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A internet como meio à prática de ilícitos e a responsabilidade civil nas relações digitais

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FACULDADE NOBRE DE FEIRA DE SANTANA
BACHARELADO EM DIREITO
Bruno Lopes de Sales
Larah da Silva Almeida
Maria Gabriela Costa Santana
Nancy Evangelista Lima
Paulo Ricardo Brito Cerqueira
Patrícia Araújo Lima
Rafaela Cedraz Carneiro
Ravena do Carmo Lima
Werena Guimarães dos Santos Geraldes
A internet como meio à prática de ilícitos e a responsabilidade civil nas relações digitais
Feira de Santana
2016
Bruno Lopes de Sales
Larah da Silva Almeida
Maria Gabriela Costa Santana
Nancy Evangelista Lima
Paulo Ricardo Brito Cerqueira
Patrícia Araújo Lima
Rafaela Cedraz Carneiro
Ravena do Carmo Lima
Werena Guimarães dos Santos Geraldes
A internet como meio à prática de ilícitos e a responsabilidade civil nas relações digitais
Trabalho apresentado como avaliação parcial da disciplina de Responsabilidade Civil, do curso de Bacharelado em direito da Faculdade Nobre de Feira de Santana, Bahia. Sob a orientação da Prof. Mestre Daniela Teixeira.
Feira de Santana
2016
A internet como meio à prática de ilícitos e a responsabilidade civil nas relações digitais
RESUMO
O presente trabalho vem ilustrar a problemática das relações digitais no mundo moderno, com enfoque nas condutas tidas como ilícitas no mundo físico e que também podem ser praticadas no mundo digital. Visa também abordar de forma crítica aspectos da responsabilidade civil em sentido geral e também em como aplicar o instituto às relações praticadas pela internet. Foi realizada uma profunda revisão de literatura acerca dos temas, as inovações trazidas pela Lei 12.965/14 e a jurisprudência aplicada anterior a edição desta Lei também são objeto do presente estudo.
Palavras chave: Responsabilidade digital; Internet; Ilícitos.
ABSTRACT
This work is to illustrate the problem of digital relationships in the modern world, focusing on behaviors seen as illegal in the physical world and which can also be applied in the digital world. It also aims to address so critical aspects of liability in a general sense and also in how to apply the institute relations practiced by the internet. A thorough literature review on the issues was held, the innovations introduced by Law 12.965/14 and the case law applied before the publication of this law are also the subject of this study.
Key words: Digital Responsibility; Internet; Illegal.
SUMÁRIO
Introdução; 1. Responsabilidade civil (objetiva e subjetiva) - 1.1 Pressupostos do dever de indenizar - 1.2 Excludentes de ilicitude; 2. Relações digitais - 2.1 Liberdade de expressão x conduta ilícita ou abuso de direito; 3. Conceito de provedores - 3.1 Papel dos provedores e servidores de aplicação de internet no controle de atos ilícitos - 3.2 Dever de guarda dos provedores e interferência judicial - 3.3 Responsabilidade civil dos provedores de conexão e de aplicativos de internet - 3.4 Dever de indenizar dos provedores; 4. Responsabilidade civil dos usuários de serviços digitais - 4.1 Dever de indenizar dos usuários. 5. Conclusão; Referências.
A internet como meio à prática de ilícitos e a responsabilidade civil nas relações digitais[1: Graduando do 5° semestre de direito da Faculdade Nobre de Feira de Santana/Ba.² Graduanda do 5° semestre de direito da Faculdade Nobre de Feira de Santana/Ba.³ Graduanda do 5° semestre de direito da Faculdade Nobre de Feira de Santana/Ba. ]
Bruno Lopes de Sales¹
Larah da Silva Almeida²
Maria Costa Santana Gabriela³
Nancy Evangelista Lima4
Paulo Ricardo Brito Cerqueira5
Patrícia Araújo Lima6
Rafaela Cedraz Carneiro7
Ravena do Carmo Lima8
Werena Guimarães dos Santos Geraldes9
INTRODUÇÃO
Atualmente, a internet está presente em praticamente todos os lugares da Terra, e essa revolução tecnológica que estamos vivendo tem aberto um mundo novo de possibilidades nunca antes imaginadas. As condutas mais comuns, como se comunicar, mudaram drasticamente com a evolução digital. Hoje é possível fazermos quase tudo com apenas um clique, possibilidade trazida pela evolução dos aparelhos smartphones.
Entretanto, existe o outro lado dessa moeda, onde constantemente tem-se verificado a utilização dessa tecnologia a fim de se obter vantagens ilícitas, causar danos à outrem e até mesmo como meio para a prática de delitos. 
Esse atual panorama exigiu que o Estado se mobilizasse, de modo a conferir segurança às relações realizadas no âmbito digital. A principal inovação trazida foi a edição da Lei 12.965/14 (marco civil da internet), que estabeleceu direitos e garantias aos usuários e fornecedores do serviço de internet, regulamentou a responsabilização civil destes e estipulou os procedimentos a serem seguidos na seara processual. Mais que isso, foi uma verdadeira evolução legislativa, que fez com que a comunidade jurídica revesse inúmeros conceitos, a fim de alcançar a finalidade máxima estipulada pela Lei, que é uma internet limpa e segura para seus usuários e para as empresas prestadoras desses serviços.
Assim, o presente trabalho visa analisar de forma crítica, as principais inovações trazidas pela Lei 12.965/14 em comparativo com a jurisprudência dos tribunais anteriores à sua edição, além de uma revisão da literatura presente em nosso direito nacional, trazendo os principais pontos relacionados ao tema com o fim de proporcionar ao leitor uma fácil compreensão dos institutos ligados à matéria. [2: 4 Graduanda do 5° semestre de direito da Faculdade Nobre de Feira de Santana/Ba.5 Graduando do 5° semestre de direito da Faculdade Nobre de Feira de Santana/Ba.6 Graduanda do 5° semestre de direito da Faculdade Nobre de Feira de Santana/Ba.7 Graduanda do 5° semestre de direito da Faculdade Nobre de Feira de Santana/Ba8 Graduanda do 5° semestre de direito da Faculdade Nobre de Feira de Santana/Ba.9 Graduanda do 5° semestre de direito da Faculdade Nobre de Feira de Santana/Ba.]
1. RESPONSABILIDADE CIVIL (OBJETIVA E SUBJETIVA)
A Responsabilidade civil é um instrumento utilizado para reparar o dano causado a outrem em consequência do descumprimento de uma obrigação contratual ou de uma norma preexistente no ordenamento jurídico, seja o dano de cunho patrimonial, moral ou estético.
A responsabilidade civil pode ser classificada em contratual ou extracontratual (aquiliana). A primeira surge mediante o não cumprimento de normas estabelecidas pela autonomia privada previstas em contrato. Conforme estabelece o art. 389/CC, “não cumprida a obrigação, responde o devedor, por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado” (BRASIL, Congresso Nacional, 2002). Já a segunda, surge a partir da violação de normas gerais impostas pelo ordenamento jurídico, em que é primordial que não se cause dano a outrem.
No que tange à responsabilidade civil extracontratual, ela apresenta duas condutas basilares para a sua configuração, quais sejam o ato ilícito e o abuso de direito. De acordo com Tartuce (2016, p.486), “ato ilícito é a conduta humana que fere direitos subjetivos privados, estando em desacordo com a ordem jurídica e causando danos a alguém”, dessa forma, o ato ilícito consiste na violação dos direitos concomitantemente à ocorrência do dano resultando no dever de indenizar como forma de reparação. O art. 186/CC traz essa conduta como a ação ou omissão resultada de culpa em sentido amplo, incluindo o dolo, e a culpa em sentido estrito, agregando imprudência e negligência de forma explícita e a imperícia de forma implícita admitida como uma espécie de imprudência (BRASIL, 2002).
Já o abuso de direito consiste na conduta excessiva dos limites da boa-fé, dos bons costumes ou fim econômico ou social no exercício lícito de um direito; gerando dano haverá o dever de indenizar, posto que o abuso de direito também é considerado ato ilícito, segundo dispositivo legal constante no art. 187/CC “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos peloseu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes” (BRASIL, Congresso Nacional, 2002).
O direito civil brasileiro entende que a responsabilidade civil está fundamentada em duas teorias: objetiva e subjetiva, sendo a culpa o elemento que as difere. 
A responsabilidade civil subjetiva leva em consideração o elemento culpa, não sendo esta identificada não há que se falar em caracterização de responsabilidade. Em contrapartida na responsabilidade civil objetiva não é necessário o elemento culpa, senso suficiente para análise de responsabilidade, os elementos da conduta do agente, o nexo causal e o dano. A Lei determina quando é possível que ocorra a responsabilização objetiva do agente e quais as atividades que, pelo seu exercício, implicam risco de dano a outrem mesmo que isentas de culpa.
1.1 PRESSUPOSTOS DO DEVER DE INDENIZAR
Acerca dos elementos de Responsabilidade Civil é interessante ressaltar, de início, que não há um consenso em relação aos pressupostos do dever de indenizar. Alguns autores brasileiros não admitem a culpa como integrante do rol de elementos da responsabilidade civil a exemplo de Stolze e Pamplona (2012), que a consideram um elemento incidental do dever de indenizar. Já Venosa (2010) entende serem quatro (conduta, nexo causal, dano e culpa) os pressupostos básicos do dever de indenizar, incluindo a culpa como fundamental para a responsabilidade civil.	
A conduta humana corresponde ao comportamento do agente que implica numa ação ou omissão de forma consciente (dolo) ou ainda de forma imperita, imprudente ou negligente (culpa em stricto sensu). É conveniente salientar que tais condutas não se sujeitam a valoração quando se trata de responsabilidade civil, diferente do que ocorre na esfera Penal, em que a intensidade da culpa (valoração máxima e/ou mínima) tem relevância. 
O nexo de causalidade, também chamado de nexo causal, é o elo que há entre a conduta do agente (ação ou omissão) e o resultado danoso. Para explicar esse elemento da responsabilidade civil, a doutrina elenca três teorias quais sejam a teoria da equivalência das condições (Conditio sine qua non), teoria da causalidade adequada e teoria da causalidade direta e imediata.
Segundo Stolze e Pamplona (2012), a teoria desenvolvida pelo jurista Von Buri, mentor da teoria Conditio Sine qua non, os fatores causais se equivalem caso tenha relação com o resultado. Isso significa dizer que a análise da situação é feita de forma ampla, abrangendo todas as condutas que antecedem ao dano. Tal teoria não é adotada pelo ordenamento jurídico civil. 
No que diz respeito à teoria da causalidade adequada, a conduta que é levada em consideração é aquela que apresenta maior possibilidade de causar o resultado danoso. Dessa forma, é feito um juízo prévio entre as condutas e considera-se aquela que, sem a qual, o dano não seria gerado, posto que nem toda conduta anterior gera o dano. 
Já teoria da causalidade direta e imediata, também chamada de teoria da interrupção do nexo causal, entende que a conduta do agente tem de ser necessária à causa do dano, isso não significa dizer que a última conduta é causadora do resultado danoso, mas sim aquela que concorre direta e imediatamente para tal fim. 
Há discussão doutrinária com relação a teoria adotada pelo Código Civil de 2002; se é a teoria da causalidade adequada ou a teoria da causalidade direta e imediata devido a presença expressa desta última no Código Civil no art. 403: “Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na Lei processual”. Entretanto, deve-se fazer entendimento que o ordenamento jurídico brasileiro na esfera civil abrange ambas as teorias.
Por último, o dano é um elemento da responsabilidade civil preponderante, posto que sem ele não há que se falar em indenização; é o prejuízo resultante da conduta que violou um bem jurídico tutelado. Para ser indenizável é necessário a coexistência de três requisitos: o primeiro é a lesão ao bem jurídico tutelado, o simples aborrecimento não configura dano, o interesse lesionado deve ter proteção jurídica; o segundo é a certeza do dano, não podendo este ser dubitável ou intangível, abarcando prejuízos, tanto presentes quanto futuros, contanto que se tenha a certeza da perda; e o terceiro é a subsistência do dano, segundo o qual o dano deve estar presente para que haja indenização. Se porventura o dano já tiver sido reparado, não há exigibilidade de indenização.
1.2 EXCLUDENTES DE ILICITUDE
Na responsabilidade civil há excludentes de ilicitude em que, aquele que provocou o dano será eximido do dever de indenizar. Na responsabilidade civil subjetiva são considerados como excludentes de ilicitude o estado de necessidade, a legítima defesa, o exercício regular do direito, o cumprimento do dever legal, o caso fortuito e a força maior. Cabe ressaltar que em situações de legítima defesa e estado de necessidade, ao terceiro subsiste direito à indenização e ao agente, direito de regresso contra àquele que de fato contribuiu para o fato danoso. Na responsabilidade civil objetiva, são excludentes a culpa exclusiva da vítima, o ato e fato de terceiros, o caso fortuito e a força maior.
Além dessas hipóteses previstas em Lei, a responsabilidade também pode ser excluída por renúncia da vítima em relação à indenização e cláusula de não indenizar.
2. RELAÇÕES DIGITAIS
A era digital revolucionou bastante a vida das pessoas, principalmente no que tange as relações sociais. Criou-se um novo mundo, o mundo digital. Apesar de andar em paralelo ao mundo “real”, o mundo cibernético acabou ganhando independência, seguindo caminhos próprios e ditando as próprias regras. Se pensarmos no mundo em que vivemos a vinte anos atrás, talvez não conseguiríamos imaginar todo esse dinamismo que vemos nos dias atuais. Segundo Chaves (2015, p.704), “usufruímos, hoje, da chamada “memória social”, que é aquela acessada instantaneamente por meio da tecnologia”. 
Grande parte desse avanço tecnológico se deve à internet, graças a ela podemos acessar sites de notícias, compras e até mesmo nos comunicar com uma pessoa que esteja do outro lado do mundo. Podemos ver esse exemplo de simultaneidade em aplicativos de redes sociais, como Whatsapp e Facebook, que transmitem mensagens instantaneamente, podendo atingir um grande número de pessoas, causando diversas consequências a depender do conteúdo da mensagem. Hoje, é possível ver a importância dos celulares e tablets, que ultrapassaram até mesmo os computadores, por serem de fácil locomoção e proporcionarem maior comodidade aos usuários; em um passado não muito distante seria quase impossível não imaginarmos os computadores como protagonistas do direito digital.
 É notável essa inserção do mundo digital na sociedade quando falamos também das atividades que antes eram exercidas fisicamente, como por exemplo, os processos eletrônicos, que vem mostrando cada vez menos a importância do “papel”, já que podemos fazer as mesmas atividades eletronicamente. A urna eletrônica e o imposto de renda são outros exemplos de como a tecnologia tem entrado em nossas vidas.
A internet também gera fonte de renda para muitas pessoas, que passam a se sustentar através da mesma, como por exemplo, a publicidade. Grande parte das pessoas preferem fazer propagandas através da internet do que na televisão, visto que as redes sociais estão cada vez mais formando opiniões, principalmente por atingir um número muito grande de pessoas, o que antes era singular, agora tratamos no plural, com uma maior amplitude das informações. Com grande maestria, Cristiano Chaves nos diz que 
[...] a internet não apenas reproduz, com extrema velocidade, os fatos que acontecem no mundo físico-convencional. Ela cria novos fatos. As empresas e os governos, em especial, estão sujeitos a manifestações digitais, com repúdio e ataques diante desse ou daquele modo de agir. Também pessoas famosas podem ver umaavalanche digital se formar contra si, em razão, por exemplo, de um comentário infeliz ou desastrado. As reações podem ser desproporcionais ao fato que as originou, mas são uma realidade atual. A internet atua e influencia o mundo social em tempo real, não há espaço de tempo entre os acontecimentos e sua reconstrução, por assim dizer, digital. (CHAVES, 2016, p. 708).
Faz-se importante trazer o conceito de direito digital, que segundo Peck (2013, p.46) é “consiste na evolução do próprio Direito, abrangendo todos os princípios fundamentais e institutos que estão vigentes e são aplicados até hoje, assim como introduzindo novos institutos e elementos para o pensamento jurídico, em todas as suas áreas”; visto que no presente artigo irá tratar de um dos ramos do direito digital.
3. MARCO CIVIL DA INTERNET (HISTÓRICO E PRINCIPAIS INOVAÇÕES)
O interesse para regulamentação do uso da internet no Brasil teve seu início com o projeto de Lei 84/99 (PLC 89/03 no Senado) que foi bastante criticada devido à grande vigilância que objetivava. O principal inspirador para o projeto foi o “Decálogo do CGI.br”, realizado na 3ª reunião ordinária do Comitê Gestor da Internet no Brasil. O projeto específico do Marco Civil iniciou em outubro de 2009 através de debates proporcionados pela Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça e a escola de Direito do Rio de Janeiro da Faculdade Getúlio Vargas. Em abril de 2010 foi divulgada a primeira minuta do anteprojeto, após debates realizados na plataforma digital feita com o apoio do Ministério da Cultura. O Projeto de Lei 2126/11 foi apresentado pelo executivo o qual estabelecia princípios, garantias, direitos e deveres do uso da internet. Em 2012 foi instalada comissão especial para analisar a proposta, durante este período os debates virtuais continuaram. Em 2013 o projeto passou a tramitar em regime de urgência constitucional. O projeto foi aprovado na Câmara chegando ao Senado onde teve 41 propostas de emenda, porém foi aprovado o texto da Câmara no dia 22 de abril de 2014, sendo sancionado pela ex-presidente Dilma Rousseff no dia 23/04/2016, com vacatio legis de 60 dias.
O Marco Civil da Internet (Lei 12.965/14) estabeleceu diversos direitos, garantias e obrigações aos usuários e provedores de internet, como foi dito anteriormente. Como mencionado, a internet tem se tornado um meio bastante comum para a prática de ilícitos, e por conta disso o Marco Civil da Internet regulamentou o dever de guarda por parte dos provedores de conexão e de aplicação, dos dados e registros de conexão aos seus serviços, com o intuito de se possibilitar com mais facilidade a responsabilização das condutas ilícitas cometidas na internet.
O artigo 1º da Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres e determina diretrizes para atuação dos entes federativos em relação a matéria.
O uso da internet no Brasil terá como fundamento a liberdade de expressão, entre outros fundamentos. Os princípios são elencados no artigo terceiro onde encontra-se, além da garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento de acordo com a Constituição Federal; a proteção da privacidade dos dados pessoais, a preservação e garantia da neutralidade da Lei, a estabilidade, a segurança e funcionalidade da rede, a responsabilização dos agentes em suas atividades e liberdade dos modelos de negócios promovidos, desde que não conflitem com os demais princípios que existirem. Todos os princípios elencados na Lei, não excluem outros previstos no ordenamento jurídico, relacionados à matéria ou em tratados internacionais que o Brasil seja signatário.
Ao disciplinar o uso da internet, a Lei diz que todos terão direito ao acesso, tendo a possibilidade de obter informações, conhecimento e participação na vida cultural e assuntos políticos, promovendo a inovação e fomento com ampla difusão de tecnologias, devendo buscar padrões tecnológicos que permitam a comunicação, acessibilidade e interoperabilidade entre aplicações e bases de dados (arts. 3º e 4º da Lei 12.965/14).
O artigo 5º da Lei 12.965/14 conceitua algumas palavras importantes para o Direito Digital devendo o juiz, ao interpreta-la, considerar os usos e costumes e sua importância para a promoção do desenvolvimento humano, econômico, social e cultural. O usuário, ao utilizar-se da internet, terá a sua intimidade e privacidade protegida, podendo pleitear indenização por dano material ou moral caso ocorra violação (inciso I do artigo 7º da Lei 12.965/14). Ficando o ônus para o administrador dos dados de armazenar os acessos de seus usuários e disponibilizá-los caso exista decisão judicial os solicitando.
O artigo 9º da Lei trata sobre os responsáveis pela transmissão, comutação ou roteamento da internet, os quais deverão tratar os pacotes de dados de forma isonômica, não devendo restringir o acesso a sites, podendo vender pacotes de dados relativos a velocidade. 
Essas e outras tantas inovações que foram trazidas pelo Marco Civil da Internet, são institutos de extrema importância na atual realidade das relações sociais. Diante disso, será passado ao estudo dos diversos institutos ligados ao direito digital e a responsabilização civil nesta seara.
2.1 LIBERDADE DE EXPRESSÃO X CONDUTA ILÍCITA OU ABUSO DE DIREITO
A internet é a nova “ágora” com dimensão mundial que proporciona o rompimento de barreiras e capacita a difusão de ideias numa velocidade inigualável. Essa conexão está estritamente ligada com o mundo real, pois são diretamente influenciados um pelo outro, carregados em si por suas responsabilidades. O mundo digital tem como um de seus pressupostos a liberdade de expressão, que, no Brasil, veio acompanhada pela atual Democracia, instituída pela Constituição Federal de 1988, de acordo com seu art. 5º, inc. IV: 
Art. 5º Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
	
O anonimato virtual é um dos maiores impasses que a sociedade e o judiciário enfrentam quando o assunto é definir a responsabilidade. Para qualquer indivíduo fazer uma conta numa rede social é necessário criar um e-mail, nesse deve constar todas as informações relativas ao sujeito. Entretanto, isso nem sempre ocorre, é comum que esses indivíduos naveguem na internet sem a sua identificação, alterando seus dados verdadeiros e utilizando do que se chama de “perfil falso”, o que possibilita a violação da privacidade alheia, diante disso, torna-se ainda mais difícil a identificação dos responsáveis. Esse indivíduo desconhecido muitas vezes ataca no plano virtual uma vítima ou até mesmo uma sociedade inteira, acreditando que é meramente seu direito de expor a “liberdade de expressão”. No entanto, a liberdade que excede, abusa, ataca e ofende direito de outrem deverá arcar com a responsabilidade civil, cabendo indenização à vítima de acordo com o Informativo nº 0558, REsp 1.274.971-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, da Terceira Turma do STJ:
[...] é certo que a Constituição Federal, ao assegurar o direito à liberdade de manifestação do pensamento (art. 5º, IV), vedou o anonimato. Em razão disso, deve o provedor manter dados indispensáveis à identificação dos usuários. Isso decorre, inclusive, das disposições do art. 6º, III, do CDC, que instituiu o dever de informação nas relações de consumo. Observe-se, porém, que isso se aplica aos usuários que contrataram os serviços do provedor. Dessa forma, já que a CF veda o anonimato, os provedores de hospedagem de blogs têm de manter um sistema de identificação de usuários; todavia, não estão obrigados a exercer controle do conteúdo dos posts inseridos nos blogs. Deve o ofendido, portanto, realizar a indicação específica dos URL´s das páginas onde se encontra a mensagem considerada ofensiva, sem os quais não é possível ao provedorde hospedagem de blogs localizar, com segurança, determinada mensagem considerada ofensiva. REsp 1.274.971-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015, DJe 26/3/2015.
Ainda mais, nos relata o Informativo nº0460, REsp1.193.764-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi:
A Turma negou provimento ao recurso especial originário de ação de obrigação de fazer c/c indenização por danos morais proposta pela recorrente em desfavor do provedor de rede social de relacionamento (recorrido) sob a alegação de que foi alvo de ofensas proferidas em página da internet. Inicialmente, afirmou a Min. Relatora que a relação jurídica em questão constitui verdadeira relação de consumo sujeita ao CDC, mesmo se tratando de serviço gratuito, tendo em vista o ganho indireto alcançado pelo fornecedor. Contudo, consignou que o recorrido, por atuar, in casu, como provedor de conteúdo - já que apenas disponibiliza as informações inseridas por terceiros no site -, não responde de forma objetiva pelo conteúdo ilegal desses dados. [...]. Salientou, ainda, não se tratar de atividade de risco por não impor ônus maior que o de qualquer outra atividade comercial. Todavia, ressaltou que, a partir do momento em que o provedor toma conhecimento da existência do conteúdo ilegal, deve promover a sua remoção imediata; do contrário, será responsabilizado pelos danos daí decorrentes. Nesse contexto, frisou que o provedor deve possuir meios que permitam a identificação dos seus usuários de forma a coibir o anonimato, sob pena de responder subjetivamente por culpa in omittendo. REsp 1.193.764-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/12/2010.
A liberdade de expressão é um instrumento que conquistamos com a democracia, ela é regida por um viés significativo que transmite ao outro o que está no nosso ser, na nossa identidade. Contudo, existem os seus devidos limites, e caso o indivíduo se exceda a esses limites, deverá ser devidamente responsabilizado. Essa fronteira é ultrapassada no momento em que um sujeito expõe o seu ponto de vista surgindo, dessa forma, uma ofensa para o outro.
Um caso recente, v.g., é o da atriz e apresentadora Mônica Iozzi, que criticou em sua rede social Instagram, a decisão do ministro Gilmar Mendes sobre a concessão de Habeas Corpus para Roger Abdelmassih, médico que foi condenado a 278 anos de prisão por 58 estupros. A atriz postou uma imagem do ministro Gilmar Mendes como a palavra “cúmplice? ”, com a seguinte legenda: "Gilmar Mendes concedeu Habeas Corpus para Roger Abdelmassih, depois de sua condenação a 278 anos de prisão por 58 estupros". E no comentário da imagem escreveu: "Se um ministro do Supremo Tribunal Federal faz isso... Nem sei o que esperar...". No caso em comento, o ministro entendeu que a publicação extrapolou a liberdade de expressão, o ofendendo como se fosse a favor dos estupros, que teve uma alta repercussão e requereu uma indenização de 100 mil reais, porém foi deferido para 30 mil reais o valor indenizatório que a apresentadora deverá pagar para o ministro, de acordo com o número do processo 2016.01.1.062108 ­ 0 da IV Vara Cível de Brasília, este fora recorrido pela apresentadora (ROVER, 2016).
Observa-se que na liberdade de expressão virtual não existe uma determinação prévia de como os contextos vão ser disseminados, entretanto as práticas ilícitas e abusivas deverão ser responsabilizadas judicialmente. Essa prática não recai apenas em comentários em redes sociais, mas também em tudo que há no mundo virtual, seja até mesmo por e-mail, como preleciona Chaves (2016, p.361):
Os e-mails, se mal utilizados – como de resto qualquer ferramenta -, podem ensejar responsabilidade civil. São comuns, na jurisprudência, casos de dispensa por justa causa de empregado por mau uso do e-mail corporativo, seja para repasse de informações confidenciais para concorrentes, seja para compartilhar material pornográfico com colegas de trabalho; se o uso do e-mail, corporativo ou não, causar dano, por certo a indenização se impõe [...]
A conduta ilícita e o abuso do direito refletem proporcionalmente no mundo virtual e no mundo real. A utilização indevida da imagem de um indivíduo sem a sua autorização, mesmo que possa não haver ofensa à honra, vai refletir num processo indenizatório contra este. Assim, a prática de uma conduta ilícita pode recair num processo civil quanto no penal a depender do grau do dano.
Na esteira, a liberdade de expressão também está intimamente ligada com o chamado “direito ao esquecimento”, este que é antigo, veio à tona por conta da veiculação do ambiente virtual. Consiste em uma solicitação à justiça para que determinados fatos pretéritos relacionados à vida deste ou de outrem possam ser esquecidos das lembranças virtuais, pois com apenas um clique é fácil verificar tais recordações e na internet tudo torna-se eterno. Porém isso só é viável caso não haja interesse da sociedade que aquela informação permaneça no histórico virtual e o tempo tenha gerado esquecimento de fato para a sociedade. De acordo com o Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil, 2004: “A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento”. Dessa maneira, o indivíduo requer esse direito resguardado pela dignidade da pessoa humana, pois sente-se lesionado por essa memória e causa transtornos à sua vida atual. 
Nesse viés, o bullying também ganhou um avantajado habitat, que foi o meio virtual, recebendo o nome de cyberbullying. O ambiente virtual favoreceu aos agressores causarem danos às vítimas por conta do anonimato, da velocidade que as informações se passam e à disseminação da violência conectada ao mundo inteiro, se tornando afrontas que tomam proporções imensuráveis, pois, quanto mais tempo a ofensa permanece no meio virtual, mais difícil se torna a reparação do dano. A internet, que fora criada para o desenvolvimento humano, acabara sendo utilizada como verdadeira “arma virtual”, que reproduz agressões com imagens, textos, vídeos e montagens, e acabam por desestabilizar o indivíduo e a sua família. Dessa maneira, as responsabilidades decorrentes dessas condutas tornam-se muitas vezes irreparáveis, deve tentar o judiciário, a fim de conferir o caráter punitivo e educativo, que seja reparado o dano na medida de sua extensão, atendidas as peculiaridades do caso concreto como nos ensina Flumignan (2015, p.1): 
[...] não somente ao indivíduo que praticou o cyberbullying cabe indenizar a vítima. Ao provedor também poderá ser incumbido este dever. Na esfera dos provedores, já é pacificado pela doutrina e jurisprudência que a relação entre usuários e provedores é de consumo e, por esta razão, estaria sujeita ao regime do CDC. No entanto, não somente o CDC regula esta relação, devendo incidir também a Lei n. 12.965/14, o chamado “Marco Civil da Internet”.
No caput do art. 19 desta Lei está elencado que o provedor de aplicações de internet somente seria responsabilizado civilmente por danos advindos de conteúdo gerado por terceiros após deixar de cumprir em tempo hábil ordem judicial específica determinando sua retirada. Esse comando contraria anterior posicionamento do STJ de que esta notificação poderia ser extrajudicial, a qual deveria ser atendida no prazo de 24 horas.
	E mais:
O STJ já se posicionou no sentido de que a inércia do provedor, após notificado de conteúdo ilícito – no caso o cyberbullying -, gera responsabilização por eventuais danos. Nesta situação, o provedor passaria a responder de forma solidária com o autor do ilícito. Importante salientar que caso o cyberbullying decorra de conteúdo de nudez ou atos sexuais privados publicados sem consentimento, deverá ser removido pelo provedor de conteúdo mediante simples notificação extrajudicial, sob pena de ser subsidiariamente responsável, conforme o art. 21 do Marco Civil que vai ao encontro do posicionamento anterior, no que tange ao modo de notificação do provedor.
Assim, a era digital potencializa o grau do discurso e traz uma série de repercussões tanto positivas quanto negativas,sejam essas efêmeras ou permanentes, não basta que o indivíduo se sinta ofendido, ainda assim é necessário que exista uma análise judicial. O ser humano quer se expressar, dialogar sobre o seu “admirável mundo novo” e então essa liberdade passa a ser afetada a partir do instante em que o sistema dita o que deve ser dito e o que não deve ser dito. Dessa forma, a circulação de ideias podem ser corolários, sejam no viés crítico, reflexivo ou até, infelizmente, indenizatório.
3. CONCEITO DE PROVEDORES 
Nos últimos 15 anos tem-se vivido a invasão tecnológica em nossas vidas, como descrito no tópico anterior, cada vez mais os recursos eletrônicos vêm auxiliando e muitas vezes substituindo os seres humanos em inúmeras tarefas do cotidiano. Tudo isso se tornou possível em decorrência da expansão global da internet, que hoje ela faz parte praticamente de quase todos os lares ao redor do planeta.
A internet pode ser conceituada, segundo a Lei 12.965/14 em seu art. 5º, inc. I, como “o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes”. É através desse sistema de protocolos, conhecidos como IP´s, que o usuário terá acesso à rede mundial da internet, sendo eles verdadeiras “chaves de acesso” à internet.
A organização dessas chaves, ou seja, a estruturação de protocolos é feita por um provedor de conexão (ou de acesso), que é quem administra e cede aos usuários uma dessas chaves para que possa acessar a internet. Existem diferentes tipos de provedores, como os de backbone, conteúdo, aplicações, dentre outros. Assim, é importante verificar os conceitos dos provedores mais importantes.
Começaremos pelo provedor de backbone (ou de estrutura) que é capaz de lidar com um volume gigantesco de dados, dando suporte aos demais provedores que o utilizam. Ele pode ser conceituado segundo Ceroy (2014, p.1) como “a pessoa jurídica proprietária das redes capazes de administrar grandes volumes de informações, constituídos por roteadores de tráfego interligados por circuitos de alta velocidade”. No Brasil, esse serviço é realizado pela empresa Embratel.
Entretanto, o usuário de serviços de internet não se relaciona diretamente com esse tipo de provedor, quem lhe fornece as chaves de acesso à internet são os provedores de acesso (ou de conexão) que podem ser conceituados como “a pessoa jurídica fornecedora de serviços que consistem em possibilitar o acesso de seus consumidores à internet” (CEROY, 2014, p.1).
Temos o provedor de conteúdo ou de aplicação, sendo este “toda pessoa natural ou jurídica que disponibiliza na internet as informações criadas ou desenvolvidas pelos provedores de informação (ou autores), utilizando servidores próprios ou os serviços de um provedor de hospedagem para armazena-las” (CEROY, 2014, p.1).
A identificação acerca do tipo de provedor é essencial para que se verifique a forma de responsabilização civil do mesmo, em possíveis casos de condutas ilícitas praticadas no ambiente virtual.
3.1 PAPEL DOS PROVEDORES E SERVIDORES DE APLICAÇÃO DE INTERNET NO CONTROLE DE ATOS ILÍCITOS
Apesar de serem os verdadeiros guardiões das “chaves da internet”, os provedores de conexão não possuem a função de controle das informações produzidas pelos usuários em seus domínios. Entretanto, tem-se verificado que os provedores de aplicação de internet (como o facebook, o instagram e o youtube, por exemplo) têm cada vez mais desenvolvido ferramentas, com a finalidade de coibir a prática de ilícitos na seara digital, exemplo disso são as “denúncias” e “flags” que os próprios usuários desses serviços podem fazer dentro da aplicação, com o intuito de serem removidos os conteúdos tidos como inapropriados ou ofensivos a outrem. Essas ferramentas exercem um papel importantíssimo, são meios de controle extrajudiciais, que podem ser utilizadas pelos usuários dos serviços a fim de resguardarem seus direitos. Mesmo não tendo a obrigação legal de realizar esse controle do conteúdo, os provedores de aplicação deram esse passo adiante rumo a uma internet mais limpa e segura para o usuário.
Além disso, essas inovações facilitam a busca de conteúdo ilícito na internet e ajudam ao provedor de aplicação a cumprir com sua obrigação legal, imposta pela Lei 12.965/14, em colaborar com o poder judiciário na remoção do conteúdo lesivo da internet. É acerca disso que trataremos adiante.
 
3.2 DEVER DE GUARDA DOS PROVEDORES E INTERFERÊNCIA JUDICIAL
O art. 13 da Lei 12.965/14 nos traz a seguinte redação: “Na provisão de conexão à internet, cabe ao administrador de sistema autônomo respectivo o dever de manter os registros de conexão, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 1 (um) ano, nos termos do regulamento”. Significa dizer, que empresas que fornecem serviços de acesso à internet como por exemplo NET, VIVO e GVT, têm o dever de guardar os registros de conexão de usuário (e não os dados acessados), esses registros equivalem ao número do IP, data e hora do acesso e a respectiva URL (site) visitada. O mesmo se aplica aos provedores de aplicação na internet, diferença ocorre que o prazo de guarda para estes é de 6 (seis) meses, como se extrai do art. 15 da mesma Lei. Vale ressaltar que a guarda dos registros de acesso é uma obrigação do provedor de conexão e de aplicações, podendo inclusive recair sobre eles sanções de natureza administrativas em caso de descumprimento.
Essas informações podem ser solicitadas tanto pelo magistrado, quanto pelas partes, com o propósito de se fazer conjunto probatório em processo judicial, sendo de grande utilidade inclusive para que se verifique a responsabilização dos envolvidos em atos ilícitos virtuais. É mister verificar importante julgado do TJ/DF acerca do tema: 
PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. CAUTELAR. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO. PROVEDOR DE INTERNET. DIVULGAÇÃO DE DADOS PESSOAIS DE RESPONSÁVEL POR IP (INTERNET PROTOCOL). POSSIBILIDADE. LEI 16.965/2014 (MARCO CIVIL DA INTERNET). REQUISITOS ATENDIDOS. SUCUMBÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SENTENÇA REFORMADA. 1. Nos termos do art. 22 da Lei 16.965/2014 (Marco Civil da Internet), a parte interessada poderá, com o propósito de formar conjunto probatório em processo judicial cível ou penal, em caráter incidental ou autônomo, requerer ao juiz que ordene ao responsável pela guarda o fornecimento de registros de conexão ou de registros de acesso a aplicações de internet. [...] 5. Não se pode imputar a ré resistência ao pedido da autora, quando sua conduta em não fornecer a documentação está amparada em princípio constitucional quanto ao sigilo de informações, cuja divulgação importaria em ilícito passível de responsabilização civil, penal e administrativa e, no caso, a ré se dispõe a apresentar a documentação pretendida, desde que haja determinação judicial, nos termos da legislação pertinente. 6. Deu-se parcial provimento ao apelo.
(TJ-DF - APC: 20140110943756 DF 0022312-10.2014.8.07.0001, Relator: LEILA ARLANCH, Data de Julgamento: 26/11/2014, 2ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE: 10/12/2014. p.: 198).
Esse dever e a possibilidade de requisição pelo Poder Judiciário dessas informações são de vital importância para a análise da responsabilização civil em decorrência de fatos cometidos em ambiente virtual.
 
3.3 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES DE CONEXÃO E DE APLICATIVOS DE INTERNET
Diante dessa possibilidade de interferência judicial nas empresas prestadoras do serviço de internet, surge questão importante a ser analisada, que é a definição da responsabilidade civil dos provedores de conexão, bem como os de aplicação de internet. O anonimato, e a dificuldade de se rastrear os autores dessas condutas, tornam ainda mais complicado a reparação do dano à vítima, diante disso, a Lei 12.965/14 traz alguns deveres aos provedores de conexão e aplicação de modo a conferir uma maior segurança aos lesados por condutas praticadas em seus domínios.No que concerne à responsabilidade civil dos provedores de aplicações de internet, há um feixe de questões complexas que norteiam o tema, sobretudo por tratar-se de um novo campo, onde havia uma jurisprudência pacífica anterior a vigência do Marco Civil. Todavia, após a introdução desta legislação específica atual, que é tida para muitos como “a constituição da internet”, a doutrina vem adequando seu arcabouço jurídico diante as inovações trazidas e a linha jurisprudencial encontra-se ainda em maturação.
“Além disso, cabe ressaltar ainda que cada espécie de provedor possui uma maneira peculiar de aplicação do Instituto da Responsabilidade Civil ante o delito virtual praticado por seu usuário” (BIJOS, 2011, p.15).
A partir da análise do art. 18 da Lei 12.965/14 que diz “O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros”. Basicamente, empresas que fornecem o serviço de internet, sendo meras portas da internet aos seus usuários estarão isentas de indenizar vítimas de atos ilícitos praticados no ambiente virtual, o que é um grande avanço legislativo, pois, responsabilizar uma empresa que fornece serviço de internet em decorrência de um ato praticado por terceiro, seria o mesmo que responsabilizar uma empresa que fabrique martelo por conta de um assassinato praticado com um de seus martelos.
A divergência ocorre quando se trata de provedores de aplicação de internet. Anterior à edição do Marco Civil da Internet, era o Código de Defesa do consumidor que disciplinava as relações virtuais, considerando uma relação consumerista entre os usuários e os provedores de aplicações, o que levava a uma dúvida sobre qual tipo de responsabilidade se aplicariam a esses provedores, se respondiam objetiva ou subjetivamente. De fato, era pacífico na jurisprudência do STJ a responsabilização objetiva desses provedores, conforme se tira do julgado abaixo:
CIVIL E CONSUMIDOR. INTERNET. RELAÇÃO DE CONSUMO. INCIDÊNCIA DO CDC.GRATUIDADE DO SERVIÇO. INDIFERENÇA. PROVEDOR DE CONTEÚDO.FISCALIZAÇÃO PRÉVIA DO TEOR DAS INFORMAÇÕES POSTADAS NO SITE PELOS USUÁRIOS. DESNECESSIDADE. MENSAGEM DE CONTEÚDO OFENSIVO. DANO MORAL.RISCO INERENTE AO NEGÓCIO. INEXISTÊNCIA. CIÊNCIA DA EXISTÊNCIA DECONTEÚDO ILÍCITO. RETIRADA IMEDIATA DO AR. DEVER. DISPONIBILIZAÇÃO DE MEIOS PARA IDENTIFICAÇÃO DE CADA USUÁRIO. DEVER. REGISTRO DO NÚMERO DE IP. SUFICIÊNCIA. 1. A exploração comercial da internet sujeita as relações de consumo daí advindas à Lei nº 8.078/90. 2. O fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de internet ser gratuito não desvirtua a relação de consumo, pois o termo "mediante remuneração", contido no art. 3º, § 2º, do CDC, deve ser interpretado de forma ampla, de modo a incluir o ganho indireto do fornecedor. 3. A fiscalização prévia, pelo provedor de conteúdo, do teor das informações postadas na web por cada usuário não é atividade intrínseca ao serviço prestado, de modo que não se pode reputar defeituoso, nos termos do art. 14 do CDC, o site que não examina e filtra os dados e imagens nele inseridos. 4. O dano moral decorrente de mensagens com conteúdo ofensivo inseridas no site pelo usuário não constitui risco inerente à atividade dos provedores de conteúdo, de modo que não se lhes aplica a responsabilidade objetiva prevista no art. 927, parágrafo único do CC/02. [...] 6. Ao oferecer um serviço por meio do qual se possibilita que os usuários externem livremente sua opinião, deve o provedor de conteúdo ter o cuidado de propiciar meios para que se possa identificar cada um desses usuários, coibindo o anonimato e atribuindo a cada manifestação uma autoria certa e determinada. Sob a ótica da diligência média que se espera do provedor, deve este adotar as providências que, conforme as circunstâncias específicas de cada caso, estiverem ao seu alcance para a individualização dos usuários do site, sob pena de responsabilização subjetiva por culpa in omittendo. [...] 8. Recurso especial provido.
(STJ - REsp: 1186616 MG 2010/0051226-3, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 23/08/2011, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 31/08/2011).
Após a edição do Marco Civil da Internet, essa jurisprudência do STJ deverá ser modificada, pois, como se extrai da leitura do art. 19 da Lei 12.965/14, os provedores de aplicação (conteúdo) somente poderão ser responsabilizados em decorrência do conteúdo postado por terceiros se, após ordem judicial específica, não agirem dentro dos limites técnicos dos seus serviços, para tornar indisponível o conteúdo tido como ilícito. O parágrafo primeiro do artigo citado, também traz a obrigatoriedade do reclamante de apontar especificamente qual o conteúdo que considera violador de seus direitos.
Logo, a responsabilização dos provedores de aplicação só se dará se este, dentro dos limites técnicos de seu serviço, não der cumprimento a efetiva ordem judicial. E, conforme se retira da leitura do referido art. 19, a não realização do mandamento de cooperação expedido pelo juiz, traz a responsabilidade solidária do provedor de aplicação. Nesse sentido a “responsabilidade civil do provedor de aplicação continuará sendo solidária, por força do art. 7º, parágrafo único, do CDC e do art. 942, parágrafo único, do CC (tendo em vista que, ao não acatar a ordem judicial, o provedor de aplicação pode ser havido como coautor do ato ofensivo)” (OLIVEIRA, 2014, p. 20).
3.4 DEVER DE INDENIZAR DOS PROVEDORES
Como exposto no início do presente trabalho, o art. 186 do CC/02 diz que “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” e o art. 927 do mesmo diploma preceitua “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. A indenização conforme define Stolze e Pamplona (2014, p.282) é 
[...] toda reparação ou contribuição pecuniária que se efetiva para satisfazer um pagamento a que se está obrigado ou que se apresenta como dever jurídico. Traz a finalidade de integrar o patrimônio da pessoa daquilo de que se desfalcou pelos desembolsos, de recompô-lo pelas perdas ou prejuízos sofridos (danos), ou ainda de acrescê-lo dos proventos, a que faz jus a pessoa, pelo seu trabalho. 
Assim, a mesma regra aplica-se aos provedores de aplicação de internet, como vimos, o dever de indenizar destes se reflete diante de uma conduta omissiva perante uma ordem judicial para a retirada de conteúdo ilícito postado em suas plataformas e que causou danos à outrem. Como citado no tópico anterior, a responsabilidade dos provedores de aplicação se torna solidária no caso de não cumprimento ao mandamento judicial.
Entretanto, o próprio Marco Civil excepciona a responsabilização solidária do provedor de aplicações, tornando-a subsidiária nos casos decorrentes de violação de intimidade, conforme descrito no art. 21 da referida Lei, descrito abaixo.
O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo.
Verifica-se no dispositivo duas exceções, a primeira quanto ao dever de indenizar, que como falamos, será subsidiário; a segunda, é referente ao nascimento da obrigação de retirar o conteúdo ilícito, enquanto que na regra geral do art. 19 o provedor somente era obrigado a remover o conteúdo tido como violador após ordem judicial específica, o art. 21 torna possível que aquele tenha o dever de agir a partir da mera comunicação extrajudicial, tendo em vista a importância dos direitos violados.
Por fim, a indenização devidaaos provedores de aplicação que não atuem em consonância com a ordem judicial específica que determine a remoção de conteúdo ilícito, se dará de acordo com a extensão do dano causado à vítima, conforme se extrai do art. 944 CC/02, citado a seguir: “A indenização mede-se pela extensão do dano”.
4. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS USUÁRIOS DE SERVIÇOS DIGITAIS 
A partir da análise sistêmica do Código Civil e da Lei 12.965/14, podemos observar que a responsabilização civil dos provedores de internet somente ocorre caso este, dentro dos limites técnicos dos seus serviços, não colaborem com a justiça a fim de disponibilizarem o conteúdo tido como ilícito por decisão judicial. Assim, a Lei busca em primeiro plano, a responsabilização do autor do conteúdo ilícito, ou seja, aquele que produziu ou publicou o conteúdo lesivo à terceiro.
Segundo Zago (2010, p.5), usuários “são as pessoas, tanto físicas com jurídicas, tanto públicas quanto privadas, que usam a internet, para acessar sites, interagir umas com as outras ou disponibilizar conteúdos”. Desse modo todos os elencados anteriormente, poderão ser responsabilizados caso haja uma dissonância com a conduta lícita na seara social.
Essa responsabilização segue regra geral de imputação do art. 186/CC 2002, citado no início do presente trabalho. Assim, consegue-se dar pleno efetivo ao disposto no Código Civil, bem como a regulamentação trazida pelo Marco Civil da Internet. 
Dentre os ilícitos mais praticados na internet estão os atos de ofensa à honra. Diante dessa conduta, quem publica a ofensa originalmente será responsabilizado, e também da mesma forma o será aquele que compartilhar o conteúdo ofensivo na internet, uma vez que o ato de compartilhar traduz a ideia de concordância, ratificação daquele que foi publicado.
No ano de 2013, o Tribunal de Justiça de São Paulo conservou decisão do Juízo de primeira instância que versava sobre a condenação de duas mulheres ao pagamento de indenização por danos morais, e uma delas foi condenada a indenizar por ter sido responsável pelo compartilhamento do conteúdo lesivo à honra. Cabe ressaltar que esta decisão emitida pelo TJ/SP foi a primeira nesse sentido. 
RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – RÉS QUE DIVULGARAM TEXTO E FIZERAM COMENTÁRIOS NA REDE SOCIAL “FACEBOOK” SEM SE CERTIFICAREM DA VERACIDADE DOS FATOS – ATUAÇÃO DAS REQUERIDAS QUE EVIDENTEMENTE DENEGRIU A IMAGEM DO AUTOR, CAUSANDO-LHE DANOS MORAIS QUE PASSIVEIS DE INDENIZAÇÃO – LIBERDADE DE EXPRESSÃO DAS REQUERIDAS (ART. 5, IX, CF) QUE DEVE OBSERVAR O DIREITO DO AUTOR DE INDENIZAÇÃO QUANDO VIOLADA A SUA À HONRA E IMAGEM, DIREITO ESTE TAMBÉM CONSTITUCIONALMENTE DISPOSTO (ART. 5, V, X, CF) – VALOR ARBITRADO A TÍTULO DE DANOS MORAIS QUE DEVE SER REDUZIDO PARA FUGIR DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DA PARTE PREJUDICADA, PORÉM, MANTENDO O SEU CARÁTER EDUCACIONAL A FIM DE COIBIR NOVAS CONDUTAS ILÍCITAS – SENTENÇA PARCIALMENTE MODIFICADA, PARA MINORAR O QUANTUM INDENIZATÓRIO. RECURSOS PARCIALMENTE PROVIDOS (Processo nº: 4000515-21.2013.8.26.0451 - 2013/000642).	
A vítima que tiver sua honra ofendida na esfera digital, deve guardar todo o conteúdo ofensivo como aponta o art. 19 do Marco Civil, servindo como prova em juízo. Sobre isso, Chaves traz que:
Um aspecto complexo – mais um – na responsabilidade civil digital diz respeito aos meios de prova. Registre-se que os meios de prova – em processos que versem a respeito da responsabilidade civil no universo digital – poderão recair não só sobre os modos físico-convencionais, mas também sobre documentos eletrônicos ou assemelhados. Não há vedação em nosso ordenamento para que assim o seja, nem no Código Civil, nem no Código de Processo Civil. Pode-se, assim, provar registros de conexões, horários de acesso, dados cadastrais dos provedores, registros de logs (que permitem, por assim dizer, reconstituir o que aconteceu no computador) etc. A verificação dos IPs também pode se mostrar relevante, além – havendo necessidade – da perícia nos computadores. Outra possibilidade, valiosa em termos de responsabilidade civil, é que se procure um cartório de notas para que sejam feitas atas notariais dando conta de que determinada página, acessada naquele dia, continha essa ou aquela informação, como forma de conferir fé pública ao fato (CHAVES, 2015. p.725)
Assim, por meio de uma cooperação entre os provedores de conexão (que detém as informações acerca dos registros de acesso) e dos provedores de aplicação de internet (que irão identificar o autor ilícito) é que se chegará a responsabilização civil do autor do dano, nos moldes previstos no Código Civil.
4.1 DEVER DE INDENIZAR DOS USUÁRIOS
Ao colocar o dever de indenizar, a Lei busca equilíbrio social e jurídico – econômico que foi quebrado, permitindo assim que a vítima volte ao status que se encontrava antes do acontecimento ilícito, devendo a indenização ser proporcional ao dano. Como exposto nos itens anteriores, a indenização decorrente de atos ilícitos praticados na seara digital segue a regra geral disciplinada nos arts. 944 a 954 do CC/02.
5. CONCLUSÃO
Dentro da problemática das relações digitais, pode-se observar uma crescente migração das mais simples tarefas do dia-a-dia sendo realizadas por meios eletrônico. Isto criou um panorama propenso a fraudes e diversas outras condutas ilícitas que devem ser combatidas pelo Estado. Diversos institutos como a responsabilidade civil, as tipificações penais e as diversas ferramentas criadas pelas empresas prestadoras do serviço de internet tem sido de grande importância para o combate à essas condutas.
A Lei 12.965/14 que buscou regulamentar alguns conceitos acerca da matéria e conferir uma tipificação específica acerca de como se responsabilizará tais condutas, foi um grande avanço da legislação. Além de modificar uma jurisprudência até então pacífica sobre o tema, esclareceu os procedimentos a serem tomados pelas vítimas de condutas praticadas na seara digital.
Por ser recente, ainda há um vasto campo a ser estudado, não se pode parar unicamente na regulamentação legal e aguardar que esta confira a sociedade efeitos sem que esta mesma sociedade colabore para tais. É necessário que os próprios cidadãos busquem a efetivação de seus princípios, como a liberdade de expressão, e se ajudem para seja possível alcançar esse fim colimado pela Lei, uma internet livre e justa para todos. 
REFERÊNCIAS
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BIJOS, Leila Maria da Juda. Responsabilidade civil dos provedores pelos atos ilícitos praticados no âmbito da internet. Revista eletrônica do mestrado em direito da UFAL, Alagoas, v. 2, n. 2, p. 23-43, jan 2011.
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BRASIL. Congresso Nacional. Código de Defesa do Consumidor. Brasília, 1990.
BRASIL, Congresso Nacional. Lei 12.965/14. Brasília. 2014.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Na hipótese em que tenham sido publicadas, em um blog, ofensas à honra de alguém, incumbe ao ofendido que pleiteia judicialmente a identificação e rastreamento dos autores das referidas ofensas e não ao provedor de hospedagem do blog a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontram as mensagens. REsp 1.274.971-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015, DJe 26/3/2015.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. A Turma negou provimento ao recurso especial originário de ação de obrigação de fazer c/c indenização por danos morais proposta pela recorrente em desfavor do provedor de rede social de relacionamento (recorrido) sob a alegação de que foi alvo de ofensas proferidas em página da internet. REsp 1.193.764-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/12/2010.CEROY, Frederico Meinberg. Os conceitos de provedores no Marco Civil da Internet. 2014. Disponível em <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI211753,51045Os+ conceitos+de+provedores+no+Marco+Civil+da+Internet>. Acesso em 02 set. 2016.
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ZAGO, Gabriela da Silva. A Possibilidade de Responsabilização Civil de Terceiros por Comentários na Internet. 2010. Disponível em <http://www.usp.br/anagrama/Zago_responsabilizacaocivil.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2016

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