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PESQUISA DE MERCADO Aula 2 Prof. Lucas Magalhães de Andrade 2 CONVERSA INICIAL Na rota de aprendizagem anterior, já tratamos da diferença entre a abordagem qualitativa e quantitativa na pesquisa de mercado. Enquanto a abordagem qualitativa explora as características que compõem o fenômeno de marketing estudado, a quantitativa mensura essas características e testa suas relações. Nesta rota de aprendizagem, vamos discutir com mais detalhes os métodos quantitativos para a pesquisa de mercado. Assista ao vídeo com a introdução do professor sobre o assunto. CONTEXTUALIZANDO A pesquisa exploratória tem um grande valor gerencial. Mas será que seus resultados são suficientes para uma tomada de decisão precisa? Imagine que uma montadora de carros está trabalhando na produção de um novo modelo de carro. Em uma fase exploratória, podemos identificar quais os atributos que os consumidores buscam nesse produto (segurança, conforto e design, por exemplo), mas como saber qual deles é o mais valorizado pelo público-alvo da empresa? Como podemos conhecer a importância que o público-alvo dá a cada um desses atributos? Esse tipo de questão é muito importante quando precisamos pensar e desenvolver ações de marketing. Para atender a esse tipo de demanda, utilizamos as pesquisas do tipo conclusivo. Pesquise Ao longo desta rota de aprendizagem você se deparará com ferramentas que podem ajudar a encontrar as informações necessárias para solucionar a situação gerencial descrita acima. Ao longo da rota, imagine como essas ferramentas podem dar suporte à decisão de lançamento do novo modelo de automóvel. TEMA 1 – CONCEPÇÃO DE PESQUISA DESCRITIVA: LEVANTAMENTO E OBSERVAÇÃO Leitura obrigatória: páginas 108 a 127 do livro da disciplina. 3 Como visto anteriormente, a pesquisa descritiva é aplicável quando se pretende conhecer como determinados aspectos estão presentes no ambiente. Esse tipo de pesquisa tem uma aplicação bastante relevante para a tomada de decisão, pois, com ela, podemos ter uma noção quantificada dos aspectos que devemos considerar e, desta forma, é possível monitorá-los. É preciso ter certo cuidado com esse tipo de pesquisa, pois ela só nos mostra o que está acontecendo; não podemos extrair nenhuma conclusão confiável sobre o porquê de estar acontecendo. Isto significa que não podemos inferir causalidade (Wilson, 2008). Você certamente está familiarizado com as pesquisas de intenção de voto, bastante presentes na mídia. Além das eleições nacionais, é comum que sejam discutidas as corridas eleitorais de outros países. Observe atentamente as duas imagens abaixo: Figura 1: Pesquisa de intenção de voto interseccional Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/politica/online/eunicio- lidera-pesquisa-ibope-para-governador-do-ceara-1.1063457 4 Figura 2 Fonte: http://oglobo.globo.com/brasil/intencoes-de-voto-em-dilma-aecio-campos-caem- 12740563 A pesquisa eleitoral que normalmente é divulgada nos noticiários é um exemplo de pesquisa descritiva, e podemos conferi-la nas figuras 1 e 2. Ela retrata aproximadamente qual a porcentagem do total de eleitores que pretende votar em cada candidato. Além disso, esse tipo de pesquisa é executado por meio de levantamento – é selecionada uma amostra de participantes que deverá responder a um questionário estruturado, diferentemente da pesquisa qualitativa, que usa questões abertas. Mas, se as perguntas abertas oferecem maior riqueza de detalhes e maior flexibilidade nas respostas, por que usamos perguntas fechadas em pesquisas de levantamento? O questionário estruturado consiste em uma sequência de perguntas padronizadas aplicadas em uma ordem pré-definida (Malhotra, 2011). Na prática, isso significa que todos os respondentes vão responder a mesma pergunta, na mesma ordem, com a mesma variedade de alternativas. Isso simplifica bastante o processo de análise dos dados; uma vez que o objetivo desse tipo de pesquisa é gerar um resultado que possa ser generalizado para a população, precisamos de um número maior de respondentes do que o que é aceito na pesquisa qualitativa. Nesse caso, o questionário estruturado é o que viabiliza essa operação, já que facilita muito o tratamento dos dados em grandes quantidades. Existem basicamente dois tipos de pesquisa de levantamento (também chamada survey): a interseccional e a longitudinal (Babbie, 2003). Sua diferença 5 pode ser vista nas figuras 1 e 2. Repare que, na figura 1, aparece apenas uma porcentagem de intenção de voto para cada candidato. Isso acontece porque a pesquisa mensura essa variável dentro de um recorte de momento único no tempo, significando que, durante o intervalo em que a pesquisa foi conduzida, realizou-se apenas uma amostragem, e essa amostra respondeu à pesquisa uma única vez, portanto, a pesquisa abrange apenas um momento no tempo. Quando há essas características, este modelo é chamado de pesquisa de levantamento (ou survey) interseccional (Babbie, 2003). Já na figura 2, você pode perceber que cada candidato possui mais de uma mensuração de intenção de voto. Isso acontece porque, dentro do intervalo de tempo abrangido pela pesquisa, foram realizadas mais de uma amostragem, e mais de uma aplicação do questionário; portanto, a pesquisa retrata uma evolução temporal, descrevendo como as intenções de voto mudaram em uma certa quantidade de momentos no tempo (quatro momentos, no caso da figura 2). Esse tipo de pesquisa é chamado de pesquisa de levantamento longitudinal (Babbie, 2003). Para finalizar, vamos falar um pouco sobre outra técnica de obtenção de dados: a observação. Note que todas as técnicas de obtenção de dados primários que discutimos até agora implicam que o pesquisador interaja diretamente com o respondente. No entanto, em alguns casos, essa interação não é necessária ou, até mesmo, é desaconselhável. Os métodos observacionais são baseados no registro sistemático dos acontecimentos que têm relação com o fenômeno estudado (Malhotra, 2011). No entanto, já que estamos falando sobre a pesquisa descritiva, é importante diferenciar quando o método observacional é utilizado de forma conclusiva e quando serve para a pesquisa exploratória. É muito simples. A pesquisa observacional pode ser estruturada ou não estruturada. Segundo Malhotra (2011), a observação estruturada – quando o pesquisador tem critérios bem definidos sobre quais acontecimentos serão observados e registrados – é utilizada na pesquisa conclusiva. Por outro lado, a observação não estruturada – os acontecimentos são observados de forma mais flexível, sem que haja uma lista prévia dos comportamentos que devem ser registrados –, é uma ferramenta usada na pesquisa exploratória. 6 TEMA 2 – CONCEPÇÃO DE PESQUISA CAUSAL: EXPERIMENTAÇÃO Leitura obrigatória: páginas 127 até 139 do livro da disciplina. No tema anterior, ressaltamos que a pesquisa do tipo descritiva normalmente não é suficiente para inferir causalidade, isto é, não podemos dizer o que causou os resultados encontrados. Contudo, em alguns casos, queremos uma explicação para o comportamento de uma variável. É nesse momento que a pesquisa causal entra em ação. O que é causalidade? De forma bastante simples, podemos dizer que há causalidade quando a variação de uma variável (X) modifica uma outra variável (Y): a variação da variável X aumenta as chances de ocorrer uma variaçãona variável Y (Aaker, Kumar, & Day, 2001). Imagine que uma fábrica de alimentos descobriu uma nova fórmula para sua massa de pizza, que resulta em um produto com muito menos sódio e calorias. Será que promover esses atributos na embalagem do produto irá aumentar a preferência dos consumidores por ele? Em outras palavras, queremos saber se o fato de anunciar os atributos saudáveis do produto pode aumentar a preferência dos consumidores para ele. Quando falamos de causalidade, sempre teremos, pelo menos, uma variável dependente e uma variável independente. A variável dependente, como o nome sugere, é aquela que tem sua variação dependendo de outra. A variável independente é aquela de quem a variável dependente depende. Ou seja, o valor apresentado pela variável dependente depende do valor da variável independente. Você consegue identificar no exemplo da fábrica de alimentos qual variável é a dependente e qual é a independente? Se olhar com cuidado, vai perceber que estamos falando de duas variáveis. Vamos chamar a divulgação na embalagem de variável X e, a preferência do consumidor, de Y. Fica nítido que o que queremos realmente saber é se X (divulgação) aumenta Y (preferência pelo produto). Logo, a divulgação dos atributos na embalagem é a variável independente; a preferência do consumidor pelo produto é a variável dependente. Em uma relação de causalidade, a variável causadora é a variável independente, enquanto a variável resultante é a variável dependente (Aaker, Kumar e Day, 2001). No entanto, precisamos tomar cuidado, afinal, o simples fato de haver uma relação entre a variação de duas variáveis não quer necessariamente dizer que 7 uma variável está causando a variação na outra variável. Segundo Aaker et al. (2001), para podermos inferir causalidade, existem três condições que devem estar presentes: Variação concomitante: significa que, quando ocorre uma variação na variável independente, a variável independente necessariamente deve ter alguma alteração. Por exemplo, se queremos afirmar que a presença de cartazes promocionais de um produto no ponto de venda (PDV) causa aumento nas vendas desse item, as vendas do item quando há propaganda no PDV devem apresentar um valor diferente do que quando não há propaganda; Sequência temporal de acontecimentos: a alteração da variável causadora deve acontecer antes da variação da variável resultante. No exemplo usado no item anterior, o aumento nas vendas deveria ocorrer depois da implantação da propaganda no PDV. Se isso não acontecer, não podemos dizer que o aumento nas vendas foi resultado da propaganda no PDV; Eliminação de explicações alternativas: dificilmente uma variável é afetada por apenas uma variável. Portanto, quando verificamos que a variável dependente sofre alteração, precisamos tomar cuidado para que essa alteração não seja resultado de alguma outra variável, além da variável dependente. Retome o exemplo do efeito da propaganda no PDV sobre as vendas. Imagine que, ao mesmo tempo que foi introduzida a propaganda no PDV, houve um aumento no preço de um produto concorrente. Nesse caso, se notarmos aumento nas vendas, é bem possível que tenha sido um resultado da variação do preço do concorrente, portanto, não podemos atribuir isto à propaganda no PDV. Quanto maior a capacidade de um experimento de eliminar as explicações alternativas, maior a validade interna desse estudo. Vamos observar, agora, o que são as validades interna e externa. Quando conduzimos um experimento, devemos ter duas coisas em mente: 1) as relações encontradas entre as variáveis devem ser válidas, ou seja, não podem ser atribuídas a outras variáveis. Quando alcançamos isso, dizemos que o estudo tem validade interna; 2) espera-se que a relação encontrada seja generalizável, ou seja, pode ser encontrada em situações reais, não apenas no 8 ambiente do estudo. Nesse caso, dizemos que o estudo tem validade externa (Malhotra, 2011). Para que um estudo tenha validade externa, ele precisa ser generalizável. Isso significa que existe uma boa chance de que os resultados encontrados na amostra sejam replicados em toda a população do estudo. Precisamos tomar cuidado com isso, pois o conceito de generalização normalmente é entendido de forma equivocada. Imagine, por exemplo, que um experimento mostrou que a recomendação de uma marca por um amigo causa no consumidor um maior desejo de comprar a marca, e o pesquisador defende que esse resultado pode ser generalizado. Isso não quer dizer que todas as pessoas que recebem uma recomendação de um amigo passam a desejar comprar a marca. Certamente, na amostra utilizada para o estudo, apareceram participantes que tiveram uma reação diferente da maioria. Ora, esperamos que a população se comporte de forma parecida com a amostra. Logo, não é porque o resultado não é verdadeiro para todas as pessoas que ele não pode ser generalizado. TEMA 3 – MEDIÇÃO E ESCALONAMENTO Leitura obrigatória: páginas 144 até 163 do livro da disciplina. Como discutimos anteriormente, os dados primários podem ser obtidos de forma qualitativa ou quantitativa. Na rota de aprendizagem 1, já discutimos a pesquisa de mercado com dados qualitativos, portanto, vamos, a partir de agora, perceber como a pesquisa de mercado emprega dados quantitativos. Como o nome sugere, a pesquisa quantitativa apresenta as características quantificáveis de uma variável – aquilo que podemos mensurar. Quando tratamos de medição e escalonamento, falamos da elaboração de instrumentos de medida para as variáveis que a pesquisa pretende avaliar. É como se criássemos “réguas” para medir conceitos, tais como: atitude do consumidor com relação à marca, intenção de compra, percepção sobre a qualidade do produto, dentre inúmeras outras variáveis. Existem várias técnicas aplicáveis à mensuração de variáveis relevantes para a pesquisa de mercado. Algumas variáveis são fáceis de mensurar e podem até ser observadas, como o gênero do respondente (embora essa característica possa apresentar maior complexidade, dependendo do assunto investigado). Por outro lado, algumas particularidades não podem ser observadas. Como quantificar o grau de satisfação de um cliente? Como podemos descrever em 9 números quanto um cliente se sente conectado a uma determinada marca? Quando nos deparamos com essas variáveis abstratas (constructos), precisamos encontrar ferramentas que nos permitam observar suas manifestações, pois somente assim poderemos mensurá-las (Goodwin, 2010). Nesse ponto, podemos perceber a importância de o pesquisador estar afinado com a teoria que envolve os aspectos relevantes para a pesquisa, pois é na literatura científica que consultamos como os constructos que queremos medir se manifestam na realidade, de um jeito que possamos mensurá-los. Por exemplo, se queremos mensurar a satisfação dos clientes com relação a um produto, seria suficiente perguntar quanto o usuário está satisfeito com o produto? Na verdade, não, pois o que os respondentes entendem como “satisfação” pode não ser exatamente o que o que o pesquisador tinha em mente. Nesse caso, o primeiro passo para estabelecer os procedimentos de medição é definir muito claramente o conceito das variáveis que estão sendo estudadas. Com base nessa definição, podemos escolher os melhores elementos a observar, e elaborar uma série de perguntas que refletem como o respondente se posiciona naquela variável. Como você viu no texto de Mady (2014), existem basicamente duas modalidades de escalas, as comparativas e as não comparativas. Vamos discutiras escalas comparativas e, no tema seguinte, as não comparativas. As escalas comparativas não dão uma medida exata de uma variável. Na verdade, a função desses instrumentos é a de avaliar um elemento em relação a outro. Imagine que você precisa avaliar se, em uma situação de decisão de compra, os consumidores teriam preferência por uma marca em relação às marcas concorrentes. Nesse caso, em lugar de apresentar cada marca e perguntar ao consumidor qual a probabilidade de que ele a compre, seria mais aconselhável apresentar um conjunto de marcas e pedir que o respondente indique qual delas escolheria. Essa forma de mensuração é comparativa, pois não mede a preferência do consumidor pela marca como uma variável isolada, mas em comparação com outras marcas. As escalas comparativas são muito usadas na pesquisa de marketing por meio do método da Análise Conjunta. A explicação a seguir está baseada nos trabalhos de Aaker et al. (2001) e Hair (2005). A análise conjunta funciona da seguinte forma: 10 Seleciona-se um determinado número de atributos que serão testados; Criam-se opções com todas as combinações possíveis desse atributo; Pede-se que o respondente indique sua preferência entre as opções apresentadas. Veja, a seguir, um exemplo bastante simples de como são apresentadas as combinações. Para esse exemplo, vamos pedir que as pessoas escolham entre duas opções, considerando dois atributos de refrigerante: marca (Coca- Cola vs. Pepsi) e sabor (tradicional vs. light). Se considerarmos todas as combinações possíveis desses atributos, teríamos 4 opções: Coca-Cola tradicional, Coca-Cola light, Pepsi tradicional e Pepsi light. Apresentando todas essas opções em pares, a pessoa teria de fazer as seguintes escolhas: Imagine que você está em uma pizzaria com sua família. Entre estas opções de refrigerante, qual seria sua escolha? Coca-Cola tradicional X Pepsi tradicional Imagine que você está em uma pizzaria com sua família. Entre estas opções de refrigerante, qual seria sua escolha? Coca-Cola tradicional X Pepsi light Imagine que você está em uma pizzaria com sua família. Entre estas opções de refrigerante, qual seria sua escolha? Coca-Cola tradicional X Coca-Cola light Imagine que você está em uma pizzaria com sua família. Entre estas opções de refrigerante, qual seria sua escolha? Pepsi tradicional X Pepsi light Analisando as escolhas em cada cenário apresentado, o pesquisador pode inferir os atributos mais importantes na decisão. Obviamente, você poderia 11 acrescentar mais atributos, como, por exemplo, apresentar opções que combinassem marca, sabor, preço e tamanho da embalagem. Contudo, deve sempre ter em mente que cada variação acrescentada aumentará o número de alternativas que o respondente avaliará. Tenha cuidado para que a pesquisa não seja muito cansativa. TEMA 4 – TÉCNICAS DE ESCALONAMENTO NÃO COMPARATIVO Leitura obrigatória: páginas 163 até 172 do livro da disciplina Ao contrário das escalas comparativas, as escalas não comparativas buscam o que seria uma medida real de um objeto de estudo, ou seja, seu valor absoluto, não relativo a um outro objeto. O fato de a escala ser não comparativa não significa a impossibilidade de comparar dois objetos; constitui, apenas, que a medida de cada um deles deve ser vista como independente. Vamos observar um exemplo para tornar esta ideia mais concreta. Imagine que uma empresa pretende iniciar um programa de doação, mas gostaria de contribuir para uma causa social que fosse coerente com a imagem de sua marca. Esse conceito é tratado na literatura como congruência causa- marca, e quer dizer que os consumidores percebem uma certa semelhança entre a atividade que a empresa exerce e a causa que a empresa apoia. Para uma fábrica de brinquedos, por exemplo, contribuir para a extinção do trabalho infantil provavelmente seria visto como mais congruente do que contribuir para o combate ao desmatamento. Nesse caso, imagine que uma fábrica de café gostaria de adotar uma causa social. Após algumas discussões, a diretoria levantou duas causas que poderiam ser apoiadas: o combate ao desmatamento e o combate à exploração do trabalho infantil nas áreas rurais do Brasil. Ambas as causas podem ser vistas como relacionadas à atividade da empresa, mas a diretoria gostaria de saber qual seria mais apropriada aos olhos dos consumidores. Se utilizássemos uma escala comparativa, apresentaríamos ao respondente as duas causas, perguntando-lhe qual relaciona-se mais com a atividade da empresa. Dessa forma, não saberíamos quanto realmente o consumidor acha que a causa e a marca são congruentes; apenas que uma causa tem mais conexão com a marca do que a outra. Já com uma escala não comparativa, poderíamos perguntar, separadamente, quanto o respondente acredita que cada causa tem a ver com 12 a atividade da empresa, possibilitando uma medida mais precisa. Veja o exemplo a seguir, que contém uma escala adaptada de um estudo de Becker-Olsen, Cudmore e Hill (2006). Na sua opinião, o combate ao desmatamento e à atividade da fábrica de café são: 1 2 3 4 5 6 7 Nem um pouco relacionadas ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Muito relacionadas Dissimilares ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Similares Inconsistentes ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Consistentes Não-complementares ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Complementares Fonte: adaptado de Becker-Olsen et al. (2006) Como você viu no texto de Mady (2014), as escalas não comparativas têm alguns pontos, os quais representam a intensidade que o respondente exibe de uma variável. Você costuma responder pesquisas de mercado? Se sim, já deve ter percebido o uso de escalas com tamanhos diferentes. Observe os três exemplos abaixo. Indique abaixo seu grau de satisfação com o atendimento em nosso restaurante: Muito insatisfeito ( ) ( ) ( ) Muito satisfeito Muito insatisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Muito satisfeito Muito insatisfeito ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Muito satisfeito Note que, nas três opções, estamos perguntando a mesma variável: o grau de satisfação ou insatisfação do cliente. Mas, por que são usadas escalas com tamanhos diferentes? Como podemos escolher quantos pontos usar em uma escala? 13 Basicamente, podemos dizer que o tamanho da escala deve-se à sua precisão. Observe no exemplo que, na primeira opção, em que perguntamos o grau de satisfação utilizando apenas três pontos, o respondente não tem muita opção – ou está muito insatisfeito, indiferente ou muito satisfeito. Dessa forma, não podemos diferenciar clientes que estão muito satisfeitos daqueles que estão simplesmente satisfeitos. Ao adotarmos 5 pontos, o respondente pode escolher entre dois níveis de satisfação e dois de insatisfação, além de ter um ponto neutro, que representa indiferença. Para simplificar a compreensão, vamos usar uma metáfora: é como se medíssemos uma mesma distância usando uma trena que marca apenas metros, outra que marca centímetros e, por fim, uma que marca também milímetros. Quanto maior a escala que usamos, maior é a precisão com que conseguimos captar as diferenças do fenômeno. Há uma recomendação muito seguida por pesquisadores: para grande parte dos fenômenos de marketing, uma escala de 5 ou 7 pontos é suficiente para captar diferenças (Likert, 1932). Existem diversas escalas desenvolvidas paramensurar os mais diversos constructos de marketing, o que pode facilitar o desenvolvimento de uma pesquisa, já que o processo de elaboração de um instrumento de medida pode ser trabalhoso. A medição deve ser um procedimento extremamente cuidadoso, pois será a base para as conclusões do estudo. Se o instrumento de medida de uma variável falhar em refleti-la, pode conduzir a uma decisão gerencial ruim. Ao tratar das dificuldades de escolha de instrumentos de medida adequados para os constructos de marketing, Churchill (1979) aplica uma metáfora dos estudiosos da computação: garbage in, garbage out – se os dados que você usa para alimentar um sistema são lixo, o resultado do processo também será lixo. Em outras palavras, se utilizar mensurações defeituosas de uma variável, as análises que você fizer dessa variável serão também defeituosas. Por isso, ao escolher um instrumento de medida, o pesquisador deve ficar atento a alguns indicadores: a validade e a confiabilidade do instrumento. Para medir uma variável, não basta elaborar uma série de perguntas sobre ela, pois existem várias armadilhas que podem fazer com que as respostas obtidas não sejam realmente o que o respondente pensa, mas o resultado de algum viés. Babbie (2006), por exemplo, relata o caso de uma pesquisa em que os participantes foram mais favoráveis a medidas de assistência governamental 14 quando se utilizou o termo “a pessoas pobres” do que quando se utilizou “a pessoas recebendo benefícios” – este é só um exemplo de situação em que a forma como uma pergunta é feita gera um viés na resposta obtida. Vamos discutir melhor esses vieses mais adiante, quando falarmos sobre a elaboração de questionários. A validade e a confiabilidade são critérios de qualidade de um instrumento de medida, ou seja, mensuram o quanto ele é capaz de refletir exatamente como a variável se manifesta no mundo real. A confiabilidade é a capacidade de um instrumento de gerar o mesmo resultado se aplicado várias vezes a um mesmo objeto (Babbie, 2006). Imagine que uma pessoa sobe em uma balança, e seu peso apontado é de 80 quilos; se ela descer da balança e subir novamente nas mesmas condições, espera-se que a mesma continue apontando 80 quilos, ou algo muito parecido; em caso contrário, ela não é um instrumento confiável, pois seus resultados não são consistentes. Em uma pesquisa de mercado, que normalmente é aplicada em amostras e por vezes medindo conceitos muito abstratos, também se espera que não haja muita variação. Uma pesquisa de intenção de voto, para ser considerada confiável, deve apresentar resultados parecidos se aplicados em amostras escolhidas com os mesmos critérios. A validade de um instrumento é o quanto ele reflete o conceito correto da variável medida (Babbie, 2006). Será que podemos, por exemplo, usar o número de vezes em que o consumidor compra de uma determinada marca como uma mensuração da lealdade do consumidor a ela? Essa não seria uma medida válida, pois a teoria nos mostra que a repetição da compra é apenas um dos indicadores da lealdade, e deve aparecer entre outras condições, como respostas afetivas e preferência mesmo diante de ofertas especiais de outras marcas, por exemplo (Van den Brink, Odekerken-Schröeder & Pauwels, 2006). Portanto, uma medida válida da lealdade à marca deveria contemplar, também, essas outras condições. TEMA 5 – ELABORAÇÃO DE QUESTIONÁRIOS E FORMULÁRIOS Leitura obrigatória: páginas 172 até 195 do livro da disciplina. Antes de discutirmos a elaboração do instrumento de coleta de dados, vamos retomar, rapidamente, o propósito de uma pesquisa de mercado. Uma pesquisa de mercado tem a função de obter, no ambiente, informações que 15 sirvam como uma base confiável ao processo de decisão (Malhotra, 2011). A própria função da pesquisa de mercado reflete a importância do processo de elaboração do instrumento de coleta, afinal, é por meio dele que serão tiradas as conclusões do estudo. Aliás, como já discutimos, a qualidade do resultado da pesquisa depende da qualidade dos dados utilizados para chegar a esse resultado (lembra-se do garbage in, garbage out?). Devemos ter em mente que a fase de coleta de dados é uma das que mais consomem recursos durante o processo de pesquisa de mercado (Malhotra, 2011). Além disso, uma decisão equivocada decorrente de uma pesquisa malfeita pode trazer resultados desastrosos para a organização. Logo, o pesquisador não pode “se dar ao luxo” de coletar dados errados. Como um exemplo de quão grave pode ser um erro na coleta de dados, vejamos um caso clássico, ocorrido quando a Coca-Cola resolveu mudar sua fórmula, em 1985. Leia este caso no link a seguir: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,ha-30-anos-um-erro- historico-da-coca-cola,1676413 Como você pode ver, o erro da Coca-Cola não foi o de tomar a decisão sem antes consultar o que o público pensaria. Pelo contrário: foi feita uma ampla pesquisa para testar a aceitação do novo sabor pelo mercado. O que está em tese é que o planejamento da pesquisa ignorou aspectos que, no final, se mostraram essenciais para a decisão em questão. É verdade que, em 1985, as teorias que explicam a relação dos consumidores com as marcas ainda estavam começando a se desenvolver; deste modo, não podemos dizer que os gestores negligenciaram esse aspecto por incompetência. Em 1988, foi publicado um trabalho considerado um marco, dando início à discussão de que a relação dos consumidores com suas marcas vai além da relação de troca pensando apenas nos benefícios funcionais. Nesse estudo, Belk (1988) defende que existem casos em que a relação de consumo pode até ser uma parte integrante da personalidade do indivíduo; em alguns deles, as escolhas de consumo ultrapassam o cálculo prático dos benefícios funcionais do produto e passam a considerar como o mesmo pode ajudar a reforçar a identidade do indivíduo. Já que estamos falando de equívocos na coleta de dados, qual foi o equívoco da equipe responsável pela pesquisa de lançamento da New Coke? 16 De certa forma, podemos dizer que os dados coletados não eram suficientes para responder ao problema de pesquisa, cujo objetivo era descobrir como seria a aceitação da nova fórmula de Coca-Cola pelos clientes. A equipe fez testes cegos com cerca de 200 mil pessoas (ou seja, as pessoas experimentaram a fórmula nova e a antiga sem saber qual era qual), e a nova fórmula foi a preferida. Mas, se analisarmos com cuidado, o objetivo da pesquisa não era simplesmente saber qual fórmula agradava mais ao consumidor, mas, sim, se as pessoas estariam dispostas a substituir a fórmula antiga pela nova. Nesse caso, o instrumento de coleta não foi capaz de captar os dados mais essenciais para a conclusão. Na pesquisa quantitativa, uma das principais formas de coletar informações ainda é o questionário estruturado. Vamos discutir alguns cuidados que devem ser tomados em sua elaboração. Observe a charge a seguir: Figura 3: Cuidados com a elaboração de questionários estruturados Fonte: http://metodologiaci.blogspot.com.br/2010/09/pesquisa-sobre-valores- politicos.html Na charge, o pesquisador pergunta ao respondente se ele acha que o Brasil é um país corrupto, e oferece “sim” ou “não” como opções de resposta. Antes de oferecer a sua, o respondente pergunta: “Quem tá ganhando?”, ou seja, ele quer saber qual das respostas foi a mais assinalada pelas pessoas entrevistadas até o momento. Esse é um caso chamado de viés de resposta. Dependendo da forma como um instrumento de coleta é construído, ele pode acabar induzindo aresposta do respondente. Obviamente, isso deve ser evitado, já que queremos a resposta mais sincera possível, que reflita da melhor 17 maneira possível a realidade. Aliás, considerando que grande parte das pesquisas de mercado estuda conceitos abstratos – que não podem ser observados concretamente –, a capacidade do questionário de refletir esses conceitos abstratos é uma questão essencial para o sucesso da pesquisa. Vamos elencar alguns cuidados que devem ser tomados na construção de questionários, segundo Babbie (2003) e Malhotra (2006): Questões filtro: insira, no questionário, questões que permitam saber se a pessoa se enquadra no público-alvo da pesquisa. Por exemplo: se a pesquisa pretende entender o comportamento de jogadores de jogos eletrônicos (gamers), deve haver uma pergunta sobre a quantidade de tempo que a pessoa gasta com esse tipo de atividade; Viés de memória: nem sempre conseguimos lembrar dos eventos com precisão. Por exemplo: se você perguntar para uma pessoa hoje como ela tomou a decisão de comprar um computador, adquirido há seis meses, pode ser que ela não se lembre com detalhes, portanto, a resposta não seria confiável; Falta de clareza das perguntas: se a pessoa não conseguir compreender o que o pesquisador gostaria de saber, é quase certo que não saberá dar uma resposta que reflita realmente como pensa, sente, ou se comporta. Daí a importância de usar uma linguagem clara para o público-alvo, e realizar o pré-teste do questionário, que pode captar dificuldades de compreensão; Perguntas tendenciosas: as pessoas normalmente têm consciência das normas sociais e, mesmo que você garanta o anonimato da resposta, muitas pessoas podem não se sentir à vontade para responder questões muito sensíveis. Imagine perguntar: “Você estaria disposto a pagar mais caro por um produto ecologicamente correto se soubesse que as opções mais baratas são extremamente nocivas para o meio ambiente?” Provavelmente, muitas pessoas responderiam que sim a essa pergunta, simplesmente por acharem que essa é a resposta socialmente desejável, levando a conclusões equivocadas; Cansaço: questionários que exijam muita reflexão ou que sejam muito longos podem levar as pessoas a responder sem prestar muita atenção, ou mesmo desistir do questionário; 18 Viés de ancoragem: a ancoragem é um efeito decorrente de quando a pessoa responde a uma pergunta baseando-se em respostas anteriores. Observe: 1) Você acha perigoso as pessoas dirigirem depois de beber? 2) Você costuma dirigir depois de beber? É muito provável que a pessoa que respondeu “sim” para a primeira pergunta responda “não” para a segunda, simplesmente para manter a coerência entre o que diz e o que faz. Note que, nesse caso, além do efeito da ancoragem, a primeira pergunta é tendenciosa. Existe uma forte crítica ao uso de questionários para obter dados sobre os fenômenos de marketing, principalmente porque essa ferramenta não necessariamente representa a realidade, mas o que o respondente afirma sobre ela. O neuromarketing é um método que busca superar essa limitação, procurando respostas não nas declarações das pessoas, mas na análise de suas respostas fisiológicas. No link a seguir, você assistirá a um vídeo que introduz o neuromarketing e suas principais vantagens: https://www.youtube.com/watch?v=RpXYNSHAHjo TROCANDO IDEIAS Como visto nesta rota de aprendizagem, a pesquisa de mercado muitas vezes se depara com situações nas quais é necessário medir algo que acontece apenas na mente das pessoas. Vimos também que, atualmente, o método mais comum para medir essas variáveis é a aplicação de questionários estruturados. Discuta com seus colegas as limitações desse método e os cuidados que podemos tomar para minimizar seus efeitos. NA PRÁTICA Imagine que o departamento de marketing de uma fabricante de cosméticos identificou, em uma pesquisa recente, que a maioria de seus clientes se identifica como sendo do gênero feminino. Com o objetivo de conquistar maior aceitação do público que se identifica como do gênero masculino, a marca está criando uma linha de produtos com uma nova proposta. Para promovê-la, a 19 equipe desenvolveu uma peça publicitária que pretende veicular na televisão para todo o território brasileiro. Antes de dar início à campanha, a empresa gostaria de contratar uma pesquisa de marketing que mostrasse seu potencial de estimular o público-alvo a consumir seus produtos. Diante desse cenário: Identifique o problema gerencial enfrentado pela empresa; Descreva como uma pesquisa experimental poderia contribuir para a decisão gerencial e sugira uma definição do problema de pesquisa. Solução proposta A equipe de marketing está planejando alcançar um novo público. Sendo assim, a situação gerencial enfrentada está em como conquistar a atenção de um mercado-alvo para os produtos da empresa. Ao propor uma peça publicitária como ferramenta para aumentar a intenção de compra do público-alvo, queremos, na verdade, saber se a propaganda atua como uma variável independente que pode causar um aumento na intenção de compra (a variável dependente). Para investigar esse tipo de relação, o tipo de pesquisa recomendado é a pesquisa experimental. SÍNTESE A pesquisa conclusiva nos permite avaliar o cenário estudado de uma forma bastante objetiva. Esse tipo de pesquisa se divide em: Pesquisa descritiva: usada quando queremos saber como uma variável se manifesta na população. Essa pesquisa descreve o cenário em que precisamos tomar a decisão de marketing; Pesquisa causal: esse tipo de pesquisa nos ajuda a entender as relações de causalidade, ou seja, como uma variável pode influenciar a outra. Tanto a pesquisa descritiva quanto a causal são de abordagem quantitativa. Isso quer dizer que precisamos de instrumentos para mensurar (quantificar) as variáveis estudadas. A esse processo, damos o nome de “medição e escalonamento”. 20 REFERÊNCIAS AAKER, D. A., KUMAR, V., & DAY, G. S. Pesquisa de marketing. São Paulo: Editora Atlas, 2001. BECKER-OLSEN, K. L., CUDMORE, A. B., & Hill, R. P. The impact of perceived corporate social responsibility on consumer behavior. Journal of business research, 2006, p. 46-53. BABBIE, E. Métodos de pesquisas survey. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. CHURCHILL, G. A. Jr. A paradigm for developing better measures of marketing constructs. Journal of marketing, 1979. GOODWIN, C. J. Research in psychology: methods and design. 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