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Aula 3 A Policia militar no Brasil

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Introdução
Nesta aula, conheceremos como as polícias militares se organizam, focando nos aspectos relacionados à atuação, formação, seleção, hierarquia, avaliação do desempenho e mecanismos de controle interno e externo. 
A partir disso, debateremos os principais desafios enfrentados para o aperfeiçoamento das Polícias Militares no Sistema de Segurança Pública brasileiro.
Instituições policiais estaduais
Na aula anterior, vimos brevemente o processo histórico que resultou nas instituições policiais estaduais. 
A atual Constituição estabelece para os estados e o Distrito Federal o sistema de duas polícias de ciclo incompleto: a Polícia Militar e a Polícia Civil. 
Atribuição da Polícia Militar
A Constituição Federal de 1988 (CF 1988) determina como atribuição da Polícia Militar o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública (art. 144 §5º), sendo a Polícia Militar, juntamente com o Corpo de Bombeiros Militar, força auxiliar e reserva do Exército (art. 144 §6º), assim, o Exército tem preeminência sobre a Polícia Militar. 
Ao mesmo tempo a PM de cada unidade federativa está subordinada ao governador, cabendo a cada executivo estadual e do Distrito Federal definir o Estatuto dos Policiais Militares através de lei estadual, bem como a diretriz política, a gestão e a forma de atuação. 
Ao mesmo tempo em que os estados não têm autonomia para criar instituições policiais diferentes das definidas pela CF 1988, as Polícias Militares vivenciam realidades distintas entre os estados no que se refere, por exemplo, a recrutamento, formação, notas de instrução, valorização profissional, equipamentos, investimento, recurso humano e remuneração.
Cabe à PM o policiamento ostensivo e a manutenção da ordem pública, o que a coloca diante de diversas situações, pois, embora tradicionalmente, se dê maior ênfase ao aspecto repressivo e de aplicação da lei como atribuição da PM, no dia a dia, o seu trabalho não se restringe a ocorrências criminais, sendo preenchido por uma série de atividades e situações não criminais que não são compreendidas e valorizadas como atribuição de polícia. 
O sociólogo Egon Bittner defende que a polícia, de uma forma geral, deve atuar quando “algo que não deveria estar acontecendo está acontecendo e alguém deve fazer algo a respeito agora”. O que possibilita pensar o trabalho da Polícia Militar para além da atuação em ocorrências criminais. 
Conforme observam Muniz e França (2010, p. 450):
Isso revela porque a polícia pode atender a emergências, respaldar a lei, sustentar a ordem pública, preservar a paz social, mediar conflitos, auxiliar, assistir, advertir, socorrer, dissuadir, reprimir ou desempenhar quaisquer outras funções sociais de forma reativa ou preemptiva. Esclarece porque as polícias executam as mais diversas formas ou padrões de policiamento. 
Explica por que a polícia é chamada a atuar, e deve fazê-lo em todas as situações em que a força possa ser útil. Enfim, possibilita compreender a “decisividade” no fazer policial, sua medida de autonomia decisória, sua discricionariedade para produzir soluções legais e legitimas, porém provisórias, para problemas inadiáveis no tempo mesmo de sua ocorrência.
Em um contexto democrático, cabe à polícia ostensiva manter a paz por meios pacíficos, tendo o recurso do uso comedido da força física, o que a coloca diante de eventos criminais e não criminais.
O modelo organizacional
A Polícia Militar, cuja base é a hierarquia e a disciplina, tem uma organização militar inspirada no Exército Brasileiro, possuindo, por exemplo, Estado Maior, cadeias de comando, batalhões, insígnias, companhias, tropas, destacamentos e regimentos. Nesse sentido, por ser militar, o PM usa farda, enquanto guardas municipais usam uniformes.
Muitas instituições possuem alguma forma de hierarquia. Na PM, a hierarquia de postos reproduz o modelo do Exército Brasileiro, excluindo apenas a patente máxima de general, dessa forma, os mais graduados da PM sempre estarão uma patente abaixo do militar das forças armadas. 
Na Bahia, não há os postos de 2º e 3º sargento e 2º tenente.
O atributo “militar”, nas polícias ostensivas estaduais brasileiras, imprime características relevantes e específicas à força policial e suscita veementes debates acerca do “militarismo” na PM. 
A crítica mais contundente se refere a “ideologia militar” identificada ainda hoje nas policias militares como uma herança da ditadura militar, quando sob a égide da Doutrina de Segurança Nacional, a Polícia Militar assumiu a missão da segurança interna através do “combate” ao “inimigo” do Estado.
A ideia de inimigo a ser combatido não se adéqua ao papel da polícia em contexto democrático, que se baseia no fortalecimento da cidadania e na construção da ordem pública com a participação de diferentes grupos sociais. 
Os policiais militares
O efetivo da Polícia Militar é composto por:  praças e oficiais seguindo a mesma hierarquia de patentes e graduações do Exército e, assim como nas forças armadas, há duas formas de ingresso na corporação: uma para os praças e outra para oficiais.
Os praças constituem a maior parte do efetivo da PM e se dividem nos postos de soldado, cabo, 1º, 2º e 3º sargento e subtenente.
As duas graduações mais baixas, ou seja, soldado e cabo estão majoritariamente encarregados do policiamento propriamente dito, enquanto sargento e subtenente estão alocados em atividades de supervisão e administração. 
Assim, devido à natureza das suas atribuições, os praças adquirem um rica vivência das dinâmicas sociais e criminais do espaço público.
Oficiais
Os oficiais estão no topo da hierarquia militar sendo o mais alto posto o de coronel, as patentes seguintes são tenente-coronel, major, capitão e 2º e 1º tenentes. 
As patentes coronel , tenente-coronel e major são oficiais superiores. O capitão é oficial intermediário. E os 2º e 1º tenentes são oficiais subalternos.
Os oficiais exercem funções de comando, chefia e direção.
Como já foi ressaltado, as polícias militares têm autonomia em relação aos seus processos seletivos e de formação, mas é possível apontar algumas recorrências nas PMs, uma vez que a “dupla entrada” na Polícia Militar produz implicações dentro da corporação no que tange a diferenciação de salários, poder, prestígio e expectativas de ascensão entre praças e oficiais.
Tanto os candidatos a praça quanto a oficial se submetem a concurso público, porém são realizados em momentos diferentes. 
Aprovado no concurso, o recruta realiza um curso cuja tempo de duração pode variar. 
Após o Curso de Formação, o indivíduo assume a graduação de soldado, na qual deverá permanecer durante 9 a 15 anos, dependendo de qual Polícia Militar pertença, enquanto o tempo médio para promoção de um oficial de 2º para 1º tenente pode ser de apenas 2 anos. 
Normalmente, os critérios de promoção são: 
Meritocrático;
Por tempo de serviço;
Por cursos realizados;
Por bravura e “post-mortem”.
O candidato a oficial aprovado em concurso realiza o Curso de Formação de Oficiais, com duração média de 3 anos em regime de internato. Durante esse tempo, além do conteúdo programático do curso, o aluno oficial “aprende” a ser policial militar, conforme destacam Caruso, Patrício e Pinto (2010).
Vale destacar que o processo de ensino e aprendizagem, em uma instituição que carrega a marca militarista implica, sobretudo, na internalização do ethos militar, isto é, na disciplinarização dos alunos às regras deste mundo, buscando efetivamente distanciá-lo das marcas que carregam do mundo civil. (p. 110)
Além dos cursos de formação, a questão salarial e a cobrança disciplinar também distanciam esses dois grupos de policiais.
Ressaltando que, salvo algumas exceções, o indivíduo que entra na corporação como praça não ascende a oficial.
De forma geral, no que se refere à formação profissional, é corriqueiro ouvir tanto de praças quanto de oficiais que “a prática é outra coisa” evidenciando um saber que se
adquire nas ruas que não apenas se sobrepõe ao conhecimento adquirido nas aulas do curso de formação, mas o desqualifica. 
Vários autores identificam a dissonância entre o saber prático e teórico, para Caruso, Patrício e Pinto (2010) isso decorre de uma “inversão de prioridades”, enquanto na formação a ênfase no “cumprimento da ritualística militar”, na execução do policiamento o foco é o “desempenho profissional”. 
Além disso, a supervalorização do saber prático em detrimento do teórico através do “aprender fazendo” resulta na adoção de procedimentos próprios, por outro lado, o conhecimento das dinâmicas sociais pelos praças é comumente subutilizado pelos oficiais no planejamento das ações, evidenciando uma falta de integração dentro da própria instituição. 
Matriz Curricular Nacional
Visando à construção de cursos que dialoguem com as necessidades cotidianas, na perspectiva de polícia cidadã, a Secretaria Nacional de Segurança Pública elaborou a Matriz Curricular Nacional, que esta sendo utilizada como base para os cursos de Polícia nas 27 Unidades Federativas. 
Nesse sentido, seria oportuno avaliar a forma de incorporação e o impacto da adoção da Matriz Curricular na formação e exercício profissional dos policiais militares.
Controle Interno e Externo da Polícia Militar
O trabalho policial possui a especificidade da prerrogativa do uso comedido da força física, o que torna indispensável a existência de mecanismos de controle interno e externo da sua atividade.
O controle interno da Polícia é realizado pela Corregedoria da Polícia Militar, formada pelos próprios policiais e tem a atribuição de investigar desvio de condutas. 
O controle externo é realizado pelas ouvidorias de polícia, que são normalmente criadas pelos governos estaduais e coordenada por integrantes da sociedade civil.
O Ministério Público também é responsável pelo controle externo das polícias.
Tanto a Ouvidoria quanto a Corregedoria são mecanismos capazes de identificar e punir desvio de condutas, mas também são capazes de abrir o debate e democratizar as políticas públicas de segurança pública. 
A ouvidoria de polícia é um recurso da sociedade para investigar desvio de conduta policial, porém, para ser eficaz, é necessário ter autonomia política e funcional. 
Em uma pesquisa publicada em 2003 (Lemgruber, Musumeci e Cano), indicava que, devido à falta de estrutura e autonomia, denúncias recebidas pela Ouvidoria de Polícia eram remetidas aos Batalhões de Polícia Militar para serem investigadas pelos próprios policiais, o que comprometia sobremaneira o resultado da denúncia.

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