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New York, Oxford University Press, 2001. 60 GLOSSÁRIO Além das definições contidas neste livro, este glossário inclui termos usados pela NBR ISO 9000/2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas e pelos Critérios de Excelência 2004 da Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade. Análise crítica - verificação profunda e global de um projeto, produto, serviço, processo ou informação com relação a requisitos, objetivando a identificação de problemas e a proposição de soluções (FPNQ). Atividade realizada para determinar a pertinência, a adequação e a eficácia do que está sendo examinado, para alcançar os objetivos estabelecidos (NBR ISO 9000/2000); Alta Direção (top management) - Pessoa ou grupo de pessoas que dirige e controla uma organização no mais alto nível (NBR ISO 9000/2000). Capital intelectual - Conjunto de ativos intangíveis representados pelo acervo de conhecimentos e geradores do diferencial competitivo e que agregam valor à organização. O Capital Intelectual pode abranger, dentre outros: • Ativos de Mercado: potencial que a empresa possui em decorrência dos intangíveis que estão relacionados ao mercado, tais como: marca, clientes, lealdade dos clientes, negócios recorrentes, canais de distribuição, franquias etc. • Ativos Humanos: compreendem os benefícios que o indivíduo pode proporcionar para as organizações por meio da sua expertise, criatividade, conhecimento, habilidade para resolver problemas, tudo visto de forma coletiva e dinâmica. • Ativos de Propriedade Intelectual: incluem os ativos que necessitam de proteção legal para proporcionar às organizações benefícios tais como: know-how, segredos industriais, copyright, patentes, designs etc. • Ativos de Infra-Estrutura: compreendem as tecnologias, as metodologias e os processos empregados como, sistema de informação,métodos gerenciais, bancos de dados, etc. (FPNQ) Característica da qualidade - Característica inerente a um produto, processo ou sistema, relacionada a um requisito (NBR ISO 9000/2000). Classe Mundial - Termo utilizado para caracterizar uma organização, prática de gestão ou resultado como sendo um referencial de excelência (FPNQ). Cliente - Deve-se considerar o cliente como o destinatário dos produtos da organização. Pode ser uma pessoa física ou jurídica. É quem adquire (comprador) e/ou quem utiliza o produto (usuário/consumidor) (FPNQ). Organização ou pessoa que recebe um produto. (Consumidor, cliente, usuário final, varejista, beneficiário e comprador). (NBR ISO 9000/2000). Conhecimento - É constituído pela tecnologia, pelas políticas, pelos procedimentos, pelas bases de dados e documentos, bem como pelo conjunto de experiências e habilidades da força de trabalho. É gerado como resultado da análise das informações coletadas pela organização(FPNQ). Controle da qualidade - Parte da gestão da qualidade focada no atendimento dos requisitos da qualidade. (NBR ISO 9000/2000). Desempenho - Resultados obtidos dos principais indicadores de processos e de produtos que permitem avaliá-los e compará-los em relação às metas, aos padrões, aos referenciais pertinentes e a outros processos e produtos. Mais comumente, os resultados expressam satisfação, insatisfação, eficiência e eficácia e podem ser apresentados em termos financeiros ou não (FPNQ). Diretrizes organizacionais - O conjunto de orientações que devem ser seguidas pela organização, como por exemplo: a missão, a visão, as políticas, os códigos de conduta, dentre outros (FPNQ). Evidência objetiva - Dados que apóiam a existência ou a veracidade de alguma coisa. (NBR ISO 9000/2000). Excelência - Situação excepcional da gestão e dos resultados obtidos pela organização, alcançada por meio da prática continuada dos fundamentos do modelo sistêmico (FPNQ). Expectativas - Necessidades importantes dos clientes ou das demais partes interessadas, em relação à organização, que normalmente não são explicitadas. Por exemplo, o cliente “espera” que o produto possua características que atendam suas necessidades mais importantes em função de experiências passadas, comparações com produtos similares, nível de tecnologia disponível ou outros fatores. Por exemplo: cortesia do pessoal de atendimento, capacitação técnica das profissionais, acesso fácil às informações, instalações limpas e resposta rápida a problemas (FPNQ). Fornecedor - Qualquer organização que forneça bens e serviços. A utilização desses bens e serviços pode ocorrer em qualquer estágio de projeto, produção e utilização dos produtos. Assim, fornecedores podem incluir distribuidores, revendedores, prestadores de serviços terceirizados, transportadores, contratados e franquias, bem como os que suprem a organização com materiais e componentes. São também fornecedores os prestadores de serviços das áreas de saúde, treinamento e educação (FPNQ). Organização ou pessoa que fornece um produto. (Produtor, distribuidor, varejista ou comerciante de um produto ou prestador de um serviço ou informação). (NBR ISO 9000/2000). Garantia da qualidade - Parte da gestão da qualidade focada em prover confiança de que os requisitos da qualidade serão atendidos (NBR ISO 9000/2000). Gestão da qualidade - Atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organização, no que diz respeito à qualidade. (NBR ISO 9000/2000). Indicadores - Dados ou informações numéricas que quantificam as entradas (recursos ou insumos), saídas (produtos) e o desempenho de processos, produtos e da organização como um todo. Os indicadores são utilizados para acompanhar e melhorar os resultados ao longo do tempo e podem ser classificados em: simples (decorrentes de uma única medição) ou compostos; diretos ou indiretos em relação à característica medida; específicos (atividades ou processos específicos) ou globais (resultados pretendidos pela organização); e direcionadores (drivers) ou resultantes (outcomes) (FPNQ). Inspeção - Avaliação da conformidade pela observação e julgamento, acompanhada, se necessário, de medições, ensaios ou comparação com padrões [NBR ISO 9000/2000 ISO/IEC Guia 2]. (NBR ISO 9000/2000). 61 Manual da qualidade - Documento que especifica o sistema de gestão da qualidade de uma organização. Manuais da qualidade podem variar em detalhe e formato para se adequarem ao tamanho e à complexidade de uma organização. (NBR ISO 9000/2000). Metas - Níveis de desempenho pretendidos para um determinado período de tempo (FPNQ). Missão - A razão de ser de uma organização, as necessidades sociais a que ela atende e seu foco fundamental de atividades (FPNQ). Necessidades - Conjunto de requisitos, expectativas e preferências dos clientes ou das demais partes interessadas(FPNQ). Normalização - Embora o sistema lingüístico da língua portuguesa permita o registro das duas palavras, normalização e normatização, essa última não consta sequer no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras. Determinadas palavras possuem um significado geral e, às vezes, um significado específico diferente. Assim, consultando-se o Vocabulário de Terminologia Técnica, é encontrada apenas a palavra "normalização". A palavra "normalização" é adotada pelos organismos de normalização do mundo todo e tem seu uso consagrado no Brasil há mais de 50 anos. Sua grafia na língua portuguesa segue o mesmo padrão de outras línguas latinas: espanhol - normalización; francês - normalisation; italiano - normalizzacione, e também em alemão (normalisierung). A NBR ISO 9000/2000 adota a palavra "normalização" por considerá-la a que melhor se enquadra na tarefa exercida, de acordo com a definição do Novo Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa (Aurélio Buarque de Hollanda), que define "normalizar" como "submeter a norma; padronizar" (www.abnt.org.br). Objetivo da qualidade - Aquilo que é buscado ou almejado, no que diz respeito à qualidade. (NBR ISO 9000/2000). Organização - Companhia, corporação, firma, órgão, instituição ou empresa, ou uma unidade destas, pública ou privada, sociedade anônima, limitada ou com outra forma estatutária, que tem funções e estruturas administrativas próprias e autônomas, no setor público ou privado, com ou sem finalidade de lucro, de porte pequeno, médio ou grande (FPNQ). Grupo de instalações e pessoas com um conjunto de responsabilidades, autoridades e relações. (Companhia, corporação, firma, empresa, instituições, organização beneficente, comerciante, associação, ou parte ou combinação destes). (NBR ISO 9000/2000). Perfil da organização - Resumo das principais atividades e setores da organização, seus produtos, seu porte, sua forma de atuação e composição acionária, seus mercados e áreas de atuação, seus clientes principais, a composição da força de trabalho, seus principais processos, equipamentos, tecnologias e instalações, seus principais fornecedores, sua visão de futuro, suas principais estratégias e planos de ação. O perfil serve para ajudar a compreender melhor quem é,o que faz e o que é importante e pertinente para a organização (FPNQ). Planejamento da qualidade - Parte da gestão da qualidade focada no estabelecimento dos objetivos da qualidade e que especifica os recursos e processos operacionais necessários para atender a estes objetivos. (NBR ISO 9000/2000). Plano da qualidade - Documento que especifica quais procedimentos e recursos associados devem ser aplicados, por quem e quando, a um empreendimento, produto, processo ou contrato específicos. (NBR ISO 9000/2000). Planos de ação - Principais propulsores organizacionais, resultantes do desdobramento das estratégias de curto e longo prazos. De maneira geral, os planos de ação são estabelecidos para realizar aquilo que a organização deve fazer bem feito para que sua estratégia seja bem sucedida. O desenvolvimento dos planos de ação é de fundamental importância no processo de planejamento para que os objetivos estratégicos e as metas estabelecidas sejam entendidas e desdobradas para toda a organização.O desdobramento dos planos de ação requer uma análise do montante de recursos necessários e a criação de medidas de alinhamento para todas as unidades de trabalho. O desdobramento pode também exigir a capacitação de algumas pessoas da força de trabalho ou o recrutamento de novas pessoas (FPNQ). Política da qualidade - Intenções e diretrizes globais de uma organização, relativas à qualidade, formalmente expressas pela Alta Direção. (NBR ISO 9000/2000). Práticas de gestão - Atividades executadas regularmente com a finalidade de gerir uma organização, de acordo com os padrões de trabalho. São também chamadas de processos de gestão, métodos ou metodologias de gestão (FPNQ). Processo – Conjunto de recursos e atividades inter-relacionadas que transformam insumos (entradas) em produtos (saídas). Essa transformação deve agregar valor na percepção dos clientes do processo e exige um certo conjunto de recursos. Os recursos podem incluir pessoal, finanças, instalações, equipamentos, métodos e técnicas, numa seqüência de etapas ou ações sistemáticas.O processo poderá exigir que a seqüência de etapas seja documentada por meio de especificações, de procedimentos e de instruções de trabalho, bem como que as etapas de medição e controle sejam adequadamente definidas (FPNQ). Conjunto de atividades inter-relacionadas ou interativas que transformam insumos (entradas) em produtos (saídas). (NBR ISO 9000/2000). Produtividade - Eficiência na utilização de recursos. Apesar de a palavra ser freqüentemente aplicada a um único fator, como mão-de-obra (produtividade do trabalho), máquina, materiais, energia e capital, o conceito de produtividade também se aplica ao total dos recursos consumidos na obtenção de um produto. A produtividade global, também denominada fator de produtividade total, é calculada pela combinação da produtividade dos diferentes recursos utilizados para obtenção de um produto. Essa combinação geralmente requer uma média ponderada dos indicadores de produtividade, compondo um único fator. Normalmente, os pesos atribuídos são proporcionais aos custos de cada recurso. A utilização de um indicador composto, como o fator de produtividade total, permite determinar se o efeito global das mudanças no processo é benéfico ou não, possivelmente envolvendo interação dos recursos. Enfoques eficazes para a gestão do desempenho requerem que a produtividade com um único fator ou a produtividade total seja compreendida e medida, especialmente quando o caso for complexo, existindo grande variedade de custos e de benefícios potenciais (FPNQ). Produto - Resultado de atividades ou processos. Considerar que: • o termo produto pode incluir serviços, materiais e equipamentos, informações ou uma combinação desses elementos; • um produto pode ser tangível (como, por exemplo, equipamentos ou materiais) ou intangível (por exemplo, conhecimento ou conceitos), ou uma combinação dos dois; e 62 • um produto pode ser intencional (por exemplo, oferta aos clientes), ou não-intencional (por exemplo, um poluente ou efeitos indesejáveis) (FPNQ). Resultado de um processo (NBR ISO 9000/2000). Qualidade - Totalidade de características de uma entidade (atividade ou um processo, um produto, uma organização ou uma combinação destes), que lhe confere a capacidade de satisfazer as necessidades explícitas e implícitas dos clientes. (FPNQ) Grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos. (NBR ISO 9000/2000). Referencial de excelência - Prática ou resultado considerado o melhor da classe.O termo também pode ser utilizado para designar uma organização, processo ou produto, reconhecido como o melhor no mundo, no país, na região ou no ramo de atividade (FPNQ). Requisitos - Necessidades básicas dos clientes ou das demais partes interessadas, explicitadas por eles, de maneira formal ou informal. Por exemplo, o cliente “requer” que o produto possua características que atendam suas necessidades básicas, claramente especificadas no momento da aquisição. Exemplos de requisitos incluem prazo de entrega, tempo de garantia, especificação técnica, tempo de atendimento, qualificação de pessoal, preço e condições de pagamento (FPNQ). Serviço – É o resultado de pelo menos uma atividade desempenhada necessariamente na interface entre o fornecedor e o cliente e é geralmente intangível. A prestação de um serviço pode envolver, por exemplo: uma atividade realizada em um produto tangível fornecido pelo cliente (o reparo em um automóvel); uma atividaderealizada em um produto intangível fornecido pelo cliente (declaração de imposto de renda necessária para receber a restituição); a entrega de um produto intangível (fornecimento de informação no contexto da transmissão do conhecimento); a criação de um ambiente agradável para o cliente (em hotéis e restaurantes). (NBR ISO 9000/2000). Sistema de gestão – Sistema para estabelecer política e objetivos, e para atingir estes objetivos. (NBR ISO 9000/2000). Sistema de gestão da qualidade - Sistema de gestão para dirigir e controlar uma organização, no que diz respeito à qualidade. (NBR ISO 9000/2000). Valor - Grau de benefício obtido como resultado da utilização e das experiências vividas com um produto. É a percepção do cliente, e das demais partes interessadas, sobre o grau de atendimento de suas necessidades, considerando-se as características e atributos do produto, seu preço, a facilidade de aquisição, de manutenção e de uso, ao longo de todo seu ciclo de vida. As organizações buscam criar e entregar valor para todas as partes interessadas. Isto requer um balanceamento do valor na percepção dos clientes, dos acionistas, da força de trabalho e da sociedade (FPNQ). Visão - Estado que a organização deseja atingir no futuro. A visão tem a intenção de propiciar o direcionamento dos rumos de uma organização (FPNQ). 1 CCAAPPÍÍTTUULLOO II AA EEVVOOLLUUÇÇÃÃOO DDAA QQUUAALLIIDDAADDEE QQuuaalliiddaaddee éé uummaa iiddeeiiaa ccuujjoo tteemmppoo cchheeggoouu SSaalllliiss Qualidade existe desde que o mundo é mundo. Ao longo da história o homem sempre procurou o que mais se adequasse às suas necessidades, fossem estas de ordem material, intelectual, social ou espiritual. A relação cliente-fornecedor sempre se manifestou dentro das famílias, entre amigos, nas organizações de trabalho, nas escolas e na sociedade em geral. No final do 2º milênio vivemos o cenário da busca da Qualidade Total nas empresas como fator de sobrevivência e competitividade. Hoje, nos primeiros passos do 3º milênio, para melhor compreender a evolução do conceito Qualidade é importante analisarmos "de onde viemos", a fim de entendermos "onde estamos", para então sabermos, "para onde estamos indo" na trilha de evolução da Qualidade no mundo. Neste sentido, a arte de se obter Qualidade experimentou uma grande evolução no século XX, partindo da mera inspeção de produtos acabados à visão estratégica de negócios 1 . Esta evolução pode ser analisada conforme seu contexto no Ocidente, no Japão e no mundo como um todo. II..11 AA EEvvoolluuççããoo ddaa QQuuaalliiddaaddee nnoo OOcciiddeennttee Voltando no tempo, especialmente a partir da Revolução Industrial, com o desenvolvimento das ferramentas de trabalho e dos sistemas de unidades de medidas, tanto na Inglaterra 2 quanto nos Estados Unidos da América 3 , a Qualidade evoluiu até nossos dias essencialmente através de quatro Eras, dentro das quais a arte de obter Qualidade assumiu formas distintas: • Era da Inspeção – Qualidade com foco no produto • Era do Controle Estatístico da Qualidade – Qualidade com foco no processo • Era da Garantia da Qualidade – Qualidade com foco no sistema • Era da Gestão da Qualidade Total (Total Quality Management - TQM) – Qualidade com foco no negócio Segue uma síntese de cada Era, destacando-se os aspectos que mais as caracterizam. II..11..11 AA EErraa ddaa IInnssppeeççããoo -- QQuuaalliiddaaddee ccoomm FFooccoo nnoo PPrroodduuttoo No final do século XVIII e início do século XIX a Qualidade era obtida de uma forma bem diferente da obtida hoje em dia. A atividade produtiva era artesanal e em pequena escala. 1 Buzzell, R. D. e Gale, B. T. (1991). 2 Dale B. G. e Plunkett, J. J. (1990). 3 Garvin, D. A. (1992). Os artesãos e artífices eram os responsáveis pela construção de qualquer produto e por sua Qualidade final. Com o desenvolvimento da industrialização, e o advento da produção em massa, tornou-se necessário um sistema baseado em inspeções, onde um ou mais atributos de um produto eram examinados, medidos ou testados, a fim de assegurar a sua Qualidade. No início do século XX, o engenheiro e executivo Frederick W. Taylor estabeleceu os Princípios da Administração Científica 4 , e G.S. Radford, com a publicação do seu livro The Control of Quality in Manufacturing, legitimaram a função do inspetor conferindo a ele a responsabilidade pela Qualidade dos produtos. A força-motriz do “Século da Produtividade”5 foram os conceitos adotados por Taylor6que atribuiu ao inspetor a responsabilidade pela qualidade do trabalho. A consequência imediata deste estudo sobre os métodos gerenciais foi a separação do planejamento da produção, baseada na concepção de que os operários e os supervisores não estavam preparados para colaborar com o planejamento. Taylor atribuiu a responsabilidade do planejamento a gerentes e engenheiros, deixando aos supervisores e aos operários a execução das tarefas. Até meados do século XX era raro uma empresa apresentar em seu organograma um departamento dirigido à qualidade. Essa função era realizada por inspetores específicos, mas eles estavam espalhados pelos diversos departamentos de produção. Apenas algumas grandes organizações exibiam departamentos de inspeção final e testes, que se reportavam, normalmente, ao superintendente da produção ou ao gerente da fábrica. O sistema criado por Taylor obteve resultados surpreendentes no que diz respeito ao aumento de produtividade e passou a ser o referencial de produção para muitas empresas norte-americanas, espalhando-se pelo mundo. Apesar da significativa contribuição de Henry Ford, o pioneiro da produção em massa 7 , essa talvez tenha sido, segundo Juran, a principal razão da liderança mundial dos EUA, em termos de produtividade. O trabalho de Taylor é fruto de todo pensamento cartesiano que dominou o mundo ocidental. A princípio Taylor aplicou seu método aos departamentos de produção das fábricas. Posteriormente seus seguidores estenderam o conceito para serviços. 4 Método Científico de Administrar. 5 Esta definição sobre o século XX foi feita por Juran em uma das últimas apresentações no Congresso da ASQ. Ele diz que o próximo século será conhecido como o “Século da Qualidade”, apesar dos esforços desenvolvidos desde o início do século XX. 6 Taylor, 1987. 7 Pyzdek, 1991. 2 Aos poucos o sistema taylorista gerou alguns efeitos indesejáveis devido à ênfase dada pela alta gerência à produtividade. Supervisores e operários priorizaram a produtividade e relegaram a qualidade a segundo plano. Nesta época, a inspeção estava centrada no produto, o primeiro nível de complexidade. Durante a primeira grande guerra, com o aumento da atividade industrial, surge a figura do inspetor em tempo integral. Em 1922, a atividade de inspeção é formalmente incorporada ao Controle da Qualidade sendo, pela primeira vez, a qualidade vista como responsabilidade gerencial e independente 8 . Mas, ainda, a função do Controle da Qualidade permanece limitada a inspeção. A atividade dos inspetores se restringia a identificação e quantificação dos produtos defeituosos, que, muitas vezes, resultava em medidas punitivas. Os fabricantes removiam as peças defeituosas sem que fosse feito um estudo prévio sobre as causas. A criação dos departamentos da qualidade gerou dois problemas básicos: A Alta Direção das empresas concluiu que qualidade era responsabilidade exclusiva do departamento da qualidade e se distanciou da função qualidade, delegando-a aos gerentes,ficando cada vez menos informada sobre o assunto. Quando havia uma situação de crise, não tinham os conhecimentos necessários, com presteza e confiabilidade, para adotar as ações adequadas. É a típica postura dos “apagadores de incêndio”. Desta forma, nunca são removidas as causas reais das não conformidades. A solução é, apenas, momentânea, por ser baixo o nível de aprendizado adquirido nesta prática. Esta abordagem prevaleceu por muitos anos, durante os quais a Qualidade era obtida através de inspeção, controle e separação dos "bons" e dos "maus" produtos. Aos inspetores cabia a tarefa de identificação e quantificação das peças defeituosas; estas eram removidas e trocadas sem que se fizesse uma avaliação das causas reais do problema para prevenir sua repetição. O objetivo principal era obter Qualidade igual e uniforme em todos os produtos. Ênfase à conformidade. II..11..22 EErraa ddoo CCoonnttrroollee EEssttaattííssttiiccoo ddaa QQuuaalliiddaaddee –– QQuuaalliiddaaddee ccoomm FFooccoo nnoo PPrroocceessssoo Houve significativos desenvolvimentos na década de 1930, entre eles o trabalho de pesquisadores para resolver problemas referentes à Qualidade dos produtos da Bell Telephone, nos E.U.A.. Este grupo, composto por nomes como W. A. Shewart, Harold Dodge, Harry Romig , G. D. Edwards e posteriormente Joseph Juran, dedicou boa parte de seus esforços em pesquisas que levaram ao surgimento do Controle Estatístico de Processos.Com o crescimento da produção, o modelo baseado na inspeção 100% torna-se caro e ineficaz. Em 16 de maio de 1924, Shewhart, aplicando conhecimentos estatísticos, desenvolve poderosa técnica com a finalidade de solucionar problemas de controle da qualidade da 8 Garvin, 1988. Bell Telephone Laboratories: o Gráfico de Controle de Processo, até hoje utilizado na indústria. Ao publicar um livro, em 1931, sob o titulo Economic Control of Quality of Manufactured Product, forneceu um método preciso e mensurável para definição do controle do processo, estabelecendo princípios para monitorar e avaliar a produção. Shewart, o mestre de W. E. Deming foi o primeiro a reconhecer a variabilidade, segundo nível de complexidade, como inerente aos processos industriais e a utilizar técnicas estatísticas para o controle de processos. Começa a se estruturar o estilo de gestão corretiva: identificar as causas reais e agir sobre elas. Matéria prima, operador e equipamento são algumas das fontes de variabilidade (causas) que podem apresentar variações no seu desempenho e característica e, portanto, afetar o produto (efeito). O conhecimento destas variações permite que a partir da sua quantificação e do estabelecimento de limites estatísticos seja possível manter o processo sob o estado de controle. Através dos gráficos de controle de processo é possível identificar, minimizar e, algumas vezes, remover as causas especiais de variação. O advento da 2a. Grande Guerra Mundial exigiu que outras técnicas também fossem desenvolvidas para combater a ineficiência e impraticabilidade apresentada pela inspeção 100% na produção em massa de armamentos e munições. Neste sentido, Dodge e H. Romig 9 desenvolveram técnicas de amostragem, nos E.U.A., que tiveram grande aceitação. Programas de capacitação começaram a ser oferecidos, em larga escala, nos E.U.A. e Europa Ocidental, tanto referente ao controle de processo quanto às técnicas de amostragem. O objetivo principal era controlar a Qualidade através de métodos estatísticos. Ênfase ao controle da variabilidade. Nesta época várias associações em prol da Qualidade começaram a ser formadas e em julho de 1944 era lançado o primeiro jornal especializado na área da Qualidade, Industrial Quality Control, que deu origem mais tarde à revista hoje mundialmente conhecida, Quality Progress 10 , editada pela American Society for Quality Control (ASQC). A ASQC foi fundada em 1946 a partir da formação, em outubro de 1945, da Society of Quality Engineers, tornando-se a "locomotiva" da disseminação dos conceitos e técnicas da Qualidade no Ocidente. Hoje em dia se chama ASQ: The Global Voice of Quality 11 . II..11..33 EErraa ddaa GGaarraannttiiaa ddaa QQuuaalliiddaaddee -- QQuuaalliiddaaddee ccoomm FFooccoo nnoo SSiisstteemmaa Durante a 2ª. Grande Guerra os produtos destinados a uso militar tiveram prioridade no que dizia respeito a instalações, material, mão de obra habilitada e serviços de toda ordem. A produção de bens de consumo foi diminuída, incluídos os automóveis e eletrodomésticos. 9 In Garvin (1992). 10 http://asq.org/pub/qualityprogress/past/0503/ 11 http://asq.org/index.aspx 3 Enquanto isso, os operários que trabalhavam na produção militar, em muitas horas extras, fez aumentar o poder aquisitivo de várias famílias. No fim da guerra, em 1945, os bens para a população civil eram escassos. A prioridade máxima das empresas passou a ser, então, o cumprimento dos prazos de entrega para garantir uma fatia maior do mercado, e a qualidade dos produtos foi se deteriorando de forma escandalosa – um fenômeno que sempre se repete em tempos de escassez. A falta de produtos atraiu para o mercado novos competidores, cuja inexperiência contribuiu ainda mais para o declínio da qualidade. Nos anos que se sucederam após a segunda grande guerra, ocorre grande desenvolvimento tecnológico e industrial. Foram lançados no mercado, novos materiais e novas fontes de energia principalmente a fornecida pelas centrais nucleares, com seus requisitos tecnológicos bastante exigentes. Todos estes fatores tecnológicos, associados ao aumento das pressões provocadas pela concorrência, provocaram profundas revisões dos conceitos adotados e grande reviravolta administrativa e econômica nos meios empresariais, bem como em toda a sociedade. Entre 1950 e 1960 vários trabalhos foram publicados ampliando o campo de abrangência da Qualidade. Juran, em 1951, enfatizando a necessidade de "evidências objetivas" 12 , propõe uma abordagem que torna mensurável a qualidade de produtos e serviços, correlacionando-a aos custos de retrabalho, mão de obra para o reparo, perdas financeiras associadas a insatisfação do consumidor, entre outro fatores, definidos como evitáveis. Já os custos inevitáveis foram associados a prevenção, inspeção, amostragem e outras atividades ligadas ao Controle da Qualidade. A prevenção passa a ser adotada na gestão dos processos produtivos tendo implicações positivas no nível de qualidade resultante, mensurado pela redução de desperdícios. Os quatro principais movimentos que compõem esta Era são: A. A quantificação dos custos da Qualidade; B. O controle total da Qualidade; C. As técnicas de confiabilidade; D. O programa Zero Defeitos. A. A Quantificação dos Custos da Qualidade Os custos da Qualidade 13 foram abordados pela primeira vez por Juran na primeira edição do livro Quality Control Handbook, em 1951, que buscava sinalizar aos gerentes o impacto das ações de Qualidade sobre os custos das empresas, especialmente os incorridos devido 12 “Informação cuja veracidade pode ser comprovada com fatos obtidos através de observação, medição, ensaios e outros meios”. (ISO 8402, 1994) 13 A Norma NBR ISO 9000/2000 não define Custos da Qualidade. A versão anterior NBR ISO 8402/1994 define-o como: “Custos incorridos em garantir e assegurar a qualidade, bem como aqueles decorrentes das perdas, quando essa qualidade não é obtida”. Ver Crosby www.philipcrosby.com.br/pca/c.pnc.html às falhas internase externas nos produtos. Desde então, cresceu o interesse dos escalões superiores das empresas na medida em que Juran demonstrou, baseado em fatos e dados, que ações de Qualidade voltadas para a prevenção provocariam a redução dos custos totais, sendo, portanto, uma "mina de ouro". Os Custos Totais de uma Empresa 14 compreendem todos os esforços e recursos que são investidos para o fornecimento de produtos e serviços aos clientes. Os Custos de Produção compreendem os gastos com materiais diretamente consumidos, com mão de obra direta, com equipamentos utilizados e tecnologia empregada. Os Custos de Fabricação são a soma dos Custos de Produção com os Custos Indiretos de Produção, tais como gastos com engenharia, projeto, pesquisa e desenvolvimento, controle de produção, manutenção além dos insumos utilizados, salários e gastos administrativos associados a estas atividades de apoio à produção. Custos de Fabricação = Custos de Produção + Custos Indiretos Os Custos de Comercialização são compostos pelos custos de marketing, de vendas e de distribuição dos produtos e serviços. Os Custos Totais da Empresa englobam os Custos de Fabricação e os Custos de Comercialização, além de outros gastos indiretos como impostos, aluguéis, energia etc. Custos Totais = Custos de Fabricação + Custos de Comercialização + Outros Nos Custos Totais da Empresa figuram os Custos Totais da Qualidade, que podem ser contabilizados explicitamente numa organização. Estes custos estão associados à produção, identificação, prevenção ou correção de produtos e serviços que não atendam requisitos, sendo classificados em quatro categorias: Custos de Prevenção Custos de Avaliação Custos de Falhas Internas Custos de Falhas Externas Os Custos de Prevenção são todos aqueles incorridos no esforço de fazer certo na primeira vez, ou seja, evitar a ocorrência de defeitos. Inclui atividades de planejamento, engenharia da Qualidade, desenvolvimento de novos produtos e serviços, projeto dos produtos ou serviços, planejamento de fabricação, controle de processo, treinamento, aquisição e análise de dados da Qualidade, projeto e desenvolvimento de equipamentos de controle da Qualidade, calibração e manutenção de equipamentos, seleção e desenvolvimento de fornecedores, manutenção preventiva dos equipamentos de produção. Os Custos de Avaliação estão associados às atividades de medir e avaliar as características da Qualidade dos produtos ou serviços, os componentes ou os materiais utilizados para 14 Maia, W. R. & Barçante, L.C. ( 1990). 4 assegurar conformidade com especificações. Esta categoria cobre principalmente os custos de mão de obra e equipamentos de teste necessários para a realização de inspeção e ensaios de matérias-primas, produtos em processamento e produto final. Os Custos das Falhas Internas surgem quando produtos, componentes, materiais ou serviços não atendem aos requisitos da Qualidade e as falhas são descobertas antes da entrega do produto ou prestação do serviço ao cliente. Incluem perda de mão de obra e materiais devido a produtos refugados, custo de recuperações e retrabalhos, análise das falhas, atraso na linha de produção, reensaio e rebaixamento de preço. Aqui também devem ser considerados o excesso de produção, máquinas e materiais alocados previamente para compensar a perda interna futuramente esperada. Os Custos das Falhas Externas ocorrem quando o produto entregue ou o serviço prestado ao cliente não apresenta a Qualidade esperada. Incluem custos de devolução e substituição dos lotes de produtos vendidos, custos de administração de reclamações, assistência técnica e garantia, e processos de responsabilidade civil. Outros custos também são considerados indiretos, tais como perda de reputação no mercado, perda de vendas futuras e perda de participação no mercado. A Figura 1.1 mostra a relação entre os Custos Totais antes e depois de se trabalhar os Custos da Qualidade. No gráfico CT1, lado esquerdo da figura, vemos que na maioria das empresas os Custos de Prevenção e Avaliação são, em geral, menores do que os Custos de Falhas Internas e de Falhas Externas. Já no gráfico CT2 vemos que ao investirmos nos Custos de Prevenção e de Avaliação, no médio prazo os Custos de Falhas Internas e Externas tendem a reduzir a ponto de que o Custo Total diminua. Figura 1.1 – Os Custos Totais da Qualidade (ilustrativa) A Figura 1.2 apresenta uma correlação qualitativa entre os Custos Totais da Empresa e os Custos Totais da Qualidade. Figura 1.2 – Correlação entre os Custos Totais da Empresa e os Custos Totais da Qualidade (ilustrativa) B. O Controle Total da Qualidade - TQC Em 1956, A. Feigenbaum 15 introduz os princípios do Controle Total da Qualidade –TQC16. Segundo estes princípios, a qualidade de produtos e serviços é "um trabalho de todos”. O controle inicia-se na elaboração do projeto e termina somente quando o produto está nas mãos do consumidor, que fica satisfeito. Nesta nova abordagem procura-se atuar sobre todas as causas potenciais da não conformidade. As ações são conduzidas sobre todo o sistema, o terceiro nível de complexidade. É o que se caracteriza como visão sistêmica, cujo objetivo básico era o de prover um controle preventivo, desde o início do projeto dos produtos até seu fornecimento aos clientes, com base num trabalho multifuncional Feigenbaum definiu sua filosofia básica da seguinte forma a alta Qualidade dos produtos é difícil de ser alcançada se o trabalho for feito de maneira isolada. Desta forma, para prevenir a ocorrência de falhas futuras, era necessário o envolvimento de mais de uma área da empresa, desde o projeto do produto. Seu trabalho foi o nucleador das normas de sistemas de Garantia da Qualidade em vários países, que mais tarde, já na década de 80, 15 Feigenbaum, 1986. 16 TQC – Total Quality Control CT1 CT2 PREVENÇÃO AVALIAÇÃO FALHAS INTERNAS FALHAS EXTERNAS CUSTOS TOTAIS CT1 > CT2 5 deram origem às normas internacionais ISO 9000 17 . C. As Técnicas de Confiabilidade No desenvolvimento das técnicas de confiabilidade, onde as teorias de probabilidade e estatística foram estudadas mais profundamente, o objetivo foi o de evitar falhas do produto ao longo do seu uso. As indústrias aeroespacial, eletrônica e militar foram as propulsoras destas técnicas. As técnicas desenvolvidas, com impacto direto nos projetos dos produtos, incluem: • análise de efeito e modo de falha ( FMEA ): revisão sistemática dos modos pelos quais um componente de um sistema pode falhar; • análise individual de cada componente: verificação da probabilidade de falhas dos componentes chaves de um sistema; • redundância: utilização de componentes em paralelo no sistema, a fim de garantir seu funcionamento mesmo que um deles falhe. Barçante 18 pesquisando o impacto do Clima Organizacional no Processo de Qualidade Total verificou que os dados obtidos nos questionários da pesquisa relativos ao Grau de Satisfação com a Empresa, Grau de Motivação com a Profissão e Ausência de Estresse quando plotados em gráficos com o tempo de vôo no eixo-x, apresentavam formato semelhante a uma Curva da Banheira 19 mostrada na Figura 1.3. Figura 1.3 – Curva da Confiabilidade Humana 17 Série de Normas editadas pela International Organization for Standarlization (1987). 18 Pesquisa de Clima como Suporte ao Processo de busca da Qualidade Total – estudo de caso no Grupo de Comissários de Bordo da VARIG. Dissertação deMestrado. COPPE/UFRJ, (1994). 19 Montgomery, C. Applied statistcs and probability for engineers. New York, John Wiley, 2002, 3th. Considerando-se que a probabilidade de falha na execução de uma tarefa na rotina de trabalho de um funcionário é inversamente proporcional ao grau de satisfação, grau de motivação e ausência de estresse, se plotarmos um gráfico da probabilidade de ausência de falha contra o tempo de voo, obteremos o mesmo formato. Destas considerações concluiu-se que quando o Comissário de Bordo era contratado pela empresa ele estava altamente satisfeito, motivado e sem estresse, mas à medida que o tempo passava o Grupo tendia a ir para o fundo da Curva da Banheira e quando o alcançava – período entre 11 a 15 anos - o Grupo estava literalmente no fundo do poço, com alta probabilidade de falhar, sendo que nesta fase os Comissários assumiam as funções de chefia a bordo, por senioridade. Só após completar 15 anos de voo o Grupo voltava a subir o Grau de Satisfação, Grau de Motivação e Ausência de Estresse, gradativamente. A análise crítica destes dados forneceu importantes informações para a Diretoria de Serviço de Bordo, que se desdobraram em quatro projetos distintos a fim de alterar esta situação: Acompanhamento Funcional, Treinamento da Supervisão de Cabine em aspectos de Gestão de Pessoas, Integração do Grupo de Comissários à Empresa, Remodelação do Plano de Cargos e Salários – já havia um novo Plano de Cargos e Salários preste a ser aprovado pela Diretoria, mas que sofreu mudanças radicais em função das informações obtidas na pesquisa 20 . D. O programa Zero Defeitos O programa Zero Defeitos originou-se no ano de 1961 na construção dos mísseis Pershing nos E.U.A., inspirado fundamentalmente nos trabalhos de Philip Crosby 21 . Sua filosofia básica consistiu em fazer certo o trabalho na primeira vez. Neste sentido, foi dada ênfase a aspectos motivacionais e à iniciativa dos funcionários através de treinamento, estabelecimento de objetivos e divulgação dos resultados da Qualidade e reconhecimento por sua obtenção. Em suma, a Era da Garantia da Qualidade caracterizou-se pela valorização do planejamento para a obtenção da Qualidade, da coordenação das atividades entre os diversos departamentos, do estabelecimento de padrões da Qualidade além das já conhecidas técnicas estatísticas. Tanto Feigenbaum quanto Juran observaram a necessidade das empresas desenvolverem um novo tipo de especialista, não só com conhecimentos estatísticos, mas também com habilidades gerenciais: O Engenheiro da Qualidade. 20 Barçante, L. C. e Castro. G. C., Ouvindo a Voz do Cliente Interno – transforme o seu funcionário num parceiro. Qualitymark, 3ª. Edição (1998). 21 Quality is Free (1979). 6 II..11..44 EErraa ddaa GGeessttããoo ddaa QQuuaalliiddaaddee TToottaall ((TTQQMM)) -- QQuuaalliiddaaddee ccoomm FFooccoo nnoo NNeeggóócciioo Esta Era iniciou-se no Ocidente a partir dos esforços de recuperação de mercado impetrados por grandes empresas americanas, em meio à invasão de produtos japoneses de alta Qualidade no final da década de 70. A Era da Gestão da Qualidade Total é uma evolução natural das três Eras que a precederam e está em curso até hoje. Ela engloba a Garantia da Qualidade, o Controle Estatístico da Qualidade e a Inspeção (Ver Figura 1.3), porém seu enfoque valoriza prioritariamente os clientes e a sua satisfação como fator de preservação e ampliação da participação no mercado. A Gestão da Qualidade Total envolve a aplicação progressiva da Qualidade em todos os aspectos do negócio. Neste sentido, a gestão da Qualidade é aplicada em tudo o que se faz na empresa e em todos os seus níveis e áreas, incluindo vendas, finanças, compras e outras atividades não ligadas à produção propriamente dita. Nesta Era, a Alta Direção reconhece o impacto da Qualidade no sucesso competitivo da empresa, passando a merecer a sua atenção rotineira e integrando-se na gestão estratégica do negócio. A partir da constatação de que a empresa era um sistema aberto e que sofria as mais variadas pressões e influências e, num momento histórico caracterizado por rápidas mudanças – globalização da economia, Internet, formação de blocos econômicos – os empresários buscaram novas estratégias que lhes permitisse a sobrevivência e expansão dos negócios. Segundo os princípios da Teoria Contingencial não existe uma única maneira de organizar as empresas – cada caso é um caso. A elaboração de estratégias empresariais, a partir da abordagem sistêmica deve focar a interdependência entre Tarefa, Estrutura, Pessoas, Tecnologia e Ambiente. A elaboração de estratégias para qualquer atividade empresarial cada vez mais parte da definição do ponto de vista do cliente. Esta premissa, em alguns casos, amparado por mecanismos legais de defesa do consumidor 22 , ou por força das cláusulas contratuais, requer um planejamento estratégico do processo produtivo cada vez mais rigoroso. Identificar o cliente e traduzir suas necessidades em especificações do produto e do processo é um fator crítico de sucesso para qualquer organização. Dentro deste novo cenário, complexo e mutante, a responsabilidade pela definição de estratégias da qualidade pertence à alta gerência empresarial, e é vista, atualmente, como o resultado do desempenho gerencial em todas as fases do processo produtivo. Para as 22 Código de Defesa do Consumidor (1990). empresas que incorporaram esta nova forma de administração, a qualidade dos produtos possui grande potencial competitivo, na medida em que suas ações são orientadas pela satisfação do cliente. Este fato tem levado os administradores a buscarem meios de quantificação, não apenas das características do produto, para garantir o atendimento às especificações, mas, também, para permitir a compreensão e o monitoramento das complexas atividades gerenciais que lhes são impostas na atualidade. Modelos de administração do negócio com um enfoque estratégico, como o TQM 23 , vêm sendo adotados para dar respostas à necessidade de aprimoramento imposta pelo mercado. A autoavaliação, utilizando os critérios do Prêmio Nacional da Qualidade – PNQ24, por exemplo, passou a ser um meio eficaz para ajudar as empresas a identificarem seus pontos fortes e fracos. Os sistemas de gestão devem ser desenvolvidos de forma a adequar-se aos requisitos de gestão, os quais se caracterizam pelos seguintes aspectos: liderança da Alta Direção; visão sistêmica; aprimoramento contínuo; abordagem preditiva nas ações administrativas; desenvolvimento das pessoas participantes do processo de produção; foco no cliente; conhecimento do processo sistema de informações confiável. Para que seja possível atingir a qualidade de padrão mundial, algumas mudanças revolucionárias devem ser feitas na gestão dos negócios: criar meios para medir os resultados obtidos; rever as metas de qualidade e compará-las às alcançadas pela concorrência (benchmarking); implantar sistemas de reconhecimento e recompensas para motivar e buscar o comprometimento dos profissionais com a conquista do nível de qualidade internacional. treinar os gerentes nos princípios da gestão da qualidade; o planejamento empresarial deve englobar os objetivos da qualidade; novos indicadores devem permitir que a alta gerência acompanhe o progresso de parâmetros como satisfação dos consumidores, qualidade competitiva, desempenho dos processos empresariais, custos da "não-qualidade", entre outros. A Figura 1.4 mostra a interrelação das 4 Eras.23 Total Quality Management. 24 Estes critérios foram desenvolvidos com base no Prêmio de Qualidade Malcolm Baldrige, dos EUA. 7 Figura 1.4 - Interrelação das 4 Eras Legenda: I Era da Inspeção - Foco no Produto CEQ Era do Controle Estatístico da Qualidade - Foco no Processo GQ Era da Garantia da Qualidade – Foco no Sistema TQM Era da Gestão da Qualidade Total – Foco no Negócio II..22 AA EEvvoolluuççããoo ddaa QQuuaalliiddaaddee nnoo JJaappããoo Até meados do século XX, os produtos japoneses eram reconhecidos como ruins e baratos, e não gozavam da reputação que têm hoje em dia. Naquela época a Qualidade no Japão era obtida através da inspeção. Ao término da 2ª. Grande Guerra, o Japão era uma nação pobre, totalmente destruída, e que dispunha apenas de um único recurso - sua gente, entre os quais um grupo de jovens empresários que queriam se dedicar à construção de uma nova nação. Hoje em dia, marcas como Nikon, Sony, Toyota, Yamaha, Honda, entre outras, são sinônimo de Qualidade, ou seja, nos dias atuais "made in Japan" faz a diferença. O Japão perdeu a guerra militar, mas tem ganho a guerra econômica de forma notável, a ponto de muitas nações e empresas ocidentais buscarem copiar o modelo japonês. Da análise da evolução da Qualidade no Japão, destacam-se alguns fatores que contribuíram de forma decisiva para o "boom" da Qualidade: 1. A contribuição dos experts americanos W. E. Deming e J. Juran; 2. A criação e ação da Japanese Union of Scientists and Engineers (JUSE); 3. A padronização ampla dos produtos; 4. A ampla comunicação e educação pública. Além disto, é visível que os promotores da revolução da Qualidade japonesa foram: 1. A liderança e direção centralizadas; 2. O envolvimento e comprometimento da Alta Direção empresarial; 3. O desejo de elevar a Qualidade à condição de tópico de importância nacional. Sobre o que lhe foi ensinado pelo Ocidente, o Japão agregou valor, desenvolvendo mais as seguintes abordagens: 1. A participação dos funcionários de todos os níveis da empresa; 2. O foco no cliente, com uma cuidadosa atenção à sua definição de Qualidade; 3. O aprimoramento contínuo (KAIZEN) como parte do trabalho diário de todos os funcionários. Em suma, o que ocorreu no Japão foi um movimento organizado, através de um processo amplamente difundido na indústria japonesa, cujas características básicas são as mesmas das já discutidas na Era da Gestão da Qualidade Total ("TQM-Total Quality Management"). Inicialmente conhecido como "CWQC - Company Wide Quality Control", hoje o processo lá é denominado de "TQC - Total Quality Control". II..33 AA EEvvoolluuççããoo ddaa QQuuaalliiddaaddee nnoo BBrraassiill A partir do ano de 1990 o movimento em prol da Qualidade teve um crescimento avassalador no País, que remonta à década de 80, onde foram lançadas as bases deste movimento. Até o início da década de 90 ainda não havia um movimento coordenado e global, mas sim ações isoladas de alguns segmentos da sociedade. No final do 2º. Milênio o movimento brasileiro pela Qualidade, segundo especialistas japoneses, era o segundo mais vigoroso programa em favor da Qualidade em todo o mundo 25 . Apresentamos, a seguir, uma síntese do movimento brasileiro em prol da qualidade. Quadro 1.2 – Evolução da Qualidade no Brasil Ano Evento 1876 Criação do Instituto Nacional de Pesos e Medidas – INPM, RJ. 1922 Criação do Instituto Nacional de Tecnologia – INT, RJ. 1930 Criação de Pesquisas Tecnológicas – IPT, SP. 1940 Criação da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, em 28/09/40, RJ. 1973 Criação o Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial – INMETRO, em substituição ao INPM, RJ. 1974 Criação da Fundação Cristiano Ottoni, ligada à Universidade Federal de Minas Gerais. Criação da Associação Brasileira para o Controle da Qualidade – ABCQ, São Bernardo do Campo, SP. 1978 Criação do Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear – IBQN, RJ. 25 Azambuja, T. T. (1996). 8 Enviada ao Japão a primeira turma de brasileiros para ser treinada pela Japanese Union of Scientists and Engineers – JUSE. 1981 Criação da Associação Mineira de Círculos de Controle da Qualidade – AMCCQ, MG. 1982 Ishikawa ministra uma série de palestras para executivos brasileiros. 1983 Feigenbaum ministra uma série de palestras para executivos brasileiros. Realizado o I Seminário de Garantia da Qualidade do Instituto Brasileiro do Petróleo – IBP, SP. 1985 Crosby ministra uma série de palestras a executivos brasileiros. 1986 Deming ministra uma série de palestras a executivos brasileiros. Lançado, pelo governo, o Projeto de Especialização em Gestão da Qualidade – PEGQ. 1987 Criado o curso de pós-graduação latosensu em Controle da Qualidade na Universidade Católica de Petrópolis, RJ. 1988 Criada a subárea de mestrado em Qualidade Industrial do Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ, e início da primeira turma. 1989 Emitido o primeiro certificado ISO 9000 no Brasil. Criada a Marca de Conformidade do INMETRO. 1990 Lançado o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade – PBQP. Instituído o mês de novembro como sendo o Mês da Qualidade. Promulgado o Código de Defesa do Consumidor, lei no. 8.078 de 11/09/90. Realizado o Congresso Internacional de Normatização 26 e Qualidade da ABNT, SP. Lançado pela presidência da VARIG – maior empresa privada nacional27 – o Processo TQC, Compromisso VARIG com a Qualidade. Lançada a série de normas NBR-19000, tradução da série ISO9000, pela ABNT. 1991 Realizado o I Congresso Brasileiro da Qualidade e Produtividade da UBQ. Vitória, ES. Publicado um dos primeiros trabalhos no mundo sobre os Princípios de Deming aplicados à Educação: Deming vai à Escola 28 . Criada a Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade. 1992 Criado o Comitê da Qualidade – CB25 da ABNT. IBM Sumaré recebe o 1º Prêmio Nacional da Qualidade, PNQ – categoria Indústria. Realizado o II CBQP / VIII Congresso Nacional de Círculos de Controle da Qualidade Da UBQ, Rio de Janeiro, RJ. 26 A NBR ISO 9000/2000 adota a palavra "normalização" por considerá-la a que melhor se enquadra na tarefa exercida, de acordo com a definição do Novo Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa (Aurélio Buarque de Hollanda), que define "normalizar" como "submeter a norma; padronizar". 27 500 Maiores de Exame (1990). 28 Anais do I Congresso Brasileiro da Qualidade e Produtividade, UBQ (1991). 1993 Realizado o III CBQP / IX CNCCQ da UBQ, Gramado, RS. Xerox ganha o PNQ na categoria Indústria. 1994 Realizado o IV CBQP / X CNCCQ da UBQ, Belo Horizonte, MG. Citibank ganha o PNQ na categoria Serviços. Criado o Instituto da Qualidade Automomotiva – IQA, São Paulo, SP29. 1995 Realizado o V CBQP / XI CNCCQ da Associação Paranaense para a Qualidade, Curitiba, PR. SERASA ganha o PNQ na categoria Serviços – 1ª. empresa nacional a recebê-lo. 1996 Emitido o milésimo certificado ISO9000, em solenidade oficial no Rio de Janeiro. Defendida e registrada a 42º. tese de mestrado em Qualidade na COPPE/UFRJ. Realizado o VI CBQP / XII CNCCQ da UBQ, Salvador, BA. Alcoa Alumínio S/A – Poços de Caldas ganha o PNQ na categoria Indústria. 1997 Citibank Corporate Banking na categoria Prestadora de Serviços, Copesul Cia. Petroquímica do Sul e Weg Motores Ltda. na categoria Manufaturas ganham o PNQ. Realizado pela UBQ o VII CBQP / XIII CNCCQ, Vitória, ES. 1998 Siemens Divisão Telecomunicações ganha o PNQ na categoria Manufaturas. Realizado o VIII CBQP/ XIV CNCCQ, Rio de Janeiro, RJ. Lançado o livro QUALIDADE TOTAL, UMA VISÃO BRASLEIRA: O IMPACTO ESTRATÉGICO NA UNIVERSIDADE E NA EMPRESA, Ed. Campus (Esgotado) 1999 Caterpillar Brasil Ltda. ganha o PNQ na categoria Manufaturas Cetrel S.A. Empresa de Proteção Ambiental ganha o PNQ na categoria Médias Empresas. Realizado o IX CBQP / XV CNCCQ pela UBQ/RN, Natal, RN. 2000 SERASA Centralização de Serviços dos Bancos S/A ganha o PNQ na categoria Grandes Empresas. Realizado o X CBQP / XVI CNCCQ pela Associação Gaúcha para a Qualidade, Gramado, RS. 2001 Bahia Sul Celulose S/A ganha o PNQ na categoria Grandes Empresas. Realiado pela UBQ o XI CBQP / XVII CNCCQ, Ouro Preto, MG. 2002 Gerdau Aços Finos Piratini e Politeno Indústria e Comércio S/A ganham o PNQ na categoria Grandes Empresas. Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre ganha o PNQ na categoria Organizações sem Fins Lucrativos. Realizado o XII CBQP UBQ, Vitória, ES. 2003 Escritório de Engenharia Joal Teitelbaum ganha o PNQ na categoria Médias Empresas. Realizado o XIII CBQP da UBQ, Rio de Janeiro, RJ. DANA INDÚSTRIAS LTDA. 29 http://www.iqa.org.br/ 9 OTEPAR - ORGANIZACOES TEITELBAUM ENGENHARIA E PARTICIPACOES S/S 2004 Realizado o XIV CBQP da UBQ, Gramado, RS. Realizado pela ABNT o Seminário Internacional: Qualidade, Sustentabilidade & Responsabilidade Social, São Paulo, SP. PNQ - BELGO SIDERURGIA S/A 2005 VI Congresso de Qualidade na Produção de Software pela PRO QUALITY. PNQ - Companhia Paulista de Força e Luz 2006 VII Congresso de Qualidade na Produção de Software pela PRO QUALIY. VI Edição do Congresso da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV). PNQ - BELGO SIDERURGIA S/A PNQ - Odiseo Comunicaçoes Ltda 2007 8º Congresso Internacional da Qualidade para Competitividade – A Era do Conhecimento pela Qualidade RS. 12ª Edição do Prêmio Qualidade RS. Congresso Internacional da Qualidade em Educação à Distância – CIQEAD em São Leopoldo RS. XVII Congresso Brasileiro da Qualidade e Produtividade XXIII Congresso Nacional de Círculos de Controle da Qualidade. PNQ - Albras Alumínio Brasileiro S.A. PNQ - Gerdau Aços Longos S.A. - Unidade Gerdau Riograndense PNQ - Promon S.A PNQ - FRAS-LE S/A PNQ - PETRÓLEO BRASILEIRO S.A (PETROBRAS) 2008 Foram realizados Seminários em Busca da Excelência da FNQ em Porto Alegre (RS), São Luís (MA), Vitória (ES), Fortaleza (CE), Palmas (TO), Belo Horizonte (MG) e cidades do interior de São Paulo. ENQUALAB - Congresso da Qualidade em Metrologia em São Paulo – Remesp. PNQ - Companhia Paulista de Força e Luz PNQ - Suzano Papel e Celulose S.A. 2009 Pernambuco e mais 13 estados brasileiros receberam o Seminário Regional em Busca da Excelência da FNQ. XIX Congresso Brasileiro da Qualidade e Produtividade XXV Congresso Nacional de Círculos de Controle da Qualidade em Nova Lima - MG. PNQ - ELETROPAULO METROPOLITANA ELETRICIDADE DE SÃO PAUL PNQ - BRASAL REFRIGERANTES S.A. PNQ - Companhia Piratininga de Força e Luz. 2010 I Congresso de Qualidade de Vida e Saúde no Trabalhador – RS. ENQUALAB - Congresso de Qualidade em Metrologia. CQH’2010 - XIV Congresso Brasileiro de Qualidade em Serviços de Saúde. PNQ - AES SUL DISTRIBUIDORA GAUCHA DE ENERGIA S/A PNQ - ELEKTRO ELETRICIDADE E SERVIÇOS S/A 2011 PNQ - Companhia Energética do Ceará PNQ - Companhia Paulista de Força e Luz PNQ - CENTRAIS ELETRICAS DO NORTE PNQ - RIO GRANDE ENERGIA S.A 2012 PNQ - Cemig Geração e Transmissão S/A PNQ - ELETROPAULO METROPOLITANA ELETRICIDADE DE SÃO PAULO PNQ - Suspensys Sistemas Automotivos Ltda PNQ - Energisa Paraíba Distribuidora de Energia S/A PNQ - Volvo do Brasil Veículos Ltda PNQ - AES Tietê S/A II..44 AA EEvvoolluuççããoo ddaa QQuuaalliiddaaddee nnoo MMuunnddoo Da década de 1990 até os nossos dias, com o sistema de comunicações cada vez mais globalizado e eficiente, intensificou-se o intercâmbio de informações e lições aprendidas entre o Ocidente e o Japão, tornando mais unificado o processo de evolução da Qualidade no mundo. O advento do fenômeno da globalização teve um impacto significativo no movimento mundial em prol da Qualidade. Alguns aspectos da Gestão da Qualidade foram realçados na Era da Globalização: 1. Qualidade passa a ser uma “linguagem internacional de negócios”, o que pode ser evidenciado através da explosão do processo de certificação ISO9000 e ISO 14000 e da consolidação dos prêmios nacionais da qualidade na maioria dos países do mundo civilizado; 2. Satisfação total do cliente, não só em relação às características do produto, mas também a aspectos sociais e ecológicos. O produto não tem que ser sem defeito, ele tem que ser ecologicamente e socialmente perfeito. 3. Qualidade é uma ferramenta eficaz nos negócios, 4. O significado da palavra parceria migra para dentro das empresas, com fornecedores ocupando espaço físico na planta do consumidor, diminuindo significativamente o lead- time 30 . 5. Empresas se destacam no aspecto Liderança, através dos conceitos abrangidos pela Qualidade. 6. Contabilidade moderna baseada na atividade gerencial. A ideia de Unidade Estratégica do Negócio se consolida e cada gerente tem seu centro de custos e é diretamente responsável por ele. 7. Gerenciamento do tempo, o lead-time passa a ser cada vez menor, a fim de atender um mercado cada vez mais exigente e estar à frente dos concorrentes. 30 Tempo decorrido entre a encomenda pelo cliemte até a entrega do produto. Como exemplo em restaurantes, o tempo gasto entre o pedido ao garçom e o fechamento da conta. Cada caso é um caso, pois os fastfoods tem um leadtime bem menor que um restaurante. 10 O fluxo a seguir resume a evolução da Qualidade no mundo, de onde se conclui que o que evoluiu, essencialmente, foi a forma de se obter Qualidade. OBTER QUALIDADE ATRAVÉS == > De inspeção dos produtos ... ... do controle dos processos de produção de produtos ... ... da organização que administra os processos que produzem os produtos ... ... das pessoas que compõem a organização que administra os processos ... ... do ambiente social que favorecem as ações das pessoas que compõem a organização ... ... do meio-ambiente que interfere no ambiente social que favorece as ações das pessoas ... ... da visão globalizada que influencia o meio-ambiente que interfere no ambiente social ... Fonte: Barçante, L. C. & Castro, G. C. Ouvindo a Voz do Cliente Interno. p. 10. QualityMark. 1995 (3a. edição). Adaptado. Apresentamos abaixo a mudança global do enfoque relativo à Qualidade. DE PARA Visão específica Visão global Sistema fechado (Foco no produto) Sistema Aberto (Foco no mercado) Ênfase no passado ("O que já foi feito") Ênfase no futuro ("O que será possível fazer") Qualidade vista como custo Qualidade Qualidade vista como investimento Abordagem padronizada e burocrática Abordagem cada vez mais dinâmica Busca de "otimização numa esfera limitada" Busca de "sinergia numa esfera cada vez mais ampla" A Gestão da Qualidade A Qualidade da Gestão Fonte: Barçante, L. C. & Castro, G. C. Ouvindo a Voz do Cliente Interno, p. 9. Rio de Janeiro: QualityMark, 1995. (atualizado) II..55 QQuuaalliiddaaddee nnaa IInnddúússttrriiaa XX QQuuaalliiddaaddee eemm SSeerrvviiççooss A evolução da Qualidade no mundo foi construída essencialmente no âmbito da indústria, ou seja, nas empresas fabricantes de produtos, tendo as prestadoras de serviços,de modo geral, ficado à margem deste processo. Na década de 1990, com a crescente concentração de mão de obra no setor de serviços 31 e o aumento progressivo da sua importância na economia mundial, Qualidade passou a ser um fator preponderante. Assim sendo, as prestadoras de serviços absorveram parte dos conhecimentos e lições aprendidas sobre Qualidade na indústria. Marcadamente a partir do início da década de 1990, impulsionadas pelo trabalho de vários especialistas tais como Karl Albrecht 32 , Claus Möller 33 , John Tcsholl 34 , James Teboul 35 entre outros, muitas empresas prestadoras de serviços em todo o mundo vêm lançando-se na busca da Qualidade Total. Neste sentido, vários casos de sucesso já se verificam em diversas áreas de atividade neste setor, o que vem provocando o fechamento gradativo do "gap" de evolução da Qualidade em relação à indústria. A abordagem da Qualidade em prestadoras de serviço se diferencia basicamente da abordagem da Qualidade Industrial no que diz respeito à concepção conceitual. James Teboul dividiu uma empresa em duas áreas de atuação: os funcionários de apoio – que não têm contato com o cliente externo, e os funcionários de linha de frente - que têm contato direto com o cliente externo. Numa indústria, a maior parte dos funcionários encontra-se no apoio e a Qualidade é construída de dentro para fora. Qualquer problema com um produto vendido causa um impacto negativo, mas que é facilmente resolvido: basta trocar o produto. Numa prestadora de serviços, a maior parte dos funcionários encontra-se na linha-de-frente e a Qualidade é construída de fora para fora, ou seja, o consumo é simultâneo com o serviço prestado. Daí, qualquer falha causa um impacto altamente negativo, pois não há possibilidade de “trocar o produto”. Se um vôo é mal feito, se um atendimento hospitalar é mal realizado, se uma escola não ensina, os resultados podem se tornar irreversíveis. I..66 UUmmaa nnoovvaa vviissããoo ppaarraa oo 33ºº MMiillêênniioo Segundo Oliveira 36 no início do novo milênio a humanidade se depara com obstáculos aparentemente intransponíveis; limitações de toda ordem. 31 Informe PNUD (1995). 32 Revolução nos Serviços (1992). 33 O Lado Humano da Qualidade (1994). 34 Seminários HSM (1993). 35 Gerenciando a Dinâmica da Qualidade (1991) 36 Oliveira, S. T. (2001) 11 Testemunhamos crises políticas, de energia, crise moral, econômica e de transportes. Que decisões devem ser tomadas para satisfazer tantas necessidades diferenciadas, utilizando recursos disponíveis cada vez mais limitados. Como desenvolver processos eficientes, capazes de atender, eficazmente, as exigências do mercado? Que caminhos trilhar? São perguntas cujas respostas serão obtidas através de um processo árduo, para o qual contribuem o conhecimento, a experiência profissional e o emprego de técnicas que facilitam a abordagem dos problemas, sob uma ótica gerencial ampla. Além disso, as organizações convivem com problemas, ou resultados indesejáveis, que geram grande variabilidade em seus processos e produtos, muitos dos quais não estão sob o controle ou não são previsíveis. Desta forma, convivem com custos e índices de perdas elevados, e com reclamações e insatisfações de clientes internos e externos. O conjunto de técnicas e diferentes estilos de abordagens sobre os modelos de gestão não devem ser compreendidos isoladamente. Na realidade a evolução da gestão da qualidade atingiu, neste momento, uma dimensão mais abrangente que coloca em evidência a própria qualidade da gestão. Apesar de não existir, na atualidade, um único conceito que contemple todas as tendências e experiências profissionais, houve uma profunda e rápida mudança ao longo do final do milênio passado na forma de assegurá-la. A evolução os métodos de medição têm acompanhado o desenvolvimento do conceito da qualidade de produtos e serviços, adequando-se às novas exigências e ao aumento da abrangência. Este fato tem proporcionado condições para a redução das incertezas que envolvem as organizações, apesar do crescente desafio que as impele no sentido do aprimoramento contínuo. Devem-se considerar as seguintes variáveis que exercem influencia no processo de busca da qualidade: tempo sobre o qual são marcados os passos do processo de evolução e, em função do qual, são exigidas respostas rápidas e eficazes; nível de complexidade, apresentando novos desafios à compreensão dos processos e a definição de modelos de gestão que assegurem a perpetuação dos negócios; as incertezas que refletem o desconhecimento sobre os aspectos relevantes do processo produtivo e de comercialização numa nova era. estilo de gestão, que consiste na filosofia que orienta as técnicas administrativas, ou os modelos organizacionais propostos. O profissional que lida na área tem que levar em consideração as quatro aprendizagens consideradas essenciais para os profissionais do século XXI, segundo a UNESCO: Aprender a Conhecer - conciliar uma cultura geral, ampla o suficiente, com a necessidade de aprofundamento em uma área específica de atuação, construindo as bases para se aprender ao longo de toda a vida; Aprender a Fazer - desenvolver a capacidade de enfrentar situações inusitadas que requerem, na maioria das vezes, o trabalho coletivo em pequenas equipes ou em unidades organizacionais maiores; assumir iniciativa e responsabilidade em face das situações profissionais; Aprender a Conviver - perceber a crescente interdependência dos seres humanos, buscando conhecer o outro, sua história, tradição e cultura e aceitando a diversidade humana. A realização de projetos comuns, a gestão inteligente e pacífica dos conflitos envolvem a análise compartilhada de riscos e a ação conjunta em face dos desafios do futuro; Aprender a Ser - desenvolver a autonomia e a capacidade de julgar, bem como fortalecer a responsabilidade pelo autodesenvolvimento pessoal, profissional e social. A Figura 1.5 sintetiza a evolução da Qualidade. CEQ - Controle Estatístico da Qualidade GQ - Garantia da Qualidade MSC – Medição da Satisfação do Cliente TQC - Total Quality Control GEQ - Gestão Estratégica da Qualidade CEP - Controle Estatístico do Processo IA - Inspeção por Amostragem Stakeholders - partes interessadas no negócio TQM - Total Quality Management PNQ - Prêmio Nacional da Qualidade Figura 1.5 - Evolução da Qualidade Administração Científica Inspeção 100% IA CQ GQ TQC TQM MSC PNQ ISO 9000 In ce rte za s 1910 1930 1950 1980 1990 Negócio Sistema Processo Produto CO M PL EX ID AD E Estilos de Gestão CEQ CCQ GEQ CEP REATIVO PREVENTIVO CORRETIVO PREDITIVO ISO 14000 Stakeholders 12 QUESTÕES DO CAPÍTULO I 1. Defina Qualidade. 2. O que é Qualidade Total? 3. O que é Gestão da Qualidade Total? 4. O que é Garantia da Qualidade? 5. O que significa a sigla TQC? 6. Quantas e quais são as Eras da Qualidade? 7. Dê mais de uma característica de cada Era da Qualidade? 8. Quais são os Custos Totais da Qualidade? 9. Faça uma análise da Tabela III - Mudança Global de Enfoque à luz da Globalização da Economia. 10. Diferencie Qualidade na Indústria de Qualidade em Serviços. 1 CCAAPPÍÍTTUULLOO IIII OOSS GGUURRUUSS DDAA QQUUAALLIIDDAADDEE AAss ppeessssooaass aapprreennddeemm qquuaannddoo eennssiinnaamm SSêênneeccaa Apresentamos, a seguir, um resumo dos trabalhos de alguns pioneiros considerados gurus na área da Qualidade: W. Edwards Deming, Philip Crosby,
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