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(Yanka Arntzen) SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA É a suspensão da execução da pena privativa de liberdade imposta sob determinadas condições. Visa reeducar criminosos, impedindo que os condenados a penas reduzidas sejam privados de sua liberdade. “Não só constitui um substitutivo penal das penas privativas de liberdade, como também um meio de eficácia educadora, pois, durante o período de prova, o condenado se habitua a uma vida ordenada e conforme a lei.” De um modo geral, todo condenado à pena privativa de liberdade não superior a dois anos poderá tê-la suspensa, desde que preencha os requisitos ou pressupostos previstos no art. 77 do CP. Natureza jurídica: - 1ª posição: trata-se de um direito público subjetivo do sentenciado. O juiz não pode negar sua concessão ao réu quando preenchidos os requisito legais; no entanto, resta ainda alguma discricionariedade ao julgador, quando da verificação do preenchimento dos requisitos objetivos e subjetivos, os quais devem ficar induvidosamente comprovados nos autos, não se admitindo sejam presumidos. Posição de Fernando Capez. - 2ª posição: faculdade do juiz, uma vez que se trata de modo alternativo de cumprimento de penas. JUSTIFICATIVA: Pela redação do art. 77 do Código penal, somos induzidos, equivocadamente, a acreditar ser uma faculdade do juiz, pois o mencionado artigo diz que a execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 anos, poderá ser suspensa, por 2 a 4 anos... A lei penal usa a expressão poderá ser suspensa, sugerindo ser uma faculdade do juiz. Contudo, esse não é o melhor entendimento. Isso porque o art. 157 da Lei de Execução Penal determina que o juiz ou tribunal, na sentença que aplicar pena privativa de liberdade, na situação determinada pelo seu art. 156 (O juiz poderá suspender, pelo período de 2 a 4 anos, a execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 anos, na forma prevista nos arts. 77 a 82 do Código Penal), deverá pronunciar se motivadamente sobre a suspensão condicional, quer a conceda quer a denegue. Conclusão: Trata-se de direito subjetivo do condenado, e não simples faculdade do julgador, pois conforme já decidiu o STF, “o réu tem direito à suspensão condicional da pena, se preenchidos os requisitos legais”. Pressupostos: a) Objetivos: I- Natureza jurídica e quantidade da pena: Restringe-se às penas privativas de liberdade. Não pode ser concedida as penas restritivas de direito nem nas penas de multa. Pena igual ou inferior a 2 anos. Deve se levar em consideração o quantum final da pena, assim em casos de concurso de crimes não se despreza o acréscimo para efeito de consideração do limite quantitativo da pena. Logo se com o acréscimo a pena ficar superior a 2 anos não terá direito ao sursis. Na hipótese de crime contra o meio ambiente, admite-se o benefício desde que a pena privativa de liberdade não exceda a 3 anos (Lei n. 9.605/98, art. 16). II- Impossibilidade de substituição por pena restritiva de direitos: A suspensão condicional é subsidiária em relação à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito (CP, art. 77, III, c/c o art. 44), pois “só se admite a concessão do “sursis” quando incabível a substituição da pena privativa de liberdade por uma pena restritiva de direito, conforma preceitua o art. 77, inciso III, do CP. Assim, torna-se obrigatória a substituição de penas privativas de liberdade por uma das restritivas de direito, quando o juiz reconhece na sentença as circunstâncias favoráveis do art. 59, bem como, as condições dos incisos II e III do art. 44 c/c seus parágrafos, todos do CP, caracterizando direito subjetivo do réu. b) Subjetivos: I- Não reincidência em crime doloso: De acordo com o art. 63 do CP, só há reincidência nos casos em que o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que condenar o agente. Assim, é possível que a suspensão condicional da pena seja aplicada ao réu que já foi anteriormente condenado, desde que a sentença condenatória (do crime antecedente) transite em julgado após o cometimento do crime pelo qual está sendo julgado e com base no qual se está concedendo o sursis. Nesses casos, é bom que se antecipe, tratando-se de condenação por crime doloso, o sursis deverá ser obrigatoriamente revogada (art. 81, I do CP); e, tratando-se de condenação por crime culposo, por contravenção, a revogação do sursis será facultativa (art. 81, §1º do CP). Vale lembrar que é possível a concessão àquele que, condenado anteriormente, só cometeu o ilícito (com base no qual o sursis poderá ser concedida) após o decurso do prazo de cinco anos, contados a partir da data do cumprimento ou extinção da pena do delito antecedente, computado o tempo do sursis ou do livramento condicional anteriores (art. 63 do CP). O sursis também poderá ser concedida ao condenado reincidente em crime culposo, independentemente de ambos os crimes (antecedente e posterior) ou só um deles configurar crime de tipo culposo. II- Prognose de não voltar a delinquir: O segundo pressuposto subjetivo reporta-se as Circunstâncias Judiciais do art. 59/CP, à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social e personalidade do agente, bem como, aos motivos e às circunstâncias (art.77, II do CP). Dessa forma, mesmo que o agente não seja reincidente, condenações anteriores ou envolvimento em inúmeros processo-crimes podem, se assim o entender o juiz, impossibilitar a concessão da suspensão condicional da pena. Esses elementos têm a delicada função de subsidiar a previsão da conduta futura do condenado, que, se for favorável, isto é, de que provavelmente não voltará a delinquir, autorizará a suspensão da execução da pena imposta. Se, ao contrário, essas condições demonstrarem que provavelmente voltará a praticar infrações penais, a execução da pena não deverá ser suspensa. Basta que as circunstâncias, no geral, não sejam desfavoráveis de modo a criar dúvidas fundadas sobre a possibilidade de o condenado voltar a delinquir. OBS: A decisão que conceder ou negar o sursis terá de ser fundamentada. Espécies: a) Sursis simples ou comum: é aplicada quando a pena de prisão é igual ou inferior a 2 anos; e quando não houver cabimento da substituição da prisão por pena alternativa; não ser reincidente em crime doloso (salvo pena de multa); e a culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade, motivos e circunstâncias do crime indicar o réu ser merecedor do benefício. No primeiro ano do período de prova o condenado fica sujeito a prestação de serviço à comunidade ou a limitação de fim de semana (art. 78, §1º, do CP). Pode ainda o juiz aplicar quaisquer condições, desde que adequadas ao caso concreto, à situação pessoal do agente e que não violem direitos fundamentais dos cidadãos. b) Sursis especial: o condenado fica dispensado do cumprimento das já referidas prds e fica sujeito a condições mais brandas, previstas cumulativamente (não podem mais ser aplicadas alternativamente, em face da lei n. 9.268/96) no art. 78, §2º, do CP (a) proibição de frequentar determinados lugares; b) proibição de se ausentar da Comarca sem prévia autorização do juiz; e c) comparecimento pessoal e obrigatório em Juízo, mensalmente para informar e justificar suas atividades). Além dessas condições, tanto o sursis simples como o especial podem ter outras a critério do juiz, que são chamadas de condições jurídicas. Para ficar sujeito a essas condições favoráveis, o sentenciado deve, além de preencher os requisitos objetivos e subjetivos normais, reparar o dano(salvo impossibilidade de fazê-lo) e ter as circunstâncias judiciais do art. 59 inteiramente favoráveis para si. Assim, os requisitos para o sursis simples e o especial acabam sendo, na prática, idênticos. Diferença mesmo, só nas condições impostas. OBS: O sursis, nesta espécie, será sempre mais benigna do que qualquer prd ou mesmo do que a pena pecuniária, qualquer que seja seu valor. c) Sursis etário: é aquele concedido para o condenado maior de 70 anos (e preencher os demais requisitos do sursis simples) a data da sentença concessiva. É cabível se a pena for igual ou inferior a 4 anos. O período de prova também aumenta: 4 a 6 anos. d) Sursis humanitário ou por razões de saúde: com a entrada em vigor da Lei n. 9.714/98, estendeu-se o benefício também para os condenados cujo estado de saúde justifique a suspensão, mantendo-se os mesmos requisitos do sursis etário (porém não precisa ser maior de 70 anos). Deve ser aplicado para os casos de doentes terminais (doença terminal é utilizada para designar o estágio da doença em que não há mais possibilidade de se restabelecer a saúde, evoluindo para a insuficiência de órgãos-alvo e iminência de morte). Cumulação das condições do “sursis” especial no “sursis” simples: inadmite-se. Pois o §2º do art. 78 do CP estatui que a condição do §1º poderá ver-se substituída, logo não pode o juiz impor ao mesmo tempo como condições do sursis as previstas nos §§ 1º e 2º daquele artigo, pois a substituição opõe-se à cumulação. Condições do sursis Podem ser: a) Legais: previstas em lei. São as do sursis simples (art.78, §1º) e as do especial (art. 78, §2º). b) Judiciais: são impostas livremente pelo juiz, não estando previstas em lei (CP, art. 79). Devem porém, adequar-se ao fato e as condições pessoais do condenado. Cite-se como exemplo a obrigatoriedade de frequentar curso de habilitação profissional ou de instrução escolar. Período de prova É o prazo em que a execução da pena privativa de liberdade imposta fica suspensa. O lapso temporal em que o beneficiário tem a execução da pena suspensa. O período de prova deve ser fixado segundo a natureza do crime, personalidade do agente e intensidade da pena, não podendo o juiz, senão em hipótese excepcional, estabelecê-lo no prazo máximo. E se for fixado acima do limite mínimo a decisão deve ser devidamente fundamentada. O sursis só pode começar a correr depois que a decisão condenatória transitar em julgado. A revogação do sursis obriga o sentenciado a cumprir integralmente a pena suspensa, independentemente do tempo decorrido de sursis. O período de prova o sursis etário e no humanitário varia de 4 a 6 anos; no sursis especial e no simples, varia de 2 a 4 anos. Revogação do sursis Pode ser: • Obrigatória: o juiz está obrigado a revogar o sursis. • Facultativa: o juiz pode: – advertir novamente o condenado; – exacerbar as condições impostas; – prorrogar o período de prova até o máximo; – revogar o benefício. a) Causas de revogação obrigatória: I- Condenação em sentença irrecorrível (transitada em julgado), por crime doloso. II- Se o indivíduo frustrar a execução da pena de multa (está revogada essa causa revogatória pela Lei n. 9.268/96). III- Não reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo. IV- Descumprimento das condições legais do sursis simples (prestação de serviços à comunidade ou a limitação de fim de semana). V- Não comparecimento, injustificado, do réu à audiência admonitória (audiência de advertência). b) Causas de revogação facultativa: I- Descumprimento de qualquer outra condição, não elencada em lei, imposta pelo juiz (art. 79, condições judiciais). II- Superveniência de condenação transitada em julgado pela prática de crime culposo ou contravenção à pena privativa de liberdade e restritiva de direitos, salvo se imposta pena de multa. Prorrogação do período de prova Se o condenado estiver sendo processado (denúncia pelo MP ou queixa-crime pelo ofendido) pela prática de crime (doloso ou culposo) ou contravenção penal, o período de prova será prorrogado até o trânsito em julgado do processo. Essa prorrogação é automática e obrigatória e não depende de despacho judicial; decorre da lei e se prolonga até o julgamento definitivo do processo. Se houver condenação, revoga-se automaticamente o sursis e o condenado deverá cumprir as duas condenações. Extinção da pena privativa de liberdade Decorrido o período probatório sem que tenha havido causas para a revogação, estará extinta a pena privativa de liberdade, e o juiz deverá declará-la (se não o fizer, a pena estará igualmente extinta, pois o que extingue é o decurso do prazo sem revogação). Conflito entre o art. 81, §2° com o art. 82 Segundo o STF nada impede a revogação do sursis, mesmo depois do término do prazo de prova. Logo, a revogação somente será possível se o juiz ainda não declarou extinta a pena pelo decurso do prazo do período de prova. Caso já tenha feito, não pode mais inovar no processo de modo a revogar o sursis. Sursis e Lei dos Crimes Hediondos De acordo com o STJ: “Declarada à inconstitucionalidade do art. 2°, §1º, da Lei 8.072/90, de modo a submeter o cumprimento da penas dos crimes de cuida a referida lei ao regime progressivo, resta afastado o fundamento da interpretação sistemática que arredava dos crimes hediondos e a eles equiparados (exceção feita ao tráfico de drogas, por força da lei 11.343/2006) as penas restritivas de direito e o sursis”. A partir do advento da lei 11.464/2007, a pena por crime previsto na lei 8.072/90 será cumprida inicialmente, e não mais integralmente, em regime fechado, de forma que tal óbice legal, que, para muitos, era impedimento para a conversão da pena em restritiva de direitos, não existe mais. De qualquer modo, pondere-se que dificilmente, os autores desses crimes irão preencher os requisitos dos arts. 44, III, e 77 do CP, dado que a personalidade do agente, os motivos e as circunstâncias do crime provavelmente não indicarão a substituição por pena alternativa ou a concessão de sursis como suficiente para uma adequada resposta penal. O STJ, no entanto, já teve oportunidade de autorizar a substituição da pena privativa de liberdade por pena alternativa quando houvesse violência presumida no crime de estupro, uma vez que a lei vedaria tal substituição quando houvesse violência real. Audiência Admonitória É uma audiência de advertência. O condenado será advertido de todas as suas condições e do não cumprimento delas. Só pode ser realizada após o trânsito em julgado (art.160 da LEP). A ausência do condenado, intimado pessoalmente ou por edital, obriga o juiz a tornar sem efeito o benefício e executar a pena privativa de liberdade imposta na sentença (art. 705 do CPP).
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