Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Comunicação e Expressão Unidade 2: Variedades linguísticas Professora Doutora Débora Mallet Pezarim de Angelo Variedades linguísticas Nesta unidade, você vai encontrar pessoas usando a linguagem verbal – aquela que é composta por palavras – de diversas formas, tentando se adequar à situação. Para tanto, será preciso entender os seguintes conceitos: variedades ou normas linguísticas; norma padrão, norma coloquial, norma profissional e norma de espaço físico. Pegar um jacaré? Seu Paulo é biólogo e tem um neto surfista, Olavo. Um dia, Paulo ouviu seu neto dizer numa conversa ao telefone com um amigo que tinha tomado um caldo e que amanhã ia à praia pegar um jacaré. Sem entender muito bem, afinal o local onde eles estavam era de clima quente e não havia contexto para esse tipo de alimentação, foi conversar com o rapaz e questionar o porquê dessa escolha. Aproveitou para esclarecer que jacaré é um réptil que vive em água doce e que o rapaz não acharia nenhum jacaré no mar. Como Olavo explicaria a seu avô o que são esses termos? Ah, tá! A expressão “pegar jacaré” pode ser entendida como sinônimo de “surfar”. Na situação vivida pelo sr. Paulo e seu neto, Olavo, vemos que as pessoas se expressam usando a língua de modos diferentes: os dois entendem algumas palavras ou expressões de modo diverso, o que reflete suas faixas de idade, valores, adequação às situações comunicativas. No telefonema informal de Olavo a um amigo, “tomar caldo” e “pegar jacaré” são expressões que ambos compreendem e que cabem na conversa descontraída. Já em uma situação mais formal, o rapaz precisa se expressar de outro modo. Seu Paulo, por sua vez, usa as mesmas expressões com sentidos diferentes. Será que eles estão errados? Muitas pessoas, por diferentes razões (entre elas, certamente, pela formação escolar), acreditam que haja um único modo “certo” de falar e escrever a língua portuguesa e que todos os outros usos estão “errados”. Para entender melhor essa ideia, observe os textos a seguir. Nas duas imagens apresentadas, observa-se uma mesma personagem: uma mulher, em uma mesma situação (dando explicações para outra, que parece ser sua aluna). Na primeira cena, ela fala de acordo com a norma padrão da língua; na segunda, fala de maneira mais coloquial. Nesse contexto, é preciso perguntar: qual a forma mais adequada de falar? Todos nós passamos por situações como essas no dia a dia e fazemos escolhas linguísticas, de acordo com cada situação. Desse modo, pode-se compreender que não está “errado” mudar a forma de falar nas diferentes situações de comunicação vividas. Essa é apenas uma adaptação da fala ao contexto. É importante destacar que a variação na fala (e, às vezes, na escrita) das pessoas não se dá apenas de acordo com as situações. Há outros tipos de diferenças como a pronúncia, o tipo de vocabulário, o usos de palavras específicas de profissões, a maneira de organizar as frases, entre outras. De acordo com os modernos estudos linguísticos, não há “certo” ou “errado” para nenhum uso da língua, mas, sim, adequado ou inadequado ao contexto. Isso quer dizer que “nós vai” não é um erro de português? Observe o seguinte: Fala coloquial Fala padrão “Eu vou” “Eu vou” “Você vai” “Tu vais” “Ele(a) vai” “Ele(a) vai” “Nós vai” “Nós vamos” “Vocês vai” “Vós ides” “Eles(as) vai” “Eles(as) vão” Observa-se que na fala coloquial há uma regra diferente de uso da fala padrão. Mas há regras nas duas maneiras, pois cada falante, em qualquer situação de comunicação, não se expressa de um modo inventado naquele momento, mas de uma forma consagrada por ele e por muitos outros indivíduos de sua comunidade. A lógica que existe na primeira conjugação do verbo “ir” de nosso exemplo é a seguinte: • Apenas a 1ª pessoa do singular (eu) apresenta uma forma diferente das demais (provavelmente para marcar a diferença entre “quem fala” e os outros); • Nas demais pessoas, o verbo não varia, mas a ideia de singular ou plural fica no pronome. Assim, “você vai” é diferente de “vocês” vai”. Já na lógica da norma padrão, cada pessoa apresenta uma forma verbal diferente. Além disso, no plural (nós, vós e eles) há uma dupla marca de plural, na pessoa (nós, vós e eles) e no verbo (vamos, ides e vão). Concluindo: o que vemos aqui não são usos “certos” ou “errados” do português, mas usos que seguem regras diferentes. Todos os usos linguísticos seguem uma lógica de seus grupos usuários e não podemos dizer que a lógica do grupo “x” é melhor do que a lógica do grupo “y”. Elas são simplesmente diferentes. Uma norma ou variedade linguística é um conjunto de normas fixado, usado e consagrado por uma comunidade de falantes de um dado idioma. Todas as variedades linguísticas seguem princípios lógicos, não sendo, portanto, possível dizer que uma norma é melhor do que outra. No entanto, a norma padrão é a mais prestigiada socialmente, sendo exigida em situações mais formais de comunicação. Estudando algumas variedades Há diversas normas ou variedades linguísticas, mas vamos estudar algumas: 1) Norma de espaço físico Em cada região do país (e mesmo dentro de uma mesma região), as pessoas falam de forma diferente, seja no uso de palavras, na sonoridade (na forma de pronunciar cada termo) etc. Se você observar sua fala, verá que usa palavras ou pronúncias típicas de onde você vem ou mora. Essas diferenças, muitas vezes, levam alguns falantes a acreditar que “a maneira certa de falar é do lugar x”. Existe uma forma mais certa do que a outra? A resposta é não. Todas as diferentes maneiras de falar são legítimas, apresentando-se apenas como variedades do idioma. Isso, aliás, ocorre não só no Brasil, mas em todos os lugares do mundo onde há pessoas que falam português. Norma de espaço físico, portanto, é o conjunto de usos consagrados em uma dada localidade. 2) Norma de grupos profissionais Outra variedade existente é a chamada norma de grupos profissionais, ou jargão. São os usos linguísticos específicos de uma dada profissão, sendo muito comuns as criações de vocábulos próprios da área. Entre os profissionais de um mesmo setor, um jargão costuma agilizar e precisar a comunicação, uma vez que os conhecimentos do grupo de falantes é comum. No entanto, ao entrar em contato com pessoas que não pertencem àquele grupo profissional, é preciso usar esses termos com cautela, pois eles podem dificultar o entendimento dos falantes que não dominam esses termos. 3) Norma coloquial Ela é o conjunto de usos da língua consagrados pelos falantes, mas que não seguem a mesma lógica da norma padrão. Quanto mais informal o contexto, mais pertinente o uso da norma coloquial. Há alguns temas que, particularmente, geram maiores diferenças de uso entre essa norma e a padrão. Por exemplo, a colocação de pronomes, a concordância e a regência verbais, a ortografia, a acentuação, a pontuação o uso do acento grave indicador de crase etc. Uma sugestão! Observando sua fala ou texto, oumesmo contando com a ajuda de um professor ou alguém que apresente um bom domínio da norma padrão da língua portuguesa, procure detectar quais são suas maiores dificuldades com os usos formais do idioma. Faça uma lista e procure estudar esses tópicos. Você poderá encontrar exercícios em gramáticas normativas da língua portuguesa. Sempre que tiver uma dúvida, você pode usar duas estratégias: procurar resolvê-la com a ajuda de uma gramática, um dicionário, um professor etc. Dessa forma, você poderá aprender algo que será usado em outras situações de comunicação. Se a situação for de urgência e você não tiver um modo de resolvê-la, procure outra forma de expressar-se, evitando o uso que gerou dúvida naquele momento. 4) Norma padrão Deve ser compreendida como o conjunto de regras prescrito na gramática normativa da língua portuguesa. São os usos ditados pelas regras prescritas pelos gramáticos e usadas nas situações mais formais de comunicação. Assim, as falas e escritos profissionais, jornalísticos, políticos etc. costumam seguir as normas indicadas pelo uso padrão do idioma, o mais valorizado socialmente. Não é adequado, por exemplo, que você chegue ao trabalho e diga para o chefe “nós vai fazer reunião à tarde?”. Você não deve se expressar dessa forma em uma situação com alguma formalidade, pois o que se espera de você, nesse contexto, é que use a norma padrão de nossa língua. Não porque essa forma de falar seja um erro, mas porque é uma maneira socialmente desprivilegiada, e, portanto, em qualquer situação formal de comunicação, deve ser evitada. Testando Leia o texto a seguir. Festa das funções As funções resolveram dar uma festinha. Várias delas apareceram: funções constantes, lineares, polinomiais e a exponencial que ficou meio fora de lugar porque não conseguia se integrar. Eis que, do nada, entra na festa o Operador Diferencial, vulgo derivada, que começa a atacar as funções. Quando ele encostava em uma função polinimial e, 'puf', ela caia de grau; já quando o operador tocava em uma função constante, 'puf', ela sumia. Foi então que a exponencial tomou coragem para enfrentar o operador diferencial e disse: - Pode ir parando com isso agora! O senhor deve ir embora dessa festa! - Quem é você para falar assim comigo sua atrevida? - perguntou a derivada. -Eu sou ex muito prazer. - Prazer, eu sou dy/dt. 'Puf'. O texto acima é uma piada. Contudo, a sua compreensão ficou dificultada pelo possível desconhecimento da linguagem usada, específica da matemática. Que nome recebe essa variedade? a) Norma de espaço físico. b) Norma coloquial. c) Norma padrão. d) Norma de grupos profissionais. e) Norma de faixa etária. Feedback: há falares próprios para grupos profissionais específicos, como os de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo). São os chamados jargões, caracterizados no texto pela linguagem específica de profissionais da matemática. Resumo da unidade Uma norma ou variedade linguística é um conjunto de normas fixado, usado e consagrado por uma comunidade de falantes de um dado idioma. Todas as variedades linguísticas seguem princípios lógicos, não sendo, portanto, possível dizer que uma norma é melhor do que outra. No entanto, a norma padrão é a mais prestigiada socialmente, sendo exigida em situações mais formais de comunicação. Foram destacadas quatro normas: de espaço físico; de grupos profissionais; coloquial e padrão. Referências bibliográficas BAGNO, Marcos. A língua de Eulália – uma novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2000. BAGNO, Marcos. A norma oculta. São Paulo: Parábola, 2003. PRETI, Dino. Sociolinguística: os níveis da fala. São Paulo: Edusp, 2000. Sites http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/variacoes-linguisticas-o-modo-de- falar-do-brasileiro.htm – Aqui você encontra algumas informações sobre as variedades linguísticas no Brasil. Vídeos http://www.youtube.com/watch?v=_Y1-ibJcXW0– Aqui você encontra um programa de televisão que aborda o tema das variedades linguísticas.
Compartilhar