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SERVIÇOS PÚBLICOS 1. Conceito: “Toda atividade prestada pelo Estado ou por seus delegados, basicamente sob regime de direito público, com vistas à satisfação de necessidades essenciais e secundárias da coletividade” (José dos Santos Carvalho Filho). Obs.: O próprio Poder Público regulamenta e fiscaliza a execução do serviço público (art. 175, Constituição Federal: “Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos”). A Lei Federal que regula a concessão e a permissão da prestação de serviços públicos é a Lei nº 8.987/95. Regime de Direito Público: no nosso ordenamento jurídico existem normas de direito público e normas de direito privado. As normas de direito privado podem ser alteradas ou derrogadas pela vontade dos particulares; já as normas de direito público são cogentes, isto é, não podem ser alteradas pela vontade dos particulares. Portanto, se um serviço é regido por normas do direito privado ele não é considerado público, não obstante sua essencialidade. Exemplo: entidade religiosa que presta serviço de educação, não obstante sua essencialidade (serviço de educação), não pode ser considerado “serviço público”, pois não se sujeita ao regime de direito público, mas sim ao regime de direito privado, muito embora o serviço seja regulado e fiscalizado pelo Estado. Classificação dos Serviços Públicos (Prof. Hely Lopes Meirelles): a) quanto à essencialidade: serviços públicos propriamente ditos e serviços de utilidade pública. Serviços públicos propriamente ditos, ou essenciais, são os imprescindíveis à sobrevivência da sociedade e, por isso, não admitem delegação ou outorga (polícia, saúde, defesa nacional etc.). Serviços de utilidade pública, úteis, mas não essenciais, são os que atendem ao interesse da comunidade, podendo ser prestados diretamente pelo Estado, ou por terceiros, mediante remuneração paga pelos usuários e sob constante fiscalização (transporte coletivo, telefonia etc.); b) quanto à adequação: serviços próprios do Estado e serviços impróprios do Estado. Serviços próprios do Estado são aqueles que se relacionam intimamente com as atribuições do Poder Público (segurança, polícia, higiene e saúde públicas etc.) e para a execução dos quais a Administração usa da sua supremacia sobre os administrados. Por esta razão, só devem ser prestados por órgãos ou entidades públicas, sem delegação a particulares. Tais serviços, por sua essencialidade, geralmente são gratuitos ou de baixa remuneração, para que fiquem ao alcance de todos os membros da coletividade. Serviços impróprios do Estado são os que não afetam substancialmente as necessidades da comunidade, mas satisfazem interesses comuns de seus membros, e, por isso, a Administração os presta remuneradamente, por seus órgãos ou entidades descentralizadas (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações governamentais), ou delega sua prestação a concessionários ou permissionários; c) quanto à finalidade: serviços administrativos e serviços industriais. Serviços administrativos são os que a Administração executa para atender a suas necessidades internas ou preparar outros serviços que serão prestados ao público, tal como o da imprensa oficial. Serviços industriais são os que produzem renda para quem os presta, mediante a remuneração da utilidade usada ou consumida, remuneração esta, que, tecnicamente, se denomina tarifa ou preço público, por ser sempre fixada pelo Poder Público, quer quando o serviço é prestado por seus órgãos ou entidades, quer quando por concessionários, permissionários ou autorizatários; d) quanto aos destinatários: serviços gerais ou uti universi e serviços individuais ou uti singuli. Serviços gerais são os que não possuem usuários ou destinatários específicos e são remunerados por tributos, como calçamento público, iluminação pública. Serviços individuais são os que possuem de antemão usuários conhecidos e predeterminados, como os serviços de telefonia, de iluminação domiciliar, e são remunerados através de tarifa ou taxa, e não por imposto 3. Princípios dos Serviços Públicos: 3.1. Princípio da Continuidade do Serviço Público: o serviço público não deve sofrer interrupção, isto é, sua prestação deve ser contínua para evitar que a paralisação provoque prejuízo ao usuário. Assim, o serviço público deve ser acessível e prestado de forma contínua. Obs.: O princípio não proíbe a interrupção justificada da prestação do serviço e que pode decorrer do não atendimento, pelo usuário, de exigências próprias (não observa as condições impostas para a fruição do serviço), do não pagamento da remuneração imposta (taxas, tarifas ou preços públicos) ou, ainda, das necessidades próprias do prestador de serviços. A Lei Federal nº. 8.987/95, que estabelece normas gerais para as concessões e permissões dos serviços públicos, em seu §3º, art. 6º, admite essa interrupção, ao dispor que não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações e por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade. 3.2. Princípio da Generalidade: Os serviços públicos devem permanecer acessíveis a qualquer usuário que deles necessite, obrigando o Poder Público a prestá-los de forma indiscriminada ou com o intuito de atender a toda a comunidade. 3.3. Princípio da Igualdade entre os Usuários – Isonomia: O prestador do serviço público não pode, ressalvadas as hipóteses de discriminação decorrentes de imperativo legal, estabelecer tratamento diferenciado entre os usuários, tratando-se, ainda, de direito básico assegurado a todos os consumidores (art. 6º, inciso X, do Código de Defesa do Consumidor). A igualdade de tratamento, por óbvio, deve respeitar as condições pessoais dos consumidores-usuários e, por isso, admitem-se discriminações positivas (idosos, pessoas com deficiência, hipossuficientes economicamente etc.). Obs.: Não é todo serviço público que permite o reconhecimento da aplicação do sistema protetivo dos direitos do consumidor, porque há serviços cuja prestação é obrigatória e independente de remuneração direta pelo usuário (como os serviços gerais, uti universi propriamente ditos – exemplo: saúde, segurança pública etc.). Nestes a relação estabelecida entre o usuário e o Poder Público não pode ser caracterizada como de “consumo”, diferentemente do que ocorre em relação aos serviços cuja utilização é determinada pela remuneração paga pelo usuário (como os de utilidade pública – exemplo: transporte coletivo, telefonia, iluminação domiciliar etc.). Mas, seja ou não decorrente de relação de consumo, pode o usuário ou cidadão exigir do Estado a prestação do serviço, como também pode buscar a reparação de eventual dano que tenha sofrido, e a responsabilidade civil será objetiva (art. 37, §6º, da Constituição Federal). 3.4. Princípio da Eficiência: O serviço deve ser prestado de modo a atender efetivamente as necessidades do usuário, do Estado e da sociedade, com baixo custo e maior aproveitamento possível. 3.5. Princípio da Atualidade: O princípio obriga que o prestador do serviço aplique a melhor técnica, empregando tecnologia adequada e realizando periódicas atualizações ou investimentos a fim de permitir a efetiva eficiência na execução das atividades materiais sob sua responsabilidade. 3.6. Princípio da Modicidade das Tarifas: O princípio impede que o fator econômico (custo) se traduza em fato impeditivo para a fruição do serviço público. Associado à acessibilidade,a modicidade exige que a política tarifária observe o poder econômico daqueles que usufruem dos serviços públicos. 3.7. Princípio da Cortesia: Todos merecem tratamento cordato, respeitoso, da Administração Pública e de seus agentes, e estes, na prestação dos serviços públicos, devem ser preparados para atender, com aqueles parâmetros, os usuários de forma indiscriminada. 4. Formas de Prestação dos Serviços Públicos: 3 formas distintas: a) serviços centralizados: prestados diretamente pelo Poder Público, em seu próprio nome e sob sua exclusiva responsabilidade (ex: imprensa oficial); b) serviços desconcentrados: prestados pelo Poder Público, por seus órgãos, mantendo para si a responsabilidade na execução (ex: Procon); c) serviços descentralizados: prestados por terceiros, para os quais o Poder Público transferiu a titularidade ou a possibilidade de execução, seja por outorga (por lei – a pessoas jurídicas criadas pelo próprio Estado), seja por delegação (por contrato – concessão ou ato unilateral – permissão). Obs.: O modo de prestação não se confunde com a forma de execução, que pode ser direta ou indireta. a) Execução direta: ocorre sempre que o Poder Público emprega meios próprios para a sua prestação, ainda que seja por intermédio de pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado para tal fim instituídas. b) Execução indireta: ocorre sempre que o Poder Público concede a pessoas jurídicas ou pessoas físicas estranhas à entidade estatal a possibilidade de virem a executar os serviços, como ocorre com as concessões e permissões. 5. Delegação e Outorga de Serviço Público: O serviço é outorgado por lei e delegado por contrato. Nos serviços delegados há transferência da execução do serviço por contrato (concessão) ou ato negocial (permissão e autorização). A outorga, que implica na transferência de titularidade, possui contornos de definitividade, posto emergir de lei; a delegação, ao contrário, sugere termo final prefixado, visto decorrer de contrato. 6. Concessão de Serviço Público: Apenas os serviços de utilidade pública podem ser objeto do contrato de concessão; serviços propriamente ditos ou essenciais à coletividade não admitem a transferência de execução, devendo permanecer em mãos do Poder Público. Serviços concedidos são os delegados a pessoas jurídicas de direito privado, por contrato administrativo, que os executam em seu nome, conta e risco. 6.1. Conceito de Concessão de Serviço Público: “É a delegação da prestação de um serviço público, feita pelo poder concedente (União, Estados, Distrito Federal ou Município), mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas, que demonstre capacidade para o seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado” (Lei nº. 8987/95, art. 2º, inciso II). 7. Conceito de Permissão de Serviço Público: “É a delegação da prestação de um serviço público, a título precário, mediante licitação, feita pelo poder concedente (União, Estados, Distrito Federal ou Município), à pessoa física ou jurídica, que demonstre capacidade para o seu desempenho, por sua conta e risco” (Lei nº. 8.987/95, art. 2º, inciso IV).
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