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Introdução a Sistemas Térmicos Professor: André Felippe Vieira da Cunha Recife - PE 2013 Presidência da República Federativa do Brasil Ministério da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica © Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco Este caderno foi elaborado em parceria entre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco/IFMG-Recife e a Universidade Federal de Santa Maria para o Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil – Rede e-Tec Brasil. Equipe de Elaboração – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco/IFMG-Recife Reitora Cláudia da Silva Santos/IFMG-Recife Direção Geral Fernanda Maria Dornellas Câmara/IFMG- Recife Coordenação Institucional Clayson Pereira da Silva/IFMG-Recife Coordenação do Curso de Manutenção Automotiva Natanael Gomes da Costa Júnior/IFMG- Recife Coordenação do Curso de Sistemas de Energia Renovável Natanael Gomes da Costa Júnior/IFMG- Recife Coordenação do Curso de Manutenção e Suporte em Informática Virna de Souza Godoy Oliveira/IFMG-Recife Coordenação do Curso de Informática para Internet Kelly Cristina Oliveira da Silva/IFMG-Recife Professor-autor xxxxxxxx/IFMG-Recife Equipe Técnica Aldo Luiz Silva Queiroz/IFMG-Recife Eduardo Meneses/IFMG-Recife Fábio Brumana/IFMG-Recife Ivone Lira de Araújo/IFMG-Recife Pérola Torres/IFMG-Recife Sthelline Gomes/IFMG-Recife Comissão de Acompanhamento e Validação – Colégio Técnico Industrial de Santa Maria/CTISM Coordenação Institucional Paulo Roberto Colusso/CTISM Coordenação Técnica Iza Neuza Teixeira Bohrer/CTISM Coordenação de Design Erika Goellner/CTISM Revisão Pedagógica Andressa Rosemárie de Menezes Costa/CTISM Fabiane Sarmento Oliveira Fruet/CTISM Janaína da Silva Marinho/CTISM Marcia Migliore Freo/CTISM Revisão Textual Ana Paula Cantarelli/CTISM Tatiana Rehbein/UNOCHAPECÓ Revisão Técnica xxxxxxxx/CTISM Ilustração e Diagramação Cássio Fernandes Lemos/CTISM Gabriel La Rocca Cózer/CTISM Leandro Felipe Aguilar Freitas/CTISM Marcel Santos Jacques/CTISM Rafael Cavalli Viapiana/CTISM Ricardo Antunes Machado/CTISM Apresentação e-Tec Brasil Prezado estudante, Bem-vindo ao e-Tec Brasil! Você faz parte de uma rede nacional pública de ensino, a Escola Técnica Aberta do Brasil, instituída pelo Decreto nº 6.301, de 12 de dezembro de 2007, com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino técnico público, na modalidade a distância. O programa é resultado de uma parceria entre o Ministério da Educação, por meio das Secretarias de Educação a Distância (SEED) e de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), as universidades e escolas técnicas estaduais e federais. A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e grande diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao garantir acesso à educação de qualidade e ao promover o fortalecimento da formação de jovens moradores de regiões distantes dos grandes centros geográfica e ou economicamente. O e-Tec Brasil leva os cursos técnicos a locais distantes das instituições de ensino e para a periferia das grandes cidades, incentivando os jovens a concluir o ensino médio. Os cursos são ofertados pelas instituições públicas de ensino e o atendimento ao estudante é realizado em escolas-polo integrantes das redes públicas municipais e estaduais. O Ministério da Educação, as instituições públicas de ensino técnico, seus servidores técnicos e professores acreditam que uma educação profissional qualificada – integradora do ensino médio e educação técnica, – é capaz de promover o cidadão com capacidades para produzir, mas também com autonomia diante das diferentes dimensões da realidade: cultural, social, familiar, esportiva, política e ética. Nós acreditamos em você! Desejamos sucesso na sua formação profissional! Ministério da Educação Janeiro de 2010. Nosso contato: etecbrasil@mec.gov.br Indicação de ícones Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. Atenção: indica pontos de maior relevância no texto. Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o assunto ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao tema estudado. Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão utilizada no texto. Mídias Integradas: sempre que se desejar que os estudantes desenvolvam atividades empregando diferentes mídias: vídeos, filmes, jornais, ambiente AVEA e outras. Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes níveis de aprendizagem para que o estudante possa realizá-las e conferir o seu domínio do tema estudado. Sumário Apresentação e-Tec Brasil ............................................................................ 3 Indicação de ícones ....................................................................................... 4 Sumário 5 Palavra do professor-autor............................................................................ 6 Apresentação da disciplina ........................................................................... 7 Projeto instrucional ....................................................................................... 8 Aula 1 – Princípios de Termodinâmica ....................................................... 10 1.1 O Conceito de Termodinâmica ........................................................ 10 1.2 Sistema Termodinâmico .................................................................. 11 1.3 Propriedades Termodinâmicas ........................................................ 11 1.4 O Estado de uma substância na Termodinâmica ............................. 17 1.5 Calor x Trabalho ............................................................................. 20 1.6 Primeira Lei da Termodinâmica ....................................................... 21 1.7 Transformações Termodinâmicas ................................................... 22 1.8 Segunda Lei da Termodinâmica ...................................................... 26 Aula 2 – Ciclos Térmicos ............................................................................ 28 2.1 Ciclo Térmico à Vapor ..................................................................... 28 2.2 Máquina Térmica ............................................................................ 29 2.3 Ciclo de Carnot ............................................................................... 30 2.4 Ciclo Rankine .................................................................................. 31 Aula 3 – Teoria Básica de Combustão ....................................................... 38 3.1 Combustíveis .................................................................................. 38 3.2 Reações de Combustão .................................................................. 39 3.3 Coeficientes Estequiométricos ........................................................ 42 3.4 Poder Calorífico .............................................................................. 43 3.5 Limite de Inflamabilidade ................................................................. 45 Aula 4 – Noções Básicas de Mecânica dos Fluidos .................................. 47 4.1 Definição de Fluido ......................................................................... 47 4.2 Conceitos de Hidrostática Aplicados................................................ 48 4.3 Conceitos de HidrodinâmicaAplicados ............................................ 60 Aula 5 – Transferência de Calor.................................................................. 74 5.1 Fluxo de calor e Taxa Transferência de Calor ................................. 74 5.2 Condução ....................................................................................... 75 5.3 Convecção térmica ......................................................................... 79 5.4 Irradiação térmica ........................................................................... 82 Aula 6 – Exemplos de Sistemas Térmicos. ................................................ 85 6.1 Caldeiras ........................................................................................ 85 6.2 Turbinas a Vapor ............................................................................ 90 6.3 Trocadores de calor ........................................................................ 96 Referências .................................................................................................. 99 Currículo do professor-autor ...................................................................... 99 6 Palavra do professor-autor Prezado(a) estudante! Nosso objetivo nesta disciplina é proporcionar uma apresentação integrada introdutória da termodinâmica, mecânica dos fluidos e transferência de calor. O tema unificador é a aplicação desses princípios na engenharia de sistemas térmicos. Os sistemas térmicos envolvem o armazenamento, transferência e conversão de energia. Os sistemas de engenharia térmica estão preocupados com a forma como a energia é utilizada para realizar funções benéficas na indústria, no transporte, nas residências domésticas, e assim por diante. Dessa forma, espera-se que esta disciplina na modalidade à distância, venha contribuir para esta formação e permita a você, aluno, a interpretação dos fatos, fenômenos e processos térmicos em transformação. Este caderno está dividido em sete aulas que abordam temas necessários para aplicações durante o curso na área de Sistemas de Energias Renováveis. Portanto, caro(a) estudante, o material apresentado é objetivo. Bons estudos! 7 Apresentação da disciplina Esta disciplina, Introdução aos Sistemas Térmicos, faz parte da grade curricular do Curso Sistemas de Energia Renovável da e-Tec Brasil – Escola Técnica Aberta do Brasil, que será ministrada na modalidade à distância. O objetivo da disciplina é integrar o aluno com os conhecimentos teóricos fundamentados de transmissão de calor, mecânica dos fluidos e termodinâmica, de forma torná-lo capaz de compreender os seus mecanismos básicos. Assim como resolver problemas práticos na área de ciências térmicas, reconhecendo os mecanismos envolvidos e aplicando os conhecimentos teóricos referentes aos mesmos, avaliando e dimensionando, de forma técnica, os sistemas térmicos. Na elaboração desse material didático, para o ensino de Ciências Térmicas, procuramos produzir de tal forma que venha auxiliar tanto o professor como o aluno no cumprimento dos princípios enunciados da LDB, das Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio e da SEMTEC/MEC – 1998. Esse caderno foi dividido em sete aulas, dentro de cada aula é abordado um conteúdo que atende o perfil do Curso Sistemas de Energia Renovável, onde a teoria é apresentada de maneira direta com uma linguagem clara e acessível ao aluno de ensino médio. O texto interage com o aluno e estimula a leitura. Após o desenvolvimento das ideias, sempre que possível, são apresentados exercícios resolvidos, que estão relacionados ao cotidiano e ao conteúdo abordado. Ao final de cada aula, serão propostas atividades de reflexão e investigação através dos fóruns do ambiente virtual do Moodle. O acompanhamento e a orientação do professor formador e tutores a distância para o desenvolvimento é essencial e evita incompreensões, tornando as atividades mais produtivas e fluentes. 8 Projeto instrucional Disciplina: Introdução aos Sistemas Térmicos (carga horária: 45 h). Ementa: Definições e Conceitos Termodinâmicos; Propriedades das Substâncias Puras; Leis da Termodinâmica; Introdução à mecânica dos fluidos: estática dos fluidos; Transferência de Calor por Convecção: Escoamento Externo e Escoamento Interno; Efeitos Viscosos e Térmicos; Transferência de Calor por Condução; Transferência de Calor por Radiação Térmica; Resistência Térmica; Trocadores de Calor. AULA OBJETIVOS MATERIAIS CARGA HORÁRIA (horas) 01 Princípios de Termodinâmica Abordar os conhecimentos básicos sobre termodinâmica como propriedades de substâncias puras, primeira e segunda lei da termodinâmica, necessários para aplicações em sistemas térmicos. Apostila Didática Textos via Ambiente Virtual 8h 02 Ciclos Térmicos Abordar conceitos de máquinas térmicas e Identificar alguns ciclos termodinâmicos teóricos de geração de vapor para geração de trabalho, assim como seus componentes. Apostila Didática Textos via Ambiente Virtual 7h 03 Teoria Básica da Combustão Dar uma breve noção sobre os fundamentos básicos da combustão no contexto da energia térmica, comentando assuntos como: combustíveis, reações de combustão, poder calorífico e limites de inflamabilidade. Apostila Didática Textos via Ambiente Virtual 7h 04 Noções Básicas de Mecânica dos Fluidos Aplicar os princípios básicos da hidrostática e da hidrodinâmica para cálculo de pressões e vazões, assim como definir alguns conceitos da mecânica dos fluidos, como linhas de escoamento e de corrente. Apostila Didática Textos via Ambiente Virtual 8h 05 Transferência de Calor Definir alguns conceitos sobre a transferência de calor e propriedades térmicas dos materiais, assim como abordar as três distintas formas de transmissão: Condução, Convecção e Radiação. Apostila Didática Textos via Ambiente Virtual 8h 9 06 Exemplos de Sistemas Térmicos Abordar equipamentos utilizados em sistemas térmicos, definindo a sua principal função, funcionamento e componentes de formação, objetivando maior conhecimento na área das ciências térmicas. Apostila Didática Textos via Ambiente Virtual 7h 10 Aula 1 – Princípios de Termodinâmica Objetivos Abordar os conhecimentos básicos sobre termodinâmica como propriedades de substâncias puras, primeira e segunda lei da termodinâmica, necessários para aplicações em sistemas térmicos. 1.1 O Conceito de Termodinâmica A palavra termodinâmica deriva das palavras gregas therme (calor) e dynamis (força). Embora vários aspectos do que é hoje conhecido como a termodinâmica tem sido de interesse desde a antiguidade, o estudo formal da termodinâmica começou no início do século XIX através da consideração da potência motriz do calor: a capacidade de corpos quentes para produzirem trabalho. Hoje o escopo é mais abrangente, tratando basicamente da energia e das relações entre as propriedades da matéria. A termodinâmica é a parte da física que trata da transformação da energia térmica em energia mecânica e vice-versa. Seus princípios dizem respeito a alguns sistemas bem definidos, normalmente uma quantidade de matéria. Um sistema termodinâmico é aquele que pode interagir com a sua vizinhança, pelo menos de duas maneiras. Uma delas é, necessariamente, transferência de calor. Um exemplo usual é a quantidade de gás contida num cilindro com um pistão. A energia pode ser fornecida a este sistema por condução de calor,mas também é possível realizar trabalho mecânico sobre ele, pois o pistão exerce uma força que pode mover o seu ponto de aplicação. As raízes da Termodinâmica firmam-se em problemas essencialmente práticos. Uma máquina a vapor ou uma turbina a vapor, por exemplo, usam o calor de combustão de carvão ou de outro combustível para realizar trabalho mecânico, a fim de movimentar um gerador de energia transformada. Essa transformação é feita, portanto, utilizando-se, geralmente, um fluido chamado fluido operante. O calor, uma forma de energia em trânsito cedida ou recebida pelo fluido operante, pode ser analisado na base de energia mecânica macroscópica, isto é, das energias cinética e potencial de cada molécula do material, mas também é possível desenvolver os princípios da Termodinâmica sob o ponto de vista microscópico. 11 1.2 Sistema Termodinâmico Um sistema termodinâmico é a parte do ambiente ou do Universo que é objeto de estudo. O sistema é limitado por uma fronteira, real ou imaginária, que o separa da vizinhança, isto é, o restante do ambiente ou Universo. Exemplos de sistemas termodinâmicos: um motor, um planeta, um organismo vivo, etc. Este sistema pode ser (ver Figura 1.1): Sistema aberto (ou Volume de Controle): Sistema que troca energia e/ou massa (substância) com a vizinhança. Uma fronteira de sistema que permite a passagem de massa é comumente qualificada como permeável. Sistema fechado: Sistema termodinâmico que pode trocar calor ou trabalho com a vizinhança, mas não troca massa. Sistema isolado: Sistema sem nenhuma interação com a vizinhança, isto é, não há troca de energia nem de massa. Assim, um sistema isolado obedece às leis da conservação: a energia e a massa permanecem constantes. Figura 1.1 – Sistemas Termodinâmicos. Fonte: http://www.infoescola.com 1.3 Propriedades Termodinâmicas Se considerarmos uma massa de água, reconhecemos que ela pode existir sob várias formas. Se é inicialmente líquida pode-se tornar vapor após aquecida ou sólida quando resfriada. Assim nos referimos às diferentes fases de uma substância: uma fase é definida como uma quantidade de matéria totalmente homogênea; quando mais de uma fase está presente, as fases se acham separadas entre si por meio dos contornos das fases. Em cada fase a substância pode existir a várias pressões e temperaturas ou, usando a 12 terminologia da termodinâmica, em vários estados. O estado pode ser identificado ou descrito por certas propriedades macroscópicas observáveis; algumas das mais familiares são: temperatura, pressão, volume, etc. Cada uma das propriedades de uma substância num dado estado tem somente um valor definido e essa propriedade tem sempre o mesmo valor para um dado estado, independente da forma pela qual a substância chegou a ele. De fato, uma propriedade pode ser definida como uma quantidade que depende do estado do sistema e é independente do caminho (isto é, da história) pelo qual o sistema chegou ao estado considerado. Inversamente, o estado é especificado ou descrito pelas propriedades. As propriedades termodinâmicas podem ser divididas em duas classes gerais, as intensivas e as extensivas: Propriedade Extensiva - Chamamos de propriedade extensiva àquela que depende do tamanho (extensão) do sistema ou volume de controle. Assim, se subdividirmos um sistema em várias partes (reais ou imaginárias) e se o valor de uma dada propriedade for igual à soma das propriedades das partes, esta é uma variável extensiva. Por exemplo: Volume, Massa, etc. Propriedade Intensiva - Ao contrário da propriedade extensiva, a propriedade intensiva, independe do tamanho do sistema. Exemplo: Temperatura, Pressão etc. Propriedade Específica - Uma propriedade específica de uma dada substância é obtida dividindo-se uma propriedade extensiva pela massa da respectiva substância contida no sistema. Uma propriedade específica é também uma propriedade intensiva do sistema. Exemplo de propriedade específica: Volume específico =V/m, Energia Interna específica , u=U/m , onde: m é a massa do sistema, V o respectivo volume e U é a energia interna total do sistema. Quando qualquer propriedade do sistema é alterada, por exemplo; Pressão, Temperatura, Massa, Volume, etc. dizemos que houve uma mudança de estado no sistema termodinâmico. O processo é o caminho definido pela sucessão de estados através dos quais o sistema passa é chamado processo. Exemplos de processos: Processo Isobárico (pressão constante), Processo Isotérmico (temperatura constante), Processo Isocórico (isométrico) (volume constante), Processo Isoentálpico (entalpia constante), Processo Adiabático (sem transferência de calor). 1.3.1 Pressão Considere-se um recipiente cilíndrico, que contém um gás ideal, provido de um êmbolo, de área A, que pode deslocar-se sem atrito, quando submetido a uma força resultante de intensidade F exercida pelo gás, como mostra a Figura 1.2 seguinte. 13 Figura 1.2 – Força aplicada sobre o êmbolo no interior do cilindro. Fonte: http://www.10emtudo.com.br A pressão que o gás exerce sobre o êmbolo é dada por: P =F/A 1.3.2 Escalas de Temperatura Temperatura: é uma grandeza física que mensura a energia térmica média de cada grau de liberdade de cada uma das partículas de um sistema em equilíbrio térmico. Esta definição é análoga e afirma-se que a temperatura mensurada e energia cinética média por grau de liberdade de cada partícula do sistema uma vez considerado todas as partículas de um sistema em equilíbrio térmico em certo instante. É muito comum que associemos temperatura com as sensações de frio e quente, no entanto temperatura nada mais é do que um parâmetro físico (uma variável termodinâmica) descritivo de um sistema. A temperatura não é a medida de calor, mas a diferença de temperatura é a responsável pela transferência da energia térmica na forma de calor entre dois ou mais sistemas. Ou seja, quando dois sistemas estão na mesma temperatura pode dizer que eles estão em equilíbrio térmico e neste caso não há calor. Por outro lado, quando existir diferença entre as temperaturas mensuráveis dos sistemas, haverá a transferência de calor entre os corpos até que o sistema de menor potencial térmico, até a sua temperatura se igualar a temperatura do corpo de maior potencial, ocorrendo assim o equilíbrio térmico. O funcionamento dos termômetros está baseado na lei zero da termodinâmica, pois são colocados em contato com um corpo ou fluido do qual se deseja conhecer a temperatura até que este entre em equilíbrio térmico com o respectivo corpo. A escala deste aparelho foi construída comparando-a com um termômetro padrão ou com pontos físicos fixos de determinadas substâncias. Quatro escalas de temperatura são hoje usadas para se referir à temperatura, duas escalas absolutas e duas escalas relativas; são elas respectivamente: Escalas: Kelvin (K) e Rankine (°R) e Escala Celsius (°C) e Fahrenheit (°F), como mostrado na Figura 1.3. 14 Figura 1.3 - Escalas de temperatura. Fonte: http://s3.amazonaws.com/ Equações de Transformação de uma escala de temperatura para outra escala são dadas por: a) Transformação de Kelvin para Celsius: T[C] = T[K] – 273,15 b) Transformação de Fahrenheit para Celsius: T[C] = 5/9 (T[F] – 32) c) Transformação de Rankine para Celsius: T[C] = 5/9 T[R] – 273,15 1.3.3 Massa específica Esta grandeza, característica específica de cada substância, é conhecida também pelo nome de densidade absoluta. Vamos representá-la aqui pela letra grega . É definida pela relação entre a massa e o volume da substânciaconsiderada, ou seja, = m/V . Suponha, por exemplo, que a figura representa um bloco homogêneo de ferro. Sabemos que sua massa (m) é igual a 15.200 kg (Figura 1.4). Figura 1.4 – Bloco homogêneo. Fonte: Autor 15 Então: Volume: V = 2m x 1m x 1m = 2 m 3 e: = m/V= 15.200 / 2 = 7.600 kg/m 3 Observe que a massa específica está relacionada com a massa e o volume dos corpos. Como massa, 1 kg de chumbo é igual a 1 kg de isopor, porém o volume de isopor necessário para 1 kg é muito maior que o volume de chumbo necessário para o mesmo 1 kg. Vamos mostrar isto através da massa específica. A massa específica do isopor vale 200 kg/m 3 e a do chumbo 11.400 kg/m 3 . Vamos calcular, aplicando a relação, = m/V , o volume necessário de isopor e chumbo, para se ter 1 kg de cada substância. Para o chumbo: 11.400 = 1/V V=1/11.400 m 3 = 0,000087 m 3 = 87 cm 3 Para o isopor: 200 = 1/V V = 1/200 m 3 = 0,005 m 3 = 5.000 cm 3 Constatamos que, realmente, o volume de isopor é bem mais elevado do que o de chumbo. De maneira geral, quando dizemos que um corpo tem massa específica elevada, isto significa que ele contém uma grande massa em um volume pequeno. Podemos dizer que o corpo é muito denso. Exercício 01: A massa específica da gasolina é = 0,66 g/cm 3 . Em um tanque com capacidade para 10.000 litros (10 metros cúbicos), qual a massa de gasolina correspondente? Solução: Podemos aplicar a definição de massa específica: = m/V → m = µ x V Devemos, porém, antes de realizar os cálculos, transformar litros em cm 3 1 litro = 1 dm 3 = 1 dm x 1 dm 1 dm = 10 cm x 10 cm x 10 cm = 1.000 cm 3 Portanto: 10.000 litros = 10.000 x 1.000 cm 3 = 107 cm 3 Agora sim, podemos efetuar os cálculos. m = x V → m = 0,66 g/cm 3 x 10.000.000 cm 3 → m = 6.600.000 g = 6.600 kg = 6,6 toneladas Conclui-se, então: Um tanque de 10 m 3 de gasolina tem 6,6 toneladas do combustível (aproximadamente). A massa específica é uma propriedade que varia com a temperatura. Dessa forma, quando uma substância é aquecida, se dilata, isto é, seu volume torna- se maior. Lembre-se do que acontece com o termômetro, para medir temperaturas. O mercúrio, quando aquecido, aumenta de volume, subindo na escala. Apesar desse aumento de volume, a massa da substância permanece a mesma (lembre-se de que a massa é uma grandeza constante). Vimos que a 16 densidade absoluta é a relação entre massa e volume. Mantendo a massa constante e fazendo o volume variar, estamos, automaticamente, provocando uma variação na densidade da substância. A conclusão, portanto, é que a densidade absoluta varia com a temperatura. Exercício 02: Um bloco de alumínio possui, a 0°C, um volume de 100 cm 3 . A densidade do alumínio, a esta temperatura, é 2,7 g/cm 3 . Quando variamos a temperatura do bloco de 500°C, o volume aumenta de 3%. Calcular a densidade do alumínio na temperatura de 500°C. (0ºC) = m/V → m = (0ºC) x V →m = 2,7 x 100 = 270 g Variando a temperatura de 500°C, o volume cresceu 3% e passou a ser 103 cm 3 . Então: (500°C) = 270/103 → (500ºC) = 2,6 g/cm 3 <Saiba mais: Na prática, a medida da densidade é uma técnica de grande importância, em muitas circunstâncias. O estado da bateria de um automóvel pode ser testado pela medida da densidade de eletrólito, uma solução de ácido sulfúrico. À medida que a bateria descarrega, o ácido sulfúrico (H2SO4) combina-se com o chumbo nas placas da bateria e forma sulfato de chumbo, que é insolúvel, decrescendo, então, a concentração da solução. A densidade varia desde 1,30 g/cm 3 , numa bateria carregada, até 1,15 g/cm 3 , numa descarregada. Este tipo de medida é rotineiramente realizado em postos de gasolina, com o uso de um simples hidrômetro, que mede a densidade pela observação do nível, no qual um corpo calibrado flutua numa amostra da solução eletrolítica. > 1.3.4 Energia Interna A energia interna (U) de um gás é uma propriedade termodinâmica que está associada à energia cinética de translação e rotação das moléculas. Podem também ser consideradas a energia de vibração e a energia potencial molecular (atração). Porém, no caso dos gases perfeitos, apenas a energia cinética de translação é considerada. 1.3.5 Entalpia Entalpia é a quantidade de calor armazenada por uma substância, desde um estado inicial de referência (0 o C, 1 atm) até a pressão e temperatura consideradas. A entalpia é, portanto, a energia térmica total contida numa unidade de massa, medida em kcal/kg ou Btu/Ib. 1.3.6 Entropia Para medir o grau de desordem de um sistema, foi definida a grandeza termodinâmica entropia, representada pela letra S. Quanto maior a desordem de um sistema, maior a sua entropia. 17 O mínimo de entropia possível corresponde à situação em que átomos de uma substância estariam perfeitamente ordenados em uma estrutura cristalina perfeita. Essa situação deve ocorrer, teoricamente, a 0 K (zero absoluto). Em outras temperaturas, a entropia de uma substância deve ser diferente de zero. Quanto maior a temperatura de uma substância, maior o movimento das suas partículas, mais desorganizada ela está e, portanto, maior a sua entropia. 1.4 O Estado de uma substância na Termodinâmica Vamos rever alguns conceitos básicos, para melhor compreensão dos estados em que um líquido, um vapor e uma mistura de líquido e vapor possam existir, abordando alguns aspectos relacionados à vaporização da água. Suponhamos um cilindro vertical contendo um litro de água. Repousando sobre esta água, há um êmbolo que poderá ser deslocado sem atrito, exercendo sobre o conteúdo uma pressão constante. O processo de vaporização ocorrerá a uma pressão constante (pressão atmosférica), como mostrado na Figura 1.5 a seguir: Figura 1.5 – Processo de vaporização a pressão constante. Fonte: http://s3.amazonaws.com 18 Considerando que a água esteja a uma temperatura de 0°C. Nestas condições, a chamamos de líquido sub-resfriado (A). Aquecendo lentamente esta água até o ponto de ebulição (calor sensível), haverá um aumento de temperatura e volume (B). A água, nestas condições, é chamada de líquido saturado. Observa-se na Figura 1.6, que a fase “a-b” é o lugar geométrico dos ponto representando a água na fase líquida. O ponto “b” está representando a água na temperatura de saturação correspondente à pressão a que está submetido (100°C e 1 atm). Continuando o processo de aquecimento, a água entrará em ebulição e vapor d’água é produzido. Nestas condições, a chamamos de vapor saturado (C). O volume aumenta gradativamente e a temperatura permanece constante. Figura 1.6 – Diagrama de vaporização a pressão constante. Fonte: Autor Na Figura 1.6, o lugar geométrico dos pontos da água como mistura líquido/vapor é representado pela fase “b-c”. O calor adicionado só tem a finalidade de vaporizar mais água (calor latente de vaporização). Quando a água estiver totalmente vaporizada, todo o cilindro estará ocupado pelo vapor e, nestas condições, é chamado de vapor saturado seco (D), representado pelo ponto “c” da Figura 1.6, em que o vapor encontra-se em temperatura de saturação correspondente à pressão a que está submetido. Continuando a fornecer calor, o vapor aumentará de volume e temperatura. Nestas condições, o vapor é chamado de vapor superaquecido, significando que está aquecido acima da temperatura de saturação naquela pressão (E). Qualquer ponto da fase “c-d” da Figura 1.6, que não seja o ponto “c”, representa vapor superaquecido. Como a entalpia de vaporizaçãodiminui com o aumento de pressão, existirá um ponto em que a vaporização não será caracterizada ela existência de um 19 patamar de temperatura, isto é, a água experimentará mudança de fase com entalpia de vaporização nula (sem vaporização). Este ponto é denominado de ponto crítico (225,65 kgf/cm 2 abs. e 374,15°C). Cientes de sua grande disponibilidade e não toxidez, sabemos que o vapor d’água é largamente usado como fluido de trabalho em processos termodinâmicos. O vapor tem calor específico quase igual à metade do da água, sendo duas vezes o calor específico do ar. Isto significa que o calor específico do vapor é relativamente alto tendo, consequentemente, mais capacidade de armazenar energia térmica em temperaturas praticáveis do que a maioria dos gases. Pressão e Temperatura de Saturação Repetindo-se o processo de vaporização em pressões mais elevadas, observa- se que a vaporização ocorre em temperaturas mais altas, como observamos para a Tabela 1.1 de água saturada. Tabela 1.1 – Pressão e temperatura da água no estado saturado. Pressão (kgf/cm 2 ) Temperatura de vaporização ( o C) 1,033 100,0 12 187,1 42 252,1 88 300,3 100 309,5 Fonte: Autor Este é o princípio do funcionamento das “panelas de pressão” para uso doméstico. Da mesma forma, trabalhando-se em pressões abaixo da atmosférica, a água vaporiza-se em temperaturas inferiores a 100 o C. A pressão na qual a água se vaporiza é denominada pressão de saturação, enquanto que a temperatura de vaporização também é chamada de temperatura de saturação. Para cada pressão de saturação corresponde uma temperatura de saturação, e vice-versa. 1.4.1 O gás ideal O gás ideal pela análise newtoniana é aquele que tem as características mais próximas em um gás perfeito. Grandezas fundamentais de um gás são pressão (P), volume (V) e temperatura (T, em kelvin). O gás ideal segue a equação: TRnVP .. onde n é o número de moles e R a constante universal dos gases e igual a 8,314472 J/(K.mol). A Lei Geral dos Gases estabelece, utilizando a equação de Clapeyron, uma 20 relação que permite analisar uma transformação qualquer, ocorrida com um gás perfeito, relacionando seu estado inicial e final. 2 22 1 11 T VP T VP , na qual e TRnVP .. A lei de Dalton para mistura gasosa estabelece que “a pressão total exercida por uma mistura gasosa é a soma das pressões parciais exercida pelos gases que compõem a mistura”, ou seja, observando a Figura 1.7 temos: BAm nnn → B BB A AA m mm T VP T VP T VP , como BAm VVV e BAm TTT então: BAm PPP Figura 1.7 – Mistura de gases ideais (Lei de Dalton). Fonte: http://www.brasilescola.com/ 1.5 Calor x Trabalho A troca e a transformação de energia são fenômenos que ocorrem constantemente na natureza. Basta esfregarmos as nossas mãos para percebermos o aumento da temperatura delas. Nesse caso, temos uma transformação da energia mecânica em calor. Esse é só um dos muitos exemplos que ocorrem frequentemente ao nosso redor. A termodinâmica trata do estudo da relação entre o calor e o trabalho, ou, de uma maneira mais prática, o estudo de métodos para a transformação e energia térmica em energia de movimento. Imagine que você tem alguns livros que precisam ser guardados em uma estante. Para tal tarefa, você precisa aplicar uma força nos livros. Será necessário deslocá-los e guardá-los na estante. Na física, quando temos força e um consequente deslocamento, dizemos que houve a realização de trabalho. Na termodinâmica, o trabalho tem um papel fundamental, pois ele pode ser considerado como o objetivo final da construção de uma máquina térmica. Nas 21 antigas máquinas a vapor, por exemplo, gerava-se calor com a queima de combustível, como o carvão. O resultado final era o movimento, ou seja, a realização de trabalho. De modo geral, na termodinâmica, o trabalho pode ser determinado através de um método gráfico. Considere um gráfico de pressão por volume (Figura 1.8), como mostrado na figura abaixo. O trabalho é numericamente igual à área entre a curva do gráfico e o eixo do volume. Figura 1.8 – Gráfico de pressão x volume. Fonte: http://alfaconnection.net/images Calor é o fluxo de energia térmica que ocorre entre dois corpos (ou sistemas) de potenciais térmicos diferentes, ou seja, quando os corpos estão em temperaturas diferentes. A energia térmica é medida em unidade de energia: de acordo com o SI a unidade padrão para a medida de calor transferido é o Joule (J), normalmente usamos também a caloria (cal). A definição de caloria é a quantidade de calor necessária para elevar 1 ºC em 1 grama de água. 1.6 Primeira Lei da Termodinâmica Para introduzir a 1.ª lei, escolher um sistema fechado indo de um estado de equilíbrio, para outro estado de equilíbrio, com o trabalho como única interação com o meio ambiente. Num processo termodinâmico sofrido por um gás há dois tipos de trocas energéticas com o meio exterior: o trabalho realizado (W) e o calor trocado (Q). Como consequência do balanço energético, tem-se a variação da energia interna (U). Para um sistema constituído de um gás perfeito, tem-se que: U= Q – W. 22 Figura 1.9 – Primeira lei da termodinâmica. Fonte: http://www.if.ufrgs.br 1.7 Transformações Termodinâmicas 1.7.1 Processo Isobárico O processo isobárico é aquele que ocorre à pressão constante. Na definição de trabalho termodinâmico, um gás pode realizar e receber trabalho: W=P. V. Figura 1.10 – Diagrama P x V de um processo isobárico. Fonte: http://upload.wikimedia.org/ Analisando o processo de expansão e compressão de um gás através da primeira lei da termodinâmica tem-se: - Expansão isobárica: V>0 T>0 U>0 Q>0 ou V>0 W>0 Q>0 - Compressão isobárica: V<0 T<0 U<0 Q<0 ou V<0 W<0 Q<0 23 1.7.2 Processo Adiabático Um processo realizado de modo que o sistema não receba nem forneça calor é chamado adiabático. Em qualquer processo adiabático, Q = 0, ou seja, não ocorre troca de calor entre um sistema e o meio externo. Pode–se realizar este processo, envolvendo o sistema com uma camada espessa de um isolante térmico. Aplicando-se a Primeira Lei a um processo adiabático, tem-se que: Q = 0, então, U = -W (trabalho), ou seja, a variação de energia interna de um sistema, num processo adiabático, é igual em valor absoluto ao trabalho. Se o trabalho W for negativo, como acontece quando o sistema é comprimido, então, U (= -W) será positivo, U2 será maior do que U1 e a energia do sistema aumentará. Se W for positivo, como na expansão, a energia interna do sistema diminuirá. Um aumento de energia interna é, normalmente, acompanhado de um aumento de temperatura e um decréscimo da energia interna, por uma queda de temperatura. A transferência de calor é um processo relativamente lento, de modo que qualquer processo realizado de maneira suficientemente rápida é praticamente adiabático. A compressão da mistura de vapor de gasolina e ar, que se realiza num motor de expansão à gasolina, constitui um exemplo de um processo aproximadamente adiabático, envolvendo um aumento de temperatura. A expansão dos produtos de combustão durante a admissão do motor é um processo aproximadamente adiabático, com decréscimo de temperatura. Os processos adiabáticos representam, assim, um papel importante na Engenharia Mecânica. Na expansão : V> zero W>zero U< zero Figura 1.11 – Processo adiabático Fonte:http://www.if.ufrgs.br/ 24 Na compressão: V< zero W<zero U> zero Uma transformação cíclica que corresponde a uma sequência de transformações, o estado termodinâmico final é igual ao estado termodinâmico inicial, como, por exemplo, na transformação A B C D A. Figura 1.12 – Transformação cíclica. Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/ Como consequência de uma transformação cíclica, tem-se que o trabalho num ciclo corresponde à soma dos trabalhos, W = Wi. Utilizando-se a propriedade da soma algébrica, conclui-se que o módulo do trabalho num ciclo é numericamente igual à área do gráfico (P x V). Se o ciclo é no sentido horário então W > 0, caso o ciclo seja no sentido anti- horário: W < 0. Conclui-se que para Q = 0, o trabalho é (–U). 1.7.3 Processo Isotérmico No processo isotérmico, a temperatura permanece constante, portanto a variação da energia interna é nula, todo o calor recebido é convertido em trabalho. Então a variação da energia interna num ciclo é nula (U=0) e, assim, o calor trocado pelo sistema durante um ciclo deve ser igual ao trabalho realizado durante o ciclo (Q=W). Essa conclusão corresponde ao esquema de funcionamento de uma máquina térmica teórica, onde, através do fornecimento de calor, produz-se trabalho, sem que ocorra variação da energia interna. 1.7.4 Processo Isométrico e de Estrangulamento Este processo ocorre quando o sistema opera de maneira que o volume permanece constante, ou seja , não realiza e nem recebe trabalho, então W=0 e Q=U. 25 Como complementação nos processos termodinâmicos, o estrangulamento é um processo em que um fluido, originalmente sob pressão constante elevada, atravessa uma parede porosa ou uma abertura estreita (válvula de agulha ou válvula de estrangulamento) e passa para uma região de pressão constante baixa, sem que haja transmissão de calor. Um fluido é descarregado de uma bomba sob alta pressão, passando, então, por uma válvula de estrangulamento (ou de garganta) e indo para um tubo que o leva diretamente para a entrada da baixa pressão da bomba. Os elementos sucessivos do fluido sofrem o processo de estrangulamento em uma corrente contínua. 1.7.5 Processo Reversível e Irreversível Os processos irreversíveis são muito comuns na natureza. Por exemplo, se colocarmos uma gota de tinta num recipiente com água, a gota dissolve-se de forma gradual. Inicialmente, a gota encontrava-se num certo ponto à superfície da água, mas passado algum tempo a tinta fica espalhada. No início sabe-se onde está a tinta, mas no fim não há uma separação entre a água e a tinta, ou seja, a desordem do sistema é maior no fim do processo. O processo é irreversível, isto é, de forma espontânea não é possível observar o processo inverso, em que a tinta misturada com toda a água, voltaria a formar uma gota. Em termodinâmica também existem processos irreversíveis, como é o caso do estabelecimento de equilíbrio térmico entre dois corpos a temperatura diferente, ou na experiência de Joule. Considere dois objetos colocados em contacto térmico, estando inicialmente um objeto a uma temperatura superior ao outro. No final, o sistema formado pelos dois objetos está todo à mesma temperatura, uma vez que houve a passagem de energia sob a forma de calor, do objeto a temperatura superior, para o objeto com menor temperatura. O processo inverso não se verifica: um sistema de dois objetos à mesma temperatura, não evolui espontaneamente de modo a que ambos fiquem com temperaturas diferentes. Na experiência realizada por Joule para demonstrar a equivalência entre trabalho e a energia sob a forma de calor, o aquecimento da água provocado pela queda de um ou mais corpos, é também um processo irreversível. O processo inverso não ocorre: nunca um corpo sobe, somente devido ao arrefecimento da água. Então os processos irreversíveis ocorrem sempre num só sentido, sendo por isso fácil reconhecer a ordem temporal com que acontecem. Um exemplo de um processo reversível é a compressão lenta de um gás de modo a que, em cada instante, o sistema permaneça em equilíbrio termodinâmico. A compressão muito lenta de um gás, através de um êmbolo de seringa, é praticamente um processo reversível, pois ao largar-se o êmbolo após a compressão, este volta à posição inicial. A energia fornecida ao gás sob a 26 forma de trabalho, quando este é comprimido, é então libertada para os arredores quando o gás se expande. 1.8 Segunda Lei da Termodinâmica A tendência do calor a passar de um corpo mais quente para um mais frio, e nunca no sentido oposto, a menos que exteriormente comandado, é enunciada pela segunda lei da termodinâmica. Essa lei nega a existência do fenômeno espontâneo de transformação de energia térmica em energia cinética, que permitiria converter a energia do meio aquecido para a execução de um movimento (por exemplo, mover um barco com a energia resultante da conversão da água em gelo). De acordo com essa lei da termodinâmica, num sistema fechado, a entropia nunca diminui. Isso significa que, se o sistema está inicialmente num estado de baixa entropia (organizado), tenderá espontaneamente a um estado de entropia máxima (desordem). Por exemplo, se dois blocos de metal a diferentes temperaturas são postos em contato térmico, a desigual distribuição de temperatura rapidamente dá lugar a um estado de temperatura uniforme à medida que a energia flui do bloco mais quente para o mais frio. Ao atingir esse estado, o sistema está em equilíbrio. A entropia, que pode ser entendida como decorrente da desordem interna do sistema, é definida por meio de processos estatísticos relacionados com a probabilidade de as partículas terem determinadas características ao constituírem um sistema num dado estado. Assim, por exemplo, as moléculas e átomos que compõem 1 kg de gelo, a 0 o C e 1atm, apresentam características individuais distintas, mas do ponto de vista estatístico apresentam, no conjunto, características que definem a possibilidade da existência da pedra de gelo nesse estado. A variação da função entropia pode ser determinada pela relação entre a quantidade de calor trocada e a temperatura absoluta do sistema. Assim, por exemplo, a fusão de 1kg de gelo, nas condições de 273 K e 1atm, utiliza 80.000cal, o que representa um aumento de entropia do sistema, devido à fusão, em 293 J/K. Resumo Um sistema termodinâmico pode se aberto, fechado ou isolado. O sistema aberto é aquele que permite a passagem de um fluido através de suas fronteiras, fluido este que possui algumas características termodinâmicas como pressão, temperatura, entalpia e entropia. A temperatura pode ser medida por várias escalas como Kelvin (K) e Rankine (°R) e Escala Celsius (°C) e Fahrenheit (°F). 27 Estes sistemas são regidos pela primeira e segunda lei da termodinâmica. A primeira lei trata da conservação de energia, isto é, calor subtraído do trabalho é igual a variação da energia interna. Já a segunda lei trata dos processos reversíveis e irreversíveis. Atividades de aprendizagem 01) Numa escala termométrica arbitrária A, a temperatura de fusão do gelo sob pressão normal é 20 ºA e a temperatura de 70 ºA equivale a 176º, na escala Farenheit. Nestas condições, qual a temperatura de 40 ºC equivale em ºA? 02) Uma certa massa de gás perfeito sofre uma transformação isobárica e sua temperatura varia de 293K para 543K. Se o volume ocupado pelo gás à temperatura de 293K era 2,0 litros, a 543K o volume, em litros, vale: 03) Em um quarto totalmente fechado há uma geladeira que pode ser ligada à energia elétrica. Com o objetivo de resfriaro quarto, um garoto, que nele se encontra, liga a geladeira, mantendo-a de porta aberta. Você acha que esse objetivo será alcançado? Explique. 28 Aula 2 – Ciclos Térmicos Objetivos Abordar conceitos de máquinas térmicas e Identificar alguns ciclos termodinâmicos teóricos de geração de vapor para geração de trabalho, assim como seus componentes. 2.1 Ciclo Térmico à Vapor Todo ciclo termodinâmico possui uma substância chamada fluido de trabalho, que tem como objetivo transformar calor em trabalho. Basicamente, a instalação térmica a vapor (ciclo térmico à vapor) possui quatro elementos fundamentais, onde ocorrem os processos de transformação do fluido de trabalho, conforme se segue: a) Caldeira: onde a substância de trabalho é a água, recebe calor de uma fonte de calor, como os gases de combustão pela queima de um combustível na fornalha, transformando a água em vapor. b) Turbina: onde o vapor gerado da caldeira expande-se, desde a alta pressão da caldeira até a baixa pressão do condensador, realizando um trabalho de acionamento de uma máquina, o gerador elétrico. c) Bomba de água de alimentação de caldeira: eleva a pressão do condensado para reinjetar na caldeira para novamente ser transformado em vapor, completando-se o ciclo. A bomba, para pressurizar o condensado, consome parte do trabalho produzido na turbina. Figura 2.1 – Ciclo de Geração de vapor. Fonte: http://amigonerd.net/images/termoele2.gif 29 2.2 Máquina Térmica O funcionamento de uma máquina térmica está associado à presença de uma fonte quente (que fornece calor ao sistema), à presença de uma fonte fria (que retira calor do sistema) e à realização de trabalho. Figura 2.2 - Representação de uma máquina térmica. Fonte: http://www.mundoeducacao.com.br/ Do esquema acima, devido ao balanço energético, conclui-se que: Q1 = W + Q2 onde Q1 é a energia que entra na máquina para ser transformada em energia mecânica útil. W é a trabalho realizado. Q2 é a energia perdida (degradada). O rendimento da máquina térmica é dado por: = W / Q1 Segundo o enunciado de Clausius: “O calor não passa espontaneamente de um corpo para outro de temperatura mais alta”. Como consequência, conclui-se que é impossível construir uma máquina térmica, que opere em ciclos, cujo único objetivo seja retirar calor de uma fonte e convertê-lo integralmente em trabalho. Portanto, é impossível transformar calor em trabalho ao longo de um ciclo termodinâmico, sem que haja duas temperaturas diferentes envolvidas (duas fontes térmicas distintas: fonte quente e fonte fria). Assim sendo, o rendimento de uma máquina térmica jamais poderá ser igual a 100%, ou seja, Q2 nunca poderá ser igual a zero. 30 2.3 Ciclo de Carnot O ciclo de Carnot é um ciclo que proporciona a uma máquina térmica o rendimento máximo possível. Consiste de duas transformações adiabáticas alternadas com duas transformações isotérmicas, todas elas reversíveis, sendo o ciclo também reversível. Figura 2.3 – Processos do ciclo de Carnot. Fonte: http://www.alunosonline.com.br/ De acordo com a Figura 2.3 tem-se: AB: expansão isotérmica com o recebimento do calor Q1 da fonte quente. BC: expansão adiabática (Q = 0). CD: compressão isotérmica com cessão de calor Q2 à fonte fria. DA: compressão adiabática (Q = 0). O rendimento, no ciclo de Carnot, é função exclusiva das temperaturas absolutas (em K) das fontes quente e fria, não dependendo, portanto, da substância (fluido operante) utilizada. O rendimento do ciclo de Carnot é dado por: 1212 11 QQTT Esse é o máximo rendimento que se pode obter de uma máquina. Qualquer dispositivo capaz de converter calor em energia mecânica é chamado máquina térmica. A maior parte do exposto diz respeito aos vários aspectos da análise de máquinas térmicas. Durante esta análise, concluiu-se a validação da Segunda Lei da Termodinâmica. Em máquinas térmicas, certa quantidade de matéria sofre vários processos térmicos e mecânicos, como a adição ou a subtração de calor, expansão, compressão e mudança de fase. Este material é chamado substância de 31 trabalho da máquina (ou fluido de trabalho). Considere, para simplificar, uma máquina na qual a "substância de trabalho" seja conduzida através de um processo cíclico, isto é, uma sequencia de processos, na qual ela eventualmente volta ao estado original. Os Motores de combustão interna e locomotivas a vapor não conduzem o sistema em ciclo, mas é possível analisá-los em termos de processos cíclicos que se aproximam de suas operações reais. As máquinas térmicas absorvem calor de uma fonte em alta temperatura e realizam trabalho mecânico, rejeitando calor em temperatura mais baixa. Quando um sistema é conduzido por meio de um processo cíclico, suas energias internas, inicial e final, são iguais e, pela Primeira Lei, para qualquer número de ciclos completos, tem-se o calor transformado em trabalho. 2.4 Ciclo Rankine O ciclo de Rankine é um cíclico térmico ideal (onde não há perdas), que estabelece um rendimento máximo para o qual tende uma máquina real. O ciclo de Rankine é formado por caldeira, bomba, condensador e turbina, mostrado na Figura 2.4 a seguir. Figura 2.4 – Ciclo Rankine. Fonte: http://s3.amazonaws.com/ Os processos que compreendem o ciclo são: 1) Processo de bombeamento adiabático reversível (isoentrópico) na bomba; 2) Processo de aquecimento à pressão constante (isobárico) na caldeira; 3) Processo de expansão adiabático reversível (isoentrópico) na turbina; 4) Processo de resfriamento à pressão constante (isobárico) no condensador. 32 O trabalho líquido (WLIQ) do ciclo será a diferença entre o trabalho (WT) produzido na turbina e o trabalho (WP) consumido pela bomba, ou seja, WLIQ = WT – WP. Da primeira lei, sabemos que: QH – QL = WLIQ Concluímos, então, que, o trabalho líquido realizado no ciclo pode ser medido pela diferença entre a área representativa do calor recebido na caldeira e a área representativa do calor rejeitado no condensador. Esta diferença é a área situada no interior da Figura 2.5 que representa o ciclo nos diagramas – mede o trabalho líquido realizado no ciclo. Figura 2.5 – Diagrama T x S do ciclo de Rankine. Fonte: http://s3.amazonaws.com/ O rendimento térmico é definido pela relação: HLIQ QW Na análise do ciclo de Rankine, é útil considerar-se rendimento como dependente da temperatura média na qual o calor é fornecido e da temperatura média na qual o calor é rejeitado. Consta-se que qualquer variação que aumente a temperatura média na qual o calor é fornecido, ou diminua a temperatura média na qual o calor é rejeitado, aumentará o rendimento do ciclo de Rankine. Deve-se mencionar que, na análise dos ciclos ideais, as variações de energias cinética e potencial, de um ponto do ciclo a outro, são desprezadas. Em geral, isto é uma hipótese razoável para os ciclos reais. O ciclo de Rankine tem um rendimento menor que o ciclo de Carnot, que apresenta as mesmas temperaturas de vaporização e de condensação, porque a temperatura média entre 2-2’ (processo de aquecimento da água de alimentação da caldeira no ciclo de Rankine) é menor do que a temperatura de vaporização. Escolheu-se, entretanto, o ciclo de Rankine e não o de Carnot como o ciclo ideal para a instalação térmica de vapor. As razões são: 33 1.°) Envolve o processo de bombeamento: O estado 1’ do ciclo de Carnot é uma mistura líquido-vapor e há dificuldades de ordem prática de um equipamento (bomba ou outro dispositivo qualquer)para receber a mistura líquido-vapor em 1’ e, fornecer líquido saturado em 2’. É mais fácil condensar completamente o vapor e trabalhar somente com líquido na bomba, como no ciclo de Rankine. 2.°) Envolve o superaquecimento do vapor: No ciclo de Rankine, o vapor é superaquecido à pressão constante, no processo 3-3’. No ciclo de Carnot, toda transferência de calor deve ser feita em temperatura constante e, portanto, o vapor deve ser superaquecido no processo 3-3’. Note-se, entretanto, que, durante este processo, a pressão cai, significando que calor deve ser transferido ao vapor enquanto ele sofre um processo de expansão, no qual é efetuado trabalho. Isto também é muito difícil de conseguir na prática. Assim, o ciclo de Rankine é o ciclo ideal que pode ser aproximado na prática. Entretanto, para obtermos rendimentos mais próximos aos do ciclo de Carnot, existem algumas variações do ciclo de Rankine que são os ciclos com reaquecimentos e os ciclos regenerativos. O ciclo de Rankine pode ainda ter seu rendimento melhorado pelo abaixamento da pressão do condensado, pelo aumento da pressão da caldeira e pelo superaquecido do vapor. 2.4.1 Ciclo com reaquecimento O rendimento do ciclo de Rankine pode ser aumentado pelo aumento da pressão da caldeira. Entretanto, isto também aumenta o teor de umidade do vapor na extremidade de baixa pressão da turbina. Para superar este problema e tirar vantagem do aumento de rendimento com o uso de pressões mais altas, foi desenvolvido o ciclo com o reaquecimento, mostrado esquematicamente na Figura 2.6. Figura 2.6 – Ciclo com reaquecimento. Fonte: Autor Condensador Turbina Caldeira Bomba 6 3 2 4 5 1 34 A característica singular deste ciclo é a expansão do vapor até um ponto intermediário na turbina, após o que, é reaquecido na caldeira e se expande na turbina até a pressão de saída. Há um ganho muito pequeno de eficiência pelo reaquecimento do vapor, porque a temperatura média na qual o calor é fornecido não muda muito. A principal vantagem está na diminuição do teor de umidade, nos estágios de baixa pressão da turbina, a um valor seguro. Observe também, que se houver metais que possibilitem um superaquecimento do vapor até 3’ da Figura 2.5, o ciclo de Rankine simples seria mais eficiente do que este ciclo. 2.4.2 Ciclo regenerativo Consideremos, inicialmente, um ciclo regenerativo ideal, como mostra a Figura 2.7 a seguir. O aspecto singular deste ciclo, comparado com o ciclo de Rankine, é que após deixar a bomba, o liquido circula ao redor da carcaça da turbina, em sentido contrário ao do vapor da turbina. Figura 2.7 - Ciclo regenerativo ideal. Fonte: Autor Assim, é possível transferir o calor do vapor, enquanto ele escoa através da turbina, ao líquido que escoa ao redor da turbina. Admitamos, por um momento, que esta seja uma troca de calor reversível, isto é, em cada ponto a temperatura do vapor é apenas infinitesimalmente inferior à temperatura do líquido. Obviamente, este ciclo regenerativo ideal não é prático. Primeiramente, não seria possível efetuar a troca de calor necessária, do vapor na turbina à água líquida de alimentação. Além disso, o teor de umidade do vapor que deixa a turbina aumenta consideravelmente em consequência da troca de calor, e a desvantagem disto já foi anteriormente observada. O ciclo regenerativo prático envolve a extração de uma parte do vapor após ser expandido parcialmente na turbina e o uso de aquecedores de água de alimentação, como mostra a Figura 2.8 a seguir. Condensador Turbina Caldeira Bomba 4 2 5 1 3 Ciclo Regenerativo Ideal 35 Figura 2.8 - Ciclo regenerativo. Fonte: http://upload.wikimedia.org/ O vapor entra na turbina no estado 2. Após a expansão para o estado 2’, uma parte do vapor é extraída e entra no aquecedor de água de alimentação. O vapor não extraído expande na turbina até o estado 3 e, então, é condensado no condensador. Este condensado é bombeado para o aquecedor de água de alimentação, onde ele se mistura com o vapor extraído da turbina. A proporção de vapor extraído é exatamente o suficiente para fazer com que o líquido que deixa o aquecedor de mistura esteja saturado no estado 4. Nota-se que o líquido ainda não foi bombeado até a pressão da caldeira, porém, somente até a pressão intermediária correspondente ao estado 4. Necessita-se de outra bomba para bombear o líquido que deixa o aquecedor de água de alimentação, até a pressão da caldeira. O ponto significativo é que aumenta a temperatura média na qual o calor é fornecido. 2.4.3 Afastamento dos ciclos em relação aos ciclos ideais Toda central térmica tem como instalação um ciclo real face às divergências existentes com o ciclo ideal, conforme por exemplo: a) Perdas na tubulação – A perda de carga devido aos efeitos de atrito e transferência de calor ao meio envolvente são as perdas na tubulação mais importantes. b) Perda na caldeira – Uma perda análoga é a perda de carga na caldeira. Devido a esta perda, a água que entra na caldeira deve ser bombeada até uma pressão mais elevada do que aquela desejada para o vapor que deixa a caldeira. Isto requer um trabalho adicional de bombeamento. c) Perdas na turbina – As perdas na turbina são principalmente associadas com o escoamento do fluido de trabalho através da turbina. A transferência de 36 calor para o meio também representa uma perda, porém, isto usualmente é de importância secundária. d) Perdas na bomba – As perdas na bomba são análogas àquelas da turbina. Decorrem, principalmente, da irreversibilidade associada com o escoamento do fluido. A troca com o meio é, usualmente, uma perda secundária. e) Perdas no condensador – As perdas no condensador são relativamente pequenas. Uma destas é o resfriamento abaixo da temperatura de saturação do líquido que deixa o condensador. Isto representa uma perda porque é necessária uma troca de calor adicional para trazer a água até a sua temperatura de saturação. Resumo Os ciclos termodinâmicos de geração de vapor são geralmente formados pelos seguintes componentes: Caldeira, Turbina e Bomba de água. Estes ciclos são geralmente utilizados para gerarem trabalho e consequentemente energia elétrica quando acoplados a um gerador. As eficiências destes ciclos devem ser sempre inferiores ao calculado com o ciclo de Carnot que é um ciclo formado apenas de processos reversíveis. Dentre os ciclos de geração estudados neste capítulo estão o Ciclo de Rankine, Ciclo com Reaquecimento e o ciclo Regenerativo. Atividades de aprendizagem 01) O esquema a seguir representa trocas de calor e realização de trabalho em uma máquina térmica. Os valores de T1 e Q2‚ não foram indicados, mas deverão ser calculados durante a solução desta questão. Considerando os dados indicados no esquema, se essa máquina operasse segundo um ciclo de Carnot, determine a temperatura T1 da fonte quente,em Kelvins. 37 02) Explique a função e o funcionamento de cada um ciclo Rankine. Qual a diferença deste par o ciclo com reaquecimento e regenerativo. 38 Aula 3 – Teoria Básica de Combustão Objetivos Dar uma breve noção sobre os fundamentos básicos da combustão no contexto da energia térmica, comentando assuntos como: combustíveis, reações de combustão, poder calorífico e limites de inflamabilidade. 3.1 Combustíveis Um combustível é qualquer substância que reage com o oxigênio liberando energia, na forma de calor, chamas e gases. No meio que vivemos existem várias substâncias que estão ou podemser usadas como combustível. Entre as sólidas incluem-se o carvão, a madeira e a turfa. O carvão é queimado em caldeiras para esquentar água, que pode vaporizar-se para mover máquinas a vapor, ou diretamente para produzir calor utilizável em usos térmicos (calefação). A turfa e a madeira são utilizadas principalmente para a calefação doméstica e industrial. A turfa foi utilizada para a geração de energia nas locomotivas, que utilizavam madeira como combustível, muito comum no passado. Entre os líquidos usados como combustível encontramos os de origem vegetal ou animal, como o álcool e o óleos vegetais de rícino e gorduras a partir do século XX surgem os combustíveis minerais, considerados fósseis, são os derivados do petróleo como óleo diesel, o querosene e a gasolina (ou nafta). Entre os combustíveis gasosos estão o gás natural ou os GLP (Gases Liquefeitos de Petróleo), representados pelo Propano e o Butano. As gasolinas e até os gases são utilizados para os motores de combustão interna. Os combustíveis fósseis são misturas de compostos orgânicos que se extraem do subsolo com o propósito de produzir energia por combustão. A origem desses compostos são seres vivos que morreram há milhões de anos. Consideram-se combustíveis fósseis o carvão, procedente de bosques do período carbonífero, o petróleo e o gás natural, procedente de outros organismos. 39 Figura 3.1 - Tipos de Combustíveis. Fonte: http://www.brasilescola.com/ 3.2 Reações de Combustão As reações químicas que ocorrem na combustão de um hidrocarboneto são muito complexas, havendo na maioria dos casos, reações intermediárias antes de se chegar aos produtos finais da combustão – CO2, H2O, O2 e N2. A reação de combustão geral completa ocorre: a) em volume: CxHy + m O2 + 3,76 m N2 → b CO2 + n H2O + c O2 + d N2 b) em peso: CxHy + m O2 + 3,35 m N2 → b CO2 + n H2O + c O2 + d N2 As reações de combustão podem ser representadas conforme se segue: a) C + O2 → CO2 + 97.200 kcal b) 2 H2 + O2 → 2 H2O + 136.400 kcal c) S + O2 → SO2 + 70.400 kcal d) C + 1/2O2 → CO + 28.880 kcal e) CO + 1/2O2 → CO2 + 68.320 kcal Pode-se dizer que nas reações acima: 40 a) 12 kg de C reagem com 32 kg de O2, formando 44 kg de CO2 e liberando 97.200 kcal. Se 12 kg de C, para formar CO2, liberam 97.200 kcal, 1 kg libera 8.100 kcal. b) 4 kg de H2 reagem com 32 kg de O2, formando 36 kg de H2O, liberando 136.400 kcal. Se 4 kg de H2 liberam 136.400 kcal, 1 kg libera 34.100 kcal. c) 32 kg de S reagem com 32 kg de O2, formando 64 kg de SO2 e liberam 70.400 kcal. Se 32 kcal de S liberam 70.400 kcal, 1 kg libera 2.200 kcal. d) 12 kg de C reagem com 16 kg de O2, formando 28 kg de CO e liberando 28.880 kcal. Se 12 kg de C, para formar CO2 liberam 28.880 kcal, 1 kg libera 2.407 kcal. e) 28 kg de CO reagem com 16 kg de O2 formando 44 kg de CO2 e liberando 68.320 kcal. A quantidade de calor liberado por kg em termos de C é igual a 5.693 kcal. No cotidiano, as reações de combustão são muito importantes, pois é por meio delas que é possível produzir calor (isto é, a energia térmica, que é utilizada para várias finalidades) e também que os derivados do petróleo são transformados em produtos como plásticos, tintas, corantes, explosivos, etc. Os hidrocarbonetos, compostos constituídos de carbono e hidrogênio, têm uma facilidade muito grande para serem queimados em reações de combustão. Essa queima é muito importante para a sociedade. Por exemplo: os combustíveis como gasolina, etanol e óleo diesel sofrem uma combustão ou queima dentro dos motores, e a energia liberada nessa reação é que faz os automóveis se moverem. Podemos definir como reação de combustão toda reação que tem um combustível, isto é, um composto que é consumido e produz energia térmica; e um comburente, que na maioria das vezes é o oxigênio presente no ar. No entanto, dependendo da quantidade de gás oxigênio disponível, a combustão pode ser completa ou incompleta. Vejamos o que diferencia as duas: •Combustão completa A combustão completa ocorre quando existe oxigênio suficiente para consumir todo combustível. No caso de compostos feitos de carbono e hidrogênio (hidrocarbonetos); e de carbono, hidrogênio e oxigênio (como álcoois, cetonas, aldeídos, ácidos carboxílicos, etc.), os produtos são o dióxido de carbono (gás carbônico – CO2) e a água. Para citar um exemplo de hidrocarboneto, temos o metano (CH4), que é o principal constituinte do combustível biogás, e que também está presente no gás natural de petróleo. Observe como ocorre a sua combustão de modo completo: CH4 + 2 O2 → CO2 + 2 H2O + calor 41 Outro exemplo que temos é o do gás butano que entra em combustão, por exemplo, quando acendemos um isqueiro comum. A faísca provoca a reação do butano com o oxigênio do ar, resultando em sua chama característica: 2 C4H10 + 13 O2 → 8 CO2 + 10 H2O + calor •Combustão incompleta: A combustão se dá de forma incompleta quando não houver oxigênio suficiente para consumir todo o combustível. No caso dos compostos orgânicos que estamos considerando, os produtos da combustão incompleta podem ser monóxido de carbono (CO) e água; ou carbono elementar (C) e água. Por exemplo, nos automóveis, a combustão deve ser completa, pois se for incompleta gera o monóxido de carbono, que é extremamente tóxico. Em vários lugares, pessoas já morreram ao inalar esse gás em garagens mal ventiladas. Veja um exemplo desse tipo de combustão incompleta: Combustão incompleta do metano: CH4 + 3/2 O2 → CO + 2 H2O Combustão incompleta do gás butano: C4H10 + 9 O2 → 8 CO + 10 H2O Se a quantidade de gás oxigênio for menor ainda, o produto será o carbono no lugar do monóxido de carbono (no estado sólido). Exemplos: Combustão incompleta do metano: CH4 + O2 → C+ 2 H2O Combustão incompleta do gás butano: C4H10 + 5/2 O2 → 4 C + 5 H2O Algumas vezes, essa combustão é tão incompleta que o carbono torna-se visível ao sair pelo escapamento dos carros, na forma de fuligem (uma fumaça escura, formada de minúsculas partículas sólidas de carvão). 42 Figura 3.2 - fumaça escura, formada de minúsculas partículas sólidas de carvão) Fonte: http://www.mundoeducacao.com.br/ É por isso que é importante manter o motor bem regulado, para que entre ar suficiente e a combustão seja completa. Resumindo, temos: Figura 3.3 – Processos de combustão. Fonte: http://www.mundoeducacao.com.br/ 3.3 Coeficientes Estequiométricos Embora seja imediato observar quais são os coeficientes estequiométricos da reação de combustão completa de metano com oxigênio, ilustramos a seguir o procedimento para o cálculo desses coeficientes para tal reação. Para um 43 combustível de formulação mais complexa, o procedimento é similar. Para cada mol de metano, temos: 1 CH4 + x O2 y CO2 + z H2O, onde x, y e z são os coeficientes estequiométricos a serem calculados. Ao expressar a conservação de átomos, teremos três equações (para carbono, hidrogênio e oxigênio) e três incógnitas (x, y e z). Assim, C: 1 = y y = 1, H: 4 = 2z z = 2, O: 2x = 2y + z x = 2. As massas atômicas do carbono, hidrogênio e oxigênio são 12, 1 e 16 kg/kmol, respectivamente. A conservação de massa da reação de combustão estequiométrica é, então, expressa da seguinte maneira: < Atenção: as massas atômicas podem ser consultadas em uma tabela periódica> 1 CH4 + 2 O2 1 CO2 + 2 H2O, 16 g + 64 g = 44 g + 36 g. Notamos que, para a combustão completa de cada 16 g de metano, 64 g de oxigênio são necessárias. Para um processo contínuo, a vazão mássica deoxigênio deverá ser quatro vezes maior que a de metano (4 = 64/16). Deve ser observado que apenas massa é conservada em uma reação química, o mesmo não sendo verdadeiro para o número total de mols de reagentes e produtos. Por exemplo, consideremos a combustão completa de um mol de hidrogênio com oxigênio puro: 1 H2 + 1/2 O2 1 H2O, 2 g + 16 g = 18 g, (massa) 1 + 1/2 = 1.(número de mols) <Atividades de Aprendizagem: confira agora os coeficientes da combustão do butano metano > 3.4 Poder Calorífico O Poder Calorífico de combustíveis é definido como a quantidade de energia interna contida no combustível, sendo que quanto mais alto for o poder calorífico, maior será a energia contida. Um combustível é constituído, sobretudo de hidrogênio e carbono, tendo o hidrogênio o poder calorífico de 28700Kcal/kg enquanto que o carbono é de 44 8140Kcal/kg, por isso, quanto mais rico em hidrogênio for o combustível maior será o seu poder calorífico. Há dois tipos de poder calorífico: • Poder calorífico superior (PCS): É a quantidade de calor produzida por 1 kg de combustível, quando este entra em combustão, em excesso de ar, e os gases da descarga são resfriados de modo que o vapor de água neles seja condensado. • Poder calorífico inferior (PCI): É a quantidade de calor que pode produzir 1kg de combustível, quando este entra em combustão com excesso de ar e gases de descarga são resfriados até o ponto de ebulição da água, evitando assim que a água contida na combustão seja condensada. Como a temperatura dos gases de combustão é muito elevada nos motores endotérmicos, a água contida neles se encontra sempre no estado de vapor, portanto, o que deve ser considerado é o poder calorífico inferior e não o superior. A tabela abaixo mostra alguns exemplos de Poder calorífico de alguns combustíveis gasosos. Tabela 3.1 – Poder calorífico de combustíveis gasosos GÁS kcal/Nm³ kcal/kg PCS PCI PCS PCI Metano 9530 8570 13284 11946 Etano 16700 15300 12400 11350 Eteno ou etileno 15100 14200 12020 11270 Gás natural de Campos 10060 9090 16206 14642 Gás natural de Santos 10687 9672 15955 14440 Gás natural da Bolívia 9958 8993 16494 14896 Propano 24200 22250 12030 11080 Propeno ou propileno 22400 20900 11700 10940 n-Butano 31900 29400 11830 10930 iso-Butano 31700 29200 11810 10900 Acetileno 13980 13490 11932 11514 Monóxido de carbono 3014 3014 2411 2411 Fonte: Autor A fórmula de Dulong permite calcular o PCS de carvões minerais, em kcal/kg, conhecendo-se a composição porcentual em massa dos mesmos é: PCS = 81,4 (C) + 345 (H - O/8) + 25 (S) 45 onde C, H, 0, S são as porcentagens em massa dos respectivos componentes. Exercício Um carvão mineral apresenta a seguinte composição em 1000 g: 780g de carbono, 60g de hidrogênio, 48g de oxigênio, 48g de enxofre, 36g de Umidade e 28g de Cinza. Estimar o valor do PCS desse carvão pelas formulas de Dulong. Solução: Pelas fórmulas que utilizam porcentagens em massa PCS = 81,4 x 78 + 345 (6 - 4,8/8) + 25 x 4,8 = 8.332 kcal/kg 3.5 Limite de Inflamabilidade Limites de inflamabilidade, também chamados de limites inflamáveis, mostram a proporção máxima e mínima de combustíveis gasosos de uma mistura em que esta mistura é inflamável. As misturas de gases que consistem em combustível, oxidante e gases inertes que são inflamáveis quando estão apenas sob certas condições. O limite inferior de inflamabilidade (LII) descreve- se a mistura mais magra que ainda mantém uma chama, ou seja, a mistura com a menor fracção de gás combustível, enquanto o limite superior de inflamabilidade (LSI) dá a mais rica mistura inflamável. Algumas definições: Limite inferior de inflamabilidade (L.I.I.) :É a mínima concentração de vapores de combustível em mistura com um comburente, abaixo da qual não se produz a combustão. Limite superior de inflamabilidade (L.S.I.): É a máxima concentração de vapores de combustível em mistura com um comburente, acima da qual não se produz a combustão. Ponto de inflamação: É a temperatura mínima a que uma substância combustível, em presença do ar, entra em combustão. Temperatura de combustão: É a temperatura a partir da qual a libertação de gases é suficiente para alimentar a combustão. Resumo 46 Um combustível é qualquer substância que reage com o oxigênio liberando energia, na forma de calor, chamas e gases. O processo de combustão destes combustíveis é uma reação de oxidação com liberação de calor, formando principalmente H2O, N2 e CO2. Para que haja a combustão é necessário que o combustível esteja entre os limites de inflamabilidade superior e inferior que representam as proporções máxima e mínima de uma mistura oxigênio- combustível inflamável. Cada combustível possui um poder calorífico próprio que é definido como a quantidade de energia interna contida no combustível. Atividades de aprendizagem 01) A combustão completa do metano (CH4) produz dióxido de carbono (CO2) e água. Calcule o número de mols de CO2 produzido na combustão de 0,3 mol de CH4: 02) Certo carvão apresenta a seguinte composição percentual em peso : carvão Carbono Hidrogênio Oxigênio Nitrogênio Enxofre Cinza % Peso 72% 3,6% 6,4% 2,8% 3,2% 12% Estimar o PCS desse carvão. 47 Aula 4 – Noções Básicas de Mecânica dos Fluidos Objetivos Aplicar os princípios básicos da hidrostática e da hidrodinâmica para cálculo de pressões e vazões, assim como definir alguns conceitos da mecânica dos fluidos, como linhas de escoamento e de corrente. 4.1 Definição de Fluido De acordo com a agregação de partículas, a matéria se apresenta em três diferentes estados físicos: o estado sólido, o estado líquido e o estado gasoso. O estado sólido caracteriza-se por conferir a um corpo forma e volume bem definidos. Os líquidos e os gases, ao contrário dos sólidos, não possuem forma própria: assumem, naturalmente, a forma do recipiente que os contém. Os líquidos têm volume definido, enquanto os gases, por serem expansíveis, ocupam todo o volume do recipiente que estejam ocupando. Fluido é uma substância que pode escoar (fluir) e, assim, o termo inclui líquidos e gases, que diferem, notavelmente, em suas compressibilidades; um gás é facilmente comprimido, enquanto um líquido é, praticamente, incompressível. A pequena (mínima) variação de volume de um líquido sob pressão pode ser omitida nas várias situações. Os líquidos têm volume definido, enquanto os gases, por serem expansíveis, ocupam todo o volume do recipiente em que estejam contidos. 48 Figura 4.1 - Estados físicos dos fluidos. Fonte: http://www.qmc.ufsc.br/ A propriedade comum a estes dois estados físicos, de forma indefinida, (líquido e gasoso) é escoar ou "fluir", com facilidade, através de um condutor ou duto. Nos fluidos ideais, considera-se que não existe atrito entre as moléculas que se deslocam quando o fluido escoa, nem atrito entre o fluido e as paredes do condutor. A grandeza que caracteriza o atrito entre as moléculas de um fluido é a viscosidade. Por exemplo, você certamente já percebeu a diferença marcante quando despejamos uma lata de óleo em um tanque ou no chão e outra igual cheia de água. Dizemos que o óleo é mais viscoso que a água, pois "flui" com maior dificuldade que a água. 4.2 Conceitos de Hidrostática Aplicados O conceito de pressão foi introduzido a partir da análise da ação de uma força sobre uma superfície; já nos fluidos, o peso do fluido
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