Buscar

Bioquímica da saliva

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Curso de Bioquímica
da
Cárie Dental
I - Bioquímica
da
Saliva
CARLOS EDUARDO
PINHEIRO(*)
4
INTRODUÇÃO
A saliva é um líquido secretado
pelas glândulas salivares diretamen-
te na cavidade bucal. Seu maior
componente é a água, que chega a
ocupar aproximadamente 99% de
seu peso, sendo o restante forma-
do por componentes orgânicos e
minerais que constituem a parte
sólida da saliva.
Várias são as glândulas que con-
tribuem para a formação da saliva,
sendo que no homem e na maior
parte dos animais existem três pa-
res de glândulas maiores, ou seja,
parótidas, submandibulares, sub-
linguais e por inúmeras glândulas
menores, localizadas principalmen-
te na mucosa bucal. Ao conjunto
das diversas secreções glandulares
que se juntam dentro da cavidade
bucal deu-se o nome genérico de
saliva mista. Na verdade, a saliva
mista contém, além das secreções
glandulares, componentes estra-
nhos como fluído gengival, células
descamativas, bactérias e produtos
bacterianos, além de outros com-
ponentes variáveis. As salivas se-
cretadas por cada par de glândulas
maiores só são obtidas por meio
da canulação de seus ductos excre-
tares. As salivas individuais, isto
é, as secretadas por cada par de
glândulas, diferem entre si tanto
na proporção de volume secretado
quanto em sua composição quími-
ca, dependendo da existência ou
não de estímulos como também
da natureza e intensidade dos
mesmos.
A saliva é muito importante
para o meio bucal como também
para o próprio organismo. Cos-
tuma-se atribuir geralmente à sa-
liva um papel digestivo e excretor.
A saliva contém a enzima amilase,
capaz de hidrolizar o amido conti-
do nos alimentos, transformando-o
em dextrina, maltose e glicose.
Contudo, como o tempo de per-
manência do alimento na cavidade
bucal é diminuto, o papel diges-
tivo desta enzima é relativamente
insignificante. Não obstante, a
atividade amilolítica da saliva atua
continuamente sobre os amiláceos
(*) Professor Titular do Departamento de Bioquímica — Faculdade de Odon-
tologia de Bauru da Universidade de São Paulo.
Revista Paulista de Odontologia40
que permanecem aderidos à super-
fície dos dentes, nos espaços exis-
tentes entre os mesmos, favorecen-
do a remoção de restos alimenta-
res retentivos, pela transformação
destes em produtos mais solúveis.
Além da atividade enzimática, a
saliva contribui para o processo
digestivo, lubrificando o bolo ali-
mentar e, desta forma, facilitando
sua mastigação e deglutição. Inú-
meras substâncias nocivas ao orga-
nismo e alguns medicamentos são
excretados pela saliva, que assim
funciona como um veículo de de-
sintoxicação. A saliva desempenha
função de proteção do meio bucal,
mediante a ação de substâncias
antibacterianas, como também par-
ticipa na manutenção do equilíbrio
hídrico, regulando a excreção de
líquido do organismo.
A — Composição química da
saliva
Os componentes químicos da sa-
liva, não obstante a mesma ser
constituída por aproximadamente
99% de água, são essenciais para
o desempenho do papel fisiológico
deste importante líquido. Através
desses componentes menores, a
saliva provê uma cobertura orgâ-
nica às mucosas e dentes; promove
a lubrificação dos alimentos; fa-
vorece a remineralização das su-
perfícies dos dentes comprometi-
dos pela cárie e, também, ativa a
acuidade gustativa. E principal-
mente devido ao conteúdo de bi-
carbonato que a saliva exerce seu
poder tampão, isto é, a capacidade
de manter o pH constante, frente
as contínuas variações químicas do
meio bucal.
Finalmente, é através de seus
componentes químicos que a saliva
protege os tecidos bucais de agen-
tes microbianos, normalmente exis-
tentes na cavidade bucal.
A.1 — Componentes orgânicos
Sem dúvida alguma, os compo-
nentes mais abundantes e impor-
tantes da saliva são as proteínas.
As proteínas são classificadas
preponderantemente de acordo com
suas caracteristicas químicas e ati-
vidades biológicas.
PROTEINAS SALIVARES
RICAS EM PROLINA
As características químicas im-
primidas às proteínas por este
aminoácido (iminoácido!) são de
rigidez estrutural, isto é, determi-
nadas estruturas adquiridas pelas
moléculas protéicas que lhe con-
ferem maior resistência ou estabi-
lidade às mudanças conformacio-
nais.
Exemplo típico desta classe de
proteínas é o colágeno, que serve
de suporte estrutural ao tecido
conjuntivo.
Na saliva, as espécies molecula-
res encontradas são representadas
pelas fosfoproteínas, glicoproteí-
nas ácidas e básicas e mucinas. Os
principais papéis fisiológicos des-
sas proteínas são os de formarem
coberturas orgânicas sobre super
fícies das mucosas e dos dentes,
além de envolverem os alimentos,
lubrificando-os e favorecendo sua
mastigação e deglutição.
Estas proteínas apresentam re-
giões moleculares com alta densi-
dade de cargas elétricas negativas
(geralmente resíduos de ácidos as-
pártico e glutâmico), o que lhes
facilita a aderência às superfícies
dos tecidos orais.
As fosfoproteínas, proteínas de
baixo peso molecular (6.000-
12.000 daltons), além dos cons-
tituintes ácidos da classe, possuem
radicais de ácido fosfórico ligados
às hidroxilas da serina e treonina
das cadeias polipeptídicas. Decor-
rente da concentração relativa-
mente alta de radicais ácidos, estas
proteínas apresentam grande afini-
dade pela hidroxiapatita, sendo um
dos principais contribuintes da pe-
lícula adquirida, filme orgânico
que se forma rapidamente sobre as
superfícies dos dentes.
As fosfoproteínas também estão
implicadas nos processos de remi-
neralização do esmalte e na esta-
bilização da concentração super-
saturada dos íons de cálcio e fos-
fato da saliva.
Em virtude de seus radicais áci-
dos, estas proteínas quando adsor-
vidas à superfície dos dentes, po-
dem agregar os íons de cálcio da
saliva em uma determinada região
do esmalte, favorecendo termodi-
namicamente a precipitação desses
íons sobre superfícies destruídas
pela cárie ou agentes ácidos. Neste
particular merece menção especial
a estaterina, um tipo de fosfopro-
teína relativamente rica em tirosina
e que possui grande afinidade pelos
íons cálcio. O nome estaterina de-
riva do grego "Statheropio", que
significa estabilizar. Este peptídeo
é rico em tirosina, prolina e ácido
glutânico, tendo um peso molecu-
lar de 5.380 daltons e um ponto
isoelétrico de 4,2. Os resíduos áci-
dos estão localizados na extremi-
dade amino-terminal da cadeia po-
lipeptídica. O mecanismo envolvi-
do na estabilização dos íons cálcio
e fosfato da saliva é semelhante ao
já mencionado para a reminerali-
zação, contudo, neste caso, as fos-
foproteínas estão em solução, ade-
ridas aos agregados iniciais de fos-
fato de cálcio, impedindo assim o
seu crescimento.
PROTEINAS SALIVARES
RICAS EM AMINOACIDOS
AROMÁTICOS
Proteínas pertencentes a este
grupo geralmente possuem função
especializada. A estaterina foi fo-
Revista Paulista de Odontologia
	 41
calizada juntamente com as fosfo-
proteínas, mais concernentes com
sua atividade biológica.
De qualquer forma, esta proteí-
na está envolvida com a estabili-
zação e o transporte do cálcio sa-
livar. Outra proteína típica da
classe é a gustina, cuja atividade
está ligada ao transpo rte (e arma-
6zenamento) do íon zinco, junto às
papilas gustativas. A gustina é a
proteína que contém a maior quan-
tidade de zinco da saliva da paró-
tida humana, seu peso molecular
é de 57.000 daltons, sendo que a
histidina ocupa 8% dos resíduos
de aminoácidos. Cada molécula de
gustina tem a capacidade de ligar
1 átomo de zinco. O mecanismo
pelo qual a gustina promove o cres-
cimento e a acuidade das papilas
gustativas é ainda desconhecido.
Esta proteína apresenta uma ativi-
dade biológica semelhante ao fator
de crescimento nervoso, isolado
das glândulas submandibulares do
camundongo macho. Lactoferrina é
outra proteína rica emresíduos
aromáticos, sendo ligeiramente bá-
sica. Diferindo das outras proteí-
nas mencionadas, possui alto pe-
so molecular (aproximadamente
80.000 daltons). Acredita-se que a
lactoferrina, que possui um núcleo
porfirínico em sua estrutura, esteja
ligada ao transpo rte de íons ferro
da saliva. Cada molécula de pro-
teína liga-se a dois átomos de fer-
ro. A lactoferrina apresenta ati-
vidade antimicrobiana, inclusive
contra os estrentococos mutans,
que necessitam de íons ferro para
o seu crescimento.
AGLUTININAS SALIVARES
Quando se adiciona saliva a uma
suspensão de bactérias, ocorre ge-
ralmente uma agregação específica
dos microorganismos que se depo-
sitam em poucos minutos no fundo
do tubo de ensaio. A aglutinação
de bactérias pelas proteínas saliva-
res é decorrência da neutralização
das cargas elétricas negativas da
superfície celular. As proteínas
ácidas salivares, fosfoproteínas, gli-
coproteínas e mucinas são capazes
de interagirem com as cargas nega-
tivas bacterianas através de uma
ponte de cálcio. Contudo, as pro-
teínas salivares pertencentes à clas-
se das aglutininas são considera-
das glicoproteínas de alto peso mo-
lecular (acima de 1 milhão de dal-
tons!).
A especificidade das aglutininas
para determinado tipo de micro-
organismo está na dependência da
variedade de radicais de carboidra-
tos ligados à cadeia polipeptídica.
As aglutininas exercem um papel
antimicrobiano, considerando que
os agregados macromoleculares em
solução podem ser eliminados pe-
la deglutição. Por outro lado, quan-
do em condições favoráveis, esses
agregados podem aderir às super-
fícies dos dentes, durante a for-
mação da placa dental. Como ge-
ralmente essas proteínas possuem
uma extremidade hidrofóbica (não
polar) na cadeia polipeptídica e,
portanto, sem carga elétrica, a in-
teração entre elas é mais facilmente
conseguida, provocando assim a
agregação bacteriana. Além da in-
teração entre cargas elétricas, ou-
tros tipos de ligações, como re-
ceptores específicos da membrana,
podem ligar as aglutininas saliva-
res aos microorganismos, sendo
neste caso uma agregação mais
específica. É interessante mencio-
nar que a remoção dos íons cálcio
por quelantes retarda ou mesmo
impede a formação *de agregados
bacterianos.
ENZIMAS SALIVARES
A secreção salivar, assim como
outras secreções digestivas, contém
várias enzimas hidrolíticas destina-
das a promoverem, mediante sua
atividade catalítica, a degração dos
componentes alimentares, tornan-
do-os adequados à absorção intes-
tinal .
A enzima mais abund ante da se-
creção salivar é a alfa-amilase. Es-
ta enzima hidroliza a ligação alfa
1-4 de resíduos glicosídicos do
amido e glicogênio. Esta atividade
enzimática não é essencial ao pro-
cesso digestivo, uma vez que na
sua ausência a digestão se processa
normalmente às expensas da en-
zima pancreática. Contudo, a ami-
lase salivar exerce importante pa-
pel na digestão de restos de ali-
mentos aderidos aos espaços inter-
dentais, colaborando assim em sua
solubilização e limpeza.
A lisozima é uma enzima alta-
mente positiva que cataliza a de-
gradação de peptidoglicanos, ma-
cromoléculas que se apresentam
negativamente carregadas, encon-
tradas nas paredes das células bac-
terianas. Os peptidoglicanos bacte-
rianos são polímeros moleculares,
insolúveis, constituídos por unida-
des de dissacarideos do ácido ace-
til-murâmico e acetil-glicosamina.
A ligação hidrolizada pela enzima
é do tipo alfa 1-4, sendo os frag-
mentos resultantes da hidrólise,
solúveis no meio bucal. Portanto,
esta enzima exerce, mediante sua
atividade catalítica, ação antibacte-
riana. Por outro lado, a lisozima
modificada, isto é, sem atividade
muramidásica, também impede o
crescimento bacteriano, possivel-
mente atuando de forma ainda
desconhecida sobre a permeabili-
dade da membrana plasmática bac-
teriana. A lisozima é encontrada
em alta concentração na saliva,
sendo capaz, também, de produzir
a agregação de estreptococos da
cavidade bucal.
Ao contrário da alfa-amilase, a
lisozima é secretada principal-
mente pelas glândulas mucosas e
Revista Paulista de Odontologia42
S
Ci
A
CH2 
CH3
- S
—S
NH:
CH2
S—
CH3
S $
S 	 S	 S 	 S
Ci,	 V t.	 I-- NH;
por fagócitos existentes na cavida-
de bucal.
A lactoperosidade salivar é uma
enzima de alto peso molecular
(80.000 daltons) que contém anel
de porfirina e ferro como núcleo
prostético. Catalisa a decomposi-
cão de peróxidos, liberando radi-
cais capazes de oxidarem outras
substâncias. Na saliva, a peroxi-
dase utiliza particularmente o íon
tiocianato como substrato em pre-
sença do peróxido de hidrogênio,
e os produtos liberados desta rea-
ção, particularmente o 'íon hipotio-
cianito (OSCN-), são capazes de
oxidar compostos impo rtantes, co-
mo por exemplo os grupamentos
tióis de proteínas existentes nas
células bacterianas, tornando-as
inativas. Desta forma, a lactopero-
xidase exerce também uma ação
antibacteriana.
IMUNOGLOBULINAS
As imunoglobulinas são impor-
tantes proteínas existentes no plas-
ma sangüíneo e desempenham a
função de defesa contra a invasão
de agentes estranhos (antígenos),
nocivos ao organismo.
Existem vários tipos de imuno-
globulinas, sendo que na saliva e
outras secreções a classe predomi-
nante são sa imunoglobulinas se-
cretórias (IGA).
Devido à importância que se
tem dado atualmente às imunoglo-
bulinas salivares, pa rticularmente
com relação à cárie dental, consi-
deraremos esta classe de proteínas
um pouco mais aprofundada. As
imunoglobulinas pertencem a uma
classe quimicamente heterogênea,
diferindo em peso molecular, con-
teúdo em carboidratos, mobilida-
de eletroforética e antigenicidade.
Contudo, todas elas apresentam a
propriedade em comum de se com-
binarem especificamente aos antí-
genos. Existem cinco classes main-
res de imunoglobulinas e várias
subclasses. As principais imuno-
globulinas são designadas por si-
glas: IgG, IgM, IgA, IgD e IgE.
As imunoglobulinas são compostas
de unidades básicas de monôme-
ros de peso molecular entre 150-
160.000 daltons (coeficiente de se-
dimentação 7S). A unidade básica
compõe-se de quatro cadeias po-
lipeptídicas: um par de cadeias pe-
sadas, de peso molecular entre
60-80.000 daltons, e um par de
cadeias leves, de 22.000 daltons.
As cadeias leves, que existem em
vários tipos, são comuns a todas
as imunoglobulinas. Contudo, ca-
da imunoglobulina apresenta uma
composição específica para as ca-
deias pesadas (Figura 1). Muitas
imunoglobulinas existem no plasma
como polímeros da unidade básica,
como IgM e IgA, que se encon-
tram na forma de pentâmero (P.M.
900.000 daltons) e dímero ou trí-
mero, respectivamente. Cada classe
FURA 1 - Estrutura da IgG, mostrando o padrão de pontes dissulteto e as regiões de sequen-
cia homóloga.
C0o -
	
C00-
Legenda: CH t - CH3 = regiôes constantes da cadeia pesada.
^ região constante da cadeia leve.

reglio variável da cadeia pesada.
a regido variivel da cadeia leve.
CL
VH
VL ^
Revista Paulista de Odontologia
	 43
de imunoglobulinas é responsável
por um tipo de reação biológica,
assim a IgE está ligada à reações
do tipo alérgico; a IgM e IgG são
capazes de fixar complemento e,
portanto, participarem das reações
mediadas pela fixação de comple-
mento; a IgA são as imunoglobu-
Iinas encontradas normalmente nas
secreções; a IgD, juntamente com
uma forma de IgM, são as princi-
pais imunoglobulinas da superfície
dos linfócitos. As imunoglobulinas
secretórias (IgA) diferem das de
sua classe plasmática por apresen-
tarem, além das quatro cadeias po-
lipeptídicas comum a todas elas,
um componente secretório (glico-
proteína de P.M. 60.000-70.000
daltons) e uma cadeia de ligação
(aproximadamente 15.000 daltons).
A molécula completa de IgA tem
um peso molecular de 360.000dal-
tons, sendo encontrada normalmen-
te nas secreções salivares, gastro-
intestinais e brônquicas, como tam-
bém na lágrima e leite.
As imunoglobulinas secretórias
representam uma primeira linha de
defesa do organismo contra a inva-
são virótica e bacteriana, normal-
mente presentes no tubo gastro-
intestinal. Pela maior afinidade que
as imunoglobulinas secretórias têm
pelos antígenos dos microorganis-
mos, elas formam com os mesmos,
agregados macromoleculares, impe-
dindo assim sua aderência às su-
perfícies das mucosas e facilitando
sua remoção pela deglutição.
COMPONENTES
PROTEICOS MENORES
Além dos componentes protéicos
maiores, a saliva contém também
alguns peptídeos que apresentam
atividade biológica particularmente
ativa sobre o metabolismo de mi-
croorganismos encontrados na sali-
va e placa dental.
A sialina é um peptídeo rico em
arginina, capaz de aumentar o pH
da placa, após a imbebição da mes-
ma com solução diluída de glicose
ou sacarose. A estrutura da sialina
é bem simples, formada apenas
por quatro resíduos de aminoáci-
dos (H2N-glicina-glicina-Iisina-argi-
nina-COOH). E interessante notar
que a sialina produz um maior
efeito sobre o aumento de pH da
placa ou sedimento salivar do que
a mesma quantidade de arginina.
Isto significa que as células bacte-
rianas apresentam uma permeabili-
dade maior ao peptídeo do que ao
aminoácido. Além da sialina, que
aumenta o pH da placa dental e
estimula também a atividade glico-
lítica de estreptococos, outros pep-
tídeos salivares foram descritos na
literatura, particularmente o peptí-
deo ativante da glicólise, de peso
molecular aproximadamente 3.000
daltons, rico em histidina, lisina e
arginina. Este peptídeo estimula a
atividade glicolítica da placa dental
e sedimento salivar sem, contudo,
ter qualquer efeito sobre o aumen-
to do pH.
A.2 Componentes inorgânicos
A osmolaridade da saliva, inde-
pendente do fluxo salivar, é devido
somente à concentração de quatro
íons: sódio, potássio, cloreto e bi-
carbonato. Contudo, as concentra-
ções destes íons alteram-se drama-
ticamente com a velocidade do
fluxo salivar.
As concentrações destes quatro
íons nas secreções salivares em re-
pouso e estimuladas estão expres-
sos na figura 2.
Uma característica importante da
saliva, e que dependente da concen-
tração desses íons, é a sua hipoto-
nicidade com relação ao plasma e
líquidos celulares. Esta proprieda-
de da saliva tem um profundo sig-
nificado biológico, de vez que a
integridade dos tecidos da cavidade
oral dependem de certa forma de
trocas osmóticas entre saliva e as
superfícies mucosas e dentais. A
concentrações de água da saliva é
maior do que a das células muco-
sas e a do dente, portanto, em con-
dições normais, a tendência do
fluxo aquoso é de fora para dentro
das células mucosas e est ruturas
dentais, levando assim os compo-
nentes salivares em íntimo contato
com a superfície destas est ruturas.
Disso depende o íntimo contato
entre as proteínas salivares e a su-
perfície mucosa da cavidade bucal,
particularmente no que se refere
às imunoglobulinas. Por outro la-
do, quando a saliva se torna hiper-
tônica pela dissolução de substân-
cias solúveis do alimento (particu-
larmente sal e açúcar), o sentido
do fluxo aquoso pode ser reverti-
do. Neste caso, a tendência da água
dos tecidos orais, principalmente
do líquido dentinário, é a de seguir
a força centrífuga, isto é, no sen-
tido de dentro para fora. Destas
trocas dependem em parte os pro-
cessos de maturação e de dissolu-
cão interna do esmalte durante a
formação da lesão inicial da cárie
dental.
B — Interação dos componentes
salivares: pH e poder
tampão da saliva
O pH salivar, isto é, a concen-
tração de íons hidrogênicos (H±)
da saliva, depende basicamente da
sua concentração de bicarbonato.
A pressão parcial de CO2 da saliva
é aproximadamente igual à do plas-
ma, portanto o pH variará com a
concentração de bicarbonato de
acordo com a equação de Hender-
son-Hasselbach:
HCO3—
pH=pK -I-log H
2 CO3
44 Revista Paulista de Odontologia
estimuladarepouso
60 -
50
	
40-
	 K+
30
20-
	
10-	 Na+
Na++ K+
estimulada
Cl- + HCO3
repouso
-- 60
W 50-
Eo 60-`
V. 30=''}
ú 20J
C
 10-
60 -
50-
40
-30.,
20-
10-
Cl"
 nn
,

HCO3
n
É 120
a
o
E 100-
80-
60-
40
20-
mOsm/g
FIGURA 2 - Alterações nas concentrações de sódio, potássio, cloreto,
bicarbonato e na osmolaridade da secreção da parótida
humana, em função do fluxo salivar.
0,01	 Q02	 0,05	 0,1	 0,2	 0,5	 1,0
log. fluxo salivar ml/min.
0,01 0,02	 0,05	 0,1	 0,2 	 0,5	 1,0
log. fluxo salivar ml/min.
O pK é aproximadamente 6,1 e
a pressão parcial de CO2 depende
da concentração de ácido carbô-
nico expressa na equação. Portan-
to, o pH salivar aumenta com o
fluxo salivar, visto que a concen-
tração de bicarbonato também au-
menta nesta circunstância. Por ou-
tro lado, quando a saliva é exposta
à atmosfera, o seu CO2 difunde
para o meio ambiente e, com isso,
ocasiona um aumento de pH sali-
var, tornando a saliva alcalina.
Nestas condições, muitos íons que
estavam em solução, principalmen-
te os fosfatos, podem se precipitar.
A concentração de outros com-
ponentes menores e que em deter-
minadas condições podem exercer
um papel importante nas proprie-
dades da saliva, como uréia, tiocia-
nato e flúor estão na tabela 1.
C — Saliva e cárie dentária
Embora a saliva não seja impres-
cindível à digestão dos alimentos,
ela é, contudo, essencial à integri-
dade dos tecidos orais. Inúmeras
experiências em seres humanos
quanto em animais de laboratório
têm demonstrado amplamente o
importante papel biológico da sali-
va. Indivíduos que sofrem de xe-
Revista Paulista de Odontologia 45
TABELA 1
CONCENTRAÇÃO DE ALGUNS CONSTITUINTES ESPECIFICOS DO SORO E SALIVA
SANGUE SALIVA
Soro,, plasma ou
sangue total
Parótida Submandibular Mista 
R E R E R E
pH 7,35-7,45 5,8 7,7 6,5 7,4 6,7 6,8-7,5
Bicarbonato (mM) 23-32 1,0 22-30 2-4 14-16 5,0 15-20
Sódio (mM) 135-145 1,5-2,5 30-55 3-4 25 4,6 26
Potássio (mM) 3,5-5,5 24-28 13-22 14-15 13 22 20
Cálcio (mM) 2-2,5 1,0 1,0 1-1,6 1,6-2 1,6-4 1,5-3
Magnésio (mM) 1-1,5 0,1-0,2 0,02 0,05-0,1 0,035 0,2 0,1-02
Cloreto (mM) 95-105 17-22 17-33 11-12 16-26 15 30-100
Fósforo (inorg.mM) 1-1,5 10 3 4-6 2 6 4
Glicose (mg%) 70-100 0,8 0,2 0,5 - 0,6-1,0 1,0
Amônia (mg%) 0,08-0,11 0,09 0,06 0,7 0,04 12 4-8
Uréia (mg%) 14-40 30 22,27 10 5 20 13-22
Tiocianato (mg%) 0,1-1,5 - 3 - - 15 7-16
Proteína Total (mg%) 6,5-8,2 (g%) 250 270-320 110 150 225-350 280-300
Iodeto (micrograma%) 3-8 (ligado) 4-10 2-15 12 6 4-24 11-180
Fluoreto (micrograma%) 10-20 3 2 - - 8-25 2-20
Ferro (micrograma%) 50-150 5-10 5-10 - - 0,60 20
Zinco (micrograma%) 90-125 - 5 - - 20 14-80
Cobre (micrograma%) 106-114 - 9 - - 0-10 2-25
Cromo (micrograma%) 0-014 - - - - - 9
Chumbo (micrograma%) 5-20 - 2-10 - - 1-30 0,4
R = repouso	 E = estimulada
46 Revista Paulista de Odontologia
rostomia ou que apresentam um
fluxo salivar reduzido devido ao
tratamento do câncer do pescoço
ou da cabeça por radioterapia
apresentam inflamações da mucosa
oral e da gengiva com mais fre-
qüência e um maior índice de cá-
rie. Isto também é verdade para
indivíduos que estão sob trata-
mento de drogas que reduzem o
fluxo salivar, como por exemplo a
anfetamina.
Animais de laboratório nos quais
foram removidos total ou parcial-
mente as suas glândulas salivares
também apresentam um maior ín-
dice de cárie do que seus contro-
les. Nestes casos, a saliva exerce
uma função de limpeza e de pro-
teção como um todo, sem nenhum
destaque particular de qualquer
de seus componentes. Atualmente
tem-se dado muita importância às
imunoglobulinas salivares em de-
corrência da possibilidadeda sali-
va servir de meio de transporte
para anticorpos resultantes de va-
cinas anticárie. Se de um lado a
vacinação anticárie pode represen-
tar o mais alto objetivo da odon-
tologia preventiva, de forma seme-
lhante a outros tipos de vacinas
alcançadas em medicina preventi-
va, as possibilidades, neste caso,
não são tão favoráveis como nos
de imunização geral. As células
plasmáticas que produzem anti-
corpos e as próprias imunoglobuli-
nas, em quantidades adequadas,
estão em contato direto que os
agentes específicos introduzidos no
organismo. Com relação à imuni-
zação anticárie, as imunoglobulinas
secretoras (IgA) não são secreta-
das na saliva em quantidades ditas
adequadas, isto é, suficientes para
a neutralização dos microorganis-
mos específicos alojados na cavi-
dade bucal. Por outro lado, a cárie
dentária não é uma doença pro-
duzida especificamente por um tipo
de microorganismo. Mesmo consi-
derando os estreptococos mutans
como as bactérias de maior poder
virulento, especialmente na capa-
cidade de destruição do dente, a
sua neutralização não significa que
outras bactérias não sejam capazes
de executar a mesma função. A di-
minuição da microbiota oral pode
dar origem ao crescimento de fun-
gos que antes não teriam a capa-
cidade de se proliferar em vir-
tude da competição biológica na-
tural de cavidada bucal e, final-
mente, ninguém poderá prever, a
longo prazo, quais os efeitos cola-
terais que a introdução de antíge-
nos bacterianos poderá trazer ao
organismo.
Além de todos estes inconve-
nientes, soma-se o fato de que a
prevenção da cárie pode ser alcan-
çada com medidas mais simples e
seguras, como dieta, nutrição e
higiene bucal.
Contudo, isso não significa que
devemos assumir uma posição con-
trária a uma possível implantação
futura da imunização anticárie,
apenas queremos deixar patente
que no momento as evidências
atuais nos colocam numa posição
de espectativa.
1 — BENNICK, A. Chemical and physical cha-
racteristics of a phosphoprotein from hu-
man parotid saliva. Blochem. J. 145:
557-567, 1975.
2 — BENNICK, A. and CANNON, M. — Quan-
titative study of the Interaction of sali-
vary acidic proline rich proteins with
hydroxyapatite. Caries Rea. 12: 159-164,
1978.
3 - SCHNEYER, L. M. — Amylase content of
separate salivary gland secretions of
man. J. Appl. Physiol. 9: 453-455, 1956.
4 — ERICSON, T. et sill. Salivay aggregating
factors. IN: STILES H. M. et alii eds.
Microbial Aspects of Dental Caries. Vol.
1, Whash., Information retrieval Inc.,
1976, pg. 151.
5 — RUNDEGREN, J. and ERICSON, T. An
evaluation of the specifity of salivary
agglutinins. J. oral Path. 10: 261-268,
1981.
6 — VAN DYKE, T. E. et alil. Isolation of a
low molecular weight glycoprotein inhi-
bitior of calcium phosphate precipitation
from the extra-parotld saliva of ma-
caque monkeys. Archa. Oral Biol. 24:
85-89, 1979.
7 — SCHLESSINGER, D. H. and HAY, D. I.
Complete covalent structure of statherin,
a tyrosine-rich acid peptide which inhi-
bits calcium phosphate precipitation from
humans parotid saliva. J. Biol. Chem.
252: 1689-1695, 1977.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
8 — KLEIMBERG, I. et alli. Effect of saliva
and salivary factors on the metabolism
of the mixed oral flora. IN: STILES, H.
M. et alit eds. Microbial Aspects of Den-
tal Caries. vol. 2, Whash., Information
retrieval Inc. 1976, pg. 433.
9 — POLLOCK, J. J. et alii. The binding,
aggregation and lytic properties of ly-
sozyme. IN: STILES, H. M. et alii eds.
Microbial Aspects of Dental Caries. vol.
2, Whash., Information retrieval Inc.,
1976, pg. 325.
10 — TENOVUO, J. Inhibition by thiocyanate
of lactoperoxidase catalysed oxidations
and Iodination reactions. Arch. Oral Biol.
23: 899-903, 1978.
11 — MICHELSON, M. N. Glucose transport in
streptococcus agalactiae and its inhibi-
tion by lactoperoxidase-thiocyanate-hy-
drogen peroxide. J. Bacteriol. 132: 541-
548, 1977.
12 — COLE, M. F. et alli. Studies with human
lactoferrin and streptococcus mutans.
IN: STILES, H. M. et alit eds. Microbial
Aspects of Dental Caries. vol. 2, Whash.,
Information retrieval Inc., 1976, pg. 359.
13 — SHATZMAN, A. R. and HENKIN, R. I. —
Gustin concentration changes relative to
salivary zinc and teste in humans. Natl.
Acad. Sci. USA. 78: 3867-3871, 1981.
14 — MOLBROOK, 1. B. and MOLAN, D. C.
The identification of a peptide in human
parotid saliva particulary active in en-
chancing the glycolytic activity of the
salivary microarghnisms. Blochem. J.
149: 489-492. 1975.
15 — BROWN, Z. R. et alii. The effect of ra-
diation induced xerostomia on saliva and
serum lysozyme and imunoglobulins le-
vels. Oral Burg. 41: 83-92, 1976.
16 — CHAUNCEY, H. H. et alii. Comparative
electrolyte composition of parotid, sub-
mandibular and sublingual secretions. J.
Dent. Res. 45: 1230. 1966.
17 — DAWES, C. The effects of low rate and
duration of stimulation on the concen-
tration of protein and the main eletroly-
tes in human submandibular saliva.
Achs. Orel Biol. 19: 887-895, 1974.
18 — SHANNON, T. L. Reference table for hu-
man parotid saliva collected at varying
levels of exogenous stimulation. J. Dent.
Res. 52: 1157. 1973.
19 — BURGER, A. S. V. and EMMELIN, V. G.
eds. Physiology of salivary glands. Lon-
don, Edward Arnold — Publ. Ltda. 1961.
20 — SIMS, W. The concept of immunity In
dental caries. I1. Specific immune res-
ponses.
21 — EDELMAN, G. M. The structure end func-
tion of antibodies. Sei. Amer. 223: 34-42,
1970.
Revista Paulista de Odontologia 47

Outros materiais