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F20 — F29 ESQUIZOFRENIA, TRANSTORNOS ESQUIZOTÍPICO E DELIRANTES Introdução A esquizofrenia é o mais comum e o mais importante transtorno deste grupo. O transtorno esquizotípico possui muitos dos aspectos característicos dos transtornos esquizofrênicos e é, provavelmente, geneticamente relacionado a eles; entretanto, as alucinações, delírios e as perturbações grosseiras do comportamento da esquizofrenia estão ausentes e, por isso, esse transtorno nem sempre vem aos cuidados médicos. A maioria dos transtornos delirantes provavelmente não é relacionada à esquizofrenia, embora seja difícil distingui-los clinicamente, particularmente nos seus primeiros es tágios. Eles constituem um grupo de transtornos heterogêneos e mal-compreendidos, que podem convenientemente ser divididos de acordo com sua duração típica dentro de um grupo de transtornos delirantes persistentes e um grupo maior de transtornos psicóticos agudos e transitórios. Os últimos parecem ser particularmente comuns nos países em desenvolvimento. As subdivisões listadas aqui devem ser vistas como pro visórias. Os transtornos esquizoafetivos foram mantidos nesta seção, apesar de sua natureza controversa. i& it 1 Esquizofrenia Os transtornos esquizofrênicos são caracterizados, em geral, por distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção e por afeto ina dequado ou embotado. A consciência clara e a capacidade intelectual estão usualmente mantidas, embora certos déficits cognitivos possam surgir no cur so do tempo. A perturbação envolve as funções mais básicas que dão à pessoa normal um senso de individualidade, unicidade e de direção de si mesmo. Os pensamentos, sentimentos e atos mais íntimos são sentidos como conhecidos ou partilhados por outros e podem se desenvolver delírios explicativos, a pon to de que forças naturais ou sobrenaturais trabalham de forma a influenciar os pensamentos e as ações do indivíduo atingido, de formas que são muitas vezes bizarras, O paciente pode ver a si próprio como o pivô de tudo o que acontece. As alucinações, especialmente auditivas, são comuns e podem co mentar sobre o comportamento ou os pensamentos do paciente. A percepção é frequentemente perturbada de outras formas: cores ou sons podem apare cer excessivamente vívidos ou alterados em qualidade e aspectos irrelevan tes das coisas comuns podem parecer mais importantes que todo o objeto ou a situação. Perplexidade é também comum no início e leva frequentemente a uma crença de que situações cotidianas possuem um significado especial, usualmente sinistro, destinado unicamente ao indivíduo. Na perturbação ca racterística do pensamento esquizofrênico, aspectos periféricos.e irrelevantes de um conceito total, que estão inibidos na atividade mental normalmente di rigida, são trazidos para o primeiro plano e utilizados no lugar daqueles são relevantes e adequados à situação. Dessa forma, o pensamento se toma vago, 85 TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO elíptico e obscuro e sua expressão em palavras, algumas vezes incompreen sível. São assíduas as interrupções e interpolações no curso do pensamento e os pensamentos podem parecer serem retirados por um agente exterior. O humor é caracteristicamente superficial, caprichoso ou incongruente. A ambi valência e a perturbação da volição podem aparecer como inércia, negativismo ou estupor. A catatonia pode estar presente. O começo pode ser agudo, com comportamento seriamente perturbado, ou insidioso, com um desenvolvi mento gradual de ideias e condutas estranhas. O curso do transtorno mostra igualmente uma grande variação e nâo é, sem dúvida, inevitavelmente crônico ou deteriorante (o curso é especificado pelas categorias de cinco caracteres). Numa proporção de casos, que pode variar em diferentes culturas e popu lações, a evolução é para uma completa ou quase completa recuperação. Os sexos são mais ou menos igualmente afetados, mas o começo tende a ser mais tardio nas mulheres. Embora nenhum sintoma estritamente patognomônico possa ser identifica do, para fins práticos é útil dividir os sintomas acima em grupos que têm importância especial para o diagnóstico e frequentemente ocorrem juntos, tais como: (a) eco do pensamento, inserção ou roubo do pensamento, irradiação do pensamento; (b) delírios de controle, influência ou passividade claramente referindo-se ao corpo ou movimentos dos membros ou pensamentos específicos, ações ou sensações, percepção delirante; (c) vozes alucinatórias comentando o comportamento do paciente ou discu tindo entre elas sobre o paciente ou outros tipos de vozes alucinatórias vindos de alguma parte do corpo; (d) delírios persistentes de outros tipos que são culturalmente inapropria- dos e completamente impossíveis, tais com o identidade política ou reli giosa ou poderes e capacidades sobre-humanas (p. ex., ser capaz de con trolar o tempo ou de se comunicar com alienígenas de outro planeta); (e) alucinações persistentes de qualquer modalidade, quando acompanha das por delírios "superficiais" ou parciais, sem claro conteúdo afetivo, ou por ideias sobrevaloradas persistentes ou quando ocorrem todos os dias durante semanas ou meses continuadamente; (f) intercepções ou interpolações no curso do pensamento resultando em discurso incoerente, irrelevante ou neologismos; (g) comportamento catatônico, tal como excitação, postura inadequada ou flexibilidade cérea, negativismo, mutism o e estupor; (h) sintomas "negativos", tais como apatia marcante, pobreza do discurso e embotamento ou incongruência de respostas emocionais, usualmente 86 F20 — F29 ESQUIZOFRENIA, TRANSTORNOS ESQUIZOTÍPICO E DELIRANTES resultando em retraimento social e diminuição do desempenho social; deve ficar claro que esses sintomas não são decorrentes de depressão ou medicação neuroléptica; (i) uma alteração significativa e consistente na qualidade global de alguns aspectos do comportamento pessoal, manifestada por perda de interes se, falta de objetivos, inatividade, uma atitude ensimesmada e retrai mento social. Diretrizes diagnosticas A exigência normal para um diagnóstico de esquizofrenia é que um mínimo de um sintoma claro (e em gerâl dois ou mais se são menos claros) perten cente a qualquer um dos grupos listados como (a) e (d), acima, ou sintomas de pelo menos dois dos grupos referidos como (e) a (h) devem estar clara mente presentes pela maior parte do tempo durante um período de 1 mês ou mais. As condições que preenchem essas exigências sintomatológicas, porém de duração menor do que 1 mês (tratadas ou não), devem ser diagnosticadas em primeira instância como transtorno psicótico esquizofreniforme agudo (F23.2) e reclassificadas como esquizofrenia, se os sintomas persistirem por períodos mais longos. Vendo retrospectivamente, pode ficar claro que uma fase prodrômica na qual sintomas e comportamento, tais como perda de interesse em traba lho, atividades sociais, aparência pessoal e higiene, juntos com ansiedade generalizada e graus leves de depressão e preocupação, precedeu o início dos sintomas psicóticos durante semanas ou mesmo meses. Por causa da dificuldade em determinar o início, o critério de 1 mês de duração aplica-se somente para os sintomas específicos listados acima e não para qualquer fase prodrômica não psicótica. O diagnóstico de esquizofrenia não deve ser feito na presença de sintomas depressivos ou maníacos nítidos, a menos que seja claro que os sintomas esquizofrênicos precederam o transtorno afetivo. Se ambos os sintomas, es quizofrênicos e afetivos, se desenvolvem juntos e estão igualmente balancea dos, o diagnóstico de transtorno esquizoafetivo (F25. —) deve ser feito, mes mo se os sintomas esquizofrênicos, por eles próprios, tivessem justificado o diagnóstico de esquizofrenia. A esquizofrenia não deve ser diagnosticada napresença de doença cerebral clara ou durante estados de intoxicação ou-de abstinência de drogas. Transtornos similares que se desenvolvem na presen ça de epilepsia ou outra doença cerebral devem ser codificados sob F06.2 e aqueles induzidos por drogas, sob Flx.5. TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO Padrão de curso O curso dos transtornos esquizofrênicos pode ser classificado usando-se os seguintes códigos de cinco caracteres: F20.x0 Contínuo F20jí1 Episódico com déficit progressivo F20j(2 Episódico com déficit estável F20j<3 Episódico remitente F20jí4 Remissão incompleta F20jí5 Remissão completa F20 jí8 Outro F20jí9 Período de observação menor do que um ano F20.0 Esquizofrenia paranoide Esse é o tipo de esquizofrenia mais comum em muitas partes do mundo. O quadro dínico é dominado por delírios relativamente estáveis, com frequên cia paranoides, usualmente acompanhados por alucinações, particularmente da variedade auditiva, e perturbações da percepção. Perturbações do afeto, volição e discurso e sintomas catatônicos não são proeminentes. São exemplos dos sintomas paranoides mais comuns: (a) delírios de perseguição, referência, ascendência importante, missão especial, mudanças corporais ou ciúmes; (b) vozes alucinatórias que ameaçam o paciente ou lhe dão ordens ou alu cinações auditivas sem conteúdo verbal, tais como assobios, zunidos ou risos; (c) alucinações olfativas ou gustativas, de sensações sexuais ou outras cor porais; alucinações visuais podem ocorrer, porém raramente são predo minantes. O transtorno do pensamento pode ser óbvio nos estados agudos, porém mesmo quando acontece, ele não impede que os delírios ou alucinações tí picos sejam descritos claramente. O afeto está usualmente menos embotado do que em outras variedades de esquizofrenia, porém um grau menor de in congruência é comum, assim como o são perturbações do humor, tais como irritabilidade, raiva repentina, receio e suspeita. Sintomas "negativos", tais como embotamento afetivo e comprometimento da volição, estão frequente mente presentes, porém não dominam o quadro clínico. F20 — F29 ESQUIZOFRENIA, TRANSTORNOS ESQUIZOTÍPICO E DELIRANTES O curso da esquizofrenia paranoide pode ser episódico com remissões par ciais ou completas ou crônico. Nos casos crônicos, os sintomas floridos per sistem por anos e é difícil distinguir episódios bem delimitados. O começo tende a ser mais tardio do que nas formas hebefrênica e catatônica. Diretrizes diagnosticas Os critérios gerais para um diagnóstico de esquizofrenia (ver introdução para F20 acima) devem ser satisfeitos. Em adição, alucinações e/ou os de lírios devem ser proeminentes e perturbações do afeto, da volição e da fala e os sintomas catatônicos devem ser relativamente inconspícuos. As aluci nações serão normalmente do tipo descrito em (b) e (c), acima. Os delírios podem ser de quase qualquer tipo, mas os de controle, influência ou passi vidade e crenças persecutórias de vários tipos são os mais característicos. Inclui: esquizofrenia parafrênica Diagnóstico diferencial E importante excluir psicoses epilépticas e induzidas por drogas e lembrar que os delírios persecutórios podem receber pequeno peso diagnóstico em pessoas de certos países ou culturas. Exclui: estado paranoide involutivo (F22.8) paranoia (F22.0) F20.1 Esquizofrenia hebefrênica Uma forma de esquizofrenia na qual as mudanças afetivas são proeminen tes, os delírios e as alucinações fugazes e fragmentários e o comportamento irresponsável e imprevisível; maneirismos são comuns. O afeto é superficial e inadequado e muitas vezes acompanhado por risadinhas ou sorrisos de au- tossatisfação, sorrisos de absorção em si mesmo ou por uma postura altiva, caretas, maneirismos, brincadeiras, queixas hipocondríacas e frases reitera das. O pensamento está desorganizado e o discurso é cheio de divagações e incoerente. Há uma tendência a permanecer solitário e o comportamento parece vazio de propósito e sentimento. Essa forma de esquizofrenia usual mente se inicia entre as idades de 15 e 25 anos e tende a ter um prognóstico pobre por causa do rápido desenvolvimento de sintomas "negativos", parti cularmente embotamento afetivo e perda da volição. Além disso, as perturbações do afeto e de volição e os transtornos do pensa mento são usualmente proeminentes. Alucinações e delírios podem estar presentes, mas não são usualmente proeminentes. O impulso e a determina ção estão perdidos e os objetivos abandonados, de tal forma que o compor 89 TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO tamento do paciente se torna caracteristicamente sem objetivo e vazio de propósito. Uma preocupação superficial e maneirística com religião, filosofia e outros temas abstratos pode aumentar a dificuldade do ouvinte em seguir o curso do pensamento. Diretrizes diagnosticas Os critérios gerais para um diagnóstico de esquizofrenia (ver introdução para F20 acimá) devem ser satisfeitos. A hebefrenia deve normalmente ser diag nosticada pda primeira vez apenas em adolescentes e adultos jovens. A perso nalidade pré-mórbida é característica, mas não necessariamente, tímida e soli tária. Para um diagnóstico confiável de hebefrenia, um período de 2 a 3 meses de contínua observação é usualmente necessário, no sentido de se assegurar que os comportamentos característicos descritos acima se mantêm. Inclui: esquizofrenia desorganizada hebefrenia F20.2 Esquizofrenia catatônica Perturbações psicomotoras proeminentes são aspectos essenciais e dominan tes e podem se alternar entre extremos tais como hipercinesia e estupor ou obediência automática e negativismo. Atitudes e posturas forçadas podem ser mantidas por longos períodos. Episódios de agitação violenta podem ser um aspecto notável da condição. Por razões que ainda são pouco compreendidas, a esquizofrenia catatônica é agora raramente vista em países industrializados, embora ela permaneça comum em outros lugares. Esses fenômenos catatônicos podem estar combi nados com um estado semelhante ao sonho (oniroide) com vívidas alucina ções cênicas. Diretrizes diagnosticas Os critérios gerais para um diagnóstico de esquizofrenia (ver introdução para F20 acima) devem ser satisfeitos. Sintomas catatônicos transitórios e isolados podem ocorrer no contexto de qualquer outro subtipo de esquizo frenia, porém para um diagnóstico de esquizofrenia catatônica, um ou mais dos seguintes comportamentos deve dominar o quadro clínico: (a) estupor (diminuição marcante da reatividade ao meio ambiente e de movimentos e atividades espontâneos) ou mutismo; 90 F20 — F29 ESQUIZOFRENIA, TRANSTORNOS ESQUIZOTÍPICO E DELIRANTES (b) excitação (atividade motora aparentemente sem sentido, não influencia da por estímulos externos); (c) postura inadequada (assunção voluntária e a manutenção de posturas inapropriadas ou bizarras); (d) negativismo (uma resistência aparentemente imotivada a todas as ins truções ou tentativas de ser movido ou movimento em direção oposta); (e) rigidez (manutenção de uma postura rígida contra esforços de ser movido); (f) flexibilidade cérea (manutenção de membros e corpo em posições exter namente impostas); (g) outros sintomas, tais como obediência automática (cumprimento auto mático de instruções) e perseveraçao de palavras e frases. Em pacientes que não se comunicam, com manifestações comportamen- tais de transtorno catatônico, o diagnóstico de esquizofrenia pode vir a ser provisório, até que a evidência adequada da presença de outros sintomas seja obtida. E também vital considerar que os sintomas catatônicos não são diagnósticos de esquizofrenia. Um sintoma ou sintomas catatônicos podem ser provocados por doença cerebral, perturbações metabólicas ou por álcool e drogas e podem também ocorrerem transtornos do humor. Inclui: estupor catatônicocatalepsia esquizofrênica catatonia esquizofrênica flexibilidade cérea esquizofrênica F20.3 Esquizofrenia indiferenciada Condições que satisfazem os critérios diagnósticos gerais para esquizofrenia (ver introdução para F20 acima), mas que não se adequam a nenhum dos subtipos acima (F20.0 — F20.2) ou apresentando aspectos de mais de um deles, sem uma clara predominância de um conjunto de características diag nosticas em particular. Essa rubrica deve ser usada somente para condições psicóticas (isto é, a esquizofrenia residual (F20.5) e a depressão pós-esquizo- frênica (F20.4) são excluídas) e após ter sido feita uma tentativa de classificar a condição em uma das três categorias precedentes. Diretrizes diagnosticas Essa categoria deve ser reservada para transtornos que: (a) satisfazem os critérios diagnósticos para esquizofrenia; (b) não satisfazem os critérios para os subtipos paranoide, hebefrêníco ou catatônico; TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO (c) não satisfazem os critérios para esquizofrenia residual ou depressão pós-esquizofrênica. Inclui: esquizofrenia atípica F20.4 Depressão pós-esquizofrênica Um episódio depressivo, o qual pode ser prolongado, surgindo após uma doença esquizofrênica. Alguns sintomas esquizofrênicos devem ainda estar presentes, mas não dominam mais o quadro clínico. Esses sintomas esquizo frênicos persistentes podem ser "positivos" ou "negativos", embora os últi mos sejam mais comuns. B incerto e irrelevante para o diagnóstico saber em que extensão os sintomas depressivos foram meramente revelados pela reso lução dos sintomas psicóticos inidais (ao invés de serem um novo desenvol vimento) ou são uma parte intrínseca da esquizofrenia ao invés de uma rea ção psicológica a ela. Eles raramente são suficientemente graves ou extensos para preencher os critérios de um episódio depressivo grave (F32.2 e F32.3) e é muitas vezes difícil decidir quais dos sintomas do paciente são devidos à depressão e quais às medicações neurolépticas ou ao comprometimento da volição e ao embotamento afetivo da própria esquizofrenia. Esse estado depressivo está associado a um aumento do risco de suicídio. Diretrizes diagnósticos O diagnóstico deve ser feito somente se: (a) o paciente tem tido uma doença esquizofrênica que satisfaz os critérios gerais para esquizofrenia (ver introdução para F20 acima) dentro dos últimos 12 meses; (b) alguns sintomas esquizofrênicos ainda estão presentes; (c) os sintomas depressivos são proeminentes e angustiantes, preenchendo pelo menos os critérios para um episódio depressivo (F32. —) e estive ram presentes por pelo menos duas semanas. Se o paciente não apresenta mais quaisquer sintomas esquizofrênicos, um episódio depressivo (F32.) deve ser diagnosticado. Se os sintomas esquizofrê nicos são ainda floridos e proeminentes, o diagnóstico deve permanecer aquele do subtipo esquizofrênico adequado (F20.0, F20.1, F20.2 ou F20.3). F20.5 Esquizofrenia residual Um estágio crônico no desenvolvimento de um transtorno esquizofrênico, no qual houve uma progressão clara de um estágio inicial (compreenden do um ou mais episódios com sintomas psicóticos que satisfazem os crité 92 F20 — F29 ESQUIZOFRENIA, TRANSTORNOS ESQUIZOTÍPICO E DELIRANTES rios gerais para esquizofrenia descritos acima) para um estágio mais tardio caracterizado por sintomas "negativos" de longa duração, embora não ne cessariamente irreversíveis. Diretrizes diagnósticos Para um diagnóstico confiável, os seguintes requisitos devem ser satisfeitos: (a) os sintomas esquizofrênicos "negativos" são proeminentes, isto é, retar do psicomotor, hipoatividade, afeto embotado, passividade e falta de iniciativa, pobreza da quantidade ou do conteúdo do discurso, comuni cação não verbal pobre através da expressão facial, do olhar, da modu lação da voz e da postura, autocuidado e desempenho social pobres; (b) evidência, no passado, de pelo menos um episódio psicótico bem defini do satisfazendo os critérios diagnósticos para esquizofrenia; (c) um período de pelo menos um ano durante o qual a intensidade e a fre quência dos sintomas floridos, tais como delírios e alucinações, foram mínimos ou substancialmente reduzidos e a síndrome esquizofrênica "negativa" esteve presente; (d) ausência de demência ou outra doença ou transtorno cerebral orgânicos e de depressão crônica ou institucionalismo suficientes para explicar os comprometimentos negativos. Se não puder ser obtida informação adequada acerca da história prévia do paciente e por isso mesmo não puder ser estabelecido que os critérios para esquizofrenia foram satisfeitos em algum tempo do passado, pode ser neces sário que se faça um diagnóstico provisório de esquizofrenia residual. Inclui: esquizofrenia indiferenciada crônica Restzustand estado esquizofrênico residual F20.6 Esquizofrenia simples Um transtorno incomum, no qual há um desenvolvimento insidioso mas progressivo de conduta estranha, incapacidade para atender as exigências da sociedade e um declínio no desempenho total. Delírios e alucinações não são evidentes e o transtorno é menos obviamente psicótico do que os subtipos hebefrênico, paranoide e catatônico da esquizofrenia. Os aspectos "negativos" característicos da esquizofrenia residual (p. ex., embotamento afetivo, perda da volição) se desenvolvem sem serem precedidos por ne nhum sintoma francamente psicótico. Com o aumento do empobrecimento 93 TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO social pode seguir-se a adoção de uma conduta de vagante e o indivíduo pode então se tomar absorto em si mesmo, inativo e sem objetivo. Diretrizes diagnosticas A esquizofrenia simples é um diagnóstico difícil de ser feito com alguma confiabilidade porque depende do estabelecimento do desenvolvimento len tamente progressivo dos sintomas "negativos" característicos da esquizofre nia residual (ver F20-5 acima), sem nenhuma história de alucinações, delírios ou outras manifestações de um episódio psicótico anterior e com alterações significativas no comportamento pessoal, manifestadas como uma perda de interesse marcante, inatividade e retraimento social. Inclui: esquizofrenia simplex. F20.8 Outra esquizofrenia Inclui: esquizofrenia cenestopática transtorno esquizofreniforme SOE Exclui: transtorno esquizofreniforme agudo (F23.2) esquizofrenia cíclica (F25.2) esquizofrenia latente (F23.2) F20.9 Esquizofrenia, não especificada Transtorno esquizotípico Um transtorno caracterizado por comportamento excêntrico e anomalias do pensamento e do afeto, os quais se assemelham àqueles vistos na esquizofre nia, embora nenhuma anomalia esquizofrênica definida e característica te nha ocorrido em qualquer estágio. Não existe perturbação dominante ou típica, mas algumas das seguintes podem estar presentes: (a) afeto inapropriado e constrangido (o indivíduo parece frio e distahte); (b) comportamento ou aparência que é estranho, excêntrico ou peculiar; (c) pobre relacionamento com outros e uma tendência a retraimento social; (d) crenças estranhas ou pensamento mágico influenciando o comportamen to e inconsistentes com normas subculturais; (e) suspeita ou ideias paranoides; (f) ruminações obsessivas sem resistência interna, frequentemente com conteúdos dismorfofóbicos, sexuais ou agressivos; F21 94 F20 — F29 ESQUIZOFRENIA, TRANSTORNOS ESQUIZOTÍPICO E DELIRANTES (g) experiências perceptivas inusuais, incluindo somatossensoriais (corpo rais) ou outras ilusões, despersonalização ou desrealizaçao; (h) pensamento vago, circunstancial, metafórico, superelaborado ou estereotipado, manifestado por um discurso estranho ou de outras for mas, sem incoerência grosseira; (i) episódios quase psicóticos ocasionais e transitórios, com intensas ilu sões, alucinações auditivas ou outras e ideias deliroides,usualmente ocorrendo sem provocação externa. O transtorno segue um curso crônico com flutuações de intensidade. Ocasio nalmente, ele evolui para esquizofrenia franca. Não há um início definido e sua evolução e curso são usualmente aqueles de um transtorno de persona lidade. E mais comum em indivíduos geneticamente aparentados com esqui zofrênicos e se acredita ser parte do "spectrum" genético da esquizofrenia. Diretrizes diagnosticas Essa rubrica diagnostica não é recomendada para uso geral, porque ela não é claramente demarcada, nem da esquizofrenia simples, nem dos transtor nos de personalidade esquizoide e paranoide. Se o termo é usado, três ou quatro dos aspectos típicos listados acima devem estar presentes, contínua e episodicamente, por pelo menos 2 anos. O indivíduo não deve nunca ter preenchido os critérios para esquizofrenia. Uma história de esquizofrenia em um parente de primeiro grau dá um peso adicional ao diagnóstico, mas não é um pré-requisito. Inclui: esquizofrenia borderline esquizofrenia latente reação esquizofrênica latente esquizofrenia pré-psicótica esquizofrenia prodrômica esquizofrenia pseudoneurótica esquizofrenia pseudopsicopática transtorno de personalidade esquizotípica Exclui: síndrome de Asperger (F84.5) transtorno de personalidade esquizoide (F60.1) Transtornos delirantes persistentes Esse grupo inclui uma variedade de transtornos nos quais os delírios de longa duração constituem a única ou a mais conspícua característica clínica 95 TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO e os quais não podem ser classificados como orgânicos, esquizofrênicos ou afetivos. Eles são provavelmente heterogêneos e têm relações incertas com a esquizofrenia. A importância relativa de fatores genéticos, características de personalidade e circunstâncias de vida na sua gênese é incerta e provavel mente variável. F22.0 Transtorno delirante Esse grupo de transtornos é caracterizado pelo desenvolvimento de um delírio isolado ou de um conjunto de delírios relacionados entre si, que são usualmente persistentes e muitas vezes duram toda a vida. Os delírios são altamente variáveis no conteúdo. Frequentemente, eles são persecutórios, hipocondríacos ou grandiosos, mas podem estar relacionados com litígios, ciúmes, expressar a convicção que o corpo do indivíduo é disforme, que os outros pensam que ele cheira mal ou é homossexual. Outra psicopatologia está caracteristicamente ausente, mas podem estar presentes, de forma inter mitente, sintomas depressivos e podem se desenvolver alucinações olfativas e táteis, em alguns casos. Alucinações auditivas (vozes) claras e persistentes, sintomas esquizofrênicos, tais como delírios de controle e embotamento afe tivo marcante, e evidência de doença cerebral definitiva são todos incompa tíveis com esse diagnóstico. Contudo, alucinações auditivas transitórias ou ocasionais, particularmente em pacientes idosos, não excluem esse diagnós tico, desde que elas não sejam tipicamente esquizofrênicas e constituam ape nas uma pequena parte do quadro clínico global. O início é comumente na meia-idade, mas algumas vezes no começo da idade adulta, particularmente no caso de crenças de ter o corpo disforme. O conteúdo do delírio e o mo mento de sua emergência podem, muitas vezes, estar relacionados com as situações de vida do indivíduo, p. ex,, delírios persecutórios em membros de minorias. Excetuando-se as ações e atitudes diretamente relacionadas ao de lírio ou ao sistema delirante, o afeto, a fala e o comportamento são normais. Diretrizes diagnósticos Os delírios constituem a mais conspícua ou a única característica clínica.isles devem estar presentes por pelo menos 3 meses e serem claramente pessoais ao invés de subculturais. Sintomas depressivos ou mesmo um episódio de pressivo bem marcado (F32. ~ ) podem estar presentes de forma intermiten te, desde que o delírio persista em épocas quando não há perturbação do humor. Não deve haver evidência de doença cerebral nem, ou apenas ocasio nais, alucinações auditivas e nem história de sintomas esquizofrênicos (delí rios de controle, irradiação do pensamento, etc.). 96
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