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amor romantico e amor patologico em questão

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143 
Encontro 
Revista de Psicologia 
Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 
Juliana Aguiar de Melo 
Faculdade Anhanguera de Anápolis 
julianamelo.psi@hotmail.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"ESTOU VENDENDO UM REALEJO, QUEM VAI 
LEVAR?" O AMOR ROMÂNTICO E O AMOR 
PATOLÓGICO EM QUESTÃO 
"Je vends un organe, qui va acheter?" l'amour 
romantique et l'état d'amour pathologique 
RESUMO 
Este estudo dedica-se ao tema do amor refletido em duas facetas, tendo 
como ponto de partida o discurso do amor romântico como via de 
promessa para felicidade; e posteriormente o estatuto do amor para a 
psicanálise freudiana ressaltando a incompletude, a configuração 
patológica e, sobretudo, a compulsão à repetição. Neste caminho 
aborda-se a sexualidade como a via pela qual o amor se delineia; 
percurso a que o individuo é submetido e que determina a escolha do 
objeto de amor trazendo em seu cerne os protótipos das relações 
infantis. Enfatiza-se a compulsão à repetição a fim de avalizar o 
movimento inquietante do sujeito em busca de completude ao se 
direcionar a outro para uma parceria amorosa. Examina-se a 
impossibilidade de articulação entre amor e felicidade, fato que confere 
ao amor uma função de encobrir a vivência do indivíduo, e à felicidade 
apenas um episódio. Conclui-se que a patologia do amor não reside na 
relação que o sujeito vive como presente, e sim nas primeiras relações. 
Palavras-Chave: amor romântico; amor patológico; compulsão à repetição; 
psicanálise; felicidade. 
ABSTRACT 
Cette étude est consacrée au thème de l'amour pensé par deux aspects, 
en prenant comme point de départ le discours de l'amour romantique 
comme un moyen de promesses de bonheur, et le statut de l'amour 
dans la psychanalyse freudienne en ressautant le caractère incomplet, la 
configuration pathologique et, surtout, la compulsion de répétition. De 
cette manière, il aborde la sexualité comme le moyen par lequel l'amour 
est délimitée; le parcour que l'individu est soumettre, et qui détermine 
le choix d'objet d'amour qui porte sur les prototypes de sa relation 
infantile de base. Il met l'accent sur la compulsion de répétition afin 
d'avalizer le déménagement déranger le sujet dans la recherche de 
l'exhaustivité est de diriger une autre à une relation d'amour. Il 
examine l'impossibilité d'articulation entre l'amour et bonheur; 
d'amour le fait que confère une fonction de dissimulation de l'existence 
de l'individu, et le bonheur qu'un seul épisode. Il est conclu que la 
pathologie de l'amour ne se situe pas par rapport à la vie tel sujet, mais 
les premières relations. 
Keywords: amour romantique; amour pathologique; psychanalyse; compulsion 
de répétition; bonheur. 
 
Anhanguera Educacional Ltda. 
Correspondência/Contato 
Alameda Maria Tereza, 2000 
Valinhos, São Paulo 
CEP 13.278-181 
rc.ipade@aesapar.com 
Coordenação 
Instituto de Pesquisas Aplicadas e 
Desenvolvimento Educacional - IPADE 
Artigo Original 
Recebido em: 26/12/2010 
Avaliado em: 27/6/2011 
Publicação: 10 de agosto de 2011 
144 "Estou vendendo um realejo, quem vai levar?" o amor romântico e o amor patológico em questão 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
1. INTRODUÇÃO 
O erro é partir da idéia de que existem a linha e a agulha, a moça e o rapaz, e entre um e 
outro uma harmonia preestabelecida, primitiva, de tal maneira que se alguma 
dificuldade se manifesta, só pode ser por alguma desordem secundária, algum processo 
de defesa, algum acontecimento puramente acidental e contingente. 
Jaques Lacan1 
Em todos os tempos, em todos os lugares e entre todos os povos, o amor se faz presente e 
comporta-se como a mais importante mola propulsora da vida. Suas manifestações estão 
presentes nas mais diversas narrativas históricas (mitos, filmes, cantigas, arte, literatura, 
poesia, pintura, teatro, religião etc.). 
Falar de amor também é o objetivo deste estudo e a Psicanálise é convocada na 
tentativa de explicar os mecanismos psíquicos presentes no indivíduo ao se direcionar a 
outro em busca de uma parceria amorosa, e mais; o que mantém esse movimento 
inquietante? Essa é a questão à qual este trabalho pretende, se não responder, produzir 
um espaço de reflexão. Está lançado o convite ao leitor para refletir sobre as facetas do 
amor tempestivamente discutidas. 
“Estou vendendo um realejo, quem vai levar?” 2 no contexto deste trabalho é um 
título, que, no sentido conotativo, faz alusão à disposição por renunciar às mensagens de 
sorte com promessas de felicidade; e coloca em questão o amor romântico e o amor 
patológico, sendo o primeiro só uma faceta imaginária da verdadeira função do amor, e o 
último a denúncia da atuação da pulsão e da vivência das primeiras relações do romance 
familiar. 
A opção por apresentar, nos primeiros capítulos, duas visadas do amor – a 
romântica e a pulsional – deu-se pela constatação de que os indivíduos procuraram, cada 
vez mais, auxílio na clínica psicológica para resolverem seus sofrimentos amorosos. O 
discurso que cada sujeito, sempre queixoso, traz é marcado pela insatisfação com o outro 
amado (a) na dinâmica amorosa. Neste discurso inicial, o que se destaca é que o sonho de 
viverem felizes para sempre está se dissolvendo. Algum distanciamento da ideologia 
romântica acontece quando um sujeito se encontra (ou desencontra?) com o outro. E, mais 
uma vez, o indivíduo se lança em outro amor na tentativa de se curar, porém, repetidas 
vezes, tudo acontece com as mesmas peculiaridades, o novo relacionamento se configura 
como uma série, uma réplica dos anteriores. Diante dessas questões, a proposta é refletir 
sobre quais ideais permeiam a experiência amorosa. 
 
 
1 LACAN, Jaques, O Seminário, Livro 4 – A Relação de Objeto (1956-1956). Rio de Janeiro: JZE, 1995. 
2 Trecho da música “Realejo” de Chico Buarque. Realejo: É uma espécie de instrumento musical portátil cujo fole é 
adicionado por um cilindro movido à manivela, geralmente tem um periquito que pega as cartas com uma mensagem de 
sorte para a pessoa que pediu a musica. 
 Juliana Aguiar de Melo 145 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
O primeiro capítulo lança foco ao tema do amor sob a faceta mais idealizada e 
esférica, no sentido de união perfeita de duas metades. Foi sublinhado o estatuto do amor 
romântico, traçando algumas considerações sobre a história deste conceito e suas 
ideologias, suas atribuições e expectativas herdadas culturalmente. Para este estudo, 
foram consideradas as contribuições de Zimmerman (2010) que articula os diferentes 
contextos e atribuições do amor; e Zalcberg (2007) no que concerne a manifestação do 
amor romântico herdado da civilização; foi considerada a idéia de Rougemont (1988) 
sobre a vivência do fenômeno amoroso no Ocidente e Oriente; e finalmente Jones (1989), 
Gay (1989) que contribuíram com a parte histórica do movimento psicanalítico, 
apontando que, desde o seu nascimento, esta teoria já dialogava diretamente com as 
questões do amor. A idéia central do capítulo é oferecer ao leitor uma reflexão sobre como 
o discurso romântico é afirmado universalmente como via de promessa para a felicidade 
sob um ideal esférico e almejado através do encontro absoluto com o outro, como nos de 
contos de fadas – “Era uma vez (....) e viveram felizes para sempre! FIM” A opção por 
apresentar esta visada do amor romântico se deu pelo fato de que é, justamente, sob estas 
premissas que o discurso do paciente está calcado, pois é na busca (e na insatisfação) deste 
ideal que ele se apresenta à análise. 
No segundo capítulo, a proposta é a reflexão das postulações da obra freudiana 
acerca do fenômenoamoroso abordando alguns pontos principais. Nesse caminho, a 
primeira discussão foi sobre a sexualidade humana como processo pelo qual se estabelece 
a escolha objetal ulterior. Esta reflexão foi norteada pelo texto de Freud (1905) intitulado 
“Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade”. A segunda reflexão abordada foi sobre a 
relação amorosa vista como a tradução mais autêntica e real da crueza da pulsão. Essa 
discussão se acostou basicamente nos “Três Ensaios...” (1905), “Os Instintos e Suas 
Vicissitudes” Freud (1915). O terceiro ponto discutido no capítulo é sobre qual objeto está 
verdadeiramente implicado na escolha amorosa, e o embasamento teórico para esta 
reflexão foram os textos “Sobre o Narcisismo: Uma Introdução” Freud (1914), e 
“Contribuições à Psicologia do Amor” Freud (1910-1918). O que se objetivou recolher 
deste percurso é o que Freud tem a ensinar sobre as motivações para escolha amorosa, 
sobre a inquietante busca do sujeito por sua metade. Sobre a idéia central do segundo 
capítulo, vale observar que visou somente sublinhar uma outra faceta do amor 
depreendida por Freud, sem a intenção de desvendar e/ou sobrepor esta faceta àquela 
romântica descrita no primeiro capítulo. 
Estando circunscritas as articulações do amor romântico e como se dá a escolha 
amorosa para o sujeito freudiano, o terceiro capítulo teve por finalidade ressaltar a 
manutenção do amor em sua constituição subjetiva, abordando alguns aspectos da 
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compulsão à repetição na escolha do objeto de amor. Como ponto de partida, foram 
destacados os textos “Recordar, Repetir e Elaborar” FREUD (1914) e “Além do Princípio 
de Prazer” FREUD (1920). 
Para finalizar este estudo, o quarto capítulo destaca as considerações freudianas 
sobre a impossibilidade de articulação entre amor e felicidade. Estas reflexões foram 
norteadas pelo texto “O Mal-estar na Civilização” de Freud (1930). O capítulo traz como 
recurso ilustrativo do trabalho a discussão do filme: “Comer, Rezar, Amar” (2010). 
2. OS VERSOS DO AMOR ROMÂNTICO: O ENCONTRO 
Tivesse eu os tecidos bordados do paraíso, 
Adornados com luz dourada e prateada, 
Os azuis, sombrios e escuros tecidos 
Da noite e da luz e da meia-luz, 
Eu os estenderia sob seus pés: 
Porém, sendo pobre, tenho apenas meus sonhos; 
Eu estendi meus sonhos sob seus pés; 
Pise suavemente porque você está pisando em meus sonhos. 
Willian Butler Yeats3 
Desde a antiguidade, o amor é objeto de discussão. Este capítulo traz à baila uma 
proposta de reflexão sobre o discurso do amor romântico, que é afirmado universalmente 
como via de promessa para a felicidade sob um ideal esférico e almejado através do 
encontro absoluto com o outro, como acontecem nos de contos de fadas. Os conceitos e os 
breves contextos do amor aqui apresentados não têm como objetivo um estudo profundo 
e completo sobre a história do termo e do movimento do fenômeno amoroso. A opção por 
apresentar esta visada do amor romântico se deu pelo fato de que é justamente sob estas 
premissas que o discurso do paciente está calcado, pois é na busca (e na insatisfação) deste 
ideal que ele se apresenta. 
Na mitologia este ideal de amor se apresenta com o cortejo dos deuses e homens, 
enfocando-se, com bastante propriedade, as vicissitudes do amor, principalmente 
conjugal, em suas várias formas de acontecer e com um misto de sentimentos: ciúmes, 
inveja, ódio, culpa, disputa, ameaças, perversão, assim como se passa nas experiências 
amorosas no mundo todo (ZIMMERMAN, 2010). 
Na interpretação filosófica, o amor é entendido como o bem causado ao ser 
humano, é o entusiasmo que leva a alma à imortalidade. Para Platão, o amor autêntico é 
um élan, a aspiração ao belo e ao bom, liberta do sofrimento e do desejo e conduz a alma 
ao banquete divino (ZIMMERMAN, 2010). 
 
 
3 Trecho da Poesia: “He Wishes For The Cloths Of Heaven”, de Willian Butler Yeats. Tradução de Ricardo Cabús. Título 
Traduzido: Ele deseja os tecidos do paraíso. 
 Juliana Aguiar de Melo 147 
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A visão cristã em relação ao amor reconhece que o amor “puro” e a luxúria estão 
muito próximos. O que se prega é a dissociação entre o amor espiritual e amor carnal, 
sendo que este último é associado ao pecado. Em toda a história da religião, a igreja 
tomou cautelas rígidas, a fim de evitar que o homem se entregue à luxúria e à 
sensualidade, e tenta disseminar a “purificação” afirmando que o sexo – ou amor carnal - 
tem finalidade estrita de reprodução. (ZIMMERMAN, 2010). Com uma influência atuante, 
as religiões tentam exercer esta função reguladora da sociedade, dos modos rústicos e 
agressivos do homem, fazendo apologia ao amor virtuoso, altruísta, e solidário. 
(ZALCKBERG 2007). 
Ainda hoje, no Oriente, o amor não é caracterizado como um pensamento 
autônomo e é sempre relacionado a uma tradição religiosa, derivado de uma ou outra 
doutrina. Ao contrário disso, na civilização do Ocidente, o amor rompe com as práticas 
religiosas e se associa ao erotismo, tomando as vias mais filosóficas. Aqui nasce o amor 
romântico tal como é concebido hoje (ROUGEMONT, 1988). 
O filósofo Rougemont (1988) expõe que o conceito de amor romântico foi 
inventado e herdado culturalmente; e partindo desta concepção defende que, ao passo em 
que o indivíduo acredita neste fenômeno amoroso como um conto de fadas, ele sofre pela 
disparidade entre este ideal e o real. E o insucesso do casamento e da união 
contemporânea homem-mulher é proveniente desta busca idealizada por um amor 
romântico como destino para felicidade. 
Freud (1910) coloca à parte as criações intelectuais, emocionais e estéticas sobre o 
tema do amor por acreditar que essa “licença poética” não reproduz a essência do amor 
tal como ele é, apesar de ser um tema enaltecido pelos poetas e que encanta a humanidade 
há milênios. Então, a Psicanálise é convocada para tentar explicar cientificamente os 
mecanismos psíquicos em jogo na vivência do amor. 
O surgimento da psicanálise está diretamente relacionado com a questão 
amorosa e todo o desenvolvimento da teoria freudiana tem em seu cerne o estatuto do 
amor em sua face mais pulsante. 
Freud durante uma sessão de quarta-feira em 30 de janeiro de 1907 diz: “Nossos 
tratamentos, são tratamentos por amor”, e, durante todo o desenvolvimento da teoria, ele 
conferiu ao amor um caráter central na experiência analítica, desde os primórdios, quando 
em 1880 – 1882, Josef Breuer – um médico aliado e amigo de Freud – trata uma paciente 
histérica, Anna O. (Bertha Pappenheim). Breuer acreditava que o caso de Anna era uma 
neurose de histeria, e ela, ao encenar seus sintomas histéricos através de seu amor 
transferencial por Breuer (explicado mais adiante) “engravida” psicologicamente e o 
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Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
intimida à assumir a paternidade de sua criança. Assustado com as atitudes de Anna, cujo 
sentido sexual ele não reconhecia e ignorou, Breuer abandona sua paciente e refugia-se na 
Itália para uma segunda lua de mel com sua esposa, quem de fato engravida. Chega-se a 
este ponto histórico, que desvia os rumos de Breuer e interrompe a experiência de 
tratamento, que Anna O. nomeou de talking cure - a cura pela palavra - que ainda não é a 
idéia de inconsciente e associação livre, mas apontava que a via já estava aberta. (GAY, 
1989) Éa partir deste encontro de um homem e uma mulher – Josef Breuer e Anna O. – 
que Freud enveredará e, a primeira forma de amor identificado por ele é o amor da 
histérica pelo pai, pois é a seu pai que Anna rende suas mais fiéis homenagens, inclusive 
adoecendo da mesma doença mortal dele, por amor (ZALCBERG, 2007). 
Até aqui, o amor se fez presente e a Psicanálise nasce, evidentemente, a partir de 
uma situação amorosa. O conceito de amor a partir da teoria psicanalítica instaura um 
abismo entre os investimentos (pulsionais) amorosos ligados aos objetos e o conceito de 
amor romântico difundido culturalmente. Que lugar ocupará então o movimento 
romântico e sua articulação do fenômeno amoroso para Freud? 
3. O REVERSO DO AMOR ROMÂNTICO: O DESENCONTRO 
João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que 
amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o 
convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili 
casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. 
Carlos Drummond de Andrade4 
A sexualidade humana que foi proposta por Freud (1905) pouco tem a ver com 
reprodução. Ela é, na verdade, o viés por onde o amor se delineia. O que a psicanálise 
chamou de sexualidade nunca esteve ligado à idéia de uma união dos dois sexos no 
intuito de produção prazer dos órgãos genitais. Para haver este encontro é necessário que 
os indivíduos sejam levados a isso por uma “vontade”, uma “necessidade”; e requer uma 
maturação. E é justamente esta maturação, ou adequação do indivíduo, que faz com que a 
sexualidade humana não se reduza às finalidades de reprodução, ao contrário, ela é 
permeada por paixões, sensações, fantasias, malícias, angústias e culpas (MENEZES, 
2010). 
Quando o conceito de sexualidade era pensado na sociedade como forma de 
garantir a sobrevivência do grupo, dentro de limites estreitos e com finalidade 
reprodutiva, Freud publica em Viena “Os Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade” em 
1905, e fala da sexualidade como a própria essência da atividade humana, estendendo este 
 
 
4 Poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado “Quadrilha”, de 1930. 
 Juliana Aguiar de Melo 149 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
conceito a uma noção psíquica universal e suspende o fundamento anatômico e genital 
(ROUDINESCO, 1998). 
O parágrafo que abre o texto de Freud (1905) sobre a sexualidade já é revelador, 
pois trata do estatuto do objeto ligado à pulsão 5 “chamaremos a pessoa de quem precede 
a atração sexual de objeto sexual e o ato que a pulsão conduz, de objetivo sexual”. 
(FREUD, 1905 p. 136) Na obra freudiana, o campo instintivo é caracterizado 
definitivamente como distinto do pulsional. O que movimenta o animal é a pauta, é o 
instinto, não há subjetividade. O ser humano não funciona de forma natural, instintiva, 
ele é desnaturalizado, pois há subjetividade, há fala (palavra), o que move é a pulsão 
(RUSKAYA MAIA, 2010) 6. 
A pulsão (Trieb), na concepção freudiana, evoca o sentido de impulsão, 
enfatizando-se mais a pressão irrefreável do que a meta final em si; é uma carga de 
excitação que o organismo necessita descarregar. Portanto, “um conceito situado na 
fronteira entre o mental e o somático, [...] representante psíquico dos estímulos que se 
originam de dentro do organismo e alcançam à mente” (FREUD, 1915a, p.142). 
A partir da introdução destes termos, que são inéditos, Freud (1905) discorre 
catalogando as Aberrações Sexuais - fato que causa impacto em seus leitores e 
principalmente aos médicos, que na época, consideravam em geral a homossexualidade 
(inversão), a pedofilia (imaturos sexuais) e a zoofilia (animais) como expressões de 
degenerescência (FREUD, 1905, p. 162). Ao descrever os possíveis desvios em relação ao 
objeto sexual, Freud (1905) tem a intenção de fornecer a idéia de que a sexualidade é 
indeterminada e adquirida, ao contrário do que se pensava, e exige que cada indivíduo 
encontre sua solução levando em conta a necessidade de se adequar às normas e aos 
valores da sociedade. Os insucessos desta adequação existem, e formam os sofrimentos 
neuróticos e seus sintomas, inibições, compulsões, inversões, angústias (FREUD, 1905). 
Para a organização subjetiva da sexualidade é necessário que a criança realize um 
caminho que passa pela satisfação auto-erótica à primazia dos órgãos genitais que é 
pertinente à fase da puberdade. Esta é a idéia central da segunda parte dos “Três 
Ensaios...” onde Freud (1905) sustenta que a sexualidade humana existe desde a infância, 
e não apenas a partir da puberdade. 
As lembranças precoces da infância não ficam retidas na memória, e estão 
dispostas de forma ininteligível, são fragmentadas e esquecidas por volta do sexto ou 
 
 
5 O conceito de pulsão foi empregado por Freud desde 1905, e é definido como a carga energética que se encontra na origem 
da atividade motora do organismo e do funcionamento psíquico inconsciente do homem (ROUDINESCO, 1998). 
150 "Estou vendendo um realejo, quem vai levar?" o amor romântico e o amor patológico em questão 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
oitavo ano de idade. O período anterior a esta amnésia infantil – que ocorre entre o sexto 
ou oitavo ano de vida – é justamente o momento em que a criança está mais suscetível 
diante de impressões, estas que são esquecidas, mas deixam traços profundos e tem 
efeitos determinantes no desenvolvimento subseqüente, pois o adulto manifesta estas 
impressões de maneira vívida. 
Durante a infância, a sexualidade (não restrita a sexualidade genital) é 
exuberante, principalmente, na relação com os pais e com o próprio corpo. Esta primeira 
etapa do desenvolvimento sexual acontece de modo perverso-polimorfo (não se trata de 
estrutura perversa), ou seja, a busca da satisfação pulsional infantil é contingente e seus 
alvos são variados, uma vez que os obstáculos à estas pulsões ainda não foram 
construídos. As pulsões emanam de zonas erógenas por estágios que primeiramente são 
pré-genital – oral e anal – as duas fases ressaltadas por Freud (1905) no texto dos “Três 
Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade”. 
Cada fase da sexualidade infantil implica um modo particular de relação com o 
objeto, sendo que na fase oral tudo gira em torno da boca. No estágio posterior, na fase 
anal, o ânus é erogeneizado (FREUD, 1905). Algum tempo depois Freud (1923) percebe as 
limitações desta primeira tópica para explicar principalmente a relação edipiana que se 
constitui no romance familiar. Ele ressalta uma outra fase componente ao 
desenvolvimento da sexualidade onde a criança começa a perceber as diferenças genitais, 
ele denomina fase fálica – aqui a primazia é do falo. O que ocorre nesse estágio é uma 
antítese entre possuir um órgão genital masculino e ser castrado. Somente após o 
desenvolvimento sexual ter atingido esta etapa, caracteriza-se masculino e feminino, já na 
fase da puberdade. 
No percurso da sexualidade infantil, há uma interrupção por um período de 
latência, não se sabe ao certo a periodicidade deste processo que é sustentado por 
peculiaridades. É durante este período de latência que a direção tomada pela pulsão 
sexual é barrada, pois se constituem a vergonha, a repugnância, a moralidade e as leis 
culturais do tabu ao incesto. Estas forças psíquicas exigem que a criança renuncie tanto à 
sexualidade auto-erótica quanto à atração edipiana pelos pais 7 (FREUD, 1905, p. 181). 
A primeira fase [da evolução de sexualidade] geralmente termina quando a criança está 
comcinco anos de idade, ela descobriu o primeiro objeto para seu o seu amor em um ou 
outro dos pais, e todos os seus instintos [pulsões] sexuais, com exigência da satisfação, 
unificaram-se nesse objeto. A repressão que então se estabelece, compele-a a renunciar à 
 
 
6 Estas contribuições foram extraídas do Café Filosófico, Tema: Sexualidade: O que Freud dizia sobre isso?, proferido pela 
professora Msc. Ruskaya Rodrigues Maia e Leandro Borges. Anápolis, 27 de novembro de 2010. 
7 A primeira vez que Freud faz uma indicação explícita do complexo de Édipo é na carta à Fliess, nº 71 de 15 de outubro de 
1897 (FREUD, 1897, p. 283). A expressão “Complexo de Édipo” só aparece como conceito psicanalítico em 1910, (FREUD, 
1910). As contribuições cronológicas, sobre o breve histórico deste conceito, tem como fonte “Édipo” Psicanálise Passo-a-
Passo 89 da autora Teresinha Costa, ano 2010. Editora Zahar. 
 Juliana Aguiar de Melo 151 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
maior parte desses objetivos sexuais infantis e deixar atrás de si uma profunda 
modificação em sua relação com os pais. (...) os instintos [pulsões] são descritos como 
inibidos em seu objetivo. (FREUD, 1921, p. 141) 
É importante aqui abrir um parágrafo para articular brevemente às teorias 
freudianas a questão do amor evidenciando a marca de defasagem que já é estrutural de 
cada sujeito na relação edipiana. A construção do amor é subjetiva, desde sua vivência no 
romance familiar é marcada por diferenças. A menina, uma vez introduzida no Édipo, já é 
submetida à desidentificação fálica, e terá que se haver para sempre com o “não ter”, com 
a falta, a subtração. Ela não se identifica virilmente com o pai e tampouco conta com o 
suporte imaginário do corpo que o menino possui. A condição do menino na resolução do 
Édipo é bem diferente, pois ele acredita que tem algo a oferecer (ZACLBERG, 2007). A 
insatisfação de cada indivíduo é estrutural, não há objeto que sacia, e é na condição de 
desamparo que se instaura a dependência, desde a mais tenra idade de cada sujeito8. 
Retomando o percurso da sexualidade infantil, ao chegar à fase da puberdade se 
estabelecem os processos para encontrar o novo objeto sexual, para o qual foram feitas 
preparações desde a primeira infância. A escolha do objeto, que traz na bagagem as 
pulsões em busca da satisfação, é uma tentativa de restaurar o que foi perdido pra 
sempre, uma tentativa de recuperação do que lhe foi subtraído. 
A busca do reencontro com este objeto perdido é incessante e inquietante, e é o 
que impulsiona as relações amorosas, e estas funcionam como encobridoras da vivência 
de cada indivíduo de forma singular; em outras palavras, o amor segue o destino da 
sexualidade e é o que há de mais autêntico e real da crueza da pulsão. 
A partir das observações sobre a existência de uma metade que fora perdida para 
sempre, Freud acata as evidências sobre um descompasso, uma defasagem irrecuperável 
entre o sujeito e o seu objeto que possa vir a lhe corresponder nos desfiladeiros da pulsão, 
porém na incompletude. Estas elaborações da psicanálise suspendem a ilusão de que o 
sujeito pode satisfazer-se com seus objetos de forma retilínea e direta, e completa. 
A fim de recuperar este estado anterior, ou seja, a integridade do “eu” o sujeito se 
movimenta. Em (1914a) Freud publica “Sobre o Narcisismo: Uma Introdução”, afirmando 
que o eu é objeto da pulsão sexual, e o amor é pensado como um meio pelo qual o sujeito 
busca se reencontrar com seu narcisismo, seu eu ideal. Fundamentam-se as escolhas 
amorosas de tipo narcísica, e anaclítica. Porém, o que de fato se evidencia é que, mesmo 
na forma anaclítica de amar, o que mais se manifesta é o desejo do sujeito de recuperar o 
amor que teve de seus cuidadores que o elevava a majestade. 
 
 
8 Estas contribuições foram extraídas do Café Filosófico, Amor para a Psicanálise, proferido pela professora Msc. Ruskaya 
Rodrigues Maia (Anápolis, Setembro 2010). 
152 "Estou vendendo um realejo, quem vai levar?" o amor romântico e o amor patológico em questão 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
As crianças amam em primeiro lugar a si próprias, e apenas mais tarde é que aprendem 
a amar os outros e a sacrificar algo de seu eu aos outros. As próprias pessoas a quem 
uma criança parece amar desde o início, no começo são amadas pela criança porque esta 
necessita delas e não pode dispensá-las – por motivos egoístas, mais uma vez. (FREUD, 
1914a, p. 229) 
Nas duas formas de escolha objetal o amor é apresentado muito próximo do eu 
ideal, é o amor do eu que conta, o que acontece de fato é o reencontro com o ideal egóico. 
Isto é “as pessoas se esforçam por atingir como sendo sua felicidade” (FREUD, 1914a, 
p.118). Estar amando é, portanto, uma posição voltada para o “eu”, pois ela implica na 
demanda de ser amado. 
Em 1921, Freud reitera que no ato da escolha amorosa de fato o objeto é 
sucedâneo para algum inatingido ideal do ego. Ama-se na tentativa de conseguir 
perfeição para o próprio ego, como meio de satisfazer o narcisismo. 
Em “Os Instintos e Suas Vicissitudes” Freud (1915a) postula o objeto da pulsão 
como indiferente ou intercambiável para a satisfação: 
O objeto (...) é o que há de mais variável numa pulsão e, originalmente, não está ligado à 
ele, só lhe sendo destinado por ser peculiarmente adequado a tornar possível a 
satisfação. O objeto não é necessariamente algo estranho: poderá igualmente ser uma 
parte do corpo do indivíduo. E pode ser modificado quantas vezes for necessário... 
(FREUD, 1915a, p. 143) 
Em todas as postulações descritas neste capítulo a partir das observações de 
Freud sobre as escolhas objetais, nota-se que a movimentação do indivíduo é sempre uma 
tentativa de reencontrar um objeto perdido. 
Sobre este movimento do sujeito guiado por este objetivo de reencontro, é 
pertinente examinar as considerações freudianas em “Contribuições à Psicologia do 
Amor” (1910-1918) que expressam, sobretudo, a divisão subjetiva e estrutural do sujeito 
que é oriunda da castração, vivência que tende a ser encoberta, obliterada pelas 
representações amorosas. 
O que fica evidenciado no primeiro artigo das Contribuições à Psicologia do 
Amor, intitulado como “Um tipo Especial de Escolha de Objeto Feita pelos Homens” 
(1910) é o amor articulado ao reencontro sempre falho, e repetido, é a tentativa de retorno 
ao mais primitivo objeto já perdido: a mãe. “... [as escolhas] derivam da fixação infantil de 
seus sentimentos de ternura pela mãe e representam uma das conseqüências desta fixação 
(FREUD, 1910, p.152). 
Neste texto Freud (1910) diz que há tipos definidos de escolha de objeto, que são 
estabelecidos por duas pré-condições, que a mulher escolhida pelo homem seja 
comprometida e que seja de má reputação. A primeira destas pré-condições, estabelece 
 Juliana Aguiar de Melo 153 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
que necessariamente deva existir “uma terceira pessoa, prejudicada”9. A mulher escolhida 
nunca é livre e desimpedida, é sempre aquela sobre a qual “outro homem possa 
reivindicar direitos de posse, como marido, noivo, ou amigo”. A segunda pré-condição, 
Freud salienta que talvez seja menos freqüente, mas digna de nota; o que se estabelece é 
um interesse por mulheres que sejam, de alguma forma, “sexualmente de má reputação, 
cuja fidelidade e integridade estejam expostas a alguma dúvida” (p. 150). Freud designa 
este tipo de escolha como amor à prostituta. Sobre a má reputação da mulher escolhida, 
evoca a infidelidade da mãe, que concedeua relação sexual ao pai, e não ao filho. 
O segundo artigo das Contribuições à Psicologia do Amor intitulado “Sobre a 
Tendência Universal à Depreciação na Esfera do Amor” Freud (1912a) demonstra uma 
disparidade existente entre amor e erotismo: 
Toda a esfera do amor, nessas pessoas, permanece dividida em duas direções 
personificadas na arte do amar, tanto sagrada quanto profana. Quando amam, não 
desejam, e quando desejam, não podem amar. Procuram objetos que não precisem amar, 
de modo a manter sua sensualidade afastada dos objetos que amam. (FREUD, 1912a, 
p.166) 
Freud (1912a) nomeia “impotência psíquica” a falha ao tentar combinar 
afetividade (corrente mais antiga) e sensualidade. Esta falha é determinada por uma 
inibição da libido antes de seu completo desenvolvimento. Este é também um dos 
motivos que leva o sujeito à análise (FREUD, 1910, p. 164-166). A impossibilidade de 
articulação destas duas correntes, já designa a ruptura irrecuperável, pois não há 
possibilidade de um encontro perfeito na dinâmica amorosa. 
Diante do exposto, consuma-se a condição de depreciação do objeto, para que o 
sujeito possa se relacionar sexualmente com o que idealiza. O depreciado é sensualizado, 
enquanto o idealizado é amado. Tornam-se claros os motivos dos meninos que degradam 
a mãe ao nível de prostituta, na tentativa de “transpor a distância entre as duas correntes 
amorosas, pelo menos em fantasia e, pela depreciação da mãe, adquiri-la como objeto de 
sensualidade” (FREUD, 1912a, p.167). 
“Para intensificar a libido é necessário obstáculos” (FREUD, 1918, p.171). No 
texto “O Tabu da Virgindade”, terceiro artigo das Contribuições à Psicologia do Amor, 
Freud (1918) sacramentou a idéia da importância da proibição. A tensão que existe entre o 
proibido e a relação sexual é fonte geradora de desejo. (FREUD, 1912a, p. 171) Ao amor é 
instituído algum valor quando há um empecilho. Em épocas primitivas, Freud (1912) 
compara, onde não existiam dificuldades para a consolidação da relação sexual, o homem 
não gozava o amor, “o homem sempre ergueu outros, [obstáculos] convencionais, a fim 
 
 
9 Para explicar a primeira precondição para o amor, Freud apela para o Complexo de Édipo (primeira vez que o termo é 
utilizado como conceito) uma vez que o terceiro injuriado refere-se ao pai. 
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Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
de poder gozar o amor” (FREUD, 1912a, p. 170). O desejo ao objeto se articula, e se 
intensifica com a proibição, a restrição, a frustração. 
O caráter da incompletude é conferido à satisfação da pulsão, pois o objeto final 
da pulsão nunca mais será o original; ele se representa por objetos substitutos, fato que 
explica a inconstância das escolhas. Há um sombrio prognóstico ao relacionar amor e 
felicidade. “é absolutamente impossível harmonizar os clamores de nossas pulsões 
sexuais com as exigências da civilização” (FREUD, 1912ª, p. 172). 
No amor está constituída a essência do desamparo, da falta, assim o sujeito 
emprenha-se em pedir sempre mais do outro. E o que se apresenta, de uma forma 
acentuada nos sujeitos queixosos que chegam à clínica, é o sofrimento advindo do 
desencontro amoroso, da insatisfação das demandas. 
4. O REENCONTRO 
O que tu tens e queres saber (porque te dói), não tem nome. Só tem (mas vazio) o lugar 
que abriu em tua vida a sua própria falta. A dor te dói pelo avesso, perdida nos teus 
escuros. É como alguém que come não o pão, mas a fome. Sofres de não saber o que não 
tens e falta, num lugar que nem sabes, mas que é na tua vida, quem sabe é em teu amor. 
O que tu tens, não tens. 
Thiago de Mello 
A teoria da repetição para a psicanálise freudiana é marcada por dois momentos onde o 
termo aparece como conceito, precisamente, em “Recordar, Repetir e Elaborar” (1914b) e 
“Além do Princípio de Prazer” (1920) obra em que o conceito de repetição é ampliado. 
Porém, o termo surge em diversas ocasiões durante a obra de Freud, e paralelamente, em 
“Projeto para uma Psicologia Científica” (1895). 
Neste texto será esmiuçada a segunda formulação teórica, em que o conceito de 
repetição é ampliado10. Freud (1920) postula no texto “Além do Princípio do Prazer”, a 
existência de algo a mais que intenciona o programa do prazer, e acrescenta alguns 
elementos essenciais à compulsão, que é entendida neste momento, como expressão da 
pulsão. A experiência clínica psicanalítica aponta que nem sempre o aparelho psíquico é 
regido pelo princípio do prazer, ao contrário, despreza - o. Freud reformula que: 
[...] estritamente falando, é incorreto falar na dominância do principio de prazer sobre o 
curso dos processos mentais. Se tal dominância existisse, a imensa maioria de nossos 
processos mentais teria de ser acompanhada pelo prazer11 ou conduzir a ele, ao passo 
que a experiência geral contradiz completamente uma conclusão desse tipo. (FREUD, 
1920, p. 20) 
 
 
10 O surgimento da segunda teoria das pulsões, que baseia-se num conceito de pulsão ampliado, não implica uma rejeição 
ou abandono da teoria anterior. 
11 Prazer se caracteriza por uma diminuição da quantidade de energia que circula pelo psiquismo. 
 Juliana Aguiar de Melo 155 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
O princípio de prazer é uma tendência e não uma dominância; é limitado em 
suas funções, e a compulsão à repetição é poderosa e sobrepuja esta tendência do 
princípio do prazer. O que se constata é que as experiências ligadas ao desprazer12 e 
sofrimento também são repetidas, e fazem com que o sujeito se reencontre com suas 
marcas vivenciais (FREUD, 1920). 
Para esclarecer sobre a repetição reformulada por Freud é necessário evidenciar a 
função que corresponde a esta compulsão. Sugere que esta dinâmica é de ordem 
pulsional. Freud parte de uma redefinição de pulsão que é não mais entendida somente 
como um agente impelidor de mudança e desenvolvimento. É necessário reconhecer uma 
expressão de natureza conservadora das pulsões. Sob este prisma, as pulsões repetem um 
caminho que a levam à morte, um estado inanimado inicial da vida, inorgânico, ao qual 
elas desejam apenas voltar: “O objetivo de toda vida é a morte”. (FREUD, 1920 p. 56) Esse 
caráter regressivo das pulsões foi observado por Freud e articulado diretamente com o 
fenômeno de compulsão à repetição que age na tentativa de atualizar, superar elaborar o 
que foi traumático, recalcado. 
O inconsciente freudiano é movido pela compulsão à repetição, em que a pulsão faz 
uma trajetória regressiva a formas anteriores de satisfação. Deste modo, essas formas 
primitivas de satisfação — nunca totalmente abandonadas — deixam traços mnêmicos 
que funcionariam como uma via de retorno. Para Freud, há um tempo que passa, que se 
dirige para o futuro, e um outro que se dirige para o passado em forma de repetição. 
(COSTA, 2010, p. 2) 
A partir da constatação da compulsão à repetição, Freud (1920) sugere a 
existência desta pulsão que, ao contrário daquela que visa preservar toda substância viva, 
busca dissolvê-las. A pulsão de morte opera no sentido da destruição, ao lado da pulsão 
de vida, e não se manifestam isoladas uma da outra. 
Sonia Vicente (2007) em seu artigo intitulado “Vida e Morte na Psicanálise”, 
relembra que Freud recorreu ao mito grego “O Banquete” de Platão e, chamou a pulsão 
de vida de Eros, que vive em tensão com o seu oposto, Tânatos, ou pulsão de morte. A 
dinâmica de funcionamento pulsional é dualista, ao lado de Eros há Tânatos, ou seja, o 
sujeito freudiano vive sob estasforças, onde a primeira tem função de unir o que foi 
separado, contrariando os aspectos disjuntivos da pulsão de morte. Esta última tem a 
função de conservar, buscar o retorno ao inanimado, a um estado anterior à própria vida. 
Eros é amor e vida, e Tânatos ódio e morte (VICENTE, 2007). 
A partir destas observações notam-se os fracassos e limites do princípio do 
prazer diante da compulsão à repetição aliado à pulsão de morte. A atividade do aparelho 
psíquico não se constitui somente em alcançar o prazer e evitar o desprazer. O amor se 
 
 
12 Desprazer definido como o aumento da quantidade de excitação. 
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Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
articula de modo específico nesta dinâmica, onde o sujeito se serve do amor mesmo sendo 
fonte de desconforto, desprazer e infelicidade. A pulsão de morte, silenciosa – que opera 
no sentido da destruição – que está contida no amor, define-se por esta teimosia 
(repetição) revelada nos movimentos do sujeito ao se direcionar de um a outro, e mais 
outro amor, pelos desfiladeiros da pulsão. E o que ele encontra, na verdade reencontra, é a 
repetição na tentativa de promover o encontro absoluto com o outro, porém há um 
impedimento decisivo, e o que se consuma de fato, sempre e novamente, é a falta 
constitutiva do sujeito. 
5. VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE? 
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado, pensava que, somando as 
compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama 
verdadeiramente. 
Clarice Lispector13 
Será possível amar e ser feliz? Em “O mal-estar na civilização”, que a princípio fora 
intitulado como “A Infelicidade da Cultura”, Freud (1930) postula que o ser humano tem 
como propósito e intenção de vida obter felicidade e feliz permanecer, evitando 
sofrimento e desprazer, e experimentando intensos sentimentos de prazer. Contudo 
Freud destaca as origens do mal-estar; são elas: o corpo (que está fadado à decadência e 
dissolução); o mundo externo (que pode voltar-se contra o sujeito “com forças de 
destruição esmagadoras e impiedosas” (p. 95); e os relacionamentos com os outros 
homens, uma vez que ele engloba os investimentos amorosos feitos pelo sujeito). Para 
Freud (1930) o desprazer e o sofrimento definem as relações humanas. 
Heloisa Caldas (2008), em seu artigo “O Amor Nosso de Cada Dia”, comenta os 
ensinamentos freudianos não se surpreendendo com o fato de que as pessoas estejam 
mais especializadas em evitar o sofrimento (inclusive substituindo satisfações), do que 
esperar a felicidade; quanto a esta ultima o sujeito é amador. Pode-se interpretar que o 
amor não atesta a felicidade; cita Freud: 
Nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos, nunca tão 
desamparadamente infelizes como quando perdemos o nosso objeto amado ou o seu 
amor. Isto, porém, não liquida com a técnica de viver baseada no valor do amor como 
um meio de obter felicidade. (FREUD, 1930, p. 101) 
Voltando ao título deste capítulo, considerando os ensinamentos de Freud e da 
clínica psicanalítica, evidencia-se, sobretudo, que a parceria amorosa traz em sua 
bagagem a crueza das pulsões, e estas sustentam o indivíduo no desamparo. Logo, o amor 
não atesta a felicidade! Cabe novamente a citação de Freud: “é absolutamente impossível 
 
 
13 Escrito por Clarisse Lispector. Título: Perdoando Deus. 
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Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
harmonizar os clamores de nossas pulsões sexuais com as exigências da civilização” 
(FREUD, 1912a, p. 172). O que se evidencia de uma forma acentuada é o sofrimento 
advindo do desencontro amoroso diante das demandas particulares e singulares de cada 
um, pois o amor não sana a falta irrecuperável do desfecho edipiano. Importante destacar 
que a relação amorosa é mediada pelo sintoma de cada um, fato que rege a 
impossibilidade de um encontro absoluto entre os amantes. 
Para finalizar este capítulo, é justo que se apresente um recurso ilustrativo para 
as considerações deste trabalho; a opção é o filme Comer Rezar Amar 14. O próprio título 
do filme já é passível de discussão. Os três verbos são apresentados em voz ativa, como 
sugestão para que a personagem se movimente em busca da satisfação, de preencher um 
vazio. 
Elizabeth (Júlia Roberts) levanta um questionamento já nas primeiras cenas do 
filme. Lembra que Déborah, sua amiga psicóloga fora convidada a dar aconselhamento 
psicológico aos refugiados cambojanos que haviam acabado de chegar de barco à cidade. 
Diante desta missão ela se amedronta, pois os refugiados cambojanos viveram todo tipo 
de sofrimento: genocídios, fome, testemunharam a morte de seus queridos. A questão era: 
O que fazer de efetivo para ajudar esta gente? Deborah se surpreende com a questão que 
os cambojanos queriam desabafar: O Amor. 
Elizabeth (Liz) também está nesta jornada em busca de amar, de falar sobre o seu 
relacionamento. Vive em Nova York com seu esposo e percebe seu casamento 
caminhando rapidamente para o fim diante de uma questão: ela não se vê na relação. O 
casal não compartilha os mesmos projetos e desejos. Há um rompimento de um ideal de 
completude. Há um desencontro! 
Logo após o divórcio Liz assiste no teatro a uma peça de sua própria autoria 
merece uma ênfase e até um recorte da fala da atriz endereçada ao seu amante: 
- Mulher: “Desapareço na pessoa que amo. Sou o membro permeável. Se te amo você pode 
ter tudo, meu dinheiro, meu tempo, meu corpo, minha fala. Assumo suas dívidas, e projeto várias 
qualidades que você nunca imaginou ter. Te darei tudo isso e mais, até eu ficar tão esgotada que só 
poderei me recuperar me apaixonando por outro”. 
Consumida pelo desamparo que ensandece sua existência, Liz lança-se 
novamente noutro amor para se recuperar, suturar se; apaixona-se pelo ator que encena 
no teatro a sua fantasia de ideal de amor. Esta cena ilustra bem o que Freud em 1930 
 
 
14 Titulo original: (Eat Pray Love), lançamento: 2010 (EUA), direção: Ryan Murphy. Atriz: Julia Roberts (Elizabeth), duração: 
133 min, gênero: Drama 
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Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
propõe com a questão da felicidade episódica, e a incapacidade da infelicidade para quitar 
a satisfação pulsional do sujeito. 
Liz reflete sobre seu novo amor fazendo uma analogia, pois sente que mergulhou 
rapidamente nos braços de seu amado, assim como um personagem de desenho animado 
pula de um trampolim e mergulha em um copo de água, submergindo totalmente. Afinal, 
amar é desaparecer na pessoa que se ama! 
O que insiste em vir à tona é a incompletude, e mais uma vez Liz não se vê na 
relação com seu novo objeto de amor, percebe que não pertence mais àquela nova relação. 
O amor também é episódico, mal Liz está no amor, e ela não está mais. O desejo é buscar 
sempre e novamente por algo que ela não consegue nem ao menos nomear e identificar, 
algo que lhe traga o sentido, posto que o amor tirou-lhe os sentidos inclusive o apetite, o 
prazer em comer. 
Liz decide seguir outra necessidade imperativa: comer. Talvez na tentativa de 
sanar o que não se sana com o amor, o vazio estrutural. Desiste do amor que representa 
um bilhete premiado para a felicidade e decide comprar outros três bilhetes para “fugir” 
do mal-estar do amor. O primeiro bilheteà leva para Itália, Liz quer aprender uma outra 
língua, e comer com prazer. 
O passeio em Roma traz outra analogia. Liz vai ao palácio que fora construído 
pelo Imperador Octávio Augusto com a finalidade de guardar suas coisas. Com a chegada 
dos bárbaros, o que para O Grande Augusto parecia um mundo, transformara-se em 
ruínas, e Roma cresceu em volta destes escombros como uma ferida preciosa, um antigo 
amor que não se pode esquecer. Tudo foi destruído, queimado, adaptado, mas continua 
sendo o palácio de Octávio Augusto. O medo que consome Liz é justamente a 
possibilidade de suas construções se tornarem ruínas, e ao pensar neste seu medo se 
tranqüiliza e entende que de fato as ruínas são um presente, o caminho para a 
transformação. Em O mal-estar na civilização, Freud (1930) explica que o inconsciente é 
atemporal e compara a vida mental com a cidade de Roma, a cidade eterna. Onde o 
desenvolvimento da grande metrópole se mescla com as ruínas do passado. Na vida 
psíquica nada é destruído com o tempo e as primeiras fases do desenvolvimento, ou seja, 
a sexualidade, mostram-se intactas, e “o elemento primitivo se mostra preservado ao lado 
da versão transformada que dele surgiu” (FREUD, 1930, p. 77). 
Retomando a trama, Liz pega o seu segundo bilhete e vai à Índia, em busca de 
sentido, e se encoraja para atravessar as suas ruínas, seguir um outra sugestão: rezar. No 
filme o sentido de rezar não está ligado a uma religião/religiosidade, e sim à busca pela 
devoção à alguém. 
 Juliana Aguiar de Melo 159 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
Já no início de sua estadia um morador da ashram a adverte que se a intenção é 
buscar paz, “para chegar ao castelo é necessário nadar pelo fosso”. Liz percebe que a 
passagem pela Itália lhe trouxe felicidade e prazeres, porém temporários; chega à Índia e 
continua a se sentir desconexa, e além de notar que não superou o fim de seu 
relacionamento, entende que mesmo na ausência física de seu objeto de amor, os 
sentimentos permanecem. Liz sente-se em luto. Lembra que a música que tocou na 
cerimônia de seu casamento não era a canção que eles esperavam; ela ficou estática 
enquanto seu amado aceitou a dança que lhes foi proposta. Liz revive esta cena durante as 
tentativas de elaborações, aceita que pensar em seu relacionamento é pensar em si. 
Liz entende a necessidade de elaborar o luto de seu primeiro amor dando um 
outro desfecho para sua história, perdoando-se. Assim, sente-se pronta para usar o seu 
terceiro bilhete rumo a Bali, que é considerado o centro do universo, está em busca do 
equilíbrio. Nesta caminhada Liz encontra um novo objeto de amor. 
No filme as sugestões: comer, rezar e amar não se articulam, não acontece 
concomitantemente. Quando o novo amado de Liz aparece é para tirá-la de sua estrada, 
de seu rumo. E ao ser convocada a assumir um relacionamento ela se recusa, tem medo 
das ruínas, do amor, e do desequilíbrio. Hipoteticamente, amar para Liz significa sair do 
equilíbrio que ela tanto buscou rezando. Ou Liz sacia sua fome física, ou se enche de 
respostas, ou ama renunciando assim o seu equilíbrio. 
A ilustração mais pertinente do filme para este trabalho é sobre o movimento 
incessante do sujeito ao amor como tentativa de reparar o vazio estrutural. É evidente que 
apesar de o amor causar desprazer, é também ele que vem ocupar o lugar da falha de 
satisfação. 
6. SOBROU DESSE NOSSO DESENCONTRO UM CONTO DE AMOR SEM PONTO 
FINAL15 
Desejo que você tenha a quem amar, e quando estiver bem cansado, ainda exista amor 
pra recomeçar. 
Frejat 
Retomando o percurso deste trabalho sobre os discursos do amor, não há intenção de 
sobrepor a ideologia do amor freudiano àquela romântica; a proposta é de reflexões. É 
sabido que o amor romântico permeia de alguma forma as fantasias de cada indivíduo. 
Esta ideologia se faz presente no discurso do paciente, e num primeiro momento é o que 
dá andamento à fala. E quando o sujeito se põe a falar, os furos aparecem. 
 
 
15 Trecho da música “Desencontro” de Chico Buarque. 
160 "Estou vendendo um realejo, quem vai levar?" o amor romântico e o amor patológico em questão 
Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 13, Nº. 18, Ano 2010 • p. 143-162 
Ainda em se tratando dos objetivos deste estudo, é pertinente expor que uma das 
metas seria conceituar amor patológico como uma idéia universal, se possível, com todo 
um critério de avaliação, diagnóstico, e prognóstico; para tanto seria necessário 
primeiramente esmiuçar o conceito de amor “normal”. Contudo, não foi possível dar este 
desfecho a nenhuma das duas condições; não pela via da Psicanálise. 
Surgiu uma nova questão: onde reside a patologia que se evidencia na relação 
amorosa, se não é no amor? Com base nos ensinamentos de Freud que foram propostos 
neste estudo, sabe-se que a experiência amorosa traz os protótipos dos primeiros amores, 
“quando amamos, não fazemos mais do que repetir o reencontro com o objeto 
fundamental, objeto anterior à barreira do incesto, ora substituído por outro” (FREUD, 
1910, p.18). Então o sujeito “adoece” singularmente de seu romance familiar, de suas 
primeiras relações e renúncias. 
É no romance familiar que está o drama. O que se evidenciou no percurso dos 
estudos sobre a sexualidade é que desde o início da vida o ser humano se encontra num 
estado de completa dependência de outro: a mãe, que se torna fundamental e detentora 
de poder (ela decreta, sentencia, fala). Desta época ficam marcas que o sujeito revive ao 
longo da vida, incluindo as primeiras angústias. De fato, o homem e a mulher se 
inscrevem de maneira diferente e indelével no amor, pois desde a vivência da situação 
edipiana a menina nota que falta algo para defini-la como mulher, assim ela terá que se 
voltar para a mãe para construir sua própria feminilidade a partir desta relação, uma vez 
que o pai não faz da filha uma mulher (o que não significa que o pai não participe). O 
menino se identifica com o pai, e sai do Édipo como portador do falo, e acredita ter algo a 
oferecer a mãe e às mulheres que a sucedem. Desta relação com os primeiros objetos de 
amor surgem as primeiras marcas. Cada sujeito se aproxima do outro para amar da forma 
pela qual subjetivou a sexualidade vivida nessas relações infantis. 
De maneira geral, pode-se concluir que em meio às divergências entre amor e 
desejo existem infinitas possibilidades para sujeito – homem ou mulher – direcionar-se ao 
outro, sendo que o sofrimento e a patologia não surgem no momento em que o sujeito se 
enamora, e sim quando ele se constitui. 
Quando o sujeito se coloca em análise, algo de otimista surge, a despeito de o 
amor ter funcionado encobrindo a vivência do sujeito, é também por estas vias, 
justamente pelas ruínas, que a transformação acontece. Quando o amor se coloca em cena 
no processo de análise, este aparece como a mola operadora do processo – lugar por onde 
circula a alternativa de cura. Surpreendente! Anuncia Freud: “nossa construção só é eficaz 
porque recupera um fragmento de experiência perdida” (FREUD, 1937, p. 303). 
 Juliana Aguiar de Melo 161 
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Além desta contribuição teórica acerca do amor enquanto sintoma analítico e via 
de cura, é importante retomar a questão da tentativa de conceituar amor patológico, pois é 
daqui que surge uma outra contribuição de ordem prática para a idealização de novas 
pesquisas psicanalíticas sobre o tema. Quando se pensa em sofrimento na relação amorosa 
(dificuldade de aplacar, partição, ruptura, ciúmes, medo e conflitos), existe uma tendência 
em classificaro amor patológico como um transtorno, um termo psiquiátrico. Porém, é 
impossível enumerar e classificar universalmente sofrimentos que são tão peculiares, 
mesmo porque a psicanálise é subversiva a estas rotulações - isso em nome da 
singularidade de cada um. 
Por fim, as idéias iniciais para o desenvolvimento deste trabalho se acostaram na 
psicologia, foram se delineando com a psicanálise freudiana e deixam como proposta 
futuras investigações a partir da teoria psicanalítica lacaniana. 
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162 "Estou vendendo um realejo, quem vai levar?" o amor romântico e o amor patológico em questão 
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Juliana Aguiar de Melo 
Psicóloga pela Anhanguera Educacional – 
Unidade Anápolis. Membro da Delegação Geral 
GO/DF de Psicanálise – EBP.

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