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AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM SCARPA, Ester Mirian: Aquisição da Linguagem. In.: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (Orgs.). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. pág. 203-232

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
Curso: Letras – Italiano 
Disciplina: Linguística II 
Docente: Profº Drº Eduardo Kenedy Nunes Areas 
Aluno: Thamiris Ferreira Santos 
 
Fichamento sobre 
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM 
SCARPA, Ester Mirian: Aquisição da Linguagem. In.: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, 
Anna Christina (Orgs.). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: 
Cortez, 2001. pág. 203-232. 
 
1. AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM: BREVÍSSIMO HISTÓRICO E ABRANGÊNCIA 
 
“Heródoto, por exemplo, narra que, no século VII a.C, o rei Psamético do Egito 
ordenou que duas crianças fossem confinadas desde o nascimento até a idade de dois 
anos, sem convívio com outros seres humanos, a fim de se observarem as 
manifestações "lingüísticas" produzidas em contexto de privação interativa. Sua 
hipótese era que, se uma criança fosse criada sem exposição à fala humana, a primeira 
palavra que emitisse espontaneamente pertenceria à língua mais antiga do mundo. Ao 
cabo de dois anos de total isolamento, as crianças emitiram uma seqüência fônica 
interpretada como "bekos", palavra frígia para "pão". Concluiu, então, que a língua 
que o povo frígio falava era mais antiga que a tios egípcios.” (p.1) 
 
“Algumas das amostras mais abrangentes da fala infantil foram registradas nas 
primeiras décadas deste século pelos chamados "diaristas", que eram lingüistas ou 
filólogos estudando seus próprios filhos.” (p.1) 
 
“São trabalhos descritivos e mais ou menos intuitivos, que, ao contrário das pesquisas 
aquisicionais das últimas décadas, não se voltam à procura, nos dados da criança, de 
evidência em prol de alguma teoria lingüística ou psicológica, embora se insiram nas 
teorias lingüísticas e psicológicas da época (como o de Lewis, com tendência 
behaviorista).” (p.2) 
 
“As anotações, em forma de diário, do que a criança diz, em situação naturalística (isto 
é, em ambiente natural, em atividades cotidianas), foram posteriormente substituídas 
por registros em fitas magnéticas, cm áudio ou vídeo. Assim, grava-se a fala de uma 
criança por um período de tempo preestabelecido (por exemplo: meia hora, 40 
minutos, 1 hora etc), em intervalos regulares (sessões semanais, quinzenas, mensais 
etc), dependendo do tema a ser pesquisado. Esse material é posteriormente transcrito 
da maneira mais apropriada para a pesquisa em pauta (transcrição fonética, prosódica, 
cursiva, codificada segundo orientações sintáticas, semânticas etc).” (p.2) 
 
“A partir da metade dos anos 1980, bancos de dados da fala de várias crianças do 
mundo todo têm sido formados, seguindo codificações informatizadas.” (p.2) 
 
“Uma outra metodologia de pesquisa em aquisição da linguagem, a de tipo transversal, 
baseia-se no registro de um número relativamente grande de sujeitos, muitas vezes 
classificados por faixas etárias.” (p.2) 
 
“De qualquer maneira, deve-se sempre ter cuidado com a visão ingênua de que os 
dados aquisicionais "falam". A metodologia adotada e a própria seleção dos dados 
dependem da postura teórica que norteia a pesquisa.” (p.2) 
 
“A Aquisição da Linguagem é, pelas suas indagações, uma área híbrida, heterogênea 
ou multidisciplinar.” (p.2) 
 
“No entanto, na contramão, as questões suscitadas pela Aquisição da Linguagem, bem 
como os problemas metodológicos e teóricos colocados pelos próprios dados 
aquisicionais, têm, não raro, levado tanto a Psicologia (sobretudo a Cognitiva) como a 
própria Lingüística a se repensarem e a se renovarem.” (p.2) 
 
“Hoje em dia, a Aquisição da Linguagem alimenta os tópicos recobertos pela 
Psicolingüística, além de ser de interesse central nas ciências cognitivas e mesmo nas 
teorias linguísticas, sobretudo nas de inspiração gerativista, como veremos mais 
detidamente adiante. A área recobre muitas subáreas. Cada uma formando um campo 
próprio de estudos.” (...)” (p.2-3) 
 
“a) aquisição da língua materna, tanto normal quanto "com desvios", recobrindo 
os componentes "tradicionais" dos estudos da linguagem, como fonologia, semântica e 
pragmática, sintaxe e morfologia, aspectos comunicativos, interativos e discursivos da 
aquisição da língua materna. Sob a égide de "desvios", contam-se: aquisição da 
linguagem em surdos, desvios articulatórios, retardos mentais e específicos da 
linguagem etc; (p.3) 
 
b) aquisição de segunda língua, quer como bilingüismo infantil ou cultural, 
quer na verificação dos processos pelos quais se dá a aquisição de segunda língua 
entre adultos e crianças, seja em situação formal escolar, seja informal de imersão 
lingüística; (p.3) 
 
c) aquisição da escrita, letramento, processos de alfabetização, relação entre a 
fala e a escrita, entre o sujeito e a escrita nesse processo etc.” (p.3) 
 
2. Temas e abordagens teóricas sobre a aquisição da linguagem 
 
2.1. O velho debate pendular sobre nature (natureza) versus nurture (criação, 
ambiente). O inato e o adquirido. O biológico e o social 
 
“Os estudos sobre processos e mecanismos de aquisição da linguagem tomaram um 
grande impulso a partir dos trabalhos do lingüista Noam Chomsky, no fim da década 
de 1950, em reação ao behaviorismo vigente na época.(...) 
(...)A aprendizagem da linguagem seria fator de exposição ao meio e decorrente de 
mecanismos comportamentais como reforço, estímulo e resposta. (....) 
(...)Skinner (1957), psicólogo cujo trabalho foi o mais influente no behaviorismo, parte 
de pressupostos tanto metodológicos (como ênfase na observabilidade de 
manifestações comportamentais, externas, mensuráveis, da aprendizagem) quanto 
teóricoepistemológicos 'como a premissa da inacessibilidade à mente para se estudar 
o conhecimento, postura contrária à mentalista e idealista nas ciências humanas) e 
propõe, então, enquadrar a linguagem (ou "comportamento verbal") na sucessão e 
contingência de mecanismos de estímulo-resposta-reforço, que explicam o 
condicionamento e que estão na base da estrutura do comportamento.(...)” (p.4) 
 
“O argumento básico de Chomsky é: num tempo bastante curto (mais ou menos dos 
18 aos 24 meses), a criança, que é exposta normalmente a uma fala precária, 
fragmentada, cheia de frases truncadas ou incompletas, é capaz de dominar um 
conjunto complexo de regras ou princípios básicos que constituem a gramática 
internalizada do falante. Esse argumento, constantemente reafirmado, é chamado de 
"pobreza do estímulo".” (p.4) 
 
“Um mecanismo ou dispositivo inato de aquisição da linguagem (em inglês, LAD, 
language acquisition'device), que elabora hipóteses lingüísticas sobre dados 
lingüísticos primários (isto é, a língua a que a criança está exposta), gera uma 
gramática específica, que é a gramática da língua nativa da criança, de maneira 
relativamente fácil e com um certo grau de instantaneidade. Isto é, esse mecanismo 
inato faz "desabrochar" o que "já está lá", através da projeção, nos dados do 
ambiente, de um conhecimento lingüístico prévio, sintático por natureza.” (p.4) 
 
“O problema de Platão coloca-se da seguinte maneira: como é que o ser humano pode 
saber tanto diante de evidências tão passageiras, enganosos e fragmentárias?” (p.4) 
 
“Esta visão, que coloca a linguagem num domínio cognitivo e biológico, admite que o 
ser humano vem equipado, no estágio inicial, com uma Gramática Universal (GU), 
dotada de princípios universais pertencentes à faculdade da linguagem, e de 
parâmetros "fixados pela experiência", isto é, parâmetros não-marcados que adquirem 
seu valor (+ ou -) por meio do contato com a língua materna.” (p.4) 
 
“Em suma, no processo de aquisição da linguagem, a criança c exposta a um input 
(conjunto de sentenças ouvidas no contexto), sendo o output um sistema de regras 
para a linguagem do adulto, a gramática de uma determinada língua.” (p.5) 
 
“A que tipo de dados ou a que quantidade de dados lingüísticos a criança deve ser 
exposta? Trabalhos recentes (Lightfoot, 1991) afirmam que a criança precisa ser 
expostaa uma quantidade relativamente pequena de linguagem, meramente a algum 
gatilho crucial, como pequenas cláusulas simples, a fim de descobrir que caminho sua 
língua materna tomou.” (p.5) 
 
“A aprendizibilidade é, assim, uma questão teórica central da teoria paramétrica de 
aquisição da linguagem. Como é a linguagem aprendível, se pode só contar com as 
migalhas de fala ouvidas pelas crianças, que não fornecem pistas suficientes para o 
estado final da língua a ser aprendida? Este é também chamado de "problema lógico 
da aquisição da linguagem": como, logicamente, as crianças adquirem uma língua se 
não têm informação suficiente para a tarefa? A resposta lógica ç que trazem uma 
enorme quantidade de informações a que Chomsky chama de Gramática Universal 
(GU), que é "uma caracterização destes princípios inatos, biologicamente 
determinados, que constituem o componente da mente humana — a faculdade da 
linguagem".” (p.5) 
 
“Uma outra decorrência do inatismo lingüístico é a modularidade cognitiva da 
aquisição da linguagem: o mecanismo de aquisição da linguagem é específico dela, não 
exibindo interface óbvia com outros componentes cognitivos ou comportamentais.” 
(p.5) 
 
“As colocações inatistas de Chomsky suscitaram uma série de estudos, a partir 
dos anos 1960, que se concentraram sobretudo na chamada fase sintática, onde a 
prioridade de análise pendeu para o estudo da aquisição da gramática da criança por 
volta do seu segundo ano de vida, quando a criança já começa a produzir enunciados 
de mais de uma palavra.” (p.6) 
 
2.2. O cognitivismo construtivista: Piaget, Vygotsky 
 
“A abordagem chamada de cognitivismo construtivista ou epigenético foi desenvolvida 
com base nos estudos do epistemólogo suíço Jean Piaget, segundo o qual o 
aparecimento da linguagem se dá na superação do estágio sensório-motor, por volta 
dos 18 meses.” (p.6) 
 
“(...)usando as palavras do próprio Piaget (1979), dá-se o desenvolvimento da função 
simbólica, por meio da qual um significante (ou um sinal) pode representar um objeto 
significado, além do desenvolvimento da representação, pela qual a experiência pode 
ser armazenada e recuperada. Essas duas funções estão estreitamente ligadas a outros 
três processos que ocorrem concomitantemente e que colaboram para a superação do 
que Piaget chama de "egocentrismo radical", presente no período sensório-motor, 
segundo o qual existe "uma indiferenciação entre sujeito e objeto ao ponto que o 
primeiro não se conhece nem mesmo como fonte de suas ações".” (p.6) 
 
“Estes três processos são os relacionados a seguir: 
a) o da descentralização das ações em relação ao corpo próprio, isto é, entre 
sujeito e objeto (ou entre "eu" e "o outro" ou "eu" e "o mundo"); o sujeito começa a se 
conhecer como fonte ou senhor de seus movimentos; 
b) o da coordenação gradual das ações: "em lugar de continuar cada uma a 
formar um pequeno todo em si mesmo", elas passam a se, coordenar para constituir 
uma conexão entre meios e fins; 
c) o da permanência do objeto, segundo o qual o objeto permanece o mesmo e igual a 
si próprio mesmo quando não está presente no espaço perceptual da criança.” (p.6) 
 
“Quando essas conquistas cognitivas se unem, na superação da inteligência sensória e 
motora, a caminho da inteligência pré-operatória de fases posteriores, surge a 
possibilidade de a criança adotar os símbolos públicos da comunidade mais ampla em 
lugar de seus significantes pessoais: em outras palavras, a linguagem se torna possível 
(já que a linguagem é entendida, por Piaget, como um sistema simbólico de 
representações), assim como outros aspectos da função simbólica geral, como é o 
desenhar.” (p.7) 
 
“Assim também, a visão behaviorista é rechaçada, com a crença de que as crianças não 
esperam passivamente que o conhecimento de qualquer espécie lhes seja transmitido. 
As pesquisas de inspiração piagetiana floresceram nas décadas de 1970 e 80. As 
críticas ao modelo piagetiano, que criaram força também neste período, baseiam-se 
na interpretação de que Piaget avaliou mal e subestimou o papel do social e das outras 
pessoas no desenvolvimento da criança e que um modelo interativo social se fazia 
necessário para explicar o desenvolvimento nos primeiros dois anos, modelo esse que 
desse conta de como a criança e seu interlocutor exploram os fenômenos físicos e 
sociais.” (p.7) 
 
“Aí é que surgiram nas elaborações teóricas ocidentais, as propostas de Vygotsky para 
melhor dar conta do alcance social da aquisição da linguagem. (...)Sua grande 
influência nos estudos de aquisição da linguagem começa efetivamente nos anos 1970, 
no bojo dos questionamentos ao inatismo chomskiano e como uma alternativa ao 
cognitivismo construtivista piagetiano. De orientação construtivista como Piaget, 
explica, porém, o desenvolvimento da linguagem (e do pensamento) como tendo 
origens sociais, externas, nas trocas comunicativas entre a criança e o adulto. (p.7) 
 
Vygotsky (1984) parte do princípio de que os estudiosos separam o estudo da 
origem e desenvolvimento da fala do estudo da origem do pensamento prático na 
criança. Em outras palavras, o estudo do uso dos instrumentos tem sido isolado do uso 
dos signos.” (p.7) 
 
“O poderoso instrumento da linguagem é trazido pelo que chama de internalização da 
ação e do diálogo. Vygotsky entende o processo de internalização como uma 
reconstrução interna de uma operação externa, mas, diferentemente de Piaget, para a 
internalização de uma operação deve concorrer a atividade mediada pelo outro, já que 
o sucesso da internalização vai depender da reação de outras pessoas.” (p.7) 
 
“São as seguintes as transformações que ocorrem no processo de internalização: 
a) uma operação que, inicialmente, representa uma atividade externa é reconstruída e 
começa a ocorrer internamente, daí a importância da atividade simbólica através do 
uso de signos; 
 
b) um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal: as funções no 
desenvolvimento da criança aparecem primeiro no nível social e, depois, no individual. 
Em outras palavras, primeiro entre pessoas (de maneira interpsicológica) e, depois, no 
interior da criança (intrapsicológica). Assim, segundo Vygotsky, todas as funções 
superiores (memória lógica, formação de conceitos, entre outras) originam-se das 
relações reais entre as pessoas; 
 
c) a transformação de um processo interpessoal num processo intrapessoal é 
resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento, isto 
é. a história das relações reais entre as pessoas são constitutivas dos processos de 
internalização.” (p.7-8) 
 
“Os trabalhos de inspiração vygotskiana entendem a aquisição da linguagem 
como um processo pelo qual a criança se firma como sujeito da linguagem (e não 
como aprendiz passivo) e pelo qual constrói ao mesmo tempo seu conhecimento do 
mundo, passando pelo outro.” (p.8) 
 
2.3. O interacionismo social 
 
“Segundo esta postura, passam a ser levados em conta fatores sociais, comunicativos e 
culturais para a aquisição da linguagem. Assim, a interação social e a troca 
comunicativa entre a criança e seus interlocutores são vistas como pré-requisito básico 
no desenvolvimento linguístico.” (p.8) 
 
“As características da fala do adulto (ou das crianças mais velhas) são estudadas e 
consideradas fundamentais para o desenvolvimento da linguagem na criança.” (p.8) 
 
“Embora essa questão não tenha ainda tido uma resposta definitiva, as pesquisas têm 
apontado para a segunda alternativa: a criança é afetada pela fala dirigida a ela.” (p.8) 
 
“A afirmação inicial de Chomsky sobre o input degradado, composto de frases 
truncadas e agramaticais, foi desafiada por pesquisas subsequente (...) (...)Tais estudos 
apontam, isso sim. para modificações que a fala adulta sofre quando dirigida à criança, 
em contraposição à dirigida ao adulto e a crianças mais velhas, alémde características 
específicas de comunicação entre adultos e bebês que nada tinham de "agramatical" 
propriamente, como a hipótese de "pobreza do estímulo" sugere.” (p.8-9) 
 
“Trata-se de modificações fonológicas, morfológicas, sintáticas, semânticas e 
pragmáticas: 
a) entonação "exagerada", reduplicações de sílabas ("au-au", "papai", "dodói"), 
velocidade de fala reduzida, qualidades de voz diferenciadas, tendendo para o 
"falsetto": 
b) frases mais curtas e menos complexas: expansões sintáticas a partir de uma 
palavra dita pela criança ou "tradução" de gesto feito por ela; 
c) referência espacial e temporal voltada para o momento da enunciação; 
d) palavras de conteúdo lexical mais corriqueiro, mais familiares e freqüentes 
na rotina cotidiana da criança; 
e) paráfrases, repetições ou retomadas das emissões da criança.” (p.9) 
 
“O bebê é assim, visto como potencial parceiro comunicativo do adulto, que 
empreende uma "sintonia tina" com as manifestações potencialmente comunicativas e 
significativas da criança, qualquer que seja seu conteúdo expressivo (gesto, voz, 
balbucios, palavras ou frases). Há um ajuste mútuo nas conversações entre adulto e 
criança, de maneira que as vocalizações infantis não caem num vácuo comunicativo. 
(p.9) 
 
Essas características foram encontradas numa variedade bastante grande de 
comunidades culturais e lingüísticas, de tal modo que a conclusão imediata é que são 
características universais.” (p.9) 
 
“Assim é que propostas recentes têm visto a universalidade de modulações de voz da 
chamada entonação "afetiva" (negação, conforto, privação, atenção) como 
manifestações de comportamentos pré-adaptativos da criança, numa visão 
declaradamente neodarwinista.” (p.9) 
 
“Trabalhos de campo realizados com comunidades outras que não a branca, classe 
média, ocidental, mostram diferentes características na interação adulto-bebê que as 
até então reportadas na literatura.” (p.10) 
 
 “Dentro ainda de uma postura oposta ao universalismo da fala dirigida à 
criança, a proposta neodarwinista [...] também contesta a universalidade de 
marcas vocais interacionais e chega à conclusão de que nem as situações de 
"afetividade" são sempre assim tão marcadas como a que Fernald encontrou em 
seus sujeitos interagindo com os respectivos adultos, nem as modulações de 
altura, consideradas foneticamente recortadas e universais por Fernald, dos 
sujeitos brasileiros analisados seguem o mesmo padrão de contorno entonacional 
mostrado pela autora americana.” (p.10) 
 
“A partir dos 6 meses de idade, a criança e o adulto engajam-se cm jogos 
(empilhar blocos, esconder o rosto atrás de um obstáculo e depois mostrar a 
face etc.) que patenteiam instâncias de atenção partilhada e ação conjunta.” 
(p.10) 
“Essas funções primárias tem, além disso, um papel na determinação das funções 
gramaticais de agente/ação/paciente, responsáveis, segundo modelos 
funcionalistas de gramática, pelos sistemas de transitividade nas línguas.” (p.10-
11) 
“O adulto, numa fase pré-verbal, focaliza um ponto de atenção qualquer, espera 
que a criança acompanhe seu foco de atenção e comenta sobre ele. Isto é, a 
criança participa de esquemas em que se focaliza ou topicaliza para depois se 
comentar ou predicar.” (p.11) 
“Propostas sociointeracionistas afirmam que a linguagem é atividade constitutiva 
do conhecimento do mundo pela criança. A linguagem é o espaço em que a 
criança se constrói como sujeito; o conhecimento do mundo e do outro é, na 
linguagem, segmentado e incorporado.” (p.11) 
2.3.1. Facetas atuais do sociointeracionismo 
“Lemos [...] recusa-se a ver a aquisição da linguagem como a aquisição ou 
construção de conhecimento da língua, concepção consagrada pela expressão 
"desenvolvimento lingüístico".” (p.12) 
“A autora não mais assume que. num determinado momento, o conhecimento da 
língua permite ã criança passai de interpretado a intérprete, da incorporação da 
tala do outro à assunção da própria fala, tornando-se, assim, um falante em 
pleno controle de sua atividade lingüística.” (p.12) 
3. A QUESTÃO DO "PERÍODO CRÍTICO" 
Lenneberg: “Entre dois e três anos de idade, a linguagem emerge através da 
interação entre maturação e aprendizado pré-programado. Entre os três anos de 
idade e a adolescência, a possibilidade de aquisição primária da linguagem 
continua a ser boa; [...] Depois da puberdade, a capacidade de auto-organização 
e ajuste às demandas psicológicas do comportamento verbal declinam 
rapidamente.” (p.13) 
“Pinker (1994) afirma que a aquisição de uma linguagem normal é garantida até 
a idade de 6 anos, é comprometida entre 6 até pouco depois da puberdade, e 
é rara daí para a frente.” (p.13) 
“Aitchinson [...] aponta para a insuficiência explicativa dos argumentos arrolados 
em favor desta hipótese. Pelo menos quatro deles têm sido citados: a) casos de 
estudos de indivíduos que foram isolados de qualquer convívio social ou troca 
lingüística e adquiriram a linguagem tardiamente; b) o desenvolvimento da fala 
de crianças com síndrome de Down; c) a suposta sincronia do período crítico 
com a lateralização hemisférica; d) dificuldades de aquisição de segunda língua 
depois da adolescência.” (p.13) 
“Argumentos interacionistas são levantados com relação às diferenças entre a 
aquisição da língua materna ou estrangeira na infância e depois da adolescência. 
Contemplam diferentes fatores interativos e socioculturais de aquisição nas duas 
situações, o que explicaria a extrema diferença individual tanto no processo de 
aquisição de L2 em idade adulta, quanto no alvo a ser atingido: o grau de 
domínio do alvo pretendido é muito variado.” (p.14) 
4. ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM 
Perroni: “A autora afirma que a sucessão de estágios não se dá linearmente, e, 
para descrevê-la, a "metáfora da espiral (é) mais apropriada (...) que a dos 
degraus de uma longa escada. É um conceito intrinsecamente ligado ao de 
desenvolvimento; assim, os estágios "não são pedaços justapostos uns após os 
outros, mas cada um se enraiza no outro, precedente, e se prolonga no 
seguinte".” (p.15) 
“Aparentemente, os sons que a criança balbucia no começo são universais: os 
sons do balbucio inicial não são específicos de sua língua materna. As crianças 
surdas conseguem balbuciar nesta fase, embora, depois disso, não acompanhem 
o desenvolvimento normal da criança ouvinte.” (p.16) 
“as formas maduras aparecem, num primeiro momento, em contexto de 
especularidade imediata de algum item da fala adulta. Num momento posterior, 
ou a forma desaparece paia reaparecer adaptada ao sistema fonológico da 
criança muito tempo depois, ou sua forma "menos madura", variável, percorrerá 
vários meses de mudança até se tornar estável. “ (p.17) 
“Com as primeiras palavras aparece também a flexão ou a aparente flexão. Digo 
aparente porque em muitos casos não há ainda evidência de que realmente as 
flexões representam morfemas categoriais ou de classes gramaticais como na 
linguagem adulta.” (p.17) 
“as primeiras sentenças espontâneas da criança são justaposições de enunciados 
monovocabulares (de "umapalavra") que ela produz à maneira de fala 
telegráfica.” (p.18) 
“Os erros ou desvios da norma muitas vezes indicam, segundo alguns 
estudiosos, que um processo de análise e segmentação está se instaurando, pois 
revelam as hipóteses que a criança faz sobre o objeto lingüístico.” (p.18) 
“A colocação do morfema fora de seu lugar usual indica que um processo de 
análise está se efetuando e que a criança reorganiza seu sistema para passar 
para outros níveis de análise e aquisição.” (p.18) 
“A partir de 2 a 3 anos, a criança já começa a contar histórias. [...] A trajetória 
para a aquisição do discurso narrativo é longa: aparentemente, não é antes dos 
5 anos que a criança se torna uma narradora proficiente.” (p.18) 
”É preciso, porém, deixar claro que as polêmicas que envolvem as grandes questões da 
área estão ainda em aberto. Se, por um lado, é pouco afirmar que a aquisição da 
linguagem se restringe à internalização de regras fonológicas, morfológicas, sintáticas, 
semânticas e pragmáticas da língua materna do aprendiz, por outro lado é ainda pouco 
clara a natureza da passagem entre estruturas interativas pré-lingüísticas e a gramática 
adquirida, a natureza do conhecimento linguístico vinculado ou não ao conhecimento 
do mundo, a dificuldade metodológica causada pela falta de transparência da fala da 
criança (e da própria fala do interlocutor), entre tantos outros mistérios.” (p.19)

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