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Macroeconomia I 2017 Parte B RH

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Instrumentos de Política Macroeconômica
	A política macroeconômica envolve a atuação do governo sobre a capacidade produtiva e despesas planejadas, com objetivo de permitir que a economia opere a pleno emprego, com baixas taxas de inflação e uma distribuição justa de renda. Os principais instrumentos para atingir tais objetivos são as políticas fiscal, monetária, cambial e comercial, e de rendas.
Política Fiscal
	Refere-se a todos os instrumentos que o governo dispõe para arrecadação de tributos e o controle de suas despesas. Além da questão do nível de tributação, a política tributária, por meio da manipulação da estrutura e alíquotas de impostos. É utilizada para estimular (ou inibir) os gastos de consumo do setor privado. 
	Se o objetivo da política econômica é reduzir a taxa de inflação, as medidas fiscais normalmente utilizadas, são a diminuição de gastos públicos e/ou o aumento da carga tributária (o que inibe o consumo). Ou seja, visam diminuir os gastos da coletividade. Se o objetivo é um maior crescimento e emprego, os instrumentos fiscais são os mesmos, mas em sentido inverso, para elevar a demanda agregada.
Política Monetária
	Refere-se à atuação do governo sobre a quantidade de moeda e de títulos públicos, os instrumentos disponíveis para tal são:
a) emissões – colocação de dinheiro novo na economia, por intermédio do Banco Central;
b) reservas compulsórias – parcela dos depósitos à vista que os bancos comerciais devem recolher ao Banco Central como limitador do crédito. Ao aumentar as reservas compulsórias (também denominadas de depósitos compulsórios), o governo reduz o crédito da economia e, portanto, segura a inflação. Ao reduzir as reservas compulsórias, o governo aumenta o crédito da economia e, portanto, estimula o emprego.;
c) open market (compra e venda de títulos públicos);
d) redescontos (empréstimos do Banco Central aos bancos comerciais).
Dividido em duas modalidades:
Consiste em uma operação de refinanciamento e é chamada de redesconto seletivo. O redesconto seletivo é feito através do desconto de títulos de crédito por instituição financeira junto ao Banco Central do Brasil ("BACEN").
A segunda modalidade, denominada redesconto de liquidez ou assistência financeira de emergência, é uma linha de crédito colocada à disposição dos bancos. Trata-se de um conjunto de linhas de crédito, que têm por finalidade corrigir os eventuais desequilíbrios de caixa dos bancos.
	As políticas monetárias e fiscal representam meios alternativos diferentes para as mesmas finalidades. A política econômica deve ser executada através de uma combinação adequada de instrumentos fiscais e monetários. Pode-se dizer que a política fiscal apresenta maior eficácia quando o objetivo é uma melhoria na distribuição de renda, tanto na taxação às rendas mais altas como pelo aumento dos gastos do governo com destinação a setores menos favorecidos.
	Política monetária, todavia, é mais abrangente, pois seus efeitos atingem todos os agentes econômicos de uma vez. 
Políticas Cambial e Comercial
	A política cambial refere-se à atuação do governo sobre a taxa de câmbio. O governo, através do Banco Central, pode fixar a taxa de câmbio, ou permitir que ela seja flexível e determinada pelo mercado de divisas.
	A política comercial diz respeito aos instrumentos de incentivos às exportações e/ou estímulo ou desestímulo às importações, ou seja, refere-se aos estímulos fiscais (crédito - prêmio do ICMS, IPI etc.) e creditícios (taxas de juros subsidiárias) às exportações e ao controle de importações (via tarifas e barreiras quantitativas sobre importações).
Regimes cambiais.
	
Os regimes cambiais mais comuns são os seguintes: como o governo gerencia o câmbio.
Regime de Câmbio livre – a taxa de câmbio é fixada pelas forças da oferta e da demanda por divisas estrangeiras (DINHEIRO ESTRANGEIRO), sem nenhuma interferência do governo. Nesse tipo de regime, a incerteza por parte dos agentes econômicos quanto ao valor futuro da taxa de câmbio é alta. A vantagem é que o governo não necessita manter volumes mínimos de divisas estrangeiras para atender as necessidades dos agentes.
Regime de Câmbio fixo - a taxa de câmbio é fixada pelo antecipadamente pelo governo. Com um câmbio fixo, os agentes econômicos podem saber exatamente quanto precisarão dispor da moeda nacional para poder comprar divisas estrangeiras, retirando toda incerteza desse processo. Todavia, ao fixar o câmbio, o governo deve ter disponíveis reservas suficientes de divisas estrangeiras para atender a todos os agentes econômicos. Caso isso não ocorra, os agentes econômicos, ao não encontrarem junto ao governo a quantidade requerida de divisas estrangeiras, irão buscar o mercado paralelo de divisas, que é ilegal.
Regime de Bandas Cambiais – Por esse regime, o governo não interfere no mercado cambial caso a taxa de câmbio flutue acima de uma banda inferior (por exemplo, um real e cinquenta centavos por um dólar) e abaixo de uma banda superior (por exemplo, dois reais por um dólar). O governo só interferirá caso o preço do dólar (a divisa estrangeira) ultrapasse uma das duas bandas. No caso de a divisa estrangeira cair abaixo da banda inferior (o dólar está “barato”, o que atrapalha as exportações de um país), o governo começa a comprar dólares para fazer seu preço subir, gastando moeda nacional nesse processo. No caso contrário, ou seja, o dólar ultrapassar a banda superior (o dólar está “caro”, o que atrapalha as importações de um país), o governo começa a vender dólares para abaixar seu preço, gastando nesse processo divisas estrangeiras. Apesar de, em menor grau, nesse tipo de regime cambial o governo deve ter em mãos quantidade suficiente de moeda nacional, no primeiro caso acima, ou de divisas estrangeiras, no segundo caso.
Regime de Currency Board – Sandroni (1999, p. 146) explica que: a principal característica dos “Currency Boards” é a garantia de trocar moeda nacional numa taxa determinada e fixa pela quantidade existente de reservas de moeda estrangeira. Por esse regime,... “ um país só pode emitir moeda (nacional) quando possui reservas em igual valor de moeda estrangeira (divisas). É um sistema que parte da ideia da conversibilidade - ou seja, da possibilidade de trocar moeda nacional por dólar ou outra moeda forte.”. Uma vez que o governo só emite moeda nacional caso haja o equivalente (a uma taxa pré-determinada) em moeda estrangeira, haverá total previsibilidade de os agentes econômicos encontrarem suficiente moeda estrangeira para suas necessidades: por esse regime, toda moeda nacional, caso necessário, poderá ser trocada por moeda estrangeira. Apesar de seus efeitos positivos sobre a redução da incerteza dos agentes econômicos, esse regime obriga o governo a manter altas reservas de moeda estrangeira e limita sua atuação sobre o mercado de crédito interno da economia. [1: Fonte: < http://wiki.advfn.com/pt/Currency_board >. Acesso em 03/12/2012.]
Regime de “Dirty Floating” (em Português, flutuação suja) – Esse regime é uma adaptação do regime de bandas cambiais. É considerado um regime de câmbio flutuante, no qual as autoridades monetárias de um país interferem indiretamente na determinação da taxa de câmbio, por meio da compra e venda de divisas no mercado, sem, no entanto, se ater a determinadas bandas cambiais. Nesse tipo de regime, a imprevisibilidade dos agentes econômicos é alta e o governo interfere apenas para diminuir a volatilidade da taxa de câmbio. A volatilidade da taxa de câmbio diz respeito a alterações bruscas dessa taxa. 
Qualquer que seja o regime cambial existente em um país, seu uso irá influir diretamente na condução de políticas econômicas.
Política de Rendas 
	A política de rendas refere-se à intervenção direta do governo na formação de renda (salários, aluguéis), através de controle e congelamentos de preços. A característica especial é que, nesses controles, os preços são congelados, e os agentes econômicos não podem responder às influências econômicas normais de mercado.
Estrutura deAnálise Macroeconômica
	Tradicionalmente, a estrutura básica do modelo macroeconômico compõe-se de cinco mercados:
Mercado de Bens e Serviços;
Mercado de Trabalho;
Mercado Monetário;
Mercado de Títulos;
Mercado de Divisas.
O papel regulador do Estado na atividade econômica.
	O Governo, um dos três elementos que entram na formação do Estado, ao lado da população e do território, incorpora a autoridade capaz de organizar a sociedade e dirigi-la. Em sentido amplo, o Governo compreende um conjunto de órgãos e funções por meio do qual a autoridade dirige e regula, através de normas, as atividades dos cidadãos. A presença do Governo no processo econômico vem modificando-se ao longo do tempo. Assim, com vimos em aulas anteriores, há algumas décadas, seu papel limitava-se às atividades fundamentais, voltadas para a segurança e defesa dos cidadãos e de seu direito de propriedade. Essa era a economia liberal . 
	Competiria ao Estado liberal, naqueles tempos, o fornecimento de uma base jurídico-institucional; por sua vez, os indivíduos e os grupos particulares proveriam a substância econômica do sistema.
	John Maynard Keynes era um economista inglês que publicou, em 1936, um importante livro, intitulado a Teoria geral da moeda, do juro e do emprego. Keynes, defensor da economia neoclássica até a década de 1930, analisou a Grande Depressão em sua obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, em que formulou as bases da teoria que, mais tarde, seria chamada de keynesiana ou keynesianismo. [2: ECONOMIA NEOCLÁSSICA – Ou escola neoclássica - Segundo a escola neoclássica, o preço de um bem ou serviço não representa o valor do trabalho nele incorporado. Assim sendo é o equilíbrio entre oferta e demanda que determina os preços. Depois de estabelecido, o preço atua como um sinalizador das quantidades dos estoques de bens e serviços. Por exemplo, uma variação nos preços indicaria aos consumidores que determinado bem requer mais ou menos unidades monetárias para ser adquirido, o que incentivaria ou inibiria o consumo. Já para os produtores, indicaria que os consumidores estariam dispostos a pagar mais ou menos unidades monetárias pelo bem ou serviço, o que, novamente, incentivaria ou inibiria o produtor a ofertar o bem ou serviço (dado seu custo de produção constante). Assim sendo, o mercado, através da sinalizaçao dos preços, tenderia ao equilíbrio ideal em termos de alocação de recursos escassos.][1: ]
	Neste livro, ele evidencia o desequilíbrio intrínseco do sistema capitalista, sujeito a crises profundas. E oferece como solução para a minimização das conseqüências das crises econômicas a intervenção do Estado na economia. Caberia ao Estado controlar o fluxo de investimentos e de consumo, para evitar as crises e a inflação; as crises, como decorrência de perspectivas pessimistas por parte dos empresários quanto à sua taxa de lucro futura, o que acabaria por provocar redução no volume de investimento, vale dizer, na acumulação de capital. A inflação, por sua vez, seria decorrente, conforme a explicação keynesiana não somente de um excesso de moeda, mas também de um excesso de procura agregada, ou seja, os agentes econômicos estariam consumindo em demasia (veja conceito de agentes econômicos em aula anterior)[3: A GRANDE DEPRESSÃO, também chamada por vezes de CRISE DE 1929, foi uma grande recessão econômica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de 30, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão é considerada a pior e o mais longo período de recessão econômica no Século XX. Este período de recessão econômica causou altas taxas de desemprego, sobretudo nos Estados Unidos, quedas drásticas do Produto Interno Bruto (PIB) de diversos países, bem como quedas drásticas na produção industrial, preços de ações e em praticamente todo medidor de atividades econômicas, em diversos países no mundo. Uma explicação para essas CRISES PERIÓDICAS, segundo os economistas da época, por conta da superprodução. Os capitalistas, ao buscar o lucro produziriam além do que os consumidores gostariam de comprar e não encontrariam portanto mercado para seus produtos. O resultado seria a demissão de funcionários e corte da produção. Isso levaria a fluxos de alta produção e alto emprego, seguidos de ciclos de baixa produção e baixo emprego, levando milhares de pessoas a passar necessidades.]
	Ao regular o dispêndio (os gastos governamentais), o Estado controla a renda total. A renda seria, por seu turno, determinada pelo investimento, este sim, o componente estratégico da equação. A política econômica ditada pelo Estado é que irá determinar o nível dos investimentos, do qual resultarão a taxa de poupança e o volume de lucros gerados pelo sistema econômico.
	Ocorre, assim, a transformação do papel do Estado na economia: passa a ser, conforme autores contemporâneos, o Estado Regulador. Ele entra em ação na esfera econômica a fim de resolver problemas criados pelo desenvolvimento do capitalismo. 
	Este é o modelo adotado no Brasil após o fim do regime militar. Assim, podemos dizer que o Estado brasileiro se situa hoje em dia entre um modelo de estado intervencionista e um Estado regulador. 
Bibliografia
VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de e GARCIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de Economia. São Paulo: Saraiva, 2003.
O MERCADO MONETÁRIO
Conceito e História da Moeda
Origem da Moeda: o Escambo e o Desenvolvimento da Atividade Econômica
Os primeiros grupos humanos, em geral nômades, não conheciam a moeda e recorriam às trocas diretas de objetos (chamada de escambo) quando desejavam algo que não possuíam. Esses grupos, basicamente, praticavam uma exploração primitiva da natureza e se alimentavam por meio da pesca, caça e coleta de frutos. Num ambiente de pouca diversidade de produtos, o escambo era viável.
O escambo apresenta alguns problemas no que se refere ao desenvolvimento das atividades econômicas de uma maneira geral. Ele exige uma dupla coincidência de desejos, porque quem pescasse e quisesse, por exemplo, um machado, teria que achar outra pessoas que fabricasse machados e quisesse, exatamente, peixes. Outro problema diz respeito à indivisibilidade dos objetos nas trocas diretas. Montoro Filho (1992) exemplifica esse problema salientando a dificuldade que um fabricante de canoas teria se quisesse tomar um cafezinho.
A primeira revolução agrícola foi modificando o sistema baseado no escambo. A vida nômade foi gradativamente cedendo lugar para sedentária e a produção passou a diversificar-se com a introdução de utensílios de trabalho. A divisão social do trabalho começa a se manifestar e os integrantes do grupo ganham funções específicas como guerreiros, agricultores, pastores, artesãos e sacerdotes Dessa maneira, a divisão do trabalho provocou sensíveis mudanças na vida social. A atividade econômica tornou-se mais complexa; o numero de bens e serviços exigidos para satisfação das necessidades do grupo aumentou, por consequência, a "dupla coincidência de desejos" torna-se mais difícil; a troca torna-se fundamental para a sobrevivência do grupo social 
A partir de então, alguns bens de aceitação são eleitos como intermediários de trocas, exercendo, portanto, função de moeda. 
A moeda pode ser conceituada como um intermediário de trocas 
"que serve como medida de valor e que tem aceitação geral. (...) esta aceitação geral é um fenômeno essencialmente social. Além disso, como a moeda representa um poder de aquisição, desde o momento em que é recebida até o momento em que é dada em pagamento de outra transação, ela também se caracteriza como uma reserva de valor" (LOPES e ROSSETTI, 1991: 18).
Evolução Histórica da Moeda
As primeiras moedas foram mercadorias e deveriam ser suficientemente raras, para que tivessem valor, e, como já foi dito, ter aceitação comum e geral. Elas tinham, então, essencialmente valor de uso; e como esse valor de uso era comum e geral elas tinham, consequentemente, valor de troca. O abandono da exigência do valorde uso dos bens, em detrimento do valor de troca, foi gradativo. 
Entre os bens usados como moeda estão o gado, que tinha a vantagem, de multiplicar-se entre uma troca e outra — mas, por outro lado, o sal na Roma Antiga; o dinheiro de bambu na China; o dinheiro em fios na Arábia. 
"As moedas-mercadorias variaram amplamente de comunidade para comunidade e de época para época, sob marcante influência dos usos e costumes dos grupos sociais em que circulavam" . Assim, por exemplo, na Babilônia e Assíria antigas utilizava-se o cobre, a prata e a cevada como moedas; na Alemanha medieval, utilizavam-se gado, cereais e moedas cunhadas de ouro e prata; na Austrália moderna fizeram a vez de moeda o rum, o trigo e até a carne. 
Com o tempo, as moedas-mercadorias foram sendo descartadas. As principais razões para isso foram:
Elas não cumpriam satisfatoriamente a característica de aceitação geral exigida nos instrumentos monetários. Além disso, perdia-se a confiança em mercadorias não homogêneas, sujeitas à ação do tempo (como no caso dos gados citado acima), de difícil transporte, divisão ou manuseio;
A característica valor de uso e valor de troca tornava o novo sistema muito semelhante ao escambo e suas limitações intrínsecas. 
Os metais preciosos passaram a sobressair por terem uma aceitação mais geral e uma oferta mais limitada, o que lhes garantia um preço estável e alto. Além disso, não se desgastavam, facilmente reconhecidos, divisíveis e leves. Entretanto, havia o problema da pesagem.
Em cada transação, os metais preciosos deveriam ser pesados para se determinar seu valor. Esse problema foi resolvido com a cunhagem, quando era impresso na moeda o seu valor. Muitas vezes, entretanto, um soberano recontava as moedas para financiar o tesouro real. Ele recolhia as moedas em circulação e as redividia em um número maior, apoderando-se do excedente. Esse processo gerava o que conhecemos como inflação, uma vez que existia um maior número de moedas para uma mesma quantidade de bens existentes. 
Os primeiros metais utilizados como moeda foram o cobre, o bronze e, notadamente, o ferro. Por serem, ainda, muito abundantes, não conseguiam cumprir uma função essencial da moeda que é servir como reserva de valor. Dessa maneira, os metais não nobres foram sendo substituídos pelo ouro e pela prata, metais raros e de aceitação histórica e mundial.
O desenvolvimento de sistemas monetários demandaram o surgimento de um novo tipo de moeda: a moeda-papel. A moeda-papel veio para contornar os inconvenientes da moeda metálica (peso, risco de roubo), embora valessem com lastro nela. Assim surgem os certificados de depósito, emitidos por casas de custódia em troca do metal precioso nela depositado. Por ser lastreada, essa moeda representativa poderia ser convertida em metal precioso a qualquer momento, e sem aviso prévio, nas casas de custódia A moeda-papel abre espaço para o surgimento da moeda fiduciária, ou papel-moeda, modalidade de moeda não lastreada totalmente. O lastro metálico integral mostrou-se desnecessário quando foi constatado que a reconversão da moeda-papel em metais preciosos não era solicitada por todos os seus detentores ao mesmo tempo e ainda quando uns a solicitavam, outros pediam novas emissões. A passagem da moeda-papel para o papel-moeda é tida como uma das mais importantes e revolucionárias etapas da evolução histórica da moeda A falência do sistema privado de emissões (quando, em diversos momentos da História, todos resolviam reconverter seus papéis-moedas em metais preciosos) levou o Estado a controlar o mecanismo das emissões e a exercer seu monopólio. Após o uso de diversos sistemas de conversão que se mostraram fracassados, os sistemas monetários de quase todos os países, depois da Grande Depressão gerada pela crise de 1929-33, com a exceção dos Estados Unidos — que mantiveram o lastro metálico proporcional até 1971 —, adotaram o sistema fiduciário. Hoje, esses sistemas apresentam inexistência de lastro metálico, inconversiblidade absoluta e monopólio estatal das emissões Desenvolve-se, juntamente com a moeda fiduciária, a chamada moeda bancária, escritural (porque corresponde a lançamentos a débito e crédito) ou invisível (por não ter existência física). O seu desenvolvimento foi acidental (LOPES e ROSSETTI, 1991), uma vez que não houve uma conscientização de que os depósitos bancários, movimentados por cheques, eram uma forma de moeda. Eles ajudaram a expandir os meios de pagamento através da multiplicação de seu uso. Hoje em dia, a moeda bancária representa a maior parcela dos meios de pagamento existentes.
Criada pelos bancos comerciais, essa moeda corresponde à totalidade dos depósitos à vista e a curto prazo e sua movimentação é feita por cheques ou por ordens de pagamento — instrumentos utilizados para sua transferência e movimentação Atualmente, as duas formas de moeda utilizadas são a fiduciária e a bancária, que têm apenas valor de troca.
Funções da Moeda
Para aprofundar as utilizações da moeda descritas acima, quando foi feita a sua conceituação, estão, a seguir, as principais funções da moeda relacionadas por Cavalcanti e Rudge:
Intermediária de trocas: Superação do escambo, operação de economia monetária, melhor especialização e divisão social do trabalho, transações com menor tempo e esforço, melhor planejamento de bens e serviços; 
Medida de valor: Unidade padronizada de medida de valor, denominador comum de valores, racionaliza informações econômicas constrói sistema agregado de contabilidade social, produção, investimento, consumo, poupança; 
Reserva de valor: Alternativa de acumular riqueza, liquidez por excelência, pronta aceitação consensual; 
Função liberatória: Liquida débitos e salda dívidas, poder garantido pelo Estado; 
Padrão de pagamentos: Permite realizar pagamentos ao longo do tempo, permite crédito e adiantamento, viabiliza fluxos de produção e de renda; 
Instrumento de poder: Instrumento de poder econômico, conduz ao poder político, permite manipulação na relação Estado-Sociedade.
A Oferta de Moeda
Vamos nos concentrar agora nos fatores que determinam a oferta de moeda. Vimos que a oferta de moeda é realizada tanto pelas autoridades monetárias, por meio da emissão de notas e moedas metálicas, quanto pelos bancos comerciais que, apesar de não poderem emitir, podem, no entanto, criar ou destruir moeda. Iremos inicialmente estudar a oferta de moeda dos bancos comerciais e posteriormente analisar os instrumentos disponíveis pelas autoridades para controlarem a oferta total de moeda.
O Sistema Bancário - Criação e Destruição de Moeda
De início, convém definir o que venha a ser criação ou destruição de moeda. Na seção anterior definimos moeda como sendo a soma do papel-moeda em poder do público (inclusive moedas metálicas) e dos depósitos à vista nos bancos comerciais. A primeira parecia é chamada moeda manual ou moeda corrente, e, a segunda, moeda escritural ou bancária. Haverá criação de moeda quando houver um aumento desta soma, ou seja, o aumenta o volume da soma de moeda corrente e de moeda escritural. 	De outra parte haverá destruição de moeda quando se reduzir o volume de meios de pagamento. Alguns exemplos esclarecem estes aspectos:
a) um indivíduo efetua um depósito à vista. Não há criação nem destruição de moeda e, sim, uma transferência entre moeda manual e moeda escritural;
b) um indivíduo efetua um depósito a prazo. Existe destruição de meios de pagamento, pois depósitos a prazo não são considerados meios de pagamento;
c) um banco compra títulos da dívida pública possuídos pelo público, pagando em moeda corrente: há criação de meios de pagamento, pois aumenta o volume de moeda manual em poder do público (estas operações são chamadas Mercado Aberto ou Open Market). A criação (ou destruição) de moeda manual corresponde, assim, a um aumento (ou diminuição) do papel-moeda em poder do público, enquanto para a moeda escritural a sua criação (ou destruição) se dá quando há um acréscimo (ou decréscimo) dos depósitos à vista ou a curto Prazonos bancos comerciais. Portanto nossa preocupação, no momento, é verificar como os bancos podem aumentar ou diminuir os depósitos à vista.
Mecanismo de Expansão dos Meios de Pagamento
A criação de moeda por meio dos bancos comerciais se faz, atualmente, de forma análoga à apresentada na seção anterior, quando se tratou da moeda fracionalmente lastreada. A substância é a mesma. Somente uma parte do total dos depósitos é exigida, ao mesmo tempo, para pagamento.
De fato, um depósito à vista num banco comercial representa um direito que o depositante possui sobre uma determinada quantia. Em outras palavras, quando um banco recebe um depósito à vista, ele promete pagar a quantia depositada ou uma parte desta, quando para tal for solicitado. Normalmente esta solicitação é feita por meio de cheques. Ocorre, entretanto, que a todo instante existem depósitos e saques, de tal forma que somente uma parcela do total dos depósitos é necessária para atender ao movimento. Esta parcela é normalmente pequena, 10%, e desta forma o banco comercial pode fazer promessas de pagar em um valor múltiplo do total de depósitos iniciais e usar os fundos assim obtidos para efetuar empréstimos. Um exemplo esclarece melhor. Suponhamos que seja 10% a parcela do total dos depósitos que é normal mente (em média) exigida. Caso o banco tenha em caixa, como reserva, 10%, ele poderá fazer promessas de pagar num total de 10 vezes suas reservas, ou seja, 1.000.
Um Único Banco Comercial
Vamos analisar este exemplo com maior atenção e verificar como o banco pode criar moeda ou depósitos. Para tal fim vamos fazer inicialmente algumas hipóteses simplificadoras. Em primeiro lugar, suponhamos que exista apenas um único banco comercial. Em segundo lugar, que o público esteja satisfeito com a quantidade de papel-moeda em seu poder, de tal forma que qualquer volume a mais seja depositado nos bancos. Nestas condições vamos analisar o que ocorre quando é feito um novo depósito de $ 10o,0o, em moeda, neste nosso banco monopolista.
A tabela a seguir mostra como esta transação será transcrita nos livros do banco:
Tabela 1
	Ativo
	Passivo
	Encaixe 100
	Depósitos 100
Nesta primeira etapa não houve criação de moeda e, sim, uma transferência de moeda manual para moeda escritural. Ocorre, entretanto, que o banco não precisa conservar 100% de reservas para garantir seus depósitos. A experiência mostra que uma parcela, pequena, é suficiente, vamos supor 10%.
Com $ 100,00 de reservas o banco pode prometer pagar $ 1.000,00 (de depósitos). Assim ele poderá, por exemplo, emprestar $ 500,00 para a empresa X, e emprestar $ 40o,00 ao indivíduo A, cobrando juros em ambas; as operações. Em contrapartida o banco permite ao indivíduo A preencher cheques até o montante do empréstimo e abre um crédito na conta da empresa X no valor de $ 500,00. A tabela 2 mostra como estas transações aparecerão nos livros do banco.
Tabela 2
	Ativo
	Passivo
	Encaixe 100
Empréstimo para X 500
Empréstimo para A 400
	Depósitos 1.000
	1.000
	1.000
O ativo do banco agora inclui os $ 100,00 do depósito inicial, e os $ 900,00 de empréstimos efetuados. O passivo, por sua vez, aumentou para $ 1.000,0o, sendo $ 10o,00 dos depósitos iniciais, $ 500,00 de depósitos criados para a empresa X e $ 400,00 criados para o indivíduo A. Note-se que por simples lançamentos contábeis o banco criou $ 900,00 de novos depósitos, ou seja, moeda escritural. Seus encaixes agora representam 10% de suas obrigações (depósitos).
É de se esperar que tanto a empresa X como o indivíduo A gastem o seu dinheiro. Na maioria dos casos eles o farão por meio de cheques. Como estamos supondo que exista um único banco e que o público não deseje conservar quantias adicionais de moeda em forma de moeda manual, os indivíduos, ou empresas, que receberem os cheques, irão depositá-los no nosso banco. O banco, então, reduzirá a conta corrente de quem preencheu o cheque e aumentará a conta de quem o recebeu. Não haverá, assim, qualquer alteração no total dos seus depósitos, e a situação permanece a mesma que foi descrita pela Tabela 2, com modificações apenas na composição interna dos depósitos.
6.3.2.2. Vários Bancos Comerciais
No raciocínio exposto acima, fizemos duas hipóteses simplificadoras. Vamos agora alterar o raciocínio, eliminando-as. Em primeiro lugar, vamos supor a existência de muitos bancos, hipótese esta que corresponde à realidade brasileira. Neste caso, cada banco, isoladamente, não pode esperar que os cheques lançados por seus clientes sejam recebidos por outros seus clientes e novamente depositados no banco. É de se esperar que estes cheques sejam depositados em outros bancos, ao menos a maioria. Assim, cada banco individualmente não poderá se comportar da forma que foi exposta no caso de um único banco.
Podemos, entretanto, pensar no sistema em conjunto, ou seja, raciocinarmos com todos os bancos agregadamente. Nestas condições, o raciocínio é o mesmo. De fato, para o sistema como um todo, vale a hipótese feita de que todos os cheques serão novamente depósitos no sistema. E, assim, o mecanismo de expansão é exatamente igual ao apresentado. O sistema bancário pode criar depósitos num valor múltiplo dos depósitos iniciais.
O Banco Central
Os bancos que acabamos de analisar são bancos comerciais, ou seja, bancos privados, cujo comportamento é ditado pela regra de maximizar os lucros, ou motivados em seu funcionamento pelos lucros a serem alcançados.
Além destes bancos, encontramos, em quase todos os países, Bancos Centrais, cuja função primordial é regular o fluxo da moeda e do crédito na economia. O Banco Central é uma agência das autoridades monetárias por meio da qual é realizada a política monetária. Em outras palavras, o Banco Central é o instrumento pelo qual o governo realiza sua política monetária.
A estrutura administrativa e jurídica dos diversos Bancos Centrais varia largamente entre países. No Reino Unido, o Banco Central é o Banco da Inglaterra. Nos Estados Unidos, encontramos o Sistema Federal de Reserva. No Brasil, as funções do Banco Central são desempenhadas pelo Banco Central do Brasil e pelo Banco do Brasil. Entretanto, em que pese as diferenças institucionais, as funções dos diversos bancos centrais são as mesmas. Neste sentido, vamos nos concentrar no estudo das funções gerais de um banco central.
Banco dos Bancos
Os bancos comerciais podem querer depositar seus fundos em algum lugar e necessitam de um mecanismo para transferir fundos de um banco para outro. O Banco Central cumpre este papel. Recebe depósitos dos bancos comerciais e transfere fundos de um para outro banco. Esta última função é desempenhada pela Câmara de Compensação de Cheques.
O funcionamento da compensação é simples. A Câmara se reúne, normalmente, uma única vez por dia. Cada banco comercial apresenta os cheques de outros bancos, recebidos em suas agências, e ao mesmo tempo lhe são cobrados cheques de seus clientes depositados em outros bancos. São somados os débitos e créditos de cada banco. Os saldos líquidos são a seguir transferidos. Os bancos que tenham saldos positivos recebem fundos dos que tenham saldos negativos. Este mecanismo é controlado no Brasil pelo Banco do Brasil.
Os bancos comerciais precisam também de fundos líquidos. Uma das formas de consegui-los é pedir emprestado ao Banco Central. A taxa de juros que os bancos comerciais pagam é conhecida como taxa de redesconto.
O Banco Central deve ser um banco austero. Recusar novos empréstimos quando achar necessário e cobrar os empréstimos atrasados. O Banco Central deve ser "um emprestador de última instância-. Sua função deve ser a de socorrer os bancos em suas dificuldades, mas somente nestas ocasiões.
De outra parte, o Banco Central pode usar, e realmente usa, este poder de emprestar para controlar e regular as atividades dos bancos comerciais.
Bancos do Governo
Grande parte dos fundos do governo são depositados no Banco Central. De outra parte, quando o governo necessita de recursos, ele normalmenteemite títulos (obrigações) e os vende ou ao público ou ao Banco Central, obtendo, assim, os fundos necessários. Mesmo quando o governo vende títulos ao público, ele o faz por meio do Banco Central. Este é, por estas razões, o agente financeiro do governo, ou melhor, o banco do governo.
No Brasil, por causa da estrutura híbrida do Banco Central, uma parte das funções é desempenhada pelo Banco do Brasil. O Banco Central do Brasil não recebe depósitos do governo. Quem o faz é o Banco do Brasil.
Controle e Regulamentação da Oferta de Moeda
A principal função do Banco Central é controlar a oferta de moeda. Para tal fim, ele pode utilizar vários instrumentos. Os principais são as emissões de papel-moeda, as reservas obrigatórias dos bancos comerciais e as operações de mercado aberto (open market). A seguir, examinaremos cada uni destes instrumentos e como por meio deles as autoridades monetárias podem fornecer ao sistema econômico uma oferta de moeda suficiente para o desenvolvimento das atividades econômicas, mas que, por outro lado, não seja excessiva a ponto de se tornar uma fonte de inflação.
Monopólio das Emissões
Em quase todos os países do mundo, o Banco Central controla, por força de lei, o volume de papel-moeda emitido. Em outras palavras, o Banco Central tem o monopólio das emissões. Em geral, não se recomenda que o Banco Central use este seu poder para controlar a oferta de moeda, mas que coloque em circulação o volume de notas e moedas metálicas necessárias ao bom desempenho da economia. O controle da oferta de meios de pagamento deve ser realizado pela utilização dos outros instrumentos.
Reservas Obrigatórias
Como já discutido, os bancos comerciais guardam uma parcela dos depósitos como reservas e com a finalidade de atender ao movimento de caixa.
Em geral, os bancos centrais forçam os bancos comerciais a guardar reservas superiores às que seriam indicadas pela experiência e prudência destes estabelecimentos. No Brasil, estas reservas obrigatórias ou compulsórias são em média pouco superiores a 35% dos depósitos à vista; nos Estados Unidos, esta taxa é pouco inferior a 20%; e na Inglaterra, aproximadamente 8 % do total dos depósitos.
Além destes instrumentos, o Banco Central usa também seu poder de ser o banco dos bancos, especialmente por meio da política de redesconto.
Como pôde ser visto, nas fórmulas apresentadas acima, a relação encaixe-depósitos é uma das determinantes do mecanismo de expansão dos meios de pagamento. Assim, a variação das taxas de reservas obrigatórias acarreta alterações substanciais na criação de moeda por parte dos bancos comerciais.
De outra parte, não só a expansão dos meios de pagamento é afetada pela modificação nas reservas, mas o próprio volume de moeda escritural é alterado e, portanto, a oferta de meios de pagamento. De fato, para um volume de $ 1.000.000,00 de reservas e com uma relação encaixe-depósitos igual a 0,20%, o total de moeda escritural será $ 5.000.000,00. Caso o Banco Central altere a relação para o, 25%, o sistema bancário será obrigado a reduzir o volume de moeda escritural para $ 4.000.000,0o, mesmo que suas reservas permaneçam iguais a $ 1.000.000,0o, pois agora ele será obrigado a ter como reservas 25% dos depósitos. Calculando 25% de 4 milhões, dará 1 milhão. Seria interessante que o leitor estudasse o que ocorreria caso o Banco Central reduzisse a relação encaixe-depósitos para 0,10%.
Operações de Mercado Aberto ("Open Market")
Outro instrumento importante para o controle da oferta de moeda são as operações de mercado aberto. Em muitos países, Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, este instrumento é o mais utilizado pelas autoridades monetárias.
No Brasil, sua utilização data do início da década de 70. Em essência, estas operações consistem em vendas ou compras, por parte do Banco Central, de títulos governamentais no mercado de capitais. Qual o efeito destas compras e vendas sobre a oferta de moeda?
Para entendermos esta repercussão, vamos analisar o que ocorre quando estas operações são realizadas. Vamos supor que o Banco Central compre obrigações governamentais possuídas pelo público. Como pagamento desta compra, o Banco Central entrega ao antigo possuidor um cheque no valor da importância devida. Por sua parte o indivíduo que vendeu os títulos deposita o cheque num banco comercial no qual seja correntista. Ora, o Banco Central, quando realiza estas operações, compra títulos de inúmeros indivíduos, os quais vão seguir o mesmo procedimento, ou seja, depositar os cheques recebidos nos seus bancos comerciais. Já estudamos a repercussão do aumento dos depósitos no sistema bancário. Como uma só parte dos depósitos precisa ser guardada como reserva ou encaixe, os bancos vão agora se defrontar com encaixes excedentes. Estes encaixes são a condição necessária, e de acordo com a hipótese formulada, suficiente para que se dê a expansão múltipla dos meios de pagamento. Caso o leitor não esteja seguro desta repercussão, seria interessante reler a parte anterior referente ao mecanismo de expansão dos meios de pagamento.
Em resumo, a compra de títulos governamentais, por parte do Banco Central, acarretou uni aumento nos depósitos junto aos bancos comerciais. Este aumento, por sua vez, gerou encaixes excedentes, e estes foram o ponto de partida para uma expansão múltipla dos meios de pagamento e, portanto, para um aumento na oferta de moeda.
O oposto se verificaria caso o Banco Central vendesse títulos. Os indivíduos que comprassem os títulos os pagariam com cheques. Quando o Banco Central descontasse estes cheques, ele reduziria as reservas dos bancos que, por sua vez, seriam obrigados a contrair a oferta de meios de pagamento, ou seja, reduzir a oferta de moeda.
Política de Redesconto
Outra forma, bastante importante, de se controlar a oferta de moeda e a política de redesconto. Esta é, inclusive, uma das mais usadas nas economias modernas. Já vimos que o Banco Central é o banco dos bancos, e que ele empresta fundos líquidos aos outros estabelecimentos bancários, seja por meio de empréstimos diretos ou por meio do redesconto de títulos. Na medida em que adota uma política liberal de crédito, oferecendo empréstimos abundantes e a juros (taxa de redesconto) baixos, o Banco Central fornece aos bancos comerciais uma fonte acessível de empréstimos, e, portanto, estes podem também adotar uma política liberal de crédito para seus clientes. Caso o Banco Central limite quantitativamente os redescontos ou eleve suas taxas, os bancos comerciais serão obrigados a reduzir seus empréstimos e elevar as taxas de juros. Desta forma, o crédito bancário se torna difícil e dispendioso.
A Demanda de Moeda
Por qual razão indivíduos e empresas guardam moeda consigo ou nos bancos? Não seria mais interessante comprar títulos e, portanto, ganhar juros? Ou fazer outras aplicações e receber rendimentos? Se existem estas possibilidades, porque se guarda moeda que não rende nada? Em outras palavras, podemos dizer que existe um custo ao se guardar moeda. Este custo, de oportunidade, é exatamente o que se deixa de ganhar ao se manter a moeda inativa. Se quisermos responder às perguntas acima, devemos desenvolver uma teoria da demanda de moeda. É o que faremos a seguir.
Razões para manter Encaixes Monetários
Os pagamentos e recebimentos não são perfeitamente sincronizados
Todas as transações, ou praticamente todas, são realizadas com o pagamento em moeda. A moeda passa dos indivíduos para as empresas, destas para outras empresas, ou novamente para os indivíduos, e assim sucessivamente. Desta forma, tanto as empresas como os indivíduos precisam guardar certa quantidade de moeda para os pagamentos que têm que fazer. O economista inglês Lord Keynes designou esta procura de procura de moeda para transações. Podemos explicar melhor de onde surge esta procura, analisando primeiramente o comportamento dos assalariados e depois o das empresas.
Assalariados
Normalmente recebem-se os salários no início do mês e gastam-se ao longo do mês. Até o dia que antecedeo novo pagamento os indivíduos têm certa despesa, como condução, alimentação, cigarros, cafezinho etc. Assim, é necessário que se guarde até este dia uma certa quantia de moeda.
Vamos supor um indivíduo que receba $ 12.000,00 por mês e decida gastá-lo em parcelas diárias iguais a $ 400,00. No início do primeiro dia ele tem, na carteira ou no banco, os $ 12.000,00 e gasta $ 400,00 durante este dia. No dia seguinte, ele começa com $ 11.600,00 e termina com $ 11.200,00, e assim por diante. No fim do último dia do mês ele estará absolutamente na lona, mas isto não o preocupa, pois sabe que no dia seguinte receberá seu ordenado.
Qual é, nestas condições, a quantidade média de moeda retida, também chamada de encaixe monetário médio? É fácil verificar que este encaixe é igual a $ 6.000,00, ou seja, exatamente igual à metade de seu salário mensal ou de sua renda anual.
É preciso lembrar que o comportamento de gastos apresentados não corresponde necessariamente ao comportamento normal. Pelo contrário. Em geral, nos primeiros dias do mês há um acúmulo de despesas.
Empresas
No início de cada mês, a caixa das empresas ficaria a zero. No decorrer do mês, iria aumentando e, no fim do mês, atingiria uni máximo, e com o pagamento dos empregados cairia abruptamente para zero.
É bom notar que esta apresentação é bastante simplificada. É uma abstração da realidade visando apenas o entendimento do fenômeno. Na prática, o comportamento das empresas e indivíduos é diferente porque existem outros fatores atuando. Vamos analisá-los.
Incertezas quanto às Datas e Montantes dos Recebimentos
A segunda razão para empresas e indivíduos reterem moeda é a incerteza quanto às datas e montantes dos recebimentos. O comportamento indicado nos gráficos anteriores é bastante arriscado. Vamos supor que os assalariados recebam seu ordenado no dia 3 ao invés do dia 12. Se eles tiverem gasto o seu último centavo na noite do dia 31, eles passariam os três primeiros dias do novo mês sem dinheiro, nem para o cafezinho, nem para a condução. Para evitar estes problemas, e devido ao fato de não ser possível prever exatamente o que ocorrerá no futuro, os indivíduos e empresas, quando isto é possível, mantêm, mesmo no fim do mês, uma certa quantia de moeda - encaixe de segurança - seja na carteira, seja nos bancos. Este é o chamado motivo de precaução, ou a demanda de moeda para precaução, de acordo com a terminologia keynesiana.
A existência de encaixes para precaução aumenta o encaixe médio retido por empresas e indivíduos, e, desta forma, a velocidade-renda da moeda se reduz.
É fácil verificar que estes encaixes de segurança ou precaução devem depender da renda do indivíduo ou da empresa. Quanto maior for a empresa, maiores serão seus encaixes necessários. É por esta razão aceito que este encaixe seja uma proporção da renda dos assalariados ou das empresas. Desta forma, nós podemos representar a demanda de moeda para fins de transação e precaução como uma função proporcional da renda monetária.
Estas ideias deram origem à chamada Teoria Quantitativa do Valor da Moeda, que iremos analisar logo após estudarmos a terceira razão para a manutenção de encaixes de moeda.
A Moeda é uma forma de Patrimônio
Um raciocínio simplista levaria à conclusão de que, como a moeda não rende juros e não tem, a não ser para indivíduos extremamente avarentos, uma utilidade em si, os indivíduos nunca guardariam moeda, a não ser o estritamente necessário para as transações e para a segurança destas. Caso eles tivessem excedentes monetários, eles comprariam títulos, que têm rendimentos, enquanto a moeda não os tem.
A falha deste raciocínio é esquecer que a moeda desempenha, além de outras, a função de reserva de valor, ou seja, pode representar uma forma de riqueza ou patrimônio. Vamos apresentar três casos onde, ao menos a curto prazo, torna-se racional guardar moeda ao invés de títulos:
a) quando se pretende comprar certo bem patrimonial indivisível - é o caso de indivíduos que aumentam suas contas bancárias durante alguns meses para dar a entrada na compra de uma casa, ou de um automóvel;
b) a moeda não apresenta rendimentos, mas tem a vantagem de não apresentar riscos, especialmente quando não há inflação. A desvantagem de não gerar juros pode ser compensada pela vantagem de ausência de riscos. O indivíduo, para reduzir os riscos, diversifica seu património em vários títulos e aplicações, inclusive guardando certa quantidade de moeda;
c) quando se espera a baixa no preço de bens patrimoniais, é uma boa política guardar moeda como reserva de valor. Por exemplo, quando se vai comprar um terreno e espera-se que o preço do terreno diminua. O indivíduo, mesmo tendo os recursos necessários para a compra, espera os preços diminuírem para efetuar a transação.
No caso da queda de preços esperada ser no preço dos títulos, esta razão corresponde à procura especulativa de moeda, de Keynes. Exemplifiquemos.
Caso os preços dos títulos estejam muito altos e, portanto, a taxa de juros baixa, os indivíduos não desejarão adquirir os títulos, pois não é provável que ganhem bons rendimentos. O comportamento racional do aplicador será guardar a moeda e esperar a queda no preço do título e, portanto, a alta na taxa de juros.
Isto corresponde à prática de comprar na baixa e vender na alta, e assim ganhar grandes somas nestas transações.
Estas idéias nos levam a colocar esta demanda de moeda como dependente da taxa de juros. Quando a taxa de juros for baixa, os indivíduos não desejam comprar títulos e guardam todos os seus excedentes monetários, ou seja, a quantidade demandada de moeda aumenta. De outra parte, quando a taxa de juros aumentar, os indivíduos passam a desejar comprar títulos, e assim a quantidade demandada de moeda se reduz. Em outras palavras, existe uma relação inversa entre a quantidade demandada de moeda e a taxa de juros.
Podemos apresentar este raciocínio de outra forma. A taxa de juros sendo o que se pode ganhar nos títulos, é exatamente aquilo que se deixa de ganhar ao guardar moeda e, portanto, representa um custo de oportunidade. É o preço de manter os estoques monetários. Assim, quanto maior o preço (taxa de juros menor a quantidade demandada de moeda e vice-versa. A curva de demanda é decrescente.
Pode-se também argumentar que mesmo a demanda de moeda para transação e precaução é função da taxa de juros pois, se, por exemplo, os juros forem muito altos, vale a pena reduzir o estoque de moeda para precaução e/ou usar parte da moeda retida para transação posterior e, portanto, inativa durante alguns dias, para comprar títulos, especialmente os de grande liquidez. Quando se necessitar de moeda de novo vende-se o título, ficando, como saldo, com os juros recebidos.
Relação entre Moeda e Nível de Preços
A relação entre a moeda e o nível geral de preços é um assunto que tem merecido a atenção dos estudiosos desde séculos atrás. Muitas idéias e discussões surgiram e ainda hão de surgir. No presente capítulo, faremos uma síntese destes pensamentos, apresentando as duas principais correntes – a Teoria Quantitativa e a Teoria Keynesiana.
Teoria Quantitativa de Moeda
Segundo John Stuart Mill, "o valor da moeda, mantidos constantes os demais fatores, varia inversamente com a sua quantidade, cada aumento na quantidade diminuindo o valor e cada diminuição aumentando-o, em uma proporção exatamente equivalente".
Posteriormente, Irving Fisher inclui elementos da velocidade da circulação da moeda e do nível de produção da economia, na sua célebre equação:
PT = MV
Onde:
P = preço médio (nível de preços)
T = número de unidades transacionadas (produção real)
M = estoque de moeda (moeda manual mais depósitos bancários à vista)
V = velocidade de circulação da moeda 
Suponhamos que:
M = $1.000.000.000,00
V = 2,5
T = 200.000.000
P= ?
PT = MV
P = MV/T = (1.000.000.000,00 x 2,5) / 200.000.000 = $12,50
Suponha que o estoque de moedas passe de $1.000.000.000,00 para $2.000.000.000,00:
P = MV/T = (2.000.000.000,00 x 2,5) / 200.000.000 = $25,00O aumento de 100% no estoque de moedas, gerou uma inflação de 100% nos preços.
Em tempos de instabilidade financeira, com expectativas de inflação elevada, é comum aumentar a velocidade de circulação da moeda, mesmo SEM um aumento em seu quantitativo. O dinheiro "queima" nas mãos das pessoas, aumentando a velocidade com que ele troca de mãos. Esse aumento da velocidade de circulação eleva o patamar da inflação (e vice-versa).
Teoria Keynesiana da Moeda
A Teoria Keynesiana difere em dois aspectos da Teoria Quantitativa. Em primeiro lugar, para Keynes a demanda de moeda ocorre não só por causa dos motivos transação e precaução, mas também porque a moeda é uma forma de patrimônio. Assim sendo, a demanda de moeda depende não só da renda monetária como também da taxa de juros.
Podemos dizer que, além da demanda da moeda apresentada pela Teoria Quantitativa, Keynes acrescenta uma outra parcela representada pela demanda especulativa de moeda. Neste sentido, deve-se entender a Teoria Keynesiana como sendo uma complementação da Teoria Quantitativa e não uma negação desta.
A outra diferença fundamental entre as duas teorias está relacionada com a reação de indivíduos e empresas nutria situação de desequilíbrio. Para a Teoria Quantitativa, quando houver encaixes monetários excedentes, os indivíduos e empresas irão aumentar sua demanda de bens e serviços. Para Keynes, vai-se adicionalmente usar os encaixes excedentes para comprar títulos (ações, letras de câmbio, debêntures etc.).
Analisaremos com mais detalhe este aspecto da Teoria Keynesiana. 
Quando empresas e indivíduos estiverem com excedentes monetários, eles não irão somente aumentar sua demanda de bens e serviços; irão também comprar títulos e com isto obter rendimentos. Quando, de outra parte, eles estiverem com encaixes muito baixos e insuficientes, eles venderão os títulos para reequilibrar seus encaixes monetários. Este é, para Keynes, o comportamento usual e mais importante.
A repercussão deste comportamento será a de alterar a taxa de juros. Vamos supor que existam encaixes excedentes nas empresas e com os indivíduos. Vimos que eles procurarão comprar títulos. A demanda de títulos aumenta. Sendo que a oferta (a curva e não a quantidade) permanece a mesma, os preços dos títulos irão aumentar. O aumento do preço dos títulos é a mesma coisa que a queda na taxa de juros. Esta é a primeira repercussão.
De outra parte, o investimento é sensível à taxa de juros; quando a taxa de juros for alta, haverá dificuldades para investimentos e, quando a taxa de juros for baixa, haverá estímulo para investimentos. Com a redução na taxa de juros, os investimentos tendem a aumentar. Esta é a segunda repercussão. Mas o processo não pára aí. O aumento dos investimentos tem um efeito multiplicador sobre a demanda agregada. Esta aumenta em um valor múltiplo do aumento inicial no investimento.
Resumindo, teremos:
a) quando houver aumento da oferta monetária, surgirão encaixes excedentes;
b) os indivíduos e empresas irão aumentar, por causa destes encaixes, a procura de títulos;
c) este aumento da procura deverá aumentar os preços dos títulos, ou, o que é a mesma coisa, reduzir a taxa de juros;
d) a redução na taxa de juros tenderá a aumentar os investimentos;
e) o aumento dos investimentos tem um efeito multiplicador da demanda agregada.
Como se pode ver, a ligação entre a alteração na oferta monetária e a alteração na demanda agregada é, para Keynes, bastante indireta, mas apresenta o mesmo sentido que o da Teoria Quantitativa.
A repercussão do aumento da demanda sobre a renda real e sobre o nível de preços é a mesma que já apresentamos atrás. Se houver pleno emprego, o aumento da demanda irá somente aumentar o nível dos preços. Se houver desemprego, dentro das hipóteses feitas, haverá um aumento do emprego e da renda sem alteração no nível de preços.
Resumindo e concluindo, quando houver inflação ou desemprego, as autoridades podem, por meio da política monetária, ou seja, do controle que exercem sobre a oferta de moeda, procurar corrigir este desequilíbrio. Havendo desemprego deve-se aumentar a oferta de moeda. Havendo inflação, a redução na oferta monetária irá reduzir o hiato inflacionário, pois haverá uma diminuição na demanda agregada.
Referências Bibliográficas
BRASIL, Banco Central. Resolução 375.
FURTADO,Celso. Editora Companhia Nacional: São Paulo.
GUDIN, E. Princípios de Economia Monetária.
HOLANDA, Nílson. Introdução à Economia.
SAMUELSON, Paul A. Introdução à Análise Econômica.
SINGER, Paul. Aprender Economia. Editora Contexto: São Paulo, 2002.

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