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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE NATAL/RN CAIO, já qualificado nos autos da ação penal nº ..., que lhe move a Justiça Pública, por seu advogado que esta subscreve, não se conformando com a respeitável sentença condenatória, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, dentro do prazo legal, interpor RECURSO DE APELAÇÃO com fulcro no artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal. Requer seja recebida e processada a presente apelação e encaminhada, com as inclusas razões, ao E. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte. Termos em que, Pede deferimento. Local, 13 de julho de 2015. Advogado, OAB 2 RAZÕES DE APELAÇÃO Processo nº ... Apelante: Caio Apelada: Justiça Pública Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, Colenda Câmara, Douto Representante do Ministério Público Em que pese o indiscutível saber jurídico do MM. Juiz “a quo”, impõe-se a reforma da respeitável sentença proferida contra a apelante, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. I – DOS FATOS Rita foi denunciada, processada e condenada pelo Juízo de primeiro grau pela prática do crime tipificado no artigo 213 do Código Penal, por duas vezes, na forma do artigo 71 também do Código Penal, já que, segundo consta da denúncia, no carnaval de 2015, no mês de fevereiro, obrigou a vítima Joana, mediante grave ameaça, a praticar com ele conjunção carnal e outros atos libidinosos. A pena foi fixada no total de 10 anos e 6 meses de reclusão, em regime inicial fechado. II – DO DIREITO (APRESENTAÇÃO DA TESE) Deve ser afastado o concurso de crimes aplicado na r. sentença de primeiro, já que se trata de crime único. Vejamos. (PREMISSA MAIOR) Nos termos do artigo 213 do Código Penal, configura-se o crime de estupro mediante a conduta de “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. O tipo penal em questão é classificado como misto alternativo, de modo que há crime único ainda que praticada mais de uma conduta no mesmo contexto contra a mesma vítima. (PREMISSA MENOR) No caso, em uma noite do carnaval de 2015, o apelante foi até a casa de Joana e, utilizando-se de grave ameaça, obrigou-a a praticar 3 conjunção carnal e outros atos libidinosos com ele. Depois, o apelante deixou o local, exigindo que Joana não contasse o ocorrido para qualquer pessoa. Ora, conforme se verifica dos fatos objeto do presente feito, houve a prática de conjunção carnal e outros atos libidinosos, mas todos eles ocorreram no mesmo contexto e tiveram como vítima Joana. (CONCLUSÃO) Assim, não há que se falar em concurso de crimes, como decidido pelo Juízo sentenciante, mas sim em crime único. (APRESENTAÇÃO DA TESE) De outro lado, mostra indevido o aumento operado na primeira fase da dosimetria da pena. (PREMISSA MAIOR) Nos termos do artigo 59 do Código penal, ao fixar a pena- base do condenado deverá atender “à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima”. A esse respeito, conforme o entendimento firmado na Súmula 444 do C. Superior Tribunal de Justiça, “é vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base”. (PREMISSA MENOR) No caso em pauta, a pena-base de Caio foi exasperada ao fundamento de que teria maus antecedentes, bem como de que houve violação da liberdade sexual da mulher. Ocorre que os apontamentos constantes de sua folha de antecedentes indicam a existência de dois outros processos criminais ainda em andamento, não havendo trânsito em julgado das mencionadas condenações. Quanto ao aumento pela violação à liberdade sexual da mulher, verifica-se a ocorrência de bis in idem, já que tal circunstância é inerente ao tipo penal em questão. (CONCLUSÃO) Mostrando-se indevidos os fundamentos apresentados pelo Juiz neste ponto da sentença, a pena-base de Caio deve ser reduzida ao patamar mínimo legal. (APRESENTAÇÃO DA TESE) Ainda, mostram-se aplicáveis as circunstâncias atenuantes da menoridade relativa e da confissão espontânea. (PREMISSA MAIOR) Consoante dispõem os incisos I e III, alínea “d”, do artigo 65 do Código Penal, deve ser atenuada a pena do réu que era menor de 21 na data dos fatos, bem como daquele que espontaneamente confessa a prática delitiva. (PREMISSA MENOR) Caio nasceu em 25 de março de 1994, sendo que o delito foi cometido em fevereiro de 2015, ou seja, quando ainda era menor de 21 anos. 4 Ora, sendo assim, deve incidir a referida atenuante, mesmo que atualmente ele seja maior de 21 anos. Ademais, consta dos autos que o apelante confessou ter praticado as condutas constantes da denúncia, o que faz incidir também a atenuante da confissão espontânea. (CONCLUSÃO) Portanto, na segunda fase da dosimetria da pena, devem ser aplicadas as atenuantes previstas nos incisos I e III, alínea “d”, do artigo 65 do Código Penal. (APRESENTAÇÃO DA TESE) Subsidiariamente, caso seja mantida a condenação por dois crimes de estupro, em continuidade delitiva, deve ser reduzido o respectivo aumento. (PREMISSA MAIOR) Dispõe o artigo 71 do Código Penal que, praticados os crimes em continuidade, a pena será exasperada de 1/6 a 2/3. Em leitura a esse dispositivo, a jurisprudência firmou o entendimento de que o critério a ser adotado para fixação do quantum de redução é o número de condutas praticadas. (PREMISSA MENOR) In casu, como visto, a condenação foi por apenas dois crimes de estupro, o que determina o aumento mínimo, não se justificando a exasperação em 1/2 operada pelo Magistrado sentenciante. (CONCLUSÃO) Assim sendo, se mantido o concurso de crimes, o respectivo aumento deve ser no patamar mínimo de 1/6. (APRESENTAÇÃO DA TESE) Por fim, a sentença deve ser reformada quanto ao regime inicial para o cumprimento da pena privativa de liberdade. (PREMISSA MAIOR) Prevê o artigo 33, §2º, alínea “b”, do Código Penal que “o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto”. Neste ponto, cumpre destacar que o fato de crime em tela ser hediondo, nos termos do artigo 1º, inciso V, da Lei 8.072/90, não determina a imposição do regime inicialmente fechado, já que a previsão do artigo 2º, §1º, de tal Lei é inconstitucional, já que viola o princípio da individualização da pena (artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal). (PREMISSA MENOR) No presente caso, a justificativa apresentada em sentença foi justamente a mencionada previsão do regime inicialmente aberto contida na Lei de Crimes Hediondos. 5 (CONCLUSÃO) Portanto, deve ser determinado o início do cumprimento da pena corporal no regime semiaberto, adequado à quantidade de pena aplicada, em atenção à individualização da pena. III – DO PEDIDO Ante o exposto, requer seja o presente recurso conhecido e provido, para que seja reconhecida a ocorrência de crime único de estupro, com a redução da pena- base ao patamar mínimo legal e o reconhecimento das atenuantes da menoridade relativa e da confissão, previstas nos incisos I e III, alínea “d”, do artigo 65 do Código Penal. Subsidiariamente, mantido o concurso de crimes, requer-se a redução do aumento ao patamar mínimo de 1/6. Em qualquer dos casos,pugna-se pela fixação do regime inicialmente semiaberto, nos termos do artigo 33, §2º, alínea “b”, do Código Penal. Local, 13 de julho de 2015. Advogado OAB
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