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Comunicação e Expressão Unidade 8: Leitura crítica Professora Doutora Débora Mallet Pezarim de Angelo Leitura crítica Nesta unidade, você vai aprofundar seus conhecimentos sobre a leitura, para que possa ler os mais diversos textos de forma cada vez mais adequada às situações comunicativas. Para tanto, será preciso estudar os seguintes temas: leitura inferencial, leitura crítica e resenha. Letícia está inferindo... Letícia iria prestar um concurso daqui a seis meses e foi orientada por seus professores do curso preparatório a ter conhecimento do que ocorre na atualidade. Passou a assistir a vários telejornais, mas não entendia por que a mesma notícia era dada de forma diferente, não entendia por que uma mesma notícia poderia ter tantos pontos de vista. Como Letícia pode aprender um pouco mais sobre as atualidades se cada jornal oferece um ponto de vista diferente de um mesmo assunto? Observe os textos a seguir. Ao observarmos essas imagens, imaginamos serem páginas de jornal. A maioria de nós não compreende as línguas em questão, mas, ao analisarmos as fotos e as realidades que elas parecem representar, a estruturação das páginas, a maneira de organizar os textos, entre outros aspectos, levantamos hipóteses de leitura para os textos. Essa é uma situação extrema (páginas em línguas desconhecidas), mas os leitores realizam essas estratégias o tempo todo, com os mais variados textos. Letícia, na situação inicial apresentada nesta unidade, está tentando entender por que os jornais abordam os mesmos fatos de forma diferente. Ao questionar o que assiste, ela está usando uma estratégia de leitura. A partir dela, e de outras, cada leitor constrói suas hipóteses de sentido para o que lê. A esse conjunto de procedimentos utilizados e hipóteses construídas pelo leitor para compreender uma dada materialidade textual dá-se o nome de inferência. Para Dell’Isola, inferência “é uma operação que os leitores desenvolvem enquanto estão lendo o texto ou após terem completado a sua leitura.” Como podemos notar, realizar inferências é um processo natural nos diversos atos de leitura. Ele é fato fundamental na construção do sentido feita pelo leitor. Nesta interação, no entanto, devemos ter em mente que o autor, ao produzir sua textualidade, possui uma intenção, sugerindo sentidos a partir de sua organização de fatos e ideias. Se, ao fazer uma leitura, nosso objetivo é procurar entender um pouco esse raciocínio autoral, devemos estar atentos para que nossas inferências pessoais estejam a serviço dessa compreensão. Muitas vezes, um termo, uma frase, uma imagem suscitam em nós sentimentos, ideias que não necessariamente têm a ver com o que o texto nos apresenta. É importante perceber isso, especialmente quando fazemos uma leitura com um objetivo profissional ou escolar, pois devemos estar aptos a distinguir quando uma ideia que nos ocorreu é pertinente ou não com a leitura em questão. Acreditamos, com Koch e Elias, que “o sentido de um texto é construído na interação texto-sujeitos e não algo que preexista a essa interação. A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo”. Dessa definição, destacamos alguns aspectos: • O autor, o texto e o leitor são elementos igualmente importantes para a leitura; • A leitura efetivamente ocorre no momento em que autor, texto e leitor entram em contato; • o autor organiza elementos em um texto; o texto, portanto, propõe ao leitor alguns desafios. O leitor, por sua vez, mobiliza uma série de recursos para atribuição do sentido ao texto, contribuindo com seu repertório, a situação em que a comunicação ocorre (entre outros fatores). Dessa interação entre autor, texto e leitor, falamos da leitura inferencial. Passemos, agora, para a leitura crítica. Em busca da leitura crítica Um texto é sempre o resultado de um diálogo com outros já existentes, que lhe fornecem sustentação, Nesse sentido, os intertextos estabelecidos por um texto indicam modos de como devemos lê-lo. Os textos que participam da construção de outro indicam caminhos para sua compreensão que não devemos desprezar. Eis aí um grande desafio para o leitor: para interpretar um texto, é preciso ter em mente que ele é sempre o resultado de um diálogo com outros já existentes, que lhe fornecem sustentação. Nesse sentido, os intertextos estabelecidos por um texto indicam modos de como devemos lê-lo. Os textos que participam da construção de outro indicam caminhos para sua compreensão que não devemos desprezar isso. Assim, o sentido de um texto passa pelo contexto de sua produção. Isso implica que, ao iniciar uma leitura de uma obra, com o intuito de interpretá-la, deve-se levar em conta quando foi produzida, que impacto causou, o que continua sendo dito sobre ela, entre outros fatores. Guernica, de Pablo Picasso Interpretar a tela de Picasso, como qualquer outra obra, exige que conheçamos um pouco do contexto de produção do quadro (a vida de seu autor, de seu país, especialmente sobre Guernica, pequena localidade basca bombardeada pelos nazistas em 26 de abril de 1937, durante a Guerra Civil Espanhola). Além disso, interpretá-la nos solicita também saber um pouco sobre a proposta do artista, suas técnicas, suas outras telas, seus contemporâneos, suas influências, entre outros fatores. É esse processo que denominamos leitura crítica. Um gênero associado à leitura crítica: a resenha Maria Lúcia Andrade define resenha como “uma síntese seguida de um comentário sobre obra publicada, geralmente feita para revistas especializadas das diversas áreas da ciência, arte e filosofia. As resenhas desempenham papel fundamental para qualquer estudante ou especialista, pois é por meio delas que tomamos conhecimento de um livro que acaba de ser publicado, e a partir dessa informação podemos decidir pela leitura ou não da referida obra.” A definição de resenha de M. Andrade aponta as principais características do gênero. São elas: • Uma resenha parte sempre da leitura e análise de outra obra; • Internamente, a resenha combina informações e análises da obra; • A resenha permite ao leitor entrar em contato com uma obra que acaba de ser lançada, podendo servir como um meio para que ele analise se ela o interessa ou não. Veja um exemplo de resenha: Por que ler os clássicos Muitos de nós, no ensino fundamental ou médio, perguntam-se: por que afinal de contas eu tenho de ler livros “clássicos”? Em primeiro lugar, nessa fase de nossas vidas, muitas vezes nem bem sabemos o que é isso, só pensamos “deve ser chato”. Em segundo lugar, entre outros possíveis, temos, muitas vezes, uma dificuldade enorme na compreensão de tais obras, seja pela linguagem, pela “história estranha”, por não obtermos respostas. Talvez pensando nisso, em toda a dificuldade que muitos leitores têm em estar diante de um clássico, a editora Jorge Zahar tenha lançado em português a história em quadrinhos do livro No Caminho de Swann - Combray, do escritor Marcel Proust. Originalmente publicado em 1913, o livro do autor francês é o primeiro volume de uma série de sete, produzidos na virada do século XIX para o século XX. É um conjunto de reminiscências e reflexões de um narrador,cheio de detalhes, pensamentos e sonhos. Uma obra difícil, com longos parágrafos e poucos acontecimentos. Mas com uma escrita que parece nos dar a sensação de estarmos em contato com o íntimo de uma pessoa, com toda a complexidade de um ser humano visto por dentro. Daí ser um clássico: chega perto de coisas a que outros não chegam. Ao transportá-la para a linguagem dos quadrinhos, naturalmente já se abre uma porta de contato maior com um público mais jovem, mais próximo de uma linguagem não apenas feita de palavras. Os desenhos são realmente muito bonitos, bem como o trabalho de cores, e, de alguma forma, materializam os tantos pensamentos do narrador. Esse era um grande desafio para essa adaptação: como transformar sentimentos e reflexões em imagens? Uma das opções feitas foi mesclar momentos de mais ação com momentos mais reflexivos, sendo que, destes, foram destacados momentos cruciais da história original (como o momento em que o narrador entre em contato casual com um pequeno bolo chamado “madalena” e vive um intenso momento de resgate de sua memória distante). Talvez os leitores mais críticos e especializados de Proust considerem essa adaptação de menor valor. Mas, deixando de lado os purismos, é sempre válido aproximar um jovem leitor de um clássico, ainda mais quando essa aproximação é feita com charme, cuidado e respeito. Em busca do tempo perdido (No caminho de Swann: Combray) Autor: Marcel Proust Adaptação e desenhos: Stéphane Heuet Editora: Jorge Zahar Ano: 2004 Analisando as características do gênero resenha no texto, verificamos, em primeiro lugar, que ele parte de uma obra intitulada “Em busca do tempo perdido” (versão em quadrinhos). A partir do livro, o autor mistura informações (“Originalmente publicado em 1913 (...). É um conjunto de reminiscências e reflexões de um narrador, cheio de detalhes, pensamentos e sonhos”) e comentários analíticos (“Uma obra difícil, com longos parágrafos e poucos acontecimentos”, “Os desenhos são realmente muito bonitos, bem como o trabalho de cores, e, de alguma forma, materializam os tantos pensamentos do narrador”). Nesse sentido, podemos afirmar que essa resenha pode ser útil ao leitor para que obtenha, por meio dela, uma opinião a respeito da obra. Assim, ele pode fazer a escolha de entrar em não em contato com o texto original, de acordo com seus interesses. Outro aspecto que deve ser destacado na produção das resenhas é a distinção das vozes do resenhista e do autor da obra resenhada. É importante que o leitor perceba claramente quando a fala é do produtor da resenha ou quando se trata de uma citação do original. De acordo com Anna Raquel Machado (2007), “como no caso do resumo, a resenha é um texto sobre outro texto, de outro autor. Assim, é natural que haja menções ao texto original, o que, no caso da resenha, vem acompanhado de comentários feitos pelo resenhista. Porém, deve-se tomar cuidado ao fazer essas menções para que o que foi dito pelo resenhista e o que foi dito pelo autor do texto original fiquem absolutamente claros para o leitor”. Sintetizando • Uma resenha é um texto completamente baseado em outro, sua razão de existir. • Além de basear-se em outra obra, esse gênero de texto apresenta ainda um traço marcante: ele mistura informações dadas por seu autor e suas opiniões. • O autor de uma resenha emite opiniões acerca de aspectos da obra que ele considera que mereçam destaque, seja por aspectos positivos ou negativos. • Essas análises são produzidas e publicadas em jornais e revistas porque a obra que está sendo analisada foi considerada de interesse público. Portanto, o autor observa a obra e aponta alguns de seus aspectos que considera relevantes. A partir dessa análise, o leitor já tem uma opinião sobre a obra e pode decidir se ela lhe interessa ou não. Testando Leia as afirmações a seguir e observe a relação entre elas. Em seguida, com base nas explicações dadas na unidade, selecione a alternativa correta. Um aluno entregou a seu professor uma resenha, em que havia, apenas, informações sobre o livro que tinha sido usado como base para a atividade. O professor avaliou que o texto entregue não era uma resenha. O professor está correto PORQUE A resenha é um texto sobre outro texto, de outro autor. Assim, é natural que haja menções ao texto original, o que, no caso da resenha, vem acompanhado de comentários feitos pelo resenhista. a) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa. b) A primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira. c) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda justifica a primeira. d) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda não justifica a primeira. e) As duas afirmações são falsas. Feedback: De acordo com o conteúdo instrucional, as duas afirmações estão corretas e há uma relação de causa e consequência entre elas. Resumo da unidade Nesta unidade, foram apresentadas duas grandes vertentes da leitura: a inferencial e a crítica. A primeira diz respeito às estratégias usadas pelo leitor para entender o que lê; a segunda, por sua vez, está associada ao contexto de produção de um texto, conjunto de informações indispensáveis para o entendimento mais amplo de uma obra. Nesse sentido, foi apresentado o gênero “resenha”, exercício crítico de leitura. Referências bibliográficas ANDRADE, Maria Lúcia C. V. O. Resenha. São Paulo: editora Paulistana, 2006. DELL’ISOLA, Regina Lúcia Péret. Leitura: inferências e contexto sociocultural. Belo Hori - zonte: Formato, 2001. KOCH, I. V. e ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006. MACHADO, Anna Raquel (coord.). Resenha. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. ORLANDI, Eni P. Interpretação. Campinas: Pontes, 2004. Sites http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php – Aqui você encontra várias informações e exemplos de resenhas. Vídeos http://www.youtube.com/watch?v=7-cV9ImQsKQ – Aqui você encontra algumas “dicas” de como escrever uma resenha.
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