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TITULOS DE CREDITO apostila de teoria geral

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APOSTILA 
 
DE 
 
TEORIA GERAL DOS 
TÍTULOS DE 
CRÉDITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Material de apoio para a disciplina “Direito Comercial”, ministrada no 4o 
semestre do curso de graduação em direito 
 
Elaborado por : Denis Domingues Hermida 
 
ÍNDICE 
 
 
I – INTRODUÇÃO......................................................................................1 
 
II- CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO..............................................5 
 
III- OS PRINCÍPIOS DO DIREITO CAMBIÁRIO...................................11 
 
IV- CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO............................18 
 
V- OS TÍTULOS DE CRÉDITO E O CÓDIGO CIVIL.............................21 
 
VI- A TRANSFERÊNCIA (CIRCULAÇÃO DOS TÍTULOS...................23 
 
VII – O AVAL............................................................................................29 
 
VIII- O PROTESTO...................................................................................33 
 
IX- AS ESPÉCIES DE TÍTULOS DE CRÉDITO.....................................35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 Iniciamos o estudo dos títulos de crédito citando FRAN 
MARTINS1: 
 
 “ O crédito, ou seja, a confiança que uma pessoa inspira a outra de 
cumprir, no futuro, obrigação atualmente assumida, veio facilitar 
grandemente as operações comerciais, marcando um passo avantajado 
para o desenvolvimento das mesmas. 
 
 De fato, no que diz respeito às obrigações de ordem pecuniária, com 
a utilização do crédito as transações se tornaram mais rápidas e mais 
amplas, principalmente pela possibilidade de uma pessoa gozar, hoje, de 
dinheiro cujo pagamento será feito posteriormente (dinheiro presente por 
dinheiro futuro). Isso, melhor explicado, significa que, com a utilização 
do crédito, pode alguém, hoje, ser suprido de determinada importância, 
emprega-la no seu interesse, faze-la produzir em proveito próprio desde 
que tenha assumido a obrigação de em época futura, retornar a quem lhe 
forneceu a importância de que se utilizou. Inegavelmente, nas atividades 
comerciais, em que o capital é sempre necessário para que os 
comerciantes possam realizar operações lucrativas com maior amplitude, 
a utilização do crédito veio aumentar consideravelmente essas 
transações, trazendo benefícios para o comércio e maiores possibilidades 
de desenvolvimento do mesmo. Até no que diz respeito a operações não 
comerciais, o crédito, de modo indiscutível, serve para facilita-las, dando 
maiores oportunidade aos que, em certas ocasiões, não dispõem de 
recursos pecuniários suficientes para as suas necessidades presentes, 
muito embora possam contar com os mesmos em época futura. 
 
 Surgiu, assim, o crédito como elemento novo a facilitar a vida dos 
indivíduos e, conseqüentemente, o progresso dos povos. Mas, desde o 
início foi evidenciado um problema relativo à circulação dos direitos 
creditórios, problema que, de fato, só veio a ser solucionado com o 
aparecimento dos títulos de crédito. 
 
 Isso em virtude de, sendo a utilização do crédito a assunção de uma 
obrigação, deveria esta, em tempos passados, ser cumprida apenas pela 
própria pessoa obrigada. Assim, se alguém contraía uma dívida, o seu 
patrimônio não respondia pela mesma, já que patrimônio e pessoa eram 
inseparáveis, sendo os bens tidos como um acessório da pessoa. Foi, 
 
1
 MARTINS, Fran. Título de Crédito. Rio de Janeiro, Editora Forense, 11a edição, 1995 
inquestionavelmente, o aparecimento da lei Paetelia Papira, em 429, que 
fez a distinção entre patrimônio e pessoa, podendo, a partir daí, o credor 
acionar os bens do devedor para que esses, e não a própria pessoa do 
devedor solvessem a dívida. Trouxe, desse modo, a lei Paetelia Papiria, 
inegável progresso na garantia do crédito, mas, ainda assim, os direitos 
de crédito que alguém tinha contra outrem não eram facilmente 
transmitidos pelo credor a terceiros, permanecendo o princípio do crédito 
individual. Só depois do aparecimento dos títulos de crédito, isto é, de 
papéis em que estavam incorporados os direitos do credor contra o 
devedor, foi que o problema da circulação dos direitos creditórios 
começou a marchar para uma solução. 
 
 Surgiram os títulos de crédito, com algumas das características que 
hoje possuem, na Idade Média, e esse fato foi mais o fruto de 
necessidades momentâneas de caráter mercantil do que um procedimento 
visando especialmente à solução de um problema jurídico. Foi realmente 
naquela época que começaram a aparecer, de maneira mais freqüente e 
mais completa, documentos que representavam direitos de crédito, a 
princípio direitos que poderiam ser utilizados apenas pelos que 
figuravam nos documentos como seus titulares (credores) e que 
posteriormente passaram a ser transferidos por esses titulares a outras 
pessoas que, de posse dos documentos podiam exercer, como 
proprietários, os direitos mencionados nos papéis. A chamada cláusula a 
ordem, que nada mais é que a faculdade que tem o titular de um direito 
de crédito (credor) de transferir esse direito a outra pessoa, juntamente 
com o documento que o incorpora, marcou, realmente, o início de uma 
fase importantíssima para a economia dos povos, que é a circulação do 
crédito. Daí por diante, novos meios foram adotados para dar melhor 
forma aos títulos de crédito, novas regras surgiram garantido os direitos 
que os títulos incorporavam. De modo que, hoje, facilitando 
grandemente as atividades dos indivíduos e dos povos, temos nos títulos 
de crédito documentos que representam certos e determinados direitos e, 
mais que isso, que dão possibilidade a que esses direitos incorporados 
nos documentos circulem, se transfiram facilmente de pessoa a pessoa, 
revestidos de inúmeras garantias para os credores e todos quantos 
figurem nesses papéis. 
 
 Com o aparecimento dos títulos de crédito e a possibilidade de 
circulação fácil dos direitos neles incorporados, o mundo na verdade 
ganhou um dos mais decisivos instrumentos para o desenvolvimento e o 
progresso.” 
 
 
 Da leitura do texto acima, alguns pontos merecem relevo, quais 
sejam: O que significa “crédito” ? Qual o papel dos títulos de crédito na relação 
de crédito? 
a) O Conceito de crédito 
 
 Quanto ao conceito de “crédito”, Fran Martins afirma ser “a 
confiança que uma pessoa inspira a outra de cumprir, no futuro, obrigação 
atualmente assumida”. Parece-nos, entretanto, que tal conceito merece ser melhor 
explorado. 
 
 De Plácido e Silva2 aponta que derivado do latim creditum, de 
credere (confiar, emprestar dinheiro), possui o vocábulo uma ampla significação 
econômica e um estreito sentido jurídico. Em sua acepção econômica significa a 
confiança que uma pessoa deposita em outra, a quem entrega coisa sua, para que, 
em futuro, receba dela coisa equivalente. Juridicamente, significa o direito que 
tem a pessoa de exigir de outra o cumprimento da obrigação contraída. 
 
 Pedro Nunes3 também apresenta o “crédito” em sua acepção 
econômica e jurídica. Do ponto de vista econômico, crédito é a força propulsora 
na circulação e aplicação do capital, faculdade de utilizar o capital alheio, com a 
obrigação de o restituir no prazo, e sob as condições convencionadas. 
Juridicamente, é o direito de exigir de outrem o inadimplemento de determinada 
prestação de qualquer natureza, ou a satisfação de certa soma de direito. 
 
 Verdadeiro é que para o nosso estudo sobre títulos de crédito, tanto 
o conceito econômico quanto o conceito jurídico de crédito nos são importantes, 
vez que o primeiro nos traz a idéia da relevância do crédito para a vida das 
empresas e o segundo nos fornece arepresentação do crédito no direito, 
ajudando-nos no momento de conceituar o instituto jurídico “título de crédito”. 
 
 Concluímos assim que, para o direito, crédito pode ser visto como 
relação jurídica de natureza obrigacional que envolve como partes um Credor e 
um Devedor e como objeto uma prestação pecuniária (restituição de valores) 
advinda da entrega pelo credor de determinado valor para o devedor. 
 
 Analisando-se o crédito do ponto de vista do Credor, temos o dever 
de entregar ao Devedor prestação presente para ser paga no futuro, bem como o 
direito subjetivo de receber determinada prestação das mãos do devedor como 
forma de restituição (com ou seu majoração) de valores entregues anteriormente 
ao devedor. 
 
 Já do ponto de vista do devedor, temos o direito subjetivo de 
receber determinada prestação a fim de gozar hoje de dinheiro cujo pagamento 
será feito posteriormente, e o dever de proceder o pagamento (com ou sem 
majoração), na data estipulada, ao Credor do dinheiro que lhe fora entregue. 
 
 
 
2
 DE PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico. Tomo I. Rio de Janeiro : Forense, 4a edição, 1975 
3
 NUNES, Pedro. Dicionário de tecnologia jurídica. São Paulo : Livraria Freitas Bastos, 8a edição, 1974 
b) O papel dos títulos de crédito na relação de crédito 
 
 A grande utilidade dos títulos de crédito (que provisoriamente 
podemos conceituar como papéis em que estão incorporados os direitos do credor contra 
o devedor) para as relações jurídicas de crédito está sediada em vários aspectos, 
quais sejam: 
 
- o caráter probatório do título de crédito (trata-se de um documento que prova a 
existência de um crédito) 
 
- permite a “circulação” do crédito, isto é, que o direito subjetivo ao crédito possa 
ser repassado (transferido) para terceira pessoa que não fez parte da relação 
jurídica original (que deu origem ao crédito) 
 
- tem natureza jurídica de “título executivo extrajudicial”, conforme artigo 585 do 
Código de Processo Civil, dando ensejo à propositura de ação de execução (que 
tem como rito, resumidamente, a citação do Devedor para o pagamento da dívida 
constante do título no prazo de 24(vinte e quatro) horas, sob pena de penhora de 
bens. Caso não houvesse um título executivo judicial, deveria se utilizar o Credor 
de ação de conhecimento (em que seria discutida a existência ou não do crédito, o 
que seria determinado por uma sentença judicial) para, após, propor a execução. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II 
 
CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO 
 
 
 
 É clássico o conceito de título de crédito apresentado por 
Cesare Vivante, para quem o título de crédito é o “documento necessário para o 
exercício do direito literal e autônomo nele mencionado”. 
 
 Amador Paes de Almeida4, a seu turno, apresenta título de 
crédito como “um instrumento formal que contém obrigação, instrumento esse a 
que a lei confere direito literal e autônomo”. 
 
 Fábio Ulhoa Coelho5, partindo o conceito apresentado por 
Cesare Vivante ensina que : 
 
“ Proponho um caminho algo diferente, que parte do 
conceito, que parte do conceito apresentado acima (conceito de 
Cesare Vivante): o título de crédito é um documento. Como 
documento, ele reporta um fato, ele diz que alguma coisa existe. 
Em outros termos, o título prova a existência de uma relação 
jurídica, especificamente duma relação de crédito; ele constitui 
a prova de que certa pessoa e credora de outra; ou de que duas 
ou mais pessoas são credoras de outras. Se alguém assina um 
cheque e o entrega a mim, o título documenta que sou credor 
daquela pessoa. A nota promissória, letra de câmbio, duplicata 
ou qualquer outro título de crédito também possuem o mesmo 
significado, também representam obrigação creditícia. 
 
 O título de crédito não é o único documento disciplinado 
pelo direito. Há outros, que também reportam fatos, que provam 
que certo sujeito é titular de um direito perante outro, ou perante 
qualquer um. O instrumento escrito de contrato de locução 
documenta, entre outras obrigações, que o locador é credor dos 
aluguéis devidos pelo locatário. A escritura pública de compra e 
venda de imóvel prova a existência do negócio de aquisição do 
bem e discrimina as obrigações assumidas pelas partes. A 
notirifação de lançamento fiscal relata que o contribuinte é 
obrigado a pagar o tributo ao estado. A sentença judicial 
condenatória representa o dever imposto à parte vencida de 
satisfazer o direito reconhecido à vencedora. Além desses, 
muitos outros documentos têm a sua elaboração e seus efeitos 
 
4
 ALMEIDA, Amador Paes. Teoria e Prática dos Títulos de Crédito. São Paulo:Saraiva, 24a edição, 2005 
5
 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 1o volume. São Paulo: Saraiva, 8a edição, revista e 
atualizada, 2004 
dispostos na lei ou em regulamentos; livros mercantis, nota 
fiscal, fatura, certificado de registro de marca, apólice de seguro, 
diploma de curso superior etc. 
 
 O título de crédito se distingue dos demais documentos 
representativos de direitos e obrigações em três aspectos. 
 
 Em primeiro lugar, ele se refere unicamente a relações 
creditícias. Não se documenta num título de crédito nenhuma 
outra obrigação, de dar, fazer ou não fazer. Apenas o crédito 
titularizado por um ou mais sujeitos, perante outro ou outros, 
consta de um instrumento cambial. O contrato de locação 
empresarial, por exemplo, além de assegurar o crédito do 
aluguel, representa o dever de o locador respeitar a posse do 
locatário sobre o imóvel, ou de suportar a renovação 
compulsória do vínculo, na forma da lei. Alguns dos títulos de 
crédito impróprios asseguram direitos não creditícios ao seu 
portador: o warrant e conhecimento de depósito, por exemplo, 
unidos, representam a propriedade de mercadorias depositadas 
em Armazéns Gerais. A característica de representar 
exclusivamente direitos creditórios, por si só, não é suficiente 
para distinguir os títulos de crédito dos demais documentos 
representativos de obrigação. A apólice de seguro, por exemplo, 
também representa apenas o crédito eventual do segurado ou do 
terceiro beneficiário, perante a seguradora e não se pode 
considerar título de crédito. 
 
 A segunda diferença entre o título de crédito e muitos dos 
demais documentos representativos de obrigação está ligada à 
facilidade na cobrança do crédito em juízo. Ele é definido pela 
lei processual como título executivo extrajudicial (CPC, art. 
585, I); possui executividade, quer dizer, dá ao credor o direito 
de promover a execução judicial do seu direito. Nem todos os 
instrumentos escritos que documentam obrigações creditícias 
apresentam essa característica. Se o credor não dispuser de 
documento a que a lei processual atribua natureza executória, a 
cobrança do seu crédito representado deverá ser feita através de 
ação de conhecimento (ou monitória), normalmente mais 
morosa que a execução. Esse atributo dos títulos de crédito – 
convém ressaltar – também não pe exclusivo;m diversos outros 
documentos representativos de obrigação são também títulos 
executivos (sentença judicial, contrato revestido de certas 
formalidades, apólices de seguro de vida etc.). 
 
 Em terceiro lugar, o título de crédito ostenta o atributo da 
negociabilidade, ou seja, está sujeito a certa disciplina jurídica, 
que torna mais fácil a circulação do crédito, a negociação do 
direito nele mencionado. A fundamental diferença entre o 
regime cambiário e a disciplina dos demais documentos 
representativos de obrigação(que será chamada, aqui, de civil) é 
relacionada aos preceitos que facilitam, ao credor, encontrarterceiros interessados em antecipar-lhe o valor da obrigação (ou 
parte deste), em troca da titularidade do crédito. Em outros 
termos, se o credor tem o seu direito representado por um título 
de crédito (por exemplo, uma nota promissória, duplicada ou 
cheque pós-datado), ele pode facilmente desconta-lo junto ao 
banco de que é cliente. Na operação de desconto bancário, o 
credor do título de crédito (descontário) transfere a titularidade 
do seu direito ao banco (descontador) e recebe deste, adiantado, 
uma parte do valor do crédito. No vencimento, o banco irá 
cobrar o devedor, lucrando com a diferença entre o valor facial 
do título e o montante antecipado ao credor originário. Nem 
todos os documentos representativos de obrigação, contudo, são 
descontáveis pelos bancos. Documentos sujeitos ao regime civil 
de circulação não despertam o mesmo interesse de instituições 
financeiras, porque elas ficam em situação mais vulnerável 
quanto ao recebimento do crédito. A negociabilidade dos títulos 
de crédito é decorrência do regime jurídico-cambial, que 
estabelece regras que dão à pessoa para quem o crédito é 
transferido maiores garantias do que as do regime civil. “. 
 
 Waldirio Bulgarelli6 a despeito de reiterar os termos do conceito 
apresentado por Cesare Vivante (título de crédito como documento necessário 
para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado), destaca entre os 
requisitos essenciais dos títulos de crédito a tipicidade, apontando que a 
legalidade ou tipicidade consiste na impossibilidade estabelecida pela Lei, de se 
emitirem títulos de crédito que não estejam previamente definidos e disciplinados 
por lei (numerus clausus). 
 
 Sem embargo de toda a doutrina citada, importante é destacarmos 
que o código civil de 2002, em seu artigo 887, conceitua título de crédito, 
apresentando-o como: 
 
“ O título de crédito, documento necessário ao exercício 
do direito literal e autônomo nele contido, somente 
produz efeito quando preencha os requisitos da lei. 
 
 
 Quanto aos requisitos essenciais dos títulos de crédito, os 
apresentamos agora de forma sucinta tão somente com o objetivo de obter 
elementos para apontar o nosso conceito de título de crédito. 
 
6
 BULGARELLI, Waldirio. Títulos de crédito. São Paulo: Atlas, 1995, 11a edição atualizada 
 Waldírio Bulgarelli7 apresenta os requisitos essenciais dos títulos de 
crédito como sendo: a CARTULARIDADE, a AUTONOMIA e a 
LITERALIDADE. 
 
Apresenta o Autor como cartularidade (também chamada de 
incorporação) como sendo a materialização do direito no documento, motivo pelo 
qual se diz que o direito se incorpora ao documento. A expressão carturalidade ou 
direito cartular (de chartula, do baixo latim) é empregada para significar tanto a 
incorporação do direito ao documento, como o direito decorrente do título em 
relação ao negócio fundamental, chamado por isso mesmo, o negócio subjacente, 
de relação extracartular. Portnato, em decorrência da incorporação do direito no 
título: 
- quem detenha o título, legitimamente, pode exigir a prestação; 
 
- sem o documento, o devedor não está obrigado, em princípio, a 
cumprir a obrigação 
 
Ainda quanto à cartularidade, Fábio Ulhoa Coelho8 afirma que “pelo 
princípio da cartularidade, o credor do título de crédito deve provar que se 
encontra na posse do documento para exercer o direito nele mencionado. 
 
 
Já a literalidade é, conforme magistério de Amador Paes de Almeida9, 
caracterizada como a situação de que “os títulos são literais porque valem 
exatamente a medida neles declarada. Caracterizam-se tais títulos, como bem 
lembra Carvalho de Mendonça, pela existência de uma obrigação literal, isto é, 
independente da relação fundamental, atendendo-se exclusivamente ao que eles 
expressam e diretamente mencionam. 
 
 A Autonomia, na forma dos ensinamentos de Waldírio Bulgarelli10 
é requisito fundamental para a circulação dos títulos de crédito. Por ele, o seu 
adquirente passa a ser titular de direito autônomo, independente da relação 
anterior entre os possuidores . 
Fábio Ulhoa Coelho11 complementa que pelo princípio da 
autonomia das obrigações cambiais, os vícios que comprometem a validade de 
uma relação jurídica, documentada em título de crédito, não se estendem às 
demais relações abrangidas no mesmo documento, apresentando o seguinte 
exemplo: imagine-se um negócio qualquer, de que tenha originado crédito, 
documentado numa nota promissória: Antonio vende a Benedito o seu automóvel 
usado, consentindo receber metade do prezo no prazo de 60(sessenta) dias. Nesse 
caso, a nota representa a obrigação do comprador, na compra e venda do 
automóvel. O ato de compra será chamado de “relação fundamental” ou “negócio 
 
7
 Idem, pp. 57 a 60 
8
 Op. Cit. p. 373 
9
 Op. Cit. p. 3 e 4 
10
 Op. Cit. p. 59 
11
 Op. Cit. p. 375 
originário”, porque o título foi emitido com o propósito inicial de o documentar. 
Imagine-se, então, que Antonio é devedor de Carlos, em importância próxima ao 
valor facial da nota promissória. Se Carlos concordar, o débito de Antonio poderá 
ser satisfeito com a transferência do crédito que titulariza em razão da nota (esse 
ato de transferência denomina-se endosso). Nessa hipótese, o título que 
representava, originalmente, apenas a obrigação de Benedito pagar a Antonio o 
saldo devedor do valor do automóvel, passou a representar duas outras relações 
jurídicas: a de Antonio satisfazendo sua dívida junto Carlos; e a de Benedito 
devedor do título agora em mãos de Carlos. São três relações jurídicas 
documentadas numa única nota promissória. Como as obrigações 
correspondentes são autônomas, umas das outras, eventuais vícios que venham a 
comprometer qualquer delas não contagiam as demais. Quer dizer, se o 
automóvel adquirido por Benedito possui vício redibitório, isso não o exonera de 
satisfazer a obrigação cambial perante Carlos. Os problemas relacionados com a 
compra e venda do automóvel usado podem influir na relação jurídica entre os 
participantes da relação originária do título (isto é, Antonio e Benedito), mas não 
interferem minimamente com dos direitos de terceiros de boa-fé para quem o 
mesmo título foi transferido. 
 
 Por fim, após analisar os principais requisitos do título de crédito, 
podemos afirmar que: 
 
- é um documento. Valendo esclarecer que “documento é todo objeto do qual se 
extraem fatos em virtude da existência de símbolos, ou sinais gráficos, 
mecânicos, eletromagnéticos etc. É documento, portanto uma pedra sobre a qual 
estejam impressos caracteres, símbolos ou letras; é documento a fita magnética 
para reprodução por meio do aparelho próprio, o filme fotográfico etc”12 
 
- o direito subjetivo do credor de receber o seu crédito está diretamente 
relacionado à apresentação do documento (cartularidade) 
 
- é formal, isto é, precisa conter forma determinada pela lei, sendo que a afronta à 
forma imposta por lei é capaz de levar à invalidade do título 
 
- tem rol taxativo determinado por lei. Conforme o princípio da legalidade ou 
tipicidade, aplicado aos títulos de crédito, o artigo 887 do Código Civil, 
impossibilita a emissão de títulos de crédito que não estejam previamente 
definidos e disciplinados por lei. Não há, assim, como se cogitar da invenção de 
título de crédito não previsto legalmente. 
 
- é literal, isto é, valem exatamente a medida neles declarada. Fran Martins, 
citado por Amador Paes de Almeida13, afirma que “por literalidade entende-se o 
 
12
 GRECCO FIL-HO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. Volume 2. São Paulo: Saraiva, 6a 
edição, atualizada, 1993 
13
 Ob. Cit. p.4 
fato de só valerno título o que nele está escrito. Nem mais nem menos do 
mencionado no título constitui direito a ser exigido pelo portador”. 
 
- tem natureza jurídica de título executivo extrajudicial, conforme artigo 585, I, 
do CPC, dando ao credor o direito de promover a execução judicial do seu direito 
 
- referem-se unicamente a relações creditícias. Não se documenta num título de 
crédito nenhuma outra obrigação, de dar, fazer ou não fazer, à exceção dos títulos 
executivos impróprios (warrant e conhecimento de transporte) 
 
- o título de crédito ostenta o atributo da negociabilidade, ou seja, está sujeito a 
certa disciplina jurídica, que torna mais fácil a circulação do crédito, a negociação 
do direito nele mencionado. 
 
- possui autonomia em relação ao negócio jurídico que lhe deu origem. A 
Autonomia é requisito fundamental para a circulação dos títulos de crédito. Por 
ele, o seu adquirente passa a ser titular de direito autônomo, independente da 
relação anterior entre os possuidores . 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO III 
 
OS PRINCÍPIOS DO DIREITO CAMBIÁRIO 
 
 
Introdução 
 
 Fábio Ulhoa Coelho aponta a existência de “princípios do 
direito cambiário”, que são, em realidade, características do tratamento jurídico 
dado aos títulos de crédito. 
 O citado Autor entende pela existência de 3(três) princípios 
do direito cambiário - a) Princípio da Cartularidade; b) Princípio da Literalidade e 
c) Princípio da autonomia das obrigações cambiais – além da existência de 
2(dois) subprincípios oriundos da autonomia das obrigações cambiais, quais 
sejam: c.1) Subprincípio da abstração e c.2) Subprincípio da inoponibilidade das 
exceções pessoais a terceiros de boa-fé. 
 
 
 
PRINCÍPIOS 
 
CARTULARIDADE 
 
 
LITERALIDADE 
 
 
AUTONOMIA 
 
 
 
 
 Abstração Inoponibilidade de exceções pessoais 
 
 
 
 Valdírio Bulgarelli14, por sua vez, estuda a cartularidade, a literalidade e 
a autonomia como requisitos essenciais dos títulos de crédito, não tratando tais 
institutos como princípios. Entendemos melhor o tratamento dado por Ulhoa 
Coelho à matérias, vez que alguns princípios podem não ser totalmente aplicáveis 
a algumas espécies de títulos de crédito (como o princípio da cartularidade que 
não se aplica integralmente à duplicata mercantil ou de prestação de serviços). 
 
 
 
14
 Op. Cit. pp. 57-58 
a) O princípio da cartularidade 
 
 Valdírio Bulgarelli15 apresenta a cartularidade (também 
chamada de incorporação) como sendo a materialização do direito no documento, 
motivo pelo qual se diz que o direito se incorpora ao documento. A expressão 
carturalidade ou direito cartular (de chartula, do baixo latim) é empregada para 
significar tanto a incorporação do direito ao documento, como o direito 
decorrente do título em relação ao negócio fundamental, chamado por isso 
mesmo, o negócio subjacente, de relação extracartular. Portanto, em decorrência 
da incorporação do direito no título: 
 
- quem detenha o título, legitimamente, pode exigir a prestação; 
 
- sem o documento, o devedor não está obrigado, em princípio, a 
cumprir a obrigação 
 
Ainda quanto à cartularidade, Fábio Ulhoa Coelho16 afirma que “pelo 
princípio da cartularidade, o credor do título de crédito deve provar que se 
encontra na posse do documento para exercer o direito nele mencionado. 
 
 Amador Paes de Almeida17 afirma que em razão da cartularidade, título e 
direito se confundem, tornando imprescindível o documento para o exercício do 
direito que nele se contém, pois, na clássica definição de Vivante, “título de 
crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo 
nele mencionado”. 
 
 O próprio código civil de 2002, em seu artigo 887, ao conceituar título de 
crédito, destaca a cartularidade como requisito :“ O título de crédito, documento 
necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente 
produz efeito quando preencha os requisitos da lei. 
 
 
 
b) O Princípio da Literalidade 
 
 
 A literalidade é, conforme magistério de Amador Paes de Almeida18, 
caracterizada como a situação de que “os títulos são literais porque valem 
exatamente a medida neles declarada. Caracterizam-se tais títulos, como bem 
lembra Carvalho de Mendonça, pela existência de uma obrigação literal, isto é, 
independente da relação fundamental, atendendo-se exclusivamente ao que eles 
expressam e diretamente mencionam. 
 
15
 Op. Cit. Pp. 58-59 
16
 Op. Cit. p. 373 
17
 Op. Cit. pp. 3-4 
18
 Op. Cit. p. 3 e 4 
 Valdírio Bulgarelli19 ensina que a literalidade é a medida do direito 
contido no título. Vale assim, o documento pelo que nele se contém, exprimindo, 
portanto, a sua existência, o seu conteúdo, a sua extensão e a modalidade do 
direito nele mencionado. Em conseqüência, a literalidade atua tanto em favor do 
credor, que pode exigir o que nele está mencionado, insuscetível de discussão, 
assim, o valor, o prazo etc., como também em favor do devedor, pois o credor 
não poderá pedir mais do que está estabelecido no título. Daí se dizer que “o que 
não está no título não está no mundo”. 
 
 Resumindo a função da literalidade, Ascarelli assinala que ela: 
 
- torna o direito cartular distinto da relação fundamental, tendo, assim valor 
constitutivo; 
 
- Atribui à declaração cartular, como declaração de vontade, condição de fonte de 
direito autônomo, cujo exercício e transmissão estão em função, respectivamente, 
da apresentação e transferência do título. 
 
 Reafirma Fábio Ulhoa Coelho20 que título de crédito é o documento 
necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado. 
Nessa passagem, o conceito de Vivante se refere ao princípio da literalidade, 
segundo o qual somente produzem efeitos jurídicos-cambias os atos lançados no 
próprio título de crédito. Atos documentados em instrumentos apartados, ainda 
que válidos e eficazes entre os sujeitos diretamente envolvidos, não produzirão 
efeitos perante o portador do título. O exemplo mais apropriado de observância 
do princípio (Fábio Ulhoa entende que cartularidade, autonomia e literalidade são 
princípios e não requisitos) está na quitação dada em recibo separado. Quem paga 
parcialmente um título de crédito deve pedir a quitação na própria cártula, pois 
não poderá se exonerar de pagar o valor total, se ela vier a ser transferida para 
terceiro de boa-fé. 
 
 Outro exemplo de aplicação da literalidade encontra-se na inexistência do 
aval, quando o pretenso avalista apenas se obrigou em instrumento apartado. Se 
do título não consta a assinatura da pessoa de quem se pretendia o aval, a garantia 
simplesmente não existe, em razão do princípio da literalidade. 
 
 “O direito decorrente do título é literal no sentido de que, quanto ao 
conteúdo, à extensão e às modalidades desse direito, é decisivo exclusivamente o 
teor do título” (Messineo). 
 
 Há uma exceção à aplicação desse requisito à disciplina do título de 
crédito denominado “duplicata”, cuja quitação pode ser dada, pelo legítimo 
portador do título, em documento em separado (LD, art. 9o, par. 1o). 
 
 
19
 Op. Cit. p.59 
20
 Op. Cit. P. 374 
c) O princípio da autonomia 
 
 Consta do magistério de Fábio Ulhoa Coelho21 que o título de crédito é 
documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele 
mencionado. Agora a referênciado conceito de Vivante (título de crédito como 
documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele 
mencionado) alcança o mais importante dos princípios do direito cambial, que é o 
da autonomia das obrigações documentadas no título de crédito. Segundo esse 
princípio, quando um único título documenta mais de uma obrigação, a eventual 
invalidade de qualquer delas não prejudica as demais. 
 
 Pela “autonomia” das obrigações cambiais, os vícios que comprometem a 
validade de uma relação jurídica, documentada em título de crédito, não se 
estendem às demais relações abrangidas no mesmo documento. 
 
 Para compreensão da autonomia, citemos exemplo apresentado pelo 
mesmo Fábio Ulhoa : Antonio vende a Benedito o seu automóvel usado, 
consentindo receber metade do prezo no prazo de 60(sessenta) dias. Nesse caso, a 
nota representa a obrigação do comprador, na compra e venda do automóvel. O 
ato de compra será chamado de “relação fundamental” ou “negócio originário”, 
porque o título foi emitido com o propósito inicial de o documentar. Imagine-se, 
então, que Antonio é devedor de Carlos, em importância próxima ao valor facial 
da nota promissória. Se Carlos concordar, o débito de Antonio poderá ser 
satisfeito com a transferência do crédito que titulariza em razão da nota (esse ato 
de transferência denomina-se endosso). Nessa hipótese, o título que representava, 
originalmente, apenas a obrigação de Benedito pagar a Antonio o saldo devedor 
do valor do automóvel, passou a representar duas outras relações jurídicas: a de 
Antonio satisfazendo sua dívida junto Carlos; e a de Benedito devedor do título 
agora em mãos de Carlos. São três relações jurídicas documentadas numa única 
nota promissória. Como as obrigações correspondentes são autônomas, umas das 
outras, eventuais vícios que venham a comprometer qualquer delas não 
contagiam as demais. Quer dizer, se o automóvel adquirido por Benedito possui 
vício redibitório, isso não o exonera de satisfazer a obrigação cambial perante 
Carlos. Os problemas relacionados com a compra e venda do automóvel usado 
podem influir na relação jurídica entre os participantes da relação originária do 
título (isto é, Antonio e Benedito), mas não interferem minimamente com dos 
direitos de terceiros de boa-fé para quem o mesmo título foi transferido. 
 
 Na realidade, o princípio da autonomia tem a utilidade de garantir a 
efetiva circulabilidade (possibilidade de circulação) dos títulos de crédito, vez 
que terceiro que receba o título não precisa investigar as condições em que o 
crédito transacionado teve origem, pois ainda que haja irregularidade, invalidade 
ou ineficácia na relação fundamental (extracartular), ele não terá o seu direito 
prejudicado. 
 
 
21
 Op. Cit. p. 375-376 
d) O subprincípio da abstração 
 
 
 O subprincípio da abstração determina que o título de crédito, 
quando colocado em circulação, desvincula-se da relação fundamental que lhe 
originou. 
 
 Para exemplificar, ratificamos a ilustração apontada na letra “c”. 
 A abstração ocorre tão somente quando o título circula, isto é, 
quando é transferido para terceiro (que não participou da relação jurídica 
fundamental que deu origem à emissão do título) de boa-fé, momento em que 
ocorre o desligamento entre o título de crédito e a relação que lhe deu origem. 
 
 Como conseqüência dessa desvinculação entre o título e o negócio 
jurídico que lhe deu origem temos a impossibilidade do devedor exonerar-se de 
suas obrigações cambiárias, perante terceiros de boa-fé, em razão de 
irregularidades, nulidades ou vícios de qualquer ordem que contaminem a relação 
jurídica fundamental22. 
 
 A circulação é condição necessária para a “abstração”. 
 
 A denominação “abstração” é ambígua, podendo significar: 
 
- a característica oriunda do princípio da autonomia, segundo a qual quando o 
título circula, isto é, quando é transferido para terceiro (que não participou da 
relação jurídica fundamental que deu origem à emissão do título) de boa-fé, 
ocorre o desligamento entre o título de crédito e a relação que lhe deu origem. 
 
- a condição de alguns títulos que, no momento de sua emissão, se desvinculam 
instantaneamente do negócio jurídico que lhe deu origem. 
 
 Sobre esse segundo significado da “abstração”, citamos o 
magistério de Valdirio Bulgarelli: 
 
 “ Todos os títulos de crédito são emitidos por alguma razão; tem 
por isso uma causa, a qual, na generalidade dos casos, decorre de um 
negócio, como compra e venda, mútuo etc. Em alguns casos ela não é 
mencionada no título de crédito (...), tornando-o completamente abstrato 
em relação ao negócio fundamental que lhe deu origem. Exemplo típico 
são as letras de câmbio e a nota promissória, nas quais não é necessário 
mencionar-se a razão, a causa da sua emissão ou criação, não podendo, 
por isso mesmo, serem opostas exceções ao credor, com base nelas. Não 
obstante, a abstração (...) não é essencial aos títulos de crédito, 
contrapondo-se os chamados títulos causais aos títulos abstratos, estes, 
basicamente, a letra de câmbio e a nota promissória. 
 
22
 COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 377 
 Em nosso direito são considerados títulos abstratos a cambial (nas 
suas duas variantes, a letra de câmbio e a nota promissória), em que é 
dispensável a enunciação da causa, e como títulos causais, uma série 
grande, como a duplicata (que só pode ser emitida em decorrência de 
uma entrega efetiva de mercadorias, ou de um efetivo serviço prestado, 
de acordo com a Lei 5.474, de 18 de julho de 1968), e outros.”23 
 
 
 
c.2) O subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais 
 
 
 A inoponibilidade das exceções pessoais a terceiro de boa-fé é 
também decorrência do princípio da autonomia das obrigações cambiárias. 
 
 Por esse subprincípio (que também é denominado, por Fran 
Martins, de regra da inoponibilidade das exceções), o obrigado(devedor) de um 
título de crédito não pode recusar o pagamento ao seu portador alegando suas 
relações pessoais com o sacador ou outros obrigados anteriores do título. Tais 
exceções ou defesas são inoponíveis ao portador do título, que fica sempre 
assegurado quanto ao cumprimento da obrigação pelo obrigado (emitente do 
título)24. 
 
 Exemplifiquemos: um negócio jurídico de venda e compra feito 
entre “A” e “B” dá origem à emissão de um determinado título de crédito. “B”, 
comprador, emitiu referido título a “A” como forma de pagamento. “A”, por sua 
vez, transferiu referido título a “C”. 
 O negócio jurídico de venda e compra possui um vício que leva à 
sua nulidade absoluta. 
 Na data do vencimento do título, “C” dirige-se a “A” para 
recebimento do valor constante do título, sendo que, com base no subprincípio da 
inoponibilidade de exceções pessoais a terceiro de boa-fé, “A” não poderá negar-
se a pagar o título a “C” sob o fundamento de que o negócio jurídico que originou 
o título é nulo. 
 
 Esse princípio consta expressamente da “Lei Uniforme relativa às 
Letras de Câmbio e Notas Promissórias” (Convenção de Genebra, recepcionada 
pelo ordenamento jurídico brasileiro através do Decreto no. 57.663, de 
24/01/1966), conforme seu artigo 17, in verbis: 
 
 “ As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem 
opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais 
delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos 
que o portador ao adquirir a letra tenha procedido 
conscientemente em detrimento do devedor.” 
 
23
 BULGARELLI, Waldirio. Op. cit. pp. 60-61 
24
 MARTINS, Fran. Op. cit. pp. 17-18 
 Destaque-se a importância, para a aplicação do subprincípio em 
exame, da “boa-fé” do terceiroadquirente do título. O simples conhecimento, 
pelo terceiro, no momento da aquisição do título, da existência de fato oponível 
ao credor anterior do título já é suficiente para caracterizar a má-fé25. Assim, no 
exemplo acima, se “C”, quando recebeu o título de “B”, já sabia da nulidade do 
negócio jurídico que deu origem ao título, então é “terceiro de má-fé”, não sendo 
aplicável a inoponibilidade de exceções pessoais. 
 
 
 
 
d) O princípio da Legalidade 
 
 Waldirio Bulgarelli também enfatiza a existência do princípio da 
“legalidade ou tipicidade”, com as seguintes características: “ A legalidade ou 
tipicidade consiste na impossibilidade estabelecida pela Lei, de se emitirem 
títulos de crédito que não estejam previamente definidos e disciplinados por lei 
(numerus clausus)...”26. 
 
 A parte final do artigo 887 do Código Civil de 2002 impõe essa 
legalidade: 
 
“ O título de crédito, documento necessário ao exercício 
do direito literal e autônomo nele contido, somente 
produz efeito quando preencha os requisitos da lei.” (grifos 
nossos) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. pp. 378-379 
26
 Op. cit. p. 66 
CAPÍTULO IV 
 
CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO 
 
 
 
 Classificar significa agrupar indivíduos que possuam 
determinadas características em comum, possibilitando, dessa forma, um melhor 
estudo dos mesmos. Assim, não há como se cogitar em classificações certas ou 
erradas. Todas as classificações têm o seu valor. 
 
 Optamos pela classificação dos títulos de crédito a) quanto 
ao modelo; b) quanto à estrutura; c) quanto às hipóteses de emissão; d) quanto à 
circulação, e) quanto à relação fundamental e f) títulos de crédito propriamente e 
impropriamente ditos 
 
 
a) Classificação quanto ao modelo 
 
 Em relação ao modelo, os títulos de crédito podem ser 
vinculados ou livres. Vinculados são aqueles títulos que só produzem efeitos 
cambiais quando atendem ao padrão exigido por lei. E livres são os títulos que 
não possuem padrão de utilização obrigatória, desde atendidos os requisitos 
legais. 
 
 
b) Classificação quanto à estrutura 
 
 Quanto à estrutura, os títulos de crédito podem ser “ordem de 
pagamento” ou “promessa de pagamento”. 
 
 
- por “ordem de pagamento” entendem-se os títulos que, quando de sua emissão, 
envolvem, 3(três) sujeitos (sacador, sacado e beneficiário). O sacador ordena que 
o sacado pague ao beneficiário determinada importância em determinada data. 
Atentemo-nos para o fato de que não é o sacador (que emite o título) que entrega 
o valor ao beneficiário, mas sim o sacado. Um exemplo de título que se classifica 
como “ordem de pagamento” é o cheque, em que o emitente do cheque determina 
ao banco sacado que pague ao beneficiário do cheque determinada quantia. 
 
 
- por “promessa de pagamento” entendem-se os títulos que, quando de sua 
emissão, envolvem 2(dois) sujeitos: o promitente e o beneficiário. O promitente 
promete entregar ao beneficiário, em certa data, determinada importância. Veja 
que, nessa classe de títulos de crédito, quem entrega a importância ao beneficiário 
é o próprio promitente (que emitiu o título). 
c) Quanto às hipóteses de emissão 
 
 No que se refere às hipóteses de emissão, os títulos de 
crédito podem ser: causais, limitados ou não-causais. 
 
- Causais: são os títulos de crédito que somente podem ser emitidos na hipóteses 
restritas autorizadas em lei; 
 
- Limitados: são os títulos que não podem ser emitidos em algumas hipóteses 
previstas em lei 
 
- Não-causais: são os títulos que podem ser emitidos em qualquer hipótese 
 
 
d) Quanto à circulação 
 
 Quanto à forma de circulação (transferência para terceiros 
que não fizeram parte da relação jurídica), os títulos de crédito podem ser: ao 
portador, nominativos à ordem ou nominativos não à ordem. 
 
- títulos de crédito “ao portador”: não tem o nome do credor. A circulação ocorre 
por mera tradição (isto é, por mera transferência física da cártula). Características 
gerais dos títulos “ao portador”: 
 
• a transferência do título se faz por simples tradição (art. 
904/CC) 
• é nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei 
especial 
• o proprietário, que perder ou extraviar o título, ou for 
injustamente desapossado do mesmo, poderá obter novo título 
em juízo, bem como impedir que sejam pagos a outrem o seu 
valor e rendimentos (art. 909/CC 
 
 
- títulos de crédito “nominativos à ordem”: constam do nome do credor e 
circulam por endosso27 
 
 
27
 Endosso é o ato pelo qual a pessoa, proprietária de um título de crédito, o transfere 
para outrem, conferindo-lhe os direitos que lhe competiam. É justamente porque esta 
operação é promovida nas costas do título ( *atentemo-nos para o fato de que o código 
civil de 2002, no seu artigo 910, permite que o endosso seja procedido no anverso do 
título), ou seja, no verso, pela assinatura do endossante aí posta, que referido ato 
recebeu a denominação endosso (que significa “no dorso” ou “nas costas”). Cf. DE 
PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico. 4ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 1975, p. 
599 
- títulos de crédito “nominativos não à ordem”: constam do nome do credor e 
circulam por cessão civil de crédito, não sendo, portanto, transferíveis por mero 
endosso. 
 
 
e) Quanto à relação fundamental 
 
 Tendo-se como referência a relação jurídica que deu origem 
ao título, podem os títulos de crédito ser classificados em “causais” e “abstratos”. 
 
- Títulos de crédito “abstratos”: são aqueles em que é dispensável a enunciação 
da causa, isto é, a anotação/marcação da relação jurídica que lhe deu origem; 
 
- Títulos de crédito “causais”: são aqueles em que deve obrigatoriamente constar 
dados sobre a relação jurídica que lhe deu origem 
 
 
f) Títulos de crédito propriamente e impropriamente ditos 
 
 Carvalho de Mendonça, citado por Waldirio Bulgarelli, ainda 
acrescenta a classificação dos títulos de crédito em propriamente e 
impropriamente ditos. 
 
- Títulos de crédito “propriamente ditos”: são aqueles em que se atesta uma 
operação de crédito, figurando entre eles os títulos da dívida p’blica, as letras de 
câmbio, os warrants, as debêntures etc. 
 
- Títulos de créditos “impropriamente ditos”: são aqueles que não representam 
uma operação de crédito, apesar de possuírem “literalidade”e “autonomia”, 
podendo se enquadrar numa das hipóteses abaixo: 
 
- os que permitem a livre disponibilidade de certas mercadorias tais 
como o conhecimento de depósitos emitidos por armazéns gerais e os 
conhecimentos de carga; 
 
- os títulos que permitem ao emissor retirar, em favor próprio, ou de 
terceiro, a totalidade dos fundos disponíveis em poder do empresário; 
este título é o cheque, o qual não é instrumento de crédito propriamente 
dito, representando, em verdade, um título de exação, destinado aos 
pagamentos e liquidações; 
 
- os títulos atributivos do complexo de direitos conexos à qualidade de 
sócio (direitos societários e tais são as ações das sociedades anônimas e 
das em comandita por ações)28 
 
 
28
 BULGARELLI, Waldirio. Op. cit., pp. 79-80 
CAPÍTULO V – 
 
OS TÍTULOS DE CRÉDITO E O CÓDIGO CIVIL 
 
 
O Código Civil de 2002 apresenta normas gerais dirigidas aos 
títulos de crédito em seus artigos 887 a 903. Importante que se esclareça que as 
regras previstas no Código Civil somente serão aplicadas se não houver 
normatização diferente nas leis que tratam especificamente de cada uma das 
espécies de títulos de crédito. Eis o queconsta do artigo 903 do Código Civil: 
 
 “ Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-
se os títulos de crédito pelo disposto neste Código.” 
 
 
 Faremos, a partir de agora, uma análise dos pontos mais 
importantes tratados pelo código civil de 2002 em relação aos títulos de crédito: 
 
 
• No artigo 887/CC é apresentado o conceito legal de título de crédito como 
“documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele 
contido”, bem como é imposto o formalismo para a eficácia do título no 
regime cambial, impondo-se o princípio da legalidade (ou tipicidade), 
conforme parte final do referido artigo: “somente produz efeito quando 
preencha os requisitos da lei. 
 
 
• No artigo 888/CC volta o código a dirigir norma inerente ao formalismo 
típico do regime cambial, impondo que “a omissão de qualquer requisito 
legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica 
a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem”. Importante destacar 
também que referido artigo nos faz refletir sobre a autonomia do título de 
crédito em relação ao negócio jurídico fundamental, que lhe deu origem. 
 
 
• Os requisitos essenciais dos títulos de crédito são impostos pelo artigo 
889/CC. São esses requisitos essenciais: data da emissão, a indicação 
precisa dos direitos que confere e a assinatura do emitente. Também são 
importantes as regras inseridas por tal artigo no que pertine à data e ao 
vencimento do título: 
 
- quando no título não houver indicação da data de vencimento, 
tem-se que o título é “à vista”; 
 
- se não indicado no título o lugar de emissão e de pagamento, 
considera-se como lugar de emissão o domicílio do emitente29. 
 
• O artigo 891/CC possibilita a existência de título não completamente 
preenchido ao tempo da emissão, sendo que, ocorrendo tal hipótese, o 
mesmo deve ser preenchido de acordo com o que foi ajustado entre as 
partes, sendo que eventual descumprimento, quando do preenchimento do 
título incompleto, do ajustado entre as partes originais não constitui 
motivo de oposição ao 3º portador do título, salvo se esse adquiriu o título 
agindo de má-fé. 
 
 
O restante dos artigos do código civil destinados à 
normatização dos títulos de crédito será analisado no decorrer de nosso estudo, 
sendo importante mais uma vez ressaltar que o disposto no código civil em 
relação aos títulos de crédito somente será aplicável se não houver norma 
específica em lei especial de determinada espécie de título de crédito. 
 
 
 
 
29
 SOBRE O LOCAL DO PAGAMENTO, vale algumas palavras. As obrigações podem ser: 
quérable ou portable, variando conforme o lugar da adimplência da obrigação; ou seja: de seu 
pagamento. 
 
De Plácio e Silva conceitua: 
 
” ’QUÉRABLE’. Expressão francesa, da linguagem técnica forense, em que é empregada na 
acepção de requerível.Quérable, assim, exprime, propriamente, o que se pode requerer, o que é 
lícito pedir em juízo. ‘Quérable’. Na terminologia jurídica brasileira, vem sendo aplicado, ao 
contrário de portable (conduzível), para designar a dívida ou a prestação obrigacional, que deve 
ser cumprida na residência ou domicílio do devedor, quando a exige por ser oportuno, o credor. 
 
Nesta razão, quérable, se instituída contratualmente ou resultante de disposição tácita, importa na 
cláusula ou condição de ser paga a dívida no próprio domicílio do devedor. E, assim, não cabe a 
ele a obrigação de cumprir o pagamento no domicílio do credor, o que é da natureza da dívida 
portable. 
 
Conforme princípio já firmado na jurisprudência, mesmo que se tenha instituído a obrigação, pela 
qual o devedor deva cumprir a prestação no domicílio do credor, se usualmente vai este receber 
as que se têm vencido na residência ou domicílio do devedor, de portable, que era, a prestação 
fica subordinada à condição de quérable. 
 
Desse modo, não se constitui o devedor em mora por não ter levado a prestação ao credor, no 
respectivo domicílio, embora vencido e exigível.”[12] 
 
 
“’PORTABLE’. Vocábulo francês, que se traduz que se traslada, é geralmente empregado na 
terminologia jurídica para indicar as obrigações que devem ser cumpridas pelo devedor no 
domicílio do credor. Portable, pois, indica a condição de ser paga a dívida no domicílio do credor, 
levada a respectiva importância pelo devedor ou por outrem, a seu mando. 
 
Opõe-se ao sentido de quérable, indicativo daquela que deve ser procurada pelo credor.”[13]. Em 
suma, na obrigação quérable compete ao credor apresentar ao devedor, em seu domicílio, o título 
ou documento de dívida para que ele possa adimplir, em sendo devida, a obrigação. Já na 
obrigação portable, compete ao devedor procurar o credor em seu domicílio e oferecer-lhe o 
pagamento, adimplindo a obrigação. 
CAPÍTULO VI 
 
A TRANSFERÊNCIA (CIRCULAÇÃO) DOS TÍTULOS DE CRÉDITO 
 
 
 Dentre as características mais importantes dos títulos de 
crédito está a sua negociabilidade, isto é, a capacidade que tem o título de ser 
objeto de diversos negócios jurídicos, sendo possível a sua transferência a 
terceiro (circulação), que não fez parte da relação jurídica fundamental e que, na 
forma do artigo 893 da CC, passará a ser detentor de todos os direitos que são 
inerentes ao título. 
 
 Que se destaque que o terceiro adquirente do título de crédito 
não se sub-roga em eventuais obrigações inerentes à relação jurídica fundamental 
(que deu origem ao título), mas tão somente no direito de receber o quantum 
previsto no título na data do vencimento. Eis a diferença entre a sucessão 
cambiária e a cessão civil de contratos, bem refletida por Gladston Mamede: 
 
“... na sucessão cambiária, fruto da transferência do título, há 
uma sucessão subjetiva ativa, ou seja, na posição de credor. Mas 
uma sucessão apenas nos direitos de credor, ou seja, de 
beneficiário da declaração unilateral da obrigação. Como há 
autonomia entre o negócio fundamental e o título de crédito, o 
sucessor, isto é, o novo credor, não assume os deveres que são 
próprios à relação originária, mas apenas os direitos que estão 
declarados na cártula ou lhe sejam decorrentes por previsão 
legal. É distinto, portanto, do que se passa na cessão de 
contrato, onde não há apenas uma transmissão de c’redito 
isolado, pois engloba toda a posição jurídica do cedente, com a 
transmissão simultânea dos direitos e das obrigações de que ele 
era titular.”30 
 
 
 Aqui, objetivamos não só ressaltar essa possibilidade de 
circulação, mas também estudar a forma como essa transferência de título de 
crédito acontece. Já analisados a classificação dos títulos de crédito quanto à 
transferência, concluindo pelas seguintes espécies: títulos ao portador, títulos à 
ordem e títulos não à ordem, sendo que cada uma dessas espécies tem como 
característica uma determinada forma jurídica de transferência do título. 
 
 
 
 
 
 
 
30
 MAMEDE, Gladston. Títulos de crédito: de acordo com o novo código civil, Lei 10.406, de 10-01-
2002. São Paulo: Atlas, 2003, p.92 
1) A transferência dos títulos de crédito ao portador 
 
 Na forma do artigo 904 do Código civil, a transferência dos 
títulos de crédito ao portador ocorre através de simples tradição, isto é, da 
simples entrega física da cártula que consubstancia o título de crédito. 
 
 Dessa forma, o possuidor do título (isto é, aquele que o 
detém fisicamente) tem direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples 
apresentação ao devedor, mesmo que o título tenha entrado em circulação contra 
a vontade do emitente (art. 905 do CC). 
 
 Para os títulos “ao portador”, a cártula é tão importante que 
os artigos 908 e 909 do Código Civil determinam, respectivamente,que: 
 
- o possuidor de título dilacerado, porém identificável, tem direito a obter do 
emitente a substituição do anterior, mediante a restituição do primeiro e o 
pagamento das despesas; e 
 
- o proprietário, que perder ou extraviar título, ou que for injustamente 
desapossado dele, poderá obter novo título em juízo, bem como impedir que 
sejam pagos a outrem capital e rendimentos inerentes ao título. 
 
 
2) A transferência dos títulos de crédito à ordem 
 
 
 Como já conceitualmente apresentado, os títulos de crédito à ordem 
são aqueles que contêm o nome de seu beneficiário e são transferíveis através de 
“endosso”. Tem-se, assim, 2(dois) elementos básicos para a sua caracterização: 
 
- o título não apenas afirma a obrigação certa de um devedor certo, mas também 
traz a indicação de um beneficiário (um credor) certo; e 
 
- faculta-se ao credor nomeado na cártula ordenar que o pagamento se faça a 
outrem, seja indicando essa outra pessoa, seja não a indicando31. 
 
 
 
 Essa possibilidade do credor nomeado no título como beneficiário 
do crédito ordenar que o pagamento se faça a outra pessoa caracteriza o instituto 
jurídico do endosso. Debrucemo-nos, agora, no estudo do endosso” 
 
 
 
 
 
31
 MAMEDE, Gladston. Op. cit. p.98 
a) O conceito de “endosso” 
 
 A palavra “endosso” é derivada do latim in dossum (no dorso, nas 
costas), de que também se formou o indosso italiano e o endos ou endossement 
francês. Na terminologia jurídica, designa o ato pelo qual a pessoa proprietária de 
um título de crédito, passa-o para outrem, conferindo-lhe os direitos que lhe 
competiam32. 
 
 Bulgarelli ensina que “endosso é forma particular de alienação de 
coisa móvel [e não podemos nos esquecer que o título de crédito é uma coisa 
móvel], e para nós, forma específica de transferência dos títulos de crédito. Mas, 
apenas uma das formas [de transferência], porque os títulos de crédito podem 
também ser transferidos mediante simples tradição, quando são ao portador...”33 e 
acrescentamos que alguns títulos (títulos de crédito não à ordem) podem ser 
transferidos por “cessão civil”. 
 
 Assim, a conceituação do “endosso” simplesmente como ato de 
transferência de um título não nos parece satisfatório, vez que, como já estudado, 
os títulos ao portador são transferíveis, mas por simples tradição e não por 
endosso. 
 
 Parece-nos mais cabível, portanto, o conceito de endosso como o 
ato pelo qual o credor de um título de crédito com a cláusula à ordem (i.e, título 
de crédito à ordem) transmite os seus direitos a outra pessoa34. 
 
 
b) Características do “endosso” 
 
 
 Como declaração cambial, o endosso tem de ser lançado no próprio 
título, sendo ineficaz, para o regime cambiário, se realizado fora do título (por 
escritura pública, por exemplo). O lugar, historicamente, em que o endosso deve 
ser lançado no título é dorso, i.e, o verso da letra, mas não é obrigatório quando 
se tratar de endosso completo (ou seja, a assinatura acompanhando uma 
declaração explícita de que se trata de endosso), sendo, porém, obrigatoriamente 
lançado no verso quando se tratar de endosso em branco (que consta apenas da 
assinatura do endossante), para distingui-lo do aceito e do aval35. 
 
 Aliás, essa é a conclusão que se extrai da interpretação do artigo 
910 do Código Civil, in verbis: 
 
32
 DE PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico. 4ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 1975, 
p. 599 
 
33
 Op. cit. p. 165 
34
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 401 
35
 BULGARELLI, Waldirio. Op. cit. p. 166 
 “Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no 
verso ou anverso do próprio título. 
 § 1º Pode o endossante designar o endossatário, e para 
validade do endosso dado no verso do título, é suficiente a simples 
assinatura do endossante. 
 (...) “ 
 
 
 Temos, assim, que o endosso pode: 
 
- ser realizado no verso do título de crédito, bastando para tal a assinatura do 
endossante, sem a necessidade de explicitação de que o ato se trata de um 
endosso; ou 
 
- ser realizado no anverso (frente) do título, devendo, entretanto, constar 
declaração explícita de que se trata de um endosso, identificando o ato (ex.: 
Endosso a Fulano de Tal). 
 
 Ressaltamos que essas características do endosso são gerais, 
extraídas do conteúdo do Código Civil, nada obstando que lei específica a 
determinado título de crédito trate o endosso de forma diferente. Tudo conforme 
determina o artigo 903 do Código Civil, abaixo transcrito: 
 
 Art. 903. “Salvo disposição diversa em lei especial, 
regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código.” 
 
 
c) Os efeitos do endosso 
 
 
 Mais uma vez recorremos ao magistério de Bulgarelli no 
sentido de que, para endossar, é necessário ter capacidade jurídica, que obedece 
às regras do direito comum, tanto para transmitir como para adquirir direitos. O 
endossatário (aquele a quem é transferido o título) sucede ao endossante na 
propriedade do título, mas não na relação jurídica pela qual o endossatário 
adquiriu; adquire um valor e não somente um direito a um valor. Em 
conseqüência, a incapacidade do endossante não terá o efeito de interromper a 
cadeia de endossos. 
 O endosso transfere também, juntamente com o título, em 
regra, os acessórios e garantias. No caso de título garantido por hipoteca, esta só 
pode ser cedida por escritura pública e com a outorga da mulher do devedor 
casado, de acordo com o Código Civil. 
 Pelo endosso, o endossante assume, face aos endossatários 
posteriores, a responsabilidade solidária pelo pagamento do título de crédito36. 
 
 
36
 BULGARELLI, Waldirio. Op. cit. pp. 167-168 
d) Espécies de endosso 
 
 
 A doutrina indica um grande número de espécies de endosso, 
sendo que destacamos os seguintes: 
 
 
- Endosso em branco: é aquele que se faz com a simples assinatura do 
endossante (aquele que transferiu o título), não constando indicação do nome do 
endossatário (aquele a quem foi transferido o título); 
 
 
- Endosso em preto ou completo: é aquele em que consta a assinatura do 
endossante e a indicação do seu beneficiário, isto é, do endossatário; 
 
 
- Endosso póstumo, posterior ao vencimento ou tardio: é aquele que é passado 
após o vencimento do título. 
 Na forma do artigo 20 da Lei Uniforme relativa às Letras de 
Câmbio e Notas Promissórias, “o endosso posterior ao vencimento tem os 
mesmos efeitos que o endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto 
por falta de pagamento, o feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o 
protesto, produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. Salvo 
prova em contrário, presume-se que um endosso sem data foi feito antes de 
expirado o prazo fixado para se fazer o protesto.”. 
 Assim, o endosso póstumo realizado após o protesto ou após 
expirado o prazo de protesto tem natureza de cessão civil, de forma que o 
endossante não tem, salvo previsão em contrário, qualquer obrigação quanto ao 
recebimento da quantia constante do título. 
 
 
 
- Endosso parcial: É o endosso que visa a transferência ao endossatário tão 
somente de parte dos direitos inerentes ao título endossado. Essa espécie de 
endosso não é admitida seja pelo Código Civil (o artigo 912, Par. Único, do CC 
impõe que “É nulo o endosso parcial”), seja pela Lei Uniforme (art. 12, 2a 
alínea). 
 
 
- Endosso impróprio: trata-se de classe que envolve hipóteses em que se faz 
necessário legitimar a posse que determinada pessoa exerce sobre o documento, 
sem contudo, transferir-lhe o crédito. Admite 2(duas) modalidades: oendosso-
mandato e o endosso-caução, que analisamos abaixo: 
 
 
- Endosso- mandato: é aquele que não priva o proprietário do título dos seus 
direitos cambiais, mas apenas transfere ao mandatário ou procurador o exercício e 
a conservação desses direitos. Assim, referido endosso não transfere a 
propriedade do título, mas transfere poderes ao mandatário para agir em nome do 
proprietário do título. 
 Evidencia esse tipo de endosso as expressões “por 
procuração”, “valor a cobrar”, “para cobrança” ou qualquer outra expressão que 
implique um simples mandato. Tais expressões lançadas no título indicam que o 
endossatário-mandatário possui amplos poderes, salvo o caso de restrição de 
poderes, que deve ser expressa no mesmo endosso. 
 O endosso-mandato pode ser em preto ou em branco, já que 
pode ou não indicar o nome do endossatário. 
 O endosso-mandato é muito comum nas operações de 
cobrança, entre os empresários e os bancos, ficando estes encarregados de 
proceder à cobrança do título, como mandatários daqueles. Tem por isso, o 
endossatário-mandatário tanto os direitos como as obrigações da sua condição, 
podendo e, em muitos casos, devendo agir em relação ao título, para assegurar 
direitos etc37 
 
 
 
- Endosso-caução: também denominado endosso-penhor, endosso-garantia e 
endosso pignoratício. É o instrumento adequado para a instituição de penhor 
sobre o título de crédito38. 
 Importante lembrar que, conforme artigo 1.431, caput, do 
CC, “constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse que, em garantia do 
débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de 
uma coisa móvel suscetível de alienação”. 
 Quanto à forma de constituição dessa espécie de endosso, o 
penhor sobre o título de crédito exige apenas que se escreva uma cláusula 
constitutiva respectiva, lançada na cártula, bem como a entrega da cártula, o que, 
por força do artigo 918 do CC, confere ao endossatário o exercício dos direitos 
inerentes ao título. Nada impede, porém, que se recorra a procedimento aplicável 
ao penhor de direito, como se afere do disposto no artigo 1.458 do CC, segundo o 
qual o penhor, que recai sobre título de crédito, constitui-se mediante instrumento 
público ou particular ou endosso pignoratício, com a tradição do título ao 
credor39. 
 Em geral, as operações de endosso-caução são feitas 
em documento contratual apartado e o endosso corresponde, no título, como 
endosso puro e simples ou endosso-mandato40. 
 
 
 
37
 BULGARELLI, Waldirio. Op. Cit. p. 169 
38
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 404 
39
 MARTINS, Fran. Op. cit. p. 120 
40
 BULGARELLI, Waldirio. Op. cit. pp. 169-170 
CAPÍTULO VII 
 
AVAL 
 
 
a) Conceito de aval 
 
 
 O aval é o ato, típico do regime cambiário, pelo qual uma pessoa 
(avalista) se compromete a pagar título de crédito, nas mesmas condições que um 
devedor desse título (avalizado)41. 
 Assim, entende-se por aval a obrigação cambiária assumida por 
alguém no intuito de garantir o pagamento de um título de crédito nas mesmas 
condições de um outro obrigado42. 
 Trata-se de uma forma específica de garantia cambial, pelo qual o 
avalista (ou seja, o dador pó aval) fica obrigado e responsável, pelo pagamento 
do título, nas mesmas condições do seu avalizado (a que o avalista garantiu)43. 
 O aval é objeto de normatização pelo código civil nos seus artigos 
897 a 900 do código civil, sendo que o artigo 897/CC impõe que “o pagamento 
de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser 
garantido por aval. O aval também é tratado também por legislações específicas 
dos diversos títulos de crédito. 
 
 
 
b) Características do aval 
 
 
 O aval, na realidade, é uma obrigação independente e autônoma em 
relação ao vínculo entre os sujeitos originários do título de crédito (emitente e 
beneficiário, ou sacado, sacador e beneficiário), como consta do § 2o do artigo 
899 do CC: “Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação 
daquele a quem se equipara a menos que a nulidade decorra de vício de forma”. 
 
 O aval é uma declaração unilateral de vontade, como o próprio 
título de crédito o é. Não há um negócio plurilateral no aval, mas apenas um ato 
jurídico unilateral, por meio do qual alguém garante o pagamento de um crédito, 
obrigando-se a saldar o débito caso o garantido não o faça. Nenhum benefício 
jurídico advém desse ato, e qualquer negócio ou relação subjacente lhe é 
estranha, nos limites do Código Civil44. Aliás, esse é a letra do § 2o do artigo 899 
do CC: 
 
 
41
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 410 
42
 MARTINS, Fran. Op. cit. p. 205 
43
 BULGARELLI, Waldirio. Op. cit. p. 172 
44
 MAMEDE, Gladston. Op. cit. pp. 150-151 
 “ Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a 
obrigação daquele a quem se equipara, a menos que a nulidade 
decorra de vício de forma.” 
 
 
 A obrigação cambial do avalista é absolutamente autônoma, como, 
aliás, são todas as obrigações cambiais. O avalista, dado o aval, obriga-se, ainda 
que nula, inexistente ou ineficaz a obrigação principal. Daí não ser lícito ao 
avalista argüir em sua defesa falta de causa na origem do título: 
 
 “ A obrigação cambial do avalista é inteiramente autônoma. 
Quem presta aval se obriga, ainda que inexistente, nula ou ineficaz 
a obrigação do criador do título ajuizado” (Ver. Dos Tribs., 
263/217)45 
 
 O inadimplemento do avalizado torna concreta a obrigação do 
avalista, estabelecendo-se entre os dois, pelas particularidades do Direito 
Cambiário, uma relação de solidariedade passiva, com o que passam a ocupar, 
avalista(s) e avalizado, o mesmo plano, a mesma posição, diante do credor. Via 
de conseqüência,tem o credor o direito de exigir de qualquer um dos co-
obrigados, o pagamento da dívida inteira; é a solidariedade que, atendendo ao art. 
265 do Código Civil, resulta da lei. Tem-se, destarte, que o credor tem direito a 
exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida 
comum; da mesma forma, e ainda de acordo com o art. 275 do Código Civil, se o 
pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados 
solidariamente pelo resto46. 
 
 
 Na forma do artigo 898 do CC, o aval deve ser dado no verso 
ou no anverso do próprio título, sendo que, para a validade do aval, dado no 
anverso (frente) do título, é suficiente a simples assinatura do avalista, enquanto, 
a contrario sensu, quando o aval é procedido no verso do título, há a necessidade 
da indicação que expresse a intenção de avalizar, como “ por....”, “em garantia 
de...”, afastando-se, assim, a possibilidade de confusão com eventual endosso já 
existente. 
 
 Quando a assinatura do avalista é aposta na face (frente) do 
título, ela, por si só, é suficiente para a validade do aval e, assim, presume-se que 
a assinatura aposta na frente da cártula, quando não seja do próprio emitente ou 
do beneficiário nomeado (hipótese em que caracterizará endosso em branco), seja 
expressão da dação de um aval. “O aval é instituto próprio do direito cambial”, 
satisfazendo-se “como mera assinatura de quem o firma”, já decidiu a Terceira 
Turma do STJ no Recurso Especial 248.842/PR47. 
 
45
 ALMEIDA, Amador Paes. Op. cit. p. 50 
46
 MAMEDE, Gladston. Op. cit., p. 135 
47
 MAMEDE, Gladston. Op. cit. p. 141 
 O aval parcial, isto é, o aval que garantisse somente parte da 
obrigação constante do título de crédito, é nulo, conforme artigo 897, parágrafo 
único, do CC, nada impedindo tratamento diverso por lei específica de título de 
crédito, conformeartigo 903 do CC. 
 
 O aval posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do 
anteriormente dado, conforme artigo 900 do CC, nada impedindo tratamento 
diverso por lei específica de título de crédito, conforme artigo 903 do CC. 
 
 Sendo o(a) avalista casado(a), necessária é a autorização do 
outro cônjuge para prestar aval, conforme artigo 1.647 do CC, à exceção da 
hipótese de regime matrimonial de separação absoluta. 
 
 
 
 
c) Diferença entre aval e fiança 
 
 O ato civil de garantia corresponde ao aval é a fiança e são duas as 
diferenças existentes entre eles. Em primeiro lugar – a mais importante -, o aal é 
autônomo em relação à obrigação avalizada, ao passo que a fiança é obrigação 
acessória. Desse modo, se a obrigação do avalizado, por qualquer razão, não 
puder ser exigida pelo credor, isto não prejudicará os seus e]direitos em relação 
ao avalista. Já, se a obrigação afiançada é inexigível, a causa de inexigibilidade 
macula igualmente a fiança, que, sendo acessória, tem a sorte da principal. Outra 
conseqüência da autonomia do aval é a inoponibilidade, pelo avalista, das 
exceções que aproveitariam ao avalizado, sendo certo que o fiador, em geral, 
pode alegar contra o credor, as exceções do afiançado (CC/2002, art. 837...)48. 
 
 A segunda diferença diz respeito ao benefício de ordem, que pode 
ser invocado pelo fiador, mas não pelo avalista. O benefício de ordem é a 
exoneração da responsabilidade do prestador da garantia suplementar, em razão 
da prova da solvência do devedor garantido. O avalista, mesmo que o avalizado 
tenha bens suficientes ao integral cumprimento da obrigação cambiária, deve 
honrar o título junto ao credor, se acionado, e, depois, cobra-lo em regresso 
daquele. O fiador, ao contrário, poderá indicar bens do afiançado, situados no 
mesmo Município, livres, desembaraçados e suficientes à solução da dívida, e, 
com isto, liberar-se da obrigação assumida. Essa diferença entre o aval e a fiança 
costuma não apresentar desdobramentos concretos, na medida em que o credor 
costuma condicionar a aceitação da fiança à renúncia, pelo fiador, do benefício de 
ordem49. 
 
 
 
 
48
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 414 
49
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 414 
d) A responsabilidade do avalista 
 
 O avalista, na realidade, não ocupa a mesma posição do avalizado, 
muito embora seja responsável da mesma maneira. 
 Assim, o credor do título de crédito poderá exigir o cumprimento da 
obrigação tanto do emitente do título quanto do avalista. E, se o avalista paga o 
valor do título, o mesmo se sub-roga nos direitos do credor, podendo, por sua vez, 
acionar o avalizado50, conforme artigo 899, §1, do CC: “Pagando o título, tem o 
avalista ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados 
anteriores.” 
 
 
e) A pluralidade de avais 
 
 Diversos avalistas podem, simultânea ou sucessivamente, obrigar-se 
cambialmente. A ordem não afeto o credor, que, vencida a letra, poderá exigir o 
cumprimento da obrigação de qualquer deles. Assim, não é exato que, em se 
tratando de aval sucessivo, esteja o credor obrigado a executar, em primeiro 
lugar, o emitente ou sacado, para só posteriormente executar os demais 
coobrigados, estes últimos pela ordem de aposição. 
 
 Inexiste no direito cambial o chamado “benefício de ordem”, e ao 
credor é lícito acionar a qualquer dos responsáveis, independentemente da ordem 
em que estes se encontrem. 
 
 Os avais sucessivos se sobrepõem uns aos outros, um avalista 
garantindo o outro. Nos avais simultâneos os avalistas garantem o avalizado. 
 
 Normalmente os avais sucessivos declaram expressamente: “ Por 
aval de ...................”, colocados em linhas superpostas, com número de ordem, 
são considerados simultâneos. 
 
 Importante, nesse ponto, a transcrição da Súmula no. 189 do STF: 
“Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos”. 
 
 O avalista que paga a letra sub-roga-se nos direitos do credor, 
podendo, por isso mesmo, acionar os demais subscritores anteriores, inclusive, 
obviamente, o devedor principal. 
 
 Em se tratando de aval sucessivo, o avalista pagante pode cobrar do 
seu avalizado integralmente o que pagou; se se tratar de aval simultâneo, só 
poderá acionar os demais avalistas nas suas quotas-partes. O Supremo Tribunal 
Federal, decidindo questão análoga (Rec. Extr. No. 70.715), assim concluiu: 
“Pode o avalista que pagou cobrar do outro avalista a quota-parte devida por esse 
coobrigado”. 
 
50
 ALMEIDA, Amador Paes. Op. cit. p. 49 
CAPÍTULO VIII 
 
O PROTESTO 
 
 
a) O conceito de protesto 
 
 O protesto é normatizado pela Lei 9.492/97 que, logo no seu 
artigo 1º, conceitua protesto como “o ato formal e solene pelo qual se prova a 
inadimplência e o descumprimento e obrigação originada em títulos e outros 
documentos de dívida”. 
 
 Fabio Ulhoa Coelho critica o conceito apontado pela Lei 
9.492/97 afirmando que “Há protestos que nele não se podem enquadrar, como o 
de falta de aceite de letra de câmbio” e aponta o seu conceito de protesto como 
“ato praticado pelo credor, perante o competente cartório, para fins de incorporar 
ao título de crédito a prova de fato relevante para as relações cambiais”51, como a 
falta de pagamento, a falta de aceite etc. 
 
 É sempre ato do credor do título de crédito. 
 
 
b) O serviço de protesto 
 
 O serviço de protesto cabe ao Tabelião de Protestos de 
Títulos a quem, na forma do artigo 3º da Lei 9.492/97, cabe: a protocolização, a 
intimação, o acolhimento d devolução ou do aceito, o recebimento do pagamento 
do título e de outros documentos de dívida, bem como lavrar e registra o protesto 
ou acatar a desistência do credor em relação ao mesmo, proceder às averbações, 
prestar informações e fornecer certidões relativas a todos os atos praticados. 
 
 
c) Hipóteses de protesto 
 
 Na forma do artigo 21 da Lei 9.492/97, há 3(três) hipóteses 
em que o protesto pode ser tirado (efetuado): 
 
• Protesto por falta de pagamento: Após o vencimento, o protesto sempre 
será efetuado por falta de pagamento, vedada a recusa da lavratura e 
registro do protesto por motivo não previsto na lei cambial (art. 21, § 2º). 
 
• Protesto por falta de aceite: somente poderá ser efetuado antes do 
vencimento da obrigação e após o decurso do prazo legal para o aceite ou 
a devolução (art. 21, § 1º). 
 
 
51
 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 422 
• Protesto por falta de devolução: devido quando o sacado retiver a letra de 
câmbio ou a duplicada enviada para aceite e não proceder à devolução 
dentro do prazo legal. Esse protesto poderá basear-se na segunda via da 
letra de câmbio ou nas indicações da duplicada, que se limitarão a conter 
os mesmos requisitos lançados pelo sacador ao tempo da emissão da 
duplicata, vedada a exigência de qualquer formalidade não prevista na lei 
que regula a emissão e circulação das duplicatas (art. 21, §3º)52 
 
 
 
d) Da não obrigatoriedade do protesto 
 
 
 O protesto não é requisito para acionar o devedor principal e seus 
avalistas, vez que a sua obrigação para com o pagamento apura-se diretamente da 
cártula, condicionada apenas ao vencimento da data aprazada, sem que tenha havido o 
pagamento correspondente. 
 
É lícito ao credor, porém ao credor protestar o título antes de acionar o 
devedor principal e os seus avalistas, tratando-se, entretanto, de medida facultativa, não 
obrigatória para que se tenha o direito à ação de execução contra aqueles. 
 
Somente para acionar outros coobrigados, cuja responsabilidade pelo 
pagamento não é direta, mas decorrente da inadimplência do devedor

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