Buscar

Ações de controle de constitucionalidade comparação

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Este  texto  foi  publicado  no  site  Jus  Navigandi  no  endereço
https://jus.com.br/artigos/26029
Para ver outras publicações como esta, acesse http://jus.com.br
Estudo comparado das ações próprias em controle de constitucionalidade
Estudo comparado das ações próprias em controle de constitucionalidade
Francisco Gilney Bezerra de Carvalho Ferreira
Publicado em 12/2013. Elaborado em 11/2013.
Estudo  comparado  entre  as  ações  próprias  de  controle  de  constitucionalidade,  sistematizando  as
semelhanças e diferenças existentes entre elas e entendendo a razão de ser das particularidades que cada
uma traz.
Sumário:  1.  Introdução  –  2. Ações  Próprias  em Controle  de Constitucionalidade  –  3. Ação Direta  de  Inconstitucionalidade  (ADI)  –  4. Ação
Direta de Constitucionalidade (ADC) – 5. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) – 6. Conclusão.
1. INTRODUÇÃO
O  art.  102,  “a”  e  §1°,  da  Constituição  Federal  de  1988  estabelece  três  espécies  de  ações  próprias  para  fins  de  controle  abstrato  de
constitucionalidade,  são  elas:  (i)  ADI  (Ação  Direta  de  Inconstitucionalidade),  que  pode  ser  por  Ação  (simplesmente  ADI)  ou  por  Omissão
(ADO); (ii) ADC (Ação Direita de Constitucionalidade); e (iii) ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental). Além destas, há,
ainda, a chamada ADI interventiva, mas esta não se trata de controle abstrato, e sim concreto, porém exercido de forma concentrada. A ADI (por
ação  e  omissão)  e ADC,  são  reguladas  na  Lei  n.  9868/99,  enquanto  a ADPF  tem  previsão  na  Lei  n.  9882/99.  Isto  é,  além  dos  dispositivos
constitucionais, temos atualmente legislação específica regulamentando as ações próprias em controle de constitucionalidade.
Mas a grande questão é: quando cada espécie de ação pode ser manejada? Quais os seus objetos? O que as aproxima e o que as diferencia? Em
que  hipóteses  elas  poderão  ser  utilizadas  e  quais  as  repercussões  práticas  que  acarretam?  Nesse  ponto,  a  doutrina  costuma  identificar  quatro
limites que definem o campo de atuação das ações próprias em controle de constitucionalidade: (i) limite quanto à natureza do objeto; (ii) limite
espacial;  (iii)  limite  temporal;  (iv)  limite  quanto  ao  prisma  de  apuração.  Em  cima  desses  limites,  estabeleceremos  um  estudo  comparativo
correlacionando  cada  umas  das  espécies  de  ações  próprias  em  controle  de  constitucionalidade,  facilitando  a  compreensão  a  partir  das  suas
diferenças e semelhanças e ao final, construirmos um quadro resumo para facilitar a absorção dessas regras fundamentais que marcam o controle
de constitucionalidade, tema de importância fundamental dentro do estudo da ciência jurídica constitucional.
2. AÇÕES PRÓPRIAS EM CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
A Constituição Federal, nos seus arts. 102 e 103, que se inserem em capítulo referente à organização do poder judiciário, passa a dispor, dentre
outras  matérias,  sobre  os  meios  pelos  quais  se  pode  exercer  o  controle  de  constitucionalidade.  Temos,  no  Brasil,  um  sistema  de  controle
jurisdicional, sendo atribuído ao judiciário a função precípua do controle de constitucionalidade. Por isso é que o estudo do controle, pela teoria
da revisão judicial dos atos do legislativo, situa­se tipicamente na esfera do judiciário, sem prejuízo do controle exercido pelos demais poderes,
de forma preventiva e repressiva. Contudo, de fato, é no judiciário que se dá precipuamente o controle de constitucionalidade, por que assim foi
idealizado pelo legislador constituinte.
Dentro desse sistema jurisdicional, sabemos também que, no Brasil, o controle de constitucionalidade, quanto à competência judicial para o seu
exercício,  admite  o  modelo  misto,  que  combina  o  controle  difuso  (todos  os  órgãos  do  judiciário  são  competentes,  porque  a  finalidade  é  a
proteção de direito subjetivo) e o concentrado (somente o órgão judiciário guardião da Constituição é competente, porque a finalidade é assegurar
a  supremacia  constitucional).  No  que  se  refere  ao  controle  difuso,  feito  por  todos  os  órgãos  do  judiciário,  é  sempre  um  controle  concreto,
realizado de forma incidental, o objeto não é a declaração de  inconstitucionalidade, mas a defesa de um direito subjetivo. Por  isso, não há uma
ação própria de controle, não existe uma ação direta, mas o controle é feito por via indireta, oblíqua, por exceção, incidentalmente dentro de um
processo subjetivo. Por  isso, no que se refere ao procedimento, o controle difuso concreto não exige maior regulamentação constitucional, pois
nele preponderam as normas processuais de direito processual civil,  justamente porque não há rito e ação própria, podendo­se levantar a questão
incidental de inconstitucionalidade em qualquer ação processualmente cabível.
Dessa forma, a Constituição preocupa­se em regular especificamente o controle abstrato, que é sempre feito de forma concentrada, seja pelo STF
no que se refere à supremacia da Constituição Federal, seja pelos TJ’s no que se refere à supremacia das Constituições Estaduais. Na verdade, no
controle concentrado (STF e TJ’s) até se admite excepcionalmente o controle concreto (ADI  interventiva, ADPF incidental), mas a  regra geral é
que por meio dele se realiza o controle abstrato. Ou seja, o controle concreto é sempre difuso, enquanto o controle abstrato é, em regra, abstrato.
Melhor  dizendo,  todo  controle  abstrato  é  concentrado, mas  nem  todo  controle  concentrado  é  abstrato.  É  exatamente  sobre  o  controle  abstrato,
feito  de  forma  concentrada  pelo  STF  (Constituição  Federal)  e  pelos  TJ’s  (Constituição  Estadual),  que  gira  o  centro  do  estudo  do  controle  de
constitucionalidade.
Isso  ocorre  porque,  no  controle  abstrato,  não  se  parte  de  um  caso  concreto,  não  há  partes materiais  envolvidas,  não  há  processo  subjetivo,  a
questão de inconstitucionalidade não é analisada apenas incidentalmente na fundamentação de qualquer processo sob o rito do direito processual
civil. Agora, o processo é meramente objetivo, a finalidade é a própria declaração de inconstitucionalidade, por isso se faz necessária a existência
de ações próprias de controle, fazendo­se o controle de forma direta, por via de ação, com partes formalmente legitimadas. O que se discute agora
é  a  lei  em  relação  à  sua  compatibilidade  abstrata  com  a  Constituição,  e  não  a  aplicação  da  lei  inconstitucional  ao  caso  concreto.  Logo,  se  o
controle  agora  não  é  mais  exercido  incidentalmente  dentro  de  uma  ação  qualquer  regulada  pelo  direito  processual  civil,  é  necessário  que  a
Constituição preveja ações típicas constitucionais, com legitimados próprios, para a inconstitucionalidade ser atacada de forma direta.
Por isso, no que se refere ao procedimento, o controle abstrato, que sempre se realiza de forma concentrada (STF ou TJ’s), exige regulamentação
própria, com rito, legitimados e ações específicas, ao contrário do controle concreto ou incidental, em que preponderam as normas processuais de
direito processual civil. Por isso, então, falamos nas chamadas ações diretas em controle de constitucionalidade. O controle abstrato ou principal
é um controle por via de ação, ou por via direta. Só pode haver controle abstrato se por meio de uma ação direta e com legitimados próprios. O
estudo do procedimento, legitimados e rito próprio dessas ações diretas em controle abstrato é, portanto, o foco principal do estudo da teoria do
controle de constitucionalidade.
Quer  dizer,  temos  o  controle  jurisdicional  (sem  prejuízo  do  controle  dos  demais  poderes)  e,  dentro  dele,  o  controle  concentrado  abstrato  (sem
prejuízo do controle concreto feito em processos subjetivos). É deste tipo de controle, vale dizer, o controle de constitucionalidade concentrado e
em abstrato, que a Constituiçãopropriamente  cuida de  regular. Todas  as  ações próprias  em controle de  constituionalidade  (ADI, ADC, ADPF)
têm a finalidade principal de garantir a supremacia constitucional. Os legitimados para fazê­lo em quaisquer casos são os mesmos, constantes do
rol  do  art.  103  da  Constituição  Federal.  Todavia,  essa  supremacia  pode  ser  garantida  de  diferentes  formas,  seja  atacando  diretamente  uma
inconstitucionalidade  de  lei  ou  ato  normativo  (ADI),  seja  confirmando  a  contitucionalidade  de  dispositivo  em  caso  de  relevante  controvérsia
judicial  (ADC),  seja em qualquer outro caso de violação de preceito constitucional  fundamental  (ADPF). É sobre estas ações que passaremos a
discorrer.
3. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (ADI)
Trata­se­se da principal ação de controle abstrato no exercício do controle jurisdicional repressivo. Já sabemos que as leis gozam de presunção de
constitucionalidade. Logo, para que uma lei seja tida por inconstitucional precisa que o judiciário assim a declare. O objetivo da Ação Direita de
Inconstitucionalidade (ADI) é exatamente retirar uma inconstitucionalidade que esteja presente no ordenamento jurídico. Ora, se todas as leis, em
princípio, presumem­se constitucionais, é preciso a sua declaração expressa no sentido contrário para descaracterizar aquela presunçao, que se trata
de presunção juris tantum. Desse modo, garantir a supremacia da Constituição e expurgar do ordenamento jurídico uma norma que lhe contraria,
temos a ADI, atacando uma inconstitucionalidade existente. Vejamos como isto se dá.
3.1.    NATUREZA DO OBJETO DA ADI:
Nos  termos expressos do art. 102,  I, “a”, da Constituição Federal,  temos: “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição,  cabendo­lhe:  I  ­  processar  e  julgar,  originariamente:  a)  a  ação  direta  de  inconstitucionalidade  de  lei  ou  ato  normativo  federal  ou
estadual...”. Ou seja, o objeto da ação direta de inconstitucionalidade será uma “lei ou ato normativo”. Esta é a natureza do objeto na ação direta
de  inconstitucionalidade:  só  podem  ser  objeto  de ADI  lei  ou  ato  normativo. Não  é  qualquer  ato  do  Poder  Público  que  pode  servir  de  objeto
(salvo  na ADPF,  como  veremos), mas  na ADI  o  objeto  é  exclusivamente  um  ato  do  Poder  Público  de  natureza  legislativa,  isto  é,  lei  ou  ato
normativo. Os atos de natureza administrativa e  judicial  ficam fora do alcance da ADI. A natureza do objeto da ADI restringe­se, portanto, aos
atos legislativos do Poder Público (leis e atos normativos) e não a qualquer ato do Poder Público, por expresso mandamento constitucional, nos
termos do art. 102, I, “a”, da CF/88.
. Por isso é que não se admite como objeto de ADI, por exemplo, atos administrativos (atos do Poder Público com natureza administrativa), ou
ainda,  precedentes  judiciais,  como decisões  judiciais  e  súmulas  (atos  do Poder  Público  com natureza  judicial). Apenas  atos  do Poder  Público
com natureza legislativa, isto é, “lei ou ato normativo”, podem ser objeto de ADI. E aqui se entende lei em sentido amplo, abrangendo todas as
espécies  primárias  do  art.  59  da  Constituição  Federal:  emendas  constitucionais,  leis  complementares,  leis  ordinárias,  leis  delegadas,  medidas
provisórias,  decretos  legislativos,  e  resoluções.  Estes  são  os  atos  tipicamente  legislativos  do  Poder  Público.  Assim,  quando  se  fala  em  lei,
remete­se à ideia das espécies normativas no art. 59 da CF/88.
Vale  perceber  que  até mesmo as  emendas  constitucionais  integram esse  conceito  de  lei,  em  sentido  amplo. Ou  seja,  uma norma  constitucional
advinda do poder constituinte derivado pode ser objeto de ADI. O que o STF não admite, obviamente, são as normas constitucionais originárias
serem objeto de ADI. O poder constituinte originário não encontra limites no plano jurídico interno. Ele pode colocar, juridicamente, o que bem
entender na Constituição, apesar de que, hoje, essa liberdade no plano interno vem sendo, de certa forma, mitigada no plano externo, sobretudo a
partir  da  difusão  global  dos  direitos  humanos.  De  todo  modo,  no  plano  interno,  as  normas  originárias  não  possuem  limitação.  Já  o  poder
constituinte derivado não. Para se fazer uma emenda há limites explícitos e implícitos, formais e materiais, temporais e circuntanciais, impostos
pelo próprio poder constituinte originário. Portanto, uma emenda constitucional pode ser objeto de ADI caso não respeite tais limites, mas se é
uma norma originária, prevista originariamente na CF/88, não pode ser impugnada.
Isso  decorre  justamente  do  princípio  instrumental  da  unidade,  pelo  qual  não  existe  hierarquia  entre  normas  constitucionais. E,  obviamente,  se
não  há  hierarquia,  mas  todas  estão  em  um  mesmo  plano,  nunca  será  possível  controle  de  constitucionalidade  entre  normas  constitucionais
originárias. Seria absolutamente irrazoável dizer que uma norma constitucional originária é inconstitucional em face da outra, porque o poder do
qual  emanou  ambas  é  o  mesmo.  É  possível  se  fazer  controle  de  constitucionalidade  de  emenda  constitucional  (normas  constitucionais
decorrentes) porque, nesse caso, a emenda constitucional inicialmente está fora da Constituição, e o poder constituinte derivado encontra limites
no  poder  constituinte  originário,  logo,  é  possível  verificar  a  compatibilidade  da  emenda  com  a  Constituição,  mas  nunca  poderá  haver
inconstitucionalidade  de  norma  constitucional  originária  (não  existe  controle  de  constitucionalidade  em  face  de  normas  constitucionais
originárias). Então, somente leis ou atos normativos podem ser objetos de ADI, naqueles entendidas todas as espécies normativas do art. 59 da
CF/88, o que inclui as emendas constitucionais.
Vale ressaltar que, atualmente, segundo o entendimento do STF, lei de efeitos concretos também é considerada lei para fins de controle por ADI.
Na jurisprudência antiga do STF não cabia ADI em relação à chamada lei formal, de efeitos concretos. A jurisprudência do Supremo era uníssona
em dizer que a norma de efeitos concretos não se prestaria a controle abstrato de constitucionalidade, seja porque a norma atacada é lei apenas em
sentido  formal,  mas  materialmente  revestida  de  caráter  administrativo,  seja,  ainda,  porque  o  seu  papel  vai  se  exaurir  após  a  ocorrência  da
determinada situação que  regula, não havendo abstração,  típica do controle abstrato concentrado. Quer dizer, o STF só admitia como objeto de
ADI as  leis que  tivessem a  característica da generalidade e da  abstração. Então,  leis de  efeitos  concretos,  apesar de  serem  leis,  atos normativos
primários, como possuem efeitos concretos não gozarim das características da generalidade e abstração, logo, tratar­se­iam de leis apenas no plano
formal, não no aspecto material. Daí porque o Supremo tinha posicionamento firmado de que não caberia ADI para impugná­las.
Contudo, a Corte Suprema, nas ADI’s 4048 e 4049, passou a admitir tal possibilidade, entendendo que a lei orçamentária (que se trata de lei de
efeitos  concretos)  poderia  trazer  em  seu  bojo  dispositivos  abstratos  e  genéricos,  dotados  de  densidade  normativa.  E  ainda,  o  recente
posicionamento  do  STF  evoluiu  mais.  Agora,  nem  precisa  verificar  se  a  lei  de  efeitos  concretos  possui  dispositivos  com  abstração  e
generalidade, mas se é  lei, mesmo formal, caberá ADI, exigindo­se apenas que a controvérsia seja suscitada em abstrato. Assim,  tratando­se de
lei, em sentido formal, pode ser objeto de ADI. A atual jurisprudência do Supremo, portanto, não exige que a lei seja ato normativo do ponto de
vista formal e material. Sendo lei, é passível de controle abstrato de constitucionalidade. Então, hoje o entendimento é que não importa se o ato
é geral ou específico, abstrato ou concreto,o importante é que a controvérsia constitucional seja suscitada em abstrato.
3.2.    LIMITE ESPACIAL NA ADI:
Conforme dispõe expressamente o art. 102, I, “a”, da Constituição Federal, cabe ao STF processar e julgar a ação direta de inconstitucionalidade
de  lei  ou  ato  normativo  “federal  ou  estadual”.  Ou  seja,  no  que  tange  ao  aspecto  espacial  do  objeto  de  controle,  a  ADI  admite  lei  ou  ato
normativo  que  seja  federal  ou  estadual,  em  face  de  Constituição  Federal.  Isto  é,  no  âmbito  do  controle  concentrado  em  nível  do  Supremo
Tribunal Federal, está excluído na ADI eventual objeto municipal. Não poderá, portanto, uma lei ou ato normativo municipal ser impugado em
face  da  Constituição  Federal  via  ADI  (será  possível  apenas  na  ADPF).  Por  outro  lado,  no  âmbito  estadual,  em  sede  de  controle  concentrado
perante  os  TJ’s,  caberá  impugnar  em ADI  ei  ou  ato  normativo  estadual  ou municipal. Quer  dizer,  na  esfera  estadual  não  há  restrição  espacial.
Então,  em  suma,  com  relação  à  ADI:  no  âmbito  federal,  admite  objeto  federal  ou  estadual;  no  âmbito  estadual,  admite  objeto  estadual  ou
municipal.
Vale destacar, contudo, um ponto interessante: e a lei do Distrito Federal, pode ser objeto de ADI em face da Constituição Federal? A lei do DF
tem  natureza  híbrida.  Pode  ter  conteúdo  de  lei  estadual,  quanto  de  conteúdo  municipal.  Se  tiver  conteúdo  de  lei  estadual,  será  possível  ser
impugnada via ADI perante o STF. Se  tiver  conteúdo de  lei municipal,  não poderá. Nesse  sentido,  a Súmula do STF nº 642:  “Não cabe  ação
direta  de  inconstitucionalidade  de  lei  do Distrito Federal  derivada  da  sua  competência  legislativa municipal”. Na ADC e  na ADPF não  temos
esse problema, porque, como veremos, a ADC só admite objeto federal em face de Constituição Federal, logo, nunca caberá lei do DF ser objeto
de ADC. Por outro  lado, a ADPF admite objeto  federal, estadual e municipal em face de Constituição Federal,  logo,  sempre caberá  lei do DF
ser  objeto  de ADPF.  O  problema  reside  na ADI,  que  permite  objeto  estadual, mas  não municipal.  Nesse  caso,  a  lei  do DF  pode  ou  não  ser
objeto de ADI a depender da sua natureza, já que é híbrida.
3.3.    LIMITE TEMPORAL NA ADI:
Quanto  ao  momento  em  que  ocorre  uma  inconstitucionalidade,  esta  pode  ser  originária  ou  superveniente.  A  inconstitucionalidade  originária
ocorre  quando  a  lei  ou  ato  normativo  (objeto)  surge  após  a  norma  constitucional  que  lhe  serve  de  paradigma  (parâmetro  de  controle).  Já  a
inconstitucionalidade superveniente ocorre quando a norma constitucional (parâmetro de controle) surge depois da lei ou ato normativo (objeto).
A  inconstitucionalidade  superveniente  não  é  admitida  no  Brasil.  Um  objeto  anterior  ao  parâmetro  constitucional  não  é  considerado
inconstitucional,  pois  nesse  caso,  considera­se  o  objeto  como  não  recepcionado.  Ou  seja,  só  há  inconstitucionalidade  quando  uma  lei  fere
posteriormente  à  Constituição  (objeto  posterior  ao  parâmetro),  e  não  o  contrário,  quando  a  Constituição  torna­se  incompatível  com  a  lei
(parâmetro posterior ao objeto). Somente no primeiro caso temos inconstitucionalidade, no segundo caso temos hipótese de não recepção.
Como a ADI é uma ação direta de  inconstitucionalidade,  logo, não se presta para o caso de não  recepção  (inconstitucionalidade superveniente),
mas  tão  somente para hipótese de  inconstitucionalidade originária,  isto é, objeto posterior  ao parâmetro. Até porque,  como se  sabe, o controle
abstrato  de  constitucionalidade  serve  para  assegurar  a  supremacia  constitucional.  Quando  uma  norma  constitucional  é  incompatível
posteriormente  com uma  lei,  isso  não  afeta  a  supremacia  da Constituição. A Constituição  é  suprema,  se  ela  vem posteriormente  e  alguma  lei
anterior passa a ser incompatível com ela, subtende­se automaticametne que a lei não foi por ela recepcionada. Na verdade, o problema ocorre ao
inverso, quando uma lei vem posteriormente se contrapondo à ordem constitucional vigente. Como a lei veio depois da Constituição, nesse caso
não há como ter não recepção, ao contrário, a  lei presume­se constitucional. É exatamente por  isso que, nessa hipótese, somente em se tratando
de inconstitucionalidade originária, caberá açao em controle de constitucionalidade.
Ademais, vale destacar alguns pontos quanto ao  limite  temporal para  fins de ADI. O primeiro deles  refere­se ao  fato de que o STF não admite
como  objeto  de ADI  leis  já  revogadas.  Isso  ocorre  somente  no  controle  abstrato.  É  que  enquanto  no  controle  concreto  a  finalidade  é  proteger
direitos subjetivos, no controle abstrato a finalidade é proteger a supremacia constitucional. Logo, uma lei já revogada pode ser perfeitamente um
objeto  em  controle  concreto,  mas  não  em  controle  abstrato.  No  controle  concreto,  uma  lei  já  revogada  pode  ter  violado  direitos  subjetivos,
valendo  a  lei  da  época  em  que  o  fato  ocorreu  (princípio  do  tempus  regit  actum),  não  interesse  se  a  lei  foi  revogada  ou  não,  se  o  fato  ocorreu
naquela  época  será  cabível  controle  concreto,  ainda que  tenha por objeto uma  lei  já  revogada,  porque o  controle  concreto visa proteger direitos
subjetivos. Já no controle abstrato, se uma lei já foi revogada, ela não ameaça mais a supremacia constitucional, logo, não se justifica uma lei já
revogada  ser  objeto  de  ADI,  porque  nesse  caso,  agora,  a  preocupação  não  é  proteger  um  direito  subjetivo,  mas  tão  somente  a  supremacia
constitucional  no  plano  abstrato.  Logo,  se  a  lei  já  foi  revogada,  se  já  foi  retirada  do  ordenamento  jurídico,  se  não mais  ameaça  a  supremacia
constitucional, não caberá ADI.
E  ainda,  se  uma  determinada  lei  que  está  sendo  objeto  de  ADI,  antes  que  haja  o  julgamento  da  referida  ação,  vier  a  vier  a  ser  revogada,
obviamente, não terá mais lógica dar continuidade ao processo, justamente porque o objeto do processo é a própria lei. Na verdade, nas ações de
controle de constitucionalidade,  temos o objeto  (lei  impugnada)  e o parâmetro de constitucionalidade  (norma constitucional). Se um dos dois,
ou a lei impugnada, ou a norma constitucional, deixar de existir, perde a razão de ser da continuidade da ação de constitucionalidade. O controle
abstrato  é  "principaliter  tantum",  ou  seja,  a  questão  de  inconstitucionalidade  é  a  causa  principal  no  processo,  é  o  próprio  pedido,  a  norma  em
abstrato é o objeto do processo. Logo, conforme entendimento do STF, a  revogação de  lei ou ato normativo objeto de controle abstrato, assim
também como a retirada da própria norma constitucional utilizada como parâmetro do controle, implica perda de objeto da ação. Logo, no que se
refere à ADI, por um lado, leis revogadas não podem ser objeto de controle, e por outro lado, a revogação da lei no curso da ação importa na sua
extinção.
Há,  contudo,  uma  exceção,  quando  o  STF  tem  entendido  ser  excepcionalmente  possível  uma  lei  já  revogada  ser  objeto  de  ADI.  Trata­se  da
chamada “fraude processual” como tem sido denominada a hipótese no âmbito do Supremo. A chamada fraude processual ocorre quando as leis
são sucessivamente revogadas com a intensão de burlar a jurisdição constitucional. A lei está sendo revogada, na verdade, para burlar a jurisdição
constitucional  e  impedir  o  julgamento  em  sede  de  controle  de  constitucionalidade.  Nesse  caso,  é  cabível  prosseguir  na  ADI,  mesmo  em  se
tratando de lei já revogada. Mas a regra geral é que não cabe ADI em face de lei revogada.
Outro ponto a se destacar é que, pelo mesmo raciocínio, não cabe ADI  tendo por objeto uma lei que esteja suspensa pelo Senado, na forma do
art.  52,  X,  CF/88.  Assim,uma  lei  que,  embora  não  tenha  sido  revogada,  mas  que  esteja  apenas  suspensa,  não  poderá  abstratamente  ser
impugnada, porque enquanto assim o estiver, não ameaçará a Constituição. Trata­se do  instituto da  suspensão da execução da  lei pelo Senado,
previsto no art. 52, X, da CF/88. Nesse caso, se a  lei está suspensa, se não está mais sendo aplicada, se não pode produzir efeitos, obviamente
não há ameaça à supremacia constitucional,  logo, nesse caso não se  justifica a propositura de ADI, sendo  incabível controle abstrato. Logo,  lei
cuja eficácia foi suspensa pelo Senado, não pode ser objeto de ADI.
Um último ponto, também quanto ao limite temporal, é que, igualmente utilizando­se do mesmo raciocínio, não cabe ADI tendo por objeto leis
temporárias  cujo  período  de  vigência  já  findou.  Enquanto  elas  estiverem  no  período  de  vigência,  podem  ser  objeto.  Terminado  o  período  de
vigência,  não mais. Logo,  normas  de  efeitos  já  exauridos  não  podem  ser  objeto  de ADI. Assim  como ocorre  nas  leis  não  recepcionadas,  bem
como  nas  leis  já  revogadas,  e  também  nas  leis  suspensas  pelo  Senado,  aqui  também,  se  uma  lei  já  exauriu  os  seus  efeitos,  se  não  está mais
produzindo efeitos no ordenamento  jurídico, obviamente ela não mais está ameaçando a supremacia da Constituição. É claro que só se  fala em
impossibilidade de ADI, nesse caso, se a  lei  temporária não produzir mais efeitos. Contudo, assim como houve a exceção da  fraude processual
para ADI tendo por objeto lei regovada, aqui também, nessa hipótese de leis temporárias, há exceção à regra.
O  Supremo  tem  admitido,  excepcionalmente,  ADI  tendo  por  objeto  lei  temporária  de  efeitos  exauridos  quando,  cumulativamente,  estejam
presentes dois fatores: (i) impugnação em tempo adequado e sua inclusão em pauta antes do exaurimento da eficácia; e (ii) quando ainda produzir
efeitos  para  o  futuro  apesar  do  fim  do  lapso  temporal  fixado  para  a  sua  duração. Ou  seja,  segundo  o  Supremo  (ADI  4426),  se  a  lei  produzir
efeitos  para  além do  término de  sua  vigência,  será  cabível ADI,  desde  que  impugnada  antes  do  exaurimento  desses  efeitos. Então,  se  a  lei  foi
impugnada no tempo adequado, ou seja, antes de exaurir a produção dos seus efeitos e, se mesmo sendo temporária, puder produzir efeitos para
o futuro, neste caso caberá ADI.
 Portanto, em suma, só cabe ADI em inconstitucionalidade originária. Não caberá ADI: nas  leis não recepcionadas; nas  leis  já  revogadas (salvo
fraude  processual);  nas  leis  suspensas  pelo  Senado;  e  nas  leis  temporárias  após  o  término  da  vigência  (salvo  quando  produzir  efeitos  após  o
término  da  vigência  e  for  impugnada  antes  do  exaurimento  desses  efietos).  Em  qualquer  caso,  não  caberá  controle  abstrato.  Uma  lei  que  não
produz  efeitos  no mundo  jurídico,  ameaça  a  ordem  constitucional  objetiva?  Obviamente  que  não.  Logo,  não  cabe ADI  em  todos  esses  casos
listados acima (não recepção, revogação, suspensão pelo Senado, exaurimento dos efeitos da lei temporária).
Por  fim,  importa  destacar  um  entendimento  que  tem  prevalecido  no  STF:  não  cabe  ADI  em  norma  já  declarada  constitucional  ou
inconstitucional  pelo Pleno  do STF,  ainda  que  em  sede  de  controle  difuso  (ADI  4071). Quer  dizer,  se  uma determinada  lei  já  foi  questionada
perante o Supremo e este já decidiu, seja pela constitucionalidade ou inconstitucionalidade, aquela lei não poderá novamente ser questionada. É
que, se o Pleno do STF já disse que uma norma é constitucional ou inconstitucional, obviamente não cabe, de novo, o STF se pronunciar, para
repetir  o  que  foi  dito  antes.  Contudo,  existem  duas  exceções:  (i)  se  houver  mudanças  significativas  na  situação  fática;  ou  (ii)  se  houver  a
superveniência de novos argumentos nitidamente mais relevantes.
3.4.    PRISMA DE APURAÇÃO DA ADI:
Já sabemos que o objeto na ADI é necessariamente uma lei ou ato normativo do Poder Público (natureza legislativa do objeto), que seja federal
ou  estadual  em  face  da  Constituição  Federal  (limite  espacial)  e,  necessariamente,  posterior  ao  parâmetro  constitucional  de  controle  vigente
(inconstitucionalidade originária). Por fim, resta uma última ressalva, quanto ao prisma de apuração da ADI. Embora a Constituição não fale, o
STF entende que a inconstitucionalidade para ser impugnada em controle abstrato deve necessariamente se referir à uma violação direta. Ou seja,
a lei ou ato normativo, federal ou estadual, posterior ao parâmetro, deve obrigatoriamente violar diretamente a Constituição, caso contrário a ADI
não poderá ser proposta. Não é possível ADI se a  lei ou ato normativo violar apenas  indiretamente a Constituição, mas na ADI exige­se que a
inconstitucionalidade seja necessariamente direta, não pode ser uma violação reflexa, oblíqua,  indireta,  tem que ser  inconstitucionalidade direta,
ou antecedente.
Como  se  sabe,  a  inconstitucionalidade  direta,  também  chamada  de  antecedente,  ocorre  quando  o  ato  impugnado  (objeto)  viola  diretamente  à
Constituição,  isto  é,  entre  a  Constituição  (paradigma)  e  o  ato  legislativo  impugnado  (objeto)  não  existe  nenhum  outro  que  lhes  seja
intermediário.  Não  há,  pois,  nenhum  ato  normativo  interposto  no  meio  entre  o  ato  impugnado  e  a  Constituição.  Em  regra,  ocorre  entre  as
espécies  normativas  primárias,  nos  termos  do  art.  59  da  CF/88,  porque  estas  retiram  o  fundamento  de  validade  diretamente  da  Constituição.
Nesses casos, havendo ofensa à Constituição pelas espécies normtivas do art. 59 da CF/88, sempre será uma inconstitucionalidade direta, porque
são  leis  com  fundamento  direto  na  Constituição.  Não  existe  possibilidade  de  haver  uma  inconstitucionalidade  em  qualquer  daquelas  espécies
normativas do art. 59 da CF/88 e não se tratar de uma ofensa direta.
A contrário sensu, obviamente, aquilo que não integra o rol do art. 59 da CF/88, em regra, não poderá ser objeto de ADI, porque não retirariam
o  fundamento  de  validade  diretamente  da  Constituição,  logo,  não  haveria  inconstitucionalidade  direta.  Contudo,  existem  exceções,  sendo
possível  um  ato  normativo  que  não  esteja  contemplado  no  art.  59  da  CF/88  violar  diretamente  a  Constituição.  Mas  essa  não  é  a  regra.  Na
verdade,  a  lógica  é  a  seguinte:  sendo  uma  das  leis,  em  sentido  amplo,  previstas  no  art.  59  da  CF/88,  teremos  sempre  inconstitucionalidade
direta,  sendo  cabível  ADI;  sendo  outro  ato  normativo  que  não  conste  do  rol  do  art.  59  da  CF/88  (atos  infralegais),  em  regra,  não  teremos
inconstitucionalidade  direta,  sendo  incabível ADI, mas  é  possível  excepcionalmente  isso  ocorrer. Então,  atos  legais  (leis  do  art.  59  da CF/88)
sempre podem ser objeto de ADI; atos infralegais (atos normativos) podem ou não ser objeto de ADI, mas em regra não.
É o caso, por exemplo, dos atos tipicamente regulamentares (que podem se dar por portarias, instruções, decretos, etc), porque se é regulamentar,
significa  que  não  está  se  ligando  diretamente  à  Constituição,  mas  está  regulamentando  uma  lei,  um  ato  primário,  caso  contrário  não  seria
regulamentar. Nesse caso, como a Constituição não está sendo violada de forma direta, não cabe ADI, pois existe uma lei entre a Constituição e
o  ato  regulamentar,  logo,  temos  apenas  uma  inconstitucionalidade  indireta,  sendo  incabível  ADI.  Assim,  por  não  violar  diretamente  a
Constituição, os atos tipicamente regulamentares não podem ser impugnados em ADI.
Por  outro  lado,  também não  se  admite  como objeto  em ADI os  atos  regimentais  e  as  questões  interna  corporis,  que  são  aquelas  questões  que
devem ser resolvidas  internamente, próprias de regimento interno. Se umaquestão é própria do regimento interno, ela  tem que ser resolvida no
âmbito do próprio poder, não se submete, em regra, à apreciação do Judiciário. Os regimentos e questões interna corporis são atos infralegais que
apenas  organizam  as  competências  dentro  de  cada  órgão  e  poder,  não  se  tratam  de  espécies  normativas  primárias  que  violam  diretamente  à
Constituição. Portanto, assim também como os atos  tipicamente regulamentares,  também os regimentos  internos e as questões  interna corporis
não podem ser objeto de ADI, porque teremos uma inconstitucionalidade apenas reflexa ou oblíqua
Contudo, é possível, excepcionalmente, um ato normativo infralegal retirar o fundamento de validade diretamente da Constituição, mesmo sem
ser uma das leis previstas no art. 59 da CF/88. Nesse caso, teríamos uma espécie normativa primária mesmo não fazendo parte do rol do art. 59
da Constituição Federal. É exatamente por  isso que, quanto ao objeto de ADI, a Constituição  fala expressamente em “lei ou ato normativo”, e
não apenas em “lei”. Lei significa, em sentido amplo, todas as espécies normativas do art. 59 CF/88, espécie normativa tipicamente primária. Já
ato  normativo  significa  uma  ato  do  Poder  Público  de  natureza  legislativa  que  não  seja  espécie  normativa  primária,  isto  é,  trata­se  de  um  ato
infralegal. Então, é possível um ato normativo, de natureza  infralegal,  também ser objeto de ADI, desde que retire seu fundamento de validade
diretamente da própria Constituição, mesmo não sendo  integrante daquele  rol do art. 59 da CF/88.  Isso ocorre basicamente em duas hipóteses:
(i) no chamado decreto autônomo, que retira o fundamento de validade direto da Constituição (art. 84, VI, CF/88); (ii) quando o ato extrapolar
sua  competência  e,  ao  invés  de  regular  uma  lei  ou  a matéria  a  ele  reservada,  usurpa  a  competência  de  lei,  dispondo  sobre matéria  diretamente
constitucional.  Nesses  dois  casos,  temos  atos  infralegais  atuando  como  espécies  normativas  primárias,  havendo  inconstitucionalidade  direta,
sando cabível ADI.
No  primeiro  caso,  quanto  ao  decreto  autônomo,  sabemos  que,  via  de  regra,  o  decreto  do  executivo  serve  para  regulamentar  a  lei. Nesse  caso,
eventual  irregularidade,  ao  invés  de  ofender  diretamente  a  Constituição,  ofende­a  indiretamente.  A  violação  direta  será  em  relação  à  lei  que  o
decreto regulamenta e apenas indiretamente à Constituição. Nesse caso,  trata­se de controle de legalidade, e não controle de constitucionalidade.
A jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal entende que não cabe controle abstrato de constitucionalidade em face de ofensa reflexa à
Constituição.  Entretanto,  nem  todo  decreto  é  regulamentar,  pois  o  ordenamento  brasileiro  atualmente  admite  o  chamado  decreto  autônomo,
previsto  no  art.  84,  VI,  da  CF/88:  "Art.  84.  Compete  ao  Presidente  da  República:  VI  –  dispor,  mediante  decreto,  sobre:  a)  organização  e
funcionamento  da  administração  federal,  quando  não  implicar  aumento  de  despesa  nem  criação  ou  extinção  de  órgãos  públicos;  b)  extinção  de
funções  ou  cargos  públicos,  quando  vagos".  Nesses  dois,  casos,  trata­se  de  decreto  autônomo,  não  é  decreto  regulamentar,  não  é  norma
secundária, mas se trata de norma primária, ao contrário do decreto regulamentar.
Nesse caso, eventual inconstitucionalidade presente no decreto autônomo não atacará a Constituição de modo somente reflexo, indireto, mas será
ofensa  direta,  logo,  nesse  caso,  poderá  haver  controle  abstrato,  será  cabível ADI.  Portanto,  em  regra,  não  cabe  o  controle  abstrato  de  decreto,
porque  normalmente  os  decretos  inserem­se  no  conceito  de  atos  tipicamente  regulamentares,  todavia,  nas  hipóteses  excepcionais  admitidas  de
decreto autônomo, passa a ser equiparável à espécie normativa primária, nesse caso, caberá controle abstrato, sendo possível ser objeto de ADI.
De  fato,  se  a  essência  for  realmente  regulamentar,  nunca  caberá  ADI,  mas  sendo  um  ato  infralegal  que  retira  sua  validade  diretamente  da
Constituição (decreto autônomo), será possível mover ADI, porque nesse caso não há ato interposto entre o objeto e a Constituição.
Quanto à segunda exceção, diz respeito ao ato  infralegal extrapolar sua competência e, ao  invés de servir para regular uma lei ou a matéria a ele
reservada,  dispõe  sobre  matéria  diretamente  constitucional.  Nesse  caso,  pode  ser  qualquer  ato  infralegal,  como  portarias,  intruções,  decretos,
regimentos,  etc. Ou  seja,  na  primeira  exceção,  temos  uma  hipótese  legítima  consagrada  na  própria  Constituição  (decreto  autônomo).  Já  nessa
segunda exceção, agora, não temos mais uma hipótese legítima retirada da própria Constituição. Trata­se de inconstitucionalidade porque um ato
infralegal  está  atuando  como  se  espécie  normativa  primária  fosse.  Nesse  caso,  é  possível  este  ato  infralegal  ser  objeto  de ADI.  A  aferição  de
inconstitucionalidade  dos  atos  infralegais,  na  via  da  ação  direta,  só  é  vedada  quando  estes  se  adstringem  ao  papel  secundário  de  regulamentar
normas legais, cuja inobservância enseje apenas conflito resolúvel no campo da legalidade.
Mas, atenção, a exceção em que cabe ADI tendo por objeto ato infralegal não se refere ao caso em que este simplesmente extrapola o conteúdo da
lei  que  busca  regulamentar. Ao  contrário,  trata­se  do  caso  de  não  haver  lei  nenhuma  que, mesmo  em  parte,  confira  validade  ao  ato  infralegal.
Somente  neste  último  caso  trata­se  de  controle  de  constitucionalidade,  no  primeiro  caso  temos  controle  de  legalidade.  Nesse  sentido,  a
remansosa  jurisprudência  da  Suprema  Corte  não  reconhece  a  possibilidade  de  controle  concentrado  de  atos  que  consubstanciam  mera  ofensa
reflexa à Constituição, mesmo que parte dele esteja regulando a  lei e outra parte extrapolando­a. Se existe uma lei entre o ato e a Constituição,
sempre  teremos  controle  de  legalidade,  e  não  de  constitucionalidade.  Quer  dizer,  se  o  ato  regulamentar  vai  além  do  contéudo  da  lei,  pratica
ilegalidade.  Neste  caso,  não  há  falar  em  inconstitucionalidade.  Somente  na  hipótese  de  não  existir  lei  que  preceda  o  ato  regulamentar,  é  que
poderia este ser acoimado de inconstitucional, assim sujeito ao controle de constitucionalidade.
Do mesmo modo, no que  se  refere  às questões  interna  corporis. Em  regra não  cabe ADI,  porque  se  trata de matéria  interna de  cada poder,  não
sendo  devida  a  interferência  do  judiciário.  Contudo,  se  a  questão  não  for  exclusivamente  interna  corporis,  mas  envolver  também  um  direito
consagrado na Constituição, o STF tem relativizado e admitido que, neste caso, pode haver apreciação do Judiciário. Então, a norma constante
de um regimento interno de um tribunal pode excepcionalmente ser objeto de controle de constitucionalidade, Se a norma do regimento interno é
exclusivamente interna corporis, não pode ser objeto, mas do contrário, admite­se a sua impugnação. Portanto, em qualquer caso, o importante é
saber qual é a essência do ato específico, e não apenas o nome que ele recebe. Sendo ato infralegal (portaria, decreto,  instrução, regimento, etc.)
que viola diretamente à Constituição, excepcionalmente caberá ADI.
 
4. AÇÃO DIRETA DE CONSTITUCIONALIDADE (ADC)
A  segunda  ação  típica  em  controle  abstrato  refere­se  à Ação Direta  de Constitucionalidade  (ADC).  Tanto ADI  quanto ADC  estão  previstas  no
mesmo  art.  102,  I,  “a”,  da Constituição Federal.  “Art.  102. Compete  ao Supremo Tribunal Federal,  precipuamente,  a  guarda  da Constituição,
cabendo­lhe: I ­ processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação
declaratóriade constitucionalidade de lei ou ato normativo federal”. Na verdade, ADI e ADC tem a mesma natureza, apenas são ações com sinal
trocado. É o que se chama de “Caráter Dúplice ou Ambivalente da ADI e ADC”,  isto é, essas duas ações  têm a mesma natureza, o que muda é
apenas que uma é o inverso da outra. Uma ADI julgada procedente é a mesma coisa que um a ADC julgada improcedente, e vice­versa. Isso está
previsto  de  forma  bastante  clara  no  art.  24,  da  Lei  9.868/99:  “Proclamada  a  constitucionalidade,  julgar­se­á  improcedente  a  ação  direta  ou
procedente  eventual  ação declaratória;  e,  proclamada  a  inconstitucionalidade,  julgar­se­á  procedente  a  ação direta  ou  improcedente  eventual  ação
declaratória”.
Assim,  a natureza da ADI  e da ADC é  a mesma. A diferença  é que na ADI  se pede  a declaração de  inconstitucionalidade  e na ADC se pede  a
declaração de constitucionalidade, mas os efeitos da decisão em ambas são os mesmos, isto é, a constitucionalidade ou inconstitucionalidade da
lei. Tanto que podemos  ter  a  seguinte  situação:  uma mesma  lei  pode  ser  objeto de ADC e de ADI,  por  exemplo. Um  legitimado propõe uma
ADI  questionando  a  inconstitucionalidade  de  uma  lei,  e  outro  legitimado  propõe  uma ADC dizendo  que  a  lei  é  constitucional. Nesse  caso,  o
STF vai reunir as ações, a ADC e a ADI, e decidir em conjunto. A decisão vai ser:  julgando uma procedente, a outra é improcedente. Por isso,
uma ADC  julgada  improcedente  terá  o mesmo  efeito  de  uma ADI  julgada  procedente. Nos  dois  casos  a  lei  será  tida  por  inconstitucional. Do
mesmo modo, uma ADI  julgada  improcedente  terá o mesmo efeito de uma ADC procedente. Nos dois casos a  lei  será  tida por constitucional.
Este é o caráter dúplice ou ambivalente da ADI e ADC.
Mas, se a ADC possui a mesma natureza da ADI, pergunta­se: porque existir uma ADC? Não bastaria a ADI? Embora a finalidade de ambas seja
a supremacia constitucional, essa garantia pode ocorrer de direfentes  formas. Na ADI o objetivo é  retirar do ordenamento uma  lei supostamente
inconstitucional. As leis gozam de presunção relativa de constitucionalidade, logo, para retirá­las do ordenamento jurídico precisa­se da ADI. Já
na  ADC  é  o  inverso,  quer­se  manter  a  norma  no  ordenamento  por  ela  ser  constitucional.  Em  outras  palavras,  enquanto  na  ADI  busca­se
desconstituir a presunção relativa de constitucionalidade e retirar a norma do ordenamento, na ADC busca­se manter a norma no ordenamento e
reforçar a sua constitucionalidade transformando aquela presunção que antes era relativa em uma presunção absoluta de constitucionalidade. Mas
como ambas as ações, tanto a ADI como a ADC, possuem a mesma natureza, praticamente tudo o que foi falado na ADI aplica­se também para a
ADC.  Só  existem  três  diferenças  entre  ambas:  (i)  existência  de  pressuposto  de  admissibilidade  na  ADC  (controvérsia  judicial  relevante);  (ii)
maior  restrição  ao  limite  espacial  quanto  ao  objeto  na  ADC  (apenas  objeto  federal  em  face  de  Constituição  Federal);  (iii)  inexistência  de
participação do Advogado­Geral da União (o AGU só participa na ADI).
4.1.    PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE DA ADC:
Embora  ADI  e  ADC  tenham  natureza  idêntica,  apenas  são  inversas,  é  mais  fácil,  contudo,  por  uma ADI  do  que  uma ADC,  justamente  pela
necessidade,  nesta  última,  de  se  observar  um  pressuposto  de  admissibilidade,  qual  seja:  existência  de  controvérsia  judicial  relevante,
característica específica da ADC, nos  termos do art.  14,  III, Lei 9868/99:  “Art. 14. A petição  inicial  indicará:  III  ­  a  existência de controvérsia
judicial  relevante  sobre a aplicação da disposição objeto da ação declaratória”.  Isso ocorre pelo princípio da constitucionalidade das  leis. Como
sabemos,  quando  uma  lei  ingressa  no  ordenamento  jurídico,  pressupõe­se  que  seja  constitucional,  até  que  sua  inconstitucionalidade  seja
reconhecida. Trata­se, então, de presunção relativa. Ora, mas se há essa presunção de constitucionalidade, porque propor ADC, se já se pressupõe
que  a  lei  seja  constitucional?  Não  faria  sentido  ficar  propondo  ADC  de  todas  as  leis  que  surgissem,  porque,  em  princípio,  todas  já  são
constitucionais. É muito mais lógico propor ADI quando se quer desconstituir essa presunção para expurgar a lei do ordenamento jurídico, mas a
ADC tornar­se­ia desnecessária, justamente pelo princípio da constitucionalidade das leis.
Exatamente por isso é que, na ADC, existe um pressuposto de admissibilidade que não existe na ADI. É necessário, para se propor a ADC, que
haja  controvérsia  judicial  relevante.  Se  a  lei  já  se  presume  constitucional  e  se  ninguém  está  discutindo  judicialmente  a  constitucionalidade
daquela  lei,  não  se  justifica  propor  ADC.  Caso  contrário,  o  STF  viraria  um  órgão  de  consulta  para  ratificar  a  constitucionalidade  das  leis.
Portanto, para que o STF seja provocado em ADC, existe o requisito de admissibilidade da necessária existência de controvérsia judicial sobre a
lei  em  relação a qual  se deseja  a  afirmação expressa de  sua  constitucionalidade.  Já para  a ADI,  ao  contrário da ADC, não precisa,  obviamente,
desse requisito de admissibilidade, porque a ADI serve exatamente para desconstituir a presunção relativa de constitucionalidade. Para que o STF
não  vire  órgão  de  consulta,  só  se  justifica  a  sua  provocação  se  existir  uma  controvérsia  judicial  relevante,  que  justifique  a  medida  judicial.
Assim, se houver vários órgãos do Judiciário proferindo decisões divergentes, nesse caso se justifica mover ADC perante o STF.
No resto, fora esse pressuposto de admissibilidade (controvérsia judicial relevante), a ADC se assemelha à ADI quanto à natureza do objeto, aos
limites  temporais e ao prisma de apuração, só não quanto ao  limite espacial. Por  isso, deixamos de comentar sobre aquilo que é  idêntico entre
ADI e ADC, porque todo o exposto para uma serve para a outra, sem ressalvas. Tanto é assim que uma só lei (Lei n. 9868/99) serve ambas. A
única  diferença,  então,  reside  no  pressuposto  de  admissibilidade  e  no  limite  espacial  da ADC. Visto  o  primeiro,  siga­se  ao  segundo  ponto  de
divergência.
4.2.    LIMITE ESPACIAL NA ADC:
No que  se  refere  ao  aspecto  espacial  do  objeto  no  controle  abstrato,  temos  que,  quanto  ao  âmbito  federal,  a ADI  admite  lei  ou  ato  normativo
federal ou estadual em face de Constituição Federal. Já em relação à ADC a situação muda. É que a ADC só admite lei ou ato normativo federal
em  face da Constituição Federal. Essa  conclusão decorre do art.  102,  I,  “a”, o qual dispõe expressamente nesse  sentido,  restringindo a ADC à
objeto federal. Ou seja, quanto ao aspecto espacial, a ADI é mais ampla que a ADC. Enquanto a ADI abrange objeto federal e estadual em face
da Constituição Federal, a ADC abrange objeto tão sometne federal em face da Constituição Federal. Isso significa que uma lei ou ato normativo
estadual que na ADI pode ser impugnado, na ADC isso nao ocorre, porque o objeto da ADC é somente lei ou ato normativo federal, ficando de
fora o objeto que seja estadual.
Qual  a  razão  dessa  diferença?  Quando  a  ADC  foi  criada,  com  a  Emenda  03/93,  só  havia  quatro  legitimados  para  propô­la,  todas  autoridades
federais: Presidente, Procurador­Geral da República, Mesa da Câmara e Mesa do Senado. Não havia autoridades estaduais como legitimados. O
seu objeto era apenas a lei ou ato normativo federal. Com a EC 45/04, veio a proposta de igualar a ADI e a ADC, tanto com relação aos efeitos
da decisão, como  também em relação aos  legitimados, bem assim  também quanto ao objeto. Na proposta que deu origem à Emenda 45,  tinha
também a previsão de que o objeto da ADC passaria a ter o mesmo limite espacial da ADI, o que abrangeria as leis e atos normativos,também,
estaduais. Só que, nesta parte, teve emenda do Senado e teve que retornar para a Câmara. É a PEC 29/2000, que está em votação na Câmara dos
Deputados.  Essa  PEC  29/00  é  uma  parte  da  EC­45  que  voltou  para  a  Câmara  novamente  e  criou  essa  distorção  no  sistema.  Na  verdade,  a
intenção da EC­45 era igualar completamente as duas ações (efeitos, legitimados, objeto), salvo no que tange ao pressuposto de admissibilidade
da  necessária  existência  de  controvérsia  judicial  relevante  e  a  desnecessidade  de  participação  do Advogado Geral  da União  na ADC. Contudo,
essa proposta ainda não foi aprovada.
Assim, se no que se refere aos legitimados e aos efeitos não há diferença, mas no aspecto espacial do objeto a ADC ainda diverge da ADI. Logo,
enquanto a ADC só aceita como objeto lei ou ato normativo federal em face de Constituição Federal, a ADI é mais ampla e permite como objeto
lei ou ato normativo federal e também estadual, em face da Constituição Federal. Na verdade, como ADI e ADC são ações com mesma natureza,
não há  razão para diferença quanto ao objeto.  Já no que se  refere ao paradigma estadual essa divergência não existe. Assim, ADI e ADC,  tendo
por objeto lei ou ato normativo em face de Constituição Estadual, todas duas aceitam objeto estadual ou municipal. Portanto, o objeto na ADC
pode  ser  lei  ou  ato nromativo  apenas  federal  em  face de Constituição Federal,  ou  então,  lei  ou  ato normativo  estadual  e municipal  em  face de
Constituição Estadual.
5. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF)
Além da ADI e da ADC, temos também a ADPF, prevista no art. 102, §1°, da Constituição Federal: ”A argüição de descumprimento de preceito
fundamental,  decorrente  desta  Constituição,  será  apreciada  pelo  Supremo  Tribunal  Federal,  na  forma  da  lei”.  Enquanto  ADI  e  ADC  estão
regulamentadas na Lei  n.  9868/99,  a ADPF está  regulada na Lei n.  9882/99. De  fato,  a Arguição de Descumprimento de Preceito Fudamental
(ADPF)  tem muitos  características  diferentes  da ADI  e  da ADC.  Se ADI  e ADC  são  bem  próximas,  a ADPF  já  possui  várias  diferenças  em
relação àquelas. Não é por outro motivo que existe uma lei específica regulando a ADPF (Lei n. 9882/99), e outra lei que se aproveita para ADI
e ADC (Lei n. 9868/99).
Uma primeira grande diferença  fundamental para o correto entendimento desta espécie de ação em controle abstrato é que a ADPF (Arguição de
Descumprimento  de  Preceito  Fundamental)  não  é  uma  arguição  de  descumprimento  de  “constitucionalidade”,  mas  sim,  uma  arguição  de
descumprimento  de  “preceito  fundamental”.  Ou  seja,  enquanto  o  parâmetro  de  controle  da  ADI  e  da  ADC,  como  se  sabe,  é  qualquer  norma
formalmente constitucional, inclusive os princípios implícitos e os tratados de direitos humanos com status constitucional, formando o chamado
bloco  de  constitucionalidade,  na ADPF,  por  sua  vez,  o  parâmetro  é  um  “preceito  fundamental”. Na  verdade,  todo  preceito  fundamental  é  uma
norma  formalmente  constitucional,  integra  o  bloco  de  constitucionalidade,  mas  nem  toda  norma  constitucional  é  um  preceito  fundamental.
Logo, não é qualquer norma formalmente constitucional que servirá de parâmetro para a ADPF.
Portanto,  isso  significa  que,  no  que  se  refere  ao  parâmetro  de  controle,  a ADPF  é mais  restrita  que  a ADI  e  a ADC,  porque  enquanto  nestas
pode­se  impugnar  uma  lei  ou  ato  normativo  em  face  da  Constituição  Federal  como  um  todo,  considerando  todas  as  normas  formalmente
constitucionais  integrantes  do  bloco  de  constitucionalidade,  na  ADPF,  por  seu  turno,  será  possível  arguir  o  descumprimento  de  lei  ou  ato
normativo  em  face  apenas  de  “preceito  fundamental”,  parte  menor  contida  no  todo  das  normas  constitucionais.  Assim,  nem  toda  norma
integrante do bloco de constitucionalidade é um preceito fundamental, logo, a ADI e a ADC possuem parâmetro de controle mais abrangente do
que a ADPF.
A questão se conloca, então, é: o que é um preceito fundamental? A rigor, não há conceito preciso retirado da Constituição Federal, tampouco da
Lei  9882/99  que  regula  a ADPF. Coube  à  doutrina  e  jurisprudência  fazê­lo.  Consideram­se  preceito  fundamental  as  normas  imprescindíveis  à
identidade e ao regime adotado pela Constituição. Quer dizer, é uma parte menor integrante da Constituição que lhe cofere a sua essência. Mas, a
rigor,  não  existe  um  conceito  legal  de  quais  as  normas  constitucionais  são  exatamente  preceitos  fundamentais.  Na  ADPF  n°.  01  julgada  no
âmbito  do  STF,  inclusive,  ficou  consignado  que  somente  o  próprio  STF,  como  guardião  da Constituição,  é  quem  poderia  dizer  quais  são  os
preceitos fundamentais constitucionais, aquelas normas que conferem identidade e são a essência do regime constitucional.
De  todo modo,  já  existem alguns  dispositivos  constitucionais  que  são,  inegavelmente,  considerados  preceitos  fundamentais.  Seria  o  caso,  por
exemplo, dos princípios, objetivos e  fundamentos da Constituição, previstos nos arts. 1º  a 4º, bem como os direitos e garantias  fundamentais
espalhados  por  toda  a Constituição,  sobretudo  do  art.  5°  até  o  art.  17,  ou  ainda,  os  princípios  constitucionais  sensívels,  previstos  no  art.  34,
VII, da Constituição, assim como as cláusulas pétreas contidas no art. 60, IV. Enfim, todos estes são exemplos claros de preceitos fundamentais,
o  que  não  significa  que  só  existam  estes,  porque  cabe  ao  Supremo  definir,  mas,  obviamente,  essas  são,  sem  dúvida  alguma,  normas
constitucionais que se constituem claramente em preceitos fundamentais.
Vale ressaltar que preceito não se confunde com princípio. Preceito é sinônimo de norma. E norma pode ser tanto princípio quanto regra. Então,
é perfeitamente possível  ter  uma norma­regra que  seja  considerada preceito  fundamental. Logo,  temos preceitos que  são princípios, mas  temos
também  preceitos  que  são  regras.  O  que  importa  é  que  não  será  cabível  uma  ADPF  em  face  de  dispositivo  constiucional  que  não  seja  um
preceito fundamental. O parâmetro de controle na ADPF é mais restrito que na ADI e ADC, porque apenas a violação de preceito fundamental é
passível de ADPF. Partindo desse pressuposto,  se o parâmetro de  controle da ADPF é mais  restrito que na ADI e na ADC, poderia­se,  então,
indagar: porque criar a ADPF, se já existe ADI e ADC e o parâmetro de controle destas abrange àquela?
Ocorre  que,  como  sabemos,  para  o  exercício do  controle  de  constitucionalidade,  precisamos de dois  elementos:  objeto  e  parâmetro. No que  se
refere  ao  parâmetro,  a  ADPF  é  mais  restrita  do  que  a  ADI  e  ADC,  porque  o  parâmetro  são  apenas  as  normas  constitucionais  que  revelam
preceitos fundamentais. Contudo, no que se refere ao objeto, a lógica se inverte, a ADPF é mais abrangente do que a ADI e a ADC. Quer dizer,
outros  objetos  que  não  podem  ser  impugnados  via  ADI  ou  ADC,  poderão  sê­lo  via  ADPF.  Então,  temos  na  ADI  e  na  ADC menos  objetos
podendo ser  impugados em face de um parâmetro maior (todas as normas formalmente constitucionais),  já na ADPF, é o  inverso, mais objetos
podem ser  impugnados em face de um parâmetro menor  (somente preceitos  fundamentais). Daí  reside a  razão de existir da ADPF: objetos que
não poderiam ser impugnados via ADI e ADC, poderão ser levados ao STF por meio de ADPF.
Isso ocorre porque a ADPF é uma arguição de “descumprimento”, e não de “constitucionalidade ou inconstitucionalidade”. Quer dizer, enquanto
a  ADI  é  uma  ação  direta  de  “inconstitucionalidade”  e  a  ADC  é  uam  ação  direta  de  “constitucionalidade”,  a  ADPF  é  uma  arguição  de
“descumprimento”  de  preceito  fundamental.  Não  é  uma  “AIPF”  (arguição  de  “inconstitucionalidade”em  face  de  preceito  fundamental),  mas
“ADPF”  (arguição  de  “descumprimento”  de  preceito  fundamental).  Na  verdade,  descumprimento  é  um  conceito  mais  amplo  do  que
inconstitucionalidade,  abrangendo  esta  última.  Quer  dizer,  toda  inconstitucionalidade  vai  ser  necessariamente  um  descumprimento,  mas  a
recíproca  nem  sempre  será  verdadeira,  isto  é,  nem  todo  descumprimento  será  uma  inconstitucionalidade.  É  possível  descumprir  a  ordem
constitucional sem necessariamente incidir em uma inconstitucionalidade
. Para se ter uma inconstitucionalidade, em principio, sabemos que somente um ato legislato do Poder Público pode ser utilizado como objeto,
ou seja, só uma lei ou ato normativo pode ser considerado inconstitucional, porque a inconstitucionalidade, como vimos na análise da natureza
do objeto da ADI e ADC, pressupõe um objeto cuja natureza seja legislativa (atos normativos primários constantes do rol do art. 59 da CF/88).
Já no descumprimento  isso não ocorre. Não  estamos  falando mais  de  inconstitucionalidade, mas de descumprimento,  e  qualquer  ato do Poder
Público (inclusive com natureza não legislativa) pode descumprir a ordem constitucional, sem que incida propriamente em inconstitucionalidade.
Por outro lado, a  inconstitucionalidade abrange só objetos federais e estaduais em face da Constituição Federal,  já no descumprimento isso não
ocorre. Um ato do Poder Público municipal pode descumprir a ordem constitucional. Ademais, para  se  ter  inconstitucionalidade,  sabemos que
esta  tem  que  ser  originária,  porque  não  existe  no  direito  brasileiro  inconstitucionalidade  superveniente,  nesse  caso  há  não  recepção,  já  para
descumprimento  não  há  essa  restrição,  uma  norma  anterior  ao  parâmetro,  embora  não  possa  ser  considerada  inconstitucional,  pode  estar
descumprindo a ordem constitucional.
Portanto, de tudo isso se percebe que o objeto da ADPF é muito mais amplo do que o da ADI e da ADC, pelo simples fato de que a ADPF é
uma Arguição de  “Descumprimento”  e não uma Ação Direta de  “Inconstitucionalidade”. O objeto  é mais  amplo no que  se  refere  à  três  limites
vistos atrás: natureza do objeto, limite espacial e limite temporal. Só não há diferença quanto ao prisma de apuração, porque o controle abstrato,
inclusive em ADPF, exige ofensa direta à Constituição. Mas a ADPF abrange mais situações que a ADI e ADC, daí a sua  razão de existência.
Tanto  ADI,  ADC  e  ADPF,  têm  por  finalidade  assegurar  a  supremacia  da  Constituição,  mas  possuem  enfoques  distintos.  Vejamos,  pois,  as
particularidades da ADPF:
5.1.    PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE DA ADPF:
Assim como ocorre na ADC, onde temos pressuposto para a sua admissibilidade (controvérsia  judicial relevante),  também na ADPF temos um
requisito prévio para a ação ser admitida. É que, como o objeto da ADPF é bem mais amplo, é necessário que seja observado, como pressuposto
de admissibilidade para esta ação, o seu caráter subsidiário, como previsto na Lei n. 9882/99, no seu art. 4º, §1º: “Não será admitida argüição de
descumprimento  de  preceito  fundamental  quando  houver  qualquer  outro meio  eficaz  de  sanar  a  lesividade”.  Trata­se  do  chamado  princípio  da
subsidiariedade na ADPF, fundamental para se entender quando será cabível ADC, ADI ou ADPF. Esse caráter subsidiário vai determinar quando
a ADPF será cabível ou não.
Por  esse  pressuposto  do  necessário  caráter  subsidiário  da ADPF,  temos  que  este  tipo  específico  de  ação  só  é  cabível  quando  não  existir  outro
meio igualmente eficaz para sanar a lesividade. Na verdade, o caráter subsidiário não significa a inexistência de outro meio, mas a inexistência de
outro meio  eficaz  para  sanar  a  lesividade. Então,  para  o  exame de  admissibilidade  da ADPF não basta  verificar  a mera  existência,  em  tese,  de
outro meio para sanar a lesividade, mas ainda, que esse meio seja igualmente eficaz, só assim não caberá ADPF. Se existir outro meio, mas este
for  ineficaz,  ou  tiver  eficácia  insuficiente,  então  caberá  a ADPF. Atualmente,  o STF vem entendendo que  esse  outro meio processual,  para  ser
igualmente  eficaz,  tem  que  ter  a  mesma  efetividade,  amplitude  e  imediaticidade  da  ADPF.  Não  é  simplesmente  a  existência  de  outro  meio
processual cabível à hipótese que elimina o cabimento de ADPF, mas o caráter de subsidiariedade desta, segundo o entendimento do STF, deve
ser visto sob dois fatores: existência de outro meio processual e igual eficácia deste (efetividade, amplitude, imediaticidade).
Obviamente, levando em conta a ADI e a ADC, se qualquer uma das duas couberem, descabe ADPF, porque aquelas possuem a mesma eficácia
(efetividade,  amplitude  e  imediaticidade)  que  esta.  Na  verdade,  quando  se  fala  em  outro  meio  igualmente  eficaz  geralmente  está­se  falando
praticamente  da  possibilidade  de ADI ou ADC. Quer  dizer,  via  de  regra,  o meio  para  ser  igualmente  eficaz,  tem que  ser  também uma  ação  de
controle abstrato  (efeito erga omnes, vinculante). Dificilmente outro meio processual  (habeas corpus, mandado de segurança, etc.)  terá a mesma
efetividade, amplitude e imediaticidade da ADPF, que não seja um instrumento de controle abstrato (ADI ou ADC). Isso não significa, contudo,
que  seja  impossível encontrar outro meio  igualmente eficaz. A  rigor, o STF não exige que o  instrumento  seja de controle abstrato concentrado
para ser considerado eficaz de forma a afastar o cabimento da ADPF. O que o STF entende é que tem que ter a mesma efetividade, imediaticidade
e amplitude da ADPF.
Aliás,  há  um  exemplo  na  jurisprudência  do  Supremo  de  um  mecanismo  que  é  cabível  e  igualmente  eficaz  (mesma  amplitude,  efetividade,
imediaticidade) e que já chegou a afastar o cabimento da ADPF por faltar­lhe o requisito de admissibilidade da subsidiariedade, mas que não se
trata de outra ação própria de controle de constitucionalidade. Foi o caso em que o objeto da ADPF envolvia uma súmula vinculante, pediu­se
que a súmula vinculante fosse considerada incompatível com a Constituição, por meio de ADPF. Porém, na Lei 11417/06, que regula o instituto
da  súmula  vinculante,  há  expressa  previsão  de  outro  meio  processual  específico  para  se  combatê­la,  que  se  trata  do  pedido  de  revisão  ou
cancelamento da  súmula. Como na  lei  existe um meio  tão eficaz, não cabe ADPF, porque para esta  se exige o  requisito de admissibilidade da
subsidiariedade (art. 4°, §1°, Lei 9882/99). Assim, o STF entendeu que súmula vinculante não pode ser objeto de ADPF. Assim, embora essa
seja  uma  hipótese  rara  de  ser  observada,  se  algum  outro  meio,  diverso  de  ação  de  controle  abstrato,  em  determinado  caso  tiver  a  mesma
efetividade, imediaticidade e amplitude de uma ADPF, então esta não será cabível, por faltar­lhe o pressuposto da subsidiariedade.
5.2.    NATUREZA DO OBJETO DA ADPF:
Vimos atrás que, tanto na ADI como na ADC, por força do art. 102, I, “a”, da Constituição Federal, o objeto dessas ações não é qualquer ato do
Poder Público, mas exclusivamente um ato de natureza  legislativa,  isto é, “lei ou ato normativo”. Ocorre que na ADPF é diferente, o objeto é
mais  amplo  quanto  à  sua  natureza.  Para  fins  de  ADPF,  o  objeto  não  precisa  ser  necessariamente  lei  ou  ato  normativo,  sendo  possível  a
impugnação  de  qualquer  ato  do  Poder  Público.  Portanto,  o  objeto  da  ADPF  pode  ser  uma  lei  ou  um  ato  normativo,  mas  também  pode  ser
qualquer ato do Poder Público, mesmo que não tenha natureza legislativa, isto é, ainda que não seja uma lei ou ato normativo. Qualquer ato do
Poder Público, portanto, pode ser objeto de ADPF.
Isso  ocorre  justamente  porque  na  ADPF  não  se  impugna  uma  inconstitucionalidade,  esta  sim  exigiria  como  objeto  um  ato  de  natureza
legislativa,  mas  aqui  combate­seum  descumprimento,  nesse  caso  qualquer  ato  do  Poder  Público  pode  descumprir  a  Constituição.  Ademais,
diferentemente da ADI e ADC, no que se  refere à ADPF a Constituição não  regula expressamente o seu objeto, mas  tão somente se  limita, no
art. 102, §1°, a dispor que: “A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo
Tribunal Federal,  na  forma da  lei”. Ou  seja,  coube  à Lei  n.  9882/99,  que  trata  da ADPF,  regulamentar  o  seu objeto. E nos  termos do  art.  1°,
caput,  da  referida Lei,  temos  que  o  objeto  da ADPF pode  ser  qualquer  ato  do Poder  Público,  não  se  restringindo  apenas  aos  atos  de  natureza
legislativa  (lei  ou  ato  normativo),  dispondo­se  nos  seguintes  termos:  “A  argüição  prevista  no  §1°  do  art.  102  da  Constituição  Federal  será
proposta  perante  o  Supremo  Tribunal  Federal,  e  terá  por  objeto  evitar  ou  reparar  lesão  a  preceito  fundamental,  resultante  de  ato  do  Poder
Público”.  Observe­se,  portanto,  que  a  parte  final  do  dispositivo  é  clara  ao  dispor  que  o  “ato  do  Poder  Público“  poderá  ser  arguido mediante
ADPF se causar lesão à preceito fundamentao.
A natureza do objeto na ADPF, então é qualquer ato do Poder Público, e não apenas os atos do Poder Público de natureza legislativa (lei ou ato
normativo).  A  consequência  prática  disso  é  que,  se  na  ADI  e  ADC  somente  os  atos  legislativos  do  Poder  Público  (leis  e  atos  normativos)
poderiam ser objeto de controle,  logo, os atos do Poder Público de natureza administrativa e  judicial nunca poderiam ser  impugnados em sede
de ADI ou ADC. Já na ADPF isso, em tese, é possível. Atos administrativos e decisões judiciais, como são atos do Poder Público, podem ser
objeto de ADPF, embora sejam destituísdos de natureza de ato legislativo. Exemplo disso foi a ADPF n°. 101, que questionava a importação de
pneus usados, julgada procedente sob o fundamento de violação do direito fundamental à saúde, considerado um preceito fundamental. O objeto
impugnado nesta ADPF foi uma decisão  judicial. É,  inclusive, muito comum se encontrar ADPF que  tem por objeto decisões  judiciais, o que
seria inimaginável em ADI ou ADC. Portanto, o objeto na ADPF (ato do Poder Público) é muito mais amplo que na ADI e na ADC (lei ou ato
normativo). Contudo, vale ressaltar que, apesar de “ato do Poder Público” se tratar de uma expressão bastante ampla, o que inclui também atos
de natureza administrativa e judicial, o Supremo Tribunal Federal vem afastando alguns objetos, os quais, no entendimento da Corte Maior, não
poderiam ser impugnados em ADPF.
São exemplos em que o cabimento de ADPF é inadmitido pelo STF: (a) Súmulas: no que se refere às súmulas vinculantes, como já visto, falta
o  requisito  da  subsidiariedade,  já  com  relação  às  súmulas  comuns,  entende  o  STF  que,  como  elas  são  apenas  uma  consolidação  de  um
entendimento judicial no tempo, é o próprio judiciário que deve verificar se aquele entendimento deve ou não ser abandonado, não sendo cabível
em ADPF, diferente do que ocorre nas decisões judiciais; (b) Proposta de Emenda Constitucional (PEC): a proposta de emenda não é um ato do
Poder Público completo e acabado, trata­se ainda de ato que está em formação, por isso não pode ser objeto de controle abstrato; (c) Veto: nesse
caso,  já  em  duas  decisões  (ADPF  nºs.  01  e  73)  o  STF  expressamente  fixou  entendimento  no  sentido  de  que  o  veto  não  pode  ser  objeto  de
ADPF, por  ser  ato de natureza política, discricionária do Chefe do Executivo;  (d) Atos Tipicamente Regulamentares:  em duas decisões  (ADPF
nºs.  169  e  192)  o  STF  já  se  posicionou  contra  o  recebimento  de  ADPF  tendo  por  objeto  um  ato  tipicamente  regulamentar,  porque  se  exige
ofensa  direta  à  Constituição,  inclusive  em  ADPF  (prisma  de  apuração  idêntico  à  ADI  e  ADC),  salvo  se  um  ato  administrativo  incidir
excepcionalmente em violação direta.
Ressalte­se, ainda, que a jurisprudência do STF e parte da doutrina prevêem duas hipóteses de cabimento para a ADPF, a partir da leitura do art.
1°  da Lei  9882/99,  que  assim diz:  “Art.  1° A  argüição prevista  no §  1o do  art.  102 da Constituição Federal  será  proposta  perante  o Supremo
Tribunal  Federal,  e  terá  por  objeto  evitar  ou  reparar  lesão  a  preceito  fundamental,  resultante  de  ato  do Poder  Público.  Parágrafo  único. Caberá
também argüição de descumprimento de preceito fundamental: I ­ quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou
ato  normativo  federal,  estadual  ou  municipal,  incluídos  os  anteriores  à  Constituição”.  Daí  se  conclui  que  são  duas  as  suas  hipóteses  de
cabimento:  ADPF  autônoma  (Lei  9.882/99,  art.  1º,  caput)  e  ADPF  incidental  (Lei  9.882/99,  art.  1º,  §  único).  A  rigor,  o  Supremo  Tribunal
Federal não faz distinção entre os objetos das duas ações (lei, ato normativo ou ato do poder público federal, estadual ou municipal, anterior ou
posterior). Ou  seja,  embora  existam  duas  espécies,  podemos  compreender  como  se  fosse  uma  só,  porque  o  objeto  é  o mesmo  para  ambas. A
subdivisão é muito mais acadêmica e didática, do que propriamente jurídica. Na prática, são idênticos o objeto, os legitimados, o processamento
e os efeitos da ADPF autônoma e ADPF incidental.
5.3.    LIMITE ESPACIAL NA ADPF:
No que se refere ao aspecto espacial do objeto no controle abstrato, temos que, quanto ao âmbito federal, a ADI só admite lei ou ato normativo
federal  ou  estadual  em  face de Constituição Federal,  enquanto  a ADC ainda  é mais  restrita,  só  admite  lei  ou  ato normativo  federal  em  face de
Constituição  Federal.  No  que  se  refere  à  ADPF,  porém,  a  situação  muda.  É  que  a  ADPF  também  admite  objeto  (ato  do  Poder  Público)
municipal  em  face  de  preceito  fundamental  da  Constituição  Federal.  Quer  dizer,  poder  ser  impugnado  em  ADPF  um  ato  do  Poder  Público
federal,  estadual  ou municipal  em  face  da Constituição  Federal.  Aqui,  entra  o  caráter  subsidiário  da ADPF,  porque  um  objeto municipal  não
pode ser objeto de ADC ou ADI, mas pode sê­lo em sede de ADPF. O próprio art. 1°, §único, da Lei 9882/99, afirma expressamente que caberá
argüição de descumprimento de preceito fundamental sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal. Por ouro lado, tanto ADI como
ADC admitem lei ou ato normativo estadual ou municipal em face de Constituição Estadual. Já a ADPF não se admite em face de Constituição
Estadual, em nenhuma hipótese.
5.4.    LIMITE TEMPORAL NA ADPF:
A ADPF, como  já  se  sabe, não combate uma  inconstitucionalidade,  cuidando de arguir um descumprimento,  conceito mais amplo que aquele.
Isto  Toda  inconstitucionalidade  vai  ser  necessariamente  um  descumprimento,  mas  nem  todo  descumprimento  será  inconstitucionalidade.  Por
exemplo, uma  lei anterior à Constituição não pode ser considerada  inconstitucional, porque não há  inconstitucionalidade superveniente,  trata­se
de caso de não recepção. Mas se há a aplicação de uma lei anterior à Constituição, considerando­se ser essa lei recepcionada, quando na verdade
trata­se  de  uma  lei  incompatível  com  a  Constituição,  nesse  caso  ocorrerá  um  descumprimento.  Não  é  inconstitucionalidade,  mas  é
descumprimento. Essa lei anteror não poderá ser objeto de ADI e ADC, mas será excepcionalmente possível na ADPF.
Por  isso,  a ADPF é  uma  exceção  à  regra  geral  de  que,  para  fins  de  controle  abstrato  de  constitucionalidade,  o  objeto  tem que  ser  posterior  ao
parâmetro, como ocorre na ADI e ADC. Na verdade, como na ADPF falamos de arguição de descumprimento, e não inconstitucionalidade, nesse
caso  podemos  ter  um  descumprimento  de  um  objeto  anterior  ao  parâmetro,  O  que  não  há  no  direitobrasileiro  é  inconstitucionalidade
superventiente,  mas  agora  estamos  falando  de  descumprimento.  Portanto,  cabe  perfeitamente  ADPF  impugnando  um  objeto  precedente  ao
parâmetro de controle. Enquanto a inconstitucionalidade só existe se o objeto for posterior ao parâmetro, o descumprimento pode ocorrer com o
objeto anterior ou posterior ao parâmetro. Só não existe descumprimento, obviamente, em face de norma constitucional já foi revogada, logo, o
parâmetro de controle necessariamente tem que ser referente à ordem constitucional vigente. Mas em se tratando de um objeto supostamente não
recepcionado,  será  cabível  ADPF,  o  que  significa  que  este  meio  processual  é  hábil  a  ser  manejado  para  impugnar  um  objeto  que  seja  tanto
anterior como posterior a um parâmetro de controle vigente.
Nesse sentido, o próprio art. 1°, §único, da Lei 9882/99, afirma expressamente que caberá argüição de descumprimento de preceito fundamental
inclusive de normas anteriores à Constituição. Por  isso é que, enquanto ADI e ADC possuem como limite  temporal uma inconstitucionalidade
originária (objeto necessariamente posterior ao parâmetro), já que não há inconstitucionalidade superveniente, e sim não recepção, na ADPF, por
sua vez,  será possível o objeto  ser  também anterior  ao parâmetro, porque nesse  caso  temos descumprimento  (e não  inconstitucionalidade),  que
pode ocorrer com objeto anterior ao parâmetro. Então, por exemplo, uma lei de 1990 só poderá ser impugnada via ADPF em face de uma norma
incluída no texto constitucional pela Emenda Constitucional de 1993. Uma ADI ou ADC não se presta à hipótese, porque nesses casos o objeto
tem que ser posterior ao parâmetro, seja este norma constituinte originária ou derivada. Somente na ADPF é possível objeto que seja anterior ao
parâmetro. Se naquele exemplo anterior  fosse proposta uma ADI, não  seria possível  a  continuidade da ação nessas condições,  cabendo ao STF
invocar o princípio da fungibilidade para transformá­la em ADPF, sempre que possível. Na verdade, ADI, ADC e ADPF, são ações consideradas
fungíveis, desde que respeitados os requisitos de cada espécie.
6. CONCLUSÃO
Por  todo o exposto, buscamos apresentar neste breve  trabalho um estudo comparado entre as ações próprias de controle de constitucionalidade,
facilitando  a  compreensão  deste  tema  de  fundamental  importância  no  direito  constitucional  contemporâneo.  Compilando  tudo  o  que  foi
analisado, podemos estabelecer o seguinte quadro resumo, conforme segue abaixo:
Limites/Ações ADI ADC ADPF
Pressuposto  de
Admissibilidade
­ controvérsia judicial relevante
inexistência  de  outro  meio
igualmente eficaz
Parâmetro  de
Controle
Normas formalmente constitucionais integrantes do bloco de constitucionalidade
Normas  constitucionais  de
preceito fundamental
Legitimados Todos os legitimados do rol do art. 103 da Constituição Federal
Natureza  do
Objeto
Somente atos de natureza legislativa do Poder Público (lei ou ato normativo) qualquer ato do Poder Público
Limite Espacial
Lei  ou  ato  normativo  federal  ou  estadual  em
face  da  Constituição  Federal;  e  lei  ou  ato
normativo  estadual  ou  municipal  em  face  da
Constituição Estadual
Lei  ou  ato  normativo  federal  em  face  da
Constituição  Federal;  e  lei  ou  ato
normativo estadual ou municipal em face da
Constituição Estadual
Lei  ou  ato  normativo  federal,
estadual  ou municipal  em  face  da
Constituição Federal
Limite
Temporal
Somente inconstitucionalidade originária (objeto posterior ao parâmetro)
Cabível  também  para  normas
anteriores  à  Constituição  (objeto
posterior ou anterior ao parâmetro
de controle
Prisma  de
Apuração
Somente  violação  direta  à Constituição  Federal  (espécies  normativas  do  art.  59  da CF/88  e  atos  normativos  infralegais  que
violem diretamente a CF/88)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROSO, Luis Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. 2ª ed. Saraiva, 2010.
BARROSO, Luis Roberto. O Controle de Constitucionalidade no Direito Brasileiro. 6ª ed. Saraiva, 2012.
BULLOS, Uadi Lammego. Curso de Direito Constitucional. 6ª ed. Saraiva, 2011.
FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira Filho. Curso de Direito Constitucional. 37ª ed. Saraiva, 2011.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 15ª ed. Saraiva, 2011.
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed. Saraiva, 2012.
MARTINS,  Ives Gandra  da Silva. MENDES, Gilmer Ferreira. NASCIMENTO, Carlos Valder  do. Tratado  de Direito Constitucional,  v.  1.  2ª
Ed. Saraiva, 2012.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27ª ed. Atlas, 2011.
NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 6ª ed. Método, 2012.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 34ª ed. Malheiros, 2011.
Autor
Francisco Gilney Bezerra de Carvalho Ferreira
Procurador  Federal. Membro  da Advocacia­Geral  da União.  Ex­Analista  da Controladoria­Geral  da União.  Pós­Graduado  em Direito
Público.
Informações sobre o texto
Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT)
FERREIRA, Francisco Gilney Bezerra de Carvalho. Ações de controle de constitucionalidade: comparação  . Revista Jus Navigandi,  Teresina,
ano 18, n. 3812, 8 dez. 2013. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/26029>. Acesso em: 8 set. 2016.

Outros materiais