Buscar

AULA 1 - NATUREZA E CULTURA

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

*
*
NATUREZA E CULTURA
Prof. Marcelo José Caetano
*
*
A pergunta antropológica e o acontecer histórico
“O pensamento filosófico responde – em geral e desde os tempos mais antigos – a uma aspiração fundamental do homem. É que o homem não está rigidamente atado ao acontecer natural, mas deve enfrentar a realidade para configurar sua vida de um modo autônomo e responsável. Daí se perguntar pelo fundamento e sentido do mundo que vive” (CORETH, E. 1976). 
*
*
A pergunta antropológica: chave do que denominamos humano
é a chave daquilo que denominamos humano, do que nos afeta profundamente. O homem se pergunta sobre sua essência. Ele precisa formular-se esta pergunta, pois pessoalmente é problemático para si mesmo. Em razão disto, se pergunta sobre sua origem, sobre os sentidos de sua existência e sobre o fim de sua vida:
De onde viemos?
O que estamos fazendo aqui?
Para onde vamos?
*
*
Características da pergunta antropológica...
É uma pergunta como tantas outras, mas...
Afeta diretamente o homem;
Coloca-o no centro da discussão;
Pergunta pela essência do homem;
Distingue o homem dos demais seres vivos.
*
*
Ciclo funcional orgânico: reações instintivas
ESTÍMULO
RECEPÇÃO
RESPOSTA
Todo organismo, até o mais rudimentar, se adapta, num sentido amplo, ao seu meio e se vê inteiramente coordenado com seu ambiente. De acordo com sua estrutura anatômica, possui um sistema receptor e um sistema destinado a responder aos estímulos de seu meio. O sistema receptor, pelo qual uma espécie biológica recebe os estímulos externos e o sistema pelo qual reage a ele estão, em todos os casos, intimamente interligados, pois são elos de uma mesma cadeia, descrita por Uexkull como o círculo funcional do animal.
Ambiente externo
*
*
Ciclo funcional simbólico: reações humanas
Ambiente externo
ESTÍMULO
RECEPÇÃO
SÍMBOLOS
RESPOSTA
O círculo funcional do homem não foi apenas quantitativamente aumentado; sofreu também uma mudança qualitativa. O homem, por assim dizer, descobriu um novo método de adaptar-se ao meio. Entre o sistema receptor e o sistema de reação, que são encontrados em todas as espécies animais, encontramos no homem um terceiro elo, que podemos descrever como o sistema simbólico. Esta nova aquisição transforma toda a vida humana. Em confronto com os outros animais, o homem não vive apenas numa realidade mais vasta; vive, por assim dizer, numa nova dimensão da realidade.
*
*
As diferenças entre o homem e os outros animais
As diferenças entre o homem e o animal não são apenas de grau, pois, enquanto o animal permanece mergulhado na natureza, o homem é capaz de transforma-la, tornando possível à cultura. O mundo resultante da ação humana é um mundo que não podemos chamar de natural, pois se encontra transformado pelo homem. (ARRUDA & ARANHA, 1993: P. 6).
*
*
Natureza
A Natureza é, segundo Chauí (2000), a substância (matéria e forma) dos seres. É o conjunto de qualidades e atributos que definem algo ou alguma coisa, é o seu caráter ou índole inata, espontânea. Natureza é a ordem e a conexão universal e necessária entre as coisas, expressas em leis naturais. O que é natural opõe-se ao artificial, artefato, artifício, técnico e tecnológico. Natural é tudo quanto se produz e se desenvolve sem quaisquer interferências humanas. Natureza é o conjunto de tudo quanto existe e é percebido pelos seres humanos como o meio e o ambiente no qual vivem. Ela se caracteriza pelo ordenamento dos seres, pela regularidade dos fenômenos ou dos fatos, pela frequência, constância e repetição de encadeamentos fixos entre coisas.
*
*
Cultura
Dois são os significados iniciais da noção de Cultura:
A noção de CULTURA, derivada do verbo latino colere (cultivar, criar, tomar conta e cuidar), significava o cuidado do homem com a Natureza (agricultura), o cuidado com os deuses (culto), o cuidado com a alma e o corpo das crianças, com sua educação e formação (puericultura). Nesta acepção CULTURA é o cultivo ou a educação do espírito das crianças para se tornarem membros da sociedade pelo aperfeiçoamento e refinamento das suas qualidades naturais (caráter, índole, temperamento);
Desde o século XVIII, CULTURA passa a significar os resultados daquela formação ou educação dos seres humanos, resultados expressos em obras, feitos, ações e instituições: as artes, as ciências, a Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado. Torna-se sinônimo de civilização, ou seja, “aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade”. (TYLOR, Edward Burnett). Em outras palavras, CULTURA é o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade (AURÉLIO).
*
*
Conceitos de cultura
[É] o “complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e doutros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade: civilização.” FERREIRA, Aurélio B. de H. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980. p. 512.
“é todo um conjunto de práticas e expectativas, sobre a totalidade da vida: nossos sentidos e distribuição de energia, nossa percepção de nós mesmos e nosso mundo. É um sistema vivido de significados e valores – constitutivo e constituidor – que, ao serem experimentados como práticas, parecem confirmar-se reciprocamente”. WILLIAMS, Raymond. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. p. 113
[É] “aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade”. (TYLOR, Edward Burnett).
*
*
Considerações sobre a CULTURA – Roque de Barros Laraia
Cada cultura trilha seus próprios caminhos, pois é influenciada pelos diferentes eventos históricos que enfrenta.
 Os seres humanos são o resultado do meio cultural em que foram socializados. São herdeiros de um longo processo acumulativo que reflete o conhecimento e a experiência adquiridos pelas gerações que o antecederam. O uso adequado e criativo deste patrimônio cultural permite as inovações e as invenções.
Os homens, ao contrário dos outros animais, podem questionar seus próprios hábitos e modificá-los.
O processo de aquisição da cultura fez com que os homens dependessem muito mais do aprendizado do que de atitudes geneticamente determinadas.
O estudo da cultura nos permite estudar os códigos simbólicos partilhados pelos membros de uma determinada cultura. 
*
*
O homem: um animal simbólico
 “Em lugar de lidar com as próprias coisas, o homem, em certo sentido está sempre conversando consigo mesmo. Envolveu-se por tal maneira em formas linguísticas, em imagens artísticas, em símbolos míticos ou em ritos religiosos que não pode ver ou conhecer coisa alguma senão pela interposição desse meio artificial” (CASSIRER, 1977: p. 50).
***
O homem, conforme Cassirer (1977), não lida com as coisas mesmas. Pode-se dizer que ele se envolveu de tal maneira em formas linguísticas, imagens artísticas, símbolos míticos ou ritos religiosos que não vê ou conhece coisa alguma senão pela intermediação desse meio artificial. Os seres humanos vivem no meio de emoções, esperanças e temores, ilusões e desilusões, sonhos e fantasias. Como afirma Epicteto, o que “perturba e alarma o homem não são as coisas, mas suas opiniões e fantasias a respeito delas”. 
*
*
Indicação de filme:
A GUERRA DO FOGO (La Guerre du feu). Dirigido por Jean-Jacques Annaud, A guerra do fogo é uma produção franco-canadense de 1981. O elenco é constituído por Everett McGill, Rae Dawn Chong, Ron Perlman, Nameer El Kadi. O fogo é o mote da história. Grupos de hominídeos entram em conflito entre si para conquista-lo. O filme especula sobre a origem da linguagem
simbólica, as raízes da espécie humana e o florescer da razão e das tecnologias. 
*
*
Questões para reflexão e debate
O que é o homem? 
O que há de especial nesta pergunta? 
Por que ela diferencia o que o homem é daquilo que os outros animais são? 
De que maneira esta questão crucial se vincula a afirmativa de Epicteto “o que preocupa o homem não são as coisas, mas suas ilusões e fantasias sobre elas”?
*
*
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando Introdução à filosofia. 2.ed. (rev. e ampl.), São Paulo: Moderna, 1993. p. 134.
CASSIRER, Ernst. Antropologia Filosófica. São Paulo: Mestre Jou, 1976.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia. São Paulo: Cia das Letras, 2000.
CHAUÍ, Marilena. Filosofia. São Paulo: Ática, 2008. (Série Novo Ensino Médio). 
CORETH, E. Que es el hombre? Esquema de uma antropologia filosófica. Barcelona: Herder, 1976.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura; um conceito antropológico. 11.ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. p. 54-59.
RABUSKE, Edivino. Antropologia Filosófica Petrópolis: Vozes, 1987. P. 136–143.
*

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais