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Os pre socraticos (1)

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Os pré-socráticos 
O surgimento da Filosofia 
Nós começamos nossa viagem pela aventura do pensamento a partir dos relatos mitológicos, 
estabelecendo uma comparação entre a visão de mundo dos índios Guarani e dos antigos 
gregos. Descobrimos assim que o mundo mitológico é povoado por deuses e seres fantásticos 
que, além de serem a causa de tudo o que existe, controlam os destinos da humanidade. 
 
“Ñande Ru criou a primeira terra, sustentando-a com quatro colunas, que 
asseguram sua estabilidade. A esta primeira terra original envia os homens e a 
víbora, a pequena cigarra vermelha, a grande perdiz e o tatu. Quando se destruiu 
esta primeira terra, os homens virtuosos se elevaram ao céu, onde conservaram 
sua figura; os transgressores da lei divina também subiram, porém transformados 
em seres irracionais. Os animais que agora vivem sobre a terra não são nada além 
de imagens dos protótipos celestiais, isto é, dos homens transformados em animais 
e dos animais mencionados, que desde sua origem tiveram a forma atual.” 
Antología de Literatura Guaraní – Ayvu Rapita, León Cadogan, 1997. 
 
Como podemos reparar no texto compilado pelo pesquisador paraguaio León Cadogan, as 
características do mito são que deuses estão na origem de tudo e que eles podem controlar a 
existência das coisas e das pessoas. Nós estudamos a mitologia indígena Guaraní porque é algo 
que está mais próximo da nossa realidade, mas se formos pesquisar, constataremos que 
praticamente todos os povos da humanidade possuem a sua mitologia. 
Podemos nos perguntar a este ponto: por que os povos criam os mitos? Podemos supor que os 
seres humanos têm uma tendência natural a buscar uma explicação para os fenômenos que 
influenciam sua vida. Por que o sol nasce e se põe todos os dias? Por que todos os seres vivos 
nascem e morrem? O que acontece depois da morte? O que são as estrelas? De onde vem a 
terra, a água, as plantas, os animais? 
Se para muitas dessas questões não temos respostas definitivas ainda hoje, imaginem numa 
época onde não existia a ciência, a tecnologia e a pesquisa. Uma época onde as pessoas 
estavam totalmente a mercê dos fenômenos da natureza e muito pouco se sabia a seu 
respeito. 
Mas eis que numa pequena região do mundo antigo, por volta do século VII, surge uma nova 
forma de pensar a realidade. Na Grécia de então começavam a se concretizar as cidades-
estados (polis), organização que levaria seus habitantes a uma convivência mais estreita que 
na atividade agrícola em propriedades esparsas. Para organizar essa convivência os gregos 
precisam refletir e pensar novas formas de governo, desenvolvendo a atividade política. As 
navegações pelo Mar Mediterrâneo os levaram a estabelecer contato com outros povos e 
realizar comércio com eles. Esta mudança na organização social é acompanhada por uma 
mudança na forma de pensar. Ora, se povos diferentes possuem crenças diferentes, como 
saber qual é a certa? Se nós podemos organizar a vida política das sociedades, onde fica a 
interferência dos deuses nos assuntos humanos? 
Dessa forma, através de questionamentos sobre a real interferência dos deuses na natureza e 
na vida dos homens, os gregos iniciam uma nova forma de pensar, buscando na própria 
realidade as explicações para os fenômenos e eventos que observavam. 
 
Filósofos da physis 
A principal característica dos filósofos pré-socráticos (como ficaram conhecidos todos aqueles 
que vieram antes de Sócrates) é o estudo da physis, palavra grega que significa “o princípio da 
evolução e do progresso das coisas na natureza”. Nesse contexto a palavra “princípio” tem um 
papel fundamental para entendermos a grande mudança que se opera na passagem do 
pensamento mitológico para o filosófico. Quando buscamos o princípio de alguma coisa 
estamos, na verdade, buscando duas coisas: como ela veio a ser e o que faz com ela seja o que 
é. 
Tomemos como exemplo a cadeira na qual você está sentado. Qual é o princípio dessa 
cadeira? Por um lado podemos pesquisar e descobrir que ela foi feita na fábrica tal, com tal 
material, a partir de um projeto de tal marceneiro (ou “designer”, se quisermos ser mais 
chiques...). Mas isso é o suficiente para definirmos o que é essa cadeira, para definirmos seu 
princípio? O que faz com que essa cadeira seja uma cadeira? Assim, através dessas questões, 
partimos em busca de algo mais profundo, do conceito que está por trás do ser, daquilo que o 
define como sendo aquilo que é. 
De certa forma, a evolução do pensamento dos gregos antigos é a passagem das questões 
materiais para as questões conceituais, isto é, a passagem da física para a metafísica, que em 
grego antigo significa justamente “além da física”. E a missão que os gregos se colocaram (e 
colocaram para o mundo, para a civilização humana) não foi nada simples. O objetivo deles foi 
descobrir, nada mais, nada menos, que o princípio do ser, ou seja, o princípio de tudo o que 
existe, o princípio da própria existência! 
Isso significa que ao estudarmos os primeiros filósofos estamos entrando no universo do 
desenvolvimento dos conceitos, que é o universo da Filosofia. O pensamento desses grandes 
homens está na origem de tudo o que vivemos hoje. Só temos as tecnologias, o conhecimento, 
o trabalho, a política, enfim, quase todas as estruturas que organizam e fazem parte da nossa 
vida, por causa deles, do pensamento deles. Um pensamento, no caso, livre das amarras dos 
mitos, um pensamento que existe por causa da dúvida e parte em buscas de respostas para se 
aproximar cada vez mais da verdade. 
Chegaremos algum dia à “verdade” em si? Duvido muito, mas pelo menos podemos fazer 
perguntas cada vez melhores.... 
 
A Escola Jônica 
Tales de Mileto 
Como já dissemos, por volta do século VII a.C surgiu a Filosofia na Grécia. Na verdade, sabemos 
exatamente com quem e onde começou: foi com Tales, na cidade de Mileto, na Ásia Menor 
(que então fazia parte da Magna Grécia). 
 
 
Localização da cidade de Mileto, onde se criou a primeira escola filosófica da Grécia Antiga 
 
Mas como é possível dizer que Tales foi o primeiro filósofo? Por várias questões, mas 
principalmente pela afirmação de que “a origem de todas as coisas está na água”. O que tem 
de tão especial essa afirmação? 
Ela demonstra uma total mudança de ponto de ponto de vista a respeito da questão sobre a 
origem do mundo. Até então, todas as civilizações do mundo recorriam aos deuses para 
explicar a criação do universo; ninguém tinha raciocinado sobre isso de uma forma que, 
partindo da realidade, da observação, se chegasse a uma conclusão lógica e coerente. Para 
chegar à conclusão de que a água está na origem de todas as coisas, Tales utiliza uma 
metodologia, que é a observação detalhada da realidade, do mundo como este se apresenta 
para ele. A partir dessa observação ele percebe que a água está presente em praticamente 
tudo aquilo que anima o mundo, que faz com que as coisas se movimentem. 
Vejam o que diz Aristóteles a respeito da filosofia de Tales: 
 
A maior parte dos primeiros filósofos considerava como os únicos princípios de todas as coisas 
os que são da natureza da matéria. (...)Tales, o fundador de tal filosofia, diz ser água [o princípio] 
(é por este motivo também que ele declarou que a terra está sobre água), levado sem dúvida a 
esta concepção por ver que o alimento de todas as coisas é úmido, e que o próprio quente dele 
procede e dele vive (ora, aquilo de que as coisas vêm é, para todos, o seu princípio). Por tal 
observar adotou esta concepção, e pelo fato de as sementes de todas as coisas terem a natureza 
úmida; e a água é o princípio da natureza para as coisas úmidas. 
ARISTÓTELES, Metafísica, I, 3. 983 b 6 (DK 11 A 12).No testemunho de Simplício a concepção do raciocínio de Tales fica ainda mais clara: 
 
Alguns dos que afirmam um só princípio de movimento — Aristóteles, propriamente, chama-os 
de físicos — consideram que ele é limitado; assim Tales de Mileto, filho de Examias, e Hipão, que 
parece ter sido ateu, afirmavam que água é o princípio, tendo sido levados a isto pelas (coisas) 
que lhes apareciam segundo a sensação; pois o quente vive com o úmido, as coisas mortas 
ressecam-se, as sementes de todas as coisas são úmidas e todo alimento é suculento. Donde é 
cada coisa, disto se alimenta naturalmente: água é o princípio da natureza úmida e é continente 
de todas as coisas; por isso supuseram que a água é princípio de tudo e afirmaram que a terra 
está deitada sobre ela. Os que supõem um só elemento afirmam-no ilimitado em extensão, 
como Tales diz da água. 
SIMPLÍCIO, Física, 23, 22 (DK 11 A 13) 
 
Através destes testemunhos podemos acompanhar o nascimento do pensamento filosófico, 
isto é, do pensamento racional, guiado por um método, a respeito do mundo, da sua origem e 
dos seus fenômenos. 
 
Anaximandro de Mileto 
O pensamento de Tales a respeito das coisas do mundo, seu amor pelo conhecimento e sua 
sabedoria fizeram com que algumas pessoas se aproximassem dele para ouvir seus 
ensinamentos. Seu grande sucessor naquilo que podemos chamar de Escola Jônica (dizemos 
escola porque trata-se de uma linha de pensamento, não uma escola com professores e alunos 
como temos hoje) foi Anaximandro. 
 
Pedra onde foi entalhado o vulto de Anaximandro 
Para entendermos melhor o pensamento sobre a Physis, não só na Escola Jônica, mas em toda 
a Filosofia Grega e Romana, temos que levar em consideração não só a situação econômica, 
política e social da época, mas também o estado científico e tecnológico dessas civilizações. 
Neste caso, é preciso saber que os gregos e seus contemporâneos não conheciam os 
elementos da natureza como os conhecemos hoje. Ao invés de toda aquela tabela periódica 
que estudamos das aulas de química, os povos da época reduziam os elementos da natureza a 
apenas quatro substâncias: água, terra, fogo e ar. As coisas e corpos tomariam forma e 
apresentariam suas propriedades a partir da maior ou menor presença desses elementos na 
sua constituição. 
Levando em conta esse conhecimento e refletindo sobre a afirmação de Tales de que as coisas 
todas vinham da água, Anaximandro se deparou com uma dificuldade: como explicar a 
transformação da água nos outros elementos? Como pode um elemento ser a origem dos 
outros, se todos fazem parte igualmente da natureza? Se a água deu origem a tudo, de onde 
surgiu a água? 
A solução de Anaximandro para estes dilemas foi busca a explicação da geração e movimento 
do mundo num elemento diferente daqueles que se apresentam para nós na natureza. Como 
diz Simplício, Anaximandro, “observando a transformação recíproca dos quatro elementos, 
não achou apropriado fixar um destes como substrato, mas algo diferente, fora destes” 
(SIMPLÍCIO, Dísica, 24, 13 (DK 12 A 9)). Foi assim que ele afirmou que o princípio de onde 
surgiam as coisas todas é o ápeiron (que em grego antigo significa tanto o “indeterminado”, 
quanto o “ilimitado”). Segundo ele, as coisas se originariam dali e tomariam movimento 
através do processo de separação dos contrários, como quente e frio, seco e molhado, etc. 
Com este pensamento, percebemos que Anaximandro dá um passo além e traz algumas 
importantes novidades ao desenvolvimento da Filosofia. Afinal, para chegar ao ápeiron como 
elemento primordial, ele parte da observação da natureza, mas desenvolve um raciocínio 
lógico que o leva à necessidade de formular uma nova teoria, baseada num elemento que vai 
além daqueles presentes na realidade natural do mundo. Essa abstração, este ir além dos 
dados imediatos e estabelecer novas teorias através do uso da razão, é uma das características 
fundamentais do pensamento filosófico e científico de todos os tempos. 
 
Anaxímenes 
Foi companheiro de Anaximandro e compartilhou da maioria das ideias dele sobre as questões 
relativas a princípio do mundo. Ele também acredita que existe um elemento que serve de 
substrato para todos os outros e que ele é ilimitado. Porém, diferente de Anaximandro, ele 
acredita que este elemento apresenta algumas características específicas que o aproximam do 
elemento ar. Isso porque para ele não era possível a origem das coisas materiais de algo que 
não fosse sensível, que não estivesse já presente na natureza. O processo pelo qual o ar se 
transforma nas outras coisas é descrito da seguinte maneira: 
 
Diferencia-se nas substâncias, por rarefação e condensação. Rarefazendo-se, torna-se fogo; 
condesando-se, vento, depois nuvem, e ainda mais, água, depois terra, depois pedras, e as 
demais coisas (provêm) destas. Também ele faz eterno o movimento pelo qual se dá a 
transformação. 
SIMPLÍCIO, Física, 24, 26 (DK 13 A 5) 
 
Com Anaxímenes encerramos nosso estudo a respeito da Escola Jônica. É importante 
lembrarmos mais uma vez que estes filósofos foram fundamentais para o desenvolvimento do 
pensamento ocidental (isto é, o pensamento da nossa civilização), pois foram os primeiros que 
procuraram substituir a explicação mitológica pelo uso da Razão. Agora preparem-se, pois 
estamos prestes a entrar no mundo dos números.... 
 
A matemática como princípio 
Pitágoras de Samos 
Até agora, vimos que a busca pelo princípio estava centrada em elementos materiais. Até 
mesmo o ápeiron de Anaximandro, apesar de ser indefinido e ilimitado, também pode ser 
considerado como algo material, pois até então ninguém acreditava que coisas materiais 
pudessem surgir ou se organizar a partir de coisas não materiais. Essa história começa a mudar 
quando entra em cena um homem chamado Pitágoras de Samos. 
 
 
Representação de Pitágoras e seus estudos sobre a matemática 
 
A história de Pitágoras é recheada de lendas, por isso é difícil sabermos diferenciar a verdade 
do que é invenção. Sabemos que, quando jovem, ele foi obrigado a abandonar sua cidade 
natal por causa da perseguição do tirano Polícrates, governante da ilha de Samos. Por volta do 
ano 540 a.C., Pitágoras chega à cidade de Crotona, no sul da Itália. É nesta cidade que ele tem 
uma revelação que vai mudar completamente sua vida e seu pensamento. 
Um dia ele estava andando pelas ruas da cidade e passou na frente da oficina de um ferreiro, 
que estava fazendo uma espada (naquele tempo as cidades viviam em guerra...). Para forjar a 
espada, o ferreiro tinha uma bigorna, onde apoiava o ferro incandescente e batia com um 
martelo para dar forma. Pitágoras ficou ali observando o trabalho até que se deu conta de uma 
coisa: dependendo de onde o ferreiro batia, saía um som diferente. 
 
 
 
Pitágoras ficou com essa ideia (de que o som mudava de acordo com a distância da batida) na 
mente e foi pra casa. Lá ele pensou, pensou, e descobriu como fazer para reproduzir aquele 
experimento. Pitágoras pegou uma madeira e colocou dois pregos, um em cada ponta. A 
seguir, amarrou nos pregos uma tripa de bode, bem esticada, até que produzisse um som. O 
próximo passo foi pressionar a corda exatamente na metade entre os dois pontos e fazer soar 
cada um dos dois pedaços. O que acontecem então? O som foi o mesmo em cada um deles! 
 
 
O instrumento desenvolvido por Pitágoras para estudar o som ficou conhecido como o “monocórdio” 
 
Foi assim que Pitágoras acabou estabelecendo a relação existente entre a música e a 
matemática. A seguir ele pensou: “ora, se o som que produzimos é regido por uma relação 
matemática, então pode ser que outras coisas da natureza também sejam”. Foi assim que elecomeçou a estudar a natureza e as relações matemáticas que existiam por trás das coisas e 
eventos. Para ele, a matemática estava, inclusive, nas teorias dos primeiros filósofos sobre a 
origem do universo. Como vimos antes, estes primeiros filósofos (principalmente 
Anaximandro) viam as coisas do mundo na forma de duplas de opostos que formavam e 
davam movimento ao mundo. Estas duplas, porém, surgiam de uma unidade. Isso porque se o 
a realidade é feita de opostos, e o mundo contém uma pluralidade de duplas de opostos, 
deveria também existir a unidade, que necessariamente está na origem. Entenderam? Não? 
Vamos tentar explicar de uma forma diferente: 
 
1 - A realidade é feita de duplas de opostos: 
SECO x UMIDO QUENTE x FRIO ALTO x BAIXO GRANDE x PEQUENO 
2 – No mundo existem várias duplas de opostos. 
3 - Se no mundo existe uma pluralidade de duplas de opostos, é de se supor que exista 
também uma unidade. 
Por quê? Porque o oposto de pluralidade é unidade. 
PLURALIDADE x UNIDADE 
4 - Mas onde fica a unidade, se a realidade é feita sempre de duplas? 
5 - Bem, a unidade deve estar no princípio, na origem. É da unidade que surgem as duplas de 
opostos que formam a realidade. 
 
Para Pitágoras, a matemática estava realmente em tudo. Ele foi tão a fundo nesse pensamento 
que acabou misturando a filosofia com religião. Durante vários séculos foi importante na 
Grécia a seita pitagórica, que acreditava que a purificação da alma poderia ser alcançada pelo 
estudo da matemática e da compreensão de que a harmonia do mundo era uma harmonia dos 
números que se encaixam para formar um mundo bem proporcionado. 
De qualquer forma, Pitágoras foi fundamental para o desenvolvimento do pensamento 
ocidental. Foi com ele que a matemática entrou definitivamente no pensamento filosófico e 
científico. 
 
Tudo muda ou nada muda? 
Heráclito de Éfeso 
Os testemunhos da época dizem que Heráclito era muito orgulhoso e que não gostava nem um 
pouco da burrice das pessoas, ou seja, daqueles que se sabiam ignorante e por preguiça de 
estudar preferiam continuar ignorantes. Dizem, inclusive, que ele escreveu seu livro de uma 
forma difícil justamente para que não fosse qualquer um que o conseguisse entender. Este 
fato fez com que ganhasse o apelido de Heráclito, “o obscuro”. 
 
 
Aqui podemos ver Heráclito sofrendo com a burrice humana.... 
 
Ao observar a natureza e a realidade do mundo, Heráclito chegou à conclusão de que tudo 
muda. Vamos ver como Platão explica isso: 
 
Heráclito diz em alguma passagem que todas as coisas se movem e nada permanece imóvel. E, 
ao comparar os seres com a corrente de um rio, afirma que não poderia entrar duas vezes num 
mesmo rio. Heráclito retira do universo a tranquilidade e a estabilidade, pois é próprio dos 
mortos; e atribuía movimento a todos os seres, eterno aos eternos, perecível aos perecíveis. 
PLATÃO, Crátilo, p. 402 A (DK 22 A 6) 
 
Sua teoria funciona da seguinte maneira: para ele, todas as coisas têm origem no fogo e para 
ele retornam depois que se dissolvem. Neste meio tempo, elas passam por uma série de 
transformações e estão em eterno movimento. Este movimento se dá por força da guerra 
entre os contrários. 
Dessa teoria, podemos concluir que a unidade está na origem e dela se desprendem os 
opostos que formarão a realidade. Os opostos seguem em contínuo movimento, até que se 
extinguem e retornam à unidade. 
 
Parmênides de Eléia 
O pensamento de Heráclito, apesar de estar de acordo com a observação que podemos fazer 
da natureza (alguém aqui discordaria da ideia de que as coisas todas se transformam?) gera 
um problema de ordem filosófica: como podemos conhecer as coisas se elas estão 
constantemente mudando? O que faz com que uma coisa seja a mesma ao longo do tempo, 
apesar de suas modificações? 
 
Parmênides tentando resolver o problema do conhecimento 
 
Para resolver essas questões, Parmênides toma o caminho inverso do seu colega e afirma com 
todas as letras que “nada muda”. Mas como ele chegou a esta conclusão? Tudo começa com 
outra afirmação que se tornou clássica: “o que é, é; o que não é, não é”. Parece uma coisa 
banal, quase que sem sentido. Mas se formos analisar, a coisa não é assim tão simples. 
Para entender este raciocínio, precisamos, primeiramente, pensar a realidade formada por 
uma dupla de opostos: 
SER x NÃO-SER 
Ora, se o ser é o nada, isto é, não existe, então tudo o que existe é o ser. Isso significa que o 
“ser” é uma coisa só e, sendo uma coisa só, deve ser fixo e eterno, pois se assim não fosse, 
acabaria se transformando em não-ser, o que é impossível. Entenderam? (Não se preocupem, 
eu mesmo demorei mais de 20 anos para começar a entender isso aqui e ainda não tenho 
certeza de saber exatamente o que ele quis dizer com isso.....) 
Porém, surge aqui uma dificuldade: como aplicar este conhecimento em mundo onde os 
nossos sentidos dizem que tudo está em constante mudança e movimento? Para Parmênides, 
essa unidade é uma unidade formal, pois tudo o que existe pode ser colocado dentro de um 
conceito, e este conceito é único, imutável e eterno. 
 
Platão resolve o problema 
Nós não vamos entrar aqui num estudo pormenorizado da vida e obra de Platão, pois este é o 
estudo para uma vida inteira. O que nos interessa, no momento, é a forma como o filósofo (se 
não o maior de todos, um dos mais importantes de todos os tempos) resolve o problema entre 
o “tudo muda” de Heráclito e o “nada muda” de Parmênides. 
 
 
Imagem de Platão pintada por Rafael Sanzio. Se alguém souber dizer por que ele aponta para cima, ganha um ponto 
na prova 
 
A solução de Platão envolve a divisão da realidade em dois mundos: o mundo sensível, 
formado pelas coisas que podemos captar com nossos sentidos; e o mundo inteligível, que é o 
mundo das ideias. Segundo ele, no mundo sensível as coisas mudam, conforme o que disse 
Heráclito. É por isso que neste mundo, nunca podemos ter certeza de nada, pois as coisas não 
se deixam conhecer em sua essência e nunca são perfeitas (uma coisa perfeita não pode 
mudar), nos deixando sempre na dúvida. Para atingir a verdade, o conhecimento real das 
coisas, devemos nos aproximar cada vez mais do mundo das ideias, pois os conceitos podem 
atingir um grau de perfeição muito maior que o das coisas sensíveis. 
O percurso em busca do conhecimento verdadeiro, ou seja, a passagem do mundo sensível 
para o mundo inteligível, é feito através da dialética. Dialética é o aprimoramento das ideias 
através do confronto a fim de atingir uma verdade mais elevada. 
Platão ilustra bem essa passagem do mundo sensível ao mundo inteligível através da Alegoria 
da Caverna, que vocês podem ler aqui: 
 
Alegoria da Caverna – A República, livro VII 
Sócrates: Agora imagine a nossa natureza, segundo o grau de educação que ela recebeu ou 
não, de acordo com o quadro que vou fazer. Imagine, pois, homens que vivem em uma 
morada subterrânea em forma de caverna. A entrada se abre para a luz em toda a largura da 
fachada. Os homens estão no interior desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo 
pescoço, de modo que não podem mudar de lugar nem voltar a cabeça para ver algo que não 
esteja diante deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás deles, ao longe, no alto. 
Entre os prisioneiros e o fogo, há um caminho que sobe. Imagine que esse caminho é cortado 
por um pequeno muro, semelhante ao tapume que os exibidores de marionetes dispõem 
entre eles e o público, acima do qual manobram as marionetes e apresentam o espetáculo. 
Glauco: Entendo. 
Sócrates: Então, ao longo desse pequeno muro, imagine homens que carregam todo o tipo de 
objetos fabricados, ultrapassandoa altura do muro; estátuas de homens, figuras de animais, 
de pedra, madeira ou qualquer outro material. Provavelmente, entre os carregadores que 
desfilam ao longo do muro, alguns falam, outros se calam. 
Glauco: Estranha descrição e estranhos prisioneiros! 
Sócrates: Eles são semelhantes a nós. Primeiro, você pensa que, na situação deles, eles 
tenham visto algo mais do que as sombras de si mesmos e dos vizinhos que o fogo projeta na 
parede da caverna à sua frente? 
Glauco: Como isso seria possível, se durante toda a vida eles estão condenados a ficar com a 
cabeça imóvel? 
Sócrates: Não acontece o mesmo com os objetos que desfilam? 
Glauco: É claro. 
Sócrates: Então, se eles pudessem conversar, não acha que, nomeando as sombras que vêem, 
pensariam nomear seres reais? 
Glauco: Evidentemente. 
Sócrates: E se, além disso, houvesse um eco vindo da parede diante deles, quando um dos que 
passam ao longo do pequeno muro falasse, não acha que eles tomariam essa voz pela da 
sombra que desfila à sua frente? 
Glauco: Sim, por Zeus. 
Sócrates: Assim sendo, os homens que estão nessas condições não poderiam considerar nada 
como verdadeiro, a não ser as sombras dos objetos fabricados. 
Glauco: Não poderia ser de outra forma. 
Sócrates: Veja agora o que aconteceria se eles fossem libertados de suas correntes e curados 
de sua desrazão. Tudo não aconteceria naturalmente como vou dizer? Se um desses homens 
fosse solto, forçado subitamente a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, a olhar para o lado da 
luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele ficaria ofuscado e não poderia distinguir os 
objetos, dos quais via apenas as sombras anteriormente. Na sua opinião, o que ele poderia 
responder se lhe dissessem que, antes, ele só via coisas sem consistência, que agora ele está 
mais perto da realidade, voltado para objetos mais reais, e que está vendo melhor? O que ele 
responderia se lhe designassem cada um dos objetos que desfilam, obrigando-o com 
perguntas, a dizer o que são? Não acha que ele ficaria embaraçado e que as sombras que ele 
via antes lhe pareceriam mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora? 
Glauco: Certamente, elas lhe pareceriam mais verdadeiras. 
Sócrates: E se o forçassem a olhar para a própria luz, não achas que os olhos lhe doeriam, que 
ele viraria as costas e voltaria para as coisas que pode olhar e que as consideraria 
verdadeiramente mais nítidas do que as coisas que lhe mostram? 
Glauco: Sem dúvida alguma. 
Sócrates: E se o tirarem de lá à força, se o fizessem subir o íngreme caminho montanhoso, se 
não o largassem até arrastá-lo para a luz do sol, ele não sofreria e se irritaria ao ser assim 
empurrado para fora? E, chegando à luz, com os olhos ofuscados pelo brilho, não seria capaz 
de ver nenhum desses objetos, que nós afirmamos agora serem verdadeiros. Glauco: Ele não 
poderá vê-los, pelo menos nos primeiros momentos. 
Sócrates: É preciso que ele se habitue, para que possa ver as coisas do alto. Primeiro, ele 
distinguirá mais facilmente as sombras, depois, as imagens dos homens e dos outros objetos 
refletidas na água, depois os próprios objetos. Em segundo lugar, durante a noite, ele poderá 
contemplar as constelações e o próprio céu, e voltar o olhar para a luz dos astros e da lua mais 
facilmente que durante o dia para o sol e para a luz do sol. 
Glauco: Sem dúvida. Sócrates: Finalmente, ele poderá contemplar o sol, não o seu reflexo nas 
águas ou em outra superfície lisa, mas o próprio sol, no lugar do sol, o sol tal como é. 
Glauco: Certamente. 
Sócrates: Depois disso, poderá raciocinar a respeito do sol, concluir que é ele que produz as 
estações e os anos, que governa tudo no mundo visível, e que é, de algum modo a causa de 
tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna. 
Glauco: É indubitável que ele chegará a essa conclusão. 
Sócrates: Nesse momento, se ele se lembrar de sua primeira morada, da ciência que ali se 
possuía e de seus antigos companheiros, não acha que ficaria feliz com a mudança e teria pena 
deles? 
Glauco: Claro que sim. 
Sócrates: Quanto às honras e louvores que eles se atribuíam mutuamente outrora, quanto às 
recompensas concedidas àquele que fosse dotado de uma visão mais aguda para discernir a 
passagem das sombras na parede e de uma memória mais fiel para se lembrar com exatidão 
daquelas que precedem certas outras ou que lhes sucedem, as que vêm juntas, e que, por isso 
mesmo, era o mais hábil para conjeturar a que viria depois, acha que nosso homem teria 
inveja dele, que as honras e a confiança assim adquiridas entre os companheiros lhe dariam 
inveja? Ele não pensaria antes, como o herói de Homero, que mais vale “viver como escravo de 
um lavrador” e suportar qualquer provação do que voltar à visão ilusória da caverna e viver 
como se vive lá? 
Glauco: Concordo com você. Ele aceitaria qualquer provação para não viver como se vive lá. 
Sócrates: Reflita ainda nisto: suponha que esse homem volte à caverna e retome o seu antigo 
lugar. Desta vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir diretamente do 
sol? 
Glauco: Naturalmente. 
Sócrates: E se ele tivesse que emitir de novo um juízo sobre as sombras e entrar em 
competição com os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda está 
confusa, seus olhos ainda não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo curto demais 
para acostumar-se com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os prisioneiros não diriam que, 
depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que não vale mesmo a pena subir até 
lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços, fazê-los subir, você acredita que, se pudessem 
agarrá-lo e executá-lo, não o matariam? 
Glauco: Sem dúvida alguma, eles o matariam. 
Sócrates: E agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar exatamente essa alegoria ao que 
dissemos anteriormente. Devemos assimilar o mundo que apreendemos pela vista à estada na 
prisão, a luz do fogo que ilumina a caverna à ação do sol. Quanto à subida e à contemplação 
do que há no alto, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar inteligível, e não te 
enganarás sobre minha esperança, já que desejas conhecê-la. Deus sabe se há alguma 
possibilidade de que ela seja fundada sobre a verdade. Em todo o caso eis o que me aparece 
tal como me aparece; nos últimos limites do mundo inteligível aparece-me a idéia do Bem, que 
se percebe com dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir que ela é a causa de tudo o 
que há de reto e de belo. No mundo visível, ela gera a luz e o senhor da luz, no mundo 
inteligível ela própria é a soberana que dispensa a verdade e a inteligência. Acrescento que é 
preciso vê-la se quer comportar-se com sabedoria, seja na vida privada, seja na vida pública. 
Glauco: Tanto quanto sou capaz de compreender-te, concordo contigo.

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