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Universidade Técnica de Lisboa INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA GENÉTICA DE POPULAÇÕES Antero Martins e J. Neves Martins 2009 ÍNDICE Introdução............................................................................................................................................................................. 2 Equilíbrio de Hardy-Weinberg ............................................................................................................................................. 2 Factores de evolução............................................................................................................................................................. 8 Migração ........................................................................................................................................................................... 8 Mutação ............................................................................................................................................................................ 9 Selecção .......................................................................................................................................................................... 12 Dominância completa e selecção contra A2A2......................................................................................................... 13 Codominância e selecção contra A1A2 e A2A2......................................................................................................... 16 Sobredominância, selecção a favor dos heterozigóticos......................................................................................... 16 Sobredominância, selecção contra os heterozigóticos ............................................................................................ 17 Equilíbrio entre mutação e selecção................................................................................................................................ 18 Dominância completa e selecção contra A2A2, mais mutação reversível .............................................................. 18 Deriva Genética .............................................................................................................................................................. 19 Fixação e aproximação à homozigose...................................................................................................................... 25 Endogamia .......................................................................................................................................................................... 33 Tamanho efectivo da população ..................................................................................................................................... 42 Consanguinidade e genealogias ...................................................................................................................................... 44 2 GENÉTICA DE POPULAÇÕES Introdução A genética nasceu e desenvolveu-se através de estudos de hereditariedade em indivíduos e linhas puras e respectivas descendências, gerações F1, F2 e seguintes, cruzamentos retrógados, etc.. Foi inicialmente uma genética predominantemente de características qualitativas em famílias de autofecundação e a estas situações ficou preferencialmente associada a expressão "genética mendeliana". Mais tarde foram introduzidas generalizações que tornaram aplicáveis os principios mendelianos a um mais vasto elenco de situações, como a transmissão dos genes em populações de fecundação cruzada, os efeitos da selecção na modificação das frequências génicas, consequências da endogamia etc., e este novo domínio ficou conhecido como "genética de populações". O termo "população" pode significar qualquer conjunto de indivíduos, porém, dentro da expressão atrás, aplica-se a grupos de indivíduos que se reproduzem por cruzamento entre si, isto é, por fecundação cruzada. Por uma curiosa troca de palavras e significados essas populações também são chamadas mendelianas (quando não são objecto da genética mendeliana). Equilíbrio de Hardy-Weinberg Em regime de autofecundação verifica-se que cruzando duas plantas homozigóticas diferindo em um gene (cruzamento monohíbrido) se tem o seguinte resultado: P AA x aa F1 Aa F2 1AA : 2Aa : 1aa F3 3AA : 2Aa : 3aa … ................................. As famílias tendem rapidamente para a homozigocidade com o avanço das gerações, segundo a expressão: % homozigóticos = %, 100 x 1g2 11 − − em que g representa a ordem da geração. Fazendo idêntico cruzamento com duas plantas de fecundação cruzada, o resultado será semelhante até à F2, como é fácil verificar, mas as estruturas das gerações F3 e seguintes serão diferentes das suas correspondentes em regime de autofecundação. Para estabelecermos a descendência da população de fecundação cruzada ¼AA:½Aa:¼aa (F2) podemos seguir o raciocínio que consiste em considerar todos os tipos de cruzamento possíveis entre os diferentes genótipos da população, e as respectivas frequências relativas, obter as descendências de cada um deles, ponderá- las em relação à sua frequência e somar os resultados 3 ¼AA : ½Aa : ¼aa Cruzamento Frequência Descendência Desc. ponderada 1 2 3 4 5 6 1/16 4/16 1/16 2x2/16 2x2/16 2x1/16 AA AA 2Aa aa aa AA Aa Aa aa Aa AA AA 2Aa aa aa 2AA 2Aa 2Aa 2aa 2Aa 4AA 8Aa 4aa Conclui-se, portanto, que as proporções genotípicas da F3 são iguais às da F2 e, como é fácil de ver, o mesmo aconteceria com as gerações F4 e seguintes. A mesma conclusão, mas em termos mais gerais, pode ser obtida se se considerar à partida uma população contendo os três genótipos atrás referidos (AA, Aa, aa) mas em proporções diferentes das duma F2 e de modo que a sua produção gamética seja pA:qa. Então, a sua descendência será pA qa pA p2AA pqAa qa pqAa q2 aa ou p2AA : 2pqAa : q2aa. Por sua vez, esta população produzirá os seguintes gâmetas Genótipo Gâmetas p2AA 2pqAa q2aa p2A pqA : pqa q2a (p2+pq)A : (q2+pq)a ou p(p+q)A:q(p+q)a, ou ainda pA:qa. Portanto, os gâmetas produzidos pela população são os mesmos que lhe deram origem e a geração F4 será ainda igual à F3, e assim por diante. Pode-se pois concluir que em populações de fecundação cruzada e casual (populações panmíticas) e na ausência de selecção, mutação, migração e deriva as proporções génicas (melhor, alélicas ou gaméticas) e genotípicas estão relacionadas pelas expressões Cruz.1 Cruz.2 Cruz.3 Cruz.4 Cruz.5 Cruz.6 ♀ ♂ 4 pA:qa ⇔ p2 AA : 2pq Aa : q2 aa (1) e que umas e outras se mantêm constantes ao longo das gerações. Esta proposição constitui a chamada lei de Hardy-Weinberg. No fundo, ela não contém conceitos novos, em relação aos vistos na genética mendeliana, sobre o mecanismo de transmissão dos genes de progenitores a descendentes. Simplesmente dá-nos informação sobre um novo mecanismo de associação dos diferentes alelos de um gene, para a formação dos genótipos em descendências, quando o sistema de acasalamento é a fecundação cruzada. É evidente que em qualquer momento se poderá dispôr de populações que não obedeçam à referida lei, isto é que não estejam em equilíbrio de Hardy-Weinberg. Por exemplo a população ½AA:½Aa não está em equilíbrio, pois não contém um dos genótipos que podem constituir-se com os dois alelosdo gene. E mesmo que contivesse os três genótipos, isso não bastaria só por si para que a população se pudesse considerar em equilíbrio. Com efeito, no estado de equilíbrio, a percentagem de um genótipo não é independente das percentagens dos outros mas está relacionada com elas através da expressão (1). Porém, a partir duma situação de não equilíbrio, uma só geração de fecundação cruzada virá repô-lo novamente, como facilmente se poderá constar, e isto independentemente das frequências génicas na população considerada (mas o mesmo não se verificará se se considerarem simultaneamente dois ou mais genes e respectivos genótipos). A relação entre frequências génicas e genotípicas em populações em equilíbrio pode representar-se graficamente como indicado na página seguinte. Quando numa população em equilíbrio a frequência de A for alta haverá muitos genótipos AA, poucos aa e um número intermédio de Aa, e ocorrerá o inverso quando a frequência de A for baixa (frequência de a elevada). Quando as frequências de A e a forem iguais, existirão tantos genótipos AA como aa e um número duas vezes maior de Aa. A expressão (1) obtida atrás pode facilmente generalizar-se a casos de alelomorfismo múltiplo. Consideremos, por exemplo, a série alelomórfica determinante dos grupos sanguíneos 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 Frequência génica de A (p) Fr eq u ên ci as ge n o típ ic as ( p 2 , 2p q, q2 ) AAaa Aa 5 (sistema A, B, O) no homem e tomemos uma população em que os alelos A, a1, a figurem com as frequências p, q, r, respectivamente. Então, com base em raciocínios semelhantes aos usados atrás e utilizando um xadrez mendeliano, é fácil concluir que as frequências genotípicas na população serão as seguintes: AA-p2 Aa1 - 2pq a1a1-q2 Aa - 2pr aa-r2 a1a - 2qr Foi dito atrás que o equilíbrio de Hardy-Weinberg se atingia numa só geração de fecundação cruzada. Isto é verdadeiro quando se considera um locus isolado mas não para dois ou mais loci considerados conjuntamente. Tomemos por exemplo uma população constituída pelos genótipos AABB e aabb em partes iguais. Após uma geração de fecundação cruzada teremos uma população com três genótipos (AABB, aabb, AaBb) mas faltam outros dos teoricamente previstos. Na verdade, naquela população inicial as frequências alélicas são ½ A: ½ a: ½ B : ½ b e, no estado de equilíbrio, deveríamos ter 1/4 BB - 1/16 AABB 1/4 AA 1/2 Bb - 2/16 AABb 1/4 bb - 1/16 AAbb 1/4 BB - 2/16 AaBB 1/2 Aa 1/2 Bb - 4/16 AaBb 1/4 bb - 2/16 Aabb 1/4 BB - 1/16 aaBB 1/4 aa 1/2 Bb - 2/16 aaBb 1/4 bb - 1/16 aabb Com mais uma geração de fecundação cruzada ainda não se alcançará o equilíbrio pois, embora apareçam já todos os genótipos esperados (os descendentes de AaBb, da geração anterior, distribuem-se por todos os genótipos) estes não figuram com as frequências acima calculadas (haverá um excesso de AABB e aabb). Com as frequências dos gâmetas produzidos por determinada população é possível exprimir matematicamente a sua aproximação ao equilíbrio. Considerem-se então dois genes numa população e as respectivas produções de gâmetas. Gâmetas AB Ab aB ab frequências r s t u Deste modo, a geração descendente poderá estabelecer-se facilmente recorrendo a um xadrez mendeliano e agrupando os genótipos iguais assim obtidos, de que resulta 6 r AB s Ab t aB u ab r AB r2 AABB rs AABb rt AaBB ru AaBb s Ab rs AABb s2 Aabb st AaBb su Aabb t aB rt AaBB st AaBb t2 aaBB tu aaBb u ab ru AaBb su Aabb tu aaBb u2 aabb r 2 AABB 2rs AABb s2 AAbb 2rt AaBB t2 aaBB 2su Aabb u2 aabb 2tu aaBb 2ru+2st AaBb Ora, o equilíbrio será alcançado quando esta geração descendente produzir os mesmos tipos de gâmetas e com iguais frequências da geração que lhe deu origem, isto é, quando não houver mais alteração de frequências gaméticas e genotípicas de geração em geração. Vejamos então qual é a produção de gâmetas da descendência acima estabelecida e em que condições ela iguala a produção de gâmetas da geração anterior, r, s, t, u. genótipos gâmetas r 2 AABB 2r2 AB s2 Aabb 2s2 Ab t2 AaBB 2t2 aB u2 Aabb 2u2 ab 2rs AABb 2rs AB 2rs Ab 2rt AaBB 2rt AB 2rt aB 2su Aabb 2su Ab 2su ab 2tu aaBb 2tu aB 2tu ab 2ru+2st AaBb ru+st AB ru+st Ab ru+st aB ru+st ab Fazendo o agrupamento dos gâmetas iguais resulta AB (2r2 +2rs +2rt +ru + st) ou ++++ r st u2t2s2rr AB Ab (2s2 +2rs +2su +ru +st) ou ++++ s ru t2u2r2ss Ab aB (2t2 +2rt +2tu +ru +st) ou ++++ t ru s2u2r2tt aB ab (2u2 + 2su + 2tu + ru + st) ou ++++ u st r2t2s2uu ab 7 Para que estas frequências gaméticas sejam iguais a r, s, t, u basta que 2r +2s + 2t + u + r st = 2s + 2r+ 2u+ t + s ru = 2t + 2r+ 2u +s + t ru = 2u + 2s + 2t+ r + u st E resolvendo, por exemplo, a primeira destas equações1, resulta finalmente ru = st. O equilíbrio verificar-se-á, portanto, quando se verificar aquela igualdade e, por outro lado, a diferença d = ru - st exprime o grau de afastamento do referido equilíbrio. Se em vez de dois tivéssemos considerado três ou mais genes em conjunto chegaríamos a conclusões paralelas, porém, nestes casos, a aproximação ao equilíbrio é tanto mais lenta quanto maior o número de genes. Outro factor que retarda a aproximação ao equilíbrio é o ligamento. Como se sabe o ligamento entre dois genes pode ocorrer em acopulação ou em repulsão. Numa determinada população podemos encontrar genótipos homozigóticos nos 2 loci, homozigóticos em um e heterozigóticos em ambos. E estes últimos podem ser acopulação ou repulsão Se em determinada população houver predomínio de um destes tipos, haverá também predomínio dos tipos de gâmetas parentais correspondentes e afastamento do equilíbrio (s e t muito diferentes e baixo valor do produto st). O equilíbrio verificar-se-á só quando as fases de acopulação e de repulsão forem igualmente frequentes na população. Nestas condições, as frequências gaméticas já não dependerão do ligamento mas só das frequências génicas. Uma expressão de recorrência exprimindo a influência do ligamento no retardamento da aproximação ao equilíbrio poderia ter-se estabelecido quando se fez a dedução da expressão do equilíbrio, d = ru - st, se então tivéssemos introduzido a fracção de recombinação fr no cálculo das produções gaméticas. Essa expressão tem a seguinte forma ( )nn frdd −= 10 em que do e dn representam as diferenças ru - st nas gerações inicial e de ordem n, respectivamente. Por aqui se vê que dn tende para zero (a população tende para o equilíbrio) à medida que n aumenta, mas tanto mais lentamente quanto menor for fr (maior o ligamento). Uma consequência importante a extrair destas considerações é que populações em equilíbrio não devem exibir associação genética de características em resultado da existência de ligamento. Com efeito, essa associação só se manifestará após mistura de populações com estrutura genética diferente, mas tenderá a diluir-se nas gerações subsequentes. 1 s ru u r st t s ru tu2r2s2 r st ut2s2r2 +=+++++=++++ ( ) ( ) strursrusrsturrsutsrst 22 =→+=++=+ A B a b A b a B 8 Factores de evolução Como se disse atrás, populações em equilíbriode Hardy-Weinberg manterão a sua estrutura genética (proporções dos diferentes genótipos) estável se forem populações grandes, de acasalamento aleatório, e se não se verificar selecção, migração ou mutação. A não verificação de algumas destas condições pode determinar alterações das frequências alélicas e, consequentemente, da composição genotípica. O problema das populações pequenas como fonte de variação das frequências génicas é essencialmente diverso dos outros factores indicados, quer pela sua natureza, quer no tipo dos seus efeitos. A selecção, mutação e migração são fenómenos de índole essencialmente biológica e podem ser estudados quanto à direcção e intensidade dos seus efeitos. Por outro lado, as flutuações das frequências génicas em populações pequenas são resultado directo de “erros” de amostragem dos gâmetas que asseguram a passagem duma geração à geração seguinte. São flutuações casuais, em sentido e amplitude, a sua natureza assume uma importante componente estatística e o seu estudo é feito segundo métodos correspondentes. O resultado desses “erros” de amostragem genética em populações pequenas é habitualmente conhecido por deriva genética. Migração Entende-se por migração a troca de genes entre populações, principalmente por meio da deslocação de pólen e sementes, no caso vegetal, ou de indíviduos, no caso animal. A situação que nos importa considerar é aquela em que se processa uma entrada de genes na população sob estudo, pois o processo inverso tem consequências menos importantes (repare-se que, por exemplo, uma população grande de pinheiros, ou de milho, tem uma produção tão grande de pólen que o arrastamento pelo vento duma parte substancial não afectará sensivelmente a estrutura genética dessas populações). Para a respectiva análise assume-se que a parte que sai é uma amostra representativa do todo e não se altera o que fica. Restringindo-nos então à imigração, tomemos uma população grande composta por uma parte imigrada m e uma parte original 1-m com as frequências de determinado alelo de qm e qo respectivamente. Então, a frequência desse alelo na população conjunta será ( ) 0m1 qm1mqq −+= ( ) 00m qqqm +−= E a alteração da frequência génica por efeito da imigração, ∆q = q1− q0 ( )0m qqm −= Esta equação pode aplicar-se, por exemplo, ao estudo de algumas situações concretas de contaminação por pólen estranho de “pomares” produtores de semente de espécies florestais, entre outras. 9 Mutação A mutação consiste na replicação de um alelo distinto do alelo molde original durante o processo da síntese do DNA. Como é evidente, uma consequência directa deste fenómeno, e a que de momento nos interessa, é a alteração das frequências alélicas na população considerada. Porém, três situações distintas se podem considerar quanto à incidência da mutação na alteração das frequências génicas: a mutação ocorre uma só vez produzindo um alelo novo numa população homozigótica (mutação não recorrente) ou essa mutação ocorre repetidamente no mesmo sentido, segundo determinada taxa (mutação recorrente unidireccional), ou ainda a mutação ocorre sistematicamente nos dois sentidos segundo taxas próprias (mutação recorrente reversível). O primeiro tipo de mutação tem pouca importância como factor de alteração das frequências génicas numa população grande. Com efeito, a ocorrência, digamos, de uma mutação A→a numa população de indivíduos AA determina o aparecimento do novo alelo com uma frequência extremamente baixa. Em princípio, e segundo a lei de Hardy-Weinberg, essa frequência manter-se-ia ao longo das gerações. Porém, deve ter-se presente a flutuação das frequências génicas devidas ao efeito da amostragem, já referido atrás. Com frequências alélicas significativamente afastadas de zero, e em populações grandes, essas flutuações não têm significado. Mas, quando existe uma só edição dum alelo numa população, há uma probabilidade elevada de que ele seja perdido numa só geração. Se não o for na 1ª geração, continua a existir alta probabilidade de o vir a ser na segunda. Deste modo, é praticamente certo que um só alelo dum gene, ou um pequeno número, não sobrevivem durante muitas gerações numa população (a não ser que determinem nos indivíduos que os transportam vantagem adaptativa significativa). Estão deduzidas expressões que traduzem a probabilidade de extinção de um alelo mutante ao longo das gerações. Para o caso de um alelo sem vantagem adaptativa indicam-se a seguir alguns valorres particulares (adaptado de Wright, 1976) Geração 1 3 5 15 63 127 ∞ Probabilidade de extinção de um alelo mutante 0,37 0,63 0,78 0,89 0,97 0,98 1 O segundo tipo de mutação - mutação recorrente unidireccional - tem mais interesse, na medida em que determina efectivamente alterações das frequências génicas. Suponhamos então que numa população grande ocorre mutação A→→→→a com a taxa u. Sendo q0 a frequência inicial de a, a frequência na geração descendente será q1 = q0 + up0, que se pode também escrever q1=1-(1-u)(1-q0) 1. 1 q0+up0 = q0+u(1-q0) = 1-1+q0+u(1-q0) = 1-[1-q0-u(1-q0)] = 1-(1-q0-u+uq0) = 1-(1-u)(1-q0) 10 Aplicando o mesmo raciocínio à 2ª geração, obtemos q2=q1+up1=1-(1-u)2 (1-q0). E, por semelhança, qn=1-(1-u)n (1-q0), que tende para 1 quando n tende para infinito. Isto é, seja qual for a taxa de mutação u, o gene A tende a desaparecer da população, e tanto mais rapidamente quanto maior for aquela taxa. O número de gerações necessário para a fixação dum alelo é, porém, geralmente muito elevado. Como exemplo, pode referir-se que, segundo a fórmula anterior, para u = 10-5 (ordem de grandeza da taxa de mutação na natureza) são necessárias cerca de 12 000 gerações para elevar o valor de q de 0,1 a 0,2. Vejamos finalmente o caso da mutação recorrente reversível. Suponhamos que dois alelos existem numa população nas frequências iniciais de p0A : q0a e que se verificam as seguintes taxas de mutação A a Decorrida uma geração, as novas frequências serão p1 = p0 + vq0 – up0 q1 = q0 + up0 – vq0 e os acréscimos relativamente à geração inicial, ∆p1 = (p0 + vq0 - up0) - p0 = vq0 – up0 ∆q1 = (q0+ up0 – vq0) - q0 = up0 – vq0 Isto é, os acréscimos entre duas gerações são função das taxas de mutação e das frequências na geração inicial. Daí que possamos também escrever ∆pn+1 = vqn - upn. E atingir-se-á um estado de equilíbrio dinâmico quando for ∆=0, ou seja, quando p assumir um valor pe tal que v (1 – pe) - upe = 0 ou vu vpe + = 2 2 v-vpe-upe=0 pe(u+v)=v pe=v/(u+v) u v 11 Para termos uma ideia de como se dá a aproximação ao equilíbrio, vamos exprimir a variação do “desvio do equilíbrio” entre duas gerações em função das taxas de mutação: ∆pn = vqn-1 - upn-1 = = v(1- pn-1) - upn-1 = = v- pn-1(u+v) = = (u+v) ( vu v ++++ - pn-1). Substituindo vu v ++++ por pe vem ∆pn = (u+v) (pe-pn-1) ou pn - pn-1 = (u+v) (pe-pn-1). Somando pe e trocando sinais, pe-pn+pn-1 = pe – (u+v) (pe – pn), pe-pn = pe –pn-1 - (u+v) (pe – pn-1) = = (pe –pn-1) [1 – (u+v)] O afastamento do equilíbrio quando se passa duma geração à seguinte é multiplicado por um factor inferior mas muito próximo da unidade, 1-(u+v), ou seja, diminui muito lentamente, e tanto mais lentamente quanto menores as taxas de mutação. A partir da expressão anterior podemos escrever imediatamente a seguinte, pe –pn-1 = (pe –pn-2) [1 – (u+v)] e substituindo na primeira pe –pn-1 pelo seu valor, pe – pn= (pe –pn-2) [1 – (u+v)] [1 – (u+v)], ou ainda, por semelhança, pe –pn = (pe –p0) [1 – (u+v)]n, que nos permite relacionar o afastamento do equilíbrio com o avanço das gerações. 12 Selecção Os efeitos da migração e mutação na alteração das frequências génicas foram estudados supondo que, em cada geração, todos os indivíduos contribuiam com igual número de gâmetas para a geração seguinte. Isto é, supôs-se que todos os genótipos estavam igualmente adaptados ao ambiente, que não havia selecção diferencial contra qualquer deles. Contudo, esta identidade adaptativa nem sempre se verifica. Certos genótipos podem conferir aos indivíduos vida mais curta, menor fertilidade, ou outras características que se reflitam numa menor contribuição gamética útil para a geração descendente. Nestes casos dizemos que existe selecção contra esses genótipos. De acordo com o que acaba de dizer-se, a selecção contra determinado genótipo pode quantificar-se pela sua produção de gâmetas, relativamente à produção padrão do genótipo mais adaptado. Suponhamos, por exemplo, que numa população com os genótipos AA, Aa e aa, figurando em proporções quaisquer, a produção gamética comparada de cada indivíduo é como segue: AA Aa aa 1 1 1-s Então, dizemos que existe selecção contra aa e que o respectivo coeficiente de selecção tem o valor s. Por outro lado, 1 - s quantifica o valor adaptativo do genótipo. Torna-se evidente que a existência de selecção contra determinado genótipo faz reduzir a passagem dos alelos desse genótipo de cada geração à seguinte, isto é, tem uma acção de alteração das frequências génicas ao longo das gerações. Para analizar o efeito da selecção na evolução das frequências génicas, têm de considerar-se várias situações distintas decorrentes quer da natureza dos genótipos afectados pela selecção (heterozigótico ou um ou dois homozigóticos) quer das relações de adaptabilidade entre os diferentes genótipos. Quanto a este segundo ponto, diferentes situações possíveis se podem esquematizar, como segue: CODOMINÂNCIA A1A1 A1A2 A2A2 1 1-½ s 1-s DOMINÂNCIA PARCIAL A1A1 A1A2 A2A2 1 1-k s 1-s DOMINÂNCIA COMPLETA A1A1 A1A2 A2A2 1 1 1-s DOMINÂNCIA COMPLETA A2A2 A1A2 A1A1 1 1-s 1-s SOBREDOMINÂNCIA A1A2 A1A2 A2A2 1 1-½ s 1-s2 ADAPTABILIDADE 13 Deve entretanto prevenir-se que o conceito de dominância aqui utilizado não coincide necessariamente com o sentido clássico da expressão, relacionado com a manifestação fenotípica dos genes. No caso presente, dominância significa igualdade adaptativa entre genótipos heterozigótico e homozigótico. Só nos casos particulares em que o fenótipo se refira a características directamente relacionadas com a produção de gâmetas, poderá haver sobreposição entre os dois conceitos. Os processos de análise adequados para as diferentes situações referidas são, porém, idênticos no essencial. Trata-se de tomar como ponto de partida uma população em equilíbrio, em que um ou mais genótipos são afectados por determinados coeficientes de selecção e calcular a direcção e intensidade de variação das frequências génicas nas gerações subsequentes. Dominância completa e selecção contra A2A2 Nestas condições as adaptabilidades de A1A1 e A1A2 são iguais e A2A2 é afectado por um coeficiente de selecção s. Na população inicial em equilíbrio teremos pA1 : qA2 e uma estrutura p2A1A1 : 2pqA1A2 : q2A2A2. A produção de gâmetas será A1A1 - p2 A1A2 - 2pq A2A2 - q2(1-s) num total de p2 + 2pq + q2 (1-s) = 1 - sq2 e afectados aos seguintes alelos 2sq1 pq2p 1A −−−− ++++ →→→→ 2 2 2 sq1 s)-(1qpqA − + → (2) Podemos apresentar os resultados esquematicamente da seguinte forma: TOTAIS Genótipo A1A1 A1A2 A2A2 Frequências génica pA1 qA2 1 Frequências genot p2 2pq q2 1 Valor adaptativo. 1 1 1-s Produção de gâmetas p2 2pq q2(1-s) p2+2pq+ q2(1-s)= 1-sq2 Produção de A1 2 2 sq1 pqp − + Produção de A2 2 2 sq1 s)-(1qpq − + 14 Calculando a variação da frequência de A2 entre as duas gerações temos q2sq1 s)(12qpqq −−−− −−−− −−−−++++ ====∆∆∆∆ = 2sq1 q)(12q −−−− −−−− −−−− s Verifica-se pois que o acréscimo é negativo e depende do coeficiente de selecção e das frequências iniciais. Em valor absoluto, aumenta com o aumento de s, mas a relação com q é mais complexa. Essa relação pode contudo ver-se melhor no gráfico que segue (adaptado de FALCONER, 1970) construído para um valor de s=0,2 O aspecto mais importante a notar é que a influência da selecção na alteração das frequências génicas é mais acentuada quando estas têm valores intermédios. Se numa população tivessemos, por exemplo, q = 0,99 e encetássemos selecção sistemática contra A2A2, teríamos primeiro uma fase de progressos lentos ( ∆ q baixo em valor absoluto) depois uma fase de progressos rápidos e finalmente outra fase de progressos lentos. Em particular, a selecção contra os homozigóticos recessivos é de eficácia extremamente baixa quando a sua frequência se aproxima de zero. E isto acontece assim porque, em tal situação, os genes recessivos encontram-se praticamente só sob a forma de genótipos heterizigóticos, portanto protegidos da selecção. Uma outra forma de analizar a evolução das frequências génicas sob um regime de selecção consiste em expressar o número de gerações necessárias para provocar uma determinada alteração em função das frequências no início e fim do período. Fá-lo-emos para uma situação de dominância, como a que vem sendo tratada, e em que s = 1, isto é, em cada geração todos os indivíduos A2A2 são eliminados. Se na expressão (2) substituirmos s por 1, vem para as gerações 1,2,3... 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 q ∆∆ ∆∆ q (va lo r a bs o lu to ) (-) 15 0 0 1 1 q q q + = 4 1 1 2 1 q q q + = ……………… Mas tem-se também que 0 0 0 0 0 0 1 1 2 21 1 1 1 1 q q q q q q q q q + = + + + = + = 0 0 3 31 q q q + = …………….…… 0 0 1 tq q qt + = Tirando da última expressão o valor de t para passar de q0 a qt, vem finalmente 5 0 11 qq t t −= Muito embora as condições de aplicação desta fórmula sejam bastante particulares (s = 1), também por ela se pode ver que uma pequena alteração de q, quando o seu valor for muito baixo, levará muitas gerações a conseguir-se como, aliás, já tinhamos concluido atrás. No quadro a seguir (adaptado de LACADENA, 1976) indicam-se os valores de q em várias gerações com selecção s = 1 contra A2A2, a partir duma situação inicial q = 0,5. Geração q 1 0,5 2 0,333 3 0,250 4 0,200 5 0,167 10 0,091 20 0,048 50 0,020 100 0,010 200 0,005 1000 0,001 4 ( ) ( )( ) ( ) 0 0 00 00 00 00 2 0 00 2 0 2 000 1 q1 q pq1 qp q1q1 qp q1 qp sq1 s1qqpq + = + = −+ = − = − −+ = 5 000 00 0 0 0 111 qqqq q qq q t q q q q tq q q tq tt t tt t tt −=−=−==+ 16 Codominância e selecção contra A1A2 e A2A2 Os coeficientes de selecção e as produções gaméticas são como se apresenta a seguir TOTAIS Genótipo A1A1 A1A2 A2A2 Frequências génica pA1 qA2 1 Frequências genotípicas p2 2pq q2 1 Valor adaptativo. 1 1-½s 1-s Produção de gâmetas p2 − spq 2 112 ( )sq −12 21 sqspq −− Produçãode A2 ( )( )sq sqsq − −− 12 2 Nestas condições temos, ( ) ( )sq12 q1sq ∆q − − = Para um dado valor de s, esta expressão toma os valores mais baixos quando q assume valores próximos de zero ou 1, e os valores mais elevados quando q tem um valor intermédio. O gráfico dos valores ∆q em função de q é do tipo indicado da secção anterior (caso da dominância), porém, exibindo uma quase simetria vertical. Sobredominância, selecção a favor dos heterozigóticos Como na secção anterior, a situação pode esquematizar-se da seguinte forma: TOTAIS Genótipo A1A1 A1A2 A2A2 Frequências génica pA1 qA2 1 Frequências genotípicas p2 2pq q2 1 Valor adaptativo. 1-s1 1 1-s2 Produção de A2 2 2 2 1 2 2 1 qsps qsq −− − O acréscimo de q numa geração tem o valor ∆q = pq s p s q s p s q ( )1 2 1 2 2 21 − − − e toma o valor zero quando 17 qsps 21 = Sendo nulo o valor de ∆∆∆∆q, a população está em equilíbrio, embora continue a verificar-se a selecção (equilíbrio dinâmico). Os valores de equilíbrio de p e q são função dos coeficientes de selecção e independentes das frequências iniciais e tiram-se da equação de equilíbrio pe = s s s 2 1 2+ qe = s s s 1 1 2+ No âmbito do melhoramento de plantas e animais é muito frequente a ocorrência de situações em que do carácter heterozigótico das populações resultam incrementos apreciáveis de características de interesse económico. Esses fenómenos aparecem geralmente sob a designação de vigor híbrido, muito embora as características influenciadas não sejam só as relacionadas com o vigor dos indíviduos mas com um conjunto muito mais vasto, que pode ir desde uma melhoria de economia hídrica e de absorção de elementos minerais até uma maior precocidade ou resistência a doenças. O vigôr híbrido pode ser em parte explicado pelo efeito de dominância (como se verá ao estudar a endogamia e a genética quantitativa), porém, outra hipótese frequentemente referida é a da sobredominância. Segundo esta hipótese, determinados genótipos heterozigóticos integrantes de sistemas poligénicos terão uma eficiência biológica superior aos homozigóticos, logo, determinarão valores mais elevados de várias caracteristicas, ou seja, terão maior valor adaptativo. Originam-se assim situações de selecção a favor dos heterozigóticos com consequências genéticas como acabámos de analizar. Esta hipótese da vantagem adaptativa dos heterozigóticos coaduna-se bem e constitui mesmo uma boa explicação para a ocorrência, em populações naturais, de genes com frequências intermédias. Estas situações são denominadas por polimorfismo. Os genes com frequências intermédias determinam o aparecimento dos respectivos fenótipos também com altas frequências sem que algum se possa considerar como mutante. Um exemplo muito estudado é o sistema genético que governa os tipos sanguíneos no homem (sistema ABO), mas muitos outros se poderiam referir. Veremos adiante que o aparecimento de genes com baixas frequências (mutantes) se poderão explicar como resultado dum equilíbrio entre mutação e selecção fraca contra homozigóticos, isto é, um muito reduzido coeficiente de selecção é suficiente para levar um gene a frequências muito baixas face a taxas de mutação correntes. O aparecimento de frequências intermédias não é pois facilmente compatível com esse esquema interpretativo. Ora, a selecção a favor dos heterozigóticos conduz a equilíbrios estáveis que dependem só da relação das adaptabilidades dos homozigóticos e, sendo estas próximas, permite a permanência dos alelos com frequências intermédias. Sobredominância, selecção contra os heterozigóticos Neste caso, por raciocínios semelhantes aos já usados, chegaríamos à seguinte expressão dos acréscimos ∆q = pqs q pqs (2 )− − 1 1 2 18 que se anula para q = 0,5. Este é, portanto, um ponto de equilíbrio. Mas trata-se dum equilíbrio instável pois ∆q é positivo quando q > 0,5 e negativo quando o q < 0,5. Perdido o equilíbrio, a população evolui para a fixação de um dos genes. Equilíbrio entre mutação e selecção Vimos ao longo das rubricas precedentes que tanto a mutação como a selecção podem modificar as frequências génicas e analizámos separadamente a forma como tais modificações se processam. Torna-se evidente que quando mutação e selecção actuam no mesmo sentido, aumentando a frequência de um ou de outro gene, resulta um efeito global ampliado, no mesmo sentido. Porém, esta não é certamente a situação mais comum na natureza. Geralmente, uma mutação reversível ocorre a taxa superior do alelo mais adaptado para o memos adaptado, em relação à taxa no sentido inverso. Na ausência de outra força estabilizadora, esses alelos deveriam aparecer nas populações com frequências elevadas, o que não se verifica. Por outro lado, é corrente observar-se nas populações a presença estável de certos alelos de baixo valor adaptativo com frequências que não seriam de esperar em face de uma acção isolada da selecção. O que acontece é que a acção conjugada da mutação e selecção determina a ocorrência de equilibrios novos, diferentes e intermédios dos vistos atrás quando da acção de cada um daqueles factores em separado. A posição desses novos equilibrios poderá determinar-se para cada caso, somando e igualando a zero as expressões dos acréscimos de uma alelo por acção da selecção e da mutação. Com efeito, quando essa soma for nula, não haverá mais modificações das frequências génicas. Dominância completa e selecção contra A2A2, mais mutação reversível Somando e igualando a zero as expressões dos acréscimos anteriormente encontradas para a mutação e selecção tem-se ( ) 0 sq1 q1sq vqup 2 2 = − − −− Para valores baixos de v e s, podem fazer-se simplificações (isto é, desprezar vq e 1-sq2), ( ) ( ),q1sqq1u 2 −=− donde resulta s uq = 19 Ora a ordem de grandeza da taxa de mutação natural é muito baixa (10-4, 10-8, ...) bastando portanto também coeficientes de selecção bastante fracos para manterem o valor de q próximo de zero. A título de exemplo, e como aplicação da fórmula anterior, apresentam-se a seguir as frequências génicas de equilíbrio q quando a selecção actua contra os homozigóticos recessivos segundo diversos coeficientes de selecção e supondo uma taxa de mutação unidireccional u = 10-5 no sentido Α1Α2. s 0,001 0,01 0,1 0,5 q 0,1 0,03 0,01 0,0045 Em populações naturais as frequências observadas de genes deletérios são geralmente muito baixas, mas mantêm uma certa estabilidade. A ocorrência de mutação reversível, predominante no sentido do alelo mais adaptado, ou a selecção contra esses genes, não podem explicar satisfatoriamente, quando considerados em separado, esses dados de observação. Porém, a acção conjugada da mutação e da selecção, tal como foi atrás deduzida, constitui uma boa explicação para os factos observados e pode ser a sua base fundamental. Deriva Genética Os processos de alteração das frequências génicas vistos até aqui foram estudados na suposição de que se exerciam em populações de tamanho infinito e, nestas condições, produziam efeitos sistemáticos, previsíveis matematicamente em direcção e intensidade. Contudo na prática as populações raramente se aproximam da condição de infinidade e o seu tamanho limitado vai-nos aparecer como nova causa de alteração das frequências génicas. Na origem dessas alterações está o facto de cada geração ser estabelecida com uma amostra dos gâmetas da geração anterior, sendo este mecanismo sujeito aos erros próprios dos processos de amostragem. Poder-se-ia pensar que esseserros de amostragem, por poderem ocorrer em ambos os sentidos (aumento ou diminuição da frequência dum gene), tenderiam a anular-se com o decorrer das gerações. Porém, repara-se que cada nova frequência génica resultante duma amostragem é uma situação adquirida e é a partir dela que se fará a amostragem seguinte. As amostras sucessivas de gametas são tiradas de populações sucessivamente diferentes determinando um processo dispersivo de evolução das frequências génicas, por oposição aos processos evolutivos sistemáticos que examinámos nas secções anteriores. Dada a natureza do processo dispersivo, as suas consequências não são previsíveis em direcção, quanto a uma população pequena determinada, Quer isto dizer que se nessa população um gene a figurar com a frequência q não podemos prever qual será a sua frequência nas gerações seguintes, mas somente determinar estatisticamente a probabilidade da ocorrência de determinados desvios. De acordo com estas considerações, e duma forma simplificada, pode dizer-se que o processo dispersivo tem três consequências fundamentais: 1º - A diferenciação genética de populações pequenas. Quer na natureza quem em exploração económica raramente se realizam condições de fecundação cruzada aleatória em grandes 20 populações. Mesmo no primeiro caso, a existência de diversos condicionamentos de ordem física tende a restringir o intercruzamento a grupos limitados de indivíduos. Os diversos grupos tenderão pois para a fixação genética, mas em sentidos diversos. Se em determinada geração duas populações pequenas tiverem exactamente as mesmas frequências génicas relativamente a, digamos, 20 genes, na geração n ambas terão frequências distintas e alguns genes fixados, mas não necessariamente os mesmos nem tampouco nas mesmas formas alélicas. Por exemplo, uma daquelas populações, na geração n, poderá ser constituída por indivíduos AA - CC - ee - - HH - - - 11 ......... e a outra população por indivíduos aa - - DD ee FF - HH - - - LL .... Isto significa que, passadas muitas gerações ambas as populações estarão fixadas, mas terão características diferentes. 2º - Redução da variabilidade em populações pequenas. Como já se viu atrás os genes vão- se fixando com o decorrer das gerações. No limite todos os indivíduos terão o mesmo genótipo homozigótico, e serão iguais. De todos os genes se perdeu uma das formas alélicas pelo que não haverá mais segregações. 3º - Aumento de homozigicidade e queda de vigor. Os genes fixados estão necessariamente em condição homozigótica em todos os indivíduos da população e os genes não fixados distribuem- se em proporções genotípicas segundo a lei do equilíbrio de Hardy-Weinberg, sendo tanto maior a proporção de genótipos homozigóticos quanto mais próximo se estiver da fixação (p próximo de zero ou 1). Por outro lado à condição de homozigose está geralmente associada uma queda no vigor e no nível de variadíssimas características dos indíviduos - depressão endogâmica. Esta é uma consequência de grande importância prática em melhoramento de plantas e animais pois constitui uma barreira limitante dos ganhos genéticos do melhoramento quando estes se procuram alcançar através de grandes pressões de selecção (selecção de poucos dos melhores indivíduos) ou da fixação de características de interesse económico (arrastando a fixação de outras que não têm interesse mas que determinam depressão de vigor). O estudo da deriva genética, como consequência dum processo de amostragens sucessivas está dependente da utilização de métodos estatísticos, por vezes dificilmente acessíveis. Por isso tentar-se-á apresentar o problema, nas suas linhas gerais, a um nível bastante superficial, e pormenorizar alguns pontos com maior interesse preferencialmente com base em exemplos numéricos que estabeleçam uma ligação fácil com os aspectos estrictamente de índole genética. Consideremos então uma população inicial de tamanho infinito em que as frequências dos alelos A1 e A2 são p0 e q0, respectivamente e que produz uma descendência contendo um número limitado de indivíduos N que, por sua vez, se reproduzem em gerações sucessivas t mantendo constante o seu efectivo. Suponhamos ainda que se verificam todas as outras condições necessárias à validade do equilíbrio de Hardy-Weinberg: ausência de migração, mutação, selecção e fecundação casual entre os indivíduos, incluindo autofecundação. 21 Nestas condições, a 1ª geração com N indivíduos será estabelecida com uma amostra casual de 2N gâmetas tirados da população inicial, cada um transportando um alelo A1 ou A2. O facto dessa amostragem não se fazer directamente ao nível dos gâmetas mas passar através dum processo de acasalamento casual entre os indivíduos não altera em nada a situação. Aliás, há organismos, como certos animais marinhos, em que os gâmetas são lançados no meio aquático e as descendências são estabelecidas por meio de amostragens directas, seguidas de conjugações, mas estas situações não têm nada de novo em termos genéticos. Notemos agora que uma amostra de 2N gâmetas pode transportar mais ou menos alelos A1 e A2, inclusivé todos de um ou outro tipo, dando origem em cada caso a descendências com frequências génicas próprias. Por exemplo uma amostra com 2 alelos A1 e 2N-2 alelos A2 dará origem a uma descendência em que as frequências de A1 e A2 serão respectivamente N2 2 e N N 2 22 − . Numa amostra particular não se pode determinar quantos alelos A1 ou A2 cairão, porém, podemos calcular a probabilidade de que ela contenha as diferentes proporções possíveis de A1 e A2. A distribuição de probabilidade é uma distribuição binominal com a forma ( )2N00 qp + Deste modo, a probabilidade de tiragem duma amostra com k gâmetas A1 será ( ) k2N 0 k 0k 2N k qpCP − = Exemplo - Suponhamos que na população inicial se tem p0 = ½ e se pretende saber qual a probabilidade de, numa descendência de 10 indivíduos, se vir a ter p1 = ¾. Trata-se duma aplicação directa da distribuição binominal de probabilidade. Temos 2N = 20 e a amostra de gâmetas que dará p1 = ¾ deverá conter 15 alelos A1. Então, ( ) ( ) ( ) 0,0150,50,5CP 515152015 == Portanto, há uma probabilidade de 1,5% de a frequência na população pequena descendente ser p1 = 0,75, enquanto na população inicial era p0 = 0,5. Esta nova frequência (numa população em que ocorra) é uma situação adquirida e é a partir dela que se extrairão outras amostras para transmitir a segunda descendência, e assim por diante. Deste modo as frequências de A1 (como as de A2) evoluirão duma forma errática, andarão à deriva, como se pode ver esquematicamente na figura (em que se representa a evolução de 3 populações pequenas, para efeito de comparação) e mais tarde ou mais cedo atingirão os valores de zero ou 1. 22 A média da distribuição binominal acima representada (do cálculo das probabilidades), é 2p0N. Ora, se dividirmos o número de gâmetas A1 de cada amostra por 2N (total de amostra) obtemos a frequência de A1 e então a frequência média será 0 0 1 p2N N2pp == Portanto, se da população inicial tirarmos um grande número de amostras de 2N gâmetas a frequência média de A1 será p0, como na população inicial. Porém, a frequência flutuará à volta da média, segundo um regime caracterizado pela variância da distribuição (binominal). Ora a variância do número de gâmetas A1 é 2p0q0N. E a variânccia da frequência de A1 (não confundir a expressão “variância” quando aplicada à distribuição binominal ou à proporção de A1), sendo a variância do número de alelos dividido por (2N)2, vem 2N qp σ 002 = Aliás, este valor pode também ser tomado como a variância dos desvios da frequência de A1 em relação à média e então escreve-se 2N qp σ 002∆p =Exemplo: considere-se uma população inicial com p0 = 0,75 e tiragem duma amostra de 4 gâmetas (para uma descedndência de N = 2 indivíduos), sendo as probabilidades do número de A1 e da frequência de A1 na amostra as indicadas 0 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Geração Fr eq u ên ci a de A 1 2N 1 2 1 2N 1-2N 23 Amostra com Nº de A1 Freq. de A1 Probabilidade 0 0 1 256 1 1 4 12 256 2 2 4 54 256 3 3 4 108 256 4 1 81 256 Média do número de A1, 12 54 2 108 3 81 4 256 3 + + + = x x x 2pN = 2 x 3 4 x 2 = 3 Média da frequência de A1, 12 1 4 54 1 2 108 3 4 81 256 3 4 × + × + × + = p0 = 3 4 Variância do número de A1, σ2 = 4 3 256 )34(81)33(108)32(54)31(12)30( 22222 = −+−+−+−+− ou, σ2 = 2p0q0N = 3 4 Variância da frequência de A1 σ2 = 0 3 4 12 1 4 3 4 54 2 4 3 4 108 3 4 3 4 81 1 3 4 256 3 64 2 2 2 2 2 − + − + − + − + − = ou, σ2 = p q N 0 0 2 3 64= A variância é portanto uma forma de expressar a amplitude da flutuação da frequência de A1 ao passar-se da população inicial para a sua descendência (população pequena). Como ponto importante, deve notar-se que essa amplitude é inversamente proporcional ao tamanho da população descendente, logo, o efeito de deriva genética é tanto mais acentuado quanto menor a população. Por outro lado, a variância aumenta com o avanço das gerações, segundo a fórmula σ∆p t p q N 2 0 0 1 1 1 2 = − − 24 que tende para p0q0 quando t tende para infinito. A evolução das populações passa primeiro por uma fase de dispersão da probabilidade das diferentes frequências de A1 e mais tarde atinge uma fase de fixação. No limite todos os alelos A1 estarão fixados ou perdidos e as únicas classes de frequência serão 1 e 0 e a variância igual a p0q0. Esta evolução é bem ilustrada pela figura seguinte (adaptada de FALCONER, 1970). Nela se representam as distribuições de frequência das populações com as diferentes frequências dos alelos bw75 e bw de Drosophila, em 19 gerações de 105 linhas, contendo cada 16 indivíduos, partindo de frequências iniciais p0 = 0,5. Em cada histograma, correspondente a uma geração, a altura das colunas significa a frequência, das populações com as respectivas classes de frequência do gene bw75, estas representadas em abcissas em número de alelos. e em. As colunas extremas em cada histograma representam a frequência das linhas fixadas na respectiva geração (linhas homozigóticas bw75 bw75 do lado direito - p = 1, e homozigóticas bwbw do lado esquerdo, - p = 0). Para representarem a frequência total acumulada das linhas fixadas, teriam uma altura sucessivamente maior de geração em geração mas aproximadamente igual de ambos os lados, visto p0 e q0 serem iguais. Ao falarmos atrás de frequências das classes de frequência dum gene num conjunto de linhas (ou populações pequenas) em vez de probabilidade de ocorrência dessas frequências génicas dentro duma linha, estávamos já a fazer a transição do modelo inicialmente proposto como base 25 deste estudo (população de N elementos com efectivo constante ao longo das gerações) para um modelo algo diferente que, porém, pode ser mais vantajoso para a compreensão de alguns pontos que se seguem. Na verdade o estudo da deriva pode ser feito, como até aqui, calculando nas sucessivas gerações duma população pequena as probabilidades de verificação dos diversos valores das frequências génicas ou considerar um grande número de populações pequenas de igual efectivo tiradas da mesma população inicial e calcular as frequências de populações com cada valor das mesmas frequências génicas ou ainda considerar a evolução duma só população no respeitante a numerosos genes independentes com igual frequência na população inicial, e proceder do mesmo modo. Os três modelos são equivalentes mas o segundo adequa-se melhor à apresentação dos pontos seguintes e à introdução de alguns exemplos numéricos, pelo que se adopta a partir daqui. Fixação e aproximação à homozigose Num conjunto numeroso de populações de efectivo N descendentes da população inicial verificar-se-ão todos os valores possíveis da frequência de A1, esperando-se que sejam mais numerosas as populações com p próximo do valor médio, ou seja, de p0 e menos numerosas aquelas em que a frequência de A1 se afasta daquele valor. A distribuição de probabilidades das classes de p representa-se de novo no quadro seguinte: Número de A1 K Frequência de A1 K N2 Probabilidade P(k) 0 0 q2N 1 N2 1 2Np q2N-1 2 2 2N 2 2 1 2 2 2 2N N p q n ( ) ! − − . . . . . . . . . K K N2 2 2 2N K N K p qK N K ! !( )!− − . . . . . . . . . 2N-2 2 2 2 N N − 2 2 1 2 2 2 2N N p qN ( ) ! − − 2N-1 2 1 2 N N − 2Np2N-1 q 2N 1 p2N A primeira conclusão que se pode tirar é que, se o número de populações for suficientemente grande, resultarão fixadas nesta primeira geração p2N populações homozigóticas A1A1 e q2N populações A2A2. Ao nível da segunda geração esta fracção p2N + q2N do conjunto das populações permanece fixado e uma parte das que resultarão das populações não fixadas na primeira geração 26 juntar-se-lhe-á também. Este mesmo raciocínio é aplicável à terceira geração e seguintes de forma que na geração enésima a fração fixada iguala a unidade. Este tipo de evolução pode ser melhor compreendido com um exemplo numérico. Exemplo - Considere-se primeiro um conjunto de populações de 2 indivíduos, descendentes duma população inicial em que p0 = 3/4, e calculemos as frequências das populações com cada frequência génica. Número de alelos A1 na pop. descendente Frequência do alelo A1 Frequência das populações com a freq. génica indicada 0 0 1 256 1 1 4 12 256 2 1 2 54 256 3 3 4 108 256 4 1 81 256 Na primeira geração, em 81256 populações fixou-se o gene A1 e em 1256 o gene A2. Das restantes, em 12 256 tem-se p = 1/4, em 54 256 tem-se p = 1/2 e em 108256 o valor de p é 3/4. Estas são pois novas frequências génicas a partir das quais se irão fazer novas amostragens para estabelecimento da 2ª geração. Para o efeito, não contamos com as populações fixadas, pois estas só dão descendências também fixadas, só temos que contar com a sua proporção para o cálculo das frequências populacionais descendentes. 27 Populações da 1ª geração Frequências ponderadas das populações descendentes com asfreq. de A1 indicadas 0 0,0148 12 256 1 4 0,0197753 1 2 0,0098876 com p = 1 4 3 4 0,0021 1 0,0002 0 0,0132 54 256 1 4 0,0527 1 2 0,0791 com p = 1 2 3 4 0,0527 1 0,0132 0 0,0016 108 256 1 4 0,0198 1 2 0,0890 com p = 3 4 3 4 0,1780 1 0,1335 Temos assim que na 2ª geração a frequênccia das linhas fixadas é acrescentada com 0,0148 + 0,0016 = 0,0296 (linhas A2) e 0,0002 + 0,0132 + 0,1335 = 0,1469 (linhas A1). O processo de cálculo poder- se-ia assim desenvolver indefinidamente. Em relação a este exemplo, há ainda dois outros parâmetros que importa desde já calcular: a taxa de fixação nova em cada geração e a percentagem acumuladade indivíduos homozigóticos. Quanto à taxa de fixação nas 1º e 2º gerações K1 = 1 256 81 256 0 0039 0 3164 0 3203+ = + =, , , K2 = 0 0148 0 0002 0 0132 0 0132 0 0016 0 1335 1 0 0039 0 3164 0 2597, , , , , , , , , + + + + + − − = Quanto à percentagem de homozigóticos em cada geração, temos um primeiro grupo constituído pelas linhas já fixadas. Mas as linhas não fixadas contêm também indivíduos homozigóticos em proporções previstas pela lei de Hardy-Weinberg, isto é, uma linha com as frequências génicas pA1:qA2 conterá os genótipos homozigóticos p2A1A1 e q2A2A2. Então teremos para as 1º e 2º gerações 28 Frequências das linhas P q ( )p q Freq2 2+ × . 1 256 81 256 + com todos homozigóticos 0,3203 12 256 1 4 3 4 0,0293 1ª Geração 54 256 1 2 1 2 0,1055 108 256 3 4 1 4 0,2637 Total 0,7188 0,0336+0,4633 com todos homozigóticos 0,4968 0,0923 1 4 3 4 0,0577 2ª Geração 0,1780 1 2 1 2 0,0890 0,2329 3 4 1 4 0,1456 Total 0,7891 A continuação dos cálculos acabados de exemplificar permite-nos organizar o seguinte quadro da evolução das frequências génicas, da fixação e da homozigocidade, em linhas com 2 indivíduos e frequência inicial p0 = 0,75, até à 8ª geração. Frequências nas gerações Alelos A1 1 2 3 4 5 6 7 8 0 0,004 0,03 0,07 0,11 0,15 0,17 0,19 0,21 1 0,047 0,09 0,09 0,08 0,06 0,05 0,04 0,03 2 0,211 0,18 0,14 0,10 0,08 0,06 0,04 0,03 3 0,422 0,23 0,15 0,10 0,07 0,05 0,04 0,03 4 0,316 0,46 0,55 0,60 0,64 0,67 0,69 0,71 Taxa de fixação 0,320 0,260 0,251 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250 % homozigóticos 0,719 0,789 0,842 0,881 0,911 0,933 0,950 0,963 E um quadro idêntico para o caso de a frequência de A1 na população inicial ser p0 = 0,5 Frequências nas gerações Alelos A1 1 2 3 4 5 6 7 8 0 0,063 0,17 0,25 0,31 0,36 0,39 0,42 0,44 1 0,250 0,21 0,16 0,12 0,09 0,07 0,05 0,04 2 0,375 0,25 0,18 0,14 0,10 0,08 0,06 0,04 3 0,250 0,21 0,16 0,12 0,09 0,07 0,05 0,04 4 0,063 0,17 0,25 0,31 0,36 0,39 0,42 0,44 Taxa de fixação 0,125 0,237 0,248 0,250 0,250 0,250 0,250 0,250 % homozigóticos 0,625 0,718 0,786 0,842 0,881 0,915 0,933 0,950 29 O exame destes quadros permite-nos tirar algumas conclusões importantes. Uma primeira observação é no sentido de que, na 8º geração, as frequências das populações com os genes A1 e A2 fixados se aproximam de 0,75 - 0,25 e 0,5 - 0,5, respectivamente nos 1º e 2º quadros. Ora aqueles valores são precisamente os valores de p0 e q0 nos dois casos. Significa isto que decorrido um grande número de gerações, a frequência de populações com A1 fixado é proporcional à frequência inicial de A1 (o mesm para A2). De resto, a esta mesma conclusão se poderia chegar por outra via de raciocínio. Com efeito já vimos atrás que a frequência média dos genes se mantém constante ao longo das gerações, portanto quando todas as populações estiverem fixadas um grupo contém todos os A1 e outro grupo todos os A2 e o tamanho destes grupos será proporcional a p0 e q0. Observando agora as frequências dos diferentes grupos de populações não fixados ao longo das gerações, verificamos que começam por ser relativamente elevadas e diferentes mas que tendem rapidamente para uma redução e igualização. A partir de determinada geração, todos os grupos de populações com as diferentes frequências génicas são igualmente frequentes salvo os grupos fixados, que aumentam continuamente até aos limites atrás indicados. Os grupos intermédios tendem portanto para uma distribuição uniforme, sejam quais forem as frequências iniciais, embora a uma velocidade dependente destas. O número de gerações necessário para se atingir a uniformidade é um múltiplo pequeno do tamanho da população, aproximadamente 2N para p0 = 0,5 e 4N para p0 = 0,1. Nas figuras seguintes (adaptadas de FALCONER, 1970) representa-se esquematicamente a evolução das frequências génicas na fase anterior à uniformidade em populações com frequências iniciais de 0,5 e 0,1. 30 Um mesmo tipo de informação, para o p = 0,75 e p = 0,5, se pode extrair dos histogramas seguintes, elaborados com os números dos quadros das frequências génicas apresentadas atrás. É oportuno notar que tanto os histogramas como as figuras anteriores são essencialmente semelhantes à figura da página 26, esta construída com dados experimentais concretos. Histogramas do mesmo tipo poderiam ainda ser construídos com dados obtidos em experiências de simulação. 0 0 .2 0 .4 0 .6 0 .8 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 0.2 0.4 0.6 0.8 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 0.2 0.4 0.6 0.8 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 0.2 0.4 0.6 0.8 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 P=1/2 P=3/4 31 Um modelo de simulação simples consistiria numa urna com bolas de duas cores com frequências correspondentes a p0 e q0. Fazendo várias tiragens, constituir-se-ia um conjunto de populações da 1º geração com frequências variáveis de p e q e outras tantas novas urnas com essas mesmas frequências génicas, das quais se tirariam novas amostras, e assim sucessivamente. Problemas deste tipo resolvem-se modernamente com recurso a computadores. Apresenta-se a seguir um conjunto de histogramas (adaptados de ANXOLABEHERE, s. d.) obtidos por este método. Também nestes histogramas se pode observar que a distribuição tende para a fase plana já ao nível da 10ª geração. 32 Para apreender melhor a realidade deste tipo de evolução podemos recorrer a um modelo físico bastante intuitivo. Imaginemos um pedaço de canal, de secção rectangular, contendo uma porção de areia seca, de forma a que a sua superfície livre,.quando vista em corte transversal, desenhe uma curva como a T = N/10 do 1º gráfico da página 33. Suponhamos que cada grão de areia representa uma população e que não há atrito entre os grãos (ou que se agita o dispositivo, produzindo o mesmo efeito). Então, se as paredes do canal forem instantaneamente suprimidas, a areia cairá para os lados, e a intersecção da sua superfície livre com o plano de corte assumirá sucessivamente as curvas indicadas, passando por uma fase plana até se verter completamente. No caso de a posição inicial da superfície livre da areia corresponder ao 2º gráfico da página 30 (p0∠q0), então cairá mais areia inicialmente pelo lado esquerdo. Mas depois de se atingir a fase plana, cairá a mesma areia pelos dois lados. Isto é, em linguagem genética, a fixação torna-se igual no sentido dos dois alelose decorrerá então a uma taxa constante 12N . Observando os quadros das páginas 31 e 32 poderá verificar-se a concordância dos números com esta expressão. Resta-nos finalmente abordar, de forma mais global do que a já usada mais atrás para alguns cálculos, a evolução das frequências genotípicas, aspecto com a maior importância prática, pois está estreitamente relacionado com a depressão endogâmica e o melhoramento de plantas e animais. Como já referimos a propósito de alguns exemplos de cálculo apresentados, em cada geração são homozigóticos os indivíduos das linhas fixadas e mais uns tantos em cada uma das restantes linhas, consoante os valores de p e q em cada uma, e em obediência à lei de Hardy-Weinberg, concretamente p2+q2 por linha. O raciocínio para estabelecer a expressão dos homozigóticos, deve seguir, porém, uma via diferente. Segundo a lei de Hardy-Weinberg, se numa das populações pequenas que temos vindo a considerar, a frequência de A1 for p, então a frequência de A1A1 será p2. Por outro lado a frequência dos A1A1 numa geraçãoserá a média dos valores de p2 nas linhas.Para conhecer este valor, que designamos por 2p , notemos que a variância de p na população global se pode calcular, como já fizemos atrás, do seguinte modo N pp p ∑ − = 2 2σ ou também (da estatística) 22 22 2 p−= − = ∑ p N pNp Pσ Então vem 2 pσ 2pp 2 += Ora, também já vimos anteriormente que a frequência média p , no conjunto das populações é igual à frequência na população inicial, p0. E então p p2 02= é a frequência de A1A1 na população inicial. Deste modo concluímos, pela última equação acima, que a frequência média de A1A1 no conjunto das populações descendentes ( p2 ), numa determinada geração, é igual à sua 33 frequência na população inicial ( )p02 mais a variância de p nessa geração. Atendendo à fórmula, já atrás apresentada, da variância na geração t, pode escrever-se Frequência (t) A1A1 = p p q N t 0 2 0 0 1 1 1 2 + − − Desde que p = 1 − q, a variância de p é igual à variância de q, a expressão dos homozigóticos A2A2 assume uma forma semelhante à anterior e a dos heterozigóticos é a diferença para a unidade, Freq.(t) A2A2 = q20+p0q0 1 1 1 2 − − N t Freq.(t) A1A2 = 2p0q0−2p0q0 1 1 1 2 − − N t = 2p0q0 1 1 2 − N t Endogamia Edogamia, ou consanguinidade, significa o regime de cruzamento entre indivíduos que têm ascendentes comuns, isto é, que estão relacionados por parentesco. Este sistema de cruzamento pode ocorrer essencialmente por duas razões: ou porque os cruzamentos são selectivos ou porque, sendo embora casuais, o efectivo da população é limitado. É fácil entender porquê as populações pequenas determinam endogamia. De facto, numa população de organismos unisexuais, cada indivíduo tem dois pais, quatro avós, oito bisavós, e assim por diante, de modo que numa população finita quaisquer dois indivíduos que se cruzem têm um ancestral comum numa geração mais ou menos remota. Deste modo, o sistema de cruzamento numa população pequena acaba finalmente por reduzir-se a um sistema de cruzamento entre indíviduos ligados por maior ou menor grau de parentesco. Portanto, o estudo da endogamia como regime de cruzamento entre parentes, em resultado da finidade da população, reduz-se também ao estudo de processo dispersivo em populações pequenas, como acabámos de fazer na secção precedente. Há porém interesse em efectuar agora o mesmo estudo por este novo prisma da endogamia e encontrar os pontos de contacto entre as duas vias dedutivas. Depois focar-se-á também o problema da consanguinidade a nível do indivíduo, como resultante dum processo de acasalamento selectivo entre parentes, não necessariamente em relação com o tamanho da população em que se inserem. Uma primeira resultante da existência de parentesco entre dois indivíduos que vão cruzar-se é a verificação duma maior ou menor possibilidade de que ambos transportem alelos originados por replicações sucessivas a partir dum mesmo alelo em algum ancestral comum. É fácil de ver que essa probabilidade é tanto maior quanto mais estreito for o parentesco e daí resulta que possamos quantificar este através de tal probabilidade de que dois alelos tirados ao acaso dum mesmo locus em dois indivíduos sejam idênticos por descendência. Esta probabilidade expressa o grau de 34 parentesco entre dois indivíduos e designa-se por coeficiente de parentesco. Deve notar-se que a noção de identidade por descendência contida na definição ultrapassa a habitual noção de homologia interalélica. Com efeito, dois indivíduos com alelos homólogos do mesmo gene podem não ter nenhuma relação de parentesco desde que, na linha ascendente de um ou de ambos, esses alelos, tenham surgido por mutações independentes. O mesmo não acontece, porém, se eles forem réplicas dum mesmo alelo existente em algum ancestral mais ou menos remoto pois isso implica que esse ancestral seja comum aos dois indíviduos, e então estes terão relações de parentesco. Para distinguir entre os dois níveis de homologia é corrente chamar-se aos alelos com origem replicativa comum de alelos idênticos por descendência ou simplesmente idênticos. Aos restantes, quer sejam alelos semelhantes em natureza ou alelos distintos do mesmo gene, chamam-se, no âmbito deste estudo, independentes. Notemos agora que a definição atrás apresentada de coeficiente de parentesco entre dois indivíduos, como sendo a probabilidade de que dois alelos do mesmo locus tirados de um e outro sejam idênticos, corresponde também à probabilidade de formação de zigotos descendentes com dois alelos idênticos, ou ainda à probabilidade de em um indivíduo descendente se encontrarem dois alelos idênticos. Esta última probabilidade é designada coeficiente de endogamia ou coeficiente de consanguinidade desse descendente (ou de toda a descendência, o que é o mesmo) e representa-se por F. Portanto o coeficiente de parentesco de dois progenitores é igual ao coeficiente de endogamia da descendência. Se bem que estas definições se tenham referido a pares de progenitores e seus descendendentes, elas também são válidas para populações panmíticas em gerações sucessivas. Assim, o coeficiente de endogamia duma população é a probabilidade de num dos seus elementos se encontrarem dois alelos idênticos e o coeficiente de parentesco da geração ascendente é a probabilidade de dois alelos homólogos dela tirados ao acaso serem idênticos. O coeficiente de parentesco duma população pode ainda representar-se como o coeficiente médio dos diferentes pares de progenitores que nela se possam formar (tomando as autofecundações também como pares). Para melhor ilustrar estes aspectos, consideremos algumas situações concretas, começando por um casal constituído pelos indivíduos A1A2 e A3A4, em que os índices diferentes significam não identidade entre os alelos. Nestas condições, o parentesco é zero e, sendo a descendência do cruzamento A1A3 : A1A4 : A2A3 : A2A4, o respectivo coeficiente de endogamia é também nulo, como era de espersr, dada a relação entre parentesco e endogamia em gerações sucessivas. Agora, se A1A2 : A3A4 for uma população de dois indivíduos, então a probabilidade de dela se tirarem dois alelos idênticos do locus A, isto é, o parentesco é igual a 1/4, como pode vêr-se A1 - 14 × 14 = 116 A2 - 14 × 14 = 116 A3 - 14 × 14 = 116 A4 - 14 × 14 = 116 ________ 1 4 Calculemos ainda o coeficiente de parentesco médio dos diferentes pares possíveis na população 35 A1A2×A1A2 − 12 A1A2×A3A4 − 0 A3A4×A1A2 − 0 media = + + + = 1 2 1 2 0 0 4 1 4 A3A4×A3A4 − 12 O resultado obtido pelos dois caminhos é o mesmo, o que está de acordo com a equivalência entre as duas variantes da definição. A propósito deste segundo processo de cálculo deve porém notar-se que considerámos todos os pares de fecundação cruzada e de autofecundação possíveis. Se se tratasse de indivíduos unisexuais, tanto estas conclusões como as da secção anterior viriam um pouco modificadas, sobretudo no caso de populações muito pequenas, mas à medida que o tamanho da população aumenta as duas situações tornam-se aproximadamente equivalentes. Postas estas considerações, importa agora deduzir o coeficiente de consanguinidade em função do número de indivíduos da população, uma população ideal de N indivíduos obedecendo às condições já enunciadas na secção precedente, para que esses e demais parâmetros se possam comparar com outros então deduzidos sob condições idênticas. Deve entretanto notar-se que se recuássemos bastante nas gerações ancestrais duma população pequena acabaríamospor encontrar sempre uma origem comum por descendência para todos os seus alelos e, portanto, um coeficiente de endogamia definido em termos absolutos não teria qualquer significado. O coeficiente de endogamia tem pois um sentido comparativo, expressando a situação duma população face a uma geração padrão em que a endogamia seja nula ou de valor estabelecido. Consideremos então uma população de N indivíduos, em que todos os alelos de determinado locus sejam independentes na geração inicial (por isso, representados por letras diferentes), [ a┤├b c┤├d… n┤├m ] N individuos Então, a produção de gâmetas e a formação de zigotos descendentes será gâmetas→[aaa…+bbb…+ccc…+ddd…+nnn…+mmm…com frequência 12N ] 2N classes de gâmetas zigotos (=geração 1) →Probabilidade de formação de zigotos idênticos aa: 1 2 2 N Probabilidade de formação de zigotos idênticos bb: 1 2 2 N …………………………………………………………….. Probabilidade de formação de zigotos idênticos mm: 1 2 2 N Isto é, a probabilidade de formação de zigotos idênticos é: 1 2 2 1 2 2 N N N × = 2N 36 Este é pois o coeficiente de endogamia da geração 1 (F1). Para estabelecermos a expressão do coeficiente de endogamia da geração 2 (F2), notemos que na geração 1 existirão genótipos formados por alelos idênticos e outros por alelos independentes, produzindo gâmetas como se indica: a┤├a b┤├c d┤├d …… ← genótipos da geração 1 aaa... aaa... bbb... ddd... ddd... ← gâmetas produzidos No respeitante aos gâmetas idênticos resultantes de réplicas actuais de cada alelo da G1, aplica-se o mesmo raciocínio já feito mais atrás, isto é, a probabilidade de um qualquer gâmeta formar um zigoto com uma sua réplica actual é 12N , e esta será uma componente de F2. Mas daqui resulta também que a probabilidade de formação de zigotos com gamêtas que não sejam réplicas actuais é 1− 12N (são os designados pela mesma letra no esquema anterior, mas não réplicas actuais). Ora, uma parte destes gâmetas, não sendo réplicas actuais, são ainda assim réplicas do mesmo alelo originadas na geração anterior (ver esquema), cuja probabilidade de ocorrência é F1. Então teremos F2 = 12 1 1 2 1N N F+ − E, nas gerações 3 e seguintes, F3 = 12 1 1 2 2N N F+ − Ft = 12 1 1 2 1N N Ft+ − − Exemplo - Temos uma população inicial com dois indivíduos e 4 alelos não idênticos, que designaremos por a, b, c, d a┤├b + c┤├d Desde que não se estabelecesse um limite ao tamanho da descendência, esta seria teoricamente 1 16 1 16 1 16 1 16 2 16 2 16 2 16 2 16 2 16 2 16aa bb cc dd ab ac ad bc bd cd: : : : : : : : : e o seu coeficiente de endogamia 4 116 14× = . Se não se tratasse duma população pequena, a 2ª geração seria estabelecida calculando as frequências gaméticas na 1ª ( )1 4 1 4 1 4 1 4a b c d: : : e formulando todas as Réplicas actuais do alelo (=identidade nova) Réplicas anteriores do alelo Réplicas actuais 37 conjugações possíveis, e acabaria por encontrar-se um resultado idêntico ao anterior. Verificarse-ia a lei de Hardy-Weinberg e F manter-se-ia com o mesmo valor de 1 4 . O efectivo limitado da população altera, porém, completamente a situação. Com efeito, a manter-se o efectivo da 2 indivíduos na 1ª geração, estes só poderão ser como se exemplifica Dois indivíduos Probabilidade aa + aa 1256 aa + bb 2 256 aa + cc 2 256 aa + dd 2 256 aa + ab 4 256 aa + ac 4 256 ……… …… ……… …… Ao todo, há 55 duplas possíveis, cada uma com probabilidade de ocorrência própria. Por outro lado, cada um desses pares possíveis tem uma determinada probabilidade de dar homozigóticos idênticos na descendência. Ora, o coeficiente de endogamia da geração 2 será a soma dos produtos das probabilidades de cada dupla pelas respectivas probabilidades de produção de genótipos idênticos. Representam-se a seguir os pares que interessam e respectivas probabilidades de ocorrência e de produção de homólogos idênticos: 38 Pares Prob. Prob.desc. idênticos Produtos Prob. aa/aa 1/256 1 8/2048 aa/bb 1/256 1/2 4/2048 aa/cc 1/256 1/2 4/2048 aa/dd 1/256 1/2 4/2048 aa/ab 2/256 5/8 10/2048 aa/ac 2/256 5/8 10/2048 aa/ad 2/256 5/8 10/2048 aa/bc 2/256 3/8 6/2048 aa/bd 2/256 3/8 6/2048 aa/cd 2/256 3/8 6/2048 bb/aa e seguintes 16/256 (como para os 16 grupos aa anteriores) 68/2048 cc/aa e seguintes 16/256 68/2048 dd/aa e seguintes 16/256 68/2048 ab/aa 2/256 5/8 10/2048 ab/bb 2/256 5/8 10/2048 ab/cc 2/256 3/8 6/2048 ab/dd 2/256 3/8 6/2048 ab/ab 4/256 1/2 16/2048 ab/ac 4/256 3/8 12/2048 ab/ad 4/256 3/8 12/2048 ab/bc 4/256 3/8 12/2048 ab/bd 4/256 3/8 12/2048 ab/cd 4/256 1/4 8/2048 ac/aa e seguintes 32/256 104/2048 ad/aa e seguintes 32/256 104/2048 bc/aa e seguintes 32/256 104/2048 bd/aa e seguintes 32/256 104/2048 cd/aa e seguintes 32/256 104/2048 TOTAL 7/16 Verifica-se pois que os valores de F calculados passo a passo ou pela fórmula são iguais F N N F2 1 1 2 1 1 2 = + − = + − 1 4 1 1 4 1 4 = 7 16 39 Retomando agora a expressão da consanguinidade atrás deduzida, verifica-se que ela pode ser generalizada para a geração de ordem t, com a seguinte forma F N N Ft t= + − − 1 2 1 1 2 1 . Calculando o incremento de F entre duas gerações contíguas, vem 1t1t1tt FFN2 11 N2 1FF −−− − −+=− ( )= + − − = − − − − − 1 2 1 2 1 2 11 1 1 1N F N F F N Ft t t t ou 1t 1tt F1 FF N2 1 − − − − = . O denominador desta fracção expressa a distância da endogamia actual à endogamia completa, portanto, se fizermos ∆F F F F N t t t = − − = − 1 11 1 2 , ∆∆∆∆F é a taxa de aproximação à endogamia completa, em cada geração. Conclui-se também que a taxa é constante ( )12N mas os acréscimos tanto mais pequenos em valor absoluto quanto maior a proximidade do valor limite de F. Por outro lado, a aproximação é inversamente proporcional ao tamanho da população. Pode ainda notar-se que, se na passagem da geração t-1 à geração t a população assumir um tamanho infinito, então não há acréscimo de endogamia, mas F não se reduz a zero, mantendo antes o valor da geração t-13 A expressão de recorrência do coeficiente de endogamia pode ser transformada de forma a referenciar-se à geração inicial, para o que convém introduzir uma nova grandeza - o índice de panmixia - que não é senão o complemento de F, ou seja, P = 1 - F. ( ) ( )∆F F F F F F F P P P t t t t t t t t t = − − + − = − − − − = − − − − − − − 1 1 1 1 1 11 1 1 1 1 1 ou 1 1 1 1 1 1 1 1 − = − − = − − = − − − − − − ∆F P P P P P P P P P t t t t t t t t t e ( )P P Ft t− = − 2 21 ∆ 3 1tt1tt 1t 1tt FF0FF0)2N( 1 F1 FF ∆F −− − − ==−= ∞ = − − = 40 e finalmente ( )P P Ft t= −0 1 ∆ . Desde que P = 1 - F, e F = 0 na população inicial, podemos também escrever ( )1 1 10− = − −P P Ft t∆ ( )F Ft t= − −1 1 ∆ Esta expressão vai permitir-nos finalmente estabelecer
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