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Introdução à Avaliação psicológica Manuscrito não publicado

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Introdução à Avaliação Psicológica
José Maurício Haas Bueno
Luiz Fernando Baccheretti
Este capítulo procurará sintonizar o leitor acerca do que consiste a avaliação psicológica para um psicólogo, desde sua formação universitária até o exercício profissional. Para isto, abordará a composição das disciplinas de formação, sua importância e conteúdos ministrados; a ocorrência da avaliação psicológica como uma atividade relacionada à sobrevivência das pessoas e a profissionalização dessa atividade por parte dos psicólogos; a avaliação psicológica como a coleta de amostras do comportamento a partir das quais se pretende fazer generalizações; as técnicas mais comuns de coleta dessas amostras de comportamento (entrevistas, observações e testagens); as principais características dessas técnicas; situação atual e perspectivas futuras da avaliação psicológica no Brasil.
A literatura existente sobre este tema geralmente se refere às técnicas de avaliação psicológica independentemente (entrevista, observação ou testagem), ou à sua aplicação no âmbito clínico, que é apenas uma das áreas de atuação do psicólogo, embora a que concentre mais profissionais, segundo levantamento do Conselho Federal de Psicologia realizado em dezembro do ano 2000. Aqui procuraremos abordar a área de avaliação psicológica de uma forma mais global, e com o objetivo de situar o iniciante em Psicologia nesta área.
O primeiro contato do estudante de psicologia com a avaliação psicológica, geralmente se dá por meio de um conjunto de disciplinas, que recebe denominações diferentes de acordo com a instituição formadora, mas que tem basicamente o mesmo objetivo: instrumentalizar o aluno com técnicas de coleta de informações, integração de dados provenientes de diferentes fontes, relato de resultados e devolução de informações, com vistas à compreensão de um indivíduo ou grupo, proposição de intervenção e/ou tomada de decisão em relação às pessoas avaliadas.
A avaliação psicológica é considerada uma área de formação básica, pois está relacionada a um conjunto de habilidades que todo psicólogo deve adquirir ao longo de sua formação, independentemente da área em que irá atuar profissionalmente. Todo psicólogo, de alguma maneira terá que utilizar técnicas de avaliação psicológica, pelo simples fato de que é necessário conhecer a realidade na qual se pretende intervir. E para conhecer são utilizadas as técnicas de avaliação psicológica. Mesmo um psicólogo pesquisador, ou mais teórico, terá que conhecer essas técnicas, pois elas são frequentemente citadas na literatura da área, sendo fundamental o seu conhecimento para o entendimento dos textos.
Essas disciplinas, que geralmente estão dispostas em semestres consecutivos, se iniciam logo no início do curso de Psicologia, e se estendem por aproximadamente dois anos, durante os quais fornecem subsídios para a avaliação psicológica em diferentes contextos de atuação do psicólogo. Ainda dentro da universidade, este conhecimento frequentemente se tornará ferramenta de trabalho quando da realização de estágios e pesquisas. 
Também é importante frisar a relação que esta área do conhecimento estabelece com outras disciplinas do curso, na verdade com todas. Como ilustração, podemos citar que quando se realiza a avaliação psicológica de uma criança, é necessário ter conhecimentos sobre a psicologia do desenvolvimento, para poder comparar os dados coletados com os que a literatura oferece sobre determinada idade e, assim, poder julgar se o desenvolvimento é normal ou patológico; é necessário conhecer as características comuns das diversas formas de adoecer psicológico (psicopatologia) para poder detecta-las no processo de avaliação; é necessário conhecer as teorias da personalidade e/ou de grupos, para poder compreender como a personalidade de um determinado sujeito se estruturou dentro do contexto social em que se desenvolveu, e assim por diante.
Por isso, as disciplinas de avaliação psicológica também cumprem um papel importante na formação em psicologia, que é o de promover o desenvolvimento do pensamento global em psicologia. Ao tentar integrar os resultados de diversos testes diferentes (inteligência, personalidade e desenvolvimento motor, por exemplo), ou destes testes com o conteúdo de outras disciplinas (psicologia do desenvolvimento, psicopatologia, psicologia da personalidade, por exemplo), o aluno estará exercitando o pensamento em psicologia, e desenvolvendo a capacidade de compreender o ser humano a partir de várias fontes de informação (testes, entrevistas, observações, etc.), e da forma mais global possível.
Na verdade, a habilidade de realizar uma avaliação psicológica está presente em todas as pessoas, tenham elas optado pela psicologia ou não. A habilidade de perceber, avaliar as emoções experienciadas por si mesmo ou por outras pessoas, está diretamente relacionada à sobrevivência e à qualidade da sobrevivência de cada um. 
Em geral, antes de começarmos a namorar alguém, contar nossas intimidades, ou mesmo durante um relacionamento de amizade ou profissional, é necessário que estejamos atentos às reações emocionais que as pessoas nos causam, e igualmente, às reações emocionais que causamos nelas. A competência com que cada um realiza essas avaliações no dia-a-dia influencia diretamente a qualidade de vida que o sujeito irá experimentar na seqüência de suas escolhas. Assim, uma boa avaliação de si mesmo e do mundo do trabalho ajuda a escolher uma profissão na qual a pessoa se realize; a capacidade de avaliar as intenções, valores e modos de se comportar dos outros aumenta a probabilidade de que o sujeito se envolva em relacionamentos prazerosos e catalisadores do crescimento mútuo.
Por isso, toda pessoa tem, em algum grau de competência, a capacidade de realizar avaliações psicológicas, que podemos classificar de não-profissional (Pasquali, 2003). Acontece que essas avaliações são realizadas com base em valores e parâmetros pessoais, adquiridos ao longo da vida. Por isso, as avaliações que uma pessoa realiza a leva a conclusões que são válidas para ela e podem não ser válidas para outras pessoas. Assim, não podemos usar os valores pessoais para realizar avaliações no âmbito profissional. Se assim o fizéssemos, fatalmente chegaríamos a conclusões muito distintas uns dos outros, e a ciência não admite esta possibilidade. Profissionalmente, e cientificamente, precisamos olhar para um mesmo objeto de estudo e chegar às mesmas conclusões. Além disso, frequentemente é preciso chegar a conclusões em um nível de aprofundamento, que outras pessoas não seriam capazes de chegar por si mesmas, sem a utilização do conhecimento que a Psicologia desenvolveu desde que se tornou uma ciência.
Se não formos capazes disto, corremos o risco de ser dispensáveis. Se nossas avaliações não fizerem diferença significativa para a compreensão das variáveis psicológicas envolvidas em uma dada situação, porque envolver um psicólogo nisso, porque investir tempo e dinheiro com esse profissional? Então, é necessário que utilizemos técnicas reconhecidamente eficazes, comprovadamente mais confiáveis e que levem a um conhecimento da realidade em nível bem mais profundo do que o senso comum.
As técnicas que os psicólogos têm usado para realizar suas avaliações são as entrevistas, as observações e as testagens. As entrevistas são técnicas que utilizam o material verbal proveniente do diálogo direto entre o avaliador e o avaliado como fonte de informação; as observações são técnicas que utilizam as informações visuais, táteis, auditivas que chegam a um observador que pode estar participando (observação participativa) ou não (observação sistemática) do processo observado; a testagem inclui a obtenção de informações por meio de tarefas elaboradas com a intenção de provocar a manifestação de um determinado componente do funcionamento mental (testes de desempenho), por meio da recolha da opinião do sujeito sobre sua forma de se comportar em diferentes contextos sociais, ou por meio de perguntas escritas sobrealgum assunto de interesse (questionários).
Seja qual for a técnica ou conjunto de técnicas empregadas em um determinado caso, tudo o que o psicólogo consegue é apenas uma amostra do comportamento do sujeito, a partir da qual ele pretende fazer generalizações (Anastasi & Urbina, 2000). Por exemplo, a partir do que o sujeito diz numa entrevista, a partir da observação do seu comportamento nas sessões e/ou dos resultados dos testes que realizou, o psicólogo pretende explicar os sintomas apresentados pelo paciente clínico, prever o comportamento futuro de um candidato a uma vaga numa empresa, predizer se um sujeito representará um perigo ou não se vier a portar uma arma em sua atividade profissional, entre outros.
Isso acontece em outras ciências também. Por exemplo, uma fábrica de sabonete acompanha todo o processo de fabricação deste produto analisando amostras do todo que está sendo produzido; para conhecer a composição do sangue que circula em nossas veias, também se colhe apenas uma pequena quantidade (ainda bem!). Na psicologia, assim como nesses exemplos, as amostras precisam ser representativas do todo: a amostra de sabonete precisa representar a batelada toda que está sendo produzida, o sangue colhido na seringa precisa representar o sangue que circula no corpo do sujeito a maior parte do tempo, a amostra do comportamento colhida por meio de entrevista, observação ou testagem precisa ser representativa do comportamento geral do sujeito. 
Por isso, há uma série de cuidados que devem ser tomados ao coletar essas amostras. Os técnicos envolvidos na produção de sabão sabem que devem utilizar frascos limpos para a coleta de amostra, que devem homogeneizar bem a massa de sabão em produção antes de colhê-la, e que devem realizar a análise de pelo menos três amostras para comparar os resultados. Da mesma forma, quando vamos coletar sangue para a análise, devemos estar em jejum, a seringa e a agulha devem ser esterilizadas, bem como o frasco onde o sangue será acondicionado para análise. 
Também a coleta de dados psicológicos requer uma série de cuidados, que diminuem a probabilidade da amostra do funcionamento mental recolhida estar contaminada. Neste caso, uma amostra é considerada contaminada quando uma informação é passada de forma incompleta (omissão de informações) ou distorcida (distorção de informações), e isto pode ocorrer por diversos motivos: o informante não está se sentindo à vontade, não confia no psicólogo, deseja intencionalmente passar uma determinada imagem de si mesmo (muito comum em processos seletivos para empresas), está com o funcionamento mental tão prejudicado que não consegue se organizar minimamente para perceber e expressar seus sentimentos e opiniões a respeito de si mesmo, entre outros.
Para minimizar a interferência negativa dessas variáveis o psicólogo adota uma série de medidas relacionadas às condições físicas e psicológicas em que se dará o encontro (Pasquali, 2003), além de seu próprio preparo para utilizar uma das técnicas de entrevista, observação e testagem de que a psicologia dispõe atualmente. Por exemplo, é necessário que se tenha um ambiente com boa solução acústica (que não permita a interferência de ruídos nem o vazamento de som para o meio externo), com boa iluminação e acomodações adequadas para a realização das tarefas que forem propostas. É necessário que tanto o psicólogo quanto o indivíduo a ser avaliado estejam em boas condições físicas e psicológicas. Muitas vezes, é necessário perguntar ao sujeito se ele está tomando algum medicamento, se está sob o efeito de drogas, com alguma dor ou incômodo físico e mesmo observar seu estado emocional momentâneo. A coleta de uma amostra relativamente livre de distorções depende, em grande parte, desses cuidados.
Em seguida, vem a competência com que o psicólogo utiliza as técnicas de que dispõe para coletar o material. Em geral, a primeira técnica a ser empregada é denominada de rapport, um momento inicial de descontração na relação avaliador-avaliando, que tem por objetivo reduzir a tensão natural que surge em situações de avaliação e estabelecer um clima de confiança entre ambos (Ocampo, 1981). Logo em seguida, o psicólogo desenvolverá uma das técnicas de avaliação, que deve ter escolhido em razão dos objetivos pelos quais a avaliação está sendo realizada.
A entrevista pode ser empregada para diversos propósitos e, por ser bastante flexível, é a técnica mais comumente empregada pelos psicólogos. Quase sempre é possível escolher uma conduta técnica que se adapte às condições em que o entrevistado se encontra, mesmo que essas condições sejam adversas. Ao lado disso, a entrevista permite explorar as informações peculiares de cada caso (a história do entrevistado), seja com propósitos clínicos, de seleção ou orientação profissional, de triagem, de prevenção, de pesquisa, etc (Tavares, 2000).
Pode ser conduzida de forma mais diretiva, com perguntas fechadas, que só permitem a escolha da resposta entre algumas alternativas, do tipo sim-não, este-ou-aquele, etc., ou de forma mais permissiva, com perguntas mais abertas, do tipo “me fale um pouco sobre ...” em que o entrevistado tem mais liberdade para expressar suas opiniões sobre um determinado assunto. A superficialidade ou profundidade com que cada assunto será tratado também pode ser objeto de escolha do entrevistador, em razão dos objetivos da entrevista. Uma entrevista com propósitos de triagem costuma ser mais superficial, apenas para levantar informações suficientes para proceder a um encaminhamento, enquanto uma entrevista diagnóstica requer um grau de aprofundamento suficiente para a compreensão do quadro clínico que um determinado paciente apresenta, em geral, com vistas à proposição de um processo de tratamento subseqüente.
A observação também é uma técnica bastante utilizada pelos psicólogos, muitas vezes em associação com a entrevista e a testagem, que permite a checagem da coerência entre o discurso verbal e a linguagem corporal. Em outros casos, a observação é utilizada mais formalmente, por meio da proposição de uma atividade, que normalmente é escolhida para fazer emergir os comportamentos mais característicos do sujeito observado.
Duas situações podem ser apresentadas como exemplo, uma própria do psicólogo clínico e outra do psicólogo organizacional. O atendimento de crianças em psicologia clínica, geralmente passa por uma sessão de observação lúdica, cujo principal pressuposto é o de que a brincadeira da criança se estrutura em função de variáveis internas da personalidade da criança. Consiste basicamente em oferecer à criança uma caixa com brinquedos, intencionalmente escolhidos (a caixa lúdica), e observar seu comportamento a partir de então. Neste sentido, a escolha de brinquedos e brincadeiras, a plasticidade, rigidez, estereotipia, perseverança, a capacidade de assumir e atribuir papéis de forma dramática, a motricidade, a criatividade, a capacidade simbólica, a tolerância à frustração e a adequação à realidade são variáveis que podem ser observadas no comportamento da criança enquanto ela brinca (Ocampo, 1981; Werlang, 2000).
De forma semelhante, o psicólogo organizacional frequentemente utiliza uma dinâmica de grupo para observar o comportamento dos candidatos a uma determinada vaga. Basicamente, a dinâmica consiste em apresentar uma tarefa, que, em geral, requer interação entre as pessoas para que possa ser realizada. Nesta situação, os recursos cognitivos e emocionais dos participantes tendem a emergir, facilitando a observação do psicólogo. Tanto na situação clínica quanto na organizacional, o princípio envolvido é o mesmo: oferecer uma tarefa com a qual o sujeito se envolva cognitiva e emocionalmente, para poder observar a qualidade desse envolvimento.
A testagem psicológica de uma forma geral é a única atribuição exclusiva do psicólogo, de acordo com o parágrafo 1o do Art. 13 da Lei no 4.119/62. Todas as demais tarefas executadas pelo psicólogo também podem ser realizadas por profissionais de outras áreas. 
A testagempsicológica consiste em uma medida ou avaliação qualitativa de uma amostra padronizada de comportamento. A diferença em relação à entrevista e à observação, se dá justamente na padronização de procedimentos a serem seguidos tanto para a coleta quanto para a análise dos dados. Por isso, os testes, principalmente os quantitativos, tendem a ser menos suscetíveis às interferências pessoais do aplicador.
Os testes podem ser divididos em duas categorias, de acordo com a concepção teórica com que foram construídos: os psicométricos e os projetivos. As principais diferenças entre essas duas formas de testagem serão apontadas a seguir.
Os testes psicométricos costumam envolver quantificação ou medida de um atributo psicológico, enquanto os projetivos estão voltados para a recolha e análise da qualidade do material psicológico do avaliando, geralmente por meio da interpretação do conteúdo simbólico da tarefa solicitada ao sujeito (por exemplo, a realização de desenhos, elaboração de histórias, ou interpretação de borrões de tinta). Ao lado disso, nos testes psicométricos há um grande investimento na construção do instrumento. Antes de o instrumento ser disponibilizado para utilização profissional realiza-se uma série de estudos estatísticos, que devem tornar evidente que o teste avalia aquilo que ele se propõe a avaliar (validade), e o que faz com precisão (fidedignidade). Nas técnicas projetivas a experiência do avaliador é que é fundamental para a descoberta da relação simbólica entre o que o sujeito realizou e a teoria psicológica subjacente, geralmente de orientação psicanalítica.
Os testes psicométricos são construídos para avaliar uma ou mais características do funcionamento mental (por exemplo, inteligência, ansiedade, depressão, extroversão), mas só avaliam aquilo para o qual foram construídos. As técnicas projetivas, por sua vez, são mais abrangentes e, geralmente, conseguem captar as principais características do funcionamento mental do sujeito, sejam elas quais forem, incluindo aquelas sobre as quais o sujeito não tem acesso diretamente – as informações inconscientes.
Além disso, tanto as técnicas projetivas quanto as psicométricas apresentam a vantagem de serem procedimentos padronizados, o que implica na uniformidade de procedimentos de aplicação e avaliação, que ficam registrados para outras consultas ao longo do tempo. Isto pode ser útil, por exemplo, para o acompanhamento da evolução de um determinado caso, para a facilitação da compreensão de um caso quando um psicólogo for assumi-lo no lugar de outro, para a realização de pesquisas sobre as características de uma determinada população, entre outras.
Da mesma forma, as informações colhidas por meio das técnicas de entrevista, observação e testagem devem ser consideradas mutuamente complementares. São ferramentas de que a psicologia dispõe para serem utilizadas de acordo com a situação. Por isto, o psicólogo deve conhecê-las muito bem para poder utilizá-las quando forem úteis ao processo de avaliação.
A avaliação psicológica mais confiável, geralmente é aquela que resultou da análise de informações colhidas por meio dessas três fontes. As informações provenientes da entrevista e observação, geralmente permitem o conhecimento do ambiente psicossocial em que o sujeito se encontra inserido, e os testes informam sobre as condições em que se encontra o funcionamento mental do sujeito. Dito de outra forma, enquanto os testes “fotografam” a situação atual do funcionamento mental, a observação e a entrevista ilustram como essas características foram desenvolvidas ao longo da vida do sujeito e como se manifestam atualmente na sua realidade.
Recentemente, alguns fatores deram grande impulso à área de avaliação psicológica no Brasil. Um deles foi a preocupação do Conselho Federal de Psicologia (CFP) com a avaliação psicológica, especialmente com a qualidade dos testes psicológicos disponibilizados para a utilização profissional. Por meio da Resolução 002/2003, o CFP definiu e regulamentou o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos no Brasil. Assim, a utilização de testes psicológicos no Brasil está condicionada à recomendação do instrumento por parte do Conselho Federal. 
Embora tenha sido muito contestada, essa resolução praticamente tirou de circulação muitos instrumentos que não apresentavam condições mínimas de utilização profissional. Na primeira avaliação, realizada em 2003, o CFP reprovou mais da metade dos testes submetidos à avaliação. Isto dá uma idéia da qualidade dos instrumentos comercializados no Brasil até aquela data.
Os psicólogos, à época, sentiram-se desamparados, não podendo mais utilizar instrumentos que vinham utilizando há anos, décadas. Em alguns casos isso se deu porque, ao longo dos anos, os manuais desses instrumentos não passaram por atualizações, com a inclusão de dados de estudos recentes sobre seu funcionamento. Portanto, ficaram desatualizados, carentes de informações básicas para que o profissional pudesse utilizá-lo. À medida que foram atualizados e submetidos a uma nova avaliação, muitos voltaram a ser recomendados. Ao lado disso, os instrumentos construídos a partir de então, já tiveram que se ajustar às normas para obtenção da recomendação por parte do CFP, o que promoveu uma boa melhora na qualidade dos instrumentos disponíveis para utilização profissional.
A grande crítica a esta resolução, no entanto, foi que ela focaliza muito no instrumento e em nada na formação de quem o utiliza. De fato, de nada adianta ter um instrumento muito bom do ponto de vista técnico, se o psicólogo não tiver condições para utilizá-lo com competência. 
Por isso, a tendência atual é ampliar o foco do ensino da avaliação psicológica, principalmente dos testes psicológicos, da aprendizagem dos procedimentos de aplicação e correção para a aprendizagem das propriedades psicométricas de cada instrumento. Esta última inclui não apenas os procedimentos de aplicação e avaliação, como também a fundamentação teórica, os procedimentos de construção do instrumento e a compreensão das possibilidades e limites da extrapolação dos resultados de um teste para a compreensão de um ou mais aspectos do funcionamento mental do sujeito avaliado. 
Outra iniciativa recente que deu grande impulso à área de avaliação psicológica foi a criação do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica – IBAP, em 1998. O IBAP juntamente com a Associação Brasileira de Rorschach e Métodos Projetivos – ASBRo, criada em 1993, e outras entidades ligadas à psicologia, vem desenvolvendo importante papel no desenvolvimento da área de avaliação psicológica no Brasil. Essas entidades têm sido responsáveis pela realização de eventos e publicações científicas na área de avaliação psicológica, além de participarem ativamente como interlocutores com outras entidades quando a avaliação psicológica é o tema em questão.
Assim, os acontecimentos que têm ocorrido nos últimos, os debates de que temos participado sobre o tema, nos permitem dizer que a avaliação psicológica tem passado por transformações profundas, e este processo tende a se acentuar nos próximos anos. O Brasil ainda é muito carente de testes psicológicos e de estudos de testes psicológicos para diversas aplicações. Os testes atualmente disponíveis para utilização profissional são muito generalistas, sendo necessário o desenvolvimento de estudos específicos mais modernos para as áreas de psicologia do trabalho, do trânsito, jurídica e criminal, por exemplo, que atendam às necessidades específicas de cada área, e proporcionem ao psicólogo referências empiricamente embasadas para suas conclusões.
Referências Bibliográficas
Anastasi, A.; Urbina, S. (2000). Testagem Psicológica. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.
OCAMPO, M.L.S.et al. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. São Paulo, Martins Fontes, 1981.
Pasquali, L. (2003). Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis: Vozes.
Tavares, M. (2000). A entrevista clínica. Em: J. A.Cunha, (org.). Psicodiagnóstico V. (pp. 45-56). Porto Alegre: Artmed.
Werlang, B.G. (2000). Entrevista lúdica. In: Cunha, Jurema Alcides. Psicodiagnóstico-V. Porto Alegre: Artes Médicas.

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