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APOSTILA GE ATUALIDADES 2017 1

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4 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
Um plano para 
os seus estudos
Este GUIA DO ESTUDANTE ATUALIDADES oferece uma ajuda e tanto 
para as provas, mas é claro que um único guia não abrange toda a preparação 
necessária para o Enem e os demais vestibulares.
É por isso que o GUIA DO ESTUDANTE tem uma série de publicações que, 
juntas, fornecem um material completo para um ótimo plano de estudos. O 
roteiro a seguir é uma sugestão de como você pode tirar melhor proveito de 
nossos guias, seguindo uma trilha segura para o sucesso nas provas.
1 Decida o que vai prestar
O primeiro passo para todo vestibulando é escolher com clareza a 
carreira e a universidade onde pretende estudar. Conhecendo o grau 
de dificuldade do processo seletivo e as matérias que têm peso maior 
na hora da prova, fica bem mais fácil planejar os seus estudos para 
obter bons resultados.
arrow COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ O GE PROFISSÕES traz todos os 
cursos superiores existentes no Brasil, explica em detalhes as carac-
terísticas de mais de 270 carreiras e ainda indica as instituições que 
oferecem os cursos de melhor qualidade, de acordo com o ranking 
de estrelas do GUIA DO ESTUDANTE e com a avaliação oficial do MEC.
2 Revise as matérias-chave
Para começar os estudos, nada melhor do que revisar os pontos mais 
importantes das principais matérias do Ensino Médio. Você pode re-
passar todas as matérias ou focar apenas em algumas delas. Além de 
rever os conteúdos, é fundamental fazer muito exercício para praticar.
arrow COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ Nós produzimos todos os anos um 
guia para cada matéria do Ensino Médio: GE HISTÓRIA , Geografia, 
Português, Redação, Biologia, Química, Matemática e Física. Todos 
reúnem os temas que mais caem nas provas, trazem muitas questões 
de vestibulares para fazer e têm uma linguagem fácil de entender, 
permitindo que você estude sozinho.
3 Mantenha-se atualizado
O passo final é continuar estudando atualidades, pois as provas exigem 
alunos cada vez mais antenados com os principais fatos que ocorrem 
no Brasil e no mundo. Além disso, é preciso conhecer em detalhes o 
seu processo seletivo – o Enem, por exemplo, é bem diferente dos 
demais vestibulares.
arrow COMO O GE PODE AJUDAR VOCÊ O GE ENEM e o GE Fuvest são ver-
dadeiros “manuais de instrução”, que mantêm você atualizado sobre 
todos os segredos dos dois maiores vestibulares do país. Também não 
dá para perder a próxima edição do GE Atualidades, que será lançada 
em agosto, trazendo novos fatos do noticiário que ainda podem cair 
nas provas dos processos seletivos do final do ano.
Os guias ficam um ano nas bancas – 
com exceção do ATUALIDADES, que é 
semestral. Você pode comprá-los também 
nas lojas on-line das livrarias Saraiva 
e Cultura. 
FOTO: MIKE SEGAR/REUTERS
FALE COM A GENTE: 
Av. das Nações Unidas, 7221, 18º andar, 
CEP 05425-902, São Paulo/SP, ou email para: 
guiadoestudante.abril@atleitor.com.br
CALENDÁRIO GE 2017
Veja quando são lançadas 
as nossas publicações
MÊS PUBLICAÇÃO
Janeiro
Fevereiro GE HISTÓRIA
Março GE ATUALIDADES 1
Abril GE GEOGRAFIA
Maio
GE QUÍMICA 
GE PORTUGUÊS
Junho
GE BIOLOGIA 
GE ENEM
GE REDAÇÃO
Julho GE FUVEST 
Agosto
GE ATUALIDADES 2
GE MATEMÁTICA
Setembro GE FÍSICA
Outubro GE PROFISSÕES
Novembro
Dezembro
APRESENTAÇÃO^~^
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ATUALIDADES VESTIBULAR + ENEM / Ed. 25 / 1º SEMESTRE 2017
SUMÁRIO
6 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
ESTANTE
10 Dicas culturais Sugestões de filmes, histórias em quadrinhos e 
fotografias que complementam reportagens desta edição 
PONTO DE VISTA
16 Retrospectiva/Perspectiva Veja o que os principais semanários 
destacaram em seu balanço de 2016 e suas expectativas para 2017
18 Donald Trump Como os principais diários noticiaram a posse do 
novo presidente dos Estados Unidos e seu discurso à nação 
DESTRINCHANDO
20 Entenda a dívida pública O descompasso entre o quanto 
o governo brasileiro arrecada e gasta, o histórico da dívida 
pública no Brasil e o mapa do endividamento dos países 
 
DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISE 
26 Choque global Donald Trump é eleito presidente dos EUA com 
 discursos contra o livre-comércio e a cooperação internacional
28 Trump e Brexit A eleição de Trump e a saída do Reino Unido da 
União Europeia ameaçam alicerces da globalização 
32 História da globalização Os principais conceitos do fenômeno
34 Ordem antiglobal A crise no livre-comércio, o desemprego e a 
desigualdade social geram questionamentos à globalização
40 Nações desunidas Crescem os movimentos nacionalistas e 
xenófobos contra imigrantes e refugiados 
 
 
 
INTERNACIONAL
46 Guerra na Síria O conflito altera a dinâmica geopolítica do Oriente 
Médio e gera uma grave crise humanitária
54 Cuba As incertezas na ilha caribenha após a morte do líder 
histórico, Fidel Castro, e a ameaça representada por Donald Trump
58 Venezuela Politicamente dividido e afetado por desabastecimento 
e hiperinflação, o país vive uma grave crise 
62 Colômbia Após 52 anos de conflito armado, entra em vigor um 
acordo de paz entre o governo e os guerrilheiros das Farc 
66 Turquia Localizado entre a Europa e a Ásia, o país enfrenta 
divisões internas e desafios geopolíticos
68 África 25 anos após o referendo que encerrou o apartheid, o 
continente sofre com a queda de preços dos produtos que exporta 
74 ONU O novo secretário-geral pretende resgatar a capacidade da 
entidade para evitar guerras e crises humanitárias
78 Guerra da Bósnia Há 25 anos eclodia o conflito nos Bálcãs 
 
BRASIL
80 Operação Lava Jato Delação da construtora Odebrecht cria 
expectativa de denúncias que podem afetar todo o sistema político
86 Poder Judiciário A atuação recente do Supremo Tribunal Federal 
levanta a discussão dos limites de cada um dos Poderes de Estado
90 Governo Temer O governo federal lança um programa de 
reformas conservadoras em meio a escândalos políticos
96 Ditadura Militar Morre dom Paulo Evaristo Arns, ícone na luta 
contra o regime militar e seus abusos contra os direitos humanos
100 Estado Novo Há 80 anos, Getúlio Vargas iniciava uma ditadura
 
ECONOMIA
102 PEC do Teto O governo aprova uma emenda constitucional que 
congela o aumento de todos os gastos públicos por até 20 anos
108 Matriz de Energia O Congresso retira da Petrobras a exclusividade 
na exploração do petróleo do pré-sal
114 Agropecuária O agronegócio ainda é o motor da economia do país
118 Economia compartilhada Uber e Airbnb revolucionam o consumo
122 Doutrina Truman Política externa dos EUA contra a URSS faz 70 anos
 
 QUESTÕES SOCIAIS
124 Segurança pública Guerras entre facções nas prisões provocam 
barbárie e revelam a grave crise no sistema carcerário
132 Desigualdade racial Violência e discriminação nos EUA e no Brasil 
138 Urbanização Os impactos do crescimento desordenado das cidades
144 Demografia A proposta de reforma da Previdência apresentada 
pelo governo e o envelhecimento da população mundial
 
CIÊNCIAS E MEIO AMBIENTE
150 Aquecimento global Como as emissões de gases do efeito estufa 
e outras ações humanas impactam o planeta
156 Água Estiagem castiga o Nordeste e o norte de Minas Gerais
160 Doenças transmissíveis Surto de febre amarela ameaça o país, 
que já sofre com as epidemias de dengue, chikungunya e zika
SIMULADO
164 Teste 36 questões dos vestibulares sobre temas desta edição
PENSADORES
178 Paulo Freire O pedagogo que revolucionou as formas de ensinar
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AMERICA FIRST 
O então candidato 
Donald Trump 
durante a 
campanha 
presidencial em 
agosto de 2016
BRIAN SNYDER/REUTERS
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FILMES E QUADRINHOS NOS FALAM DO MUNDO ATUAL E SEUS DRAMAS CONTEMPORÂNEOS
ESTANTE
10 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
VI
CT
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JU
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AÇ
ÃO
Lembranças 
concretas
A partir da especulação 
imobiliária, Aquarius mostra 
o valor da memória afetiva
FILMES
A trama central de Aquarius, filme do diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho, é 
definida logo nos primeiros minutos 
da obra. Clara, uma jornalista e crítica 
musical aposentada, recebe a visita de 
funcionários de uma construtora, in-
teressados em comprar o apartamento 
em que vive. A intenção da empreiteira 
é demolir o Edifício Aquarius, que fica 
em frente à praia de Boa Viagem, no 
Recife (PE), e erguer um prédio de alto 
padrão. Todos os outros proprietários 
já cederam às sedutoras ofertas finan-
ceiras da construtora e se mudaram 
dali. Clara é a última moradora, que 
reluta em deixar o imóvel.
Entramos, portanto, na seara da espe-
culação imobiliária. O terreno ocupado 
pelo Edifício Aquarius é visto como uma 
mina de ouro para a construtora. Ao ad-
quirir a propriedade total daquele prédio 
antiquado na valorizada orla recifense, a 
empresa poderia construir um moderno 
edifício, que atrairia o interesse de uma 
endinheirada classe média alta. Mas 
o que a empreiteira vislumbra como 
um excelente investimento financeiro 
representa algo mais para Clara. Aquele 
apartamento é um repositório de memó-
rias de gerações inteiras de sua família, 
coisa da qual ela não está disposta a abrir 
mão por dinheiro nenhum.
Estabelecidos os papéis de mocinha e 
bandidos nesta história, o filme chega a 
flertar com o maniqueísmo – o pedante 
e inconveniente funcionário da cons-
trutora contra a senhora que defende 
o seu direito de permanecer no lugar 
onde mora. Mas Kleber Mendonça Filho 
soube driblar essa armadilha estabele-
cendo interessantes subtramas a partir 
da teia de relações humanas de Clara.
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11GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 
DI
VU
LG
AÇ
ÃO
Um dos grandes méritos de Moonlight: Sob a Luz do Luar, vencedor do Oscar de melhor 
filme em 2017, é a sutileza com que, em 
sua aparente simplicidade, a obra nos 
oferece diversas camadas temáticas. 
A partir da saga do garoto Chiron, 
acompanhamos o seu desenvolvimento 
em três momentos distintos. Na infân-
cia, o pequeno Chiron cresce em um 
subúrbio barra-pesada em Miami, nos 
Estados Unidos. Em meio às ameaças 
de outros garotos e à negligência de 
uma mãe viciada, o garoto encontra no 
traficante Juan a figura paterna com 
quem passa a compartilhar a cumplici-
dade familiar que lhe falta em casa. Na 
adolescência, Chiron permanece como 
o alvo preferido do bullying de seus 
colegas de escola, enquanto descobre 
a sua (homo)sexualidade. No terceiro 
e último ato, já adulto, Chiron tenta 
se adaptar ao mundo bruto em que 
vive, mais por necessidade do que por 
inclinação ao delito.
Essa atribulada jornada de Chiron 
nos permite múltiplos olhares sobre 
os assuntos abordados. Há o contexto 
social bem definido. Temos o garoto 
negro e pobre que frequenta a mesma 
boca de fumo que sua mãe – enquanto 
Chiron busca a atenção do traficante, 
a mãe vai atrás de drogas. Há também 
o rude ambiente escolar, que acaba 
limitando as opções de futuro e conduz 
muitos jovens à delinquência.
Podemos ver o filme também por 
seu filtro psicológico, no qual Chiron 
se vê frequentemente rejeitado – na 
família, na escola –, enquanto tateia 
cheio de receios e inseguranças o árduo 
caminho na busca por afeto. 
Por fim, a obra permite o olhar sobre a 
sexualidade. Com bastante delicadeza, 
o diretor Barry Jenkins mostra como a 
busca de Chiron por uma identidade, 
nessa longa jornada de autoconheci-
mento, está intrinsecamente relacio-
nada à descoberta e à aceitação de sua 
homossexualidade. “Quem é você, Chi-
ron?”, é uma das perguntas que o prota-
gonista ouve sem saber o que responder.
Moonlight brilha por ultrapassar o 
rótulo de filme sobre a homossexua-
lidade. Ele vai muito além. O contexto 
social áspero faz o interessante con-
traste com a sensibilidade com que o 
filme relaciona homossexualidade e 
descoberta pessoal. Junte a isso atua-
ções impecáveis de todo o elenco com 
uma bela fotografia e chegamos à con-
clusão de que o Oscar de melhor filme 
não poderia estar em melhores mãos.
MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR
Direção | Barry Jenkins Ano | 2016
Sexualidade e 
identidade
Moonlight apresenta retrato 
sensível de um garoto em 
busca de autoconhecimento
Temos as relações familiares de Clara 
com seus três filhos. Um deles tenta 
convencer a mãe a aceitar a oferta da 
construtora. O contato com a emprega-
da, por sua vez, reforça a hierarquia de 
classe. Por mais que Clara mostre ter 
uma genuína afeição pela empregada, 
as barreiras entre os dois mundos estão 
ali, sempre evidentes. A protagonista 
também não se furta a desfrutar de 
certas vantagens, como os contatos 
privilegiados com um jornalista e um 
advogado para conseguir o que deseja.
Também é interessante a forma como 
o filme explora o envelhecimento. O 
papel de Clara, interpretado de forma 
excepcional por Sonia Braga, nos apre-
senta uma senhora que foge aos padrões 
concebidos de sua idade, desfrutando 
de uma ativa jovialidade e independên-
cia. Por sua vez, é a partir da exposição 
de uma característica mais típica do 
envelhecimento que Clara dará sentido 
ao filme: o apego à memória afetiva.
O avanço da idade torna as lembran-
ças ainda mais preciosas. Uma música, 
uma foto ou um lugar recuperam me-
mórias de um passado que está sempre 
sendo revisitado por Clara. E é justa-
mente ao mergulhar nesse saudosismo 
da protagonista que Aquarius humaniza 
um tema tão, digamos, mercadológico 
como a especulação imobiliária.
Pela lógica do mercado, é o capital 
quem tem o poder. Se uma construtura 
precisa adquirir um apartamento para 
colocar seu projeto em ação, o dinheiro, 
em tese, resolveria tudo. Por isso, a resis-
tência de Clara é algo incompreensível 
para os detentores do poder financei-
ro, da mesma forma que a memória 
afetiva da protagonista é imensurável 
em termos monetários – conflito que 
é habilmente explorado em Aquarius.
AQUARIUS
Direção | Kleber Mendonça Filho Ano | 2016
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ESTANTE
12 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
QUADRINHOS
REPORTAGENS
Autor Joe Sacco
Editora Quadrinhos na Cia, 200 páginas.
Dramas 
da opressão 
Reportagens traz em 
quadrinhos episódios 
importantes da história recente
A utilização dos quadrinhos como gênero jornalístico ganha em Joe Sacco sua ex-
pressão de mais alto nível. Nascido 
em Malta em 1960, o jornalista viveu 
a maior parte de sua vida nos Estados 
Unidos e fez carreira como repórter, 
colaborando para veículos de diversos 
países. A reunião das principais histó-
rias que produziu entre 1998 e 2010 deu 
origem a Reportagens, lançado em 2012 
e publicado no Brasil no ano passado. 
Inserindo-se como personagem, o 
autor aparece em diversos momentos, 
invariavelmente munido de seu blo-
quinho de anotações. Sua apuração 
busca sempre ouvir a voz da população 
oprimida, sobretudo nas passagens 
que tratam da miséria e discriminação 
nas aldeias dos párias da Índia em 
Kushinagar, no norte do país, e da 
xenofobia e do preconceito contra os 
refugiados africanos que desembar-
cam em Malta, pequena ilha na rota 
entre o norte da África e a Europa, em 
Os Indesejáveis (imagem no alto, à dir.).
Na história de A Guerra e as Che-
chenas, o autor transparece sua difi-
culdade, como repórter, de manter-se 
como mero expectador da realidade. 
Ao registrar a situação dos refugiados 
internos da Inguchétia, região que lu-
tava por independência da Rússia no 
início dos anos 2000, durante a Guer-
ra da Chechênia, ele aceita o pedido 
de ajuda de duas senhoras carentes e, 
com isso, posiciona-se contra o possí-
vel mito de uma isenção jornalística: 
estar ali acompanhando os episódios 
demandava também vivê-los.
Em Territórios Palestinos, Sacco
pro-
duz um interessante material sobre o 
cotidiano da região e a intervenção 
militar israelense. Esse capítulo ter-
mina com Portfólio de Gaza, que não é 
uma HQ, mas imagens dos campos de 
refugiados e do cenário de destruição 
nas cidades pelos bombardeios de Is-
rael, feitos a traço, como um pequeno 
álbum de fotos de viagem.
Integram a obra passagens no Tri-
bunal de Haia, sobre a conferência que 
delimitou a relação entre os países no 
fim da Guerra da Bósnia, e também 
sobre a intervenção dos EUA no Iraque.
Reportagens promove uma cober-
tura humanizada da história e cativa 
o leitor pela riqueza com que trabalha 
os temas, possibilitando uma visão al-
ternativa e mais local de grandes pro-
blemas humanitários. Sob os traços de 
Joe Sacco, a desigualdade e a injustiça 
dos episódios retratados ganham face 
ainda mais dramática, auxiliando na 
sua compreensão e análise.
Do mesmo autor, vale a pena ler Pa-
lestina (que reúne duas de suas obras 
anteriores, Palestina – Uma Terra Ocu-
pada e Notas sobre Gaza). Em Área 
de Segurança Gorazde, história em 
quadrinhos, Sacco também registra 
a guerra civil da Bósnia, mesmo tema 
de Fax de Sarajevo, que resenhamos na 
página ao lado. 
RE
PR
O
DU
ÇÃ
O
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13GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 
Horrores de 
uma guerra
A HQ Fax de Sarajevo narra a 
Guerra da Bósnia pela ótica 
das vítimas civis no conflito
A máquina de fax era o que permitia a Ervin Rustemagić manter contato com o restante 
do mundo nas tentativas de mobilizar 
ajuda ou para relatar o cotidiano de 
um conflito que parecia não ter fim. 
O cerco à capital Sarajevo em 1992, 
episódio que dá início à Guerra da 
Bósnia, altera completamente a vida 
do editor de histórias em quadrinhos 
de origem bósnio-muçulmana. Após 
terem destruído sua casa e o estúdio 
que servia de abrigo a ele, Ervin e sua 
família passam a conviver com o medo 
e a insegurança, sob o barulho constan-
te das explosões de granadas sérvias. 
A “limpeza étnica” promovida pelos 
sérvios era implacável. O simples ato 
de sair à rua poderia ser fatal, dada a 
quantidade de bombardeios diários e 
de franco-atiradores posicionados no 
alto dos prédios, remunerados confor-
me o número de pessoas que matavam. 
Casas eram saqueadas e destruídas, 
mulheres eram tomadas como prisio-
neiras sexuais e execuções em massa 
se tornavam cada vez mais frequentes.
A falta de eletricidade ou de linhas 
telefônicas somava-se à escassez de 
água e comida. Os comboios sérvios 
controlavam as fronteiras, impedindo 
que qualquer pessoa não autorizada 
deixasse a cidade. No entanto, ficar em 
Sarajevo por mais tempo significava 
aguardar uma morte trágica e iminente.
Os 18 meses em que a família Ruste-
magić viveu de perto o horror da guerra 
são descritos com detalhes nas mensa-
gens enviadas por Ervin por meio dos 
antigos aparelhos de fac-similes (fax), 
que transformam desenhos e textos 
em papel em imagens enviadas por 
linha telefônica. Destinadas a amigos 
da indústria editorial de várias partes 
do mundo, suas mensagens retratam as 
tentativas da família de deixar o país. 
Coube ao quadrinista norte-americano 
Joe Kubert, amigo pessoal de Ervin e 
destinatário de boa parte dos fax, reu-
nir e interpretar o material utilizado 
para a criação de Fax de Sarajevo. 
Kubert possui carreira relevante 
como desenhista de quadrinhos, co-
laborando em empresas como a DC 
Comics e a Marvel. A opção do autor 
pelo formato de HQ confere à histó-
ria maior dinamismo, personifica o 
terror do conflito nas expressões dos 
personagens e nas cenas de uma Sara-
jevo arrasada pela guerra. Colocados 
na íntegra ao longo da história, os fax 
conduzem a narrativa, estabelecendo 
uma espécie de diário de guerra. 
Apesar de ter ganhado versão nacio-
nal apenas em 2016, a obra foi origi-
nalmente publicada em 1996, e venceu 
importantes prêmios internacionais de 
quadrinhos, como o Eisner e Harvey 
Awards, dos Estados Unidos, e o do 
Festival de Angoulême, na França. 
A Guerra da Bósnia completa, em 
2017, 25 anos de seu início. Foi o mais 
sangrento conflito armado na Europa 
desde a II Guerra Mundial.
FAX DE SARAVEJO
Autor Joe Kubert
Editora Quadrinhos Via Leitura , 208 páginas.
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ESTANTE
14 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
FOTOGRAFIA
Olhares que 
revelam 
problemas 
globais
Fotografias vencedoras do 
prêmio World Press Photo 
2017 dão identidade a dramas 
humanitários e questões 
geopolíticas
A foto ao lado foi registrada du-rante a inauguração de uma exposição em uma galeria de 
arte em Ancara, capital da Turquia, e 
transformou-se em um trágico incidente 
diplomático. O embaixador da Rússia na 
Turquia, Andrei Karlov, foi alvejado por 
oito tiros e morto enquanto discursava, 
em 19 de dezembro de 2016. Os disparos 
partiram de Mevlut Mert Altintas, ex- 
policial turco de 22 anos, que na ação 
proferiu menções a Alá e às crianças 
mortas em Aleppo, no norte da Síria, 
por bombardeios da Rússia na guerra 
civil síria. O episódio foi classificado 
pelo governo russo e pela comunidade 
internacional como ataque terrorista e 
agravou as relações diplomáticas entre 
a Rússia e a Turquia. O governo turco 
é contrário ao governo de Bashar al- 
Assad, enquanto o russo o apoia, e havia 
intensificado seus ataques militares em 
apoio ao ditador sírio.
A foto causa impacto pela expressão 
do atirador no momento em que foi 
feita, e por ser um flagrante registro 
jornalístico do momento exato de um 
inesperado atentado. 
O corpo do embaixador abatido pa-
rece simbolizar uma Europa incapaz 
de evitar os atentados que tem sofrido. 
Como a diplomacia é a arte da negocia-
ção, pode-se também entender a foto 
como um registro da violência armada 
se sobrepondo ao diálogo e à civilidade. 
O mesmo pode-se intepretar por esta-
rem na foto, ambos, trajando o terno 
exigido pela formalidade do evento, 
e a diferença entre eles, na imagem, é 
uma arma. 
O autor da foto é Burhan Ozbilici, 
repórter fotográfico da agência de notí-
cias Associated Press (AP) há 28 anos. 
A imagem foi a vencedora da 60ª edição 
do prêmio World Press Photo of the 
Year (Foto do Ano da Imprensa Mun-
dial), promovido pela Fundação World 
Press Photo (WPP). A organização foi 
criada em 1955 e realiza anualmente 
uma premiação internacional, selecio-
nando as melhores fotos jornalísticas.
A escolha dessa foto recebeu críticas, 
inclusive de Stuart Franklin, presidente 
da banca julgadora do evento, para 
quem ela poderia ser tomada como uma 
espécie de publicidade ao terrorismo. 
A associação entre a vítima e seu algoz 
foi classificada por Franklin em coluna 
para o jornal britânico The Guardian 
como “tão problemática de publicar 
quanto uma decapitação terrorista”. 
Ainda que controversa, a fotografia não 
perde sua relevância jornalística e tam-
bém seu valor como registro histórico.
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15GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 
As demais obras premiadas trazem 
à tona questões humanitárias, como 
retratos das guerras civis na Líbia, 
Ucrânia e Afeganistão, e da situação 
dos refugiados na rota do Mar Mediter-
râneo e no trajeto Grécia-Macedônia. 
A foto acima registra o medo da po-
pulação diante da atuação das forças 
militares do Iraque nas ofensivas de 
combate ao Estado Islâmico (EI). O 
repórter fotográfico belga Laurent Van 
der Stockt capturou a expressão de 
horror da menina iraquiana, surpreen-
dida durante uma operação militar que 
buscava membros do EI nos subúrbios 
de Mosul, no norte do país. 
Na premiação de 2017 destacou-se 
também a série fotográfica do brasilei-
ro Lalo de Almeida sobre os casos de 
microcefalia no Nordeste. Na foto ao 
lado, ele registrou o semblante triste 
e desolado da mãe que contraiu zika 
vírus durante a gestação e teve gêmeos 
com microcefalia.
Para
conferir todos os trabalhos pre-
miados nesta edição, acesse o site da 
WPP: http://www.worldpressphoto.
org/collection/photo/2017. box
DIFERENTES OLHARES As fotos premiadas que publicamos ajudam a dimensionar o 
contexto de três realidades. O olhar de fúria do ex-policial turco no momento do mortal 
ataque terrorista ao embaixador da Rússia na Turquia (à esquerda) revela o nível de tensão 
geopolítica no Oriente Médio. O horror na expressão da menina iraquiana, surpreendida na 
frente de sua casa pelo fotógrafo, retrata a vulnerabilidade das crianças em meio à guerra dos 
adultos. O olhar distante da mãe de gêmeos com microcefalia, na região de Areia, no sertão da 
Paraíba, exemplifica o drama humano diante de uma realidade difícil de aceitar e suportar
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PONTO DE VISTA
16 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
UM MESMO FATO PODE SER NOTICIADO DE MANEIRAS VARIADAS POR DIFERENTES VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO
arrow veja
Com o predomínio da cor vermelha e a ausência de chamadas, 
a revista traz uma paródia do famoso mural Guernica (1937), de 
Pablo Picasso, que retrata os horrores da Guerra Civil Espanhola.
No lugar de cavalos, touros e mulheres da tela original são re-
tratadas algumas das personalidades que se destacaram no ano, 
como o cantor e compositor inglês David Bowie (com o raio em seu 
rosto) e o pugilista norte-americano Muhammad Ali (à direita) – 
ambos morreram em 2016 e aparecem com uma lágrima no rosto. 
A caracterização e a disposição dos personagens também fazem 
referência aos fatos que protagonizaram no ano que passou. O 
recém-eleito presidente norte-americano Donald Trump (com a 
gravata que remete à bandeira dos Estados Unidos) aparece jun-
tando os lábios como se fosse beijar Dilma, numa possível alusão 
à sua fama de machista e de assediar as mulheres. A ex-presidente 
Dilma Rousseff (com o colar de pérolas) surge abaixo dele, como 
se estivesse subjugada, o que retrataria o seu impeachment. Já o 
ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ocupa 
o lugar da pessoa combalida, numa referência à sua cassação e 
posterior prisão. Ao trazer a chamada “A Guernica de 2016”, a 
revista considera que o ano que passou também nos apresentou 
desgraças e barbáries, assim como o quadro de Picasso.
arrow carta capital
Assim como Veja, Carta Capital optou por uma capa sem cha-
madas, destacando uma grande ilustração de Laerte Coutinho. 
Ela mostra uma espécie de passeata, manifestação que foi muito 
frequente em 2016. Mas, em vez de pessoas caminhando, surgem 
esqueletos montados em cavalos (que também são esqueletos), 
sugerindo a ideia de mortos-vivos – mortos, pois são caveiras; 
vivos porque estão em movimento. A imagem também lembra os 
“cavaleiros do apocalipse”, personagens bíblicos que anunciam o 
fim do mundo. Seria, então, uma referência às personalidades e 
aos acontecimentos desastrosos do ano que passou, que levarão 
a uma situação semelhante ou ainda pior no ano seguinte – “Rumo 
a 2017”, diz a frase que acompanha a imagem.
Liderando o grupo aparece a violência da polícia (o cavaleiro 
da tropa de choque com um cacetete). Ele é seguido por várias 
figuras, como os evangélicos (Bíblia em mãos), o poder judiciá-
rio (toga preta e balança da Justiça), o presidente Michel Temer 
(com a faixa presidencial), Donald Trump (cabelo loiro e chapéu de 
cowboy), a mídia (cinegrafista), a Polícia Federal (óculos escuros 
e colete preto), os empreiteiros (prédio e maleta nas mãos), os pa-
neleiros etc. Eles representariam o fim do mundo e, pior, rumam 
para 2017 sugerindo que as perspectivas continuam muito ruins.
^~^
17GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 
O fato
Para a última edição do ano, tradicionalmente, as revistas semanais realizam um balanço 
do período que termina e anunciam o 
que esperam para o que se inicia. Veja, 
Carta Capital, Época e IstoÉ optaram 
por caminhos diversos para mostrar os 
principais fatos que marcaram o ano 
de 2016 nas diferentes áreas, como 
política, economia, cultura e sociedade. 
Referências à crise política e econô-
mica nacional – o impeachment da 
presidente Dilma Rousseff e a ope-
ração Lava Jato, por exemplo – foram 
escolhas comuns e marcaram presença 
nas quatro capas. Quanto às projeções 
para 2017, Carta Capital e IstoÉ lan-
çaram suas expectativas para o ano 
novo, enquanto Veja e Época focaram 
em fazer um retrato de 2016. 
Como os quatro principais 
semanários elaboraram suas 
retrospectivas de 2016 e 
perspectivas para 2017
O ano que 
passou e o que 
está por vir
arrow época
Na linha de Veja e Carta Capital, Época também fez uma capa 
crítica a 2016, “O ano que nos acertou em cheio”, conforme 
afirma sua principal chamada.
Acompanhando a frase, um fundo preto confere tom fúne-
bre ao conjunto, e surge uma grande foto em preto e branco 
de um homem sendo socado por alguém usando uma luva 
de boxe – ou seja, trata-se de um profissional, aquele que 
não erra o soco. Portanto, o ano foi, segundo a revista, uma 
grande bofetada na cara dos brasileiros. O homem que apa-
nha usa terno e gravata, o que nos permite identificá-lo com 
um político, um executivo ou o próprio leitor da revista. Ou 
com todos esses perfis, conforme sugere o pronome “nos” 
da frase principal.
A mensagem de que o ano de 2016 só trouxe fatos ruins, 
no entanto, é contraposta por notícias mais animadoras, que 
também merecem ser lembradas, segundo sugere a revista. 
Assim, abaixo de cada uma das chamadas que trazem notícias 
negativas (“a recessão levou o país à lona”, por exemplo), a 
conjunção “mas” introduz um aspecto positivo daquele mesmo 
fato (“mas nossos governantes aprenderam a fazer conta”). 
De acordo com Época, o ano foi ruim, mas temos lições a tirar.
arrow istoé
Ao contrário dos demais semanários, IstoÉ apresenta uma 
capa otimista e foca nas perspectivas para o novo ano: um céu 
azul (indicando que tempos melhores devem vir) serve de ce-
nário para a principal chamada: “2017, o ano da reconstrução”. 
O tom esperançoso está presente também na frase que vem 
a seguir: “O que o Brasil precisa fazer para superar a crise 
política e ética, retomar a confiança e voltar a crescer”. Ou 
seja, apesar de existir a crise, a revista acredita que o país é 
capaz de superá-la e se reerguer. Ao passar essa ideia, IstoÉ 
sugere apoio ao atual governo do presidente Michel Temer.
A ideia de reconstrução é reforçada, ainda, pelos elementos 
que aparecem no interior e à volta dos algarismos 2, 0, 1 e 7 – 
tijolos, blocos de concreto, andaimes, operários trabalhando 
e um guindaste – sugerindo que 2017 está sendo reformado.
Duas chamadas na parte superior completam a capa. À es-
querda, tem destaque “O fim da era Obama”, focando em um 
dos principais acontecimentos de 2016, que foi a transição de 
governo nos Estados Unidos. À direita, uma notícia da semana 
(uma denúncia contra a ex-presidente Dilma Rousseff) destoa 
do comumente encontrado em uma retrospectiva ou edição de 
fim de ano, evidenciando a intenção de criticar a ex-presidente. 
^~^
PONTO DE VISTA
18 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
Ao tomar posse, o novo 
presidente norte-americano 
repete o discurso nacionalista 
e gera confrontos nas ruas
Donald Trump 
assume sob 
protestos 
arrow o globo
O diário carioca optou por destacar em sua manchete o caráter 
populista do novo presidente norte-americano, deixando para 
destacar nas primeiras linhas o viés nacionalista no discurso 
que Donald Trump fez dirigindo-se ao país. O sentido de popu-
lista, mais habitualmente empregado, é o de quem fala para o 
cidadão comum aquilo que ele quer ouvir. Ao usá-lo, O Globo 
expressa uma opinião editorial. Para acentuar a manchete, 
o jornal escolheu uma foto de Trump e seu vice, Mike Pense,
cada um ao lado de sua esposa, acenando serenamente aos 
populares diante da sede do Congresso. Antes da descrição da 
foto, na legenda o jornal a definiu, em negrito, como “novos 
ventos”, oferecendo ao leitor uma dupla leitura dos editores: 
não é apenas o vento que faz voar a gravata vermelha de Trump, 
mas também um vento novo na vida política e social do país. 
Abaixo da manchete, à esquerda, o jornal destaca “Mais de 
200 manifestantes são presos em violentos confrontos em Wa-
shington”. O Globo detalha que Trump atacou a classe política 
do país e manteve a retórica de blindar as fronteiras norte- 
americanas. “Trump pintou um quadro sombrio do país, focou 
nos desiludidos, prometeu erradicar o extremismo islâmico e 
colocou os EUA como prioridade total”. 
À direita da foto, o jornal colocou chamadas para quatro tex-
tos de opinião que reforçam a avaliação negativa de Trump, 
dizendo ser “um presidente errático e irresponsável”, “refém” 
do personagem que ele criou, e adjetivando negativamente seu 
discurso como uma versão de “sua verborragia de campanha”.
O fato
O empresário Donald Trump assumiu a Presidência da Re-pública dos Estados Unidos 
em 20 de janeiro de 2017 e, após ser 
empossado pelo Congresso, fez um dis-
curso em tom agressivo à multidão que 
o aguardava do lado de fora do edifício. 
Trump repetiu parte das promessas de 
campanha, em que pregou um naciona-
lismo calcado em ameaças aos demais 
países, que segundo ele exploram os 
Estados Unidos, prometendo tornar o 
país grande novamente. Em afirmações 
consideradas populistas pela imprensa, 
afirmou que trará de volta ao país as 
indústrias norte-americanas instaladas 
em outras nações na globalização, e 
junto com elas os empregos. 
Ao longo da campanha eleitoral 
Trump fez declarações machistas e 
xenófobas contra árabes, islâmicos e 
latino-americanos, que estão na ori-
gem dos protestos no dia de sua posse. 
Veja aqui como noticiaram a posse e 
o discurso de Donald Trump os três 
maiores jornais do país. 
^~^
19GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 
arrow folha de s.paulo
Ao destacar a agressividade de Donald Trump, como um 
preâmbulo no texto da manchete, o diário paulista também 
escolhe contextualizar para o leitor a animosidade presente 
no dia da posse. Na foto escolhida, vê-se um Trump sisudo 
por uma pequena brecha na porta do prédio do Congresso 
do país, o Capitólio. Trump parece enjaulado em um conto de 
fadas que ele mesmo criou, viés dado pelas cortinas vermelhas. 
A legenda explica que a foto foi feita antes da posse efetiva. 
Complementa a manchete o texto: “Empresário sucede Obama 
com a mesma retórica conservadora e populista que o alçou 
à Presidência dos EUA”.
O jornal traz ao leitor um extenso texto, em três largas colu-
nas. Cita que Trump usou “a mesma retórica agressiva de sua 
campanha vitoriosa”, mas evita o termo nacionalista, optando 
apenas por repetir trechos a respeito no discurso presidencial: 
“Todas as decisões sobre comércio, impostos, imigração e temas 
internacionais serão tomadas para beneficiar os trabalhadores 
e famílias americanas, disse o republicano...”. O jornal destaca 
que Trump assume com a maior taxa de rejeição a um presi-
dente norte-americano, de 52%, e que o empresário é o mais 
velho e mais rico já eleito, e o único que nunca divulgou seu 
imposto de renda – sugestão de que ele tem algo a esconder.
Complementam o conjunto chamadas para três artigos de 
opinião, destacando o que diz a mídia norte-americana sobre 
sua posse, que seu discurso ainda parece eleitoreiro e que seu 
patriotismo poderá ser prejudicial ao Brasil. 
arrow o estado de s. paulo
O tradicional diário paulista optou por enfatizar o discurso de 
Trump à nação no título, no texto e também na foto escolhida, na 
qual se vê um presidente agressivo e de punho cerrado, contra a 
imagem embaçada de Barack Obama atrás dele. O jornal optou 
por uma manchete que começa com a ressalva: “Sob protestos, 
Trump assume...”, colocando protagonismo tanto nos protestos 
quanto no discurso da posse. Para acentuar isso, uma imagem 
de limusine em chamas foi colocada recortando a foto principal, 
embaixo à esquerda. A legenda é única para as duas fotos. Com-
plementando a manchete, o jornal destacou: “Presidente diz 
que, de agora em diante, só haverá a ‘América em primeiro lugar’. 
Ele prometeu resgatar a supremacia americana com segurança 
de fronteiras, empregos e restituição aos que foram ‘roubados’. 
Mais de 200 pessoas são presas em Washington”.
No texto introdutório, O Estado de S. Paulo destaca que Trump 
“repetiu promessas populistas e reforçou o ultranacionalismo de 
sua campanha”, “descreveu os EUA como um país explorado por 
outras nações”. O jornal procurou contextualizar o leitor sobre 
outros fatos envolvendo a posse de Trump, além da ênfase nos 
protestos. O diário cita mudanças feitas nos sites oficiais antes 
do evento, retirando conteúdos de prioridades da gestão de Oba-
ma. Completam o conjunto, abaixo da foto principal, chamada 
para três artigos opinativos, quanto aos aspectos negativos do 
discurso, a preocupação dos dirigentes da Europa, além dos pos-
síveis prejuízos para o Brasil das promessas de protecionismo 
econômico de Trump.
^~^
ENTENDA AS CONTAS PÚBLICAS 
DO GOVERNO FEDERAL
O ORÇAMENTO FEDERAL
O orçamento federal é elaborado todos os anos 
pelo governo, em uma lei que prevê os recursos 
que serão arrecadados (receitas) e onde esses 
recursos serão direcionados (despesas). 
DE ONDE VEIO O DINHEIRO EM 2016 
Receitas, em R$ bilhões
QUANTO O GOVERNO
TINHA PARA GASTAR EM 2016
A CARGA TRIBUTÁRIA
Uma das principais fontes de receitas do governo 
federal é a arrecadação de tributos (impostos, 
taxas e contribuições). A carga tributária 
brasileira é de 42% do Produto Interno Bruto 
(PIB). Além de elevada, ela é injusta. Veja no 
gráfico abaixo como os tributos sobre bens de 
consumo, que atingem principalmente a 
população com menor renda, representam 
quase metade da carga tributária. 
Imposto
de Renda
Cofins
CSLL
PIS/Pasep
Outros 
impostos
Arrecadação 
da Previdência
Receitas não
administradas
pela Receita
Federal 
 
341,1
(25,9%)
204,7
(15,6%)
68,1
(5,2%)
151,9
(11,6%)
358,1
(27,2%)
137,2
(10,4%)
53,9
(4,1%)
RECEITA LÍQUIDA
R$ 1,09
TRILHÃO
Transferências
-226,8
Incentivos fiscais
-0,16
Receita total
1.315
Total de
Impostos
819,7
(62,4%)
Deste total é 
preciso descontar 
os repasses e 
incentivos fiscais
COMPOSIÇÃO 
DA ARRECADAÇÃO 
TRIBUTÁRIA (2015)*
Consumo
Salários
Renda
Propriedade
Transações 
financeiras
49,7%
25,8%
18,3%
4,4%
 1,8%
AS RECEITAS
Veja na barra ao lado como quase dois terços 
das receitas do orçamento federal vêm do 
recolhimento de impostos, dos quais 26% 
representam a fatia do imposto de renda. 
Cofins, CSLL e PIS/Pasep formam as chamadas 
contribuições sociais, que o governo retém 
diretamente na fonte pagadora.
* Inclui impostos federais, 
estaduais e municipais
Fontes: Receita Federal e Ministério da Fazenda
DESTRINCHANDO
NO ESTUDO E NO DIA A DIA, GRÁFICOS, MAPAS E TABELAS TRAZEM MUITAS INFORMAÇÕES
20 GEATUALIDADES | 1º semestre 2017
^~^
QUANTO O GOVERNO
GASTOU EM 2016
PARA ONDE FOI O DINHEIRO
Despesas, em R$ bilhões
AS DESPESAS
Veja na barra ao lado como a 
Previdência é responsável por quase 
metade dos gastos federais. As 
despesas discricionárias envolvem os 
valores direcionados aos ministérios e 
outras ações. Apesar de obrigatórias, 
podem variar de ano a ano, conforme a 
necessidade identificada no 
planejamento orçamentário.
DE SUPERÁVIT A DÉFICIT
Veja nas linhas do gráfico acima como as 
receitas e as despesas crescem de forma 
contínua desde 1997. Entre 1998 e 2013, o Brasil 
arrecadou mais do que gastou,
obtendo 
superávits primários. A partir de 2014, as 
despesas passaram a superar as receitas, e o 
governo registrou déficit primário por três anos 
consecutivos. Com isso, os juros da dívida não 
foram pagos e se acumularam. 
DESPESA LÍQUIDA
R$ 1,24 
TRILHÃO
–R$ 154,2 
BILHÕES
507,9
(40,9%)
257,9
(20,8%)
192,9
(15,5%)
270,7
(21,8%)
Previdência
Funcionários 
públicos
23,3
56,0
49,0
17,6
5,6
41,4
1,9%
4,5%
3,9%
1,4%
0,5%
3,3%
Outras despesas obrigatórias
 Subsídios, subvenções, Proagro
 Abono e seguro-desemprego
 Benefícios assistenciais (inclui Bolsa Família)
 Desonerações da Previdência
 Complemento do FGTS
 Outros
99,8
34,5
32,1
42,0
62,3
8,0%
2,8%
2,6%
3,4%
5,0%
Despesas discricionárias do Executivo
 Ministério da Saúde
 Ministério da Educação
 Ministério do Desenvolvimento Social
 PAC/Minha Casa Minha Vida
 Outros
1,9
8,2
2,9
0,2%
0,7%
0,2%
Despesas discricionárias dos outros Poderes
 Legislativo
 Judiciário
 Ministério Público
RESULTADO PRIMÁRIO
DÉFICIT
-4
-2
0
2
4
0
400
800
1.200
1.600
201620051997
Resultado primário
Receita
Despesa
RECEITAS E DESPESAS
(1997-2016)
13,0
(1%)
RESULTADO PRIMÁRIO
É a diferença entre o que o país arrecada e 
o que ele gasta, descontando o pagamento 
com os juros da dívida.
DÉFICIT PRIMÁRIO 
Ocorre quando as despesas ultrapassam
as receitas.
SUPERÁVIT PRIMÁRIO 
Ocorre quando as receitas são maiores que 
as despesas. Esse dinheiro economizado é 
utilizado para reduzir a dívida, pagando os 
juros que se acumulam.
Em
 re
ai
s
Em
 %
 d
o 
PI
B
Uma conta
que não fecha
Ao gastar mais do que
arrecada, o governo brasileiro
g qq
fica mais endividado e perde
gg
a capacidade de promover o 
p
desenvolvimento econômico
p pp
Por Marcelo Soares e Mario Kanno/MultiSP
T odos os anos, o governo brasi-leiro planeja um orçamento no qual projeta o quanto espera 
arrecadar e o quanto pretende gastar. 
Quando o governo gasta mais do que
arrecada, ele produz o chamado déficit 
orçamentário – sinal de que faltou di-
nheiro para cobrir as despesas públicas. 
Para tapar esse buraco nas contas, o go-
verno precisa pedir empréstimos, que é o
que alimenta a chamada dívida pública.
Esse desequilíbrio é uma situação 
muito comum na maioria dos países. 
Afinal, há momentos em que a sociedade
necessita de investimentos que superam 
a capacidade do governo de aumentar as
receitas. O problema se dá quando o go-
verno começa a se endividar para pagar 
despesas corriqueiras e se vê obrigado a 
abandonar as políticas necessárias para 
desenvolver a economia.
É o que acontece no Brasil desde
2014, quando os gastos passaram a su-
perar as receitas. Entenda nos gráficos 
abaixo como se dá esse descompasso 
nas contas públicas.
21GEATUALIDADES | 1º semestre 2017 
^~^
A EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL NO BRASIL (EM BILHÕES DE REAIS)
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
O IMPACTO DO DÓLAR NA DÍVIDA
Entre 1998 e 2008, boa parte da 
dívida brasileira estava indexada ao 
câmbio. Ou seja, quanto maior o 
valor do dólar, maior a dívida. Isso 
explica o salto da dívida em 2002, 
quando a cotação do dólar explodiu.
O IMPACTO DOS JUROS NA DÍVIDA
Em 2008, o Brasil quitou a sua dívida 
externa e a maior parte da dívida 
passou a ser indexada pelos juros. 
Ou seja, agora, quanto maior a taxa 
Selic, mais rápido cresce a dívida 
brasileira. 
GOVERNO FHC 1 FHC 2 LULA 1 LULA 2
A LINHA AZUL, referente à dívida pública nominal, sinaliza o 
seu valor em cada ano e a sua evolução no período entre 
1996 e 2016 – ela mostra um crescimento constante. 
Já a LINHA VERMELHA, que indica o valor da dívida corrigida 
pela inflação, leva em consideração a elevação dos preços no 
período. Dessa forma, ela permite observar quanto a dívida 
em qualquer ano no período valeria nos valores atuais. Este 
indicador é o mais apropriado para notar o impacto da 
dívida em cada período específico. Assim é possível observar 
momentos de maior crescimento, estabilidade ou mesmo 
queda da dívida em termos reais.
1997-1998 – CRISES ASIÁTICA E RUSSA
Para evitar a fuga de capitais estrangeiros 
devido à crise asiática, que afetou as 
economias no mundo todo, o Brasil 
elevou sua taxa básica de juros a 38% ao 
ano em dezembro de 1997. Como boa 
parte da dívida era corrigida pela taxa de 
juros, ela disparou e manteve a tendência 
de alta por muitos anos.
2002 – ELEIÇÃO DE LULA
Durante a campanha presidencial, a perspectiva de vitória do 
candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, agravou a crise cambial – 
o dólar chegou a quase 4 reais. O mercado financeiro temia que o 
Brasil desse um “calote” na dívida caso Lula vencesse. Mas, ao tomar 
posse, Lula adotou uma política rigorosa de controle das contas 
públicas, economizando dinheiro para amortizar a dívida.
2008 – CRISE MUNDIAL 
Como resposta à crise econômica mundial, o governo facilitou 
as condições de crédito, forneceu isenções fiscais à indústria e 
ampliou os gastos públicos. Isso aumenta a dívida, porque o 
governo passa a gastar mais e a arrecadar menos. O governo 
também quitou sua dívida com o FMI. A dívida interna passa a 
pesar mais do que a externa – e os juros passam a ter mais 
influência na dívida do que o câmbio.
Fonte: Ministério da Fazenda
Valor atualizado pela inflação (IPC-A)Valor nominal da dívida
DÓLAR
Média anual, em R$
0
1
2
3
4
2016201020001996
3,62 3,35
3,87
0,85
JUROS
Média anual da Selic, em %
0
10
20
30
40
2016201020001996
39,87
13,61
1999 – DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL
A partir de 1998, a dívida pública 
passa a ficar mais atrelada ao dólar. 
Com a maxidesvalorização do real 
em relação ao dólar adotada pelo 
presidente Fernando Henrique 
Cardoso no ano seguinte, a dívida 
subiu ainda mais.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
2008200720062005200420032002200120001999199819971996
1.157,3
2.187,7
653,6
1.865,0
251,7
886,0
22 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
DESTRINCHANDO
A evolução 
da dívida
Entre os fatores que 
interferem no endividamento 
do Brasil estão choques 
externos, aumento dos gastos 
públicos e a variação de 
câmbio e juros
A dívida pública é o dinheiro que o Estado toma empres-tado para cobrir a diferença 
entre o que gasta e o que arrecada no 
orçamento federal. No Brasil, esse valor 
atingiu 3,112 trilhões de reais em 2016. 
Mas todo esse montante não surgiu da 
noite para o dia. O país deve dinheiro 
a investidores e bancos nacionais e 
estrangeiros desde que surgiu como 
nação, em 1822, quando pediu emprés-
timos no exterior para cobrir despesas 
devidas pela colônia.
Mas mensurar a evolução da dívida 
brasileira não é uma tarefa simples. Isso 
porque o Brasil já teve nove moedas 
desde o Império. Toda essa atribulada 
história do dinheiro no Brasil dificulta 
uma comparação mais precisa do en-
dividamento brasileiro em diferentes 
períodos históricos. 
Ainda assim, é possível identificar 
alguns momentos em que a dívida deu 
saltos significativos. Exemplos disso 
são o financiamento para a entrada do 
Brasil na II Guerra Mundial, em 1942; 
^~^
0
600
1.200
1.800
2.400
3.000
20162007
Dívida interna
Juros
Dívida externa
COMPOSIÇÃO
DA DÍVIDA 
(R$ bilhões)
23,1%
Bancos
25,1%
Previdência
14,3%
Fora do país
5,5% Governo
4,6% Seguradoras
5,4% Outros
22,1%
Fundos
OS CREDORES DA
DÍVIDA BRASILEIRA
DILMA 1 DILMA 2 TEMER
3,1
TRILHÕES
DE REAIS
2014 – DÉFICIT NO 
ORÇAMENTO
Após seguidos 
aumentos nos gastos 
públicos, a conta chega: 
são três anos 
consecutivos de déficit 
primário. Sem conseguir 
economizar para pagar 
os juros, que
voltam a 
patamares elevados, a 
dívida dispara.
2011 – NOVA MATRIZ 
ECONÔMICA
A presidente Dilma 
Rousseff mantém as 
políticas de estímulo 
econômico ao reduzir os 
juros e intensificar a 
concessão de crédito. Para 
conter a inflação, o 
governo segura as tarifas 
de energia elétrica e dos 
combustíveis. 
DÍVIDA EXTERNA
Em % do total da dívida
0
10
20
30
40
2016201020001996
30 30,2
4,1
TÍTULOS PÚBLICOS DA DÍVIDA
Para financiar a dívida, o governo emite 
títulos públicos. Funciona assim: o governo 
vende esse título para investidores e utiliza 
os recursos para pagar os empréstimos 
vencidos. Quem adquire os títulos recebe 
depois de um tempo o valor da compra mais 
os juros. Bancos, fundos de investimento e de 
previdência são os maiores credores da 
dívida – eles compram os títulos com o 
dinheiro de seus investidores esperando um 
retorno financeiro com essa aplicação.
JUROS DA DÍVIDA
Quando há déficit primário, o governo é 
obrigado a tomar empréstimos para 
conseguir pagar as contas, aumentando 
ainda mais a sua dívida e os juros. 
Em 2016, os gastos com os juros da dívida 
foram de 318 bilhões de reais, o que 
corresponde a 13% do montante geral. Esse 
valor é mais do que o dobro das despesas 
com saúde e educação somadas.
20162015201420132012201120102009
1.694,0
2.547,4
3.112,9
A QUEDA DA DÍVIDA EXTERNA
Em 2002, 30,2% do endividamento 
no país era contraído no exterior. 
Essa situação mudou bastante. 
Atualmente, apenas 4,1% da dívida 
é externa. Isso significa que de 20 
reais que o Brasil deve, 19 reais 
representam a dívida interna.
23GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 
os empréstimos tomados pelo gover-
no para aumentar os gastos públicos 
durante a ditadura (1964-1985); e a 
escalada da dívida nos anos 1980, em 
virtude das altas taxas internacionais 
de juros e da elevada cotação do dólar. 
Apenas a partir de 1994, com a ado-
ção de uma nova moeda, o real, é pos-
sível traçar a evolução da dívida em ba-
ses comparáveis. A partir daí, choques 
externos e fatores como o câmbio e os 
juros influenciaram o valor da dívida, 
como você pode acompanhar abaixo.
DÍVIDA INTERNA E EXTERNA
A dívida interna representa tudo 
aquilo que o governo deve a cre-
dores residentes no próprio país 
e no exterior. É paga em moeda 
nacional, embora parte do valor 
possa estar indexado ao dólar.
A dívida externa é a soma dos 
débitos contraídos de emprés-
timos no exterior. Ela é paga 
em moeda estrangeira.
^~^
BRASIL
O setor público somado deve um 
valor superior a 70% de toda a 
riqueza produzida no país. 
Embora seja difícil estimar um 
limite considerado aceitável, o 
que preocupa é a trajetória de 
alta do indicador, maior do que 
outras economias emergentes.
GRÉCIA
A Grécia foi o país europeu mais 
afetado pela crise da dívida. 
O país fez pesados empréstimos 
para financiar o crescimento e, 
quando a crise estourou, não 
obteve mais crédito. A nação 
recorreu a órgãos como o FMI 
para financiar sua dívida.
71,0
ALEMANHA
105,2
EUA
89,0
REINO UNIDO
96,1
FRANÇA
17,5
CHILE
54,0
MÉXICO
99,3
ESPANHA
132,7
ITÁLIA
24,2
PARAGUAI
73,7
BRASIL
89,0
EGITO
176,9
GRÉCIA
33,8
EQUADOR
52,1
ARGENTINA
49,8
ÁFRICA
DO SUL
O MAPA-MÚNDI DA DÍVIDA PÚBLICA
0 50 100 150 200 250
Relação dívida/PIB, em %
52
ARGENTINA
O país decretou a moratória da 
dívida externa em 2001, mas 
renegociou o débito com os 
credores nos anos seguintes. 
Ainda assim, o histórico de 
endividamento preocupa. Além 
disso, o governo elevou a dívida 
para financiar as províncias.
3
UNIÃO EUROPEIA
A crise de 2008 evidenciou o 
problema da dívida no bloco. 
Entre 2001 e 2008, países como 
Espanha e Itália elevaram os 
gastos públicos e acumularam 
dívidas. Alemanha, Reino Unido e 
França têm economias mais 
sólidas, apesar da dívida elevada.
4
ESTADOS UNIDOS
A dívida do país representa mais 
do que tudo o que a sua 
economia produz em um ano. 
Mas o seu histórico de crédito e o 
fato de ser a principal potência 
mundial faz com que os títulos 
norte-americanos sejam um 
investimento bastante seguro.
1
1
2
3
5
4
24 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
DESTRINCHANDO
Um planeta 
endividado
Conheça os países com as 
maiores dívidas do mundo em 
relação ao tamanho de suas 
economias e saiba como uma 
conta negativa pode afetar de 
forma diferente cada nação
Praticamente não existe um país no mundo que não esteja en-dividado. Mas ter dívidas nem 
sempre representa um problema. Au-
mentar os gastos públicos pode ser 
uma forma de os governos estimularem 
a economia em momentos difíceis e 
promover ações sociais ou obras que 
atendam às necessidades mais urgentes 
da população. E para isso, muitos países 
recorrem a empréstimos ou financia-
mentos para cobrir eventuais buracos 
nas contas públicas.
A questão é saber como essa dívida 
será administrada no decorrer dos anos 
e se o país possui indicadores econômi-
cos sólidos o suficiente para lidar com 
o tamanho do seu endividamento. Se a 
nação possui uma economia saudável, 
o endividamento não chega a ser um 
problema, já que os credores sabem que 
o governo tem condições de honrar seus 
compromissos. É o que acontece com o 
Japão. Com uma das economias mais 
dinâmicas do planeta, mesmo sendo 
detentor da maior relação entre dívida 
^~^
CHINA
Em 2009, para minimizar os 
efeitos da crise econômica, o país 
elevou os gastos e as empresas 
públicas se endividaram 
ferozmente. Hoje, o governo tem 
oferecido crédito fácil para 
estimular a economia, o que 
eleva ainda mais a dívida.
JAPÃO
A relação entre dívida e PIB é a 
mais alta do mundo. No entanto, 
a economia do Japão é sólida, 
com um alto nível de poupança, o 
que dá segurança financeira. A 
dívida se encontra em bancos 
nacionais, resguardando o país 
de choques externos.
37,9
COREIA 
DO SUL
42,9
CHINA
248,0
JAPÃO
69,1
ÍNDIA
16,4
RÚSSIA
6
7
6
7
RELAÇÃO DÍVIDA/PIB E AVALIAÇÃO DE CRÉDITO
(PAÍSES SELECIONADOS)
Os países mais à direita no gráfico, com nota mais alta do que BA1, 
são considerados estáveis para investimentos. Veja como o Brasil 
está pouco abaixo da nota de corte. Por sua vez, quanto mais alto no 
gráfico, maior é a relação dívida/PIB. A Grécia, com elevado grau de 
endividamento, ficou com a pior nota. Já o Japão, apesar de possuir 
uma grande dívida, é considerado um país seguro financeiramente. 
A relação dívida/PIB do Brasil atingiu em 2015 o maior valor dos 
últimos dez anos, mas o país já enfrentou situações mais duras. Em 
1989, o indicador superou 100% como resultado de uma década de 
crise. Pior que isso, só em 1884, quando a renegociação das contas 
em virtude da Guerra do Paraguai fez a dívida explodir.
Nota da agência Moody’s
C B3 BA1 A2 AA
D
ív
id
a 
/P
IB
D
ív
id
a 
to
ta
l/
PI
B
250
0
50
100
150
200
África do Sul 
Alemanha
Argentina
BRASIL
Chile
China
Coreia do Sul
Egito
Equador
Espanha
EUAFrança
 
Índia
Itália
Japão
México
Paraguai
Reino Unido
Rússia
20152000198019601940192019001880
EVOLUÇÃO DA RELAÇÃO DÍVIDA/PIB DO BRASIL (%)
0
40
80
120
160
120,7
1884
21,9
1961
102,9
1989
73,7
2015
51,6
1933
Fontes: FMI e Trading Economics
Grécia
25GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 
e PIB, os japoneses estão longe de ser 
um país falido, ainda que o endivida-
mento cause preocupação.
Já se o país não possui bons indica-
dores econômicos e gasta descontro-
ladamente, as condições para se obter 
um empréstimo são mais complicadas. 
Quando instituições como o Fundo Mo-
netário Internacional (FMI) são cha-
madas para fornecer socorro financeiro 
a algum governo,
a primeira receita é 
cortar gastos, como os do funcionalismo 
e os da previdência. Foi assim na Grécia, 
um país que esteve à beira de quebrar e 
que hoje patina para reequilibrar suas 
contas e retomar o crescimento.
A credibilidade financeira dos países 
é medida pelas chamadas “agências de 
risco”, como a Moody’s. Elas atribuem 
uma nota aos países, como forma de 
sinalizar o risco aos investidores. Os 
países mais bem avaliados por essas 
agências possuem uma espécie de ates-
tado de que não darão calote na dívida 
pública. Já os com pior avaliação têm 
dificuldades em obter crédito. box
A RELAÇÃO DÍVIDA/PIB
A principal forma de mensurar o 
nível de endividamento é comparar 
o montante da dívida pública com 
toda a riqueza que determinado 
país produziu em um ano, ou seja, 
com o Produto Interno Bruto (PIB). 
Dessa forma é possível saber o im-
pacto da dívida de acordo com o ta-
manho da economia de cada país.
^~^
^~^
global
Vitorioso nas eleições presidenciais norte-
americanas, Donald Trump desafia a ordem 
globalizada com um discurso contra o livre-comércio, 
a cooperação entre nações e os imigrantes
por Cláudio Soares / infográficos Multi/SP
^~^
DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISE
28 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
A eleição de Donald Trump 
como presidente dos EUA e o 
processo de saída do Reino 
Unido da União Europeia 
colocam em xeque 
a globalização
Um desafiante 
na Casa Branca
SOB NOVA DIREÇÃO O presidente dos EUA, Donald Trump, acena durante sua cerimônia de posse em Washington, em 20 de janeiro de 2017
oite de 8 de no-
vembro de 2016, 
Estados Unidos 
(EUA). Após o 
fechamento das 
seções eleitorais, 
era chegada a 
hora da apura-
ção dos votos. 
Em algumas ho-
ras, o mundo iria 
conhecer quem seria o novo líder da 
maior potência econômica e militar 
pelos próximos quatro anos. Se as elei-
ções presidenciais nos EUA já chamam 
a atenção de todo o planeta, aquela 
votação em particular tinha um atrativo 
a mais: a candidatura de Donald Trump 
pelo Partido Republicano. 
O rico empresário, que fizera fortuna 
no ramo imobiliário, é afeito ao mundo 
das celebridades, sendo mais conheci-
do como apresentador do reality show 
O Aprendiz do que por suas posições 
políticas. Havia entrado na disputa 
como franco-atirador, desafiando até 
mesmo as principais lideranças de seu 
partido para sair como candidato.
Do outro lado da disputa estava 
Hillary Clinton, do Partido Demo-
crata. Mulher do ex-presidente Bill 
Clinton, Hillary tinha no currículo a 
passagem por expressivos cargos pú-
blicos como senadora e secretária de 
Estado – credenciais que ajudavam a 
mantê-la sempre como favorita nas 
pesquisas eleitorais.
A possibilidade de o desafiante repu-
blicano ocupar a Casa Branca parecia 
remota. Sem apoio em seu partido, ban-
cou boa parte da campanha com recur-
sos próprios. Além disso, a candidatura 
de Trump foi cercada de escândalos. 
Declarações contra mexicanos e mu-
çulmanos e o vazamento de um áudio 
no qual dizia impropérios sobre como 
tratar uma mulher, renderam-lhe acu-
sações de ser xenófobo e misógino. Sua 
campanha não naufragou por pouco.
Mas, quando o mundo começou a 
acompanhar em tempo real a apuração 
dos votos, ficou evidente que a disputa 
seria acirrada. Nas primeiras horas 
do dia 9 de novembro veio o anúncio: 
Donald Trump, de 70 anos, havia sido 
eleito presidente dos EUA.
JI
M
 B
O
U
RG
/R
EU
TE
RS
APONTE O CELULAR PARA AS 
PÁGINAS E VEJA VIDEOAULA 
SOBRE DONALD TRUMP E O 
LEGADO DE BARACK OBAMA 
(MAIS INFORMAÇÕES NA PÁG. 5)
^~^
29GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 
RETIRADA O ex-primeiro-ministro britânico David Cameron e sua família deixam a residência oficial em Londres, após a vitória do Brexit
A vitória do republicano deixou o 
mundo estupefato. Isso porque algumas 
de suas promessas de campanha, se 
colocadas em prática, teriam o efeito 
de indispor os EUA com os governos de 
diversas nações. Trump disse que iria 
construir um muro na fronteira sul do 
país, para impedir a entrada de imigran-
tes ilegais vindos do México. Declarou 
que barraria a entrada de refugiados, es-
pecialmente muçulmanos. Ainda amea-
çou iniciar uma guerra comercial com 
a China e rever a participação dos EUA 
em acordos de livre-comércio.
Também anunciou que gostaria de res-
tringir a abrangência das parcerias mili-
tares com aliados históricos, como Japão, 
Coreia do Sul e Arábia Saudita. Além 
disso, é crítico da Otan, a aliança militar 
que os EUA mantêm com as nações da 
Europa Ocidental principalmente.
São promessas que representam um 
desafio ao paradigma da globalização. 
Aquela ideia de um mundo integrado, 
em que prevalecem o livre movimen-
to de pessoas, mercadorias e capitais, 
encontrou um desafiante disposto a 
romper com essas conexões.
Sob o lema “America 
First”, Trump quer 
reforçar a posição 
econômica do país em 
relação a outras nações
“America First”
Em qualquer disputa eleitoral, a in-
satisfação com a situação econômica 
costuma abrir espaço para o avanço 
de novatos na política. Desde a crise 
econômica de 2008, quando o mundo 
todo foi abalado pelo estouro da bo-
lha imobiliária (veja mais na pág. 34), 
os EUA tentam se recuperar. Sob a 
presidência de Barack Obama (2009-
2017), o país até retomou o crescimento 
econômico e o nível de emprego, mas a 
renda permaneceu estagnada. Foi nesse 
cenário que a candidatura de Trump 
sacudiu as eleições norte-americanas. 
Enquanto Hillary era vista como a con-
tinuidade do sistema político vigente, 
o establishment, Trump surgia como 
o forasteiro impetuoso, que disparava 
pesadas críticas e até xingamentos aos 
políticos que conduziam o país.
Para além do personagem polêmico, 
Trump foi capaz de seduzir uma expres-
siva fatia do eleitorado interessado em 
sua plataforma política. Um dos lemas 
de sua campanha foi “America First”, 
algo como “América em primeiro lugar”. 
Essa marca que Trump quer imprimir 
em seu governo simboliza a ênfase em 
medidas para reforçar a posição econô-
mica do país diante de outras nações. 
Um exemplo: atribui-se o fechamento 
de diversas vagas de operários norte- 
americanos à assinatura do Acordo de 
Livre Comércio da América do Norte 
(Nafta), o bloco econômico formado por 
EUA, Canadá e México. Esse tratado 
permitiu que empresas norte-americanas 
se transferissem para o México e empre-
gassem a mão de obra local, mais barata. 
Durante a campanha, Trump disparou 
contra o Nafta e prometeu intimar os exe-
cutivos das empresas norte-americanas 
a abrir vagas nos EUA, em vez de levar 
a produção e os empregos para outras 
nações (veja mais na pág. 35).
ST
EF
AN
 W
ER
M
U
TH
/R
EU
TE
RS
^~^
DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISE
30 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
HILLARY
TRUMP
232
306
2016
X
OBAMA
ROMNEY
332
206
2012
X
COMO TRUMP GANHOU
Ele teve mais votos 
entre os homens 
brancos, mais velhos, 
sem nível superior e de 
classe média.
O CINTURÃO DA FERRUGEM 
Wisconsin, Michigan, Iowa, Ohio e 
Pensilvânia fazem parte do 
chamado “rust belt” (“cinturão da 
ferrugem”), por abrigarem antigas 
áreas industriais, hoje decadentes. 
Nessas regiões, onde por décadas 
os democratas venceram, Trump foi 
vitorioso. O eleitorado democrata 
das grandes cidades desses estados 
se absteve ou mudou seu voto em 
favor de Trump. 
ESTADO DECISIVO
Na Flórida, Trump teve 4,6 milhões 
de votos, ante 4,5 milhões para 
Hillary. Isso garantiu-lhe os 
29 delegados do estado no Colégio 
Eleitoral. Analistas dizem que essa
apertada vitória, também não 
prevista nas pesquisas, deveu-se 
basicamente à mobilização do 
eleitorado republicano branco, 
em contraposição a um 
menor engajamento dos 
apoiadores democratas.
Flórida
Wisconsin
Michigan
Iowa
Ohio
Pensilvânia
Partido Democrata
Partido Republicano
O VOTO NAS ELEIÇÕES AMERICANAS
Por raça
Brancos
Negros
Por faixa etária
18 a 44 anos
Mais de 45
Por escolaridade
Ensino Médio ou menos
Superior incompleto
Superior completo
Por renda anual
Menos de 50 mil dólares
De 50 mil a 99.999 dólares
100 mil dólares ou mais
TRUMPHILLARY
37
89
53
44
46
43
49
53
46
47
57
8
39
52
51
51
44
41
49
47
PERFIL DO VOTO (%)OS VENCEDORES EM CADA ESTADO E TOTAL DE DELEGADOS ELEITOS Maior taxa
Fonte: CNN
Quem votou em Trump
A análise do perfil dos eleitores de 
Trump ajuda a compreender a estra-
tégia do republicano e as razões que 
o levaram à vitória. De modo geral, é 
composto de homens brancos, mais 
velhos, sem formação universitária. 
Trata-se de um dos estratos da popu-
lação norte-americana que mais foi 
afetado economicamente nos últimos 
anos, com o achatamento da renda e a 
falta de perspectivas de ascensão social. 
Geograficamente, a insatisfação des-
ses eleitores pode ser explicada pela 
alteração do perfil eleitoral em seis es-
tados nos quais os democratas haviam 
vencido em 2012 e que deram maioria 
a Trump em 2016: Flórida, Wisconsin, 
Michigan, Iowa, Ohio e Pensilvânia. 
Bastou isso para que garantisse os de-
legados de que precisava para se tornar 
presidente. Os cinco últimos fazem 
parte do chamado rust belt (“cinturão 
da ferrugem”), que abriga antigas áre-
as industriais em que há atualmente 
altos níveis de desemprego, causados 
pelo fechamento de indústrias (veja 
infográfico acima).
Como a eleição nos EUA é indireta, a 
vitória de Trump nesses estados-chave 
carimbou o triunfo do republicano, 
mesmo tendo menos votos populares 
do que Hillary (veja boxe ao lado). Com 
essa estratégia, o empresário buscou 
atingir uma significativa parcela da 
população constituída por cidadãos 
para os quais a globalização trouxe 
consequências indesejáveis, como a 
perda de empregos industriais. Foi o 
suficiente para garantir os votos que 
o levariam à Casa Branca.
Reino Unido fora da União europeia
Antes da vitória de Trump, os alicer-
ces da globalização já haviam sofrido 
os primeiros abalos na Europa. Em ple-
biscito realizado em junho de 2016, os 
britânicos votaram pela saída do Reino 
Unido da União Europeia (UE), o maior 
e mais importante bloco econômico do 
planeta. O chamado Brexit (contração 
das palavras inglesas “Britain” e “exit”, 
algo como “saída britânica”) teve o voto 
de 17,4 milhões de britânicos (51,9%), 
ante 16,1 milhões (48,1%) que preferiam 
permanecer na UE.
ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS 
NOS EUA SÃO INDIRETAS
Nas eleições presidenciais de 2016 
nos EUA, Hillary Clinton obteve cerca 
de 2,9 milhões de votos a mais do que 
Donald Trump em nível nacional. Ela 
venceu no voto popular, mas não levou. 
Isso porque a eleição para presidente 
é indireta. Os eleitores não votam nos 
candidatos, mas sim em delegados que 
formam um Colégio Eleitoral encarre-
gado de definir o presidente. 
Cada estado é representado por certo 
número de delegados, proporcional à 
sua população. O Colégio Eleitoral de 
2016 foi composto de 538 delegados. Em 
quase todos os estados (exceto Maine e 
Nebraska), quem vence no voto popu-
lar leva todos os delegados ao Colégio 
Eleitoral, mesmo que a sua vitória tenha 
sido por poucos votos de diferença. Por 
causa disso, um candidato pode ter um 
número maior de votos populares, na-
cionalmente, e eleger menos delegados 
ao Colégio Eleitoral. Foi o que aconteceu 
com Hillary, que não obteve delegados 
suficientes para se eleger.
^~^
31GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 
Por faixa etária
18 a 24 anos
25 a 49 anos
50 a 64 anos
65 anos ou mais
Por escolaridade
Ensino Médio
Superior sem diploma
Superior com diploma
Por categoria social
Classe média alta e média
Classe média baixa
Trabalhadores manuais 
e desempregados
SAIR PERMANECER
75
56
44
39
34
52
71
57
49
36
25
44
56
61
66
48
29
43
51
64
QUEREMOS SAIR
Houve um voto significativo 
pela saída da União Europeia 
em regiões industriais do 
centro e do norte da 
Inglaterra, entre as quais 
alguns distritos em torno da 
cidade de Liverpool, 
Manchester e Birminghan. 
QUEREMOS FICAR
Em Londres, a posição de 
permanência na UE foi 
vencedora, diferentemente do 
resultado geral do Reino 
Unido. Mesmo na capital 
britânica, entretanto, os 
eleitores de bairros operários 
do leste da cidade votaram 
majoritariamente a favor da 
saída do bloco europeu.
O VOTO NO BREXIT
Fontes: Politico.eu, Financial Times, 
Lord Ashcroft Polls, The Telegraph
48 52
TOTAL
62 38
Escócia
56 44
Irlanda do Norte
48 52
País de Gales
47 53
Inglaterra
Londres
Birminghan
Manchester
Liverpool
5248
Permanecer na UE
Sair da UE
PERFIL DO VOTO (%) OS VENCEDORES POR PAÍS E POR REGIÃO (%)Maior taxa
COMO O BREXIT VENCEU
Repare nas semelhanças entre o 
perfil dos eleitores do Brexit e de 
Trump. Pessoas acima de 50 anos 
foram majoritariamente a favor da 
saída do bloco. Os mais 
escolarizados votaram pela 
permanência, enquanto o Brexit 
teve ampla maioria (64%) entre a 
classe média baixa, os operários e 
os desempregados. 
Ao virar as costas para a UE, os bri-
tânicos anunciam que a participação 
no maior bloco econômico do planeta 
não lhes traz benefícios, em um sonoro 
“não” ao processo de globalização. Por 
trás da decisão dos britânicos está a 
insatisfação com os mecanismos de 
integração da UE, que, segundo seus 
críticos, impõem restrições à autono-
mia e ferem a soberania das nações. 
Os eurocéticos britânicos são contra a 
imigração por achar que os estrangei-
ros representam uma concorrência em 
um mercado de trabalho saturado. E 
questionam os repasses financeiros que 
os países-membros devem fazer à UE.
Por isso, não surpreende que o perfil 
demográfico dos britânicos que vota-
ram a favor do Brexit seja bem parecido 
com o dos eleitores de Trump. Ou seja, 
de modo geral, trata-se de cidadãos bri-
tânicos mais velhos, do sexo masculino, 
sem nível superior e de renda média. 
Entre operários e desempregados, o 
voto também foi majoritariamente pela 
saída do bloco – novamente, extratos 
da população mais afetados pela crise 
econômica (veja infográfico acima).
Eleitores do Brexit 
criticam a União 
Europeia por impor 
restrições à autonomia 
do Reino Unido
Interessante também é notar como a 
distribuição do voto variou geografica-
mente. O Reino Unido é composto de 
quatro unidades políticas. Na Inglaterra 
e no País de Gales prevaleceram o voto 
pelo Brexit. Já a Escócia e a Irlanda do 
Norte votaram expressivamente a favor 
da permanência na UE. Esse resultado 
expôs a forte divisão política no país. 
Desapontado com o Brexit, o governo 
local da Escócia cogita realizar um novo 
plebiscito, desta vez para decidir se 
deve permanecer ou deixar o Reino 
Unido. Em 2014, os escoceses já haviam 
ido às urnas e decidiram ficar no Reino 
Unido. Mas, desta vez, a insatisfação 
com a saída da União Europeia pode 
estimular uma debandada escocesa.
Logo após o plebiscito, o primeiro- 
ministro conservador David Cameron, 
que fez campanha pela permanência 
na UE, renunciou e foi substituído pela 
ex-ministra do Interior, Theresa May, 
que ficou responsável por encaminhar 
a retirada do bloco. O início da separa-
ção está previsto para março, quando 
o Reino Unido deverá acionar o Artigo 
50 do Tratado de Lisboa da UE, dando 
início
formal à saída. De acordo com as 
regras do bloco, o processo deve durar 
até dois anos.
Não por acaso, Trump comparou sua 
vitória ao Brexit, por terem o mesmo 
sentido de defesa nacionalista dos inte-
resses do país. Num primeiro momento, 
tanto no Reino Unido quanto nos EUA, 
os eleitores responsáveis pelos resul-
tados surpreendentes foram conside-
rados xenófobos, racistas ou simples-
mente ignorantes. Mas há também algo 
mais profundo: um recado do homem 
comum, que não se vê representado 
pelos políticos e instituições atuais. 
São pessoas que acham que há algo de 
errado na globalização, e deixaram isso 
evidente por meio de seu voto.
^~^
DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISE
32 GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017
DOSSIÊ GLOBALIZAÇÃO EM CRISE
Caracterizado por um mundo 
integrado pelo comércio, 
com menos intervenção 
estatal e maior flexibilidade 
no mercado de trabalho, 
o fenômeno é mais antigo 
do que parece
Os pilares da 
globalização
globalização, tão 
contestada por 
Donald Trump 
e pelos partidá-
rios do Brexit, é 
entendida como 
o processo de 
integração entre 
povos, empresas, 
governos e mer-
cadorias ao redor 
do planeta. Um mundo globalizado é 
aquele em que eventos políticos, eco-
nômicos, culturais e sociais estão inter-
conectados e onde um acontecimento 
em um lugar tem a capacidade de ecoar 
por outros cantos do globo.
Suas origens remontam aos séculos XV 
e XVI, com o início da expansão ultrama-
rina europeia (veja linha do tempo na pág. 
ao lado). A descoberta de novas terras e 
rotas comerciais permitiu a formação de 
enormes impérios coloniais na Europa. 
Posteriormente, o acúmulo de rique-
zas forneceu a base para a Revolução 
Industrial no fim do século XVIII, que, 
com o tempo, desenvolveu o trabalho 
assalariado e o mercado consumidor. 
As descobertas científicas e as inven-
ções provocaram enorme expansão dos 
setores industrializados e ampliaram o 
mercado para a exportação de produtos. 
No fim do século XIX surgiram as gran-
des empresas multinacionais. O século 
seguinte verá o fortalecimento dessas 
corporações, bem como a consolidação 
dos Estados Unidos (EUA) como a nação 
capitalista mais poderosa do planeta.
O Neoliberalismo
Pode-se afirmar que a atual fase da 
globalização tem como pilares eco-
nômicos o neoliberalismo. Trata-se 
do conjunto de medidas adotado pela 
primeira-ministra Margaret Thatcher 
(1925-2013) no Reino Unido e pelo pre-
sidente norte-americano Ronald Rea-
gan (1911-2004) a partir dos anos 1980. 
O neoliberalismo consolidou-se como 
o sistema econômico dominante a partir 
dos anos 1990, com o fim da Guerra Fria. 
De modo geral, o ideário neoliberal é 
constituído por alguns pontos centrais:
arrow abertura comercial e financeira para 
promover o livre-comércio e ampla 
possibilidade de atuação das empre-
sas em nível internacional;
arrow diminuição do papel do Estado na 
economia, por meio de privatiza-
ções, e fim do Estado de Bem-Estar 
Social (welfare state) vigente prin-
cipalmente na Europa, com o corte 
nos gastos públicos e na oferta de 
serviços sociais pelo governo;
arrow desregulamentação financeira, ou 
seja, deixar o mercado livre para 
ditar preços e condições de atuação, 
sem a interferência do Estado;
arrow flexibilização do mercado de traba-
lho. As reivindicações trabalhistas são 
encaradas como obstáculos ao cresci-
mento econômico; propõe uma nova 
divisão internacional do trabalho, com 
migração de empregos industriais 
para os países em desenvolvimento.
GIGANTE GLOBAL 
Operário faz 
reparos no logo de 
uma das lojas da 
rede de fast-food 
McDonald’s em 
Pequim, na China
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33GE ATUALIDADES | 1º semestre 2017 
A globalização não é algo novo – remonta ao tempo 
das grandes navegações europeias. O avanço do 
capitalismo, das comunicações e dos transportes 
moldaram o fenômeno em sua forma atual
LINHA DO TEMPO DA GLOBALIZAÇÃO
1450 • Johannes Gutenberg inventa a imprensa 
com tipos móveis metálicos
1492 • A descoberta da América e o início da 
colonização e da escravidão negra marcam o 
ápice das Grandes Navegações
1698-1777 • Desenvolvi-
mento da máquina a 
vapor impulsiona a 
Revolução Industrial
1789 • Revolução 
Francesa inicia o período 
de domínio da burguesia e de declínio da 
nobreza 
1830 • Inauguração, na Inglaterra, da primeira 
ferrovia de longa distância para passageiros em 
escala comercial
1844 • Invenção do telégrafo
1876 • O norte-americano Alexander Graham 
Bell obtém a patente do telefone
1884-1885 • Novo imperialismo: as potências 
europeias realizam a Conferência de Berlim, 
partilhando o território africano entre si
1906 • Primeira transmissão de rádio nos EUA
1909 • O norte-americano Henry Ford introduz a 
linha de montagem em sua fábrica de carros
1914-1918 • Disputa entre as potências leva à 
Primeira Guerra Mundial, que foi seguida de 
recessão e protecionismo
1929 • Quebra da Bolsa de Valores de Nova York
1933-37 • New Deal: nos EUA, o governo 
intervém pesadamente para recuperar a 
economia do país
1939-1945 • Novos conflitos 
entre as potências provoca 
a Segunda Guerra Mundial; 
ao final da guerra, a nação 
capitalista mais poderosa 
passa a ser os EUA
1944 • Conferência de Bretton 
Woods estabelece o dólar 
norte-americano como a base do 
sistema monetário mundial e 
cria o Banco Mundial e o Fundo 
Monetário Internacional (FMI)
1947-1951 • Com o Plano Marshall, o governo dos 
EUA financiam a reconstrução da Europa ocidental
1947-77 • Fortalecimento do Estado de Bem-Estar 
Social na Europa ocidental; período dos Trinta Anos 
Dourados do capitalismo
1950 • A televisão começa a se popularizar
1957 • Tratado de Roma cria a Comunidade Econômica 
Europeia, embrião da atual União Europeia
1970 • Cabos de fibra óptica expandem as 
telecomunicações
1971 • Os EUA acabam com a conversibilidade do dólar 
em ouro, encerrando o sistema de Bretton Woods
1973 • Países árabes embargam o fornecimento de 
petróleo aos EUA e às potências europeias: o preço do 
petróleo quadruplica e abala a economia mundial
1977 • Lançamento do 
Apple II, que dá início à 
era do microcomputador 
pessoal, ou personal 
computer (PC)
1979 • Margaret Thatcher 
torna-se primeira-ministra do Reino Unido: política 
de privatizações e corte de gastos públicos torna-se 
referência do neoliberalismo
1983 • O telefone celular começa a ser vendido
1989 • Queda do Muro de Berlim marca simbolica-
mente o fim da Guerra Fria
1991 • Criação da internet; fim da 
União Soviética
1992 • Tratado de Maastricht cria a 
União Europeia
1992 • Criação do Nafta
1995 • Surge a Organização Mundial do Comércio (OMC)
2001 • Atentados de 11 de setembro nos EUA expõem 
as fissuras entre o Ocidente e os países muçulmanos; 
entrada da China na OMC muda o comércio mundial
2008 • Colapso do mercado imobiliário nos EUA leva à 
maior crise mundial desde os anos 1930
2015 • Instabilidade na Síria e em outros países de 
maioria muçulmana 
eleva a imigração, 
na pior crise de 
refugiados desde 
a II Guerra 
2016 • Brexit : em 
referendo, eleitores do 
Reino Unido aprovam a 
saída da União Europeia; nos 
EUA, o republicano Donald 
Trump é eleito presidente
QUARTO PERÍODO (1989 EM DIANTE)
PREDOMÍNIO DO NEOLIBERALISMO 
E DOS MERCADOS FINANCEIROS
SEGUNDO PERÍODO (1850-1945)
CONSOLIDAÇÃO 
DAS POTÊNCIAS 
CAPITALISTAS
PRIMEIRO PERÍODO (1450-1850)
EXPANSÃO MARÍTIMA
EUROPEIA
TERCEIRO PERÍODO (1945-1989)
GUERRA FRIA 
E REVOLUÇÃO 
TÉCNICO–CIENTÍFICA
INFORMACIONAL
OMC e blocos econômicos
Um elemento central da globalização 
é o livre-comércio, ou seja, a criação 
de um sistema em que bens e serviços 
são comercializados sem restrições 
tarifárias. Nesse sentido, o papel da 
Organização

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