem et al. (1995), as exportações em Manaus alcançaram um 
pico de 20 milhões de espécimes, em 1979. Após este período, o volume de peixes 
comercializados recrudesceu a menos de 13 milhões de exemplares, no biênio 1982-83 e, 
ao final da década de 1980, a exportação oscilava em torno de 17 milhões de peixes 
enquanto a receita gerada, que em 1982 foi de aproximadamente US$600.000 (SUDAM, 
1985), alcançou ao redor de US$1,5 milhão em 1993 (CODEAMA, 1993). 
Atualmente, a pesca ornamental gera rendimentos em torno de 2 a 3 milhões de 
dólares ao ano para a economia do Estado do Amazonas e um excedente de 100 milhões de 
dólares no varejo mundial, através da exportação dos peixes selvagens capturados na 
natureza (CHAO et al., 2001). Dos 22.565.218 peixes de águas continentais 
comercializados em 2006 pelo Brasil, 82% eram provenientes do Amazonas e Pará, 
alcançando US$4,7 milhões. Os peixes marinhos, embora representem uma parcela menor 
do volume comercializado, atingem maiores valores unitários e são exclusivamente 
capturados na natureza (CHAO; MARCON, 2000; ALBUQUERQUE-FILHO, 2003), 
sendo os Estados do Ceará e Bahia os seus maiores exportadores (WWF, 2006; IBAMA, 
2007). Os peixes que não são exportados ao estrangeiro são enviados ao mercado 
consumidor nacional, compreendendo o eixo Rio de Janeiro - São Paulo (FUJIYOSHI, 
2002). 
 
Manaus é o principal centro de comercialização de peixes ornamentais de toda a 
Amazônia brasileira, de onde se exportam, anualmente, de 12 a 15 milhões de unidades, 
principalmente para a Alemanha, Japão e Estados Unidos (WWF, 2006), empregando cerca 
de 8.000 a 10.000 pessoas, conhecidos localmentecomo “piabeiros” (PRADA-
PEDREROS, 1992; CHAO, 1993; CHAO; PRADA-PEDREROS, 1995). A região do rio 
Negro, onde a atividade se concentra é por isso chamada “o paraíso dos peixes 
ornamentais”, abrigando cerca de 450 espécies (MEIRELLES FILHO, 2004), das quais 
pelo menos 60 são, regularmente, comercializadas, tendo o cardinal tetra (Paracheirodon 
axelrodi) como item dominante (GEISLER; ANNIBAL, 1984; PRADA-PEDREROS, 
1992). 
Tais números alimentam as demandas dos mercados internacionais impulsionando a 
descoberta de novas espécies, que despontam como as “novidades” do mercado e 
estimulam o aumento da pressão de pesca sobre os recursos ícticos literalmente em todos os 
pequenos e grandes cursos d’água das principais bacias hidrográficas da Amazônia. Isto é 
válido também para o Pará, que possui uma grande variedade de espécies dulcícolas, 
estuarinas e flúvio-estuarinas que desde a década de 1990 vêm sendo comercializadas ainda 
que ilegalmente (TORRES, 1994). Este é o segundo maior produtor de peixes ornamentais 
da região, sendo responsável por 10% das exportações totais (BARTHEM et al., 1995). 
Segundo Torres (1994), de Belém são comercializados regularmente entre 1,5 a 3 milhões 
de peixes de aproximadamente 150 espécies dulcícolas, estuarinas e flúvio-estuarinas, e a 
produção é oriunda de vários municípios, sendo a pesca realizada nas bacias de drenagem 
dos rios Amazonas, Tapajós, Xingu, Iriri, Tocantins, Araguaia e Guamá, além das áreas 
situadas na região do estuário, nos municípios do Nordeste paraense. 
 
Em território paraense a pesca ornamental pode ser verificada na Mesorregião das 
Ilhas, principalmente em Cachoeira do Arari, assim como Cametá, Belém, Santa Izabel do 
Pará, Castanhal, Inhangapi, Igarapé-Açu, São Caetano de Odivelas, Colares, Peixe-Boi, 
Bragança, Capanema, Primavera e adjacências. Outras importantes regiões produtoras 
incluem os municípios de Altamira, Itaituba, Santarém, Conceição do Araguaia, Marabá, 
Oeiras do Pará, Capitão Poço e Ourém. Embora não haja estatísticas oficiais, de acordo 
com a Associação de Criadores e Exportadores de Peixes Ornamentais do Estado do Pará – 
(ACEPOPA), esta atividade já empregou aproximadamente 1.000 pessoas com a captura 
dos peixes em todo o Estado, metade das quais somente na bacia do rio Xingu. Atualmente, 
há cerca de 40 a 60 trabalhadores formais e informais nas empresas sediadas nos centros 
urbanos e nas unidades de armazenamento situados nas áreas de produção, ocupando-se em 
atividades de manutenção, tratamento e vendas de peixes (informação verbal)1. 
Apesar do volume gerado pelas exportações de peixes ornamentais, a participação 
relativa do Brasil no cenário internacional demonstrou sinais de decréscimo a partir da 
década de 1980 em decorrência da competição com os países vizinhos, como o Peru, a 
Colômbia e a Venezuela (McGRATH, 1990). Mais provavelmente, entretanto, isto se 
deveu à concorrência com os países asiáticos, como o Japão, que desde 1977 passou a 
reproduzir e comercializar em larga escala algumas espécies amazônicas, como o neon tetra 
(Paracheirodon innesi), principalmente aos Estados Unidos, principal mercado consumidor 
dos peixes oriundos da Amazônia (ANDREWS, 1992). 
Andrews (1992) também ressalta outros fatores que também contribuem para a 
perda de competitividade das vendas de peixes ornamentais no Brasil, como a falta de uma 
infra-estrutura logística e de um manejo adequado dos peixes durante a armazenagem e o 
transporte. Além disso, a baixa qualidade dos serviços prestados por algumas empresas 
1 Vítor Uliana. Palestra proferida na Secretaria de Estado de Pesca e Aqüicultura. Belém, abr. 2007. 
 
nacionais, como o não cumprimento de prazos acordados com os clientes e mesmo pela 
falta de qualidade em relação à boa saúde e condições físicas dos produtos comercializados 
representa importante obstáculo para muitas empresas de menor porte. 
Há que se considerar também questões mercadológicas que interferem na demanda, 
especialmente acerca da cotação das moedas estrangeiras. Os peixes selvagens são 
commodities vendidas nos mercados internacionais, e estão sujeitos às flutuações cambiais. 
Quando, por exemplo, há valorização do real sobre o dólar, há uma desaceleração na 
atividade pesqueira ornamental devido à perda de rentabilidade do comércio, levando a 
mesma a uma situação de crise. Neste caso, os empresários que exportam ao estrangeiro 
priorizam espécies de alto valor. 
As altas taxas de mortalidade nas fases intermediárias do processo concorrem para a 
ineficiência do empreendimento, resultando em danos ecológicos e perdas econômicas ao 
país. As estimativas sobre a mortalidade de peixes ornamentais são imprecisas, mas as 
informações disponíveis na literatura apresentam valores elevados para algumas espécies 
(LEITE; ZUANON, 1991). 
O desconhecimento acerca das espécies comercializadas também é outro óbice ao 
desenvolvimento do setor, com reflexos diretos sobre a atual legislação, principalmente no 
que concerne à listagem de peixes oficialmente liberados para comercialização. Pelas 
normas em vigor, permite-se a venda de 180 espécies de peixes, mas esta legislação não 
apresenta justificativa com base científica quanto às espécies que participam da lista oficial, 
existindo problemas que vão desde a incorreta identificação taxonômica de muitas destas 
espécies, até situações em que algumas espécies listadas sequer participam do estoque 
nativo da bacia amazônica. 
 
Acerca desta listagem, Torres (1994) verificou que, apesar de que se utiliza o nome 
científico para receber a licença de exportação, o nome comercial e/ou vernacular é usado 
com freqüência para identificar o produto. Assim, dentre os 252 nomes observados nas 
licenças de exportação emitidas pela Superintendência do Instituto Brasileiro do Meio 
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em Belém, entre os anos de 1986 
e 1987, havia 164 nomes vulgares que se referiam a uma única espécie, enquanto, por outro 
lado, um único nome comercial correspondia a 16 categorias taxonômicas distintas. 
Tal desconhecimento acerca da taxonomia dos peixes contribui para dificultar o 
trabalho realizado pelos técnicos das agências governamentais de fiscalização e controle 
como o IBAMA e o Ministério da Agricultura, o que favorece o contrabando de espécies. 
Como conseqüência, o patrimônio científico e cultural do país é lesado pela saída de 
espécimes raros, os quais são cientificamente descritos no exterior e cujos exemplares-tipo 
são apropriados pelos museus de pesquisa estrangeiros. Isto também representa perdas 
econômicas ao país, visto que estes peixes, antes mesmo de serem descritos 
cientificamente, são anunciados com exclusividade no mercado internacional e têm seus 
preços aviltados, porém sem favorecer as empresas nacionais, restando-lhes a menor 
parcela dos lucros. 
O contrabando tende a continuar, à medida que o comércio internacional de peixes 
ornamentais está em crescimento no mundo inteiro. Dentre as aproximadamente 350 
espécies já exportadas pelas empresas paraenses, mais de 48,5% eram comercializadas 
ilegalmente, sendo contrabandeadas principalmente para países como o Japão e Alemanha 
(TORRES, 1994). Na atualidade, com as novas medidas adotadas pelos órgãos 
fiscalizadores, o contrabando de espécies sofreu forte redução, sendo esporádicas as 
ocorrências de apreensão noticiadas pelos meios de comunicação, as quais ocorrem 
 
geralmente nos portos ou aeroportos da capital, ou nas estradas que levam ao interior do 
Estado. 
Vale ressaltar ainda que, embora as informações acerca da biodiversidade íctica na 
região Neotropical sejam imprecisas, as águas amazônicas possuem a maior riqueza de 
espécies

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