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Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
 
FACULDADE DE DIREITO 
 
Direito Penal III 
 
MATERIAL 11 
 
Prof.º Rone Miller Roma 
Caiapônia-GO 
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL 
 
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO 
 
ART. 150 – VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO 
 
Objetividade jurídica 
Tutela-se a tranquilidade doméstica, abrangente da intimidade, da segurança e da vida privada 
proporcionadas pelo domicílio. O fundamento constitucional do delito encontra-se no art. 5.º, 
inciso XI, da Lei Suprema: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo 
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para 
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”. 
A incriminação da violação de domicílio não protege, porém, a posse ou a propriedade. A 
propósito, não se configura o delito em análise no ingresso em casa abandonada ou desabitada, 
podendo restar caracterizado o crime de esbulho possessório (CP, art. 161, § 1.º, inc. II). 
Casa desabitada, entretanto, não se confunde com casa na ausência de seus moradores, pois 
nesse caso é possível o crime de violação de domicílio, uma vez que subsiste a proteção da 
tranquilidade doméstica. 
 
Objeto material 
É o domicílio invadido, que suporta a entrada ou permanência de alguém, clandestina ou 
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito. 
 
Núcleos do tipo 
A conduta criminosa possui dois núcleos: entrar e permanecer. 
Entrar é a ação de penetrar, de ingressar totalmente em casa alheia ou em suas 
dependências. Permanecer, por seu turno, pressupõe a entrada lícita, seguida de uma omissão, 
consistente na negativa em sair do local. É possível a prática do crime, portanto, por duas formas 
distintas: ação, caracterizada pelo ingresso no domicílio alheio, e omissão, relativamente à 
recusa em dele sair. 
Cuida-se de tipo misto alternativo, crime de ação múltipla ou de conteúdo variado: 
entrando ilicitamente em casa alheia ou em suas dependências, e nela permanecendo, o agente 
responde por um único delito. 
 
 
 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
Elementos normativos do tipo 
Não basta a entrada ou permanência de alguém em casa alheia ou em suas dependências. O tipo 
penal possui elementos normativos: é necessário que a conduta seja praticada clandestina ou 
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito. Essas são as 
modalidades de violação de domicílio previstas no Código Penal. 
O art. 150, caput, do Código Penal condiciona a existência do crime ao dissentimento expresso 
ou presumido de quem de direito, ou seja, daquele que tem o poder de proibir a entrada ou 
permanência de terceiros na sua casa ou em suas dependências (proprietário, locatário, 
possuidor etc.). Consequentemente, se presente o consentimento do morador, explícito ou 
implícito, o fato é atípico. 
Entrar ou permanecer clandestinamente em casa alheia ou em suas dependências significa 
fazê-lo de forma oculta, sem se deixar notar pela vítima. Por essa razão, opera-se 
o dissentimento presumido, pois pressupõe-se ser contra a vontade de quem de direito, já que 
essa pessoa não sabe que o agente lá se encontra. 
Por sua vez, entrar ou permanecer astuciosamente consiste em conduta fraudulenta, na qual o 
agente cria um estratagema para entrar ou permanecer em casa alheia ou em suas dependências 
maliciosamente. Exemplo: fingir-se funcionário do serviço de vigilância sanitária para tomar o 
recinto de determinada residência. Nessa hipótese, verifica-se também o dissentimento 
presumido. 
Finalmente, entrar ou permanecer em casa alheia ou em suas dependências contra a vontade 
expressa ou tácita de quem de direito enseja a entrada ou permanência francas. Nesses casos, 
o dissentimento de quem de direito pode ser expresso ou tácito. 
Dissentimento expresso (vontade expressa)é aquele em que o ofendido revela 
peremptoriamente a vontade de excluir o agente do seu domicílio, tal como quando proíbe sua 
entrada em uma festa. Por outro lado, ocorre o dissentimento tácito (vontade tácita) nas 
situações em que os fatos anteriores indicam claramente o propósito do titular à inviolabilidade 
de domicílio em não permitir a entrada ou permanência de determinada pessoa na sua casa ou 
em suas dependências. Exemplo: sujeito anteriormente expulso por seguranças da vítima de sua 
residência. 
 
Conceito de casa: art. 150, § 4.º 
O conceito de casa é previsto no art. 150, § 4.º, do Código Penal, típico exemplo de lei penal 
interpretativa ou explicativa. Esse conceito pode ser sintetizado como qualquer lugar privado 
em que alguém habita. 
Cumpre destacar que o domicílio tutelado pelo Código Penal é diverso do domicílio definido 
pelo Código Civil. No direito civil, domicílio é o local em que a pessoa reside com ânimo 
definitivo. Esse ânimo duradouro, no direito penal, é irrelevante, pois protege-se qualquer lar, 
casa ou local em que alguém mora, a exemplo do barraco do favelado e da cabana do pescador. 
A lei penal resguarda a tranquilidade no local de habitação, pouco importando seja permanente, 
eventual ou transitório. 
O conceito de casa compreende: 
a) qualquer compartimento habitado: inciso I 
Qualquer lugar destinado à ocupação pelo ser humano pode ser fracionado em blocos menores. 
O produto dessa divisão é o compartimento. Mas a lei penal não põe a salvo de invasões 
qualquer compartimento. Deve ser habitado por alguém, para morar, viver ou usar. Exemplos: 
quartos de hotéis ou motéis, cabines de navios etc. 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
Até mesmo um automóvel pode ser classificado como compartimento habitado, nas situações 
em que possui uma divisão que funciona como domicílio de uma pessoa (exemplo: boleia de 
um caminhão), ou então quando foi projetado para servir, permanente ou temporariamente, 
como residência (exemplo: trailers). 
b) aposento ocupado de habitação coletiva: inciso II 
Essa referência era prescindível, pois a expressão “qualquer compartimento habitado” (inciso 
I) engloba o “aposentado ocupado de habitação coletiva” (inciso II). O legislador reiterou seu 
escopo de proteger penalmente os compartimentos de habitação coletiva, tais como quartos de 
pensões, repúblicas, hotéis e motéis, que estejam ocupados por alguém. 
c) compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade: 
inciso III 
A interpretação desse dispositivo legal autoriza a seguinte conclusão: se o compartimento não 
é aberto ao público, ou ele é parte integrante de um local público, ou possui uma parte conjugada 
aberta ao público. E, se alguém exerce profissão ou atividade nesse espaço, o compartimento 
pode ser considerado seu domicílio. A pessoa que ali entrar ou permanecer contra a vontade 
expressa ou tácita de quem de direito incidirá no crime tipificado pelo art. 150 do Código Penal. 
Exemplos: escritório do advogado, consultório do médico ou dentista, balcão do padeiro etc. 
A proteção da inviolabilidade domiciliar estende-se também para as autoridades fiscais e 
fazendárias. 
Esses locais normalmente possuem uma parte aberta ao público, na qual as pessoas podem 
entrar e permanecer livremente, sem a interferência do Direito Penal. Exemplo: salão da padaria 
ou sala de recepção do escritório ou consultório. 
O compartimento aberto ao público não é tutelado pela lei penal. Exemplos: hospitais, 
museus, bares, lojas etc. 
Finalmente, é livre a entrada ou permanência em locais e repartições públicas, pois, se 
pertencem a todos indistintamente, não podem funcionar como domicílio de uma pessoa 
determinada. 
d) dependências protegidas:art. 150, caput 
O art. 150, caput, do Código Penal protege também as dependências da casa, a exemplo dos 
jardins, garagens, quintais, terraços e pátios, desde que fechados, cercados ou se existentes 
obstáculos de fácil visualização vedando a passagem do público (correntes, telas etc.). 
As pastagens e campos de propriedades rurais não são dependências da casa, e, por corolário, 
não são protegidas pela lei penal. 
 
Não se compreendem no conceito de “casa”: § 5.º 
De acordo com o art. 150, § 5.º, do Código Penal, não se compreendem na expressão “casa”: 
a) hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta ao 
público, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior: inciso I 
A terminologia utilizada pelo legislador é antiga e merece ser atualizada. Hospedaria é o 
recinto destinado a receber pessoas que ali permanecem por um período predeterminado, 
mediante contraprestação pecuniária. Exemplos atuais: hotéis, motéis e flats. 
Estalagem também é o local adequado para receber hóspedes, mediante remuneração, mas em 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
proporção menor do que a hospedaria. Exemplos atuais: pousadas, abrigos e pensões. Qualquer 
outra habitação coletiva, por sua vez, é fórmula genérica indicativa de lugar coletivo e aberto 
ao público. Exemplos: parques, áreas de lazer e campings (excluídas as barracas). 
Enquanto a hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva estiver aberta, o local 
será considerado como de livre acesso ao público, e, consequentemente, não poderá ser objeto 
material do crime de violação de domicílio. Se, porém, encontrar-se fechado, com acesso 
restrito, à pessoa que ali ingressar ou permanecer contra a vontade expressa ou tácita de quem 
de direito será imputado o crime em análise. 
A ressalva contida na parte final do dispositivo legal serve para proteger o aposento ocupado 
de habitação coletiva. Destarte, um hotel, enquanto permanecer aberto ao público, não pode ser 
objeto material de violação de domicílio, ao contrário do quarto ocupado por um hóspede. 
b) taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero: inciso II 
Taverna é o local em que são vendidas e servidas refeições e bebidas. Exemplos atuais: bares 
e restaurantes. Casas de jogo são, em regra, proibidas no Brasil (exemplo: cassinos), mas, 
mesmo quando permitidas (exemplo: fliperamas), não se encaixam no conceito de domicílio, 
pois se assegura livre acesso ao público. Finalmente, a regra genérica representada pela 
expressão “outras do mesmo gênero” incide para os demais lugares de diversão pública. 
Exemplos: cinemas, teatros e casas de espetáculos. 
Em síntese, são locais abertos ao público, e, por esse motivo, não podem funcionar como objeto 
material do crime de violação de domicílio. 
Uma casa de meretriz, quando em funcionamento, não goza de proteção penal, ao contrário do 
que se verifica nos períodos de inatividade ou contra o consentimento da moradora. 
 
Sujeito ativo 
O crime é comum. Pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive pelo proprietário do 
bem, quando entra ou permanece na residência ocupada pelo inquilino contra sua vontade 
expressa ou tácita. O Código Penal não protege a propriedade nem a posse indireta do locador. 
O locatário, possuidor direto do imóvel, não é ofendido em sua posse, mas sim em sua 
tranquilidade doméstica. 
A serviçal que permite o ingresso do amante em seu quarto pratica o crime em concurso com 
ele. Presume-se, nessa hipótese, o dissentimento do dono da residência. 
O divorciado pode cometer o crime ao entrar ou permanecer na residência do seu ex-cônjuge 
contra sua vontade. 
Não há crime, entretanto, quando uma mulher, na ausência do seu marido, permite a entrada do 
amante em sua residência. A Constituição Federal, nos arts. 5.º, inciso I, e 226, § 5.º, equiparou 
os cônjuges em direitos e deveres no âmbito do casamento. Não há hierarquia entre eles no 
tocante ao direito de permitir a entrada ou permanência de uma pessoa no lar doméstico. Frise-
se, a propósito, que esta posição já era acolhida pelo Supremo Tribunal Federal inclusive 
anteriormente à atual ordem constitucional: “O consentimento da esposa do chefe da casa, na 
ausência deste, exclui a ação criminosa de quem penetra no lar, com o consentimento da 
mesma”. 
 
Sujeito passivo 
É o titular do direito à tranquilidade doméstica. Na descrição típica é o “quem de direito”, ou 
seja, o sujeito que tem o poder de admitir ou excluir alguém da sua casa (ius prohibendi), pouco 
importando seja ou não seu proprietário. 
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A expressão “quem de direito” evidencia a intenção do legislador em assegurar somente a 
determinadas pessoas a prerrogativa de controlar a entrada, a permanência e a saída do 
domicílio. Nesse contexto, o sujeito passivo pode ser: 
1) uma pessoa a quem os demais habitantes da casa estão subordinados (regime de 
subordinação); ou 
2) diversas pessoas, habitantes da mesma residência, em relação isonômica (regime de 
igualdade). 
No regime de subordinação, como é o caso de uma família, exemplificativamente, não são 
todos os seus membros que podem permitir a entrada ou a permanência de terceiros na 
residência, mas apenas o pai e a mãe, que administram os interesses familiares em igualdade de 
condições (CF, arts. 5.º, inc. I, e 226, § 5.º). No conflito entre marido e mulher, prevalece a 
vontade de quem proíbe (melhor est conditio prohibentis). 
Isto também ocorre em comunidades privadas, nas quais despontam as figuras do superior e 
dos subordinados (exemplo: em uma universidade, o reitor é o superior, e os demais, 
subordinados). 
Em qualquer caso, o superior desponta como sujeito passivo do delito. Na ausência do titular 
do direito à proibição, este é transmitido para um dos seus subordinados ou dependentes. 
No regime de subordinação, contudo, aos dependentes e subordinados reserva-se, ainda que de 
modo restrito, o direito de permitir ou vedar a entrada ou permanência de terceiros nos espaços 
que lhes pertencem. Em uma casa de família, mandam o pai e a mãe, em igualdade de condições. 
Mas os filhos têm o direito de admitir ou não o ingresso ou permanência de terceiros em seus 
quartos. Este direito, obviamente, não exclui o direito dos pais relativamente a todas as 
dependências da casa. Assim sendo, se o pai ou a mãe ingressar no quarto de um dos filhos, 
ainda que contra a sua vontade, não pratica o delito de violação de domicílio. Igualmente, o 
patrão pode ingressar no aposento da serviçal, mesmo sem sua concordância, desde que para 
fins lícitos e morais. 
Em suma, os filhos e empregados podem proibir o ingresso e a permanência de terceiros em 
suas dependências. Mas, se entrarem em conflito com os chefes da casa (pai e mãe, patrão e 
patroa etc.), a vontade destes prevalecerá para fins penais, que poderão expulsar de casa os 
convidados dos filhos ou empregados, salvo na hipótese de residência pertencente ao filho 
maior de idade e civilmente capaz. 
Por outro lado, no regime de igualdade todos os moradores são titulares do direito de permitir 
ou proibir a entrada ou permanência de alguém no recinto da casa. Reparte-se o poder entre 
todos. É o que dá em repúblicas de estudantes e em condomínios. 
Nessas situações, pode ocorrer de alguém ser autorizado por um dos moradores a entrar ou 
permanecer no local, e, simultaneamente, proibido por outro morador. Aplica-se a regra pela 
qual é melhor a condição de quem proíbe, ou seja, exige-se o consenso de todos para o ingresso 
e manutenção de terceiros em uma habitação coletiva. 
No tocante aos condomínios, qualquer dos condôminos pode permitir o ingresso nas partes 
comuns, tais como corredores, jardins,garagens etc., desde que respeitada a individualidade 
dos demais. Se o condomínio, todavia, possuir um administrador ou síndico, competirá a ele 
controlar a entrada e saída de visitantes. 
 
Elemento subjetivo 
É o dolo, abrangente do elemento normativo “contra a vontade expressa ou tácita de quem de 
direito”. Por corolário, o crime é incompatível com o dolo eventual, pois não se pode assumir 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
o risco de entrar ou permanecer na residência alheia contra a vontade do morador. Ou o agente 
sabe que viola o domicílio de alguém, ou tem dúvida, o que afasta o dolo. 
Há atipicidade, por ausência de dolo, nas condutas de entrar em casa alheia para esconder-se da 
polícia ou quando o sujeito supõe ingressar em local diverso do proibido (erro de tipo). 
Não se admite a modalidade culposa. 
 
Consumação 
Cuida-se de crime de mera conduta ou de simples atividade, pois o tipo penal não contém 
resultado naturalístico. Consuma-se no momento em que o sujeito ingressa completamente na 
casa da vítima (“entrar”), ou então quando, ciente de que deve sair do local, não o faz por tempo 
juridicamente relevante (“permanecer”). 
Em relação ao primeiro núcleo, o crime é instantâneo, e, no tocante ao segundo núcleo, 
permanente. 
É imprescindível a entrada concreta em casa alheia. Não há crime na conduta de olhar ou 
observar, ainda que com o uso de binóculos, a movimentação na residência de terceira pessoa. 
Violações anteriores de domicílio toleradas ou perdoadas pelo sujeito passivo não afastam o 
crime posterior. 
 
Tentativa 
É possível na conduta “entrar”. Exemplo: o sujeito é impedido por seguranças de ingressar em 
uma festa de casamento para a qual não foi convidado. 
No que concerne ao núcleo “permanecer”, é incabível o conatus. De fato, trata-se de conduta 
omissiva, e se consuma quando o sujeito permanece (deixa de sair) na casa alheia contra a 
vontade expressa ou tácita de quem de direito. Destarte, ainda que resista (exemplo: 
determinada sua retirada de uma festa, o agente se recusa a deixar o local, trancando-se em um 
banheiro), o crime já estará consumado com sua negativa em abandonar o domicílio alheio. 
Há, contudo, autores que consideram a tentativa compatível com a conduta de “permanecer”. 
 
Ação penal 
É pública incondicionada. 
 
Concurso de crimes 
A caracterização do delito reclama tenha o agente, como finalidade própria, o ingresso ou 
permanência em casa alheia, e nada mais do que isso. Logo, quando assim atua como meio de 
execução de outro crime mais grave (exemplos: furto, roubo, estupro etc.), a violação de 
domicílio fica absorvida (princípio da consunção: o crime-fim absorve o crime-meio). 
Subsiste o crime de violação de domicílio quando há dúvida acerca do verdadeiro propósito do 
agente (exemplo: “A” é encontrado no interior da residência de “B”, mas não se sabe se queria 
apenas entrar em casa alheia ou se desejava furtá-la), e também quando caracteriza desistência 
voluntária, pois o agente só responde pelos atos praticados (exemplo: “A” ingressa na casa de 
“B” para furtá-la, mas, podendo consumar a subtração, desiste da execução do crime, 
respondendo apenas pela violação de domicílio). 
 
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA 
Cuida-se de crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa); instantâneo (conduta de 
“entrar”) ou permanente(conduta de “permanecer”); de mera conduta (o tipo penal não possui 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
resultado naturalístico); de forma livre (admite qualquer meio de execução); unilateral, 
unissubjetivo ou de concurso eventual (praticado por uma só pessoa, mas admite o 
concurso);comissivo (“entrar”) ou omissivo (“permanecer”); unissubsistente ou 
plurissubsistente (a conduta pode ser composta por um ou mais atos); de conteúdo variado, 
de ação múltipla ou tipo misto alternativo (tipo penal contém mais de um núcleo, e a prática 
de ambos, no mesmo contexto fático e contra o mesmo objeto material caracteriza um único 
crime); e de dano (reclama a efetiva lesão ao bem jurídico). 
 
Figuras qualificadas: § 1.º 
A pena é de detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência, se o 
crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de 
arma, ou por duas ou mais pessoas. 
O art. 150, § 1.º, do Código Penal prevê diversas qualificadoras, pois são alterados os limites, 
mínimo e máximo, da sanção penal, em decorrência de circunstâncias que se agregam ao tipo 
fundamental. Vejamos cada uma delas. 
a) Noite 
A noite sempre foi objeto de preocupação do Direito Penal. Em tempos remotos autorizava 
inclusive a presunção de legítima defesa. No Êxodo (XXII, 2-3) constava: “Se um ladrão for 
encontrado forçando a porta ou escavando a parede da casa, e, sendo ferido, morrer, aquele que 
o feriu não será réu de morte. Se, porém, fez isto depois de ter nascido o sol, cometeu um 
homicídio, e ele mesmo morrerá”. 
A razão da qualificadora repousa no fato de ser mais fácil praticar o crime durante a noite, 
quando a vítima tem reduzida sua possibilidade de defesa. 
Além disso, a própria Constituição Federal, em seu art. 5.º, inciso XI, transforma a casa, durante 
a noite, em asilo ainda mais inviolável do indivíduo, imune até mesmo às ordens judiciais. 
O conceito de noite não é unânime. 
Para José Afonso da Silva, noite é o período que se estende das 18h às 6h.206 Celso de Mello, 
por outro lado, sustenta que deve ser levado em conta o critério físico-astronômico, 
considerando dia o intervalo de tempo situado entre a aurora e o crepúsculo. O restante 
caracteriza a noite.207 Essa última posição, para a qual são irrelevantes o horário e a época do 
ano, importando somente a existência ou não de luz solar, parece compatibilizar-se mais 
adequadamente com o fundamento da qualificadora. 
b) Lugar ermo 
Ermo é o local habitualmente abandonado e afastado dos centros urbanos, no qual o socorro é 
mais difícil, tornando deveras remota a chance de defesa por parte da vítima. A existência de 
uma casa nessas condições não faz com que o lugar deixe de ser ermo, e, se invadida, estará 
caracterizada a qualificadora do crime de violação de domicílio. 
c) Violência 
Violência é o emprego de força física, tanto em relação à pessoa (exemplo: contra o morador) 
como também no tocante à coisa (exemplo: contra uma porta), uma vez que a lei não faz 
distinção. Não agiu como em diversos outros crimes, nos quais se reporta à “violência à pessoa”. 
Se a violência for empregada contra uma pessoa e ela sofrer lesões corporais, serão aplicadas 
cumulativamente as penas atinentes à violação de domicílio e à lesão corporal, ainda que leve. 
A lei impõe o concurso material obrigatório entre a violação de domicílio e a violência. 
A violência moral (grave ameaça) não qualifica o crime, por ausência de previsão legal. 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
d) Emprego de arma 
Arma é todo instrumento com potencialidade para matar ou ferir. Pode ser própria, quando 
criada com tal finalidade (exemplos: revólveres, pistolas, espingardas etc.), ou imprópria, que 
foi concebida para outra finalidade, nada obstante possa matar ou ferir (exemplos: navalhas, 
tacos de beisebol, machados etc.). Fala-se ainda em armas brancas, que são as revestidas de 
ponta ou gume, e podem ser próprias (exemplo: punhal) ou impróprias (exemplo: faca de 
cozinha). 
É necessário que o sujeito se utilize da arma para intimidar a vítima. Basta, porém, a intimidação 
tácita, que se verifica com o seu porte ostensivo. 
Fundamenta-se a elevação da pena na maior ofensa à liberdade individual, em decorrência do 
temor proporcionado pelo emprego da arma,bem como pelo maior perigo que acarreta ao 
ofendido. 
e) Concurso de duas ou mais pessoas 
A redação do dispositivo legal revela que somente incidirá a qualificadora quando duas ou mais 
pessoas efetivamente invadem a casa alheia. Todos devem praticar atos de execução 
(coautoria). A maior punição é justificada pela circunstância de a atuação simultânea dos 
agentes dificultar a defesa da vítima para impedir a violação de domicílio. 
 
Causas de aumento da pena: § 2.º 
Estatui o art. 150, § 2.º, do Código Penal: “Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido 
por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades 
estabelecidas em lei, ou com abuso de poder”. 
O aumento é aplicável ao crime de violação de domicílio em sua forma simples (CP, art. 
150, caput) e também às figuras qualificadas (CP, art. 150, § 1.º). 
O conceito de funcionário público para fins penais encontra-se no art. 327, caput, do Código 
Penal: “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora 
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”. 
Se não bastasse, o § 1.º do art. 327 do Código Penal equipara a funcionário público quem exerce 
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, bem como quem trabalha para empresa 
prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da 
Administração Pública. 
Tratando-se de crime praticado por funcionário público, seria mais técnica sua alocação entre 
os crimes contra a Administração Pública. 
Existem diversas hipóteses, previstas em lei, nas quais o funcionário público pode ingressar no 
domicílio alheio, mesmo contra a vontade do seu morador. É o que se dá no cumprimento de 
mandados judiciais (exemplos: penhora, busca e apreensão etc.). Nesses casos, não há crime, 
pois o funcionário público age em estrito cumprimento de dever legal, excludente da ilicitude 
prevista no art. 23, inciso III, 1.ª parte, do Código Penal. 
Mas, quando o funcionário público pratica o fato em desconformidade com o ordenamento 
jurídico, deve responder pelo crime, com a pena aumentada de um terço, em razão de se tratar 
de longa manus do Estado, que há de usar suas prerrogativas para respeitar e fazer respeitar a 
esfera de legalidade a todos imposta. O delito, nessas condições, pode ser caracterizado em três 
situações distintas: 
a) “Fora dos casos legais” 
Casos legais são os que excluem a ilicitude do fato, e são os definidos pelo art. 150, § 3.º, do 
Código Penal: I – durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
ou outra diligência; e II – a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo 
ali praticado ou na iminência de o ser. 
b) “Com inobservância das formalidades estabelecidas em lei” 
Para entrar ou permanecer em domicílio alheio, o funcionário público, além de agir somente 
nos “casos legais”, deve também cumprir todas as formalidades estabelecidas em lei. Em outras 
palavras, a lei prevê detalhadamente as formalidades a que o funcionário público deve atender. 
Exemplificativamente, para cumprir um mandado de prisão não basta ao funcionário público 
fazê-lo durante o dia. Deve ter em mãos o competente mandado judicial. 
Portanto, ainda que atue dentro dos casos legais, o descumprimento de uma formalidade 
essencial leva à majoração da reprimenda, uma vez que o funcionário público precisa 
desempenhar a contento suas atribuições. 
c) “Com abuso do poder” 
Abuso de poder é a prática de atos desnecessários à efetivação da diligência, o excesso doloso 
cometido pelo funcionário público no desempenho das suas funções. 
Convém destacar, porém, a existência de duas correntes doutrinárias acerca da tipificação legal 
da conduta de funcionário público que, no exercício de suas funções, entra ou permanece em 
casa alheia ou em suas dependências contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, 
seja fora dos casos legais, seja sem obedecer às formalidades estabelecidas em lei, seja, 
finalmente, com abuso de poder: 
1.ª posição: O crime de violação de domicílio cometido por funcionário público pressupõe a 
vontade de entrar ou permanecer em casa alheia ou em suas dependências como um fim em si 
mesmo. Fora dessa hipótese, estará caracterizado crime de abuso de autoridade, nos termos do 
art. 3.º, alínea “b”, da Lei 4.898/1965. 
2.ª posição: Tratando-se de lei penal especial e posterior quando comparada ao Código Penal, 
todo aquele que, no exercício de cargo, emprego ou função pública, praticar violação de 
domicílio, incorrerá no art. 3.º, alínea “b”, da Lei 4.898/1965 (abuso de autoridade).209 
 
Excludentes da ilicitude: § 3.º 
Nos termos do art. 150, § 3.º, do Código Penal: 
Art. 150, § 3.º Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas 
dependências: 
I – durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra 
diligência; 
II – a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na 
iminência de o ser. 
Trata-se de causa especial de exclusão da ilicitude, pois a lei usa a expressão “não constitui 
crime”. A regra, em verdade, era desnecessária, pois seu teor encontra-se abrangido pelo art. 
23, inciso III, 1.ª parte, do Código Penal, que disciplina o estrito cumprimento de dever legal. 
Além disso, a própria Constituição Federal cuida do assunto em seu art. 5.º, inciso XI: “a casa 
é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem o consentimento do 
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o 
dia, por determinação judicial”. Daí a acertada conclusão do Supremo Tribunal Federal: 
Prof. Rone Miller Roma – Especialista em Direito Penal 
Garantia da inviolabilidade do domicílio é a regra, mas constitucionalmente excepcionada 
quando houver flagrante delito, desastre, for o caso de prestar socorro, ou, ainda, por 
determinação judicial. 
Cabem algumas considerações acerca da regra constitucional. 
Inicialmente, visualizam-se duas situações distintas: durante o dia e durante a noite. Durante o 
dia, pode-se penetrar em casa alheia, sem o consentimento do morador, em caso de flagrante 
delito ou desastre, para prestar socorro e em cumprimento de determinação judicial. A 
determinação judicial pode referir-se a qualquer espécie de diligência, de natureza 
jurisdicional, policial, fiscal ou administrativa. À noite, porém, não se permite o ingresso por 
determinação judicial, subsistindo os demais casos. 
No tocante à “ordem judicial”, fica evidente que a Constituição Federal colocou a violação de 
domicílio sob o manto da reserva de jurisdição. 
Em sintonia com esse mandamento constitucional, o art. 293 do Código de Processo Penal 
arrola as formalidades legais para uma prisão: 
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu entrou ou se encontra 
em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for 
obedecido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força 
na casa, arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao 
morador, se não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, e, 
logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão. 
O art. 5.º, inciso XI, da Constituição Federal utiliza a palavra “delito” em sentido amplo, isto 
é, como sinônimo de infração penal, incluindo o crime e a contravenção penal. Seu objetivo foi 
o de impedir que alguém se valha da inviolabilidade domiciliar para praticar ilícitos penais e 
ficar imune à atuação dos Poderes Constituídos peloEstado. 
Anote-se, contudo, que a parte final do art. 150, § 3.º, inciso II, do Código Penal (“ou na 
iminência de o ser”) não foi recepcionada pela Constituição Federal, que em seu art. 5.º, inciso 
XI, autoriza o ingresso em casa alheia, durante o dia ou à noite, apenas na situação de flagrante 
delito, o que não inclui a iminência de cometimento de infração penal. 
Finalmente, também não há crime de violação de domicílio, em razão do estado de necessidade 
(CP, art. 23, inc. I, e art. 24), quando o sujeito entra ou permanece em casa alheia ou em suas 
dependências para escapar de pessoas que o perseguem para agredi-lo ou subtraí-lo.

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