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Vygotsky e Linguagens verbais e não verbais – conceituação

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Linguagens verbais e não verbais – conceituação
Filme “Tops” de Charles e Ray Eames
Quem foi Charles Eames? 
“arquiteto, inventor, designer, artesão, cientista, cineasta, professor”...
Nasceu em St. Louis, 1907.
Casou com Ray Kaiser em 1940, e com ela criou móveis e projetos premiados.
Escritório Eames 
O casal ganhou fama pelas cadeiras empilháveis de plástico e móveis de madeira laminada.
Schrader, 1970
Em depoimento sobre seus filmes diz:
“Não são filmes experimentais, nem são filmes propriamente. São apenas tentativas de transmitir uma ideia.”
Os Eames criaram 2 tipos de filmes:
Filmes sobre brinquedos, 
filmes sobre ideias
Sobre os filmes de brinquedos
Não há fundo, 
não há fala, pouca narração
pouco roteiro.
O objeto tem primazia dentro da estrutura do filme.
Sua produção criativa tem uma coesão estética, e os filmes se relacionam com a obra do casal.
A escolha de brinquedos como objeto de filmes: os materiais são o que são.
A ideia não é aleatória, mas tem que ter integridade
Deve estimular intelectualmente
E ter beleza de forma.
Schrader, 1970
Linguagem não verbal
Como este filme nos ajuda a pensar sobre a linguagem não verbal?
“Tops” não tem narração.
Embora seja atravessado pela linguagem...
Da mesma forma que a linguagem verbal, o filme constitui sentidos por meio das estruturas do sistema de linguagem em questão: cinema.
O filme “fala” de que?
Piões de várias origens 
Grande e rica variedade de exemplos
Armados por pessoas – crianças, adultos de várias sociedades
Cores e formas
Diferentes modos de impulsionar o giro
Até voltar à simplificação máxima – jacks, tacha
Schrader, 1970
O filme 
A estética Eames respeita o objeto pelo que ele é – a sua integridade
Apresenta ideias por meio do filme
Sobrecarregados de informação, muitos dados, mas uma ideia por trás de tudo
O público é obrigado a realizar uma síntese mental para chegar na ideia
Ideias dos filmes: tempo, simetria, espaço, topologia,
Schrader, 1970
Trata-se de linguagem não verbal 
e também de Arte
Para além de documentar diferentes tipos de piões de várias sociedades do mundo, mostrando como são armados e lançados,
O filme evidencia cuidados 
na coesão da filmagem (luz, cor, enquadramento), 
no encadeamento e sequência das imagens, 
na trilha sonora e sua relação com as imagens...
O mínimo necessário
Uma superfície redonda plana
Um eixo central
Permitindo balancear a força da gravidade com a força do impulso girosópico momentum
O olho não desprende do movimento
Segunda parte do filme caminha para a inevitável queda dos piões – retoma os piões complexos, em formato e que passam por labirintos
Schrader, 1970
Foco e desfoco
Segunda parte do filme caminha para a inevitável queda dos piões – retoma os piões complexos, em formato e que passam por labirintos
É um filme sobre como brincar com um pião, ou...
O fascínio pelo brinquedo em movimento
O olhar que não consegue se afastar do movimento giratório
Uma ideia – a máxima simplicidade 
A engenhosidade humana
Habilidades de design que todos temos em comum
A maestria técnica do manejo do objeto
Maestria também ao alcance da criança pequena que entra na brincadeira muito cedo... 
A possibilidade de complexificação do brinquedo: novas formas, passagens, jogo de derrubar outros piões
Constrói o sentido com os elementos de linguagem do filme:
Movimento e montagem/edição de cenas
Enquadramento 
elimina o não essencial, 
concentra a atenção, 
dirige o olhar
Em “Tops”, primazia do primeiro plano, 
Close-up no pião, nas mãos
Uso de foco e desfoco, direcionamento do foco para outro detalhe
Escala
ampliada
Jogo de ângulo de câmara: frontal, superior, inferior, 
Movimento de câmera relativamente simples – montada em dolly, zoom
Pouca alteração de velocidade 
Sem uso de recursos de montagem em dolly, drone, etc.
Uso expressivo da cor
Ritmo moderado, com apoio de música, e sons dos próprios brinquedos
Outros recursos: Sobreposição mínima de imagens, desvanecimento para ligar um plano sequência em outro.
O jogo de foco valoriza o círculo de cores em efeito de mistura e o ponto fulcral, o eixo do pião
Recursos:
Não há sobreposição de imagens ou repetição,
Mas o desvanecimento rápido entre segmentos ajuda a criar sequência, além do uso de colagem de um pião sobre o outro.
Não há narrador.
A música costura o roteiro, com valorização de ritmos relacionados aos materiais, ao movimento giratório
E citações musicais 
– no momento que a bailarina entra em cena, citação de frase de L’après midi d’une faune de Igor Stravinsky
O roteiro
É relativamente previsível:
Armação dos piões,
Piões lançados e movimento desencadeado
Giro dos piões
Início de lentificação dos brinquedos anunciando a queda
Retomada de interesse por meio de piões que passam por labirintos
Piões tombam, um a um...
Qual o motivo de abordar a linguagem não verbal no curso de fonoaudiologia? 
Porque o verbal e o não verbal estão articulados;
Para conhecer melhor os meios de funcionamento de outras linguagens;
Porque muitas pessoas que buscam terapia fonoaudiológica podem recorrer à linguagem não verbal, mesmo quando houve perda das funções linguísticas verbais.
As linguagens verbais vão além da técnica
As pessoas operam por meio de sistemas sígnnicos
Como as crianças se apropriam dos diferentes sistemas – como produzem sentidos e como interpretam sentidos, nas diversas modalidades.
E quando há alterações no desenvolvimento da linguagem verbal ou quando há perda de linguagem verbal (por quadro neurológico ou outro), pode-se recorrer a outras modalidades para suplementar, reconstituir possibilidades de comunicação ou compensar as perdas.
Distinções: comunicação, interações, linguagens não verbais
A interações humanas envolvem sentidos que são constituídos de forma verbal e também não verbal
Às vezes a dimensão não verbal escapa da consciência, mas isso não significa que não é percebido pelo outro
Comunicação como transmissão
Paradigma da transmissão de informação ou ideias
 A B
codificador mensagem intérprete
Transmissão de signos por meio de um código
Processo de troca de forma direta ou por meios técnicos
Modos de abordar o assunto dependem do foco
A natureza da INTERAÇÃO
VEÍCULO por meio do qual o sentido é comunicado ou constituído
PARTICIPANTES do evento comunicativo
Aguiar, 2004
Análise:
Das características do comunicador e do intérprete;
Do contexto do evento
Da situação da comunicação (próximo ou distante) 
Dos códigos utilizados...
Vários autores discutem o não verbal no âmbito da comunicação humana, em contraposição à comunicação animal.
Estudam as semelhanças e diferenças entre as várias formas de comunicação utilizadas por animais e por seres humanos.
Princípios que fundamentam o pensamento de Vigotski
O desenvolvimento humano se dá no âmbito social, nas interações mediadas pela linguagem.
A criança internaliza as práticas sociais, historicamente constituídas, do grupo social do qual faz parte.
No processo de desenvolvimento, a criança se apropria da cultura e internaliza as práticas sociais significativas para o seu contexto social.
A palavra
É o veículo por meio do qual a experiência constituída socialmente é comunicada ao outro. 
E no processo de constituição de sentidos verbais, as especificidades das vivências podem ser abstraídas, generalizadas, comparadas, elaboradas, permitindo a constituição de ideias, enfim do processamento mental superior. 
Os sistemas sígnicos 
Não se limitam à palavra – constituíram-se ao longo da história humana para corresponder às necessidades do homem nas suas atividades – 
O desenho
O mapa
Os sistemas numéricos
Os sistemas mnemônicos
A escrita
São instrumentos que atendem a exigências e especificidades das funções em jogo.
Para Wertsch
Vigotski desenvolve
uma metáfora muito citada sobre os instrumentos físicos, e os instrumentos mentais.
Levando adiante, cada ferramenta foi desenvolvida tendo em mente sua função.
Assim também os sistemas sígnicos foram constituídas pelo homem para atender a necessidades culturais, da prática, atividade.
Ferramentas físicas transformam a natureza
Eletricistas → alicates
Costureiros → tesouras 
Dentistas → brocas
Fonoaudiólogos → audiômetros
Etc.
Ferramentas psicológicas ou semióticas operam no funcionamento mental
Professores → textos 
Estatísticos → tabelas
Músicos → notação musical
Geógrafos → mapas 
Desenhistas → grafismos
Etc.
Como exemplo:
A obra artística: 
tem capacidade de influenciar nosso mundo interior de forma tão plena quanto os instrumentos técnicos são capazes de transformar o mundo natural.
O processo criativo é um movimento estético que engendra no indivíduo processos emocionais, às vezes contraditórios.
A imaginação humana:
função psicológica superior
A imaginação tem um papel no processo de planejamento e organização da atividade humana;
Necessita se cristalizar, tornar-se concreta por intermédio de um artefato, de uma palavra, de uma imagem.
E assim, poderá integrar outras realizações coletivas; pode integrar a consciência social de outras pessoas, para afetar “o mundo das ideias, dos conceitos e dos sentimentos” (p. 32)
As obra de arte tem uma lógica ou construção interna coesa, e não arbitrária. 
As escolhas do artista permitem à obra transcender o momento de criação de forma que ela possa ganhar autonomia, de modo a produzir efeito sobre o próprio criador e também sobre o fruidor da obra.
Adultos e crianças
Tanto Paul Klee quanto Felix se envolveram na atividade criadora da produção dos fantoches.
Felix pede ao pai os personagens tradicionais do script teatral convencional.
Paul Klee cria os bonecos, mas adiciona elementos tradicionais,
E depois extrapola, a partir do seu repertório mais extenso.
Muita coisa estão além da compreensão de Felix, mas ainda assim, ele brinca.
As linguagens organizam-se em sistemas
Sistemas partilhados por pessoas que convivem em comunidades.
Os significados são representações psíquicas das coisas, não as coisas em si.
Os sentidos são polissêmicos
Prestam-se para vários níveis de interpretações, que podem ou não corresponder de perto com a intenção da pessoa que elaborou a mensagem.
O metabolismo das linguagens, dos processos e sistemas sígnicos, tais como escrita, desenho, música, cinema, televisão, rádio, jornal, pintura, teatro, computação gráfica etc., assemelha-se aos seres vivos. Tanto quanto quaisquer organismos viventes, as linguagens estão em permanente crescimento e mutação. Os parentescos, trocas, migrações e intercursos entre as linguagens não são menos densos e complexos do que os processos que regem a demografia humana. 
Enfim, o mundo das linguagens é tão movente e volátil quanto o mundo dos vivos.
Essa volatilidade não costuma ser levada em conta e nem mesmo percebida, porque, infelizmente, nos currículos escolares e universitários, as linguagens são colocadas em campos estanques, rígida e asceticamente separadas:
Diferenças entre os sistemas
A linguagem musical, como a verbal
Música, fala escrita – decifram-se signos menores que depois compõem unidades maiores.
O tema desenrola por uma sucessão de redundâncias (Aguiar, 2004)
A linguagem visual opera no plano global
Percepção do todo
Depois atenção para detalhes
As pessoas aprendem a circular entre múltiplos sistemas sígnicos –
Entendem signos gráficos, verbais, gestuais, e de outras modalidades.
Para Geertz, 1973; Levi-Strauss, 1963, os sistemas sígnicos são entendidos como a base da cognição e cultura humanas
São essenciais para a mediação do pensamento e das práticas sociais (Vygotsky, 1978). 
Como a criança pequena circula entre os vários sistemas e se apropria dos diferentes linguagens?
Braswell, 2006
a literatura e as formas de narrativas em um setor, a arte em outro, o cinema de um lado, a fotografia de outro; a televisão e o vídeo em uma área, a música em outra etc. Entretanto, é só nos currículos escolares que as linguagens estão separadas com nitidez. Na vida, a mistura, a promiscuidade entre as linguagens e os signos é a regra. 
Santaella, 2001.
Referências bibliográficas
Aguiar, Vera Teixeira de. O verbal e o não verbal. Coleção paradidáticos. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
Braswell, Gregory. Sociocultural contexts for the early development of semiotic production. Psychological Bulletin. 2006, v. 132: (6), 877–894
Schrader, Paul. Poetry of ideas: the films of Charles Eames. Film Quarterly. v. 23 (3), 1970, p. 2-19. http://www.jstor.org/stable/1210376 . Acesso em 31/5/2014.
Santaella, Lúcia. As Matrizes da Linguagem e do pensamento: São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Vigotski, L. S. Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, ...
Vigotski, L.S. A criação e a imaginação na infância. São Paulo, Cortez.
Wertsch, James. A sociocultural approach to mind.

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