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TRABALHO DE DIREITO CIVIL

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1 . INTRODUÇÃO
Em se falar em terras no Brasil, devemos nos remeter a um breve histórico desde o período de colonização, onde as terras pertenciam à Coroa que adotou um sistema de concessão de terras, para distribuí-las, que são as sesmarias, por conta das capitanias hereditárias. Essa distribuição era feita aos colonizadores em largas extensões territoriais, sendo estes obrigados a medi-las, demarcá-las e dar cultivo, ou seja, dar função às terras sob a pena de ter que devolver à Coroa - essas terras eram consideradas patrimônio dos Reis que passavam aos seus súditos para que dessem finalidades diferentes com base em condições previamente estabelecidas para continuar como posseiro da terra - tornando-se desta forma uma relação de dominação com as colônias. Todas as terras que não foram trespassadas ou que fossem revertidas, novamente, à Coroa eram consideradas terras devolutas.
A partir daí houve um momento de transição entre o Brasil Colônia e o Brasil Império que demarcou o início de processo de correção que fora cometidos durante o período colonial – nas concessões das sesmarias – com a criação em 1850 da Lei de Terra – Lei 601 de 1850. Esta Lei estabelecia que a única forma de alienação de terras públicas seria a venda, dentre outras disposições, deixando de ser apenas um privilégio trazido pela Coroa e passando a ser encarada como uma mercadoria que gera lucros.
Permeando pelo Período Republicano, onde podemos perpassar por nossas Constituições, as terras ganharam mais visibilidade pois o país precisava sistematizar, organizar e regulamentar a posse de terras publicas, passando estas a domínio da União, Estados e Municípios.
2. DAS TERRAS DEVOLUTAS
Ao conceituarmos terras devolutas, nos remeteremos o que dispõe o artigo 3º da Lei 601 de 1850:
“Art. 3º São terras devolutas: 
§ 1º As que não se acharem aplicadas a algum uso publico nacional, provincial, ou municipal. 
§ 2º As que não se acharem no domínio particular por qualquer titulo legitimo, nem forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial, não incursas em comisso por falta do cumprimento das condições de medição, confirmação e cultura. 
§ 3º As que não se acharem dadas por sesmarias, ou outras concessões do Governo, que, apesar de incursas em comisso, forem revalidadas por esta Lei. 
§ 4º As que não se acharem ocupadas por posses, que, apesar de não se fundarem em titulo legal, forem legitimadas por esta Lei.” 
Ou seja, são terras que achavam vagas, inutilizadas, que não tinham uma destinação adequada nem pelo Poder Publico, nem por particulares.
Com a Constituição Republicana de 1891 as terras devolutas foram repassadas aos estados membros, conforme se pode vislumbrar na interpretação do artigo 64, desta:
“Art 64 - Pertencem aos Estados as minas e terras devolutas situadas nos seus respectivos territórios, cabendo à União somente a porção do território que for indispensável para a defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro federais.
Parágrafo único - Os próprios nacionais, que não forem necessários para o serviço da União, passarão ao domínio dos Estados, em cujo território estiverem situados.”
Desta forma a União reserva apenas para si as terras indispensáveis à defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro federais, que não passaram ao domínio dos estados.
Passa-se, então, um longo período de tempo sem que as Cartas Magnas de 1934 e 1937, trouxessem em seu texto a explicitação do termo terras devolutas como bens que pertencem à União. 
Constituição Federal de 1934, em seu artigo 20 não traz em seu texto qualquer menção sobre terras devolutas:
“Art 20 - São do domínio da União:
I - os bens que a esta pertencem, nos termos das leis atualmente em vigor;
II - os lagos e quaisquer correntes em terrenos do seu domínio ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países ou se estendam a território estrangeiro;
III - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas fronteiriças.”
Após este lapso temporal sem que sejam se quer mencionadas nos textos constitucionais anteriores, a Constituição Federal de 1946, incluiu as terras devolutas entre os bens da União, conforme observado pela leitura do art. 34:
“Art 34 - incluem-se entre os bens da União:
I - os lagos e quaisquer correntes de água em terrenos do seu domínio ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limite com outros países ou se estendam a território estrangeiro, e bem assim as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países;
II - a porção de terras devolutas indispensável à defesa das fronteiras, às fortificações, construções militares e estradas de ferro.”
Em 1964 foi criada a Lei nº 4.504 regula os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis rurais, para fins de Reforma Agrária e promoção da Política Agrária, o Estatuto da Terra, que estabelece que o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária deva promover a discriminação das áreas ocupadas por posseiros, para a progressiva regularização de suas condições de uso e posse da terra, providenciando a emissão dos títulos de domínio (art. 97, I). Para tanto o possuidor precisa preencher os requisitos indispensáveis da cultura efetiva e da morada habitual.
Em 1976, para que houve um meio mais eficaz e legal para discriminar o que se tratava de terra particular e terra devoluta, através de ações discriminatórias, que é um processo destinado a assegurar a discriminação e delimitação de terras devolutas da União e dos estados-membros, além de separá-las das terras particulares e de outras terras publicas.
Com essa regularização, tratada na Lei 6383 de 7 de dezembro 1976, - que dispõe sobre o Processo Discriminatório de Terras Devolutas da União, e dá outras Providências – regulamentando e fomentando a agricultura, o agronegócio, gravitando sobre toda a matéria em torno da terra legal e produtiva.
Assim em seu artigo 29, nos revela que os ocupantes de terras públicas que as tenha tornado produtivas e de sustento à sua família farão jus à legitimação da posse, descrito da seguinte forma:
“Art. 29 - O ocupante de terras públicas, que as tenha tornado produtivas com o seu trabalho e o de sua família, fará jus à legitimação da posse de área contínua até 100 (cem) hectares, desde que preencha os seguintes requisitos:
I - não seja proprietário de imóvel rural;
II - comprove a morada permanente e cultura efetiva, pelo prazo mínimo de 1 (um) ano.
§ 1º - A legitimação da posse de que trata o presente artigo consistirá no fornecimento de uma Licença de Ocupação, pelo prazo mínimo de mais 4 (quatro) anos, findo o qual o ocupante terá a preferência para aquisição do lote, pelo valor histórico da terra nua, satisfeitos os requisitos de morada permanente e cultura efetiva e comprovada a sua capacidade para desenvolver a área ocupada.
§ 2º - Aos portadores de Licenças de Ocupação, concedidas na forma da legislação anterior, será assegurada a preferência para aquisição de área até 100 (cem) hectares, nas condições do parágrafo anterior, e, o que exceder esse limite, pelo valor atual da terra nua.
§ 3º - A Licença de Ocupação será intransferível inter vivos e inegociável, não podendo ser objeto de penhora e arresto.
Art. 30 - A Licença de Ocupação dará acesso aos financiamentos concedidos pelas instituições financeiras integrantes do Sistema Nacional de Crédito Rural.”
Desta forma, a destinação das terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária dando  legitimação da posse sobre terras proporcionando às pessoas mais carentes o acesso à cidadania e às condições necessárias para a garantia de uma vida digna, através da efetivação do direito à moradia.
Na Constituição de 1988, o seu texto prevê em seu artigo 20 a inclusão entre os bens pertencentes à União "as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental".
As demais terras devolutas pertencem aos Estados, tratada no artigo 26 da CF:
“Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: 
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; 
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros; 
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; 
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.”
O Código Civil de 2002, que trata da classificação de bens públicos, incluindo entre eles as terras devolutas, traz na luz de seu art. 99, a classificação dos bens públicos em três categorias:
Art. 99: São bens públicos:
“I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado.”
Para alguns doutrinadores, as terras devolutas são classificadas como bens dominicais, sendo destinadas ao destinadas ao uso comum ou especial, podendo ser incluídas na classe de bens dominicais, pertencentes à União, exclusivamente as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, remanescendo as demais dentro da órbita patrimonial.
Sendo assim, o novo Código Civil, por uma interpretação do antigo Código Civil, se tornou pacificada através da Súmula 340 do STF, in verbis: “Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião”, como também podemos encontrar descrito no artigo 101 do Código Civil de 2002, que afasta os bens dominicais da regra de inalienabilidade e no artigo 102, do referido Código que aponta expressamente que “os bens públicos não estão sujeitos a usucapião”. Por fim, enquadra-se as terras devolutas na classe dos bens públicos, não há como se afastar que lhe incida o artigo 101 e 102 do novo código civil, impossibilitando a sua aquisição por usucapião
3. CONCLUSÃO
Em relação ao estudo feito, podemos concluir que as terras devolutas são verdadeiros bens públicos dominicais, não possuindo destinação típica de bens de uso comum ou de uso especial, e podendo, na forma do artigo 101 do novo código civil, ser alienadas, “observadas as exigências da lei”, desde que respeitada a compatibilidade da alienação com a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária, tendo sua função social cumprida.
Também, cabe salientar, que sendo bens públicos, não são as terras devolutas sujeitas a usucapião, por expressa disposição do artigo 102 da codificação civil..
4. BIBLIOGRAFIA
AMORIM, Karolynne Silva. A LEGITIMAÇÃO DA POSSE SOBRE TERRAS DEVOLUTAS. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2618, 1 set. 2010. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/17310>. Acesso em: 26 maio 2016.
SECRETO, Maria V. LEGISLAÇÃO SOBRE TERRAS NO BRASIL DO OITOCENTOS:DEFININDO A PROPRIEDADE. Raízes, Campina Grande, vol. 26, nºs 1 e 2, p. 10–20, jan./dez. 2007. Disponível em:< http://www.ufcg.edu.br/~raizes/artigos/Artigo_185.pdf>. Acesso em: 24 de maio de 2016.
CARNEIRO, Cláudia Aparecida Maciel. Bens públicos e terras devolutas. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVIII, n. 135, abr 2015. Disponível em: <http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=15895&revista_caderno=7>. Acesso em maio 2016.
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BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL 1934. Disponivel em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm> Acesso em 20 de maio de 2016.
BRASIL. Lei 601 de 18 de setembro de 1850(Lei de Terras). Dispõe sobre as terras devolutas do Império. Disponivel em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L0601-1850.htm> Acesso em 20 de maio de 2016.
BRASIL. Lei 4504 de 30 de novembro de 1964. ESTATUTO DA TERRA. Disponivel em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4504compilada.htm> Acesso em 20 de maio de 2016.
BRASIL. Lei 6383 de 27 de dezembro de 1976. PROCESSO DISCRIMINATÓRIO DE TERRAS DEVOLUTAS DA UNIÃO. Disponivel em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6383.htm> Acesso em 20 de maio de 2016.
Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 1a edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil .

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