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Artigo - Dislexia: as potencialidades do disléxico

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Dislexia: as potencialidades do disléxico
Dyslexia: the potentialities of the dyslexic
Ana Carolini Rezende[1: Graduanda em Psicologia; UNESA. Resende/RJ. E-mail: carolini.rezende.11@gmail.com]
Ana Gabriela Queiroz Novaes[2: Graduanda em Psicologia; UNESA. Resende/RJ. E-mail: gabi.q.novaes@gmail.com]
Sabrina Braga Castanheira[3: Graduanda em Psicologia; UNESA. Resende/RJ. E-mail: sabrinabraga.psi@yahoo.com]
Resumo
O objetivo deste trabalho é ampliar o debate acadêmico acerca das potencialidades dos disléxicos. A Dislexia é comumente vista apenas como um déficit e a maioria das pessoas acredita que ela só tem aspectos negativos. Poucos sabem que a neuroplasticidade permite que o disléxico tenha habilidades que os não-disléxicos não possuem, ou possuem menos desenvolvidas, para compensar o déficit na leitura e na escrita. Os disléxicos são muito criativos, intuitivos e seu processamento visual é muito rápido. O preconceito que os disléxicos sofrem vem de uma ideia errada de que lhes falta inteligência ou força de vontade para aprender. Muitos dos que sofrem desse transtorno de aprendizagem são desestimulados por pessoas que acreditam que disléxicos jamais alcançarão sucesso profissional. Contrapondo esta ideia, apresentamos neste trabalho vários exemplos de pessoas disléxicas muito bem sucedidas em suas áreas de atuação, visando propagar o incentivo para que os disléxicos não desistam de seus sonhos e diminuir o julgamento errôneo acerca deste transtorno.
Palavras-chave: Dislexia. Neuroplasticidade. Potencialidades.
Abstract
The objective of this paper is to widen the academic debate about the potentialities of dyslexics. Dyslexia is commonly seen only as a deficit and most people believe that it only has negative aspects. Few know that neuroplasticity allows the dyslexic to have skills that non-dyslexics don't possess, or have it less developed, to compensate for the dificulty in reading and writing. The dyslexics are very creative, intuitive and their visual processing is very fast. The prejudice that dyslexics suffer comes from a misconception that they lack the intelligence or willpower to learn. Many of those who suffer from this learning disorder are discouraged by people who believe that dyslexics will never achieve professional success. Opposing this idea, we present in this work several examples of dyslexic people very successful in their areas of work, aiming to spread encouragement so dyslexics won't give up their dreams and to reduce misjudgment about this disorder.
Keywords: Dyslexia. Neuroplasticity. Potentialities.
INTRODUÇÃO
O tema deste artigo é relevante pois é imprescindível estudar a Dislexia e saber mais sobre as potencialidades do disléxico uma vez que, através da disseminação de informação correta sobre a dislexia, o preconceito sofrido pelos disléxicos pode ser diminuído. Consideramos que o assunto é de extrema importância para acadêmicos de Psicologia e das diversas áreas educacionais. Visto que, os educadores, tanto em casa como na escola, precisam saber reconhecer os possíveis sinais da Dislexia para que a criança receba o tratamento adequado, assim como alternativas de educação que funcionem para ela, para que não deixe de aprender. É preciso que as instituições de ensino se adaptem para ensinar disléxicos com eficiência e acolhimento, ao invés de promover o preconceito, o que, infelizmente, acontece em muitas escolas. (FERREIRA, Emerson Benedito; FERREIRA, Jesuína Therezinha Cherubino; ALVES, Ângela Cristina Ferreira. 2009).
O objetivo desta pesquisa é conhecer as potencialidades da pessoa com Dislexia e, paralelamente, ampliar o debate acadêmico sobre o tema e reduzir o preconceito contra os disléxicos.
A pesquisa apresentada neste artigo é de cunho exploratório e tem por método básico a análise de documentos, classificando-se, portanto como uma pesquisa documental. Foi feita a análise de documentos de diversos tipos, como vídeos, entrevistas e relatos de disléxicos famosos que possuem ou possuíram grande destaque no cenário internacional e que já se manifestaram falando a respeito do transtorno.
É um trabalho fundamentado na neuroplasticidade, que é o fenômeno que permite aos disléxicos desenvolverem habilidades, compensando suas dificuldades. 
Por muito tempo acreditou-se que, após se desenvolver, o Sistema Nervoso Central (SNC) não poderia mais ser modificado. Ele se tornaria uma estrutura rígida e qualquer dano seria definitivo, sem chance de alteração, pois suas células não teriam habilidades para isso. Com o passar do tempo e com o crescente avanço da tecnologia e aprofundamento no campo das pesquisas, esse ponto de vista foi modificado. O Sistema Nervoso passou a ser visto, a partir de então, como uma estrutura flexível, capaz de alterar sua estrutura funcional para se adaptar a certas circunstâncias, demonstrando possuir uma capacidade plástica.
Também chamada de plasticidade neural, a neuroplasticidade permite a adaptação dos neurônios através da recuperação e reestruturação anatômica, possibilitando também uma mudança de função de acordo com as necessidades do cérebro. Com essas modificações, torna-se possível a redução dos efeitos dos danos que acidentes como concussões e traumatismos cranianos, ou doenças e transtornos como o AVC (Acidente Vascular Cerebral), Alzheimer, Esclerose Múltipla, Parkinson, TDAH (Déficit de Atenção e Hiperatividade) e Dislexia causam ao cérebro.
O intuito da neuroplasticidade é proporcionar uma compensação para o indivíduo. Assim como os deficientes visuais tem audição e olfato mais desenvolvidos do que pessoas que enxergam, os disléxicos possuem algumas habilidades superiores às de pessoas não disléxicas, compensando seu déficit na área da escrita e da leitura. O cérebro se reorganiza para que o indivíduo não fique em desvantagem com relação aos outros ou ao ambiente.
Segundo Valle (2004), por causa dessa reestruturação no cérebro, alguns disléxicos têm o pensamento científico bastante desenvolvido e outros terão o lado artístico mais desenvolvido. 
"Considerando que uma desvantagem não é um atributo do indivíduo, mas característica de uma relação com o meio (Bach, 1986), o termo compensação significa a procura de um novo equilíbrio entre as habilidades disponíveis e as exigências impostas pelo ambiente, o que é conseguido por meio de estratégias, artifícios e dispositivos auxiliares" (Gauggel et al, 1998).
DISLEXIA
A definição de Dislexia mais comumente utilizada, adotada pela International Dyslexia Association (IDA) e pelo National Institute of Child Health and Human Development (NICHD), é:
"A dislexia é uma deficiência específica de aprendizagem de origem neurobiológica. Caracteriza-se por dificuldades com o reconhecimento exato e/ou fluente de palavras e por fracas habilidades de ortografia e decodificação. Essas dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem que é muitas vezes inesperado em relação a outras habilidades cognitivas e da prestação de ensino em sala de aula eficaz. As consequências secundárias podem incluir problemas na compreensão da leitura e na experiência reduzida da leitura que podem impedir o crescimento do vocabulário e do conhecimento do fundo." 
 Alguns possíveis sinais da dislexia:
Na pré-escola:
Dispersão;
Fraco desenvolvimento da atenção;
Atraso do desenvolvimento da fala e da linguagem
Dificuldade de aprender rimas e canções;
Fraco desenvolvimento da coordenação motora;
Dificuldade com quebra-cabeças;
Falta de interesse por livros impressos.
Na idade escolar:
Dificuldade na aquisição e automação da leitura e da escrita;
Pobre conhecimento de rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras);
Desatenção e dispersão;
Dificuldade em copiar de livros e da lousa;
Dificuldade na coordenação motora fina (letras, desenhos, pinturas etc.) e/ou grossa (ginástica, dança etc.);
Desorganização geral, constantes atrasos na entrega de trabalho escolares eperda de seus pertences;
Confusão para nomear entre esquerda e direita;
Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas etc.;
Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou longas e vagas;
Diagnóstico
O diagnóstico é feito por exclusão, em geral por equipe multidisciplinar (médico, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo, neurologista). Antes de afirmar que uma pessoa é disléxica, é preciso descartar a ocorrência de deficiências visuais e auditivas, déficit de atenção, escolarização inadequada, problemas emocionais, psicológicos e socioeconômicos que possam interferir na aprendizagem.
É de extrema importância estabelecer o diagnóstico precoce para evitar que sejam atribuídos aos portadores do transtorno rótulos depreciativos, com reflexos negativos sobre sua autoestima e projeto de vida.
Tratamento
Ainda não se conhece a cura para a dislexia. O tratamento exige a participação de especialistas em várias áreas (pedagogia, fonoaudiologia, psicologia, etc.) para ajudar o portador de dislexia a superar, na medida do possível, o comprometimento no mecanismo da leitura, da expressão escrita ou da matemática.
Alterações neurobiológicas
Os indivíduos disléxicos ao invés de ativarem, como os leitores normais, as partes anterior e posterior do cérebro, há uma subativação de caminhos neurais da parte posterior e uma superativação da parte anterior do cérebro. Isso representa uma assinatura ou marca neural para as dificuldades fonológicas. A consequência na falha na parte posterior do cérebro é a incapacidade de transformar as letras em sons ao analisarem as palavras e o não reconhecimento rápido e automático das palavras. Uma forma de compensar essa falha de subativação da parte posterior é a criação de vias alternativas cerebrais diferentes. Isso se dá por meio do uso de sistemas auxiliares na parte frontal e lado direito do cérebro e da área de Broca. Porém esses sistemas secundários são funcionais, mas não são automáticos, ou seja, permitem que haja uma leitura precisa, mas ocorre de forma muito lenta.
PRECONCEITO
Todos sabem o quanto a vida social pode ser conturbada para aqueles que não se encaixam no padrão do ambiente em que são inseridos. No caso de um disléxico, esse é um problema enfrentado constantemente.
As primeiras dificuldades apresentadas pelos disléxicos costumam ser notadas na escola, fator não muito facilitador, uma vez que é nesse local que as crianças iniciam sua vida social. Por se tratar de uma criança com características diferentes das demais, o disléxico começa então a sofrer preconceitos e rejeição de alguns colegas de turma, e às vezes até de professores mais impacientes. Na maioria das vezes, essa discriminação ocorre pela falta de conhecimento sobre o transtorno, o que faz com que essa criança seja apontada como burra, preguiçosa ou coisas do tipo. 
Esse julgamento errôneo transcende o ambiente escolar. O indivíduo portador deste transtorno sofre com essas críticas em diversos lugares, em alguns casos até mesmo dentro de casa. Nem todas as pessoas são pacientes e compreensivas com aqueles que apresentam algum tipo de dificuldade, principalmente se o transtorno não tiver sido descoberto ainda.
E mesmo já diagnosticado, o disléxico continua enfrentando inúmeros preconceitos por toda sua vida, o que afeta diretamente seu psicológico, principalmente sua autoestima. Muitas vezes, ele acaba acreditando que não é inteligente e que é inferior aos demais, ainda que saiba que suas limitações decorrem de um transtorno. Esse pensamento pode fazer com que ele se isole, no intuito de evitar algum constrangimento ou hostilidade por parte das pessoas a sua volta.
Para evitar, ou pelo menos diminuir, essas situações tão desconfortáveis pelas quais os portadores desse transtorno são obrigados a passar com tanta frequência, é a conscientização. Combater a falta de conhecimento sobre o assunto é o primeiro passo, pois a informação é parte essencial nesse processo. O segundo passo, é conscientizar as pessoas do quão importante é ter empatia, isto é, saber se colocar no lugar do outro. Só assim, serão capazes de enxergar as dificuldades um disléxico e entender que esses indivíduos só precisam de um pouco de paciência e compreensão.
O terceiro passo é garantir que o disléxico seja definido por suas habilidades e não por suas dificuldades. Valorizar os pontos fortes do aluno com dislexia e evitar colocá-lo em evidência em suas fragilidades, como ler alto diante da classe, por exemplo. 
TALENTOS DOS DISLÉXICOS
A reestruturação cerebral causada pela neuroplasticidade confere aos disléxicos várias habilidades das quais é importante que eles tenham conhecimento para que possam aprender a desenvolvê-las e usá-las a seu favor. Em geral, estas habilidades são:
Processamento visual avançado: O processamento visual já é um processo veloz onde a imagem é captada pela visão e enviada para o cérebro para reconhecimento. Nos disléxicos, esse processamento ocorre de 400 a 2000 vezes mais rápido que o pensamento verbal, uma forma de pensamento naturalmente mais lenta que o pensamento não-verbal (por imagens). Por isso, os disléxicos pensam mais rápido que os não-disléxicos, pois utilizam muito mais o pensamento não-verbal do que o pensamento verbal. 
Intuição acentuada: De acordo com a filósofa Marilena Chauí, a intuição é uma compreensão global e completa de uma verdade, de um objeto, de um fato, um ato intelectual de discernimento e entendimento que pode depender de conhecimento anteriores. Os disléxicos são altamente intuitivos, capazes de muitos insights, podendo, por exemplo, realizar cálculos matemáticos sem uso de lápis e papel e sem necessitar seguir o processo convencional para a resolução, achando alternativas até mais fáceis e rápidas para a solução de problemas. 
Criatividade aumentada: A criatividade é "um processo mental de geração de novas ideias" (Jairo Siqueira) que ajuda a encontrar maneiras de fazer mais com menos, simplificar processos e sistemas, aumentar lucratividade e reduzir custos, etc. Os disléxicos são muito criativos, capazes de criar imagens muito vívidas, alterar ou criar percepções, pensando e percebendo de forma multidimensional, ou seja, utilizando todos os seus sentidos para compreender o ambiente. 
Grande chance de alcançar sucesso profissional: Os disléxicos passam por muitas dificuldades ao longo da vida, precisando criar formas de pensamento alternativo para superá-las. Esse hábito torna-se uma habilidade poderosa no mundo dos negócios. Por causa de sua criatividade, intuição e pensamento rápido, acham excelentes formas de solucionar problemas e muito rapidamente, o que lhes dá grande chance de alcançar sucesso profissional.
Alguns exemplos de famosos disléxicos que alcançaram sucesso profissional fazendo uso de suas habilidades:
Steve Jobs (empresário, fundador da empresa Apple), relatou que "A Dislexia não é uma deficiência, é uma dádiva. Sou capaz de ler no mundo visual mais rapidamente do que muitos dos meus amigos não disléxicos."
Bill Gates (empresário, fundador da empresa Microsoft), disse que "Existe um elo entre o sucesso do empreendedor e a dislexia, é onde os disléxicos se destacam, talvez por possuírem uma grande habilidade para resolver problemas."
Tommy Hilfiger (designer) confessou: "Meu desempenho na escola era muito fraco, fui considerado "burro"! Acabei por não cursar nenhuma faculdade. Usei minha dislexia como vantagem, pois não precisava pensar como os demais designers. Mas reconheço que foi necessário muita perseverança para conquistar o meu lugar!"
Walt Disney (fundador da Walt Disney Company) relatou: "Sempre tive que me esforçar o dobro no meu trabalho escolar, mais do que um aluno médio, por ser disléxico." Também disse que ouviu: “Desista, porque você não tem futuro”.
Albert Einstein (físico-teórico, autor da Teoria da Relatividade, premiado com o Nobel de física em 1921): "Quando leio , somente escuto o que estou lendo e sou incapaz de lembrar da imagem visual da palavra escrita".
LewisCarroll (escritor, autor de Alice no País das Maravilhas): "A dislexia me ajudou a alterar e criar diferentes perspectivas em meu livro. Eu sempre pensei mais por meio de imagens do que por palavras. Sempre usei a lógica simbólica."
Agatha Christie (escritora, autora de mais de 80 livros e considerada a "Rainha do Crime"): "Sempre fui reconhecida como a mais "lenta" na família. Escrita e ortografia eram muito difíceis para mim. Minhas cartas não possuíam originalidade. Tinha dificuldade para soletrar e sou assim até hoje".
Johnny Depp (ator) assume: "As letras parecem dançar, aparentemente confusas, prejudicando minha capacidade de ler. Sinto-me oprimido ao ler uma simples página de texto".
Tom Cruise (ator): "A minha infância foi muito solitária. Eu tinha Dislexia e as outras crianças riam-se de mim. Eu tinha que treinar a mim mesmo para concentrar minha atenção. Assim, me tornei muito visual e aprendi como criar imagens mentais para poder compreender o que lia". Para realizar seu trabalho, conta com a ajuda de outras pessoas: alguém lê o roteiro para o ator, ele grava, e depois ouve para decorar as falas.
Orlando Bloom (ator) reconhece como importante o apoio familiar: "Fui diagnosticado como disléxico ao 7 anos de idade por minhas dificuldades escolares. Minha mãe me consolou falando que era um dom que eu teria que carregar comigo para o resto da vida e sempre me fez sentir como se fosse algo muito especial!"
Whoopi Goldberg (atriz): ""Você não quer ser retardada ou estúpida a vida inteira". Ouvia isso de meus professores, mas enquanto isso minha mãe dizia: "você pode ser qualquer coisa que você queira". Eu sabia que eu não era muda nem estúpida, então corri atrás do meu sonho. Ser atriz. Um dia, Steven Spielberg me viu em um show de comédia e me convidou para participar do seu filme "A Cor Púrpura"."
Stephen Spielberg (diretor), quando perguntado em entrevista se teriam um conselho para as crianças disléxicas, respondeu: "Apenas que a Dislexia é mais comum do que você poderia imaginar. E que você não está sozinho, que há maneiras de acelerar suas habilidades de leitura, acelerar sua compreensão. Há maneiras de lidar com isso. (...)É algo que você vai ter pelo resto da sua vida, mas você pode contornar rapidamente os obstáculos para chegar onde você quer chegar e nada vai te segurar!
Carol Greider (cientista, recebeu o prêmio Nobel de fisiologia ou medicina em 2009) teve de lidar com sua própria Dislexia e hoje ajuda o filho disléxico a superar as dificuldades. Disse à ele: "Sabe, eu sou professora na Johns Hopkins. Só porque você é disléxico, não significa que não poderá fazer o que quiser fazer."
Leonardo da Vinci, Pablo Picasso, John F. Kennedy, George W. Bush, Thomas Edison, Cindy Lauper, Ozzy Osbourne, John Lennon, Henry Ford e Quentin Tarantino são outros exemplos de disléxicos famosos. 
DUPLA EXCEPCIONALIDADE
Em alguns testes de inteligência, como o WISC por exemplo, o mesmo indivíduo pode tirar uma nota superior em uma área e uma nota inferior em outra área. As pessoas que apresentam este tipo de resultado são consideradas superdotadas, mas com perfil irregular, ou seja, elas apresentam uma dificuldade ou até distúrbio de aprendizagem em outra área. Isso ocorre com muitos disléxicos que possuem altas habilidades em uma área, apesar de sua dificuldade em ler e escrever.
"Normalmente, estas [pessoas] são exímias relativamente ao raciocínio verbal abstrato e parecem muito inteligentes e motivadas fora da escola, mas enfrentam sérios problemas no que diz respeito às tarefas escolares. Apresentam dislexia e mostram dificuldade em aprender a ler... Desenvolvem, frequentemente, uma imagem negativa delas próprias na escola e sentem-se desmotivadas, obtendo um fraco rendimento. Têm tanta necessidade de uma intervenção especial como as crianças não sobredotadas, que apresentam dificuldades de aprendizagem. Devido ao mito dominante da sobredotação global, só muito recentemente os educadores e os psicólogos começaram a reconhecer casos de crianças sobredotadas que revelam dificuldades de aprendizagem." (pp.59-60). 
Justamente por causa dessa dificuldade, existe o que o autor James Bauer chamou de "Complexo de Impostor do Disléxico". O indivíduo com dislexia tem dificuldades em aceitar sua superdotação e se identificar como superdotado por causa do peso que sua dificuldade tem para ele. Nessa situação, o trabalho do psicólogo é de extrema importância para que o disléxico entenda suas habilidades como mais importantes que suas dificuldades. Bauer deu exemplos de disléxicos que conseguem consertar eletrônicos e veículos sem o auxílio de diagrama, mas não conseguem se sentir bem por isso porque não podem ler um menu no restaurante. Disléxicos com excelente memória, que podem lembrar perfeitamente de uma situação ocorrida vinte anos atrás, mas que não conseguem ler o mesmo livro que uma criança de sete anos lê.
As pesquisas de Norman Geschwind, neurologista, revela que essa combinação de superdotação com distúrbio de aprendizagem não é tão incomum assim. Ele diz que há “estranho agrupamento de aptidões e inaptidões em certos indivíduos sobredotados” (p.172) e que estes frequentemente apresentam problemas linguísticos, como a Dislexia, por exemplo.
"Geschwind ficou intrigado com a observação de que os indivíduos dotados de aptidões especiais relacionados com o hemisfério esquerdo do cérebro (o que incluía os domínios espaciais da matemática, da música e da arte)... apresentavam uma incidência de problemas linguísticos acima da média – dislexia, gaguez [dislalia], atraso na aprendizagem da linguagem... ." (Winner, 1996, p. 172).
Os indivíduos disléxicos devem ser esclarecidos com relação às suas potencialidades e ensinados a usá-las a seu favor. Para isso, precisam de pais/responsáveis e professores esclarecidos, que os apoiem e encorajem a desenvolver suas habilidades. Os estudos de Benjamin Bloom revelarem que em nenhum de seus casos estudados (de indivíduos com dislexia) teria atingido a excelência sem um ambiente motivador. Shaywitz (2006) diz que "o objetivo é garantir que são as habilidades, e não as deficiências, que determinam a vida da criança".
Existem alguns mitos com relação às altas habilidades e superdotação que permeiam o senso comum. Um deles é que a pessoa superdotada tem que se destacar em todas as áreas do currículo escolar. Isso não é verdade, pois a superdotação em, por exemplo, matemática, não significa que também haverá superdotação em uma área diferente, como português, história, geografia, etc. 
O Q.I (Quociente Intelectual) é uma medida padronizada obtida por meio de testes desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas (inteligência) de um sujeito. Outro mito com relação aos superdotados é que eles tem que ter um Q.I alto. Esta ideia é comprovadamente falsa até mesmo pela existência dos savants, que Winner define como “indivíduos frequentemente autistas, com QIs na extensão de retardo e habilidades excepcionais em domínios específicos”. O teste de Q.I também não costuma captar a superdotação para música e artes em geral. Neste teste, a inteligência ainda é vista como uma inteligência que possa ser medida de forma geral, como se não houvessem talentos em áreas específicas. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dislexia não é apenas sobre déficit, mas também sobre vantagens. Os disléxicos devem ser reconhecidos por suas habilidades e não por suas dificuldades. Desta forma, haverá menos preconceito com relação à estes indivíduos, que sofrerão muito menos com a baixa autoestima. 
Com a mente em paz, conseguirão focar em seus potenciais e atingirão sucesso profissional, o que poderá trazer melhorias e inovações para o resto da população. 
REFERÊNCIAS
 Winner, E. (1996) Crianças Sobredotadas: mitos e realidades, (A. N. Rosa Trad.), Lisboa – Portugal: Instituto Piaget. 
 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA, 2016. Disponível em: <http://www.dislexia.org.br/como-e-feito-o-diagnostico/> acessado em mar. de 2017.
 KOLB, B.; Muhammad, A.; GIBB, R. Searchingfor factors underlying cerebral plasticity in the normal and injured brain. Journal of Communication Disorders, 2010. 
 VALLE, Luiza Helena; CAPOVÍLLA, Fernando César. Neuropsicologia & Aprendizagem. 715 p. São Paulo: Tecmedd, 2004. 
 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2014.
 INTERNATIONAL DYSLEXIA ASSOCIATION, 2002. Disponível em: <https://dyslexiaida.org/definition-of-dyslexia/> acessado em abr. de 2017.
 SALLES, J.F.; PARENTE, M.A.M.; MACHADO, S.S.; As dislexias de desenvolvimento: aspectos neuropsicológicos e cognitivos. Interações. 2004; 9(17): 109-32.
 BAUER, James J. Dislexia: ultrapassando as barreiras do preconceito. Tradução Maria Angela Nogueira Nico. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.
 STEIN, D.G.; BRAILOWSKY, S.; WILL, B.; Brain repair. New York, Oxford University, 1995.p.156. 
 NEVES, M. A. O.; CUPTI, K.; JUNIOR, E. S. C.; BASTOS, V. H. Reabilitação motora e plasticidade neural: fundamentação teórico-conceitual para a recuperação funcional após lesões no sistema nervoso central. Revista Neurociências, volume III, nº 1: Revisões. Jan. e fev. de 2006. ISSN 1807-1058.
 FERREIRA, Emerson Benedito; FERREIRA, Jesuína Therezinha Cherubino; ALVES, Ângela Cristina Ferreira. Dislexia e Educação. 2009. 36 f. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação). Curso de Pedagogia, Faculdade de Educação São Luis, Jaboticabal, São Paulo. 2009.
 TAULCEI, Joulilda dos Reis; STOLTZ, Tania; GABARDO, Cleusa Valério. Altas Habilidades/Superdotação e dislexia: uma discussão a partir de estudos de caso. Pesquisa apresentada no Congresso Internacional da ANEIS 2011: Sobredotação e talento: atenção da escola à diversidade; Braga – Portugal.

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