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HISTÓRICO das CONSTITUIÇÕES

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1
Material de apoio extraído do livro “Curso de Direito Constitucional”, de Celso Ribeiro Bastos, 22ª 
ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 103/156. 
 
 
TÍTULO III 
 
HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 
 
CAPÍTULO 1 
 
CONSTITUIÇÃO DE 1824 
 
SUMÁRIO: 1. Antecedentes históricos. 2. Ideologia da Constituição Imperial. 3. Aspectos 
principais da Constituição de 1824. 3.1. Divisão dos poderes políticos. 3.2. Semi-rigidez da 
Constituição Imperial. 
 
1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS 
As ideias liberais que dominaram no fim do século XVIII e início do século XIX 
produziram efeitos no nosso país ainda ao tempo da regência de D. João. 
Inicialmente há que se fazer referência aos movimentos de sublevação armada 
que, embora não tivessem prosperado, traziam consigo nítidas ideias liberais. 
Com a volta da família real e a regência de D. Pedro I, precipita-se movimento no 
sentido de dotar o Brasil de uma Constituição. A convocação da Assembleia para tanto dá-se 
mesmo antes da Proclamação da Independência. O fato é que em maio de 1823 ela já está 
funcionando. Não consegue, contudo, levar a bom termo seus trabalhos em função de 
desavenças com o Imperador, que acabou por dissolvê-la. 
Criou-se então um Conselho de Estado, a quem se conferiu a incumbência de 
elaborar um novo projeto que seria submetido à opinião das Câmaras, na época o órgão mais 
representativo da vontade popular. 
Por solicitação destas, D. Pedro I veio a outorgar o Texto antes mesmo que ele 
estivesse referendado por aqueles órgãos. 
 
2. IDEOLOGIA DA CONSTITUIÇÃO IMPERIAL 
Não se pode compreender a Constituição Imperial de 1824 senão à luz das ideias 
liberais tão em voga à época. 
O liberalismo é uma corrente de pensamento que marcou profundamente alguns 
momentos da história, permanecendo até hoje, ainda que adaptado a uma nova problemática 
que não existia no momento em que seus grandes mentores o formularam. 
O liberalismo tem por ponto central colocar o homem, individualmente 
considerado, como alicerce de todo o sistema social. 
Os homens inicialmente vivem em estado de natureza no qual são livres 
(Rousseau). Para maior conveniência sua, pactuam um contrato social que traslada algumas 
das suas faculdades para tomar possível a formação do poder. Daí dois corolários 
fundamentais: em primeiro lugar, todo o poder emana do povo. E, em segundo lugar, o Estado 
 2
só deve exercer aquelas funções que os órgãos, individual ou coletivamente, não 
conseguem desenvolver. 
A ação do Estado é, portanto, excepcional e restrita, enquanto a da sociedade é 
ampla e ilimitada. 
O liberalismo, com tais premissas, não podia deixar de significar uma revolução 
em face da ordem social político-jurídica preexistente. Nele se inspiraram as duas grandes 
Revoluções do século XVIII: a francesa e a americana. 
Suas ideias se opunham frontalmente à monarquia absoluta, que extraía a sua 
fonte de legitimidade do poder divino dos reis. A trasladação do poder pelo povo significava pôr 
em xeque, de maneira frontal, as monarquias existentes. 
Umas foram derrubadas por não terem tido condições para se adaptarem à nova 
ordem ideológica. Outras, contudo, continuaram de pé mediante concessões ao princípio da 
soberania popular. 
O Brasil se insere neste último caso. A Constituição outorgada de 1824, embora 
sem deixar de trazer consigo características que hoje não seriam aceitáveis como 
democráticas, era marcada, sem dúvida, por um grande liberalismo que se retratava, 
sobretudo, no rol dos direitos individuais que era praticamente o que havia de mais moderno na 
época, como também na adoção da separação de poderes que, além dos três clássicos, 
acrescentava um quarto: o Poder Moderador. 
É preciso, contudo, reconhecer que, se este constitucionalismo liberal encontrava 
plena consonância com as ideias dominantes à época e mesmo com as de uma elite do País, 
não deixava, contudo, de encontrar toda a sorte de dificuldades para se tomar eficaz: o 
pequeno desenvolvimento econômico do País; a falta de participação política; as grandes 
distâncias e a precariedade dos transportes e das comunicações. 
 
3. ASPECTOS PRINCIPAIS DA CONSTITUIÇÃO DE 1824 
3.1. Divisão dos Poderes Políticos 
A Carta de 1824, além dos três Poderes enunciados na teoria e na prática dos 
Estados constitucionais de então, acresce um quarto denominado Moderador. 
Era criação jurídica de Benjamin Constant, cuja influência sobre as elites jurídico-
políticas do Continente não podia ser subestimada. 
Afonso Arinos revela que nenhum assunto foi mais bem estudado no Império do 
que o Poder Moderador. Diz ele: 
"Em torno da interpretação a ser dada aos artigos que o estabeleceram dividiam-
se os melhores juristas imperiais, representantes das tendências liberal e conservadora. 
Visconde do Uruguai e o Marquês de S. Vicente, conservadores, sustentaram naturalmente a 
tese da concentração dos poderes arbitrais nas mãos do Imperador, negando a 
responsabilidade dos Ministros (portanto negando controle político do legislativo) sobre tais 
atos. Contrariamente, os escritores liberais, como Zacarias de Gois, defendiam a co-
responsabilidade dos Ministros nos atos do poder moderador, como única forma de se evitar o 
poder pessoal do Imperador. Pedro II, pessoalmente, era de opinião que os Ministros não eram 
co-responsáveis, e que a ele cabia, na totalidade, a arbitragem entre os poderes" (Direito 
constitucional, 2. ed.. Forense, p. 120). 
Ao que parece, ao tentarmos extrair uma conclusão das longas discussões 
havidas em torno do Poder Moderador e da responsabilidade ou não dos atos praticados pelos 
 3
ministros perante o Legislativo, a conclusão a que se chega é que, se utilizado por um 
monarca com inclinações autoritárias, levaria a um poder quase absoluto1. 
1. Benjamin Constant, apud Marcelo Caetano, Direito constitucional, v. l, p. 503: "Para Benja-inin Constant, a 
'monarquia constitucional tem a vantagem de criar esse poder neutro na pessoa de um Rei já cercado de 
tradições e de recordações e revestido pela opinião de uma autoridade que serve de base à sua autoridade 
política. O interesse verdadeiro dos Reis não é de modo nenhum que um dos poderes domine o outro, mas que 
todos se apoiem, se entendam e atuem de acordo'. Por isso, se a 'ação do poder executivo, isto é, dos Ministros, é 
irregular, o Rei destitui o poder executivo. Se a ação do poder representativo se toma funesta, o Rei dissolve o 
corpo representativo. Enfim, se a própria ação do poder judiciário é prejudicial ao aplicar penas demasiado 
severas às ações individuais, o Rei tempera essa ação com o seu direito de comutação e de indulto'. Acima dos 
poderes ativos colocava-se, pois, um poder independente e neutro, que era o fiel do equilíbrio dos restantes". 
Marcelo Caetano, Direito constitucional, cit., v. l, p. 504: "Assim o Imperador, que não estava 
sujeito a responsabilidade alguma (art. 99), intervinha nos outros Poderes para assegurar o seu regular 
funcionamento: 
— relativamente ao Poder Legislativo, competia-lhe nomear os Senadores, convocar extraor-
dinariamente, prorrogar ou adiar a sessão da Assembleia Geral, sancionar as leis, dissolver a Câmara dos 
Deputados (art. 101, l a 5); 
— quanto ao Poder Executivo, nomeava e demitia livremente os Ministros de Estado (art. 101, n. 
6); 
— quanto ao Poder Judicial, podia suspender os magistrados precedendo processo e audiência 
do Conselho de Estado, perdoar ou moderar as penas e conceder anistias em caso de urgência (art. 101, 7, 8 e 
9). 
O Poder Executivo era chefiado pelo Imperador que o exercitava pelos seus Ministros de Estado 
(art. 102), os quais tinham de referendar ou assinar todos os atos dele para que pudessem ter execução (art. 132). 
Previa-se a existência de um Conselho de Estado, composto de até 10 membros vitalícios 
nomeados pelo Imperador (arts.137 e 138). para ser ouvido 'em todos os negócios graves e medidas gerais de 
pública Administração ... assim como em todas as ocasiões em que o Imperador se proponha exercer qualquer 
das atribuições próprias do Poder Moderador', salvo para a nomeação e demissão de Ministros (art. 142)". 
Pimenta Bueno, Direito público brasileiro e analise da Constituição do Império, 2. ed.. Brasília, 
Senado Federal, p. 203: "O Poder Moderador (...) é a suprema inspeção da Nação, e o alto direito que ela tem, e 
que não pode exercer por si mesma, de examinar como os diversos poderes políticos, que ela criou e confiou a 
seus mandatários, são exercidos. É a faculdade que ela possui de fazer com que cada um deles se conserve em 
sua órbita, e concorra harmoniosamente como outros, para o fim social, o bem-estar nacional; é quem mantém 
seu equilíbrio, impede seus abusos, conserva-os na direção de sua alta missão; é enfim, a mais elevada força 
social, o órgão político mais ativo, o mais influente, de todas as instituições fundamentais da Nação". 
Octaciano Nogueira, A Constituição de 1824. p. 24: "Efetivamcnte está aí. claramente descrito, o 
seu pape) dominante. Pode-se mesmo dizer que o poder moderador moldou o regime político que tivemos nos 65 
anos de duração da Carta de 24. E a sua concepção, em última análise, que impulsiona a monarquia 
constitucional no caminho de seu papel ativo. em contraste com o papel passivo das monarquias parlamentares. 
Chamado com muita propriedade de poder real, poder imperial, poder neutro ou poder conservador, a sua 
concepção é atribuída, por Jellinek (L'Etat moderne et son droit), a Clermont-Tonnerre e a Benjamin Constant. Na 
prática, porém, foi aplicado apenas no Brasil e esta é uma das singularidades da Constituição Política do Império. 
E, com tal amplitude, que se exercia quer em relação ao Legislativo (nomeando os senadores, convocando, 
prorrogando e adiando a Assembleia Geral; dissolvendo a Câmara, sancionando as proposições do Legislativo e 
aprovando e suspendendo interinamente as resoluções das Assembleias provinciais); 
quer em relação ao Executivo (nomeando e demitindo livremente os ministros de Estado): quer, 
finalmente, em relação ao Judiciário (suspendendo os Magistrados, perdoando e moderando as penas impostas 
aos réus por sentença, e concedendo anistia). 
O que devemos ter em conta em relação à prática constitucional, no entanto, não é propriamente 
nem a amplitude de tais poderes, nem a circunstância de residirem numa só autoridade, proeminente por sua 
própria posição política, os dois poderes: o moderador e o executivo. Ao contrário, o que marcou a ação desse 
poder foi, exatamente. a sua faculdade de descaracterizar o sistema parlamentar que poderia ter sido implantado 
desde o início da monarquia constitucional, mas que efetivamente, em 1868, como vimos no episódio do Gabinete 
Zacarias, ainda se revelava impraticável no país. 
 4
Esse poder, exercido autoritariamente por D. Pedro I, e que terminou levando-o à renúncia 
em 1831, e zelosamente por seu filho, a quem se atribuía a aplicação implacável do 'lápis fatídico', se exorbitou os 
poderes do Monarca, de um lado. não impediu, por outro, que a praxe do sistema parlamentar viesse, ainda que 
tardiamente, a ser a rotina do fim do Império. Foi graças a essa onipotência quase divina do Monarca, que a 
própria Constituição declarava 'inviolável e sagrada', que D. Pedro II exerceu o seu magistério sobre o sistema 
político, fazendo-o pendular entre os conservadores e liberais que, entre 1837 e 1868. dominaram o bipartidarismo 
brasileiro da época". 
Wilson Accioli, Instituições de direito constitucional. Forense, p. 76: "Por influência de Clermont-
Tonnerre — deputado aos Estados Gerais da França — Benjamin Constant desenvolveu, em seus famosos 
Príncipes de Politique Constitutionnelle, publicados em 1815, a teoria do Poder Moderador, que ele designava 
neutro ou real. 
Duas correntes, desde logo, se formaram em tomo dessa novidade: a corrente conservadora e a 
corrente liberal. 
Os juristas conservadores, e, entre eles, assinalamos Pimenta Bueno, autor, como vimos, de obra 
clássica sobre a Constituição, e Paulino de Sousa apoiavam a criação do Poder Moderador. 
Enquanto isso, os liberais se cindiam em dois grupos, no tocante à compreensão da matéria: 
um deles defendia a criação do Poder Moderador, julgando, apenas, que o mesmo não devia ser 
pessoa], mas operar de acordo com o Conselho de Ministros; em contraposição, o outro grupo — que se erigia na 
facção radical do liberalismo — pugnava pela erradicação do Poder Moderador, por considerarem-no prejudicial à 
democracia". 
 
No entanto, o seu exercício por longo tempo por um monarca culto, moderado, 
cônscio do seu poder e também das suas responsabilidades fez com que nosso sistema 
político ascendesse a um alto nível de organização constitucional. 
Contudo, não se deve esquecer que, dadas as imperfeições do regime 
representativo então vigente, não se pode falar que tenha ele retratado fielmente a vontade 
popular. Seria mais certo afirmar que o regime imperial assistiu a uma permanente falsificação 
da vontade do eleitorado através de uma maciça e constante intervenção do Poder Executivo. 
 
3.2. Semi-rigidez da Constituição Imperial 
É regra praticamente geral das Constituições o querer serem duradouras. Assim, 
embora não excluam a possibilidade de alteração Constitucional, fazem com que esta dependa 
de um processo de alteração muito mais dificultoso, muito mais cheio de obstáculos, que o 
previsto para a elaboração de uma lei comum. Segundo a sua rigidez, as Constituições são, 
pois, rígidas ou flexíveis. 
A Constituição Imperial de 1824 é bastante original na matéria, criando uma 
terceira categoria de Constituições, aquela marcada pela existência de dispositivos rígidos e 
dispositivos flexíveis. Em outras palavras, a Constituição encampa a distinção entre 
Constituição material e Constituição formal. Todos os dispositivos que integrassem a primeira, 
isto é, que entendessem com a própria substância ou o cerne do Estado, seriam apenas 
modificáveis por maioria, extremamente exigente em três legislaturas consecutivas. 
Para as que fossem apenas formalmente constitucionais, isto é: detinham tal 
qualificação não em razão do assunto que tratavam, mas do mero fato de estarem presentes 
na Constituição, para elas, dispensava-se qualquer exigência específica, contentando-se com 
os requisitos necessários à elaboração da lei comum. 
Há que se ressaltar, portanto, a grande plasticidade e adaptabilidade do Texto 
Constitucional de 1824. 
Afonso Celso, em seu livro Oito anos de Parlamento, chamou a atenção para o 
 5
fato de que até mesmo a República poderia ter sido implantada no País sem que 
houvesse necessidade de derrubar a Constituição, bastando para tanto uma Emenda2. 
2. Francisco de Assis Alves, "As Constituições do Brasil", obra integrante do número especial da Revista de Direito 
Constitucional e Ciência Política, p. 14: "Estavam no Título oitavo da Constituição de 1824 junto com os 
enunciados dos direitos individuais, as disposições sobre o processo de emenda à constituição. 
Essas regras hauridas do Direito Constitucional francês eram, contudo, bem mais abrandecidas 
que as adotadas pela Constituição Francesa de 1791. 
No entanto, tratava-se de processo bastante dificultoso e solene, o previsto pela Carta Brasileira 
de 1824, para as alterações de seu texto. 
Ela própria, pela verba de seu artigo 178, estabelecia critérios diferentes de emendas. Para as 
matérias constitucionais, aquelas afetas aos limites e atribuições respectivas dos poderes políticos, e aos direitos 
políticos e individuais dos cidadãos, havia um processo de reforma, que deveria assujeitar-se aos requisitos dos 
artigos 174 a 177. 
Por isso, a proposta de reforma constitucional, objetivando atingir matéria dessa índole,só se 
tomou possível depois de passados quatro anos do juramento da Constituição Brasileira. A partir daí, se 
reconhecido que algum de seus artigos merecesse reforma, o respectivo processo seria deflagrado mediante 
proposição escrita, originária da Câmara dos Deputados, com apoio da terça parte de seus membros. 
Vencida essa etapa, a seguinte seria a leitura da proposta, por três vezes, com intervalos de seis 
dias de uma para outra. Se admitida a discussão, pela Câmara dos Deputados, depois da terceira leitura, seguia-
se na tramitação prevista para a elaboração de uma lei. Expedida a lei. que era promulgada e sancionada pelo 
Imperador, em forma ordinária, nela já estaria contida a ordem dirigida aos eleitores dos deputados para a 
legislatura seguinte, no sentido de que, nas procurações, lhes fosse conferida especial faculdade para a reforma 
visada. 
Depois de instalada a próxima legislatura, na sua primeira sessão, seria discutida a matéria sobre 
a reforma postulada. Se aprovada, seria introduzida na Lei Fundamental que, por sua vez, juntava-se à 
Constituição, para ser solenemente promulgada. 
Quanto às matérias de essência não constitucional que, segundo visto, para a Constituição do 
Império eram aquelas sem referência aos limites e atribuições dos poderes políticos, e aos direitos políticos, e 
individuais dos cidadãos, o seu processo de emenda era bem mais simples. 
Tudo o que não fosse constitucional, disse o artigo 178, iiifine, da Carta de 1824, poderia ser 
alterado sem as formalidades referidas pelas legislaturas ordinárias". 
 
De outra parte é sabido que em determinado momento da monarquia floresceu 
uma prática parlamentarista que acabou por implantar no País um regime que o texto frio da 
Constituição não autorizava, mas ao contrário vedava. 
A monarquia esteve, portanto, muito ligada ao sistema parlamentar. Inspirou-se 
muito no regime inglês e no século XIX, sem falar na própria Inglaterra, que foi alma mater do 
regime representativo, na precisa observação de Oliveira Lima, em seu livro O Império 
brasileiro. 
Nessa obra ainda observa ele que: "O nosso parlamentarismo foi entretanto mais 
uma lenta conquista do espírito público do que um resultado do direito escrito"3. 
3. Marcelo Caetano. Direito constitucional, cit., v. l, p. 519: "A Constituição de 1824 organizara um sistema de 
governo representativo pessoal: o Imperador, representante da Nação, exercia os Poderes Moderador e 
Executivo, este através de Ministros da sua escolha, sob a fiscalização mas não na dependência da Assembleia 
Geral (Senado e Câmara dos Deputados). 
Mas as circunstâncias vão conduzindo a prática constitucional no sentido de um sistema em que o 
governo representativo, sem deixar de ser pessoal do Chefe de Estado, adota certos ritos do governo parlamentar. 
Resulta daí uma fórmula mista, que só pode considerar-se parlamentarista quando se ressalve a 
sua não correspondência exata como tipo britânico, do qual aceitou algumas aparências, mas não o espírito. 
Os caracteres do parlamentarismo do segundo reinado, caso curioso, coincide quase ponto por 
ponto com o que foi praticado em Portugal, na mesma época, para executar à luz das ideias do tempo uma 
Constituição praticamente igual à Brasileira". 
 6
Octaciano Nogueira. A Constituição de 1824, cit.. p. 23: "Foi exatamente na existência 
desse poder que se fundaram, de um lado, tanto o voluntarismo exclusivista de Pedro l, na escolha dos ministérios 
de sua livre conveniência, em aberta dissenção com a maioria parlamentar, quanto os ultraconservadores que 
sempre invocaram sua existência para mostrar que a Constituição não quis, não previu e, portanto, não concebeu 
a prática do sistema parlamentar entre nós. 
Se este se estabeleceu, paulatina e progressivamente, pela prática, independentemente das leis, 
isto se deveu, como vimos, única e exclusivamente ao arbítrio de D. Pedro II que, voluntariamente, por 
deliberados atos de tolerância para com o sistema político, delegou os poderes que tinha aos sucessivos 
Ministérios com os quais governou e que nem sempre escolheu". 
 
Octaciano Nogueira considera uma das maiores virtudes do Texto de 1824 a 
de permitir que um sistema político nele não previsto, o parlamentarista, fosse sendo 
paulatina e progressivamente adotado, à medida que se cristalizavam os costumes 
parlamentares e na proporção em que os costumes políticos se aprimoravam enquanto 
o País se civilizava. 
Do ponto de vista da distribuição geográfica do poder, a Carta de 1824 
estabeleceu uma vigorosa centralização político-administrativa, pela qual se acabou por evitar 
o que ocorreu na América espanhola, fracionada em razão dos particularismos locais criados a 
partir da administração colonial. 
Paulo Bonavides chama a atenção para um aspecto pouco estudado na Carta de 
1824, qual seja: a sua sensibilidade precursora para o social. 
Depois de justificar a sua posição, termina por uma feliz síntese da significação 
profunda da Constituição de 1824. Diz ele, em sua obra A Constituição de 1824: 
"A Constituição do Império foi, em suma, uma Constituição de três dimensões: a 
primeira, voltada para o passado, trazendo as graves sequelas do absolutismo. A segunda, 
dirigida para o presente, efetivando em parte, e com bom êxito no decurso de sua aplicação, o 
programa do Estado liberal, e uma terceira, à primeira vista desconhecida e encoberta, 
pressentindo já o futuro". 
Se cotejarmos o Texto de 1824 com as efetivas práticas constitucionais, vamos 
notar um acentuado divórcio. Com efeito, não era possível ao Brasil da época praticar na sua 
pureza todos os institutos previstos na Lei Maior. 
Nada obstante isto, é preciso reconhecerem-se-lhe inegáveis méritos: 
Foi sob ela que o País manteve a integridade nacional. Dela, ainda, decorreram 
os primeiros passos, no sentido da democracia. E, finalmente, talvez o que seja o seu maior 
mérito, foi o Texto de maior longevidade em todo o nosso direito constitucional, sob o qual 
vigorou um regime que praticamente governou o País durante o século XIX. 
No mesmo sentido encontramos as palavras de Octaciano Nogueira (A 
Constituição de 1824, p. 2): 
"É a partir deste dado que se deve examinar a importância de nossa primeira 
Carta na história constitucional do país. Afinal, a Constituição de 24 não serviu apenas para os 
momentos de estabilidade política, conseguida, no Império, a partir da Praieira (1848-1849), 
que foi a última rebelião de caráter político no período monárquico. Serviu, também, com a 
mesma eficiência, para as fases de crise que se multiplicaram numa sucessão interminável de 
revoltas, rebeliões e insurreições, entre 1824 e 1848. Mais do que isso: foi sob esse mesmo 
texto, emendado apenas uma vez, que se processou, sem riscos de graves ruturas, a evolução 
histórica de toda a Monarquia. Essa evolução inclui fatos de enorme relevância e significação 
tanto política como econômica e social. As intervenções no Prata e a Guerra do Paraguai; o fim 
 7
da tarifa Alves Branco, de 1844; a supressão do tráfico de escravos; o início da 
industrialização e a própria abolição, em 1888, são alguns desses exemplos". 
 
CAPÍTULO 2 
 
CONSTITUIÇÃO DE 1891 
 
SUMÁRIO: 1. Fatores determinantes. 2. O Decreto n. 1 e suas principais mudanças. 
 
1. FATORES DETERMINANTES 
A 15 de novembro de 1889, dá-se no Brasil um golpe de Estado, pelo qual se põe 
fim à monarquia, destituindo-se por conseguinte o Imperador, proclamando-se uma República 
Federativa. 
É de notar-se que este movimento não veio calcado em grandes movimentações 
populares ou em uma parte da opinião pública. 
Na verdade tudo se cifrou a um movimento de tropas situadas no Rio de Janeiro, 
a que a nação limitou-se a assistir. Isto não quer dizer, contudo, que os ideais da República e 
da Federação, mais este último até do que o primeiro, não tivessem encontrado econo País'. 
1. Cláudio Pacheco. As Constituições do Brasil, Instituto Tancredo Neves, 1987, p. 27: "O tema que me foi 
prescrito para explanar neste momento, o da Constituição de 1891, em verdade não é de maior relevância, porque 
esta Constituição carece de um fundamento de legitimidade popular e, além disso, não alcançou uma satisfatória 
realização na sua rota de vivências políticas. 
Faltou-lhe essa legitimidade porque o seu fato gerador — a proclamação da república, resultou de 
um seco golpe militar, que não veio pela onda de um movimento coletivo. O povo foi literalmente surpreendido por 
um ataque de comando e tropa do Exército isolado do Rio de Janeiro. 
Não se objetará que naquele tempo o nosso povo ainda não estava dotado de sensibilidade e 
agilidade políticas. Ora não estaria assim incapacitado um povo mas saído da empolgação nacional e 
torrencialidade do movimento abolicionista. 
E faltou-lhe realização política porque o aparato democrático da Constituição de 1891 ficou inerte, 
em sua maior parte, durante o longo período da sua vigência, em que somente vigorou e predominou o poder 
presidencial do regime executivo que ela introduziu por sua preceituação constitucional". 
 
Foram diversos os movimentos que proclamaram a sua inspiração em uma 
dessas ideias, embora seja forçoso reconhecer que o ideário republicano federalista estivesse 
muito incipiente, sem contornos claramente definidos, pois o ideal predominante era o de 
emancipação política. 
Francisco de Assis Alves, muito categoricamente, afirma que o primeiro evento 
realmente informado pelo ideal republicano federativo foi a Revolução Pernambucana de 1824. 
De outra parte, nota-se que a dissolução, por D. Pedro I, da Assembleia 
Constituinte, provoca um grande desalento em Pernambuco. O repúdio pelo gesto foi tão grave 
que deu lugar ao movimento revolucionário, com a colaboração de várias Províncias do Norte 
do País, culminando com a Proclamação de uma Confederação do Equador levada a efeito a 2 
de julho de 1824. 
No Rio Grande do Sul, proclamou-se em 1835 a República de Piratinim, logo 
sufocada. 
 A partir daí, os ideais republicano e federativo como que hibernam em 
longo sono do qual só acordarão em 1870, com a fundação no Rio de Janeiro do clube 
 8
republicano patrocinado pelo jornal A Republica. 
Logo em seguida, em abril de 1873, ocorre a Convenção de Itu em São Paulo, da 
qual surge o Congresso Republicano Provincial, integrado, conforme Afonso Arinos, pelos 
representantes individuais de vinte e nove municípios. Destes, catorze eram advogados e nove 
fazendeiros. Eleita a primeira comissão executiva, verificou-se que ela era composta de três 
advogados: Américo Brasiliense, Américo de Campos e Campos Sales. E, por quatro 
fazendeiros: 
João Tibiriçá, Tobias de Aguiar, Martinho Prado e Augusto da Fonseca. 
Podemos ainda passar em revista os demais fatores que determinaram a queda 
do império, aproveitando a precisa e lúcida colocação do mestre Afonso Arinos: 
 "1º A transformação da economia agrária determinando ou concorrendo 
para acontecimentos importantes; 2º O aparecimento do exército com força política 
influente, em substituição aos partidos em declínio, passando, aos poucos, a ser força 
decisiva e quase dominadora; 3º A aspiração federalista, que, perceptível desde a 
constituinte de 1823, foi se desenvolvendo gradativamente durante o Império; 4º Certas 
influências culturais, principalmente o positivismo; 5º O isolamento em que se achava o 
Brasil como única Monarquia continental e, graças ao mais estreito intercâmbio 
internacional, uma natural tendência ao enquadramento no sistema americano 
predominante, que era o da República presidencialista; 6º O envelhecimento do 
imperador e seu relativo afastamento de um cenário político novo, cujos líderes ele não 
conhecia bem; a ausência de herdeiro masculino da Coroa e a falta de popularidade do 
príncipe-consorte estrangeiro" (Direito constitucional, cit., p. 115-7). 
 
2. O DECRETO n. 1 E SUAS PRINCIPAIS MUDANÇAS 
O primeiro ato jurídico do movimento armado de 15 de novembro de 1889 
consistiu na edição do Decreto n. 1, redigido por Rui Barbosa. Por este diploma ficava 
provisoriamente decretada a forma de governo da nação brasileira: a República Federativa. 
As províncias eram alçadas a Estados para poderem fluir daquela autonomia 
própria dos Estados-Membros de uma Federação. 
Ficavam também autorizadas a editarem oportunamente suas Constituições. 
De outra parte houve a criação, pelo governo provisório, de uma comissão 
especial para elaborar o Anteprojeto de Constituição, composto de cinco membros, passando a 
ser conhecida como "Comissão dos Cinco"2. 
2. Octaciano Nogueira, A Constituição de 1891, Fundação Projeto Rondon, p. 2: "Ponderados e discutidos todos 
esses alvitres, a 'comissão dos cinco', como ficou designada em nossa história constitucional, elaborou o projeto 
definitivo e entregou-o ao Governo Provisório, em 30 de maio de 1890. Nesse trabalho coletivo as antigas 
províncias passaram a ser consideradas estados; não se falava em territórios, porque o Dr. Magalhães Castro 
cedeu a empenhes do Governo Provisório e abandonou sua primitiva opinião. Na distribuição das rendas 
prevaleceu o projeto Werneck-Pestana; mas entendeu-se dever suprimir os impostos de exportação, a datar de 
1897. A Câmara dos Deputados teve a legislatura fixada em três anos; o Senado, eleito pelo sufrágio direto dos 
eleitores, prolongando-se o período por nove anos, como sugeriram Werneck e Pestana. O mandato do 
Presidente da República reduziu-se a cinco anos, de conformidade com a lembrança de Magalhães Castro; mas 
preferiu-se a eleição por eleitorado especial, a exemplo dos Estados Unidos e da Argentina. Os secretários de 
Estado não podiam comparecer às sessões do Congresso; só iriam às comissões prestar esclarecimentos. Enfim, 
no Judiciário, determinava-se que o Supremo Tribunal de Justiça se compusesse de quinze Juízes, nomeados 
pelo Senado, sem interferência do Poder Executivo: é o judicioso processo da Constituição suíça". 
 
 9
Nesta ocasião, inclusive quando do debate do Projeto na Asseirbléia 
Constituinte, exerceu grande influência a personalidade marcante de Rui Barbosa. Não é de se 
estranhar, pois, que a Constituição tenha encampado muitas de suas ideias, sobretudo a do 
Federalismo Americano, do qual era grande conhecedor3. 
3. Rui Barbosa, apud Anníbal Freire da Fonseca, A Constituição de 1891, Fundação Projeto Rondon, p. 7: "Foi, 
como se sabe, enorme a influência dos Estados Unidos na elaboração do nosso estatuto fundamental. Ela vinha 
endossada pelo governo provisório, no decreto de organização da justiça federal. Discutindo uma questão 
constitucional. Rui Barbosa ratificou essa consagração: 'nossa lâmpada de segurança será o direito americano, 
suas antecedências, suas decisões, seus mestres. A Constituição Brasileira é filha dele e a própria lei nos pôs nas 
mãos esse foco luminoso' ". 
 
Do papel do grande Rui, nos dá conta, com muita felicidade, Wilson Accioli, em 
sua obra Instituições, cit., p. 78: 
 "A despeito de alguns publicistas discordarem, o fato é que há fundamento 
justificado na assertiva de que teria Rui Barbosa redigido, quase por inteiro, a 
Constituição de 1891. Em verdade, ingente foi o esforço do grande brasileiro, não só na 
elaboração do Estatuto Básico como também na defesa e interpretação do seu texto. 
Procurou ele, por todos os modos — conforme patenteamos — preservar o espírito 
republicano de que era reflexo a nova Constituição, explicando ao povo, através da 
tribuna e dos jornais, sua essência e escopo". 
Com a Constituição Federal de 1891, o Brasil implanta, de forma definitiva, tanto a 
Federação quanto a República. Por esta última, obviam-se as desigualdades oriundas da 
hereditariedade, as distinções jurídicas quanto ao status das pessoas, as autoridadestornam-
se representativas do povo e investidas de mandato por prazo certo. 
A Federação implicou a outorga de Poderes Políticos às antigas Províncias, que 
assim passaram a governar os seus assuntos com autonomia e finanças próprias4. 
4. Cláudio Pacheco, Aí Constituições do Brasil, cit.. p. 32: "Confirmando o que já decretara o Governo Provisório, 
a Constituição de 1891 implantou na estrutura constitucional brasileira aquilo que nela própria se denominava de 
'República federativa', constituída pela união perpétua e indissolúvel das antigas Províncias, pomposamente 
erigidas em Estados autônomos. A Federação vinha assim tomar o lugar da desmoronada envergadura da 
centralização monárquica. A estes Estados, assim erigidos por via de legislação, por meio de outorgas dadivosas 
de autonomia, foi deixada uma larga margem de competência que se expandia não só pela cláusula que facultava 
aos Estados regerem-se pela Constituição e pelas leis que adotassem, como pela outra que lhes facultava 'em 
geral todo e qualquer poder, ou direito que lhes não for negado por cláusula expressa ou implícita contida nas 
cláusulas expressas da Constituição". Assim, toda a massa invisível e enorme de poderes que escapasse da 
enumeração, sempre lacunosa, de atribuições conferidas ao poder federal pela Constituição, explicitamente, 
refluía para a competência dos novos Estados. 
Mas, emitindo em sentido oposto, a Constituição conteria ao Governo Federal, por uma cláusula 
que a prática constitucional revelou incompleta e elástica, o poder de intervir em negócios particulares dos 
Estados, cindindo c suplantando então toda a sua autonomia, sempre que se tornasse necessário repelir invasão 
estrangeira, ou de um Estado em outro, manter a forma republicana federativa, restabelecer a ordem e a 
tranquilidade nos Estados à requisição dos respectivos governos e assegurar a execução das leis e sentenças 
federais". 
 
Para excluir o perigo de qualquer movimento de secessão ficou claro que a União 
era perpétua e indissolúvel. 
De outra parte, procurou-se conferir a estes dois princípios uma estabilidade mais 
acentuada que às demais regras da Constituição, uma vez que eram insuscetíveis de 
modificação, ainda que por Emenda Constitucional. 
 10 
Quanto aos poderes, volta-se à teoria clássica de Montesquieu, com um 
Executivo presidencialista, um Legislativo dividido em duas casas: o Senado e a Câmara dos 
Deputados, sendo o primeiro composto por representantes dos Estados, em número de três, 
com mandato de nove anos, e a segunda, recrutados em cada uma das unidades da 
Federação, procurando manter uma proporcionalidade, ainda que não absoluta com a 
população desta. 
O Judiciário sai fortalecido, não só com funções que antes não exercia como as 
do controle dos atos legislativos e administrativos, mas também com as seguintes 
prerrogativas: vitaliciedade (art. 57) e irredutibilidade de vencimentos (art. 57, § 1º). 
Fica assim claro que na nova estrutura não havia guarida para o Poder 
Moderador. 
Quando da primeira eleição, o Presidente da República e o Vice eram eleitos por 
sufrágio direto da Nação e maioria absoluta de votos. A apuração ocorria na Capital Federal e 
nas Capitais dos Estados, para onde eram enviados os votos das respectivas circunscrições. 
Nota-se, pois, o nítido avanço democrático, abandonando-se o voto censitário. 
No entanto, pelo crime de responsabilidade, o Presidente passa a ser submetido 
a processo de julgamento junto à Câmara, que preliminarmente tinha de manifestar-se por dois 
terços dos seus votos. Se a favor da denúncia, procedia-se à segunda fase consistente no 
julgamento propriamente dito, que era feito pelo Senado, nos crimes de responsabilidade, e 
pelo Supremo Tribunal Federal, nos crimes comuns5. 
5. Rui Barbosa. A imprensa. Ministério da Educação e Saúde, 1947: "Na forma política onde se moldou a 
Constituição brasileira, todos os grandes pensadores, todos os observadores de valor são unânimes em 
reconhecer e temer o poderio dos Presidentes. Dos freios e contrapesos, a que o regímen parlamentar 
submete a coroa dos monarcas, a república presidencial exonerou a autoridade do Chefe do Poder 
Executivo. Todo este ramo da energia constitucional absorve-se numa só individualidade, sobre a qual 
nenhuma ação têm os Ministros e o Congresso. Em vez de ser governado por uma comissão do 
parlamento, o país é regido pela discrição de um homem, cuja força igualaria à do Tzar, ou à do Sultão, se 
o curto período do seu ascendente o não desarmasse, a descentralização federativa o não 
circunscrevesse, e o papel extraordinário da Justiça Federal lhe não criasse obstáculos à ditadura". 
 
A Declaração de Direitos mereceu grande destaque na Lei Maior de 1891. 
Abrandam-se as penas criminais, suprimindo-se as penas de galés, de banimento 
judicial e de morte. 
 Conquista importante foi feita no terreno das garantias constitucionais que 
não constavam do Texto anterior. A Constituição Federal de 1891 se vê aclamada pelo 
utilíssimo Habeas Corpus, instrumento jurídico de grande valia na repressão às prisões 
indevidas e aos atentados ao direito de locomoção em geral. Ele não era desconhecido 
em nosso direito. Na verdade fora introduzido pelo Código Criminal de 1830, traduzindo-
se em ato de grande importância, sendo agora guindado ao Texto Maior. 
A propósito, o Habeas Corpus vai representar um papel em nosso direito, de certa 
forma mais importante do que o cumprido em muitos países. É que no início do século XX ele 
vai sofrer uma interpretação muito extensiva, a ponto de se tornar um instrumento utilizável até 
mesmo em hipóteses que não seriam propriamente de preservação da liberdade física6. 
6. Marcelo Caetano, Direito constitucional, cit.. v. l, p. 542: "A Constituição, no § 22 do art. 72 e no 
seguimento da tradição vinda desde o primeiro Código do Processo Criminal do Império, permitia o 
habeas corpiis sempre que o indivíduo sofresse ou se achasse em iminente perigo de sofrer violência ou 
coação por ilegalidade ou abuso do poder. 
 11 
Na concepção britânica o habeas corpus era o writ que mandava soltar o indivíduo 
ilegalmente detido ou preso, assegurando a sua liberdade de locomoção ou deslocação. 
No Brasil, ele foi largamente usado nessa função. Mas Rui Barbosa lançou mão desse 
remédio, à falta de outro, para fazer face a outras ofensas ou ameaças a direitos individuais resultantes de 
ilegalidade ou abuso de poder, visto a Constituição não restringir o âmbito dele. Assim nasceu, com a 
consagração pelo Supremo Tribunal Federal, a doutrina brasileira do habeas corpus graças à qual foram 
defendidas a inviolabilidade do domicílio, a situação e direitos dos funcionários, a liberdade do exercício 
da profissão etc. 
Mas por outro lado, essa extensão do instituto também veio a servir de instrumento das 
lutas entre facções políticas: quando, como frequentemente sucedeu, as eleições eram contestadas e dois 
governadores, duas assembleias estaduais ou dois conselhos municipais pretendiam estar regularmente 
eleitos a exercer as funções, os preteridos recorriam muitas vezes aos Juízes a impetrar habeas corpus 
levando os tribunais, por esse meio, a decidir quem legitimamente deveria ser investido". 
 
Quanto à reforma da Constituição, todas as normas que a compunham passaram 
a ser consideradas constitucionais. Destarte, qualquer de seus preceitos só poderia ser 
alterado mediante um processo árduo, descrito no seu art. 90 e §§ 1º a 4º. Descaracteriza-se 
assim a antiga distinção que se fazia entre norma material e formalmente constitucional, que 
prevaleceu na Constituição Federal do Império7. 
7. Carlos Maximiliano, Comentários à Constituirão brasileira, 4. ed., 1948, v. l, p. 67: "Pretendiam alguns apenas 
retocá-la; almejavam outros reforma radical, restringindo a autonomia dos Estados e restaurando o regime 
parlamentar. Alistou-se entreos primeiros o próprio Rui Barbosa, um dos autores do projeto de que resultou a 
Constituição; avantajara-se entre os últimos um dos maiores oradores parlamentares que brilharam sob o Império, 
Silveira Martins". 
 
Finalmente é preciso que se diga o seguinte: a Constituição de 1891 recebeu um 
duro golpe provindo da própria realidade que ela pretendia regulamentar. Com efeito, desde a 
sua entrada em vigor, foram frequentes as crises, tomando-se necessária a decretação do 
estado de sítio. 
De outra parte, os próprios teóricos não acreditavam nas suas virtudes, 
pretendendo, alguns, suprimi-la pura e simplesmente, e outros, modificá-la. 
 Foram estes últimos que prevaleceram, levando a cabo uma reforma do 
Texto Constitucional em 1926, marcada por uma conotação nitidamente racionalista, 
autoritária, introduzindo alterações no instituto da intervenção da União nos Estados, no 
Poder Legislativo, no processo legislativo, no fortalecimento do Executivo, nos direitos 
e garantias individuais e na Justiça Federal. 
Em conclusão, qualquer que seja o juízo que se faça sobre as virtudes desta 
Emenda, o certo é que ela não teve o condão de garantir longevidade ao Texto 
Constitucional. Ele estava fadado a ser varrido das nossas instituições também por um 
movimento armado em 1930, quando então se fecha o período hoje denominado 
Primeira República. 
 
 
CAPÍTULO III 
 
CONSTITUIÇÃO DE 1934 
 
SUMÁRIO: 1. Pontos principais. 2. Constituição democrática e social. 
 12 
 
1. PONTOS PRINCIPAIS 
Ao debruçarmo-nos sobre a Constituição de 1934, dois pontos principais chamam 
a nossa atenção: 
a) o extremo caráter compromissório assumido pelo Texto ante as múltiplas 
divergências que dividiam o conjunto das nossas forças político-ideológi-cas da época; 
b) a curtíssima duração de sua vigência, visto que, promulgada em 1934, estava 
condenada a ser abolida já em 1937 pela implantação do Estado Novo. 
Quer um, quer outro desses aspectos merecem um estudo mais aprofundado e é 
o que, doravante, passaremos a fazer. 
Não foi a Constituição de 1934 que pôs em derrocada a de 1891, uma vez que 
esta já se encontrava substituída pelo Decreto n. 19.398, de 11 de novembro de 1930, que 
instituiu juridicamente o Governo Provisório oriundo da Revolução vitoriosa. 
Esta, como bem salienta Marcelo Caetano, se afigurava como um mero conflito 
de grupos no seio do regime: 
"Os governantes de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e da Paraíba 
discordaram do Presidente Washington Luiz quando este designou o seu sucessor na 
presidência sem prévia consulta aos Estados acerca de outros possíveis candidatos, e 
formaram a Aliança Liberal, que apresentou candidatos próprios _ Getúlio Vargas e João 
Pessoa — à eleição para Presidente e Vice-Presidente da República que se realizou em 1º de 
março de 1932" (Direito constitucional, Forense, v. 1). 
Os desdobramentos desses fatos também são de sobejo conhecidos. O partido 
derrotado, cônscio de ter ao seu lado parcela importante da população, irresignou-se com o 
resultado, partindo para a disputa pelas armas que, afinal, lhe deram razão. 
Na verdade, contudo, a interpretação do fenômeno de 1930 como uma mera 
quizília entre governantes caprichosos é por demais simplista e não faz jus às profundas 
causas que vinham minando a Constituição de 1891. Fatores outros, de soberba importância, 
colaboraram para a sua consecução. 
Com efeito, o sistema eleitoral existente à época, controlado pelas oligarquias 
locais, não contava com a confiança dos cidadãos. 
Conforme bem salienta Araújo Castro em A nova Constituição brasileira, ao tratar 
do tema "Justiça Eleitoral", urgia que se fizesse desaparecer o falseamento da democracia. 
Tornara-se inadmissível que o reconhecimento dos eleitos fosse efetuado pelo próprio poder 
político, representado pelo Legislativo. Era imperativo que o conceito de conveniência do 
partido político fosse substituído pelo de justiça, conforme de direito. 
O voto descoberto, a desorganização e a indisciplina reinantes nos partidos 
locais, todos à mercê dos "coronéis", industriais e banqueiros, haviam acabado por desnaturar 
o mandato político. 
O direito à participação política das mulheres, de há muito reivindicado, não 
encontrava eco entre os detentores do poder, incompatibilizando-os com parcela significativa 
da sociedade. 
Em que pese a importância do Judiciário, capaz, segundo Lopes Gonçalves, de 
por si só "conduzir o país à culminância da grandeza e da mais ampla prosperidade, desde que 
tenha a sua organização traçada com alta elevação, o melhor método possível e as mais 
sólidas garantias", notória era a falta de autonomia de que padecia à época. 
 13 
O princípio da vitaliciedade era relativo e o da inamovibilidade quase que 
insubsistente, pondo em risco a independência de decisão de seus membros. 
Por outro lado, a crise econômica de 1929, bem como o surgimento de 
movimentos sociais pleiteando melhores condições de vida, trabalho e distribuição de renda, 
geraram controvérsias quanto à validade da democracia liberal e do liberalismo econômico. 
Consequências diretas deste quadro foram o surgimento de correntes extremas, 
tanto de direita quanto de esquerda, e a eclosão de regimes fortes em diversas partes do 
globo. 
O movimento irrompido em São Paulo, em 9 de julho de 1932, chamado 
"Constitucionalista", embora não tenha alterado a data fixada para a convocação da 
Assembleia, traduziu-se, sem dúvida, num elemento de pressão para que ela se cumprisse. 
O trabalho desenvolvido pelos Constituintes, em função do alto nível de seus 
membros, dos acirrados debates travados e perpetuados nos Anais da Constituição de 1934, 
acabou por traduzir-se em fonte de grande significação jurídica, de alto valor científico. A 
Constituição foi promulgada após a aprovação final da redação, em 16 de julho de 1934 1. 
1. Miguel Reale, Momentos decisivos do constitucionalismo brasileiro. Revista de Informação Legislativa, 77:63: 
"Em tal contexto, com suas estruturas ainda indefinidas, quando as antigas oligarquias a custo se acomodavam 
aos novos papéis que a República Nova lhes conferia, sendo raros os líderes capazes de atuar de maneira 
decisiva no flanco das ideias, uma Assembleia Constituinte foi convocada para elaborar um diploma capaz de 
atender à Nova Nação que emergira do primeiro pós-guerra. E surgiu, assim, a Constituição de 1934". 
 
Esse Estatuto Político, a par de assumir teses e soluções da Constituição de 
1891, rompeu com a tradição até então existente, porque, sepultando a velha democracia 
liberal, instituiu a democracia social, cujo paradigma era a Constituição de Weimar. 
 Define Paulino Jacques as principais alterações ocorridas como sendo: a) 
quanto à forma: 1) introdução do nome de Deus no preâmbulo; 2) incorporação ao texto 
de preceitos de direito civil, de direito social e de direito administrativo; 3) multiplicação 
dos títulos e capítulos, ficando a Constituição com mais do dobro de artigos que tinha a 
de 1891; b) quanto à substância: 1) reforço dos vínculos federais; 2) poderes 
independentes e coordenados entre si; 3) sufrágio feminino e voto secreto; 4) o Senado 
com funções de prover a coordenação dos poderes, manter a continuidade 
administrativa e velar pela Constituição; 5) os Ministros de Estado, com 
responsabilidade pessoal e solidária com o Presidente da República e obrigados a 
comparecer ao Congresso para prestarem esclarecimentos ou pleitearem medidas 
legislativas; 6) a Justiça Militar e Eleitoral, como órgãos do Poder Judiciário; 7) o 
Ministério Público, o Tribunal de Contas e os Conselhos Técnicos, coordenados em 
Conselhos Gerais, assistindo aos Ministros de Estado, como órgãos de cooperação nas 
atividades governamentais; 8) normas reguladoras da ordem econômica e social, da 
família, educação e cultura, dos funcionários públicos, da segurançanacional. 
Algumas dessas medidas revestem-se hoje de um caráter até certo ponto 
esdrúxulo, eis que não continuaram a ser prestigiadas nas Constituições posteriores, 
mantendo-se em remansoso oblívio2. 
2. Josaphat Marinho, A Constituição de 1934,in As Constituições do Brasil. Instituto Tancredo Neves, p. 48: "Dir-
se-á que a Constituição de 1934, além daquelas omissões já apontadas, encerrou outras falhas, que lhe 
reduziram o horizonte e a influência histórica. É exato. A representação profissional ou de classe (art. 23) e a 
transformação do Senado em órgão de coordenação de poderes (art. 88) não se revelaram inovações que 
pudessem robustecer a democracia e a federação, ou o funcionamento do Legislativo. Uma se vinculava ao 
 14 
regime corporativo, que entrou em decadência. A outra indicava combate ao bicameralismo, mas consistiu 
numa solução contraditória, que resultou em atribuir competência legislativa a órgão que não integrava o Poder 
Legislativo, e dele era apenas colaborador (arts. 22, 90, c, 91, 44 e outros). 
É de admitir-se, também, que o Anteprojeto de Constituição, elaborado pela Comissão do 
Itamarati, foi mais renovador, e no concernente ao Poder Legislativo de maior coerência, porque, preferindo o 
regime unicameral, suprimia o Senado, ao invés de desfigurá-lo e mantê-lo". 
 
Assim ocorreu, por exemplo, com o papel outorgado ao Senado, como órgão de 
coordenação dos demais poderes. Dispunha o art. 88: 
"Ao Senado Federal, nos termos dos artigos 90,91 e 92, incumbe promover a 
coordenação dos poderes federais entre si, manter a continuidade administrativa, velar pela 
Constituição, colaborar na feitura das leis e praticar os demais atos da sua competência". 
Era como que a reconstituição do Poder Moderador do Império, transformado no 
órgão supremo do Estado. Marcelo Caetano vê nele semelhanças como o Senado 
Conservador das Constituições francesas do ano VIII e do ano X 3. 
3. Marcelo Caetano, Direito constitucional, cit., v. l, p. 553: "Na verdade, depois de regular os três poderes 
clássicos, dedica um capítulo à coordenação dos poderes e outro aos órgãos de cooperação nas atividades 
governamentais. 
A coordenação dos poderes seria feita pelo Senado Federal, a quem se daria uma espécie de 
Poder Moderador, transformando-o no órgão supremo do Estado, à semelhança do Senado Conservador das 
Constituições francesas do ano VIII e do ano X. No intervalo das sessões legislativas, o Senado continuaria em 
exercício através da sua Secção Permanente". 
Araújo Castro, A nova Constituição brasileira, Freitas Bastos. 1935, p. 5 e 6: "Não nos parece que 
haja sido feliz o legislador constituinte na organização dada ao Senado Federal, porque, no nosso regime, não se 
concebe que a um órgão se confira a faculdade de coordenar os poderes políticos, mormente declarando-se, 
como se declara expressamente, que esses poderes são independentes e coordenados entre si. Além disso, entre 
as atribuições que lhe foram outorgadas, algumas há que poderão dar lugar a frequentes conflitos com o Poder 
Executivo, em detrimento da ordem pública e dos altos interesses do país". 
 
Também os Conselhos Técnicos, de existência prevista em todos os Ministérios, 
os quais tinham poder de veto das decisões ministeriais, por parecer unânime, foram relegados 
ao esquecimento, destino reservado também ao Unicameralismo do Legislativo, e à 
representação classista na Câmara dos Deputados. 
Outras inovações, contudo, incorporaram-se ao nosso direito constitucional, 
traduzindo-se em autênticos avanços que marcaram como que baluartes avançados, sobretudo 
no campo das nacionalizações e dos direitos sociais, os quais seria mesmo impensável recusar 
em nossos dias. Citem-se, a título de ilustração, entre as anteriormente arroladas, as 
alterações na legislação eleitoral, a sindicalização, as normas de Previdência Social, o 
mandado de segurança e a ação popular 4. 
4. Francisco de Assis Alves, As Constituições do Brasil, Revista, cit., p. 34: "Um dos melhores momentos de 
inspiração dos constituintes de 34 foi o da criação da Justiça Eleitoral. Este o grande destaque do Poder judiciário, 
na Carta Política da Segunda República. 
O sistema representativo ganhou em muito com a Justiça Eleitoral, preparada dentro dos prin-
cípios da independência e imparcialidade, para tratar de toda matéria que lhe é afeta. 
Posto acima dos interesses partidários, esse órgão teve por escopo aperfeiçoar e moralizar o 
sistema eleitoral. 
A Justiça Eleitoral, consignou Wenceslau Escobar, 'teve o objetivo de pôr termo aos escandalosos 
reconhecimentos pela Câmara dos Deputados de cidadãos que, sem terem sido eleitos, a Câmara os diplomava 
como representantes da Nação' (Correio do Povo — Porto Alegre — 2-12-36)". 
Ronaldo Poletti, A Constituição de 1934, Centro de Ensino à Distância, p. 34: "Aliás, a Cons-
 15 
tituição de 34, nas pegadas do anteprojeto, trouxe muitas contribuições a esse tema do controle da 
constitucionalidade. 
De fato, estabeleceu o recurso extraordinário das decisões das causas decididas pelas justiças 
locais em única ou última instância, quando se questionasse sobre a vigência ou validade de lei federal em face 
da Constituição (art. 76, III). 
Determinava, ainda, que só por maioria absoluta de votos da totalidade dos seus Juízes poderão 
os Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato do poder público (art. 179). 
 Mas, a mais importante inovação estava na citada competência do Senado. Era a maneira 
de solucionar um dos mais graves problemas do controle da constitucionalidade. A ausência da regra do 
slare decisis implica que os Juízes não estão obrigados a deixar de aplicar a lei, declarada 
inconstitucional pelo Supremo. A solução da Constituição permitia dar efeitos erga omnes a uma decisão 
num caso concreto. Além disso, atenuava-se o problema da quebra de harmonia e equilíbrio entre os 
poderes, pois remetia a um órgão do Poder Legislativo a atribuição de suspender a execução da lei 
declarada inconstitucional. 
Outra importante inovação foi a obrigatoriedade de os estados-membros se 
constitucionalizarem com a observância de determinados princípios, sob pena de intervenção federal. 
Esta dependeria de o Procurador-Geral da República provocar o exame do Supremo sobre a 
constitucionalidade da lei violadora do pressuposto. Criava-se, assim, a ação direta de 
inconstitucionalidade. 
A Constituição de 34 contribuiu, ainda, para o controle da constitucionalidade, ao arrolar, 
dentre os direitos individuais, o mandado de segurança, possibilitando que os atos das autoridades 
fossem impugnados, desde que fundados em lei inconstitucional". 
 
Do ponto de vista histórico, a Constituição de 1934 não apresenta relevância. É, 
no fundo, um instrumento circunstancial que reflete os antagonismos, as aspirações e os 
conflitos da sociedade daquele momento, mas que estava fadada a ter uma curta duração, 
abolida que foi pelo golpe de 1937. 
 
2. CONSTITUIÇÃO DEMOCRÁTICA E SOCIAL 
O matiz dominante dessa Constituição foi o caráter democrático com um certo 
colorido social. Procurou-se conciliar a democracia liberal com o socialismo, no domínio 
econômico-social; o federalismo com o unitarismo; o presidencialismo com o parlamentarismo, 
na esfera governamental. 
Ela representa, na verdade, um compromisso diante das diversas forças que 
protagonizavam os diversos movimentos e eventos políticos que a antecederam. 
No Brasil, observa-se um certo cansaço pela política chamada de "café-com-
leite", que traduzia a supremacia de São Paulo e Minas Gerais, bem como o aumento da 
pregação tenentista com seus apelos de moralização e de unidade nacional. 
No período compreendido entre o movimento armado de 1930 e a promulgação 
da Constituição de 1934, vários acontecimentos tiveram relevo. 
Uma das primeiras providências tomadas pelo Governo Provisório foi acriação do 
Ministério da Educação e Saúde Pública e do Ministério do Trabalho e Indústria e Comércio, 
que aluariam como órgãos de realização da política econômica e social do movimento 
renovador. 
Estas duas pastas atiraram-se à tarefa de reorganização e ampliação dos 
serviços de instrução e saúde pública, expedindo farta legislação sobre direitos e benefícios 
dos trabalhadores. 
 Segundo Paulino Jacques em seu Curso de direito constitucional, o movi-
mento cumpriu nessas áreas as promessas feitas, bastando para tanto lembrar a 
 16 
regulamentação da duração da jornada de trabalho, sindicalização, uniformização 
das leis de aposentadoria e pensão, estabilidade de emprego, que "mais tarde tomariam 
grande impulso, para recomendar o movimento à admiração da posteridade". 
No mesmo ano, 1930, criou-se uma grande comissão de juristas, a qual 
tinha por fim rever a legislação em vigor e apresentar novas modificações e projetos de 
lei. Fruto direto do trabalho por ela realizado foi a implantação de reforma eleitoral, que 
se traduziu não só na adoção do sufrágio secreto universal e direto, incluindo o voto das 
mulheres, o voto obrigatório e a votação proporcional, mas também a adoção de um 
estatuto dos partidos políticos e, principalmente, a obra majestosa da instituição de uma 
Justiça Eleitoral para organizar e disciplinar as eleições, delegando-se aos seus 
membros as garantias da magistratura federal. 
O Governo Provisório elegeu uma Comissão incumbida de elaborar um 
anteprojeto de Constituição Federal, a qual deveria completar seus trabalhos até 3 de maio de 
1933, data fixada para a realização das eleições à Assembleia Constituinte. 
É importante lembrar, aqui, que as forças que fizeram a Revolução de 1930, em 
1933 já estavam divididas; de um lado havia um grupo inteiramente fiel a Getúlio, representado 
pela cúpula do Exército, bem encarnada na figura de Góes Monteiro; de outro, havia o grupo 
dos tenentistas, que tinham propostas de modificações muito mais radicais. Além disso, há que 
registrar-se o movimento daqueles que estavam fora do governo, como a velha oligarquia 
estadual remanescente do Partido Republicano Paulista — "os carcomidos". 
Havia, ainda, a compor o tabuleiro político, as forças que estiveram ao lado de 
Getúlio, mas que bandearam. Era o caso do Partido Democrático, cujo programa principal 
consistia em pretender implantar a verdade da Constituição de 1891. 
Dentro deste quadro, explicáveis são as diversas concessões feitas pelo Texto 
Constitucional, à época, tentando conciliar correntes tão diversas. 
 Assim é que encontramos na Constituição uma feição liberal, em resposta 
às forças não comprometidas com 1930, ao lado de uma marcante tendência 
centralizadora, tecnocrática, tão bem expressa nos Conselhos Técnicos, criados em 
atenção às forças getulistas. Getúlio havia intuído que a forma de vergar as oligarquias 
locais era, precisamente, a criação de um aparelho amplo formado por autênticos 
tecnocratas. 
Havia também o lado nacionalista, que era uma resposta a certos setores do 
Exército, os quais propugnavam pela apropriação, pelo Estado, de certas riquezas e atividades. 
Embora democrático e social, apresentava o Texto um lado corporativista na 
medida em que previa, na Câmara dos Deputados, os chamados representantes classistas. 
Mais uma manobra de Getúlio para subjugar o caciquismo das oligarquias locais. 
Finalmente, há o lado social da Constituição, que resultou da necessidade de 
atender à massa urbana proletária existente, sobretudo nas ferrovias e nos portos. Estas 
atividades eram nevrálgicas para a economia de exportação do País, o que levou Getúlio a 
enquadrá-las, inclusive pela via de sindicalização oficial. E dizer, de um lado o Governo 
reconhecia um sindicato como representante da categoria, mas, de outro, passava a exercer 
um controle sobre ele. 
Em conclusão, o que se vê é que a Constituição de 1934 espelhava, de forma 
praticamente fidedigna, as forças expressivas do contexto político-social de então. O que não 
deixa de revelar, inclusive, um mérito da recente legislação eleitoral que havia sido posta em 
 17 
vigor, a qual levou à formação de uma Constituinte composta por líderes extremamente 
talentosos e expressivos das mais diversas correntes do pensamento político5. 
5. Josaphat Marinho, A Constituição de 1934, in As Constituições do Brasil, cit., p. 47: "Se a Constituição de 1934 
não foi revolucionária, no sentido de corporificar transformações radicais, enriqueceu-se de conteúdo progressista. 
Para certeza desse juízo, basta que sejam realçadas, no conjunto das provisões já referidas, as pertinentes aos 
direitos sociais. Eram estes, então, 'o divisor de águas entre a democracia individualista e a democracia social', 
como bem frisou, examinando as inovações da Constituição, o jovem professor Orlando Gomes, portador, na 
época, de pensamento avançado". 
 
A curta duração que teve não deve ser explicada pelos defeitos que trazia em si, 
mas, em verdade, pela radicalização do clima social de então. 
 Tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita tornaram inviável a sua 
plena aplicação, gerando condições para que fosse possível o Golpe de 1937. 
 
 
CAPÍTULO IV 
 
CONSTITUIÇÃO DE 1937 
 
SUMÁRIO: 1. O golpe de 37. 2. Inaplicabilidade da Constituição de 1937. 
 
1. O GOLPE DE 37 
Em 10 de novembro de 1937, o Brasil se vê colocado debaixo de uma nova Carta 
outorgada. Os antecedentes que propiciaram o desencadeamento do golpe, cuja 
institucionalização jurídica se deu nesta lei fundamental, foram principalmente os seguintes: a 
Constituição de 1934, de cunho bastante liberal, pelo menos se confrontarmos as suas 
disposições com as dificuldades existentes, e as crises de toda ordem que o Brasil ia enfrentar 
nos anos imediatamente subsequentes. Parece, pois, ter sido este descompasso entre o 
previsto na Constituição e a realidade por que passava o País que o levou a uma 
vulnerabilidade muito grande, tomando possível a deflagração vitoriosa do golpe como 
consequência da perda de credibilidade nesses anos imediatamente antecedentes à 
Carta de 1937 em que proliferavam no País movimentos de cunho extremista: pela direita 
a ação integralista e pela esquerda o Partido Comunista, tendo este inclusive praticado 
um atentado contra um estabelecimento militar. 
Portanto, a crise espontânea, ou de certa forma insuflada pelo próprio Presidente, 
serviu de justificativa para que fosse dado o golpe e em seguida adotada a Carta que 
consagrava o seu ideário, que passaremos a ver em seguida. 
À Constituição democrática e social de 1934 sucede esta de 1937, inspirada no 
modelo fascista e, em consequência, de cunho eminentemente autoritário, o que fica visível 
dentre muitos outros dispositivos no art. 73, que arrola as competências do chefe máximo da 
nação. Diz este preceptivo: 
"O Presidente da República, autoridade suprema do Estado, coordena a atividade 
dos órgãos representativos, de grau superior, dirige a política interna e externa, promove ou 
orienta a política legislativa de interesse nacional e superintende a administração do país". 
Vê-se assim que são postas em derrocada as vigas mínimas que poderiam 
sustentar um Estado democrático e um Estado de Direito1. 
 18 
1. Francisco Campos, em entrevista concedida ao Correio da Manha do Rio de Janeiro, 3 mar. 
1945: "A Constituição de 1937 não é uma Constituição fascista. Aliás está muito em moda acoimar-se de 
fascista a todo indivíduo ou toda instituição que não coincide com as nossas opiniões políticas. No tempo 
em que o comunismo representava Ia bete noire, a moda era inversa. Comunista era todo indivíduo ou a 
instituição que julgávamos em desacordo com as nossas convicções políticas. A ascensão do comunismo 
e o declínio do fascismo no horizonte político mundial determinaram essa inversão. Basta o examemais 
superficial das linhas gerais da Constituição, para que qualquer indivíduo da mais elementar cultura 
político verifique que o sistema da Constituição de 1937 nada tem de fascista. Não se conceberia, com 
efeito, pudesse ser acoimada de fascista uma Constituição que assegura ao Poder Judiciário as 
prerrogativas constantes da Constituição de 1937. que abre no próprio texto constitucional todo um 
capítulo destinado a garantir a estabilidade dos funcionários públicos. 
O art. 177 autorizava a aposentadoria dentro do prazo de 60 dias, a contar da data da 
Constituição, isto é. até 10 de janeiro de 1938. Ora. como vê, a faculdade era estritamente limitada no 
tempo e, se continuou a ser aplicada depois, foi por exclusivo arbítrio do Governo. 
A Carta de novembro estabelece, ainda, a responsabilidade do chefe do Governo, 
atribuindo ao Parlamento a faculdade de processá-lo e de destituí-lo do mandato; também assegura aos 
Estados federados a mais completa autonomia. 
Os males que, porventura, tenham resultado para o país do regime inaugurado pelo golpe 
de Estado de 1937 não podem ser atribuídos à Constituição. Esta não chegou sequer a vigorar. E, se 
tivesse vigorado, teria, certamente, constituído importante limitação ao exercício do poder. 
Poderia haver ao lado ou à sombra da Constituição de 1937 ideologias ou individualidades 
fascistas. Eram. porém, fascistas frustes, larvados (no bom sentido latino), sem o fundo das grandes 
culturas históricas, cujo espírito os autênticos fascistas europeus haviam traído, assimilando o seu 
aspecto técnico e dinâmico e esquecendo os seus valores de sentido e direção. 
Mas a Constituição de 1937 não é fascista, nem é fascista a ditadura cujos fundamentos 
são falsamente imputados à Constituição. O nosso regime, de 1937 até hoje, tem sido uma ditadura 
puramente pessoal, sem o dinamismo característico das ditaduras fascistas, ou uma ditadura nos moldes 
clássicos das ditaduras sul-americanas. 
Se a Constituição tivesse sido aplicada, não nos encontraríamos, hoje, no impasse em que 
nos encontramos. Ela poderia ter sido oportuna e pacificamente atualizada, sem que se precisasse de 
recorrer aos expedientes, aos malabarismos e aos sofismas que tanto enfraqueceram o Governo perante a 
Nação". 
 
Trata-se, portanto, de documento destinado exclusivamente a institucionalizar um 
regime autoritário. Não havia a divisão de poderes, embora existissem o Executivo, o 
Legislativo e o Judiciário, visto que estes últimos sofriam nítidos amesquinhamentos2. 
2. Francisco de Assis Alves, As Constituições do Brasil, Revista, cit., p. 38: "Era natural que, pela sua 
índole ditatorial, a Constituição de 1937 conferisse ao Presidente da República poderes em exuberância. 
Por isso, em seu artigo 73, declarou, sem receio de exagero, que o Presidente da República 
era a autoridade suprema do Estado, coordenador da atividade dos órgãos representativos de grau 
superior, dirigente da política interna e externa, promotor e orientador da política legislativa de interesse 
nacional, superintendente e administrador do país. 
Nessa coerência, não havia dispositivo na Carta Forte que dispusesse sobre a divisão de 
poderes. 
Decerto, descabível tal declaração. Já que quase todos os poderes tinham sido atribuídos 
ao Presidente da República, não se conciliaria uma norma desse teor com o poder que o Chefe Supremo 
do Estado enfeixava em sua mão. Além da larga competência privativa que o artigo 74 da Carta de 1937 lhe 
outorgava, o Presidente da República detinha prerrogativas, como as de indiciar um dos candidatos à 
Presidência da República, dissolver a Câmara dos Deputados (quando esta não aprovasse as medidas 
tomadas na vigência do estado de emergência ou do estado de guerra, por ele decretados. O Presidente 
poderia apelar da deliberação da Câmara para o pronunciamento do país, mediante a dissolução da 
mesma e a realização de novas eleições) (arts. 75, b, c/c 167, parágrafo único). 
Afora isso, constituía privilégio do Presidente nomear os ministros de Estado; designar os 
 19 
membros do Conselho Federal reservados a sua escolha; adiar, prorrogar e convocar o 
Parlamento, e exercer o direito de graça (art. 75, f)". 
Pontes de Miranda, "Visão sociológica da Constituição de 1937", artigo publicado na Folha 
de Minas, 5 dez. 1937: "Por mais arraigada que estivesse, entre nós, a convicção de ser o princípio da 
separação dos poderes essencial às Constituições modernas, convicção que, em 1932, denunciáramos 
como superstição, vemos que o legislador Constituinte de 1937 não só riscou o princípio, que nas 
Constituições anteriores se achava, como também adotou a feitura das leis, em parte, pelo Poder 
Executivo, com nome de 'decretos-leis', e permitiu ao Parlamento, por iniciativa do Presidente da 
República, o exame da decisão judicia] que declarou inconstitucional essa lei, golpe profundo na 
separação dos poderes, pois que, confirmada a lei por dois terços de votos em cada uma das Câmaras 
fica sem efeito a decisão do Tribunal. Tecnicamente, para quem se acostumou a observar e classificar os 
fatos relativos à estrutura constitucional dos Estados, temos aí a guarda da Constituição entregue aos tais 
Poderes: ao Poder Judiciário, na apreciação do caso concreto; ao Presidente da República, a cujo juízo se 
deixa submeter ou não o julgamento da lei ao reexame parlamentar; finalmente, ao Poder Legislativo, que, 
por dois terços de votos, se pode manifestar contra a declaração de inconstitucionalidade". 
 
No Legislativo desaparece o Senado e em seu lugar é colocado um Conselho 
Federal, não sendo este, no entanto, o acontecimento marcante. O mais grave, o fato que 
conta, é que o Presidente da República poderia a qualquer momento pôr em recesso o 
Legislativo, ocasião em que todas as faculdades deste poder passavam-lhe às mãos. 
 Quanto ao Judiciário, também sofreu este uma perda substancial no que 
tange ao controle da constitucionalidade das leis já introduzido em nosso direito, mas 
que neste Texto Constitucional se vê reduzido a quase nada. Declarada a 
inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, esta lei é submetida de novo ao 
legislativo, que poderia por maioria de dois terços rejeitar esta decisão, caso em que a 
própria Constituição resultava alterada. 
Nada obstante isto, durante o estado de emergência o Judiciário era posto fora de 
atuação na medida em que não podia conhecer dos atos governamentais nos termos do art. 
170, que dizia: 
"Durante o estado de emergência ou o estado de guerra, dos atos praticados em 
virtude deles não poderão conhecer os Juízes e tribunais". 
A Constituição, portanto, era na verdade uma tomada de posição do Brasil no 
conflito ideológico da época pela qual ficava nítido que o País se inseria na luta contra os 
comunistas e contra a democracia liberal. 
 
2. INAPLICABILIDADE DA CONSTITUIÇÃO DE 1937 
É bem de ver, contudo, que a importância de ser do Texto acabou por não ser 
grande, visto que não houve necessidade de pô-lo realmente em vigor. Esta vigência só 
decorria dos termos do art. 187 que rezava: 
"Esta Constituição entrará em vigor na sua data e será submetida ao plebiscito 
nacional na forma regulada em decreto do Presidente da República". 
Sem embargo, este plebiscito nunca se realizou. Segue-se que, em termos 
jurídicos, a Constituição jamais ganhou vigência, pois na verdade o que prevaleceu 
nesta época foi o chamado Estado Novo, estado arbitrário despojado de quaisquer 
controles jurídicos, onde primava a vontade inconteste do ditador Getúlio Vargas3. 
3. Francisco de Assis Alves, As Constituições do Brasil, Revista, cit., p. 44: "A Carta Fundamental de 1937 
prescreveu em seu artigo 187 que sua vigência iniciava-se em 10 de novembro de 1937, data em que fora 
decretada. Dizia mais, que seria submetida a plebiscito nacional regulável por decreto do Presidente da 
 20 
República.Acontece, porém, que esse plebiscito jamais se realizou. E uma das razões desse 
esquecimento proposital estava em que, após sua realização, haveriam de ser marcadas as eleições ao 
Parlamento Nacional e o mandato do Presidente da República chegaria ao fim. como previa o artigo 175 da 
Constituição. 
Esses dois acontecimentos, em previsão, por certo, estavam bem distantes das 
conveniências presidenciais. O primeiro porque, enquanto não se reunissem a Câmara dos Deputados e o 
Senado Federal que, juntamente com as Assembleias Legislativas dos Estados e as Câmaras Municipais, 
haviam sido dissolvidos por força do artigo 178, o Presidente da República teria o poder de expedir 
decretos-leis sobre todas as matérias da competência legislativa da União, privilégio bem a gosto dos 
Chefes de Governos despóticos. 
Quanto ao término do período presidencial, as razões para seu protraimento são óbvias 
num regime desta índole. 
A par disso, a não-realização do plebiscito fez exsurgir uma trágica conclusão sobre a 
Carta de 1937; ela nunca existiu e o Presidente da República, por isso, exerceu, ao seu tempo, um governo 
de fato. 
Toda obra legislativa desse período coube ao Presidente da República, que a empreendeu 
tanto a nível infraconstitucional como constitucional. As limitações impostas pela Lei Maior foram 
superadas ao sabor do exercício totalitário do poder, que o Presidente Vargas o cultuou à revelia do 
próprio Texto Constitucional". 
 
Isto não quer dizer contudo que não houvesse num ou noutro passo do Texto 
concessões ao que seria um Estado de Direito. Tal conclusão se materializa pela existência de 
plebiscito e pelo extenso rol de direitos individuais. A respeito muito bem observou o saudoso 
Wilson Accioli (Instituições, cit., p. 82), quando demonstrou que mesmo esses dispositivos 
nada mais eram do que também disposições isentas de qualquer repercussão na realidade que 
continuava, de resto, sempre submetida ao jugo de um regime autoritário. Vejamos o seu texto: 
"Interessante observar que a Carta de 1937 aparentava conservar os 
fundamentos basilares da democracia, mantendo inclusive as garantias dos cidadãos no 
elenco da Declaração dos Direitos dos Indivíduos e afirmando no seu artigo 1º a origem 
popular do poder, mas havia na realidade um patente hiato entre o que preconizava a Lei Maior 
e a sua concreta aplicabilidade, tanto assim é que nem se realizou o plebiscito preceituado no 
artigo 187 nem se convocaram eleições imprescindíveis para a composição e funcionamento 
efetivo do Congresso Nacional"4. 
4. Francisco Campos, em entrevista dada ao jornal Correio da Manhã. 3 mar. 1945: "O Ato Adicional não 
corresponde às transformações que se impunham à Constituição. A única modificação introduzida de 
caráter democrático é a eleição direta. Essa modificação, entretanto, não é suficiente para integrar o Brasil 
num regime constitucional de caráter democrático. A ela não se faz uma referência nesse documento. Ora, 
a Constituição é radicalmente contrária à liberdade de opinião. Ela postula, em princípio, essa liberdade, 
mas, logo em seguida, a condiciona e limita em tais termos que acaba por negar o que havia postulado. 
Ela estabelece, com efeito, a censura prévia da imprensa. Ora, o regime da censura prévia é, precisamente, 
o regime da suspensão da liberdade. Não se concebe regime democrático ou representativo em que não 
haja liberdade de opinião. A liberdade de opinião é da substância do regime democrático. De nada vale 
prescrever na Constituição que os órgãos supremos do Estado serão eleitos por sufrágio direto se ao 
mesmo tempo e no mesmo documento se proscreve a liberdade de opinião, sujeitando a expressão do 
pensamento à censura prévia do Governo. 
Reconhecemos que a questão da imprensa é uma das mais graves e das mais delicadas 
que as condições do mundo moderno criaram no domínio político e social. A imprensa de grande tiragem, 
a imensa difusão do papel impresso, dentre massas cada vez mais densas e excitáveis, constitui um dos 
problemas que desafiam a inteligência e a competência dos governos. Será, porém, que a supressão da 
liberdade de opinião constitui a solução adequada do problema? 
 21 
Se constitui, então, não se poderá conciliar a solução com os postulados do regime 
democrático e representativo. Neste caso, o único regime possível será o das ditaduras. Não acreditamos, 
porém, que assim seja. É possível regular a imprensa mediante uma lei adequada que lhe deixe a liberdade 
e tome efetiva a sua responsabilidade. Não pode haver em regime democrático poder irresponsável. 
Quanto maior o poder, tanto maior deve ser a responsabilidade. Que os homens do Governo tenham a 
coragem necessária para fazer uma lei de imprensa que, sem lhe diminuir a liberdade, faça com que, ao 
invés de nociva, ela se tome útil ao bem comum. 
As restrições à liberdade de imprensa vigentes entre nós nos últimos anos contribuíram 
para a degradação cívica, intelectual e moral a que se chegou no Brasil. A liberdade de opinião não é 
apenas um conceito político. É um conceito de civilização e de cultura. Todo o edifício do mundo moderno 
repousa sobre este fundamento. A educação, a investigação, as invenções e os progressos técnicos e 
científicos em todos os domínios somente são possíveis graças a esse postulado sem o qual os povos da 
terra se veriam reduzidos à condição das tribos africanas. Não se concede que um país como o Brasil haja 
vivido tantos anos de privação da liberdade de opinião sem graves danos a sua civilização e à sua cultura. 
É certo que existem evidentes indícios desse dano ao patrimônio histórico da nossa cultura". 
 
Esta situação só viria a encontrar paradeiro com o desfecho havido na Europa 
encerrando-se a 2a Guerra Mundial com vitória das potências ocidentais. Tornava-se assim no 
Brasil o fascismo uma excrecência que cumpria ser logo varrida. Deste papel se incumbiram as 
Forças Armadas no final de 1945, ensejando destarte o estudo e a convocação de nova 
Constituinte que desembocaria na Constituição de 1946. Como nota deste capítulo convém 
trazer à colação o seguinte texto retirado da obra de Francisco de Assis Alves, As 
Constituições do Brasil, Revista, cit., p. 44, ao falar da Supressão de diversas garantias 
individuais durante a Carta de 1937: 
 "Era de se esperar que a Constituição de 1937 criasse restrições aos 
direitos individuais e às suas garantias. Sua origem depunha contra vários princípios de 
obrigatória inclusão nos Textos constitucionais regradores do Regime Democrático, por 
isso nela não foram albergados os princípios da legalidade, da irretroatividade da lei 
nem tampouco o Mandado de Segurança orgulhosamente inaugurado pela Carta Política 
de 1934. Em lugar deles reapareceu a pena de morte para os crimes políticos e para os 
homicídios cometidos por motivo fútil e com extremos de perversidade. O direito de 
manifestação de pensamento foi limitado através da censura prévia da imprensa, teatro, 
cinema e radiodifusão, sendo facultado à autoridade competente proibir a circulação, a 
difusão ou a representação. Nenhum jornal podia, ainda, recusar a inserção de 
comunicados do governo, nas dimensões taxadas em lei; ao diretor responsável seria 
imposta a pena de prisão, e à empresa, aplicada a pena pecuniária; as máquinas e 
utensílios tipográficos utilizados na impressão do jornal constituíam garantia do 
pagamento da multa, reparação ou indenização, e das despesas com o processo nas 
condenações pronunciadas por delito de imprensa. Tudo isso, como prescrito no artigo 
15 da Constituição Polaca, em garantia da paz, da ordem e da Segurança Pública5. 
5. Pontes de Miranda, Comentários à Constituição de 1937, p. 13-4. 
Essa Constituição, dirá Pontes de Miranda, não saiu só do Brasil, veio de outros sistemas, velhos 
e novos, e seria falsear-se-lhe os ditames querê-la separar do mundo e dos seus modelos que — ao contrário do

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