Buscar

Artigo CamilaCornutti

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

O campo midiático, dimensões tecnológicas e sociabilidade : articulações acerca da
mídia e sociedade.
Camila Cornutti Barbosa1
Resumo: Hoje vemos que não há mais como lançar vistas para a sociedade sem de
alguma forma vincular nosso olhar para os modos com o a mídia está imbricada a ela. É
neste sentido que neste artigo se faz um esforço de levantar questões relativas ao
atravessamento da mídia no tecido social. Para tanto se busca associar exemplos
empíricos do cotidiano, como o agendamento midiático para a televisão e as dimensões
tecnológicas que se encontram incrustadas como um novo fenômeno na esfera do
mundo da vida sob a ótica da mídia e suas articulações.
Palavras-chave: Campo midiático, sociedade, Internet.
“A profusão das mídias é hoje de uma tal d imensão, sua participação
na vida social e individual tão onipresente que as mídias acabam
produzindo o efeito de fetiche. De fato, é tão proeminente a presença
das mídias que, frente a elas, tudo o mais parece se apagar. A
primeira coisa que se deixa de p erceber, como uma espécie de ponto
cego da retina, quando o olhar oberdiante se fixa apenas nas mídias,
é justamente aquilo que mais importa deslindar, a saber, as
linguagens, os processos sígnicos que muito justamente habitam,
transitam, são difundidos pelas mídias e sem os quais ficam em falta
as bases objetivas para se pensar as culturas e as formas de
socialização que lhes são próprias”. ( Santaella, 2003, p. 115)
Encaramos a mídia como grande agente transformadora de nossas interações,
sociabilidades e modos de vida. Assim, pensar em mídia é pensar em comunicação. É
esta última a dimensão constituinte da espécie humana - em que por meio da linguagem
existimos e interagimos socialmente. Assim, há de se dizer que a linguagem é a causa
de todos nós, que nos compõe enquanto seres, fazendo uma clara e breve associação de
como a mídia se apropria dela, através da singular idade de mediar a experiência humana
pela técnica. Somos seres relacionais, resultados do que lemos, vemos, ouvimos dos
outros. Daí a essencialidade da linguagem para nós.
As relações humanas são cada vez mais interpostas pela mediação da técnica. É
com isso que a mediação pela mídia constrói modalidades de linguagem mais
1
 Mestranda, aluna do Programa de Pós -Graduação em Ciências da Comunicação da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Bolsista CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e membro do Grupo de Pesquisa de Estudos de
Jornalismo do PPGCOM da Unisinos. E -mail: camilacor@terra.com.br
2
sofisticadas. A isto é preciso somar que enquanto h á a mídia existe a midiatização, que é
um conceito em formação, resultante deste fenômeno crescente na nossa cotidianidade
que é justamente o avanço das mídias. A midiatização é, então, uma prática social e uma
prática de sentidos, de simbolismos que se assentam na técnica e na s linguagens, em
dispositivos materiais e imateriais. Com isto , a técnica não é só vista com a função de
auxiliaridade, mas sim como formadora da nossa experiência. Maria Cristina Mata diz
que é possível
“pensar la cultura articulada en torno a medios y tecnologías como
una nueva matriz para la producción simbólica dotada de u n estatuto
próprio y complejo en tanto fundia anteriores modos de interacción
con nuevas formas expressivas, anteriores circuitos de producción
con nuevas estrategias discursivas y de recepcción”. (s/d, p. 82-83)
Vivemos em um tempo em que este predomínio da técnica conduz e organiza a
nossa experiência de modo a que as lógicas da midiatização e da comunicação
sobrepujam outras que até então permeavam e dirigiam a sociedade com mais
predomínio (a lógica religiosa, moral, etc.). Para Anthony Giddens (1991, p. 118), “as
instituições modernas são vistas como tendo assumido grandes áreas da vida social
desponjando-as do conteúdo significativo que elas já tiveram”. Assim, as dinâmicas da
sociedade têm se transformado constantemente de modo a abarcar esta espécie de novo
regimento, o que nos delineia tanto um cenário de mudanças profundas quanto grandes
desajustes, na medida em que não sabemos como administrar este panorama.
Neste contexto, as mudanças não só afetam os laços sociais clássicos como
também os ritos das instituições formais. O campo midiático é muito ágil, com a
capacidade de articular cada vez mais temáticas que não pertencem à topografia do seu
próprio campo e com o poder de fa lar para todos, de organizar o que podemos ver, nos
convidando ou impondo a ter acesso ao que nos é ofertado segundo regras que vão de
acordo com seus interesses. Desse modo, estas referências passam a ser as nossas novas
referências de organização social .
Para Antônio Fausto Neto (2006, p. 4), “referências fundacionais são mandadas
para os ares, conseqüências da lógica reinante da sociedade segundo a qual “vivemos no
ar”, a tal da modernização líquida aludida por Bauman . Ainda segundo o autor, “a nova
vida tecno-social é origem e meio de um novo ambiente, no qual institui -se um novo
3
tipo de real que está diretamente associado a novos mecanismos de produção de sentido,
nos quais nada escaparia às suas operações de inteligibilidade” (2006, p. 3).
Estamos inseridos numa dimensão societária a que podemos fazer associação
com a sociedade heterodirigida, proposta pelo sociólogo norte -americano David
Riesman (1971). Tal sociedade é permeada por uma multivariância de fatores,
elementos, dinâmicas que agem sobre el a. A sociedade deixa então de ser um centro
com o controle do seu próprio destino e esse destino passa a ser guiado por um conjunto
de outras características provindas de outros cenários . A correspondência é o período
que atravessamos agora, onde graças à emergência dos mass media os indivíduos não se
conectam mais entre si diretamente, mas tem essa conexão mediada pela intervenção da
técnica, o que constitui além de possibilidades interativas entre estes indivíduos, uma
nova sociabilidade.
Em busca de uma definição para este campo que flui com a ascendência de
processos técnicos, Adriano Rodrigues conceitua o campo dos media da seguinte
maneira:
“é a designação [...] para dar conta da instituição de mediação que se
instaura na modernidade, abarcando, portan to, todos os dispositivos,
formal ou informalmente organizados, que têm como função compor
os valores legítimos divergentes das instituições que adquiriram nas
sociedades modernas o direito a mobilizarem autonomamente o
espaço público, em ordem à prossecuç ão dos seus objetivos e ao
respeito dos seus interesses” . (1997, p. 152)
A partir do autor vê-se que o campo dos media possui uma autonomia
completamente diferenciada de outros campos em vista que é “a instituição que possui a
competência legítima para cr iar, impor, manter, sancionar e restabelecer a hierarquia de
valores, assim como o conjunto de regras adequadas a respeito desses valores ” (2000, p.
202).
Por certo este campo tem de atender a outras instâncias, como a dos poderes
judiciário ou legislativo, por exemplo, com suas normatizações, mas é ele que tem o
poder de tematizar e pautar nosso cotidiano de acordo com aquilo que mostra, divulga,
informa. A isto se acrescenta como Jean Charron (1998, p. 81) conceitua brevemente a
noção de agenda: “la agenda designa la conciencia de la exist encia de un objeto y de la
importancia relativa que se le atribuye, y se presenta como una lista jerarquizada de
4
temas de preocupación”. Para Maria Cristina Mata (s/d, p. 84 -85), “hoy, de lo que se
trata no es ya de <<saber inmediatamente>>, sino de <<saber antes>> y es esa
capacidad de anticipación la que otorgará a los médios y las técnicas de información um
carácter performativo, instaurando uma nueva dimensión de lo real: lo real informativo.
Procurando problematizar conceitos junto a objetos empíricos ligados à mídia e
sociedade, no caso do agendamento, por exemplo, podemos levantara questão de como
o “Jornal Nacional” (Rede Globo) acompanhou, no ano de 2006, o dia a dia dos
candidatos à presidência que possuíam menos de quatro pontos percentuais nas
pesquisas de opinião pública (o que em outras campanhas não era realizado) .
Frisamos que não se trata aqui de fazer suposições sem dados concretos, mas
sim de efetivar aproximações da temática da midiatização com a realidade. Ou seja,
neste caso acima, pontuar esta trajetória foi uma opção editorial que em muito devia
estar focada nos interesses de direcionar o olhar do eleitor, ou de desestabilização do
presidente Lula no exercício de suas atividades e o descompasso com a quantidade de
eventos de fato ligados a sua campanha. Por outro lado, pode -se encarar este
agendamento como uma disponibilidade maior de espaço para que as escolhas fossem
democráticas - ou mesmo de questões de proporções maiores para própria emissora
(econômicas, partidárias, etc. ).
Ainda pensando sobre o “Jornal Nacional” e seus agendamentos para a eleição
passada é interessante verificar a inserção de um novo quadro que se constitui u de uma
equipe de jornalistas e técnicos em um ônibus, ao estilo de u m motor home, com o qual
percorreram 15.000 km do Brasil, passando por todas as 5 regiões geográficas do país, a
fim de entrevistar as pessoas para saber os seus “desejos” em relação a necessidades,
carências e demandas. Este quadro deteve poder para influenciar os programas eleitorais
que os partidos exibiram na TV, por exemplo. Fausto Neto (1995, p. 10) aponta que:
“A televisão - e o telejornal – se convertem, através de originais
regimes de discursividades, em dispositivos que não apenas narram
mas agem sobre o espaço político, seja deslocando -o para si, em
alguns momentos, seja em outras situações, funcionando como um
“poder paralelo”, a partir do qual põe em funcionamento um conjunto
de estratégias de onde apontam-se os caminhos e os destinos da
política e, também, de seus atores.”
5
O “telejornal [...] mostra -nos várias maneiras pelas quais a gramática de
produção procura construir este vínculo ativo com a recepção” (FAUSTO NETO, 1995,
p. 42). O autor sentencia: “não basta mostrar. É preciso indicar os c aminhos que os
acontecimentos devem trilhar, como também estruturar uma valoração própria sobre
suas causas e conseqüências”. Isto também corrobora para vermos o quanto o
agendamento midiático pode ultrapassar outros campos, atravessando aspectos de
instituições estabelecidas muito antes dele próprio.
Outro aspecto importante a se refletir sobre este poder discursivo e instituição de
sentido das mídias é o fato do campo midiático passar a ocupar um papel essencial na
articulação “comunicação -cidadania”, da qual nos fala a pesquisadora Maria Cristina
Mata. Nesta articulação os cidadãos passam a recorrer aos meios ou a serem destacados
por ele justamente pela dificuldade de fazê -lo através do percurso das instituições
formais. Os meios acabam proclamando -se como o espaço de exercício da cidadania, o
que tanto pode ser algo bom no sentido de vigilância e democratização, como também
acaba representando um limite às ações do Estado. Neste sentido a comunicação tem de
pensar na tensão entre público e cidadão.
Vinculando exemplos a este ponto eles surgem desde casos de proporções
regionais como uma pessoa que telefona para uma rádio para reclamar da falta de água
em seu bairro, do sujeito que escreve ao jornal para denunciar um mau atendimento ou
mesmo casos de abrangência nacional, como é o do programa Linha Direta, da Rede
Globo. Nele, a televisão assume um papel de busca, perseguição, julgamento moral,
atuando numa linha tênue entre o que é de sua alçada de entretenimento, no caso de
espetacularização, e do que é dever do Estado. Neste caso busca-se o que Sodré e Paiva
dizem sobre a televisão:
“A principal matéria-prima para os conteúdos discursivos da tevê são
as “representações sociais”, no sentido de forma e de conhecimento a
partir do senso comum e orientada par a a figuração de uma realidade
qualquer. Na fronteira entre o individual com o social, essas
representações incorporam conteúdos (opiniões, atitudes,
informações) realistas e imaginários, relativos à vida cotidiana,
reorganizando-os numa modalidade de saber adaptada à fácil
comunicação”. (SODRÉ & PAIVA, 2002, p. 131)
6
Buscando um fio conducente neste sentido, o campo midiático pode se sobrepor
a ações do Estado quando, por exemplo, atua na cobertura de casos como o de Suzane
Von Richthofen. Questiona-se estritamente aqui como a mídia procedeu em relação ao
julgamento e à “condenação” final mesmo antes das provas serem apresentadas e
levadas ao júri popular. O que se pergunta, então, é sobre este papel de força com
supremacia perante instâncias que deveriam s er superiores no que se trata da punição e
juízos morais.
A mídia acaba, portanto, trabalhando com procedimentos calcados na nossa
confiança, conforme vemos em Giddens (1991), construindo um espaço simbólico que
explicita as suas gramáticas e pedagogias pa rticulares. Na inversão da “comunicação -
cidadania”, enquanto o campo midiático toma frente de discussões da gênese do Estado,
sobretudo no que diz respeito a este desamparo social, pergunta -se com isso onde é que
podemos depositar alguma possibilidade de e starmos inseridos, de fato amparados?
Neste esgarçamento entre o que é produzido pela mídia e a recepção vemos que
é preciso criar mecanismos que os vinculem, pontos de junção entre estas duas
instâncias, tal como em uma probabilidade dos medias trabalharem mensagens em que o
público “se veja”, projetando a idéia de comunidade. Diante disso, percebe -se que um
dos meios que mais nos traz à tona estes novos paradigmas é a Internet.
É a Internet uma das fontes mais ricas para observarmos outros modos de
lidarmos com as coisas e as pessoas em função da mediação pela técnica. O espaço e o
lugar ocupados por ela não podem ser vistos como completamente autônomos ,
dissociados das realidades sociais que vivemos. Não se discute aqui a o acesso a este
meio, o que nos levaria a um estudo muito mais amplo em relação a condições sociais
relacionadas à economia, políticas públicas, educação, etc., mas sim das novas
sociabilidades proporcionadas por ele. Manuel Castells (2003, p. 8) estima que em 2010
cerca de dois bilhões de pessoas terão acesso à Internet no mundo. A isto é preciso
acrescentar que “ser excluído dessas redes é sofrer uma das formas mais danosas de
exclusão em nossa economia” ( idem).
É no contexto da descontinuidade entre produção e recepção que a Internet
apresenta uma mediação inovadora na medida em que através dela não somos somente
receptores dos produtos e mensagens emitidos por ela, como podemos facilmente
ocupar o lugar de emissores (se o sujeito escreve pode publicar seus contos em um blog,
7
se quer ver suas fotos e imagens virtualmente pode editá -las em um fotolog, se outro
canta tem condições de disponibilizar suas músicas para outros usuários ouvirem, se
produz algum material audiovisual pode colocar o mesmo gratuitamente em sites
especializados para que outros assistam e/ou escutem).
Francisco Rudiger (2002, p. 100) aponta que “o desenvolvimento de
mecanismos tecnológicos de interação e o surgimento de uma esfera pública virtual
projetaram-se em uma segunda fase, em que se vê caducar o conhecido esq uema
comunicador-mensagem-receptor”. O autor ainda acrescenta: “Os participantes
começam a transcender essa oposição, tornando -se usuários interagentes de redes
abertas e sem centro, nas quais os sujeitos se tornam cada vez mais instáveis, múltiplos
e difusos” (idem).
É fato que as audiências não são passivas, são lugares diferentes que enviam
uma série de sinais à produção midiática. Elas trabalham e lêem, interpretam
mecanismos daquilo que lhes é emitido. Assim, se q uanto mais a sociedade se
complexifica, mais ela gera diferenças, e com a Interneta possibilidade de que haja um
nivelamento mais profundo no jogo de produção e recepção se amplia de modo a que
mais alteridades se manifestem.
Por esta emergência de uma outra forma que se faz a técnica e a sócio-técnica,
pelo fato da noção de circulação estar diretamente associada a redes e fluxos, criamos
diferentes maneiras de lidar com os caminhos a que a Internet pode nos conduzir.
Podemos tomar como exemplo a nova viabilidade de “consumir música” por meio d a
rede. Quem possui acesso de banda larga já nota o abandono na compra de discos em
lojas físicas e passa a fazer download de arquivos mp32. Deste modo, em menos de 15
minutos posso baixar o último disco de Chico Buarque na mesma data em que ele é
lançado comercialmente. Com isso, muitas pessoas, sobretudo de faixa etária jovem,
não mais se deslocam a uma loja, a um shopping, a um sebo, pois em questão de pouco
tempo é possível ter acesso a um sem número de álbuns e artistas. Por meio de
tecnologias disponibilizadas pela própria mídia é ela quem, na contramão, faz o novo
jogo para buscar não desestabilizar tanto o mercado, através de sites pagos para ouvir
música, de venda de arquivos de música pelas gravadoras, etc.
2 Modo de extensão de arquivos de música mais difundido e compartilhado na Internet.
8
Os exemplos são infinitos quando falamos de textos literários, filmes e mesmo
livros. O modo de se pesquisar também tem se modificado com a rede, tanto em função
dos sites de busca e enciclopédias virtuais, como da possibilidade de acessar
podcastings (arquivos de áudio em que estão gravadas pal estras, lições de estudo,
trechos de livros, polígrafos, etc.).
Até mesmo a leitura de revistas semanais também passa a ser influenciada pela
Internet, a partir do momento em que nas páginas das revistas como “Veja” ou “Época”
já encontramos uma seção ded icada a saber mais sobre as matérias distribuídas no
impresso por meio do site de cada uma. Na Revista Época, por exemplo, há uma seção
intitulada On-Line onde frequentemente se lê : “Visite o site da Época e descubra que
nossas reportagens ganham ainda mais vida na internet” (grifo da autora). Com isto
percebemos a confluência de mídias diferentes na própria Internet (o jornalismo
tradicional aliado ao jornalismo on -line, além das possibilidades de geração de
interatividade com imagens, sons,...), com um re corte de maior ampliação de
informações – contrariando o que inicialmente se pensava em relação à rede: a idéia de
condensamento de informações.
No que diz respeito a mudanças de movimentos sociais por meio da Internet,
Dênis de Moraes (2001, p. 126) apont a que:
“As vozes que se somam no ciberespaço representam grupos
identificados com causas e comprometimentos comuns a partir da
diversidade de campos de interesse, de metodologias de atuação, de
horizontes estratégicos e de raios de abrangência. Essas vari áveis
muitas vezes entrelaçam-se, fazendo convergir formas operativas e
atividades”.
A isto se faz uma aproximação com o que André Lemos (1999) diz sobre o
conceito de socialidade, baseado no pensamento de Maffesoli, quando as relações se
fundem menos nos insumos das instituições e mais nos insumos da sócio -técnica.
É importante frisar a necessidade de enxergarmos os aspectos relativos à Internet
com bastante cautela, no sentido de endeusamento sem que haja sempre a consciência
de que muitos destes process os também acarretam características negativas ou
complicadas de se analisar em função de estarmos atravessando esta era tão viva e
dinâmica da presença das redes. Como diz Dênis de Moraes (2004, p. 29), “essa
9
hibridização de técnicas e meios de difusão es tá longe de equacionar desigualdades nos
acessos aos conhecimentos e às inovações. Ao contrário, ela repõe tensões e desníveis
entre hierarquias planetárias, em consonância com a dinâmica capitalista global”.
A cada dia mais, por esta franca imposição do campo midiático sobre outros
campos sociais, faz-se necessário que possamos refletir sobre a nossa aproximação às
informações, ao conhecimento, ao que pode ser manipulado por estratégias de mercado
e pela lógica comercial, o individualismo provocado pela i nserção de novas mídias que
nos colocam em contato virtualmente e não mais fisicamente. Como estudantes e
pesquisadores na área de comunicação é fundamental termos em mente, quando
pensamos em mídia e sociedade, a falta de possibilidades para quem não tem condições
de acesso à educação, pensarmos a relação de política e governabilidade e o
mapeamento que a mídia faz em torno disto, o consumo desenfreado e suscitado
também pelas novas tecnologias, a s estruturações profundas do tecido social no que
dizem respeito à cultura e identidade dos povos.
É vital que possamos reconhecer o quanto as tecnologias proporcionadas pelo
campo dos media interconectam o planeta, ligam sociedades, países e diferentes
culturas. Denis de Moraes (2004, p. 17) fala que “a caracterí stica integradora é algo
intrínseco aos complexos de difusão, e isto se viabiliza por sua conjugação ao sistema
tecnológico que rege a vida contemporânea”.
Lembremos José Luiz Braga (2006, p. 22) quando diz que não se pode afirmar
uma separação entre a mídia e a sociedade. Assim, talvez o que possa marcar esta
trajetória de reflexão acerca da mídia é atentarmos para o fato deste campo, ainda que
em franca ascensão, seja bastante novo e com muitas formulações ainda em construção.
De todo modo, o que não pode mos deixar de questionar é sobre a potencialidade e o
poder do campo midiático em reorganizar a sociedade de acordo com aquilo que diz,
aponta, recorta, argumenta ou deixa de mostrar ao público.
10
Referências Bibliográficas
BRAGA, José Luiz. A sociedade enfrenta sua mídia – Dispositivos sociais de crítica
midiática. São Paulo: Paulus, 2006.
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a
sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
CHARRON, Jean. Los médios y las fuentes – Los limites del modelo de agenda -setting.
In: Comunicación y Política. Barcelona: Gedisa, 1998.
FAUSTO NETO, Antônio. Midiatização: prática social, prática de sentido . Paper.
Seminário Midiatização. Bogotá, 2006.
FAUSTO NETO, Antônio. O impeachment da televisão: como se cassa um presidente .
Rio de Janeiro: Diadorim, 1995.
GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade . São Paulo: Unesp, 1991.
LEMOS, André. Aspectos da cibercultura: vida social nas redes telemáticas . In: Crítica
das práticas midiáticas. Braga, José Luiz (org). São Paulo: Hacker, 1999.
MATA, Maria Cristina. De la cultura masiva a la cultura mediática . In: Diálogos.
Lima: Felafacs, s/d.
MORAES, Denis de. O concreto e o virtual: mídia, cultura e tecnologia . Rio de
Janeiro: DP&A, 2001.
MORAES, Denis de. A lógica da mídia no sistema de poder mundial. In: Revista de
Economia de las Tecnologias de la Información y Comunicación . www.eptic.com.br, V.
6, N. 2, Mayo/Agosto, 2004.
RIESMAN, David. A multidão solitária. São Paulo: Perspectiva, 1971.
RODRIGUES, Adriano Duarte. O campo dos medias. Estratégias de comunicação .
Lisboa: Presença: 1997.
RODRIGUES, Adriano Duarte. A gênese do campo dos media . SANTANA, R. N.
(org). In: Reflexões sobre o mundo contempo râneo. Teresina: Renan, 2000.
RUDIGER, Francisco. Sociabilidade virtual, subjetivismo moderno e informática de
comunicação. In: Elementos para crítica da cibercultura . São Paulo: Hacker, 2002.
SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano. Da cultura das mídias à
cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.
SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel. O império do grotesco. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.
Outras fontes de consulta: www.fazendomedia.com

Outros materiais