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AULA 3 - CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS SOBRE O HOMEM

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CONCEPÇÕES SOBRE O HOMEM
			 
 Prof. Marcelo José Caetano
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 “O que perturba e alarma o homem não são as coisas, mas suas opiniões e fantasias a respeito delas” (Epicteto).
O complexo de Édipo e pacto social: para que se dê o processo civilizatório é necessário que o indivíduo renuncie seus impulsos mais primitivos, renuncia esta que é garantida pela instituição da Lei do pai, como representante da Lei da Cultura dentro da família. Em troca, a sociedade proporciona o mínimo necessário para que o indivíduo mantenha sua integridade física e psíquica. 
O HOMEM COMO ANIMAL SIMBÓLICO
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(CULTURA É) o sistema de atitudes, instituições e valores de uma sociedade (CALDAS AULETE).
Idéia sobre a(s) origens da cultura:
Claude Levi-Strauss (regra da exogamia) – a cultura surgiu quando o homem convencionou a primeira norma (primeira interdição): a proibição do incesto que é o meio positivo de assegurar a comunicação e o intercâmbio das mulheres entre os grupos, e vê nisso o critério de passagem da natureza à cultura.
Leslie White – a passagem para a cultura se deu quando o cérebro humano foi capaz de gerar símbolos: Todo comportamento humano se origina no uso de símbolos. Foi o símbolo que transformou nossos ancestrais antropóides em homens e os fez humanos. 
(IDEIAS SOBRE A ORIGEM DA) CULTURA
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Homo vivens (vida): “O homem é homo vivens: ele é humano enquanto é vivo. Enquanto, porém, o fenômeno da vida é dado certo e óbvio, o seu significado, a sua verdadeira natureza e a sua origem são coisas muito complexas, obscuras e misteriosas” (Id. Ib., 1980: p. 43).
Homo sapiens (saber): “O homem é um ser dotado de conhecimento: é homo sapiens. No conhecer, de modo particular, ele se destaca dos outros seres que o circundam e os supera imensamente’ (Id. Ib., 1980: p. 63).
Homo volens (vontade): “Homem de vontade, homem de caráter, homem decidido, homem livre são expressões comuns na nossa linguagem para designar um tipo ideal de homem. Todavia, vontade, decisão, caráter e liberdade não são qualidades que se acham somente em poucos homens excepcionais, mas pertencem ao homem enquanto tal.” (Id. Ib., 1980: p. 109).
 
ALGUMAS IDEIAS SOBRE O HOMEM
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Homo socialis (sociabilidade): “A sociabilidade é a propensão do homem para viver junto com os outros e comunicar-se com eles, torna-los participantes das próprias experiências e dos próprios desejos, conviver com eles as mesmas emoções e os mesmos bens. / A politicidade é o conjunto das relações que o indivíduo mantém com os outros, enquanto faz parte do grupo social” (Id. Ib., 1980: p. 159).
Homo faber (trabalho): “...o trabalho é atividade tão importante para o estudo do homem como o conhecimento, a liberdade e a linguagem. Hoje compreendeu-se que ‘o homem é essencialmente artifex, criador de formas, fazedor de obras...” (Id. Ib., 1980: p. 198).
Homo religiosus (religião): “Manifestação tipicamente humana é a religião. Ela não está presente nos outros seres vivos, mas somente no homem. E é a manifestação que, se abarcarmos a humanidade inteira seja com relação ao espaço quanto ao tempo e não somente este ou aquele grupo de época histórica particular, assume proporções notabilíssimas. [...] as culturas são profundamente marcadas pela religião” (Id. Ib., 1980: p. 224).
ALGUMAS IDEIAS SOBRE O HOMEM
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Desde os primórdios da cultura ocidental, a reflexão sobre o homem, provocada pela interrogação fundamental “o que é o homem?”, ocupa um lugar de destaque nas mais diversas expressões da cultura: o mito, a literatura, a filosofia, a ciência, a ética e a política. A partir desta reflexão, emergiram ideias e imagens do homem que evidenciaram sua singularidade como ser que se interroga a si mesmo, interiorizando a relação sujeito/objeto por meio da qual se abre ao mundo exterior. 
A REFLEXÃO SOBRE O HOMEM
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A oposição entre o APOLÍNEO e o DIONISÍACO é uma das mais conhecidas expressões da condição humana. 
APOLO reflete o LADO LUMINOSO da visão grega do homem. É a PRESENÇA ORDENADORA do LOGOs (razão) na vida humana, isto é, a claridade do pensar e agir razoáveis. 
DIONÍSIO traduz o LADO OBSCURO e TERRENO onde reinam as forças do DESEJO e da PAIXÃO. 
A conciliação entre o apolíneo e o dionisíaco em “O Banquete”, de Platão:
Discurso de Sócrates - em seu discurso, Sócrates apresenta o nascimento de Eros. De acordo com o mito, Eros é filho de Póros (riqueza) e de Pênia (pobreza). Por sua filiação, o amor ocupa uma posição intermediária: não é feio, nem belo, não participa da bem-aventurança, característica essencial das divindades. Ele é um ser duplo, herdado da diferença entre seus pais, colocando-se numa posição intermediária. É o próprio filósofo, colocado entre a ignorância e o saber, como aquele que aspira algo. Por extensão, é a aspiração do ser humano ao bem, àquilo que o completa.
O APOLÍNEO E O DIONISÍACO NA CULTURA GREGA ARCAICA
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Do ponto de vista da vida social e política, a visão grega arcaica do homem é marcada pela ideia de EXCELÊNCIA (areté). Inicialmente, concentra-se na excelência guerreira. Posteriormente, ela é transferida para o herói fundador da cidade e, finalmente, é transposta à figura do “sophos” (sábio). Areté se vincula ao conceito de justiça (dikê) e o herói fundador é celebrado como legislador. O ethos (lugar) da areté guerreira e política se junta ao ethos laborioso do trabalho dos campos, celebrado como escola da virtude – o guerreiro, o político e o trabalhador.
As linhas que constituem a imagem grega arcaica do homem se interseccionam e convergem no temeroso tema de moira, onde o homem se vê submetido à inexorabilidade do destino.
EXCELÊNCIA (ARETÉ), DESTINO (MOIRA) E A CONCEPÇÃO DE HOMEM	
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Diógenes de Apolônia (Séc. V a.C), nascido entre 440 – 430 a.C, marca a transição da primeira filosofia pré-socrática concentrada no problema da physis e da busca do princípio (arché) para o período antropológico.
DIÓGENES pensa o homem a partir da PHYSIS (natureza) e na ordem do COSMOS (mundo), isto é, conforme a ordem do mundo (macrocosmo) e da cidade (microcosmo).
Na visão socrática, só é possível pensar o “humano” segundo um princípio interior presente em cada homem (PSYCHÉ - ALMA), ou melhor, conforme uma EXCELÊNCIA (areté) que se encontra em sua alma, fonte de sua grandeza. 
É na alma, conforme Sócrates, que reside a opção profunda que orienta a vida humana para o justo ou o injusto e é ela, portanto, que constitui a essência do ser humano.
CONCEPÇÃO DO HOMEM NO PERÍODO ANTROPOLÓGICO – DIÓGENES E SÓCRATES
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Os FILÓSOFOS SOFISTAS definem o homem como animal racional e, em sua inflexão antropológica, o definem segundo a OPOSIÇÃO entre CONVENÇÃO (nómos) e NATUREZA (physis), conforme uma natureza humana onde se identifica os predicados e as exigências essenciais do que se designa humano. O homem é um ser DOTADO de LOGOS, isto é, de palavra e de discurso e, por isto, é CAPAZ DE DEMONSTRAR E PERSUADIR. Os sofistas concebem, ainda, um INDIVIDUALISMO RELATIVISTA (formulações céticas sobre a verdade) e um DESENVOLVIMENTO PROGRESSIVO DA CULTURA que alimentará o pensamento antropológico ao longo de toda a sua história: O HOMEM É UM SER DE NECESSIDADE E CARÊNCIA E, EM RAZÃO DISTO, PROCURA SUPRIR COM A CULTURA AQUILO QUE LHE É NEGADO PELA NATUREZA.
CONCEPÇÃO SOFISTA DO HOMEM
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A antropologia platônica sintetiza a tradição pré-socrática da relação do homem com o “kósmos”, a tradição sofística do homem como ser de cultura (paidéia) destinado à política e a herança socrática do “homem interior” e da “alma” (psyché).
O homem é a UNIDADE ALMA-CORPO e se ordena pelo movimento profundo e essencial da realidade das Ideias.
CONCEPÇÃO PLATÔNICA DO HOMEM
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Aristóteles é considerado, com razão, um dos fundadores da antropologia como ciência, pois foi o primeiro que sistematizou uma síntese científico-filosófica na sua concepção
de homem.
Traços da concepção antropológica aristotélica:
Estrutura biopsíquica do homem – teoria da psyché: o homem é um ser composto de ALMA (psyché) e CORPO (soma). A psyché é a perfeição ou o ato do corpo organizado e sua definição. 
O homem é ZOON LOGIKON - o ser humano pertence, pela sua essência, ao âmbito da physis, mas se distingue de todos os outros seres da natureza em virtude de sua racionalidade – é um animal racional.
O homem é um ser ético-político – o homem, em sua expressão acabada, é essencialmente destinado à vida na pólis e somente aí se realiza como ser racional. Ele é ZOON POLIKÓN (animal político).
O homem é um ser de PAIXÃO e DESEJO – paixão e desejo intervêm decisivamente tanto na práxis ética e política, como na poíesis (poética), fundamentando o que é o homem.
ANTROPOLOGIA ARISTOTÉLICA
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A concepção cristã-medieval do homem prevalece na cultura ocidental do século VI ao século XV, mas sua influência permanece profunda e, sob muitos aspectos, é decisiva nas concepções moderna e contemporânea que lhe sucedem.
A antropologia medieval vai buscar seus temas e suas aspirações em três fontes principais:
A Sagrada Escritura;
Nos primeiros padres da Igreja, destacando-se a figura de Santo Agostinho;
Os filósofos e escritores gregos e latinos, dentre os quais Aristóteles se afirmará, de forma contundente.
CONCEPÇÃO CRISTÃ-MEDIEVAL
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O homem é carne (basar) na medida em que se revela a fragilidade de sua existência; é alma (nefesh) na medida em que a fragilidade é compensada pelo vigor da sua vitalidade; é espírito (ruah), ou seja, manifestação superior de vida e do conhecimento, pela qual o homem pode entrar em relação com Deus e, finalmente, coração (leb), isto é, o interior profundo do homem, onde tem sede afetos e paixões, onde se enraizam inteligência e vontade e onde têm lugar o pecado e a conversão a Deus. 
A concepção bíblica do homem se dá a conhecer através da narração de uma história que, sendo história da revelação e dos gestos salvíficos de Deus, é, igualmente, história da revelação do homem para si mesmo.
CONCEPÇÃO BÍBLICA DO HOMEM	
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A VISÃO AGOSTINIANA do homem define o homem como ser uno, isto é, como EPISÓDIO CULMINANTE DA CRIAÇÃO de todo universo. Ele é a ENCARNAÇÃO DO VERBO, resultado da palavra criadora de Deus. Além disto, é UM SER ITINERANTE, ou seja, transita ao longo de duas linhas distintas, mas dialeticamente relacionadas, o itinerário da MENTE e o itinerário da VONTADE. Em razão disto, o homem se encaminha conforme a direção do amor que o move, isto é, Deus – SER-PARA-DEUS /CIDADE DOS HOMENS – CIDADE DE DEUS.
CONCEPÇÃO AGOSTINIANA DO HOMEM
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A época que ficou conhecida com o nome de RENASCENÇA (século XIV ao século XVI) foi assinalada por transformações de toda ordem na Europa ocidental, dando origem a uma civilização brilhante, com traços que definem nitidamente sua originalidade com relação à civilização medieval que a precedeu. 
O homem na antropologia renascentista:
Homo universalis – emerge das profundas transformações do mundo ocidental que provoca uma dilatação dos horizontes estreitos da cristandade geograficamente (ciclo das descobertas) e humanamente (encontro com novas culturas e civilizações).
Prolongamento e ampliação da tradição do zôon politikón aristotélico, dando-lhe um novo conteúdo, pois nela o esquema mecanicista se estenderá à explicação da vida e do homem.
O corpo humano, segundo a tradição cartesiana, é integrado ao conjunto dos artefatos e das máquinas e só a presença do “espírito”, manifestando-se sobretudo na linguagem, separa o homem do animal-máquina.
CONCEPÇÃO DO HOMEM NO HUMANISMO
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CABRAL, Roque (dir). LOGOS-Enciclopédia luso-brasileira de Filosofia, Lisboa/São Paulo: Verbo, 1990.
CASSIRER, Ernst. Antropologia Filosófica. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Moderna, 1999.
CORETH, E. Que es el hombre?; Esquema de uma antropologia filosófica. Barcelona: Herder, 1976.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura; um conceito antropológico. 11.ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. p. 54-59.
MONDIM, Batista. O homem, quem é ele? São Paulo: Paulus, 1980. 
RABUSKE, Edivino. Antropologia Filosófica Petrópolis: Vozes, 1987. P. 136–143
VAZ, Henrique Cláudio Lima. Antropologia Filosófica I. São Paulo: Loyola, 1991. p. 25 – 57.
REFERÊNCIAS

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