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Magistrados repudiam projeto de terceirização

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O artigo 1º, IV, da Constituição Federal consagra como fundamentos da nossa República os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Além da soberania, da cidadania, da dignidade da pessoa humana e do pluralismo político, constituem os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa dois pilares em que se assentam as bases de nossa pátria.
A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) divulgou hoje (23) uma nota de repúdio ao Projeto de Lei (PL) 4.302, aprovado ontem na Câmara dos Deputados, que permite às empresas terceirizar todos seus setores de atividade. Segundo o texto, o projeto agrava o desemprego e rebaixa os salários e condições de trabalho.
"A proposta, induvidosamente, acarretará para milhões de trabalhadores no Brasil o rebaixamento de salários e de suas condições de trabalho, instituindo como regra a precarização nas relações laborais", afirmam os magistrados.
Além disso, a associação chama a atenção para a alta rotatividade que acomete os trabalhadores terceirizados. "(Os terceirizados) trabalham em média 3 horas a mais que os empregados diretos, além de ficarem em média 2,7 anos no emprego intermediado, enquanto os contratados permanentes ficam em seus postos de trabalho, em média, por 5,8 anos", critica.
A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho – ANAMATRA, entidade que representa cerca de 4 mil juízes do Trabalho, tendo em vista a aprovação, na noite desta quarta-feira (22/3), do Projeto de Lei (PL) nº 4.302/1998, que regulamenta a terceirização nas atividades meio e fim, bem como na iniciativa privada e no serviço público, vem a público se manifestar nos seguintes termos:
1 – A proposta, induvidosamente, acarretará para milhões de trabalhadores no Brasil o rebaixamento de salários e de suas condições de trabalho, instituindo como regra a precarização nas relações laborais.
2 – O projeto agrava o quadro em que hoje se encontram aproximadamente 12 milhões de trabalhadores terceirizados, contra 35 milhões de contratados diretamente, números que podem ser invertidos com a aprovação do texto hoje apreciado.
3 - Não se pode deixar de lembrar a elevada taxa de rotatividade que acomete os profissionais terceirizados, que trabalham em média 3 horas a mais que os empregados diretos, além de ficarem em média 2,7 anos no emprego intermediado, enquanto os contratados permanentes ficam em seus postos de trabalho, em média, por 5,8 anos.
4 – O já elevado número de acidentes de trabalho no Brasil (de dez acidentes, oito acontecem com empregados terceirizados) tende a ser agravado ainda mais, gerando prejuízos para esses trabalhadores, para a Sistema Único de Saúde e para Previdência Social que, além do mais, tende a sofrer impactos negativos até mesmo nos recolhimentos mensais, fruto de um projeto completamente incoerente e que só gera proveito para o poder econômico.
5 - A aprovação da proposta, induvidosamente, colide com os compromissos de proteção à cidadania, à dignidade da pessoa humana e aos valores sociais do trabalho previsto no artº 1º da Constituição Federa que, também em seu artigo 2º, estabelece como objetivos fundamentais da República construir uma sociedade livre, justa e solidária e a erradicar a pobreza, a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.
6 – Por essas razões, a Anamatra lamenta a aprovação do PL nº 4302/98, na certeza de que não se trata de matéria de interesse da população, convicta ainda de que a medida contribuirá apenas para o empobrecimento do país e de seus trabalhadores.
(A terceirização, como bem sabem os trabalhadores, é a possibilidade de a empresa, em lugar de contratar diretamente seus empregados, fazê-lo por intermédio de outra empresa, uma atravessadora. Duas ou mais empresas irão, nesse caso, se beneficiar do trabalho alheio. E para que seja economicamente vantajoso contratar através de outra empresa, em vez de diretamente, alguém tem que sair perdendo. Quem perde é o trabalhador. Todos sabemos disso. Existem estudos que mostram que a terceirização promove perda de salário, de férias, aumento significativo do número de acidentes e doenças profissionais, além de impedir a organização coletiva dos trabalhadores.  (A lei que se extrairá desse PL 4302 é inconstitucional. Simples assim. Nega o direito fundamental à relação de trabalho. Nega a proteção insculpida no artigo sétimo do texto constitucional. Promove retrocesso social, vedado pelo artigo terceiro e pelo caput do artigo sétimo da Constituição. De modo ainda mais direto, nega o direito fundamental à relação de emprego (artigo 7º, I), à irredutibilidade de salário (art. 7º, VI), às férias (art. 7º, XVII),  à redução dos riscos inerentes ao trabalho (art. 7º, XXII), apenas para citar os exemplos mais óbvios.) Valdete Souto Severo é Doutora em Direito do Trabalho pela USP/SP. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital (USP) e RENAPEDTS – Rede Nacional de Pesquisa e Estudos em Direito do Trabalho e Previdência Social. Professora, Coordenadora e Diretora da FEMARGS – Fundação Escola da Magistratura do Trabalho do RS. Juíza do trabalho no Tribunal Regional do Trabalho da Quarta Região.
Para Fabio Angelini, coordenador jurídico do Sinfar-SP, a Lei da Terceirização significa não só o fim da CLT, mas o fim do Direito do Trabalho. “Perderemos toda a referência legal, uma vez que todo o direito do trabalho tem como base em quem é o patrão e quem é o empregado”, afirma.
Terceirização e direito do trabalho
Rúbia Zanotelli de Alvarenga
Doutora e Mestre em Direito do Trabalho pela Puc Minas. Professora Titular do Centro
Universitário do Distrito Federal – UDF, Brasília. Advogada.
Na contramão dos princípios constitucionais do trabalho, foi aprovado pela
Câmara dos Deputados Federais, em abril de 2015, o Projeto de Lei nº 4.330/2004,
do ex-deputado Sandro Mabel, o qual flexibiliza, radicalmente, direitos conquistados,
a duras penas, ao longo de mais de quatro décadas, pela classe trabalhadora, em especial no tocante à possibilidade de se terceirizarem as atividades-fim.
Lei da terceirização é a maior derrota popular desde o golpe de 64
Para Ruy Braga, professor da USP especializado em sociologia do trabalho,
o Projeto de Lei 4330 completa desmonte iniciado por FHC e sela
“início do governo do PMDB”.
Especialista em sociologia do trabalho, Ruy Braga traça um cenário
delicado para os próximos quatro anos: salários 30% mais baixos para
18 milhões de pessoas. Até 2020, a arrecadação federal despencaria,
afetando o consumo e os programas de distribuição de renda. De um
lado, estaria o desemprego. De outro, lucros desvinculados do aumento
das vendas. Para o professor da Universidade de São Paulo (USP), a
aprovação do texto base do Projeto de Lei 4330/2004, que facilita a
terceirização de trabalhadores, completa o desmonte dos direitos trabalhistas
iniciado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na década
de 90. “Será a maior derrota popular desde o golpe de 64”, avalia o
professor em entrevista à Carta Capital. (Disponível em: <http://www.
cartacapital.com.br/economia/lei-da-terceirizacao-e-a-maior-derrota-
-popular-desde-o-golpe-de-64-2867.html>. Acesso em: 10 nov. 2015).
No que se refere à questão do aumento do desemprego, o professor Ruy Braga
é enfático em suas considerações:
Carta Capital: O desemprego cai ou aumenta com as terceirizações?
Ruy Braga: O desemprego aumenta. Basta dizer que um trabalhador terceirizado
trabalha em média três horas a mais. Isso significa que menos
funcionários são necessários: deve haver redução nas contratações e
prováveis demissões.
Carta Capital: Quantas pessoas devem perder a estabilidade?
Ruy Braga: Hoje o mercado formal de trabalho tem 50 milhões de pessoas
com carteira assinada. Dessas, 12 milhões são terceirizadas. Se o
projeto for transformado em lei, esse número deve chegar a 30 milhões
em quatro ou cinco anos. Estou descontando dessa conta a massa de
trabalhadores no serviço público, cuja terceirização é menor, as categorias
quede fato obtêm representação sindical forte, que podem
minimizar os efeitos da terceirização, e os trabalhadores qualificados.
Os números são preocupantes. Segundo o especialista, será gerado um contingente
de 18 milhões de empregos terceirizados. Segmento, muito provavelmente,
oriundo da demissão de trabalhadores que se encontravam em atividades-fim. Ou
seja: mesmo que não se percam os direitos adquiridos, pois os terceirizados também
são regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT, eles sofrerão perda de
salário, perda de status e perda de segurança – visto que estarão submetidos a um
regime no qual a garantia de continuidade (manutenção do emprego) é tênue, como
será visto, segundo vários próceres em jurisprudência trabalhista, no decorrer deste
trabalho. Mister se faz ressaltar, ainda, a perda de autoestima que afetará os novos
transmigrados para o regime de terceirização, que sofrerão abalos psicológicos em
função da nova realidade a ser enfrentada.
Quando trata da queda da arrecadação de impostos, Ruy Braga configura
um “círculo desvirtuoso”: terceirização gera desemprego, que gera perda de poder
aquisitivo, que gera menos consumo, que gera menos impostos, que gera menos
investimentos em geração de empregos, que gera mais terceirização.
Leia-se:
Carta Capital: A arrecadação de impostos pode ser afetada?
Ruy Braga: No Brasil, o trabalhador terceirizado recebe 30% menos do
que aquele diretamente contratado. Com o avanço das terceirizações, o
Estado naturalmente arrecadará menos. O recolhimento de PIS, Cofins
e do FGTS também vão (sic) reduzir, porque as terceirizadas são reconhecidas
por recolher do trabalhador, mas não repassar para a União.
O Estado também terá mais dificuldade em fiscalizar a quantidade de
empresas que passará a subcontratar empregados. O governo sabe
disso.
(Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/economia/lei-da-terceirizacao-
e-a-maior-derrota-popular-desde-o-golpe-de-64-2867.html>.
Acesso em: 10 nov. 2015).
Na formulação de um quadro cada vez mais sombrio, o especialista explica
como se processará a perda do poder aquisitivo dos novos terceirizados, constatando
que o fenômeno está presente em outros países que aderiram à forma de terceirização
que o Projeto de Lei nº 4.330/2004 propõe para o Brasil:
Carta Capital: Por que os trabalhadores pouco qualificados correm maior
risco?
Ruy Braga: O mercado de trabalho no Brasil se especializou em mão-
-de- obra semiqualificada, que paga até 1,5 salário mínimo. Quando as empresas terceirizam, elas começam por esses funcionários. Quando
for permitido à companhia terceirizar todas as suas atividades, quem for
pouco qualificado mudará de status profissional.
Carta Capital: Como se saíram os países que facilitaram as terceirizações?
Ruy Braga: Portugal é um exemplo típico. O Banco de Portugal publicou
no final de 2014 um estudo informando que, de cada dez postos criados
após a flexibilização, seis eram voltados para estagiários ou trabalho
precário. O resultado é um aumento exponencial de portugueses imigrando.
Ao contrário do que dizem as empresas, essa medida fecha
postos, diminui a remuneração, prejudica a sindicalização de trabalhadores,
bloqueia o acesso a direitos trabalhistas e aumenta o número de
mortes e acidentes no trabalho, porque a rigidez da fiscalização também
é menor por empresas subcontratadas.
Carta Capital: E não há ganhos?
Ruy Braga: Há: o das empresas. Não há outro beneficiário. Elas diminuem
encargos e aumentam seus lucros.
(Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/economia/lei-da-terceirizacao-
e-a-maior-derrota-popular-desde-o-golpe-de-64-2867.html>.
Acesso em: 10 nov. 2015).
Também, como consequência do cenário, advém, segundo o professor, o
aumento da rotatividade:
Carta Capital: Por que a terceirização aumenta a rotatividade de trabalhadores?
Ruy Braga: As empresas contratam jovens, aproveitam a motivação
inicial e, aos poucos, aumentam as exigências. Quando a rotina derruba
a produtividade, esses funcionários são demitidos e outros são
contratados. Essa prática pressiona a massa salarial, porque, a cada
demissão, alguém é contratado por um salário menor. A rotatividade
vem aumentando ano após ano. Hoje, ela está em torno de 57%, mas
alcança 76% no setor de serviços. O Projeto de Lei 4330 prevê a chamada
“flexibilização global”, um incentivo a essa rotatividade.
(Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/economia/lei-da-terceirizacao-
e-a-maior-derrota-popular-desde-o-golpe-de-64-2867.html>.
Acesso em: 10 nov. 2015).
O trabalhador já não é visto como cidadão pleno, detentor de
direitos, e, sim, como ser humano supérfluo e descartável – um instrumento capaz
apenas de gerar produção e lucratividade – a serviço do capital. Logo, o empregado
homem passa a ser considerado um elemento residual; e o lucro, o elemento
preponderante a reger as relações trabalhistas na sociedade contemporânea.
A terceirização é fruto desse mecanismo de flexibilização empresarial que
acarreta a precarização das condições de trabalho, já que constitui uma “forma de
flexibilização de atividades e de serviços e tem, como finalidade, não só a redução
dos custos da produção, mas também proporcionar maior agilidade, bem como criar
melhores condições de competividades para as empresas” (CORTEZ, 2015, p. 17).
Por conseguinte, qualquer terceirização sempre redundará em algum tipo de precariedade
nas condições de trabalho em relação ao pessoal contratado diretamente
pelos donos dos negócios mais lucrativos, haja vista que “precariedade” é sinônimo
de mortes, mutilações, acidentes e adoecimentos laborais (COUTINHO, 2015,
p. 200).
Consoante ensina Laércio Lopes da Silva, a terceirização cria um caos na possibilidade
de o empregado se integrar verdadeiramente na estrutura da empresa,
pois, contratado por uma empresa para trabalhar em outra, não pode se integrar à
estrutura da tomadora e fica marginalizado em relação ao processo de ascensão na prestadora, criando espantalhos de trabalhadores utilizados tão somente como meio
de aumento do lucro das empresas sem qualquer ganho concreto para eles próprios
ou para a sociedade (SILVA, 2015, p. 17).
Os trabalhadores terceirizados encontram-se quase sempre em uma
linha muito tênue entre emprego e desemprego, sendo ameaçados de
dispensa pela alta rotatividade de mão-de-obra vigente no segmento das
empresas prestadoras de serviços. (COUTINHO, 2015, p. 150).
A festejada flexibilização das relações traz, em verdade, como faceta
francamente negativa, a precarização do trabalho e do próprio trabalhador
enquanto pessoa, atingindo-lhe a personalidade e ferindo-lhe a
própria dignidade, na medida em que o afasta do centro de fruição de
sua mão-de- obra, privando-o, cada vez mais, de valores essenciais ao
desenvolvimento humano no campo profissional, como reconhecimento
profissional e pessoal, inserção no meio corporativo, valorização da força
de trabalho e aumento da autoestima, esta inequivocamente constatada
ao oportunizar-se ao trabalhador ambiente propício ao desenvolvimento
de seus expoentes. (SILVA, 2015, p. 112).
De tudo o que foi exposto, adota-se, no presente artigo, o entendimento de
que o PL nº 4.330/2004 é inconstitucional por acarretar o retrocesso dos direitos
sociais trabalhistas e por afrontar os princípios do direito constitucional do trabalho. Concorde Grijaldo Fernandes Coutinho, liberada a terceirização, a Constituição
de 1988 será de um vazio estrondoso e monumental em termos de direitos humanos.
No ritmo temporal e na extensão material das mudanças regressivas reivindicadas,
o risco é de a Constituição não valer para os trabalhadores brasileiros, porquanto os
seus direitos ali previstos terão nenhuma ou reduzidíssima efetividade (COUTINHO,
2015, p. 254). Perspectiva sob a qual assinala Laércio Lopes da Silva que a Constituição
Federal de 1988 enuncia, no inciso IV do art. 1º, como fundamento do Estado
Democrático
de Direito, os valoressociais do trabalho e da livre-iniciativa.
Ou seja: a diminuição de salário e a não responsabilização quanto aos direitos
trabalhistas pelas empresas contratantes gerarão a estas os tão almejados lucros
sem aumento de produtividade ou conquista de novos mercados, mas, sim, à custa
do sacrifício do trabalhador que, como visto ao longo deste artigo, gera o abjeto
lucro legal – entenda-se a palavra “legal” no sentido denotativo, isto é, criado por lei
contra a dignidade laboral.
Conversa Afiada reproduz artigo de Maximiliano Garcez:
Como veremos, a Constituição Federal de 1988 é claro impedimento à eliminação e limitação dos direitos trabalhistas e sindicais, proposta pelo PL 4330, de 2004, seja sob o nome de “terceirização” (em sua versão original) quanto na regulamentação da “prestação de serviços” (no também precarizante Substitutivo proposto na Comissão Especial que analisou a proposição).
Também demonstrarei que a aprovação do PL 4330 não criaria empregos, não favoreceria a economia, e traria inúmeros prejuízos não somente aos trabalhadores, mas a toda a sociedade.
1.  PRINCÍPIO DA IGUALDADE
A principal inconstitucionalidade do PL 4330 reside no princípio da igualdade, contido no art. 5º., caput, da Constituição Federal. Está inserido  no rol dos direitos fundamentais do cidadão, categoria de direitos que não estão afetos a restrições infraconstitucionais, o que significa que não podem ser limitados pelo ordenamento jurídico, seja quanto à regulamentação, efetivação ou exercício desses direitos.
Vejamos a redação do caput do art. 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:” (...) negritamos
Ao prever uma esfera de direitos ao terceirizado muito inferior ao trabalhador contratado diretamente pela empresa tomadora, há flagrante violação ao princípio da isonomia.
2.  PL DESRESPEITA O VALOR SOCIAL DO TRABALHO E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
O art. 1º da Constituição Federal Brasileira coloca o valor social do trabalho, ao lado da dignidade da pessoa humana, como bens juridicamente tutelados e como fundamento para a construção de um Estado Democrático de Direito:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...)
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.”
A interpretação e a aplicação do Direito do Trabalho estão obrigatoriamente condicionadas aos princípios constitucionais de valorização do trabalho e do trabalhador como fator inerente à dignidade da pessoa humana. Ao se eleger a dignidade do ser humano como fundamento da República Federativa do Brasil, constitucionalizam-se os princípios do direito laboral, com força e imperatividade aptas a conferir ao trabalho e ao trabalhador, o significado de sustentação do próprio sistema da nação brasileira. Tal proceder efetiva o Estado democrático de Direito, fazendo com que os objetivos políticos decididos pela Constituição sejam atingidos por meio de todo o ordenamento jurídico.
A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, de 1948, traz também em seu preâmbulo o direito à dignidade como direito absoluto do homem. E a dignidade do trabalho foi elevada a direito absoluto do homem e do cidadão, conforme o artigo 14 da Declaração Americana do Direito e Deveres do Homem.
A proteção da dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho impede que qualquer norma que a viole (como tenta fazer o PL 4330) seja considera constitucional. Tal princípio impede  qualquer atitude ou norma que diminua o status da pessoa humana enquanto indivíduo, cidadão e membro da comunidade. O tratamento dado ao terceirizado no PL 4330 e no Substitutivo da Comissão Especial e do Deputado Arthur Maia, visto somente como um mero fator de produção, viola frontalmente tais princípios contidos no art. 1º. da Carta Magna.
A luta pelo respeito à integridade do trabalhador visa também lembrar à sociedade os princípios fundamentais de solidariedade e valorização humana, que ela própria fez constar do documento jurídico/político que é a Constituição. O contido na Declaração Universal dos Direitos Humanos corrobora a abordagem supracitada, nos seguintes termos:
"Art. 1º Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade."
"Art. 7º Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, à igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação."
"Art. 23º-1- Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego."
5.  PL VIOLA OS ARTS. 170 E 193 DA CF – FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E PRIMADO DO TRABALHO
Vejamos o contido nos arts. 170 e 193 da CF:
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
III - função social da propriedade;
(...)
VIII - busca do pleno emprego;
Art. 193 - A ordem social tem como base o primado do trabalho e com objetivo o bem-estar e a justiça sociais.”
Tais dispositivos constitucionais servem também para demonstrar a inconstitucionalidade do PL 4330 e do Substitutivo, conforme o seguinte julgado do E. TST: “(…) É inviável o conhecimento dos recursos de revista por divergência dos arestos apresentados, pois a decisão recorrida está em consonância com a Súmula nº 331, I, do TST (art. 896, § 4º, da CLT e Súmula nº 333 do TST). O art. 94, II, da Lei nº 9.472/97 não foi violado, pois não se pode concluir que, ao dispor que com terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço, bem como a implementação de projetos associados, esteja autorizando a terceirização de serviços inerentes à atividade-fim das empresas de telecomunicações, sob pena de ferir o disposto no art. 170, caput, VIII, da Constituição da República, pois a intermediação de serviço em área-fim das empresas de telecomunicações, sem prévia definição em Lei, culminaria na desvalorização do trabalho humano e no comprometimento da busca do pleno emprego (…).” (Tribunal Superior do Trabalho TST; RR 135400-67.2008.5.03.0140; Quarta Turma; Relª Minª Kátia Magalhães Arruda; DEJT 18/03/2011; Pág. 1048)
7. PREJUÍZOS AOS TRABALHADORES E À SOCIEDADE
A terceirização sem limites, como proposta no PL 4330, gera:
a) a destruição da capacidade dos sindicatos de representarem os trabalhadores, segundo o TST: “a terceirização na esfera finalística das empresas, além de atritar com o eixo fundamental da legislação trabalhista, como afirmado, traria consequências imensuráveis no campo da organização sindical e da negociação coletiva.(...). Não resta dúvida de que a consequência desse processo seria, naturalmente, o enfraquecimento da categoria profissional dos eletricitários, diante da pulverização das atividades ligadas ao setor elétrico e da consequente multiplicação do número de empregadores.” (E-RR-586.341/1999.4);
b) baixos salários e o desrespeito aos direitos trabalhistas, com impactos negativos na economia, no consumo e na receita da Previdência Social e do FGTS (usado primordialmente para saneamento básico e habitação), com prejuízos a todos; nesse sentido, convém mencionar as sábias palavras do magistrado José Nilton Pandelot, ex-presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho: “Eu diria que a terceirização não é o futuro e sim a desgraçadas relações de trabalho. Porque essa terceirização se estabelece na forma de precarização. Ela se desvia da sua finalidade principal. Não é para garantir a eficiência da empresa. É para reduzir o custo da mão-de-obra. Se ela é precarizadora, vai determinar uma redução da renda do trabalhador, vai diminuir o fomento à economia, diminuir a circulação de bens, porque vai reduzir o dinheiro injetado no mercado. Há um equívoco muito grande quando se pensa que a redução do valor da mão-de-obra beneficia de algum modo a economia. Quem compra, quem movimenta a economia são os trabalhadores. Eles têm que estar empregados e ganhar bem para os bens circularem no mercado. Pode não ser evitável, mas se continuar dessa forma, com uma terceirização que serve para a redução e a precarização da mão-de-obra, haverá um grande prejuízo à cidadania brasileira e à sociedade de um modo geral”;
c) precarização do trabalho e o desemprego. A alegada “geração de novos postos de trabalho” pela terceirização é uma falácia: o que ocorre com tal fenômeno é a demissão de trabalhadores, com sua substituição por “sub-empregados” (vide o exemplo da Argentina e da Espanha nos anos 90);
d) aumento do número de acidentes do trabalho envolvendo trabalhadores terceirizados, como já atestou o TST no julgado supracitado;
e) prejuízos aos consumidores e à sociedade, ante a profunda diminuição da qualidade dos serviços prestados nas áreas de energia, água e saneamento, que seriam fortamente afetados pela terceirização ilega;
f) prejuízos sociais profundos. A ausência de um sistema adequado de proteção e efetivação dos direitos dos trabalhadores, com a existência de um grande número de trabalhadores precarizados, sem vínculo permanente, prejudica toda a sociedade, degradando o trabalho e corroendo as relações sociais: “Como se podem buscar objetivos de longo prazo numa sociedade de curto prazo? Como se podem manter relações sociais duráveis? Como pode um ser humano desenvolver uma narrativa de identidade e história de vida numa sociedade composta de episódios e fragmentos? As condições da nova economia alimentam, ao contrário, a experiência com a deriva no tempo, de lugar em lugar, de emprego em emprego. Se eu fosse explicar mais amplamente o dilema de Rico, diria que o capitalismo de curto prazo corrói o caráter dele, sobretudo aquelas qualidades de caráter que ligam os seres humanos uns aos outros, e dão a cada um deles um senso de identidade sustentável.” (SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter: As Conseqüências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo. Trad. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 27).
Lei da Terceirização retira garantias e precariza relações de trabalho
Contrariando o discurso de quem apoia a terceirização aprovada pelo atual governo, com a falsa promessa de criação de mais empregos, o que se vê na prática e se preconiza para o futuro são, por exemplo, as seguintes desvantagens para os trabalhadores terceirizados:
1. Salários, benefícios e condições de trabalho inferiores aos recebidos pelos empregados diretamente contratados pela tomadora de serviços. É muito comum se ver dentro de uma empresa dois trabalhadores trabalhando lado a lado, um contratado direto e um terceirizado, sendo que este recebe um salário muito inferior ao daquele e não tem os mesmos benefícios que ele;
2. Precarização das condições de trabalho com ambientes de trabalho inseguros e inadequados, que provocam muitos acidentes do trabalho. Quatro em cada cinco acidentes de trabalho, incluindo os óbitos, envolvem empregados terceirizados, sendo que o total de trabalhadores terceirizados afastados por acidentes é quase o dobro do total registrado diretamente pelo tomador. A razão é simples: as empresas terceirizadas não investem na segurança dos seus empregados e não estão preocupadas com a saúde e vida deles;
3. Desorganização sindical. A terceirização promove a pulverização dos trabalhadores, que não são representados pelo sindicato da categoria predominante do tomador e, com isso, desorganiza e enfraquece o movimento sindical;
4. A terceirização, como aprovada, pode promover drástica redução e até mesmo a extinção do quadro direto de empregados da tomadora. É só ela querer. A terceirização permite que uma empresa possa trabalhar sem um único empregado, o que é uma excrescência no Direito do Trabalho, que visa proteger os trabalhadores;
5. A terceirização pode promover a desmobilização dos trabalhadores sobre reivindicações trabalhistas;
6. A terceirização pode promover a desmobilização dos trabalhadores sobre a realização de greves e elimina as ações sindicais, o que é de grande interesse do setor patronal, que fica mais à vontade para explorar os trabalhadores.
Essa é a verdade nua  e crua, dura de se aceitar, mas é a verdade.
Entenda o projeto de lei da terceirização para todas as atividades
O que é?
Na terceirização, uma empresa prestadora de serviços é contratada por outra empresa para realizar serviços determinados e específicos. A prestadora de serviços emprega e paga o trabalho realizado pelos funcionários. Não há vínculo empregatício entre a empresa contratante e os trabalhadores das empresas prestadoras de serviços. 
Como é hoje? 
Hoje, não há legislação específica sobre terceirização. No entanto, existe um conjunto de decisões da Justiça - chamado de súmula - que serve como referência. Nesse caso, essa súmula determina que a terceirização no Brasil só é permitida nas atividades-meio, também chamadas de atividades secundárias das empresas. Auxiliares de limpeza e técnicos de informática, por exemplo, trabalham em empresas de diversos ramos. Por isso, suas ocupações podem ser consideradas como atividades-meio, ou seja, não são as vagas principais da empresa.
Quem vai contratar os funcionários e pagar os salários?
O trabalhador será funcionário da empresa terceirizada que o contratou. Ela que fará a seleção e que pagará o salário. Por exemplo, uma fábrica de doces contrata uma empresa terceirizada que presta serviço de limpeza. Os auxiliares de limpeza, nesse caso, serão funcionários da empresa terceirizada, que os contratou, não da fábrica de doces. 
Existe algum vínculo de emprego entre a empresa que contratou os serviços da terceirizada e os funcionários da terceirizada?
O projeto aprovado pela Câmara não prevê vínculo de emprego entre a empresa que contratou o serviço terceirizado e os trabalhadores que prestam serviço. Por exemplo, um garçom terceirizado não terá vínculo de emprego com o restaurante onde trabalha. Seu vínculo será com a empresa terceirizada que o contratou para prestar esse tipo de serviço. 
Como ficam as condições de trabalho dos terceirizados?
É facultativo garantir aos terceirizados o mesmo atendimento médico e ambulatorial destinado aos empregados da contratante, assim como o acesso ao refeitório. Já as mesmas condições de segurança são obrigatórias. 
E as contribuições previdenciárias?
De acordo com texto aprovado, as contribuições ao INSS deverão seguir uma regra já determinada em lei. A empresa que contrata a terceirizada recolhe 11% do salário dos funcionários. Depois, ela desconta do valor a pagar à empresa de terceirização contratada.

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