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REINCIDÊNCIA É o estado jurídico do condenado no Brasil que se encontra nas situações descritas no artigo 63 CP ou 7º LCP. A reincidência pressupõe uma sentença condenatória transitada em julgado por prática de crime. Há reincidência somente quando o novo crime é cometido após a sentença condenatória de que não cabe mais recurso. A condenação irrecorrível anterior deve ter fundamento na prática de um crime e não de contravenção. Nos termos do art. 63, verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, tenha-o condenado por crime anterior. Para complementar esta regra, encontra-se previsto no art. 7º da Lei das Contravenções Penais que também há reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer outro crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção. O quadro abaixo facilita a compreensão em torno das hipóteses de reincidência decorrentes da combinação dos dois dispositivos referidos: A sentença estrangeira não depende de homologação para produzir reincidência, impedir a obtenção de sursis ou para aumentar o período para concessão de livramento condicional. É de ver que a reincidência, nos termos do art. 63 do CP, configura-se quando o agente pratica novo crime, depois de condenado, com trânsito em julgado, no Brasil ou no estrangeiro, por crime anterior. Esta condenação proferida fora do nosso país é que não requer qualquer tipo de homologação para gerar reincidência pelos fatos aqui cometidos. Exige-se, todavia, prova idônea de que tenha havido tal condenação, consistente em documento oficial expedido pela nação estrangeira, traduzido por tradutor juramentado. Qual a diferença entre réu primário e réu reincidente? A distinção entre reincidência e maus antecedentes: que o crime pelo qual o réu esteja sendo condenado tenha sido praticado após o trânsito em julgado da sentença que o condenou pelo crime anterior; que, na data do novo crime, não se tenham passado 5 anos desde a extinção da pena do delito anterior. Assim, em havendo condenação anterior definitiva, mas ausente algum desses requisitos, somente se poderá cogitar de maus antecedentes, e não de reincidência. ■ Condenações anteriores que não geram reincidência O art. 64, II, do Código Penal estabelece que, para o reconhecimento de reincidência, não se consideram: a) os crimes militares próprios, que são aqueles previstos no Código Penal Militar e que não encontram descrição semelhante na legislação penal comum, como crimes de deserção e insubordinação. Porém, a condenação anterior por crime militar impróprio gera reincidência (ex.: estupro ou furto cometidos por militar em serviço); b) os crimes políticos: “são os que atentam contra o sistema de segurança ou organização interna ou externa do Estado,ou ainda lesam bem jurídico tutelado pela legislação ordinária”. Observação: A condenação anterior à pena exclusivamente de multa pela prática de crime não exclui a possibilidade de reincidência. ■ Prova da reincidência É feita por meio de certidão judicial emitida pelo cartório onde ocorreu a condenação transitada em julgado. A mera confissão do acusado, admitindo que já foi condenado, não é suficiente. ■ Incomunicabilidade da reincidência A reincidência é circunstância de caráter pessoal e, portanto, não se comunica aos corréus em caso de concurso de agentes, nos exatos termos do art. 30 do Código Penal. ■ Reincidência e maus antecedentes em face da mesma condenação anterior Alguns juízes incorrem no erro de reconhecer uma única condenação anterior do acusado como maus antecedentes e concomitantemente como agravante genérica, providência que evidentemente constitui bis in idem. Assim, se o juiz percebe que o acusado é reincidente, deve se abster na primeira fase de fixação da pena de reconhecê-lo como portador de maus antecedentes para, na segunda fase, aplicar a agravante da reincidência. É o que diz inclusive a Súmula n. 241 do Superior Tribunal de Justiça: “a reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial”. É claro, por sua vez, que, se o acusado possui mais de uma condenação anterior, o juiz pode reconhecer, na nova sentença, os maus antecedentes e a reincidência. Efeitos da reincidência Além de constituir agravante genérica, a reincidência é tema de grande relevância na disciplina penal, tendo várias outras consequências previstas no âmbito do Código Penal e em leis especiais. O quadro abaixo demonstra a importância do instituto. Observações: Não é atributo pessoal do sujeito, é um status declarado. Não é a prática reiterada de um crime. Se o novo crime, por exemplo, vier a ser cometido pelo agente enquanto estava em curso o prazo para recurso da decisão que o havia condenado, como não tinha ocorrido, ainda, o seu trânsito em julgado, essa sentença, posteriormente, não servirá para efeitos de reincidência, sendo aproveitada, contudo, para fins de caracterização de maus antecedentes. Como regra geral, o CP afastou a chamada reincidência específica, sendo suficiente a prática de crime anterior – independentemente das suas características -, que pode ou não ser idêntico ou ter o mesmo bem juridicamente protegido pelo crime posterior, praticado após o trânsito em julgado da sentença condenatória. O art. 64, I, diz o seguinte: “Para efeito de reincidência, não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a cinco anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação”. O termo a quo do prazo de cinco anos é a data: do cumprimento da pena; de sua extinção por outra causa. ou do início do período de prova do SURSIS ou do livramento condicional (No caso do sursis e do livramento condicional, o prazo começa na data da audiência admonitória - desde que estes benefícios não sejam posteriormente revogados pelo juízo das execuções. Caso haja revogação, o prazo será contado, em ambas as hipóteses, do dia em que o agente terminar de cumprir a pena). Se o novo delito for cometido após esses 5 anos, o indivíduo será considerado portador de maus antecedentes, mas não reincidente. Em face do decurso de tempo, o réu continua a ser condenado e a sentença prossegue sendo decisão condenatória. Ocorre que, pelo decurso de certo lapso temporal, a sentença perde a eficácia de gerar a reincidência. Assim, se o agente vier a cometer novo crime depois de cinco anos da extinção da primeira pena, a anterior sentença condenatória não terá força de gerar a agravação da pena, uma vez que o réu não será considerado reincidente. O que possui limite temporal é a eficácia da condenação anterior como exigência necessária para o sujeito adquirir a qualidade de reincidente. A lei se refere à condenação anterior e não à primeira condenação, de forma que, em caso de sucessão de condenações, devemos tomar em conta a penúltima, não a primeira. Não há reincidência se a pretensão estatal em relação ao delito anterior foi atingida pela anistia. REFERÊNCIAS Bitencourt, Cezar Roberto.Tratado de direito penal : parte geral, 1.17. ed. rev.,ampl. e atual. deacordo com a Lei n. 12.550, de 2011. – São Paulo : Saraiva, 2012. Estefam, André; Gonçalves, Victor Eduardo Rios. Direito penal esquematizado : parte geral. São Paulo : Saraiva, 2012. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Vol. I, 15ª Edição. Niterói: Impetus, 2013. Jesus, Damásio de. Direito penal, volume 1 : parte geral. 34. ed. — São Paulo : Saraiva, 2013. QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: Parte Geral. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
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