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^~^ 4 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 Um plano para os seus estudos Este GUIA DO ESTUDANTE ATUALIDADES oferece uma ajuda e tanto para as provas, mas é claro que um único guia não abrange toda a preparação necessária para o Enem e os demais vestibulares. É por isso que o GUIA DO ESTUDANTE tem uma série de publicações que, juntas, fornecem um material completo para um ótimo plano de estudos. O roteiro a seguir é uma sugestão de como você pode tirar melhor proveito de nossos guias, seguindo uma trilha segura para o sucesso nas provas. 1 Decida o que vai prestar O primeiro passo para todo vestibulando é escolher com clareza a carreira e a universidade onde pretende estudar. Conhecendo o grau de dificuldade do processo seletivo e as matérias que têm peso maior na hora da prova, fica bem mais fácil planejar os seus estudos para obter bons resultados. arrow COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ O GE PROFISSÕES traz todos os cursos superiores existentes no Brasil, explica em detalhes as carac- terísticas de mais de 270 carreiras e ainda indica as instituições que oferecem os cursos de melhor qualidade, de acordo com o ranking de estrelas do GUIA DO ESTUDANTE e com a avaliação oficial do MEC. 2 Revise as matérias-chave Para começar os estudos, nada melhor do que revisar os pontos mais importantes das principais matérias do Ensino Médio. Você pode re- passar todas as matérias ou focar apenas em algumas delas. Além de rever os conteúdos, é fundamental fazer muito exercício para praticar. arrow COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ Nós produzimos todos os anos um guia para cada matéria do Ensino Médio: GE HISTÓRIA , Geografia, Português, Redação, Biologia, Química, Matemática e Física. Todos reúnem os temas que mais caem nas provas, trazem muitas questões de vestibulares para fazer e têm uma linguagem fácil de entender, permitindo que você estude sozinho. 3 Mantenha-se atualizado O passo final é continuar estudando atualidades, pois as provas exigem alunos cada vez mais antenados com os principais fatos que ocorrem no Brasil e no mundo. Além disso, é preciso conhecer em detalhes o seu processo seletivo – o Enem, por exemplo, é bem diferente dos demais vestibulares. arrow COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ O GE ENEM e o GE Fuvest são ver- dadeiros “manuais de instrução”, que mantêm você atualizado sobre todos os segredos dos dois maiores vestibulares do país. Também não dá para perder a próxima edição do GE Atualidades, que será lançada em agosto, trazendo novos fatos do noticiário que ainda podem cair nas provas dos processos seletivos do final do ano. Os guias ficam um ano nas bancas – com exceção do ATUALIDADES, que é semestral. Você pode comprá-los também nas lojas on-line das livrarias Saraiva e Cultura. FOTO: MIKE SEGAR/REUTERS FALE COM A GENTE: Av. das Nações Unidas, 7221, 18º andar, CEP 05425-902, São Paulo/SP, ou email para: guiadoestudante.abril@atleitor.com.br CALENDÁRIO GE 2017 Veja quando são lançadas as nossas publicações MÊS PUBLICAÇÃO Janeiro Fevereiro GE HISTÓRIA Março GE ATUALIDADES 1 Abril GE GEOGRAFIA Maio GE QUÍMICA GE PORTUGUÊS Junho GE BIOLOGIA GE ENEM GE REDAÇÃO Julho GE FUVEST Agosto GE ATUALIDADES 2 GE MATEMÁTICA Setembro GE FÍSICA Outubro GE PROFISSÕES Novembro Dezembro APRESENTAÇÃO^~^ ^~^ ATUALIDADES VESTIBULAR + ENEM / Ed. 25 / 1º SEMESTRE 2017 SUMÁRIO 6 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 ESTANTE 10 Dicas culturais Sugestões de filmes, histórias em quadrinhos e fotografias que complementam reportagens desta edição PONTO DE VISTA 16 Retrospectiva/Perspectiva Veja o que os principais semanários destacaram em seu balanço de 2016 e suas expectativas para 2017 18 Donald Trump Como os principais diários noticiaram a posse do novo presidente dos Estados Unidos e seu discurso à nação DESTRINCHANDO 20 Entenda a dívida pública O descompasso entre o quanto o governo brasileiro arrecada e gasta, o histórico da dívida pública no Brasil e o mapa do endividamento dos países DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISE 26 Choque global Donald Trump é eleito presidente dos EUA com discursos contra o livre-comércio e a cooperação internacional 28 Trump e Brexit A eleição de Trump e a saída do Reino Unido da União Europeia ameaçam alicerces da globalização 32 História da globalização Os principais conceitos do fenômeno 34 Ordem antiglobal A crise no livre-comércio, o desemprego e a desigualdade social geram questionamentos à globalização 40 Nações desunidas Crescem os movimentos nacionalistas e xenófobos contra imigrantes e refugiados INTERNACIONAL 46 Guerra na Síria O conflito altera a dinâmica geopolítica do Oriente Médio e gera uma grave crise humanitária 54 Cuba As incertezas na ilha caribenha após a morte do líder histórico, Fidel Castro, e a ameaça representada por Donald Trump 58 Venezuela Politicamente dividido e afetado por desabastecimento e hiperinflação, o país vive uma grave crise 62 Colômbia Após 52 anos de conflito armado, entra em vigor um acordo de paz entre o governo e os guerrilheiros das Farc 66 Turquia Localizado entre a Europa e a Ásia, o país enfrenta divisões internas e desafios geopolíticos 68 África 25 anos após o referendo que encerrou o apartheid, o continente sofre com a queda de preços dos produtos que exporta 74 ONU O novo secretário-geral pretende resgatar a capacidade da entidade para evitar guerras e crises humanitárias 78 Guerra da Bósnia Há 25 anos eclodia o conflito nos Bálcãs BRASIL 80 Operação Lava Jato Delação da construtora Odebrecht cria expectativa de denúncias que podem afetar todo o sistema político 86 Poder Judiciário A atuação recente do Supremo Tribunal Federal levanta a discussão dos limites de cada um dos Poderes de Estado 90 Governo Temer O governo federal lança um programa de reformas conservadoras em meio a escândalos políticos 96 Ditadura Militar Morre dom Paulo Evaristo Arns, ícone na luta contra o regime militar e seus abusos contra os direitos humanos 100 Estado Novo Há 80 anos, Getúlio Vargas iniciava uma ditadura ECONOMIA 102 PEC do Teto O governo aprova uma emenda constitucional que congela o aumento de todos os gastos públicos por até 20 anos 108 Matriz de Energia O Congresso retira da Petrobras a exclusividade na exploração do petróleo do pré-sal 114 Agropecuária O agronegócio ainda é o motor da economia do país 118 Economia compartilhada Uber e Airbnb revolucionam o consumo 122 Doutrina Truman Política externa dos EUA contra a URSS faz 70 anos QUESTÕES SOCIAIS 124 Segurança pública Guerras entre facções nas prisões provocam barbárie e revelam a grave crise no sistema carcerário 132 Desigualdade racial Violência e discriminação nos EUA e no Brasil 138 Urbanização Os impactos do crescimento desordenado das cidades 144 Demografia A proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo e o envelhecimento da população mundial CIÊNCIAS E MEIO AMBIENTE 150 Aquecimento global Como as emissões de gases do efeito estufa e outras ações humanas impactam o planeta 156 Água Estiagem castiga o Nordeste e o norte de Minas Gerais 160 Doenças transmissíveis Surto de febre amarela ameaça o país, que já sofre com as epidemias de dengue, chikungunya e zika SIMULADO 164 Teste 36 questões dos vestibulares sobre temas desta edição PENSADORES 178 Paulo Freire O pedagogo que revolucionou as formas de ensinar ^~^ AMERICA FIRST O então candidato Donald Trump durante a campanha presidencial em agosto de 2016 BRIAN SNYDER/REUTERS ^~^ FILMES E QUADRINHOS NOS FALAM DO MUNDO ATUAL E SEUS DRAMAS CONTEMPORÂNEOS ESTANTE 10 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 VI CT O R JU CA /D IV U LG AÇ ÃO Lembranças concretas A partir da especulação imobiliária, Aquarius mostra o valor da memória afetiva FILMES A trama central de Aquarius, filme do diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho, é definida logo nos primeiros minutos da obra. Clara, uma jornalista e crítica musical aposentada, recebe a visita de funcionários de uma construtora, in- teressados em comprar o apartamento em que vive. A intenção da empreiteira é demolir o Edifício Aquarius, que fica em frente à praia de Boa Viagem, no Recife (PE), e erguer um prédio de alto padrão. Todos os outros proprietários já cederam às sedutoras ofertas finan- ceiras da construtora e se mudaram dali. Clara é a última moradora, que reluta em deixar o imóvel. Entramos, portanto, na seara da espe- culação imobiliária. O terreno ocupado pelo Edifício Aquarius é visto como uma mina de ouro para a construtora. Ao ad- quirir a propriedade total daquele prédio antiquado na valorizada orla recifense, a empresa poderia construir um moderno edifício, que atrairia o interesse de uma endinheirada classe média alta. Mas o que a empreiteira vislumbra como um excelente investimento financeiro representa algo mais para Clara. Aquele apartamento é um repositório de memó- rias de gerações inteiras de sua família, coisa da qual ela não está disposta a abrir mão por dinheiro nenhum. Estabelecidos os papéis de mocinha e bandidos nesta história, o filme chega a flertar com o maniqueísmo – o pedante e inconveniente funcionário da cons- trutora contra a senhora que defende o seu direito de permanecer no lugar onde mora. Mas Kleber Mendonça Filho soube driblar essa armadilha estabele- cendo interessantes subtramas a partir da teia de relações humanas de Clara. ^~^ 11GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 DI VU LG AÇ ÃO Um dos grandes méritos de Moonlight: Sob a Luz do Luar, vencedor do Oscar de melhor filme em 2017, é a sutileza com que, em sua aparente simplicidade, a obra nos oferece diversas camadas temáticas. A partir da saga do garoto Chiron, acompanhamos o seu desenvolvimento em três momentos distintos. Na infân- cia, o pequeno Chiron cresce em um subúrbio barra-pesada em Miami, nos Estados Unidos. Em meio às ameaças de outros garotos e à negligência de uma mãe viciada, o garoto encontra no traficante Juan a figura paterna com quem passa a compartilhar a cumplici- dade familiar que lhe falta em casa. Na adolescência, Chiron permanece como o alvo preferido do bullying de seus colegas de escola, enquanto descobre a sua (homo)sexualidade. No terceiro e último ato, já adulto, Chiron tenta se adaptar ao mundo bruto em que vive, mais por necessidade do que por inclinação ao delito. Essa atribulada jornada de Chiron nos permite múltiplos olhares sobre os assuntos abordados. Há o contexto social bem definido. Temos o garoto negro e pobre que frequenta a mesma boca de fumo que sua mãe – enquanto Chiron busca a atenção do traficante, a mãe vai atrás de drogas. Há também o rude ambiente escolar, que acaba limitando as opções de futuro e conduz muitos jovens à delinquência. Podemos ver o filme também por seu filtro psicológico, no qual Chiron se vê frequentemente rejeitado – na família, na escola –, enquanto tateia cheio de receios e inseguranças o árduo caminho na busca por afeto. Por fim, a obra permite o olhar sobre a sexualidade. Com bastante delicadeza, o diretor Barry Jenkins mostra como a busca de Chiron por uma identidade, nessa longa jornada de autoconheci- mento, está intrinsecamente relacio- nada à descoberta e à aceitação de sua homossexualidade. “Quem é você, Chi- ron?”, é uma das perguntas que o prota- gonista ouve sem saber o que responder. Moonlight brilha por ultrapassar o rótulo de filme sobre a homossexua- lidade. Ele vai muito além. O contexto social áspero faz o interessante con- traste com a sensibilidade com que o filme relaciona homossexualidade e descoberta pessoal. Junte a isso atua- ções impecáveis de todo o elenco com uma bela fotografia e chegamos à con- clusão de que o Oscar de melhor filme não poderia estar em melhores mãos. MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR Direção | Barry Jenkins Ano | 2016 Sexualidade e identidade Moonlight apresenta retrato sensível de um garoto em busca de autoconhecimento Temos as relações familiares de Clara com seus três filhos. Um deles tenta convencer a mãe a aceitar a oferta da construtora. O contato com a emprega- da, por sua vez, reforça a hierarquia de classe. Por mais que Clara mostre ter uma genuína afeição pela empregada, as barreiras entre os dois mundos estão ali, sempre evidentes. A protagonista também não se furta a desfrutar de certas vantagens, como os contatos privilegiados com um jornalista e um advogado para conseguir o que deseja. Também é interessante a forma como o filme explora o envelhecimento. O papel de Clara, interpretado de forma excepcional por Sonia Braga, nos apre- senta uma senhora que foge aos padrões concebidos de sua idade, desfrutando de uma ativa jovialidade e independên- cia. Por sua vez, é a partir da exposição de uma característica mais típica do envelhecimento que Clara dará sentido ao filme: o apego à memória afetiva. O avanço da idade torna as lembran- ças ainda mais preciosas. Uma música, uma foto ou um lugar recuperam me- mórias de um passado que está sempre sendo revisitado por Clara. E é justa- mente ao mergulhar nesse saudosismo da protagonista que Aquarius humaniza um tema tão, digamos, mercadológico como a especulação imobiliária. Pela lógica do mercado, é o capital quem tem o poder. Se uma construtura precisa adquirir um apartamento para colocar seu projeto em ação, o dinheiro, em tese, resolveria tudo. Por isso, a resis- tência de Clara é algo incompreensível para os detentores do poder financei- ro, da mesma forma que a memória afetiva da protagonista é imensurável em termos monetários – conflito que é habilmente explorado em Aquarius. AQUARIUS Direção | Kleber Mendonça Filho Ano | 2016 ^~^ ESTANTE 12 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 QUADRINHOS REPORTAGENS Autor Joe Sacco Editora Quadrinhos na Cia, 200 páginas. Dramas da opressão Reportagens traz em quadrinhos episódios importantes da história recente A utilização dos quadrinhos como gênero jornalístico ganha em Joe Sacco sua ex- pressão de mais alto nível. Nascido em Malta em 1960, o jornalista viveu a maior parte de sua vida nos Estados Unidos e fez carreira como repórter, colaborando para veículos de diversos países. A reunião das principais histó- rias que produziu entre 1998 e 2010 deu origem a Reportagens, lançado em 2012 e publicado no Brasil no ano passado. Inserindo-se como personagem, o autor aparece em diversos momentos, invariavelmente munido de seu blo- quinho de anotações. Sua apuração busca sempre ouvir a voz da população oprimida, sobretudo nas passagens que tratam da miséria e discriminação nas aldeias dos párias da Índia em Kushinagar, no norte do país, e da xenofobia e do preconceito contra os refugiados africanos que desembar- cam em Malta, pequena ilha na rota entre o norte da África e a Europa, em Os Indesejáveis (imagem no alto, à dir.). Na história de A Guerra e as Che- chenas, o autor transparece sua difi- culdade, como repórter, de manter-se como mero expectador da realidade. Ao registrar a situação dos refugiados internos da Inguchétia, região que lu- tava por independência da Rússia no início dos anos 2000, durante a Guer- ra da Chechênia, ele aceita o pedido de ajuda de duas senhoras carentes e, com isso, posiciona-se contra o possí- vel mito de uma isenção jornalística: estar ali acompanhando os episódios demandava também vivê-los. Em Territórios Palestinos, Sacco pro- duz um interessante material sobre o cotidiano da região e a intervenção militar israelense. Esse capítulo ter- mina com Portfólio de Gaza, que não é uma HQ, mas imagens dos campos de refugiados e do cenário de destruição nas cidades pelos bombardeios de Is- rael, feitos a traço, como um pequeno álbum de fotos de viagem. Integram a obra passagens no Tri- bunal de Haia, sobre a conferência que delimitou a relação entre os países no fim da Guerra da Bósnia, e também sobre a intervenção dos EUA no Iraque. Reportagens promove uma cober- tura humanizada da história e cativa o leitor pela riqueza com que trabalha os temas, possibilitando uma visão al- ternativa e mais local de grandes pro- blemas humanitários. Sob os traços de Joe Sacco, a desigualdade e a injustiça dos episódios retratados ganham face ainda mais dramática, auxiliando na sua compreensão e análise. Do mesmo autor, vale a pena ler Pa- lestina (que reúne duas de suas obras anteriores, Palestina – Uma Terra Ocu- pada e Notas sobre Gaza). Em Área de Segurança Gorazde, história em quadrinhos, Sacco também registra a guerra civil da Bósnia, mesmo tema de Fax de Sarajevo, que resenhamos na página ao lado. RE PR O DU ÇÃ O ^~^ 13GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 Horrores de uma guerra A HQ Fax de Sarajevo narra a Guerra da Bósnia pela ótica das vítimas civis no conflito A máquina de fax era o que permitia a Ervin Rustemagić manter contato com o restante do mundo nas tentativas de mobilizar ajuda ou para relatar o cotidiano de um conflito que parecia não ter fim. O cerco à capital Sarajevo em 1992, episódio que dá início à Guerra da Bósnia, altera completamente a vida do editor de histórias em quadrinhos de origem bósnio-muçulmana. Após terem destruído sua casa e o estúdio que servia de abrigo a ele, Ervin e sua família passam a conviver com o medo e a insegurança, sob o barulho constan- te das explosões de granadas sérvias. A “limpeza étnica” promovida pelos sérvios era implacável. O simples ato de sair à rua poderia ser fatal, dada a quantidade de bombardeios diários e de franco-atiradores posicionados no alto dos prédios, remunerados confor- me o número de pessoas que matavam. Casas eram saqueadas e destruídas, mulheres eram tomadas como prisio- neiras sexuais e execuções em massa se tornavam cada vez mais frequentes. A falta de eletricidade ou de linhas telefônicas somava-se à escassez de água e comida. Os comboios sérvios controlavam as fronteiras, impedindo que qualquer pessoa não autorizada deixasse a cidade. No entanto, ficar em Sarajevo por mais tempo significava aguardar uma morte trágica e iminente. Os 18 meses em que a família Ruste- magić viveu de perto o horror da guerra são descritos com detalhes nas mensa- gens enviadas por Ervin por meio dos antigos aparelhos de fac-similes (fax), que transformam desenhos e textos em papel em imagens enviadas por linha telefônica. Destinadas a amigos da indústria editorial de várias partes do mundo, suas mensagens retratam as tentativas da família de deixar o país. Coube ao quadrinista norte-americano Joe Kubert, amigo pessoal de Ervin e destinatário de boa parte dos fax, reu- nir e interpretar o material utilizado para a criação de Fax de Sarajevo. Kubert possui carreira relevante como desenhista de quadrinhos, co- laborando em empresas como a DC Comics e a Marvel. A opção do autor pelo formato de HQ confere à histó- ria maior dinamismo, personifica o terror do conflito nas expressões dos personagens e nas cenas de uma Sara- jevo arrasada pela guerra. Colocados na íntegra ao longo da história, os fax conduzem a narrativa, estabelecendo uma espécie de diário de guerra. Apesar de ter ganhado versão nacio- nal apenas em 2016, a obra foi origi- nalmente publicada em 1996, e venceu importantes prêmios internacionais de quadrinhos, como o Eisner e Harvey Awards, dos Estados Unidos, e o do Festival de Angoulême, na França. A Guerra da Bósnia completa, em 2017, 25 anos de seu início. Foi o mais sangrento conflito armado na Europa desde a II Guerra Mundial. FAX DE SARAVEJO Autor Joe Kubert Editora Quadrinhos Via Leitura , 208 páginas. ^~^ ESTANTE 14 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 FOTOGRAFIA Olhares que revelam problemas globais Fotografias vencedoras do prêmio World Press Photo 2017 dão identidade a dramas humanitários e questões geopolíticas A foto ao lado foi registrada du-rante a inauguração de uma exposição em uma galeria de arte em Ancara, capital da Turquia, e transformou-se em um trágico incidente diplomático. O embaixador da Rússia na Turquia, Andrei Karlov, foi alvejado por oito tiros e morto enquanto discursava, em 19 de dezembro de 2016. Os disparos partiram de Mevlut Mert Altintas, ex- policial turco de 22 anos, que na ação proferiu menções a Alá e às crianças mortas em Aleppo, no norte da Síria, por bombardeios da Rússia na guerra civil síria. O episódio foi classificado pelo governo russo e pela comunidade internacional como ataque terrorista e agravou as relações diplomáticas entre a Rússia e a Turquia. O governo turco é contrário ao governo de Bashar al- Assad, enquanto o russo o apoia, e havia intensificado seus ataques militares em apoio ao ditador sírio. A foto causa impacto pela expressão do atirador no momento em que foi feita, e por ser um flagrante registro jornalístico do momento exato de um inesperado atentado. O corpo do embaixador abatido pa- rece simbolizar uma Europa incapaz de evitar os atentados que tem sofrido. Como a diplomacia é a arte da negocia- ção, pode-se também entender a foto como um registro da violência armada se sobrepondo ao diálogo e à civilidade. O mesmo pode-se intepretar por esta- rem na foto, ambos, trajando o terno exigido pela formalidade do evento, e a diferença entre eles, na imagem, é uma arma. O autor da foto é Burhan Ozbilici, repórter fotográfico da agência de notí- cias Associated Press (AP) há 28 anos. A imagem foi a vencedora da 60ª edição do prêmio World Press Photo of the Year (Foto do Ano da Imprensa Mun- dial), promovido pela Fundação World Press Photo (WPP). A organização foi criada em 1955 e realiza anualmente uma premiação internacional, selecio- nando as melhores fotos jornalísticas. A escolha dessa foto recebeu críticas, inclusive de Stuart Franklin, presidente da banca julgadora do evento, para quem ela poderia ser tomada como uma espécie de publicidade ao terrorismo. A associação entre a vítima e seu algoz foi classificada por Franklin em coluna para o jornal britânico The Guardian como “tão problemática de publicar quanto uma decapitação terrorista”. Ainda que controversa, a fotografia não perde sua relevância jornalística e tam- bém seu valor como registro histórico. ^~^ 15GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 As demais obras premiadas trazem à tona questões humanitárias, como retratos das guerras civis na Líbia, Ucrânia e Afeganistão, e da situação dos refugiados na rota do Mar Mediter- râneo e no trajeto Grécia-Macedônia. A foto acima registra o medo da po- pulação diante da atuação das forças militares do Iraque nas ofensivas de combate ao Estado Islâmico (EI). O repórter fotográfico belga Laurent Van der Stockt capturou a expressão de horror da menina iraquiana, surpreen- dida durante uma operação militar que buscava membros do EI nos subúrbios de Mosul, no norte do país. Na premiação de 2017 destacou-se também a série fotográfica do brasilei- ro Lalo de Almeida sobre os casos de microcefalia no Nordeste. Na foto ao lado, ele registrou o semblante triste e desolado da mãe que contraiu zika vírus durante a gestação e teve gêmeos com microcefalia. Para conferir todos os trabalhos pre- miados nesta edição, acesse o site da WPP: http://www.worldpressphoto. org/collection/photo/2017. box DIFERENTES OLHARES As fotos premiadas que publicamos ajudam a dimensionar o contexto de três realidades. O olhar de fúria do ex-policial turco no momento do mortal ataque terrorista ao embaixador da Rússia na Turquia (à esquerda) revela o nível de tensão geopolítica no Oriente Médio. O horror na expressão da menina iraquiana, surpreendida na frente de sua casa pelo fotógrafo, retrata a vulnerabilidade das crianças em meio à guerra dos adultos. O olhar distante da mãe de gêmeos com microcefalia, na região de Areia, no sertão da Paraíba, exemplifica o drama humano diante de uma realidade difícil de aceitar e suportar FO TO S: D IV U LG AÇ ÃO W O RL D PR ES S PH O TO 2 01 7 ^~^ PONTO DE VISTA 16 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 UM MESMO FATO PODE SER NOTICIADO DE MANEIRAS VARIADAS POR DIFERENTES VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO arrow veja Com o predomínio da cor vermelha e a ausência de chamadas, a revista traz uma paródia do famoso mural Guernica (1937), de Pablo Picasso, que retrata os horrores da Guerra Civil Espanhola. No lugar de cavalos, touros e mulheres da tela original são re- tratadas algumas das personalidades que se destacaram no ano, como o cantor e compositor inglês David Bowie (com o raio em seu rosto) e o pugilista norte-americano Muhammad Ali (à direita) – ambos morreram em 2016 e aparecem com uma lágrima no rosto. A caracterização e a disposição dos personagens também fazem referência aos fatos que protagonizaram no ano que passou. O recém-eleito presidente norte-americano Donald Trump (com a gravata que remete à bandeira dos Estados Unidos) aparece jun- tando os lábios como se fosse beijar Dilma, numa possível alusão à sua fama de machista e de assediar as mulheres. A ex-presidente Dilma Rousseff (com o colar de pérolas) surge abaixo dele, como se estivesse subjugada, o que retrataria o seu impeachment. Já o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ocupa o lugar da pessoa combalida, numa referência à sua cassação e posterior prisão. Ao trazer a chamada “A Guernica de 2016”, a revista considera que o ano que passou também nos apresentou desgraças e barbáries, assim como o quadro de Picasso. arrow carta capital Assim como Veja, Carta Capital optou por uma capa sem cha- madas, destacando uma grande ilustração de Laerte Coutinho. Ela mostra uma espécie de passeata, manifestação que foi muito frequente em 2016. Mas, em vez de pessoas caminhando, surgem esqueletos montados em cavalos (que também são esqueletos), sugerindo a ideia de mortos-vivos – mortos, pois são caveiras; vivos porque estão em movimento. A imagem também lembra os “cavaleiros do apocalipse”, personagens bíblicos que anunciam o fim do mundo. Seria, então, uma referência às personalidades e aos acontecimentos desastrosos do ano que passou, que levarão a uma situação semelhante ou ainda pior no ano seguinte – “Rumo a 2017”, diz a frase que acompanha a imagem. Liderando o grupo aparece a violência da polícia (o cavaleiro da tropa de choque com um cacetete). Ele é seguido por várias figuras, como os evangélicos (Bíblia em mãos), o poder judiciá- rio (toga preta e balança da Justiça), o presidente Michel Temer (com a faixa presidencial), Donald Trump (cabelo loiro e chapéu de cowboy), a mídia (cinegrafista), a Polícia Federal (óculos escuros e colete preto), os empreiteiros (prédio e maleta nas mãos), os pa- neleiros etc. Eles representariam o fim do mundo e, pior, rumam para 2017 sugerindo que as perspectivas continuam muito ruins. ^~^ 17GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 O fato Para a última edição do ano, tradicionalmente, as revistas semanais realizam um balanço do período que termina e anunciam o que esperam para o que se inicia. Veja, Carta Capital, Época e IstoÉ optaram por caminhos diversos para mostrar os principais fatos que marcaram o ano de 2016 nas diferentes áreas, como política, economia, cultura e sociedade. Referências à crise política e econô- mica nacional – o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a ope- ração Lava Jato, por exemplo – foram escolhas comuns e marcaram presença nas quatro capas. Quanto às projeções para 2017, Carta Capital e IstoÉ lan- çaram suas expectativas para o ano novo, enquanto Veja e Época focaram em fazer um retrato de 2016. Como os quatro principais semanários elaboraram suas retrospectivas de 2016 e perspectivas para 2017 O ano que passou e o que está por vir arrow época Na linha de Veja e Carta Capital, Época também fez uma capa crítica a 2016, “O ano que nos acertou em cheio”, conforme afirma sua principal chamada. Acompanhando a frase, um fundo preto confere tom fúne- bre ao conjunto, e surge uma grande foto em preto e branco de um homem sendo socado por alguém usando uma luva de boxe – ou seja, trata-se de um profissional, aquele que não erra o soco. Portanto, o ano foi, segundo a revista, uma grande bofetada na cara dos brasileiros. O homem que apa- nha usa terno e gravata, o que nos permite identificá-lo com um político, um executivo ou o próprio leitor da revista. Ou com todos esses perfis, conforme sugere o pronome “nos” da frase principal. A mensagem de que o ano de 2016 só trouxe fatos ruins, no entanto, é contraposta por notícias mais animadoras, que também merecem ser lembradas, segundo sugere a revista. Assim, abaixo de cada uma das chamadas que trazem notícias negativas (“a recessão levou o país à lona”, por exemplo), a conjunção “mas” introduz um aspecto positivo daquele mesmo fato (“mas nossos governantes aprenderam a fazer conta”). De acordo com Época, o ano foi ruim, mas temos lições a tirar. arrow istoé Ao contrário dos demais semanários, IstoÉ apresenta uma capa otimista e foca nas perspectivas para o novo ano: um céu azul (indicando que tempos melhores devem vir) serve de ce- nário para a principal chamada: “2017, o ano da reconstrução”. O tom esperançoso está presente também na frase que vem a seguir: “O que o Brasil precisa fazer para superar a crise política e ética, retomar a confiança e voltar a crescer”. Ou seja, apesar de existir a crise, a revista acredita que o país é capaz de superá-la e se reerguer. Ao passar essa ideia, IstoÉ sugere apoio ao atual governo do presidente Michel Temer. A ideia de reconstrução é reforçada, ainda, pelos elementos que aparecem no interior e à volta dos algarismos 2, 0, 1 e 7 – tijolos, blocos de concreto, andaimes, operários trabalhando e um guindaste – sugerindo que 2017 está sendo reformado. Duas chamadas na parte superior completam a capa. À es- querda, tem destaque “O fim da era Obama”, focando em um dos principais acontecimentos de 2016, que foi a transição de governo nos Estados Unidos. À direita, uma notícia da semana (uma denúncia contra a ex-presidente Dilma Rousseff) destoa do comumente encontrado em uma retrospectiva ou edição de fim de ano, evidenciando a intenção de criticar a ex-presidente. ^~^ PONTO DE VISTA 18 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 Ao tomar posse, o novo presidente norte-americano repete o discurso nacionalista e gera confrontos nas ruas Donald Trump assume sob protestos arrow o globo O diário carioca optou por destacar em sua manchete o caráter populista do novo presidente norte-americano, deixando para destacar nas primeiras linhas o viés nacionalista no discurso que Donald Trump fez dirigindo-se ao país. O sentido de popu- lista, mais habitualmente empregado, é o de quem fala para o cidadão comum aquilo que ele quer ouvir. Ao usá-lo, O Globo expressa uma opinião editorial. Para acentuar a manchete, o jornal escolheu uma foto de Trump e seu vice, Mike Pense, cada um ao lado de sua esposa, acenando serenamente aos populares diante da sede do Congresso. Antes da descrição da foto, na legenda o jornal a definiu, em negrito, como “novos ventos”, oferecendo ao leitor uma dupla leitura dos editores: não é apenas o vento que faz voar a gravata vermelha de Trump, mas também um vento novo na vida política e social do país. Abaixo da manchete, à esquerda, o jornal destaca “Mais de 200 manifestantes são presos em violentos confrontos em Wa- shington”. O Globo detalha que Trump atacou a classe política do país e manteve a retórica de blindar as fronteiras norte- americanas. “Trump pintou um quadro sombrio do país, focou nos desiludidos, prometeu erradicar o extremismo islâmico e colocou os EUA como prioridade total”. À direita da foto, o jornal colocou chamadas para quatro tex- tos de opinião que reforçam a avaliação negativa de Trump, dizendo ser “um presidente errático e irresponsável”, “refém” do personagem que ele criou, e adjetivando negativamente seu discurso como uma versão de “sua verborragia de campanha”. O fato O empresário Donald Trump assumiu a Presidência da Re-pública dos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2017 e, após ser empossado pelo Congresso, fez um dis- curso em tom agressivo à multidão que o aguardava do lado de fora do edifício. Trump repetiu parte das promessas de campanha, em que pregou um naciona- lismo calcado em ameaças aos demais países, que segundo ele exploram os Estados Unidos, prometendo tornar o país grande novamente. Em afirmações consideradas populistas pela imprensa, afirmou que trará de volta ao país as indústrias norte-americanas instaladas em outras nações na globalização, e junto com elas os empregos. Ao longo da campanha eleitoral Trump fez declarações machistas e xenófobas contra árabes, islâmicos e latino-americanos, que estão na ori- gem dos protestos no dia de sua posse. Veja aqui como noticiaram a posse e o discurso de Donald Trump os três maiores jornais do país. ^~^ 19GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 arrow folha de s.paulo Ao destacar a agressividade de Donald Trump, como um preâmbulo no texto da manchete, o diário paulista também escolhe contextualizar para o leitor a animosidade presente no dia da posse. Na foto escolhida, vê-se um Trump sisudo por uma pequena brecha na porta do prédio do Congresso do país, o Capitólio. Trump parece enjaulado em um conto de fadas que ele mesmo criou, viés dado pelas cortinas vermelhas. A legenda explica que a foto foi feita antes da posse efetiva. Complementa a manchete o texto: “Empresário sucede Obama com a mesma retórica conservadora e populista que o alçou à Presidência dos EUA”. O jornal traz ao leitor um extenso texto, em três largas colu- nas. Cita que Trump usou “a mesma retórica agressiva de sua campanha vitoriosa”, mas evita o termo nacionalista, optando apenas por repetir trechos a respeito no discurso presidencial: “Todas as decisões sobre comércio, impostos, imigração e temas internacionais serão tomadas para beneficiar os trabalhadores e famílias americanas, disse o republicano...”. O jornal destaca que Trump assume com a maior taxa de rejeição a um presi- dente norte-americano, de 52%, e que o empresário é o mais velho e mais rico já eleito, e o único que nunca divulgou seu imposto de renda – sugestão de que ele tem algo a esconder. Complementam o conjunto chamadas para três artigos de opinião, destacando o que diz a mídia norte-americana sobre sua posse, que seu discurso ainda parece eleitoreiro e que seu patriotismo poderá ser prejudicial ao Brasil. arrow o estado de s. paulo O tradicional diário paulista optou por enfatizar o discurso de Trump à nação no título, no texto e também na foto escolhida, na qual se vê um presidente agressivo e de punho cerrado, contra a imagem embaçada de Barack Obama atrás dele. O jornal optou por uma manchete que começa com a ressalva: “Sob protestos, Trump assume...”, colocando protagonismo tanto nos protestos quanto no discurso da posse. Para acentuar isso, uma imagem de limusine em chamas foi colocada recortando a foto principal, embaixo à esquerda. A legenda é única para as duas fotos. Com- plementando a manchete, o jornal destacou: “Presidente diz que, de agora em diante, só haverá a ‘América em primeiro lugar’. Ele prometeu resgatar a supremacia americana com segurança de fronteiras, empregos e restituição aos que foram ‘roubados’. Mais de 200 pessoas são presas em Washington”. No texto introdutório, O Estado de S. Paulo destaca que Trump “repetiu promessas populistas e reforçou o ultranacionalismo de sua campanha”, “descreveu os EUA como um país explorado por outras nações”. O jornal procurou contextualizar o leitor sobre outros fatos envolvendo a posse de Trump, além da ênfase nos protestos. O diário cita mudanças feitas nos sites oficiais antes do evento, retirando conteúdos de prioridades da gestão de Oba- ma. Completam o conjunto, abaixo da foto principal, chamada para três artigos opinativos, quanto aos aspectos negativos do discurso, a preocupação dos dirigentes da Europa, além dos pos- síveis prejuízos para o Brasil das promessas de protecionismo econômico de Trump. ^~^ ENTENDA AS CONTAS PÚBLICAS DO GOVERNO FEDERAL O ORÇAMENTO FEDERAL O orçamento federal é elaborado todos os anos pelo governo, em uma lei que prevê os recursos que serão arrecadados (receitas) e onde esses recursos serão direcionados (despesas). DE ONDE VEIO O DINHEIRO EM 2016 Receitas, em R$ bilhões QUANTO O GOVERNO TINHA PARA GASTAR EM 2016 A CARGA TRIBUTÁRIA Uma das principais fontes de receitas do governo federal é a arrecadação de tributos (impostos, taxas e contribuições). A carga tributária brasileira é de 42% do Produto Interno Bruto (PIB). Além de elevada, ela é injusta. Veja no gráfico abaixo como os tributos sobre bens de consumo, que atingem principalmente a população com menor renda, representam quase metade da carga tributária. Imposto de Renda Cofins CSLL PIS/Pasep Outros impostos Arrecadação da Previdência Receitas não administradas pela Receita Federal 341,1 (25,9%) 204,7 (15,6%) 68,1 (5,2%) 151,9 (11,6%) 358,1 (27,2%) 137,2 (10,4%) 53,9 (4,1%) RECEITA LÍQUIDA R$ 1,09 TRILHÃO Transferências -226,8 Incentivos fiscais -0,16 Receita total 1.315 Total de Impostos 819,7 (62,4%) Deste total é preciso descontar os repasses e incentivos fiscais COMPOSIÇÃO DA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA (2015)* Consumo Salários Renda Propriedade Transações financeiras 49,7% 25,8% 18,3% 4,4% 1,8% AS RECEITAS Veja na barra ao lado como quase dois terços das receitas do orçamento federal vêm do recolhimento de impostos, dos quais 26% representam a fatia do imposto de renda. Cofins, CSLL e PIS/Pasep formam as chamadas contribuições sociais, que o governo retém diretamente na fonte pagadora. * Inclui impostos federais, estaduais e municipais Fontes: Receita Federal e Ministério da Fazenda DESTRINCHANDO NO ESTUDO E NO DIA A DIA, GRÁFICOS, MAPAS E TABELAS TRAZEM MUITAS INFORMAÇÕES 20 GEATUALIDADES | 1º semestre 2017 ^~^ QUANTO O GOVERNO GASTOU EM 2016 PARA ONDE FOI O DINHEIRO Despesas, em R$ bilhões AS DESPESAS Veja na barra ao lado como a Previdência é responsável por quase metade dos gastos federais. As despesas discricionárias envolvem os valores direcionados aos ministérios e outras ações. Apesar de obrigatórias, podem variar de ano a ano, conforme a necessidade identificada no planejamento orçamentário. DE SUPERÁVIT A DÉFICIT Veja nas linhas do gráfico acima como as receitas e as despesas crescem de forma contínua desde 1997. Entre 1998 e 2013, o Brasil arrecadou mais do que gastou, obtendo superávits primários. A partir de 2014, as despesas passaram a superar as receitas, e o governo registrou déficit primário por três anos consecutivos. Com isso, os juros da dívida não foram pagos e se acumularam. DESPESA LÍQUIDA R$ 1,24 TRILHÃO –R$ 154,2 BILHÕES 507,9 (40,9%) 257,9 (20,8%) 192,9 (15,5%) 270,7 (21,8%) Previdência Funcionários públicos 23,3 56,0 49,0 17,6 5,6 41,4 1,9% 4,5% 3,9% 1,4% 0,5% 3,3% Outras despesas obrigatórias Subsídios, subvenções, Proagro Abono e seguro-desemprego Benefícios assistenciais (inclui Bolsa Família) Desonerações da Previdência Complemento do FGTS Outros 99,8 34,5 32,1 42,0 62,3 8,0% 2,8% 2,6% 3,4% 5,0% Despesas discricionárias do Executivo Ministério da Saúde Ministério da Educação Ministério do Desenvolvimento Social PAC/Minha Casa Minha Vida Outros 1,9 8,2 2,9 0,2% 0,7% 0,2% Despesas discricionárias dos outros Poderes Legislativo Judiciário Ministério Público RESULTADO PRIMÁRIO DÉFICIT -4 -2 0 2 4 0 400 800 1.200 1.600 201620051997 Resultado primário Receita Despesa RECEITAS E DESPESAS (1997-2016) 13,0 (1%) RESULTADO PRIMÁRIO É a diferença entre o que o país arrecada e o que ele gasta, descontando o pagamento com os juros da dívida. DÉFICIT PRIMÁRIO Ocorre quando as despesas ultrapassam as receitas. SUPERÁVIT PRIMÁRIO Ocorre quando as receitas são maiores que as despesas. Esse dinheiro economizado é utilizado para reduzir a dívida, pagando os juros que se acumulam. Em re ai s Em % d o PI B Uma conta que não fecha Ao gastar mais do que arrecada, o governo brasileiro g qq fica mais endividado e perde gg a capacidade de promover o p desenvolvimento econômico p pp Por Marcelo Soares e Mario Kanno/MultiSP T odos os anos, o governo brasi-leiro planeja um orçamento no qual projeta o quanto espera arrecadar e o quanto pretende gastar. Quando o governo gasta mais do que arrecada, ele produz o chamado déficit orçamentário – sinal de que faltou di- nheiro para cobrir as despesas públicas. Para tapar esse buraco nas contas, o go- verno precisa pedir empréstimos, que é o que alimenta a chamada dívida pública. Esse desequilíbrio é uma situação muito comum na maioria dos países. Afinal, há momentos em que a sociedade necessita de investimentos que superam a capacidade do governo de aumentar as receitas. O problema se dá quando o go- verno começa a se endividar para pagar despesas corriqueiras e se vê obrigado a abandonar as políticas necessárias para desenvolver a economia. É o que acontece no Brasil desde 2014, quando os gastos passaram a su- perar as receitas. Entenda nos gráficos abaixo como se dá esse descompasso nas contas públicas. 21GEATUALIDADES | 1º semestre 2017 ^~^ A EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL NO BRASIL (EM BILHÕES DE REAIS) 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 O IMPACTO DO DÓLAR NA DÍVIDA Entre 1998 e 2008, boa parte da dívida brasileira estava indexada ao câmbio. Ou seja, quanto maior o valor do dólar, maior a dívida. Isso explica o salto da dívida em 2002, quando a cotação do dólar explodiu. O IMPACTO DOS JUROS NA DÍVIDA Em 2008, o Brasil quitou a sua dívida externa e a maior parte da dívida passou a ser indexada pelos juros. Ou seja, agora, quanto maior a taxa Selic, mais rápido cresce a dívida brasileira. GOVERNO FHC 1 FHC 2 LULA 1 LULA 2 A LINHA AZUL, referente à dívida pública nominal, sinaliza o seu valor em cada ano e a sua evolução no período entre 1996 e 2016 – ela mostra um crescimento constante. Já a LINHA VERMELHA, que indica o valor da dívida corrigida pela inflação, leva em consideração a elevação dos preços no período. Dessa forma, ela permite observar quanto a dívida em qualquer ano no período valeria nos valores atuais. Este indicador é o mais apropriado para notar o impacto da dívida em cada período específico. Assim é possível observar momentos de maior crescimento, estabilidade ou mesmo queda da dívida em termos reais. 1997-1998 – CRISES ASIÁTICA E RUSSA Para evitar a fuga de capitais estrangeiros devido à crise asiática, que afetou as economias no mundo todo, o Brasil elevou sua taxa básica de juros a 38% ao ano em dezembro de 1997. Como boa parte da dívida era corrigida pela taxa de juros, ela disparou e manteve a tendência de alta por muitos anos. 2002 – ELEIÇÃO DE LULA Durante a campanha presidencial, a perspectiva de vitória do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, agravou a crise cambial – o dólar chegou a quase 4 reais. O mercado financeiro temia que o Brasil desse um “calote” na dívida caso Lula vencesse. Mas, ao tomar posse, Lula adotou uma política rigorosa de controle das contas públicas, economizando dinheiro para amortizar a dívida. 2008 – CRISE MUNDIAL Como resposta à crise econômica mundial, o governo facilitou as condições de crédito, forneceu isenções fiscais à indústria e ampliou os gastos públicos. Isso aumenta a dívida, porque o governo passa a gastar mais e a arrecadar menos. O governo também quitou sua dívida com o FMI. A dívida interna passa a pesar mais do que a externa – e os juros passam a ter mais influência na dívida do que o câmbio. Fonte: Ministério da Fazenda Valor atualizado pela inflação (IPC-A)Valor nominal da dívida DÓLAR Média anual, em R$ 0 1 2 3 4 2016201020001996 3,62 3,35 3,87 0,85 JUROS Média anual da Selic, em % 0 10 20 30 40 2016201020001996 39,87 13,61 1999 – DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL A partir de 1998, a dívida pública passa a ficar mais atrelada ao dólar. Com a maxidesvalorização do real em relação ao dólar adotada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso no ano seguinte, a dívida subiu ainda mais. 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 2008200720062005200420032002200120001999199819971996 1.157,3 2.187,7 653,6 1.865,0 251,7 886,0 22 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 DESTRINCHANDO A evolução da dívida Entre os fatores que interferem no endividamento do Brasil estão choques externos, aumento dos gastos públicos e a variação de câmbio e juros A dívida pública é o dinheiro que o Estado toma empres-tado para cobrir a diferença entre o que gasta e o que arrecada no orçamento federal. No Brasil, esse valor atingiu 3,112 trilhões de reais em 2016. Mas todo esse montante não surgiu da noite para o dia. O país deve dinheiro a investidores e bancos nacionais e estrangeiros desde que surgiu como nação, em 1822, quando pediu emprés- timos no exterior para cobrir despesas devidas pela colônia. Mas mensurar a evolução da dívida brasileira não é uma tarefa simples. Isso porque o Brasil já teve nove moedas desde o Império. Toda essa atribulada história do dinheiro no Brasil dificulta uma comparação mais precisa do en- dividamento brasileiro em diferentes períodos históricos. Ainda assim, é possível identificar alguns momentos em que a dívida deu saltos significativos. Exemplos disso são o financiamento para a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, em 1942; ^~^ 0 600 1.200 1.800 2.400 3.000 20162007 Dívida interna Juros Dívida externa COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA (R$ bilhões) 23,1% Bancos 25,1% Previdência 14,3% Fora do país 5,5% Governo 4,6% Seguradoras 5,4% Outros 22,1% Fundos OS CREDORES DA DÍVIDA BRASILEIRA DILMA 1 DILMA 2 TEMER 3,1 TRILHÕES DE REAIS 2014 – DÉFICIT NO ORÇAMENTO Após seguidos aumentos nos gastos públicos, a conta chega: são três anos consecutivos de déficit primário. Sem conseguir economizar para pagar os juros, que voltam a patamares elevados, a dívida dispara. 2011 – NOVA MATRIZ ECONÔMICA A presidente Dilma Rousseff mantém as políticas de estímulo econômico ao reduzir os juros e intensificar a concessão de crédito. Para conter a inflação, o governo segura as tarifas de energia elétrica e dos combustíveis. DÍVIDA EXTERNA Em % do total da dívida 0 10 20 30 40 2016201020001996 30 30,2 4,1 TÍTULOS PÚBLICOS DA DÍVIDA Para financiar a dívida, o governo emite títulos públicos. Funciona assim: o governo vende esse título para investidores e utiliza os recursos para pagar os empréstimos vencidos. Quem adquire os títulos recebe depois de um tempo o valor da compra mais os juros. Bancos, fundos de investimento e de previdência são os maiores credores da dívida – eles compram os títulos com o dinheiro de seus investidores esperando um retorno financeiro com essa aplicação. JUROS DA DÍVIDA Quando há déficit primário, o governo é obrigado a tomar empréstimos para conseguir pagar as contas, aumentando ainda mais a sua dívida e os juros. Em 2016, os gastos com os juros da dívida foram de 318 bilhões de reais, o que corresponde a 13% do montante geral. Esse valor é mais do que o dobro das despesas com saúde e educação somadas. 20162015201420132012201120102009 1.694,0 2.547,4 3.112,9 A QUEDA DA DÍVIDA EXTERNA Em 2002, 30,2% do endividamento no país era contraído no exterior. Essa situação mudou bastante. Atualmente, apenas 4,1% da dívida é externa. Isso significa que de 20 reais que o Brasil deve, 19 reais representam a dívida interna. 23GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 os empréstimos tomados pelo gover- no para aumentar os gastos públicos durante a ditadura (1964-1985); e a escalada da dívida nos anos 1980, em virtude das altas taxas internacionais de juros e da elevada cotação do dólar. Apenas a partir de 1994, com a ado- ção de uma nova moeda, o real, é pos- sível traçar a evolução da dívida em ba- ses comparáveis. A partir daí, choques externos e fatores como o câmbio e os juros influenciaram o valor da dívida, como você pode acompanhar abaixo. DÍVIDA INTERNA E EXTERNA A dívida interna representa tudo aquilo que o governo deve a cre- dores residentes no próprio país e no exterior. É paga em moeda nacional, embora parte do valor possa estar indexado ao dólar. A dívida externa é a soma dos débitos contraídos de emprés- timos no exterior. Ela é paga em moeda estrangeira. ^~^ BRASIL O setor público somado deve um valor superior a 70% de toda a riqueza produzida no país. Embora seja difícil estimar um limite considerado aceitável, o que preocupa é a trajetória de alta do indicador, maior do que outras economias emergentes. GRÉCIA A Grécia foi o país europeu mais afetado pela crise da dívida. O país fez pesados empréstimos para financiar o crescimento e, quando a crise estourou, não obteve mais crédito. A nação recorreu a órgãos como o FMI para financiar sua dívida. 71,0 ALEMANHA 105,2 EUA 89,0 REINO UNIDO 96,1 FRANÇA 17,5 CHILE 54,0 MÉXICO 99,3 ESPANHA 132,7 ITÁLIA 24,2 PARAGUAI 73,7 BRASIL 89,0 EGITO 176,9 GRÉCIA 33,8 EQUADOR 52,1 ARGENTINA 49,8 ÁFRICA DO SUL O MAPA-MÚNDI DA DÍVIDA PÚBLICA 0 50 100 150 200 250 Relação dívida/PIB, em % 52 ARGENTINA O país decretou a moratória da dívida externa em 2001, mas renegociou o débito com os credores nos anos seguintes. Ainda assim, o histórico de endividamento preocupa. Além disso, o governo elevou a dívida para financiar as províncias. 3 UNIÃO EUROPEIA A crise de 2008 evidenciou o problema da dívida no bloco. Entre 2001 e 2008, países como Espanha e Itália elevaram os gastos públicos e acumularam dívidas. Alemanha, Reino Unido e França têm economias mais sólidas, apesar da dívida elevada. 4 ESTADOS UNIDOS A dívida do país representa mais do que tudo o que a sua economia produz em um ano. Mas o seu histórico de crédito e o fato de ser a principal potência mundial faz com que os títulos norte-americanos sejam um investimento bastante seguro. 1 1 2 3 5 4 24 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 DESTRINCHANDO Um planeta endividado Conheça os países com as maiores dívidas do mundo em relação ao tamanho de suas economias e saiba como uma conta negativa pode afetar de forma diferente cada nação Praticamente não existe um país no mundo que não esteja en-dividado. Mas ter dívidas nem sempre representa um problema. Au- mentar os gastos públicos pode ser uma forma de os governos estimularem a economia em momentos difíceis e promover ações sociais ou obras que atendam às necessidades mais urgentes da população. E para isso, muitos países recorrem a empréstimos ou financia- mentos para cobrir eventuais buracos nas contas públicas. A questão é saber como essa dívida será administrada no decorrer dos anos e se o país possui indicadores econômi- cos sólidos o suficiente para lidar com o tamanho do seu endividamento. Se a nação possui uma economia saudável, o endividamento não chega a ser um problema, já que os credores sabem que o governo tem condições de honrar seus compromissos. É o que acontece com o Japão. Com uma das economias mais dinâmicas do planeta, mesmo sendo detentor da maior relação entre dívida ^~^ CHINA Em 2009, para minimizar os efeitos da crise econômica, o país elevou os gastos e as empresas públicas se endividaram ferozmente. Hoje, o governo tem oferecido crédito fácil para estimular a economia, o que eleva ainda mais a dívida. JAPÃO A relação entre dívida e PIB é a mais alta do mundo. No entanto, a economia do Japão é sólida, com um alto nível de poupança, o que dá segurança financeira. A dívida se encontra em bancos nacionais, resguardando o país de choques externos. 37,9 COREIA DO SUL 42,9 CHINA 248,0 JAPÃO 69,1 ÍNDIA 16,4 RÚSSIA 6 7 6 7 RELAÇÃO DÍVIDA/PIB E AVALIAÇÃO DE CRÉDITO (PAÍSES SELECIONADOS) Os países mais à direita no gráfico, com nota mais alta do que BA1, são considerados estáveis para investimentos. Veja como o Brasil está pouco abaixo da nota de corte. Por sua vez, quanto mais alto no gráfico, maior é a relação dívida/PIB. A Grécia, com elevado grau de endividamento, ficou com a pior nota. Já o Japão, apesar de possuir uma grande dívida, é considerado um país seguro financeiramente. A relação dívida/PIB do Brasil atingiu em 2015 o maior valor dos últimos dez anos, mas o país já enfrentou situações mais duras. Em 1989, o indicador superou 100% como resultado de uma década de crise. Pior que isso, só em 1884, quando a renegociação das contas em virtude da Guerra do Paraguai fez a dívida explodir. Nota da agência Moody’s C B3 BA1 A2 AA D ív id a /P IB D ív id a to ta l/ PI B 250 0 50 100 150 200 África do Sul Alemanha Argentina BRASIL Chile China Coreia do Sul Egito Equador Espanha EUAFrança Índia Itália Japão México Paraguai Reino Unido Rússia 20152000198019601940192019001880 EVOLUÇÃO DA RELAÇÃO DÍVIDA/PIB DO BRASIL (%) 0 40 80 120 160 120,7 1884 21,9 1961 102,9 1989 73,7 2015 51,6 1933 Fontes: FMI e Trading Economics Grécia 25GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 e PIB, os japoneses estão longe de ser um país falido, ainda que o endivida- mento cause preocupação. Já se o país não possui bons indica- dores econômicos e gasta descontro- ladamente, as condições para se obter um empréstimo são mais complicadas. Quando instituições como o Fundo Mo- netário Internacional (FMI) são cha- madas para fornecer socorro financeiro a algum governo, a primeira receita é cortar gastos, como os do funcionalismo e os da previdência. Foi assim na Grécia, um país que esteve à beira de quebrar e que hoje patina para reequilibrar suas contas e retomar o crescimento. A credibilidade financeira dos países é medida pelas chamadas “agências de risco”, como a Moody’s. Elas atribuem uma nota aos países, como forma de sinalizar o risco aos investidores. Os países mais bem avaliados por essas agências possuem uma espécie de ates- tado de que não darão calote na dívida pública. Já os com pior avaliação têm dificuldades em obter crédito. box A RELAÇÃO DÍVIDA/PIB A principal forma de mensurar o nível de endividamento é comparar o montante da dívida pública com toda a riqueza que determinado país produziu em um ano, ou seja, com o Produto Interno Bruto (PIB). Dessa forma é possível saber o im- pacto da dívida de acordo com o ta- manho da economia de cada país. ^~^ ^~^ global Vitorioso nas eleições presidenciais norte- americanas, Donald Trump desafia a ordem globalizada com um discurso contra o livre-comércio, a cooperação entre nações e os imigrantes por Cláudio Soares / infográficos Multi/SP ^~^ DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISE 28 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE A eleição de Donald Trump como presidente dos EUA e o processo de saída do Reino Unido da União Europeia colocam em xeque a globalização Um desafiante na Casa Branca SOB NOVA DIREÇÃO O presidente dos EUA, Donald Trump, acena durante sua cerimônia de posse em Washington, em 20 de janeiro de 2017 oite de 8 de no- vembro de 2016, Estados Unidos (EUA). Após o fechamento das seções eleitorais, era chegada a hora da apura- ção dos votos. Em algumas ho- ras, o mundo iria conhecer quem seria o novo líder da maior potência econômica e militar pelos próximos quatro anos. Se as elei- ções presidenciais nos EUA já chamam a atenção de todo o planeta, aquela votação em particular tinha um atrativo a mais: a candidatura de Donald Trump pelo Partido Republicano. O rico empresário, que fizera fortuna no ramo imobiliário, é afeito ao mundo das celebridades, sendo mais conheci- do como apresentador do reality show O Aprendiz do que por suas posições políticas. Havia entrado na disputa como franco-atirador, desafiando até mesmo as principais lideranças de seu partido para sair como candidato. Do outro lado da disputa estava Hillary Clinton, do Partido Demo- crata. Mulher do ex-presidente Bill Clinton, Hillary tinha no currículo a passagem por expressivos cargos pú- blicos como senadora e secretária de Estado – credenciais que ajudavam a mantê-la sempre como favorita nas pesquisas eleitorais. A possibilidade de o desafiante repu- blicano ocupar a Casa Branca parecia remota. Sem apoio em seu partido, ban- cou boa parte da campanha com recur- sos próprios. Além disso, a candidatura de Trump foi cercada de escândalos. Declarações contra mexicanos e mu- çulmanos e o vazamento de um áudio no qual dizia impropérios sobre como tratar uma mulher, renderam-lhe acu- sações de ser xenófobo e misógino. Sua campanha não naufragou por pouco. Mas, quando o mundo começou a acompanhar em tempo real a apuração dos votos, ficou evidente que a disputa seria acirrada. Nas primeiras horas do dia 9 de novembro veio o anúncio: Donald Trump, de 70 anos, havia sido eleito presidente dos EUA. JI M B O U RG /R EU TE RS APONTE O CELULAR PARA AS PÁGINAS E VEJA VIDEOAULA SOBRE DONALD TRUMP E O LEGADO DE BARACK OBAMA (MAIS INFORMAÇÕES NA PÁG. 5) ^~^ 29GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 RETIRADA O ex-primeiro-ministro britânico David Cameron e sua família deixam a residência oficial em Londres, após a vitória do Brexit A vitória do republicano deixou o mundo estupefato. Isso porque algumas de suas promessas de campanha, se colocadas em prática, teriam o efeito de indispor os EUA com os governos de diversas nações. Trump disse que iria construir um muro na fronteira sul do país, para impedir a entrada de imigran- tes ilegais vindos do México. Declarou que barraria a entrada de refugiados, es- pecialmente muçulmanos. Ainda amea- çou iniciar uma guerra comercial com a China e rever a participação dos EUA em acordos de livre-comércio. Também anunciou que gostaria de res- tringir a abrangência das parcerias mili- tares com aliados históricos, como Japão, Coreia do Sul e Arábia Saudita. Além disso, é crítico da Otan, a aliança militar que os EUA mantêm com as nações da Europa Ocidental principalmente. São promessas que representam um desafio ao paradigma da globalização. Aquela ideia de um mundo integrado, em que prevalecem o livre movimen- to de pessoas, mercadorias e capitais, encontrou um desafiante disposto a romper com essas conexões. Sob o lema “America First”, Trump quer reforçar a posição econômica do país em relação a outras nações “America First” Em qualquer disputa eleitoral, a in- satisfação com a situação econômica costuma abrir espaço para o avanço de novatos na política. Desde a crise econômica de 2008, quando o mundo todo foi abalado pelo estouro da bo- lha imobiliária (veja mais na pág. 34), os EUA tentam se recuperar. Sob a presidência de Barack Obama (2009- 2017), o país até retomou o crescimento econômico e o nível de emprego, mas a renda permaneceu estagnada. Foi nesse cenário que a candidatura de Trump sacudiu as eleições norte-americanas. Enquanto Hillary era vista como a con- tinuidade do sistema político vigente, o establishment, Trump surgia como o forasteiro impetuoso, que disparava pesadas críticas e até xingamentos aos políticos que conduziam o país. Para além do personagem polêmico, Trump foi capaz de seduzir uma expres- siva fatia do eleitorado interessado em sua plataforma política. Um dos lemas de sua campanha foi “America First”, algo como “América em primeiro lugar”. Essa marca que Trump quer imprimir em seu governo simboliza a ênfase em medidas para reforçar a posição econô- mica do país diante de outras nações. Um exemplo: atribui-se o fechamento de diversas vagas de operários norte- americanos à assinatura do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), o bloco econômico formado por EUA, Canadá e México. Esse tratado permitiu que empresas norte-americanas se transferissem para o México e empre- gassem a mão de obra local, mais barata. Durante a campanha, Trump disparou contra o Nafta e prometeu intimar os exe- cutivos das empresas norte-americanas a abrir vagas nos EUA, em vez de levar a produção e os empregos para outras nações (veja mais na pág. 35). ST EF AN W ER M U TH /R EU TE RS ^~^ DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISE 30 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 HILLARY TRUMP 232 306 2016 X OBAMA ROMNEY 332 206 2012 X COMO TRUMP GANHOU Ele teve mais votos entre os homens brancos, mais velhos, sem nível superior e de classe média. O CINTURÃO DA FERRUGEM Wisconsin, Michigan, Iowa, Ohio e Pensilvânia fazem parte do chamado “rust belt” (“cinturão da ferrugem”), por abrigarem antigas áreas industriais, hoje decadentes. Nessas regiões, onde por décadas os democratas venceram, Trump foi vitorioso. O eleitorado democrata das grandes cidades desses estados se absteve ou mudou seu voto em favor de Trump. ESTADO DECISIVO Na Flórida, Trump teve 4,6 milhões de votos, ante 4,5 milhões para Hillary. Isso garantiu-lhe os 29 delegados do estado no Colégio Eleitoral. Analistas dizem que essa apertada vitória, também não prevista nas pesquisas, deveu-se basicamente à mobilização do eleitorado republicano branco, em contraposição a um menor engajamento dos apoiadores democratas. Flórida Wisconsin Michigan Iowa Ohio Pensilvânia Partido Democrata Partido Republicano O VOTO NAS ELEIÇÕES AMERICANAS Por raça Brancos Negros Por faixa etária 18 a 44 anos Mais de 45 Por escolaridade Ensino Médio ou menos Superior incompleto Superior completo Por renda anual Menos de 50 mil dólares De 50 mil a 99.999 dólares 100 mil dólares ou mais TRUMPHILLARY 37 89 53 44 46 43 49 53 46 47 57 8 39 52 51 51 44 41 49 47 PERFIL DO VOTO (%)OS VENCEDORES EM CADA ESTADO E TOTAL DE DELEGADOS ELEITOS Maior taxa Fonte: CNN Quem votou em Trump A análise do perfil dos eleitores de Trump ajuda a compreender a estra- tégia do republicano e as razões que o levaram à vitória. De modo geral, é composto de homens brancos, mais velhos, sem formação universitária. Trata-se de um dos estratos da popu- lação norte-americana que mais foi afetado economicamente nos últimos anos, com o achatamento da renda e a falta de perspectivas de ascensão social. Geograficamente, a insatisfação des- ses eleitores pode ser explicada pela alteração do perfil eleitoral em seis es- tados nos quais os democratas haviam vencido em 2012 e que deram maioria a Trump em 2016: Flórida, Wisconsin, Michigan, Iowa, Ohio e Pensilvânia. Bastou isso para que garantisse os de- legados de que precisava para se tornar presidente. Os cinco últimos fazem parte do chamado rust belt (“cinturão da ferrugem”), que abriga antigas áre- as industriais em que há atualmente altos níveis de desemprego, causados pelo fechamento de indústrias (veja infográfico acima). Como a eleição nos EUA é indireta, a vitória de Trump nesses estados-chave carimbou o triunfo do republicano, mesmo tendo menos votos populares do que Hillary (veja boxe ao lado). Com essa estratégia, o empresário buscou atingir uma significativa parcela da população constituída por cidadãos para os quais a globalização trouxe consequências indesejáveis, como a perda de empregos industriais. Foi o suficiente para garantir os votos que o levariam à Casa Branca. Reino Unido fora da União europeia Antes da vitória de Trump, os alicer- ces da globalização já haviam sofrido os primeiros abalos na Europa. Em ple- biscito realizado em junho de 2016, os britânicos votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o maior e mais importante bloco econômico do planeta. O chamado Brexit (contração das palavras inglesas “Britain” e “exit”, algo como “saída britânica”) teve o voto de 17,4 milhões de britânicos (51,9%), ante 16,1 milhões (48,1%) que preferiam permanecer na UE. ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NOS EUA SÃO INDIRETAS Nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA, Hillary Clinton obteve cerca de 2,9 milhões de votos a mais do que Donald Trump em nível nacional. Ela venceu no voto popular, mas não levou. Isso porque a eleição para presidente é indireta. Os eleitores não votam nos candidatos, mas sim em delegados que formam um Colégio Eleitoral encarre- gado de definir o presidente. Cada estado é representado por certo número de delegados, proporcional à sua população. O Colégio Eleitoral de 2016 foi composto de 538 delegados. Em quase todos os estados (exceto Maine e Nebraska), quem vence no voto popu- lar leva todos os delegados ao Colégio Eleitoral, mesmo que a sua vitória tenha sido por poucos votos de diferença. Por causa disso, um candidato pode ter um número maior de votos populares, na- cionalmente, e eleger menos delegados ao Colégio Eleitoral. Foi o que aconteceu com Hillary, que não obteve delegados suficientes para se eleger. ^~^ 31GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 Por faixa etária 18 a 24 anos 25 a 49 anos 50 a 64 anos 65 anos ou mais Por escolaridade Ensino Médio Superior sem diploma Superior com diploma Por categoria social Classe média alta e média Classe média baixa Trabalhadores manuais e desempregados SAIR PERMANECER 75 56 44 39 34 52 71 57 49 36 25 44 56 61 66 48 29 43 51 64 QUEREMOS SAIR Houve um voto significativo pela saída da União Europeia em regiões industriais do centro e do norte da Inglaterra, entre as quais alguns distritos em torno da cidade de Liverpool, Manchester e Birminghan. QUEREMOS FICAR Em Londres, a posição de permanência na UE foi vencedora, diferentemente do resultado geral do Reino Unido. Mesmo na capital britânica, entretanto, os eleitores de bairros operários do leste da cidade votaram majoritariamente a favor da saída do bloco europeu. O VOTO NO BREXIT Fontes: Politico.eu, Financial Times, Lord Ashcroft Polls, The Telegraph 48 52 TOTAL 62 38 Escócia 56 44 Irlanda do Norte 48 52 País de Gales 47 53 Inglaterra Londres Birminghan Manchester Liverpool 5248 Permanecer na UE Sair da UE PERFIL DO VOTO (%) OS VENCEDORES POR PAÍS E POR REGIÃO (%)Maior taxa COMO O BREXIT VENCEU Repare nas semelhanças entre o perfil dos eleitores do Brexit e de Trump. Pessoas acima de 50 anos foram majoritariamente a favor da saída do bloco. Os mais escolarizados votaram pela permanência, enquanto o Brexit teve ampla maioria (64%) entre a classe média baixa, os operários e os desempregados. Ao virar as costas para a UE, os bri- tânicos anunciam que a participação no maior bloco econômico do planeta não lhes traz benefícios, em um sonoro “não” ao processo de globalização. Por trás da decisão dos britânicos está a insatisfação com os mecanismos de integração da UE, que, segundo seus críticos, impõem restrições à autono- mia e ferem a soberania das nações. Os eurocéticos britânicos são contra a imigração por achar que os estrangei- ros representam uma concorrência em um mercado de trabalho saturado. E questionam os repasses financeiros que os países-membros devem fazer à UE. Por isso, não surpreende que o perfil demográfico dos britânicos que vota- ram a favor do Brexit seja bem parecido com o dos eleitores de Trump. Ou seja, de modo geral, trata-se de cidadãos bri- tânicos mais velhos, do sexo masculino, sem nível superior e de renda média. Entre operários e desempregados, o voto também foi majoritariamente pela saída do bloco – novamente, extratos da população mais afetados pela crise econômica (veja infográfico acima). Eleitores do Brexit criticam a União Europeia por impor restrições à autonomia do Reino Unido Interessante também é notar como a distribuição do voto variou geografica- mente. O Reino Unido é composto de quatro unidades políticas. Na Inglaterra e no País de Gales prevaleceram o voto pelo Brexit. Já a Escócia e a Irlanda do Norte votaram expressivamente a favor da permanência na UE. Esse resultado expôs a forte divisão política no país. Desapontado com o Brexit, o governo local da Escócia cogita realizar um novo plebiscito, desta vez para decidir se deve permanecer ou deixar o Reino Unido. Em 2014, os escoceses já haviam ido às urnas e decidiram ficar no Reino Unido. Mas, desta vez, a insatisfação com a saída da União Europeia pode estimular uma debandada escocesa. Logo após o plebiscito, o primeiro- ministro conservador David Cameron, que fez campanha pela permanência na UE, renunciou e foi substituído pela ex-ministra do Interior, Theresa May, que ficou responsável por encaminhar a retirada do bloco. O início da separa- ção está previsto para março, quando o Reino Unido deverá acionar o Artigo 50 do Tratado de Lisboa da UE, dando início formal à saída. De acordo com as regras do bloco, o processo deve durar até dois anos. Não por acaso, Trump comparou sua vitória ao Brexit, por terem o mesmo sentido de defesa nacionalista dos inte- resses do país. Num primeiro momento, tanto no Reino Unido quanto nos EUA, os eleitores responsáveis pelos resul- tados surpreendentes foram conside- rados xenófobos, racistas ou simples- mente ignorantes. Mas há também algo mais profundo: um recado do homem comum, que não se vê representado pelos políticos e instituições atuais. São pessoas que acham que há algo de errado na globalização, e deixaram isso evidente por meio de seu voto. ^~^ DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISE 32 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISE Caracterizado por um mundo integrado pelo comércio, com menos intervenção estatal e maior flexibilidade no mercado de trabalho, o fenômeno é mais antigo do que parece Os pilares da globalização globalização, tão contestada por Donald Trump e pelos partidá- rios do Brexit, é entendida como o processo de integração entre povos, empresas, governos e mer- cadorias ao redor do planeta. Um mundo globalizado é aquele em que eventos políticos, eco- nômicos, culturais e sociais estão inter- conectados e onde um acontecimento em um lugar tem a capacidade de ecoar por outros cantos do globo. Suas origens remontam aos séculos XV e XVI, com o início da expansão ultrama- rina europeia (veja linha do tempo na pág. ao lado). A descoberta de novas terras e rotas comerciais permitiu a formação de enormes impérios coloniais na Europa. Posteriormente, o acúmulo de rique- zas forneceu a base para a Revolução Industrial no fim do século XVIII, que, com o tempo, desenvolveu o trabalho assalariado e o mercado consumidor. As descobertas científicas e as inven- ções provocaram enorme expansão dos setores industrializados e ampliaram o mercado para a exportação de produtos. No fim do século XIX surgiram as gran- des empresas multinacionais. O século seguinte verá o fortalecimento dessas corporações, bem como a consolidação dos Estados Unidos (EUA) como a nação capitalista mais poderosa do planeta. O Neoliberalismo Pode-se afirmar que a atual fase da globalização tem como pilares eco- nômicos o neoliberalismo. Trata-se do conjunto de medidas adotado pela primeira-ministra Margaret Thatcher (1925-2013) no Reino Unido e pelo pre- sidente norte-americano Ronald Rea- gan (1911-2004) a partir dos anos 1980. O neoliberalismo consolidou-se como o sistema econômico dominante a partir dos anos 1990, com o fim da Guerra Fria. De modo geral, o ideário neoliberal é constituído por alguns pontos centrais: arrow abertura comercial e financeira para promover o livre-comércio e ampla possibilidade de atuação das empre- sas em nível internacional; arrow diminuição do papel do Estado na economia, por meio de privatiza- ções, e fim do Estado de Bem-Estar Social (welfare state) vigente prin- cipalmente na Europa, com o corte nos gastos públicos e na oferta de serviços sociais pelo governo; arrow desregulamentação financeira, ou seja, deixar o mercado livre para ditar preços e condições de atuação, sem a interferência do Estado; arrow flexibilização do mercado de traba- lho. As reivindicações trabalhistas são encaradas como obstáculos ao cresci- mento econômico; propõe uma nova divisão internacional do trabalho, com migração de empregos industriais para os países em desenvolvimento. GIGANTE GLOBAL Operário faz reparos no logo de uma das lojas da rede de fast-food McDonald’s em Pequim, na China AF P PH O TO ^~^ 33GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 A globalização não é algo novo – remonta ao tempo das grandes navegações europeias. O avanço do capitalismo, das comunicações e dos transportes moldaram o fenômeno em sua forma atual LINHA DO TEMPO DA GLOBALIZAÇÃO 1450 • Johannes Gutenberg inventa a imprensa com tipos móveis metálicos 1492 • A descoberta da América e o início da colonização e da escravidão negra marcam o ápice das Grandes Navegações 1698-1777 • Desenvolvi- mento da máquina a vapor impulsiona a Revolução Industrial 1789 • Revolução Francesa inicia o período de domínio da burguesia e de declínio da nobreza 1830 • Inauguração, na Inglaterra, da primeira ferrovia de longa distância para passageiros em escala comercial 1844 • Invenção do telégrafo 1876 • O norte-americano Alexander Graham Bell obtém a patente do telefone 1884-1885 • Novo imperialismo: as potências europeias realizam a Conferência de Berlim, partilhando o território africano entre si 1906 • Primeira transmissão de rádio nos EUA 1909 • O norte-americano Henry Ford introduz a linha de montagem em sua fábrica de carros 1914-1918 • Disputa entre as potências leva à Primeira Guerra Mundial, que foi seguida de recessão e protecionismo 1929 • Quebra da Bolsa de Valores de Nova York 1933-37 • New Deal: nos EUA, o governo intervém pesadamente para recuperar a economia do país 1939-1945 • Novos conflitos entre as potências provoca a Segunda Guerra Mundial; ao final da guerra, a nação capitalista mais poderosa passa a ser os EUA 1944 • Conferência de Bretton Woods estabelece o dólar norte-americano como a base do sistema monetário mundial e cria o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) 1947-1951 • Com o Plano Marshall, o governo dos EUA financiam a reconstrução da Europa ocidental 1947-77 • Fortalecimento do Estado de Bem-Estar Social na Europa ocidental; período dos Trinta Anos Dourados do capitalismo 1950 • A televisão começa a se popularizar 1957 • Tratado de Roma cria a Comunidade Econômica Europeia, embrião da atual União Europeia 1970 • Cabos de fibra óptica expandem as telecomunicações 1971 • Os EUA acabam com a conversibilidade do dólar em ouro, encerrando o sistema de Bretton Woods 1973 • Países árabes embargam o fornecimento de petróleo aos EUA e às potências europeias: o preço do petróleo quadruplica e abala a economia mundial 1977 • Lançamento do Apple II, que dá início à era do microcomputador pessoal, ou personal computer (PC) 1979 • Margaret Thatcher torna-se primeira-ministra do Reino Unido: política de privatizações e corte de gastos públicos torna-se referência do neoliberalismo 1983 • O telefone celular começa a ser vendido 1989 • Queda do Muro de Berlim marca simbolica- mente o fim da Guerra Fria 1991 • Criação da internet; fim da União Soviética 1992 • Tratado de Maastricht cria a União Europeia 1992 • Criação do Nafta 1995 • Surge a Organização Mundial do Comércio (OMC) 2001 • Atentados de 11 de setembro nos EUA expõem as fissuras entre o Ocidente e os países muçulmanos; entrada da China na OMC muda o comércio mundial 2008 • Colapso do mercado imobiliário nos EUA leva à maior crise mundial desde os anos 1930 2015 • Instabilidade na Síria e em outros países de maioria muçulmana eleva a imigração, na pior crise de refugiados desde a II Guerra 2016 • Brexit : em referendo, eleitores do Reino Unido aprovam a saída da União Europeia; nos EUA, o republicano Donald Trump é eleito presidente QUARTO PERÍODO (1989 EM DIANTE) PREDOMÍNIO DO NEOLIBERALISMO E DOS MERCADOS FINANCEIROS SEGUNDO PERÍODO (1850-1945) CONSOLIDAÇÃO DAS POTÊNCIAS CAPITALISTAS PRIMEIRO PERÍODO (1450-1850) EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA TERCEIRO PERÍODO (1945-1989) GUERRA FRIA E REVOLUÇÃO TÉCNICO–CIENTÍFICA INFORMACIONAL OMC e blocos econômicos Um elemento central da globalização é o livre-comércio, ou seja, a criação de um sistema em que bens e serviços são comercializados sem restrições tarifárias. Nesse sentido, o papel da Organização
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