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Cidadania conceitual - Módulo 1 Cidadania 2 Agradecimentos Logo após a conclusão do roteiro da disciplina, realizei uma releitura de toda a proposta apresentada e imediatamente iniciei um novo trabalho alterando palavras, ideias e links. Percebi então que o trabalho estava incompleto... Na verdade, o trabalho é incompleto! Pois cidadania ativa está em constante transformação, mutação (SANTOS, 2002), não existindo limitações para sua refl exão e prática. Assim sendo, agradeço a cada aluno que compôs, por meio de discussões e textos, as ideias que compõem este trabalho aqui materializado. Ao Canal Futura por disponibilizar o material da “Maleta da Cidadania”, a partir do qual agregamos novas experiências ao nosso trabalho. Às comunidades indígenas, quilombolas, e outras que aceitaram participar da formação de nossos alunos trocando experiências e assim discutindo sua própria cidadania. Aos professores que lecionaram a disciplina e trouxeram sua contribuição, em especial ao professor Luiz Antônio Chaves. Apresentação A proposta de escrever um roteiro, entre tantos possíveis, para pensar a cidadania no Brasil, possuiu três momentos distintos durante sua concepção: primeiro – a preocupação com os caminhos da formação humana (intra e extramuros) e o papel da UNISUAM como Centro Universitário produtor e difusor do saber; segundo – a difi culdade de compreensão e prática da cidadania; e terceiro – o resultado colhido desde 2006 – início do Projeto “Construindo Cidadania – UNISUAM”, através da prática diária entre docentes, discentes e comunidade. O objetivo materializado nestas páginas não é defi nir e limitar cidadania, pois cidadania não se limita! O objetivo é refl etir e discutir as construções, as inferências e interferências sobre este termo, seus usos e consequentemente os abusos. A ambição é oferecer arca- bouços para cada indivíduo questionar a si e a sociedade neste longo percurso. Construir cidadanias: uma, única - associada ao indivíduo; e outra, total - ligada à sociedade. ...a liberdade e a participação não levam, automaticamente, ou rapidamente, à resolução de problemas sociais. Isto quer dizer que a cidadania inclui várias dimensões e que algumas podem estar presentes sem as outras. Uma cidadania plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal desenvolvido no Ocidente e talvez inatingível... José Murilo de Carvalho Cidadania conceitual - Módulo 1 Cidadania 3 Introdução A mais bela de todas as coisas é quando os fracos e desencorajados levantam suas cabeças e deixam de crer na força de seus opressores . Bertolt Brecht A partir da década de 80 os discursos políticos e socioculturais passaram a incorporar o termo cidadania. Neste período, boa parte dos países viveu transformações que alteraram defi nitivamente a confi guração das relações de forças, gerando uma nova ordem mundial. Motivados pela fragmentação da ex-URSS, da implementação do neoliberalismo e o fi m do Welfare State e de inúmeras ditaduras militares, intelectuais e cientistas se debruçaram sobre o fazer popular e sua prática: identidade e cidadania. Algumas preocupações logo passaram a compor boa parte dos estudos sobre a cidadania: origem; paradigma; autêncidade/validade e prática. Logo, o termo passou a sofrer inserções ganhando novos rumos. Cidadania é um processo historicamente construído. Hoje coexistem diversas cidadanias... Qual é a nossa? Cidadania conceitual - Módulo 1 Cidadania 4 Antiguidade clássica - Grécia e Roma Inicialmente muitos autores buscaram as raízes do termo cidadania na Antiguidade Clássica (Grécia e Roma), porém, a cidadania exercida naquele momento histórico guardava características próprias. Segundo Guarinello, podemos aproximar dois mundos diferentes, mantendo sempre a consciência dessa distinção, e evidenciar processos históricos que podem iluminar os limites e as possibilidades da ação humana no campo das relações entre indivíduos (Guarinello, 2003: 29). Não devemos olhar simplesmente para a Antiguidade Clássica, com o olhar de hoje. O termo cidadania foi criado em meio a um processo de exclusão. Dizer quem era cidadão, ao contrário de hoje, em que supomos se tratar da maioria, era uma maneira de garantir os privilégios de uma minoria e eliminar a possibilidade de a maioria participar. Inclusão total é uma leitura contemporânea (Karnal, 2003: 144). Os homens livres, adultos e naturais de Atenas eram considerados cidadãos, para tanto a relação entre educação e cidadania era um ideal consciente e praticado na Grécia. Numa sociedade claramente excludente, os eupátridas (aristocratas, proprietários rurais) possuíam um patamar mais elevado, cabendo a eles (cidadãos) a participação ativa na vida e no espaço público. Assim estavam excluídos mulheres, crianças, idosos, escravos e estrangeiros. A cidadania romana, inicialmente, era exercida pelos grandes proprietários de terra que possuíam o direito de voto (censitário). Posteriormente foi ampliada para os estrangeiros conquistados que passaram a integrar o Império Romano. Duas características práticas aproximavam Grécia e Roma: a cidadania exercida direta- mente sem a mediação da representação; e consequentemente, a necessidade de tempo livre para se dedicar ao fazer político: a realização plena do homem (pensar, discutir e praticar política, esportes e artes), formando assim seu areté – mérito ou qualidade nos quais alguém é o melhor: excelência do corpo, da alma e da inteligência. Traduzido costumeiramente como virtude. (Chauí, 1994: 343). Cidadania conceitual - Módulo 1 Cidadania 5 No livro “Repensando o Império Romano: perspectivas socioeconômicas, políticas e culturais, leia o texto “ O Império Romano e nós” de Roberto Guarinello Disponível no Google books Visite, também, o Laboratório de História Antiga da UFRJ http://www.ifcs.ufrj.br/~lhia Indo além Para saber um pouco mais sobre a cidadania na Grécia e em Roma leia: ARISTÓTELES - FILOSOFIA DO HOMEM: ÉTICA E POLÍTICA http://74.125.93.132/search?q=cache:http://www.hottopos.com/rih8/pfc.htm UM ESTUDO SOBRE O CIDADÃO E A CIDADANIA NA REPÚBLICA DE PLATÃO http://venus.ifch.unicamp.br/cpa/boletim/boletim04/19leal.pdf Saiba mais Cidadania conceitual - Módulo 1 Cidadania 6 Antropocentrismo/Revolução Inglesa/Industrial O período que precedeu o Antropocentrismo fi cou conhecido como Idade Média, tendo início com a queda do Império Romano no Ocidente e se estendendo até a tomada de Constantinopla pelos turcos Otomanos (divisão meramente didática). Subdividido em Alta Idade Média (séc. V ao XI) e Baixa Idade Média (séc. XII ao XV), marcado por invasões; pela notabilidade da cultura muçulmana; forma- ção das línguas modernas e alicerce das nações européias; supremacia da Igreja Católica; estabelecimento das bases do mercantilismo e da ex- pansão marítima. Por ignorância com relação aos fatos citados anteriormente, este período foi rotulado de Idade das Trevas. Porém, se analisarmos apenas o homem como ator social do processo histórico/cultural, percebemos com facilidade que a prática Teocêntrica permitiu à Igreja se impor como guardiã dos hábitos e costumes, dominando assim o espaço público e doutrinando o homem a não desobedecer os “desígnios de Deus”, leia-se, da própria Igreja. As constantes invasões levaram os “senhores”, proprietários de terra (meio de produção), a murarem a unidade nuclear de suas propriedades e dentro destes a vida cotidiana fi cou circunscrita, em sua grande maioria. Rela- ções servis/vassalas, trocas de mercadorias e devoção/medo a Deus eram elementos característicos do período. O custo desse modo de vida se fez perceber sobre o homem e sua relação com a política e o espaço público, alienando-o de um dos pressupostos básicos para sua formação/sociabilidade. Ainda que a prática da construção do pensamento estivesse sob a égide da Igreja, o povo encontrava mecanismos para formar e expressar suas opiniões. Um bom exemplo foidescrito por Carlos Ginzburg em O Queijo e os Vermes. A mudança na forma de ver o mundo e consequentemente a relação do homem com Deus, tendo como perspectiva sua centralidade e relações sociais, passaram a ser de- nominadas Antropocentrismo. Tal posicionamento levou o homem a questionar a si e o mundo. A valorização do homem resultante destes questionamentos reconstruiu, ao longo da modernidade, a política e o espaço público, como práxis e lócus do exercício do desejo humano (no sentido Hobbesiano). Durante a Idade Moderna, a burguesia procurou criar condições para sua ascensão sociocultural e política, e consequen- temente, tal busca levou ao questionamento da ordem estabelecida em diversas regiões geográfi cas e momentos históricos distintos. Destes a Revolução Inglesa/Industrial, a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa e a Declaração dos Direitos Universais destacam-se na formação da cidadania burguesa ocidental. A Revolução Inglesa/Industrial possui grande importância na construção da cidadania por três motivos em especial: primeiro – por se tratar de um momento de transição da sociedade (agrária, ligada à produção de gêneros alimentícios, para o urbano, voltado à produção de manufaturas), logo, o questionamento da ordem política e social mar- cou a ascensão da burguesia; segundo – esta ascensão burguesa necessitava de uma nova estrutura social que alicerçasse a urbanização e conseqüentemente a produção e o consumo das manufaturas, produzindo uma nova mentalidade ligada ao prazer terreno (potencialidade do desejo); terceiro – a legitimação desta nova estrutura social implicava em determinar novas hierarquias sociais (burgueses e proletários), mas Cidadania conceitual - Módulo 1 Cidadania 7 havia também a necessidade de construir possibilidades (ideologias) de ascensão e de igualdades. Estes processos serão a tônica principal de todas as disputas ideológicas e físicas do século XX e XXI. As lutas na Inglaterra do século XVII e XVIII semearam as bases das liberdades indi- viduais, encerrando a relação de subordinação do homem com a ordem estabelecida (Igreja e nobreza). Foram fi rmados os direitos e as liberdades costumeiras do povo inglês: “todos são iguais perante a lei”. Resumidamente, a necessidade de segmentos sociais ingleses alterarem a ordem social produziu uma nova construção, na qual estavam alicerçadas as condições para a universalização das bases dos direitos civis (direito à vida e às liberdades – corpo, espírito e mente). Ainda assim, o surgimento desta base necessitava de ampliação quantitativa, inclusive na própria Inglaterra, pois o surgimento da classe dos proprietários levou ao surgimento da classe dos homens sem propriedade, possuidores apenas de sua força física para dispor como moeda de troca. Estava inaugurada uma nova fase social, marcada pela luta na aquisição de direitos políticos e sociais, deslocando os proprietários da condição de classe revolucionária para conservadora. Novas transformações caberiam às classes excluídas do processo histórico de obtenção de propriedades. Antes de prosseguirmos na Inglaterra, vejamos os efeitos das transformações nos Estados Unidos e a França sobre a cidadania. “O queijo e os Vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisição. Carlos Ginzburg Indo além Cidadania conceitual - Módulo 1 Cidadania 8 Para saber um pouco mais sobre a Revolução Industrial, leia: Antropologia fi losófi ca >> http://books.google.com/books?id=DSy5I-EStGwC&pg=PA66&dq=humanismo+idade+moderna &lr=&hl=pt-BR Saiba mais “REVOLUÇÃO INDUSTRIAL” http://www.youtube.com/watch?v=T6B5uhu4kD0&feature=related Vídeo Cidadania conceitual - Módulo 1 Cidadania 9 Independência EUA e Revolução Francesa A importância dos Estados Unidos para o mundo (Ocidental e Oriental) é anterior à edifi cação de sua hegemonia pós-Segunda Guerra Mundial, suscitando paixões (amor e ódio). A análise da sociedade norte-americana nos permite compreender os refe- renciais que formaram a cidadania yankee. Os alicerces conceituais encontravam-se na Grécia Clássica e na metrópole inglesa, sendo forjados na luta de independência contra a própria Inglaterra, e posteriormente servindo de inspiração para as colônias da América espanhola e portuguesa. Os EUA, na formação de sua matriz conceitual, perseguiram a construção de uma democracia (grega) liberal (inglesa). Simbolizando a ascensão de um grupo específi co da colônia (brancos, saxões, protestantes e proprietários), que tinham a vocação de edifi car o sonho iniciado com o Mayfl ower e resgatado na luta contra a opressão inglesa: a liberdade. Embora a luta de independência tenha envolvido outros setores sociais (negros, mulheres, brancos pobres, índios e imigrantes), a nação aguardaria um novo momento histórico para que estes setores encontrassem sua cidadania, confi rmando assim a exclusão típica das transformações sociais que conduzem uma única classe bem defi nida ao poder. Um rápido olhar sobre a história dos Estados Unidos lança diversas questões relacio- nadas à cidadania. Neste roteiro apontaremos algumas, e o debate realizado no fórum poderá suscitar novos olhares e questões. A Declaração de Independência traz em seu conteúdo pontos cruciais para formação da cidadania na nova nação: autodetermina- ção, igualdade e liberdade. A autodeterminação está relacionada ao momento histórico e à condição de subser- viência que a colônia norte-americana vivenciava em relação à metrópole inglesa. A independência possibilitaria aos colonos a construção livre de seu estatuto político, assegurando seu desenvolvimento econômico, social e cultural. A igualdade, reivindicada na Declaração de Independência, elevava os ex-colonos, (agora estadunidenses), à igualdade com os ingleses. Idealizada na teoria e distante na prática, a nova democracia tratava de forma diferenciada homens pobres, mulheres, negros e índios. A igualdade era aplicada aos iguais - brancos, saxões, protestantes e proprietários. Assista ao vídeo Mayfl ower Http://www.Youtube.Com/watch?V=4dxiax3rdkm Vídeo Cidadania conceitual - Módulo 1 Cidadania 10 Entre todos os ideais que alicerçam a construção da identidade e da cidadania estadu- nidense, é sobre a liberdade que repousa seu maior constructo e simbolismo (interno e externo). Foi em busca da liberdade, e fugindo de perseguição religiosa, que os ingleses migraram para a colônia; em nome desta acordaram a união das frações coloniais, usando-a como elemento de coesão de segmentos distintos; conclamaram sua autode- terminação e tomaram o lugar da Inglaterra no comércio mundial; através de seu uso consagraram-se seus protetores (a terra da liberdade); e dos abusos, cometidos em seu nome, se intitularam seu perpétuo defensor, possibilitando-os ocuparem o lugar de xerifes da nova ordem mundial, via intervenções que buscam garantir liberdade, democracia e paz. A Revolução Francesa é inegavelmente um dos momentos históricos dotados de maior simbolismo para o imaginário coletivo contemporâneo (moderno e pós-moderno). Seus ideais, práticas, consequências e questionamentos expressam transformações, continuidades e contradições existentes na nova ordem social ocidental (capitalismo). A Revolução Francesa extrapolou os limites em ações com a prática do “terror”; e ideologicamente, ao acreditar na possibilidade de criar liberdade, igualdade e frater- nidade, como valores fundamentais para construção de uma sociedade harmônica e justa. Estes três pilares harmonizam-se com a busca iniciada no antropocentrismo e perseguida pela modernidade: a conciliação entre os homens dotados de instintos, paixões, desejos e racionalidade. A busca pela realização de suas vontades (felicidade) está baseada no direito natural que cada homem possui, sendo este inalienável. A Revolução Francesa representou a ascensão da burguesia ao poder através de um processo violento e sangrento, alternando momentosde extremismo e profunda refl e- xão sobre o indivíduo/sociedade. Marca o uso do povo pela burguesia para dominar o cenário político e garantir direitos, estabelecendo limites para sua ação. Posterior à Revolução Francesa, o proletariado formado pós-Revolução Industrial assumiu o papel de agente revolucionário da história, o que direcionou a burguesia para o plano do status quo ou establishment. Tal confi guração social entrou em choque no início do século XX, motivada pela Revolução Russa (1917), Crise de 1929, as Guerras Mundiais e os regimes totalitários. Cidadania conceitual - Módulo 1 Cidadania 11 Assista ao vídeo: “CLICHY -SOUS-BOIS REGINA CAZÉ CIDADE DE DEUS “ http://www.youtube.com/watch?v=PH9lHieB1zk Indo além Anexo - Atividades Cidadania Bloco de notas e anotações Este espaço é para você anotar suas observações com relação a disciplina estudada. Importante: Leia todas as orientações passo a passo no “Tutorial do Aluno” de como realizar suas Atividades.
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