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O Código de Processo Penal no seu título VI trata “Das questões e processos incidentes”, para compreendermos melhor esse assunto faremos uma análise dos artigos que o Código de Processo Penal trouxe bem como de jurisprudências que exemplifiquem suas aplicações. Fernando Capez traz que: “[...] as questões e os processos incidentes são soluções dadas pela lei processual para as variadas eventualidades que podem ocorrer no processo e que devem ser resolvidas pelo juiz antes da solução da causa principal.” (2016, p. 545) O Código de Processo Penal apontou as espécies de questões e processos incidentes, sendo elas: São espécies de questões e processos incidentes: I) Questões prejudiciais (arts. 92 a 94). II) Processos incidentes, que se dividem em: a) exceções (arts. 95 a 111); b) incompatibilidade e impedimentos (art. 112); c) conflito de jurisdição (arts. 113 a 117); d) restituição das coisas apreendidas (arts. 118 a 124); e) medidas assecuratórias (arts. 125 a 144); f) incidente de falsidade (arts. 145 a 148); g) incidente de insanidade mental do acusado (arts. 149 a 154). Os artigos 92 a 94 tratam das questões prejudiciais, estas tratam de questões de direito que prejudicam o andamento do processo e devem ser decididas antes de qualquer outra, pois dela depende a própria questão principal. De acordo com a Magalhães Noronha, questão prejudicial “é a questão jurídica, que se apresenta no curso da ação penal, versando elemento integrante do crime e cuja solução, escapando à competência do juiz criminal, provoca a suspensão daquela ação”. (NORONHA, Edgard Magalhães. Curso de direito processual penal. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 57.) Exemplo: PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ADITAMENTO À DENÚNCIA. ARTIGO 384 DO CPP. MUTATIO LIBELLI. ART. 313-A DO CÓDIGO PENAL. ELEMENTOS DO TIPO. ARTIGO 41 DO CPP. QUESTÃO PREJUDICIAL. INDEPENDÊNCIA. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. O trancamento de processo penal ou inquérito policial, por meio da impetração de habeas corpus, é medida excepcional. 2. O Ministério Público Federal pode, a qualquer tempo, antes da prolação da sentença, proceder ao aditamento da denúncia. 3. As esferas cível e penal guardam certa independência entre si. O fato de, em primeiro grau de jurisdição, ter sido restabelecido o benefício previdenciário da corré não afasta necessariamente a ilicitude da conduta do paciente. (TRF-4 - HC: 50303824820144040000 5030382-48.2014.404.0000, Relator: SEBASTIÃO OGÊ MUNIZ, Data de Julgamento: 13/01/2015, SÉTIMA TURMA, Data de Publicação: D.E. 14/01/2015) As questões prejudiciais dizem respeito ao mérito da ação, no exemplo acima a defensoria pública ajuizou o Habeas Corpus alegando que o trânsito em julgado de uma ação sentenciada na seara cível, afastaria a ilicitude do fato praticado pelo réu. Neste caso o relator indeferiu o pedido e fundamentou dizendo que as esferas cível e penal guardam certa independência entre si, e julgou que não se tratava de questão prejudicial, visto que o fato de, em primeiro grau de jurisdição, ter sido restabelecido o benefício previdenciário da corré não afasta necessariamente a ilicitude da conduta do paciente, não encontrando dependência lógica entre as duas ações. Trataremos agora dos processos incidentes, enquanto as questões prejudiciais são de competência do juízo civil e como o próprio nome já diz são prejudiciais ao curso e desenrolar da ação penal, as exceções é uma forma de defesa por meio do qual o acusado objetiva a extinção do processo sem o julgamento do mérito, ou apenas a procrastinação do feito. Fernando Capez define a exceção como: “A exceção (do latim exceptio), em sentido amplo, compreende o direito público subjetivo do acusado em se defender, ora combatendo diretamente a pretensão do autor, ora deduzindo matéria que impede o conhecimento do mérito, ou ao menos enseja a prorrogação do curso do processo.” Como o tema é amplo e são várias as exceções utilizaremos duas jurisprudências para exemplificar um caso em que se aplica a exceção peremptória e uma exceção dilatória. A exceção peremptória extingue o processo sem julgamento de mérito e a exceção dilatória prorroga o curso do processo, postergando sua apreciação. O artigo 96 CPP trata da arguição de suspeição do juiz, a jurisprudência abaixo trata desta exceção: PROCESSUAL PENAL. EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO. CPP, ART. 254. PREJULGAMENTO. NÃO OCORRÊNCIA. NORMAL EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL. IMPROCEDÊNCIA. 1. O juiz deve dar-se por suspeito, ou poderá ser recusado por qualquer das partes, por meio da exceção de suspeição (art. 95, I), nas hipóteses mencionadas no art. 254, do CPP, que é taxativo, não admitindo ampliação. 2. Na espécie, os atos praticados pelo excepto não escapam às atribuições constitucionais e legais do exercício jurisdicional incumbido aos magistrados. E mais, também não há que se falar em prejulgamento pelo fato de o Juízo Excepto ter indeferido o pedido de revogação da prisão preventiva, uma vez que a decisão está devidamente fundamentada. 3. Exceção de suspeição improcedente. (TRF-1 - EXSUSP: 00096582520154013600 0009658-25.2015.4.01.3600, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL MÁRIO CÉSAR RIBEIRO, Data de Julgamento: 10/11/2015, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: 20/11/2015 e-DJF1 P. 4466) O Excipiente arguiu a suspeição do juiz alegando que o juiz demonstrou prejulgamento de caso após decretar sua prisão por três vezes e indeferir o pedido de revogação da prisão preventiva devido a fundamentação do magistrado. A Exceção de Suspeição foi julgada improcedente pelo Desembargador Federal Mário Cesar Ribeiro, que fundamentou sua decisão visto que a suspeição deve se basear em fatos comprovados nos autos, visto que as hipóteses de suspeição são taxativas e não admitem ampliação conforme elencadas no artigo 254 do CPP. Apontou ainda que o fato do Excipiente não concordar com as decisões proferidas pelo juiz seja causa de suspeição, visto que o juiz está apenas cumprindo a sua função jurisdicional não cabendo aqui a exceção de suspeição. O art. 110 do CPP trata da exceção da litispendência, ilegitimidade das partes e da coisa julgada. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DECISÃO DE PARCIAL PROCEDÊNCIA DE EXCEÇÃO DE COISA JULGADA. EFETIVO BIS IN IDEM EM DESFAVOR DO RÉU (INADMISSIBILIDADE). RECURSO MINISTERIAL DESPROVIDO E RECURSO DA DEFESA NÃO CONHECIDO (INTELIGÊNCIA DO ART. 581 DO CPP). 1. Bem configurado o bis in idem, não há espaço na jurisdição penal para que o réu, já livre da acusação por sentença transitada em julgado, responda pelos mesmos fatos em ação penal ulteriormente proposta (HC 176.798/RS, Rel. Ministro MARÇO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 10/04/2012, DJe 29/06/2012), sendo de nenhuma relevância a existência de outros entendimentos ou novas "teses" jurídicas a respeito do evento tido como criminoso. 2. Não se conhece do recurso da defesa, pois inexiste previsão legal no art. 581 do CPP (que sabidamente é "numerus clausus") para recurso em sentido estrito da decisão que rejeita a exceção de coisa julgada, situação que é a dos autos na medida em que o juízo de origem julgou a exceção apenas parcialmente procedente. (TRF-3 - RSE: 10240 SP 0010240-66.2008.4.03.6105, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL JOHONSOM DI SALVO, Data de Julgamento: 18/09/2012, PRIMEIRA TURMA)
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