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Curso de Parasitologia Clínica MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 100 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores SUMÁRIO IV.1 – Introdução à Helmintologia IV.2 – Schistosoma mansoni . IV.2.1 – Biologia do parasito IV.2.2 – Formas clínicas do S. mansoni IV.2.3 – Diagnóstico laboratorial da esquistossomose IV.3 – Teníase IV.3.1 – Os parasitos: Taenia solium e Taenia saginata IV.3.2 – Cisticercose IV.3.3 – Formas clínicas da teníase e da cisticercose IV.3.4 – Diagnóstico laboratorial das teníases IV.3.4.1 – Diagnóstico diferencial entre T. solium e T. saginata IV.4 – Hidatidose IV.4.1 – Biologia de Echinococcus granulosus IV.4.2 – Formas clínicas da hidatidose IV.4.3 – Diagnóstico laboratorial da hidatidose IV.5 – Hymenolepis nana IV.5.1 – Biologia de Hymenolepis nana IV.5.2 – Diagnóstico laboratorial da himenolepíase IV.6 – Ancilostomídeos IV.6.1 – Os parasitos: Ancylostoma duodenale e Necator americanus IV.6.2 – Diagnóstico laboratorial IV.7 – Strongyloides sp. IV.7.1 – Biologia de Strongyloides IV.7.2 – Formas clínicas da estrongiloidíase IV.7.3 – Diagnóstico laboratorial da estrongiloidíase IV.8 – Ascaris, Enterobius e Trichuris IV.8.1 – Biologia IV.8.2 – Diagnóstico laboratorial dos parasitos IV.9 – Filariose 101 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores IV.9.1 – Biologia de Wuchereria bancrofti IV.9.2 – Formas clínicas da filariose IV.9.3 – Diagnóstico laboratorial da W. bancrofti 102 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores IV.1 - INTRODUÇÃO À HELMINTOLOGIA A espécie humana é parasitada freqüentemente por alguns helmintos dos filos Platyhelminthes e Nematoda. Os Platyhelminthes têm simetria bilateral, corpo achatado dorso-ventralmente e um tegumento formado por um sincício anucleado, limitado externamente por dupla membrana (Figura 01). Aí inserem-se grande número espinhos. Pontes citoplásmicas unem o sincício a células mergulhantes nucleadas localizada no parênquima. Sob o sincício há uma camada de fibras musculares que asseguram a locomoção do helminto. Os nematóides são vermes cilíndricos, com extremidades afiladas, ou filiformes que compreendem mais de 500.000 espécies diferentes, a maioria de vida livre. Cerca de 50 já foram encontradas como parasitos do homem, das quais apenas uma dúzia merece destaque por serem importantes agentes de doença. São tipicamente organismos fusiformes ou alongados, com simetria bilateral e sexos separados (Figura 02). Há dimorfismo sexual, com as fêmeas em geral maiores que os machos. Algumas são partenogenéticas, só produzindo clones. Evoluem de ovo a verme adulto, passando por 4 mudas ou ecdises, durante as quais trocam de cutícula e sofrem reestruturação interna. O crescimento tem lugar entre as ecdises. Figura 01 - Esquema de uma Fasciola hepatica, um trematódeo, com destaque para o sistema digestório. Fonte: Rey, 2005. 103 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores O ciclo biológico geral dos nematóides inicia-se no ovo. Dentro de seus envoltórios, quando expulso pela fêmea, o ovo pode encontrar-se na fase de célula única ou já encontrar-se em fase de segmentação, ora mais, ora menos avançada. Em geral, necessitam de algum tempo (muito variável) nas condições do meio externo e em presença de O2 para embrionarem e tornarem-se infectantes. Mas há casos em que a larva já está formada ou é parida como tal pelas fêmeas, devendo sofrer uma primeira muda para adquirir capacidade infectante. As larvas de algumas espécies eclodem no solo, desde que completado seu desenvolvimento e reunidas condições favoráveis de temperatura e umidade ambiente. Mas só se tornam infectantes no 3º estádio larvário. Os helmintos podem penetrar em seu hospedeiro, seja passivamente (sendo seus ovos ingeridos com alimentos, água ou através das mãos sujas), seja ativamente, como larvas, através da pele. Larvas, como as das filárias, são veiculadas por insetos hematófagos. As Figura 02 - Tamanho comparativo dos nematóides: a) Dracunculus medinensis; b) Onchocerca volvulus; c) Wuchereria bancrofti; d) Ancylostoma duodenale; e) Trichuris trichiura; f) Enterobius vermicularis; g) Trichinela spiralis; h) Strongyloides stercoralis; i) Ascaris lumbricoides. Fonte: Rey, 2005. 104 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores larvas desses helmintos crescem de forma descontínua, devendo cada uma passar por 4 mudas ou ecdises, isto é, abandonar o revestimento cuticular e fabricar nova cutícula em 4 momentos determinados de seu desenvolvimento (Figura 03). A cutícula cresce com o helminto, deixando este de crescer pouco antes de cada ecdise. O desenvolvimento larvário é regulado por mecanismo neuro-endócrino, com produção de hormônios de crescimento e muda (ecdisonas), que são terpenóides capazes de: a) promover a formação de nova cutícula sob a velha; b) determinar a separação da antiga, por lise das camadas mais profundas; c) provocar o abandono da cutícula antiga e a retomada do crescimento. Em alguns casos, a cutícula velha é conservada depois da 2ª muda como uma bainha protetora da larva, que já não se alimenta, mas adquiriu poder infectante (como a L3 dos ancilostomídeos). A 1ª muda pode ocorrer no ovo, a 2ª no solo e as outras no organismo do hospedeiro. IV.2 - Schistosoma mansoni Os trematódeos do gênero Schistosoma (classe Digenea) são parasitos dos plexos venosos da parede intestinal ou da bexiga onde causam inflamação e fibrose. A doença recebe os nomes de esquistossomíase, esquistosomose ou bilharziose, dependendo seu quadro clínico da espécie de helminto em causa. Figura 03 - Curva de crescimento dos nematóides. Fonte: Rey, 2005. 105 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores As espécies principais, para a patologia humana são: a) S. mansoni ▬ causa a esquistossomíase intestinal ou mansônica e é a única que ocorre no Brasil, visto não exis-tirem aqui os moluscos vetores das demais espécies. b) S. haematobium ▬ causa a esquistossomíase urinária ou hematóbica,da África e Oriente Médio. c) S. japonicum ▬ causa a esquistossomíase japônica, da Ásia. O S. mansoni caracteriza-se por ter os sexos separados e um acentuado dimorfismo sexual. O macho mede cerca de 1 cm de comprimento e sua extremidade anterior, que é aproximadamente cilíndrica apresenta 2 ventosas: a oral e o acetábulo (Figura 04). O restante do corpo enrola-se ventralmente de modo a formar um canal longitudinal - o canal ginecóforo - onde a fêmea adulta está normalmente inserida. O tegumento do macho é inteiramente revestido de espinhos e tubérculos; estes muito destacados ao longo do segmento posterior. A fêmea é delgada e cilíndrica em toda sua extensão, mais longa que o macho e tem o tegumento praticamente liso. Suas ventosas são pequenas. Seu tegumento sincicial é complexo e revestido por uma dupla membrana, que se renova continuamente. O tubo digestivo (Figura 05) inicia-se com a boca, na ventosa oral (Figura 5 A), e com um curto segmento anterior (Figura 05 B) que se bifurca para trás da ventosa ventral ou acetábulo (Figura 05 C, G). Ele volta a unir-se posteriormente, para formar um intestino ou cécum único (Figura 05 H), em ambos os sexos. Os Schistosoma nutrem-se do sangue que ingerem, mas também o fazem por pinocitose, através do tegumento. Muitas proteínas do hospedeiro são incorporadas ao glicocálix Figura 04 - Extremidade anterior de S. mansoni 106 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores superficial e permitem aos helmintos camuflarem-se frente ao sistema imunológico do hospedeiro. O sistema reprodutor masculino compreende um testículo com 6 a 8 lóbulos e um canal deferente que se dilata formando a vesícula seminal. Não há cirro. Ele se abre no início do canal ginecóforo. O sistema reprodutor feminino é formado por ovário único, oviduto, que se une com o canal das glândulas vitelogênicas, antes do oótipo e útero. Este abre-se em um poro genital, pouco atrás do acetábulo. As fêmeas fecundadas põem um ovo por vez, estimando-se que cheguem a 300 por dia. Os ovos gastam 6 ou 7 dias para formarem seus embriões e devem sair para a luz intestinal dentro de uns 20 dias. Caso contrário, morrem. IV.2.1 - Biologia de S. mansoni O ovo do S. mansoni possui duplo envoltório (Figura 06): a) casca externa formada por escleroproteínas mostra um espinho lateral característico; b) a interna é o corium, um envoltório embrionário. Em geral ele já contém o embrião formado, quando eliminado com as fezes. Pode-se comprovar se ele ainda está vivo pela movimentação ciliar de suas 4 células excretoras (solenócitos), ou do miracídio como um todo. No meio externo, Figura 05 - Região anterior de Schistosoma (macho): a, ventosa oral; b, primeiro segmento intestinal; c, acetábulo; d, vesícula seminal; e, testículo; f, lóbulo testicular; g, segmento bifurcado do intestino; h, início do cécum. Fonte: Rey, 2005. 107 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores o ovo pode sobreviver 2 a 5 dias, em fezes formadas, devendo logo ganhar o meio líquido. Não suporta a dessecação. Em contato com a água (meio hipotônico) o ovo entumece por endosmose, rompe-se e libera o miracídio (Figura 07). Este tem forma alongada e é revestido por um epitélio ciliado que lhe permite nadar rapidamente, percorrendo grandes círculos. Apresenta uma saliência cônica anterior, onde se abrem as glândulas de penetração. O miracídio possui um esboço de sistema nervoso e papilas sensoriais, 2 pares de células excretoras - os solenócitos - com seus canais, além de células embrionárias. Sua expectativa de vida é curta, devendo penetrar em um molusco no mesmo dia da eclosão. Apresenta acentuado fototropismo, pelo que tende a nadar próximo da superfície líquida. Figura 06 - Ovo embrionado de S. mansoni. Observe o espinho lateral. Fonte: Rey, 2005. Figura 07 - Esquema da organização do miracídio de S. mansoni. Fonte: Rey, 2005. 108 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Esta larva passa a nadar em círculos cada vez menores, se por perto encontrar um molusco do gênero Biomphalaria (Figura 08); o que aumenta as chances de um encontro. Ao invadir o molusco, graças a suas glândulas de penetração, o miracídio perde seu epitélio ciliado e se transforma em uma estrutura sacular, o esporocisto I. No seu interior, geram-se os esporocistos II que migram para o hepatopâncreas ou ovotestis do molusco onde passam a formar milhares de cercárias (Figura 09). Decorridas seis semanas ou mais, começa a expulsão diária de cercárias. Entretanto, depois de certo tempo, o esporocisto II volta a produzir nova geração de esporocistos que retomam a formação de cercárias, o que pode repetir-se periodicamente enquanto durar a vida do molusco. Assim: Esporocisto I ↓ Esporocistos II → cercárias ↓ Esporocistos III → cercárias ↓ Esporocistos IV → cercárias, etc. Esse processo explica a produção intermitente de cercárias pelos moluscos infectados. A partir de um único miracídio, muitas pessoas podem vir a ser infectadas pelas cercárias que se encontram na água e penetram pela pele, por vezes em grande número. http://www.genome.wustl.edu/ancillary/genome_images/Bio mphalaria_glabrata.png Figura 08 - Molusco planorbídeo do gênero Biomphalaria, transmissor da esquistosomose mansônica no Brasil. 109 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores A cercária (Figura 09) tem corpo piriforme e uma cauda bifurcada (fucocercária) cuja vibração arrasta o corpo atrás de si, nadando quase sempre em direção á superfície (geotropismo negativo). O corpo possui duas ventosas (oral e acetabular), um esboço de tubo digestivo, um conjunto de glândulas de penetração e pares de solenócitos. A eliminação de cercárias pelos moluscos obedece a um ritmo circadiano, regulado pela luz. Inicia-se por volta das 9 horas da manhã, com pico em torno das 11 horas (em linhagens humanas) e declina em seguida. Donde se deduz que o período de alto risco de infecção pelo Schistosoma mansoni, para as pessoas que freqüentam os focos e se põem em contato com a água, está compreendido entre as 9 horas da manhã e o anoitecer. Em águas estagnadas há progressivo acúmulo delas, ao longo do dia. Seu poder infectante dura cerca de 8 horas, e diminui em seguida, ainda que, no laboratório, elas possam manter-se vivas por 2 ou 3 dias. Durante a penetração através da pele do hospedeiro vertebrado, as cercárias abandonam a cauda, tornam-se alongadas e seu tegumento modifica-se. Nessas condições passam a chamar-se esquistossômulos e resistem à ação lítica do meio. Os que não foram destruídos na pele, nos 2 ou 3 primeiros dias, penetram em um vaso e são levados pela corrente circulatória até o sistema venoso intra-hepático, condição para que possam desenvolver-se até vermes adultos, machos e fêmeas (Figura 10). Figura 10 - Macho e fêmea de S. mansoni. Fonte: Rey, 2005. Figura 09 - Esquemade uma cercária de S. mansoni. Fonte: Rey, 2005. 110 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores A fêmea amadurece só depois de acasalada com um macho e instalada definitivamente no canal ginecóforo deste. Então, graças à musculatura dos machos e aos seus espinhos tegumentares, que lhes garantem apoio na parede dos vasos, migram contra a corrente sanguínea do sistema porta e vão localizar-se, de preferência, nos ramos finos do plexo hemorroidário superior, na mucosa intestinal. Aí chegam pela 4ª semana ou depois. Como as fêmeas insinuam-se pelos capilares mais delgados e aí depositam seus ovos, acabam por obstruí-los e desorganizá-los. Razão porque os ovos ficam livres no tecido conjuntivo e depois são expulsos para a luz intestinal e evacuados com as fezes. Caso os ovos permaneçam na mucosa sem sair, seus produtos desencadeiam uma reação inflamatória local de tipo granuloma (Figura 11). Isto é: de início, numerosos macrófagos seguidos de eosinófilos, linfócitos e alguns plasmócitos cercam o ovo. Alguns macrófagos fundem-se e formam gigantócitos, que envolvem o ovo e começam a digeri- lo. Morto o embrião, diminuem os granulócitos e multiplicam-se aí os fibroblastos (derivados de macrófagos) que assumem disposição em camadas circulares concêntricas e começam a depositar fibras reticulares e colágeno com igual disposição. Por fim, os fibroblastos cessam sua produção de colágeno e se tornam simples fibrócitos. As escleroproteínas da casca ovular ainda tardam algum tempo para desaparecer. O resultado é a formação de uma estrutura cicatricial fibrosa. Figura 11 - Restos de um ovo morto de S. mansoni envolvido pela reação inflamatória granulomatosa. Fonte: Rey, 2005. 111 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Com a acumulação de granulomas, a mucosa intestinal vai ficando fibrosada. Na medida em que os capilares mais próximos da superfície mucosa vão sendo substituídos por tecido fibroso, os vermes passam a ficar instalados mais próximos da submucosa. Aí, por serem os vasos de maior calibre, os ovos são mais facilmente arrastados pela corrente sanguínea do sistema porta em direção ao fígado, onde serão retidos nos espaços porta (Figura 12). IV.2.2 - Formas clínicas de S. mansoni A penetração das cercárias pode acompanhar-se de dermatite, com exantema, prurido ou manifestações alérgicas locais. Em torno dos parasitos acumulam-se polimorfonucleares e depois linfócitos e macrófagos. Muitos parasitos morrem aí. A reação mantém-se por 2 ou 3 dias e regride em seguida. Figura 12 - Esquema do sistema porta para explicar o arraste de ovos do intestino para o fígado. Fonte: Rey, 2005. 112 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Nos pulmões e fígado pode haver manifestações discretas e passageiras, quando lá chegam os esquistossômulos. A morte destes produz inflamação, necrose e depois cicatrização. Conforme o número de parasitos e a reação do paciente pode haver febre, eosinofilia, linfadenite, esplenomegalia e urticária, duas a três semanas depois. O quadro é dito forma toxêmica da esquistossomíase. Mas nem sempre está presente. A esquistossomose crônica pode ser distinta nas seguintes fases: a) Fase intestinal: a maioria dos casos, a infecção permanece silenciosa enquanto a carga parasitária for baixa e a acumulação de ovos nos tecidos pequena. O aumento de vermes faz-se, em geral, pouco a pouco, pois só parte dos esquistossômulos chega à fase adulta. Os pacientes levam anos (em geral 10 ou mais) para atingirem um máximo de carga parasitária. De início, os ovos predominam na mucosa do intestino distal e o paciente apresenta uma retocolite, com evacuações freqüentes acompanhadas de tenesmo e ardor ao defecar. b) Fase hepatointestinal: à medida que os helmintos forem migrando para a sub-mucosa e seus ovos arrastados para o fígado, a patologia se agrava. A sintomatologia pode seguir a mesma, mas o déficit orgânico manifesta-se por ocasião de sobrecargas fisiológicas (alimentares, trabalho exaustivo etc.). Ocorre então má digestão, sensação de plenitude gástrica pós- prandial, flatulência e inapetência, podendo haver, também, mal-estar, nervosismo, desânimo e emagrecimento. O fígado e, sobretudo o baço aumentam de tamanho. O quadro clínico evolui lentamente, até que a fibrose hepática pré-capilar comece a dificultar a circulação portal intra-hepática. Figura 13 - Paciente desnutrido, com ascite e veias dilatadas na parede abdominal. Fonte: Rey, 2005. 113 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Surgem então hipertensão no território da veia porta, maior esplenomegalia, edemas e ascite, bem como circulação colateral entre o sistema porta e o das veias cavas. Formam- se varizes esofagogástricas e há tendência a hemorragias (hematêmeses), que podem ser graves. Casos de desnutrição tornam o quadro clínico mais grave (Figura 13). Em conseqüência das lesões hepáticas e esplênicas, há hipoproteinemia, anemia, leucopenia, plaquetopenia e deficiência da coagulação. Ovos levados para os pulmões, através da circulação colateral, produzem fibrose pulmonar e fístulas arterio-venosas pré-capilares. Há cianose e evolução para uma forma da doença com insuficiência cardíaca, dita cor pulmonale esquistossomótico. Localizações de ovos, ou até de vermes erráticos, na medula espinhal, mesmo em casos de infecções leves, podem determinar processos inflamatórios e fibróticos que causam quadros hemiplégicos graves. A associação de esquistossomíase com o vírus da hepatite B parece responsável pelas formas mais graves da patologia hepática nessa helmintíase. IV.2.3 - Diagnóstico laboratorial da esquistossomose mansônica Contribuem para que se suspeite desta doença o fato do paciente proceder de uma zona endêmica ou de ter visitado um foco conhecido e nele se banhado, se o quadro clínico for compatível com os da esquistossomíase. Entretanto, os variados quadros que a infecção por S. mansoni costuma produzir podem ter outras causas, nenhum sinal ou sintoma lhe sendo específico. Os métodos laboratoriais são, portanto, essenciais para o diagnóstico. Eles podem ser: a) Coproscópicos: busca de ovos do helminto nas fezes, para o que se dispõe de várias técnicas; ou o método de eclosão de miracídios. b) Imunológicos: demonstração da presença de anticorpos ou de antígenos de S. mansoni no soro, por técnicas sorológicas; ou pela intradermorreação. c) Exame histopatológico: em amostra de biópsia retal. O diagnóstico pelo exame de fezes é feito pelo método de Kato-Katz (Ver guia de exame parasitológico - Módulo I). Outro método eficiente é o de sedimentação espontânea. 114 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores As técnicas de diagnóstico imunológico São pouco utilizadas, seja por manterem-se positivos durante muito tempo após a cura do paciente, seja pela pouca sensibilidade e especificidade ou pela complexidade técnicade sua aplicação. Os mais simples permitem fazer uma triagem de casos prováveis em áreas com pequeno número de pessoas infectadas, com carga parasitária baixa e com escassa eliminação de ovos. A serem confirmados, depois, pelo exame de fezes. a) Técnica de Elisa b) Reação intradérmica – Sensibilização cutânea específica que se manifesta entre 4 e 8 semanas depois da infecção. A injeção intradérmica de um extrato do verme produz pápula com mais de 1 cm de diâmetro, com “pseudópodes”. Ler o resultado 15 a 20 minutos depois. A reação é fraca em crianças e mulheres jovens, mas persiste nos adultos depois da cura. Há 5% de falsos positivos e reações cruzadas com alguns outros helmintos. Para confirmação de cura em estudos clínicos, é utilizado o exame de biópsia retal. Esta é uma técnica invasiva, pois exige a retirada de um fragmento da mucosa intestinal, ao nível das válvulas de Houston. Depois de lavado, o fragmento é comprimido entre duas lâminas e examinado ao microscópio. Os ovos podem ser vistos em uma fase imatura (Figura 14 A) ou uns maduros e outros já mortos, como na Figura 14 B. Figura 14 - Exame de biópsia retal em paciente com S. mansoni (A) ovos na fase imatura, vivos (B) ovos mortos. Fonte: Rey, 2005. 115 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores IV.3 - TENÍASE As tênias pertencem à classe Cercomeridea, subclasse Cestodaria, que compreende animais com o corpo achatado e em forma de fita - o estróbilo - que é segmentado (os segmentos são as proglotes) e dotado de uma região anterior – o escólex (Figura 15 A), provido de órgãos de fixação variados. A este, segue-se uma zona de crescimento (Figura 15 B), as proglotes jovens (C), as maduras (D) e as grávidas (E). Suas estruturas decorrem de uma estrita adaptação à vida parasitária, com ausência dos sistemas digestório, circulatório e respiratório. Possuem um sistema nervoso simples e um sistema excretor. São hermafroditas, cada proglote tendo um conjunto completo de órgãos reprodutores, e seus ovos contêm larvas (oncosferas) dotadas de 6 acúleos. Os cestóides variam muito de tamanho, desde alguns milímetros até 10 metros ou mais de comprimento. No verme adulto, o escólex (Figura 16) é uma pequena dilatação, situada na extremidade mais delgada do helminto, e destinada a fixá-lo no intestino do hospedeiro por meio de estruturas como acúleos, ventosas, bótrias ou botrídeas. Figura 15 - Desenho esquemático de um tenídeo adulto. Fonte: Rey, 2005. Figura 16 - Escólex de um cestóide provido de 4 ventosas e de uma coroa de acúleos. Fonte: Rey, 2005. 116 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores O estróbilo compreende toda a parte do corpo que se segue ao escólex e à região de crescimento (colo) do cestóide. Nele estão demarcados os anéis ou proglotes (Figura 15 C-E), que crescem e se diferenciam à medida que se afastam do colo. Distinguem-se as proglotes jovens (C), que apresentam apenas esboços dos órgãos reprodutores; as proglotes maduras (D) com esses órgãos completamente formados e as grávidas (E), cujo útero bem desenvolvido está repleto de ovos. IV.3.1 - Os parasitos: Taenia solim e Taenia saginata A Taenia saginata, ou tênia do boi, e a Taenia solium, ou tênia do porco, são parasitos que na fase adulta têm o homem como único hospedeiro normal. Ambas são conhecidas popularmente como “solitárias” porque os indivíduos com teníase em geral só apresentam um exemplar do helminto em seu intestino. São vermes grandes, medindo a Taenia saginata de 4 a 12 metros de comprimento e tendo por hospedeiro intermediário o gado bovino. O estróbilo inicia-se com um pequeno escólex provido de 4 ventosas, seguido de uma região de crescimento (o colo) e das regiões de proglotes jovens, de proglotes maduras e de proglotes grávidas. As proglotes (ou ‘anéis da tênia’) vão se destacando uma a uma (fenômeno dito apólise) na T. saginata, ou em pequenas cadeias, na T. solium. Elas são eliminadas com as fezes do paciente. IV.3.1.1 - Taenia solium As formas adultas de T. solium só foram encontradas, até agora, no organismo humano e suas larvas vivem normalmente na musculatura de suínos. Popularmente é conhecida como tênia do porco. O estróbilo pode medir de 1,5 a 5 metros. O escólex (A) implanta-se no início do jejuno por meio de suas 4 ventosas e de seu rostro armado com dupla coroa de acúleos em forma de foice (B). Diariamente pequenos segmentos da cadeia, formados em média por 5 proglotes maduras, desprendem-se e são eliminados com as fezes. Cada proglote contém de 30 a 50 mil ovos (C). Elas diferem das de T. saginata por serem menores, mais 117 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores curtas e terem poucas ramificações uterinas, com aspecto dendrítico (D). Os ovos não são distinguíveis dos de T. saginata. Devido a seus hábitos coprófilos, os porcos costumam infectar-se maciçamente ao ingerir as proglotes desta tênia. Os cisticercos que se formam nos tecidos deste animal (Figura 18) são um pouco maiores que os da T. saginata (pois medem de 5 a 20 mm) e após 60 a 75 dias já são infectantes para o homem. Os cisticercos podem manter-se viáveis, no porco, por muitos anos. A infecção humana decorre do consumo de carne de porco crua ou mal cozida. O parasito evolui no intestino como o faz a tênia do boi. Após algum tempo (60 a 75 dias depois da infecção), os pacientes infectados com a Taenia solium adulta, começam a eliminar passivamente, de mistura com as fezes, pequenas cadeias de proglotes. Figura 17 - A, escólex; B, acúleos do círculo superior e do inferior; C, ovo; D, proglote madura com o aspecto dendrítico característico da T. solium. Fonte: Rey, 2005. Figura 18 - Foto de dois cisticercos de T. solium em músculo suíno. http://www.cvm.okstate.edu/~users/j cfox/htdocs/Disk1/Images/Img0079d .jpg 118 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Se os movimentos anti-peristálticos levarem alguma proglote para o estômago do paciente, ela será digerida, aí, deixando em liberdade os milhares de ovos (Figura 19 A) que contém. Ao voltarem para o intestino, esses ovos liberam as oncosferas, sob a ação das enzimas proteolíticas e da bile. Em conseqüência, produzem uma infecção maciça do organismo humano com cisticercos (Figura 19 B): é a cisticercose humana. IV.3.1.2 - Taenia saginata A proglotes da T. saginata, conhecida também como a tênia do boi, saem ativamente pelo ânus, graças a uma eficiente musculatura, ou são eliminadas com as fezes do paciente, em número de 8 a 9 proglotes por dia. Então, pelas superfícies de apólise (sem tegumento), são liberados entre 40 a 80 mil ovos por proglote. Esses ovos disseminados pelo solo, são ingeridos, com o pasto, por bovinos. Sob a ação das enzimas proteolíticas e da bile, as oncosferas eclodem no tubo digestivo dos animais, invadem a mucosa e vão, pela circulação, para a musculatura ou para outros lugares, onde se transformam em cisticercos, constituindo acisticercose animal. http://www.wadsworth.org/parasitology/Images/06-M.jpg http://sisbib.unmsm.edu.pe/BVRevistas/SPEIT/2001 _n4/images/pag190_fig3.jpg Figura 19 - (A) Ovo de Taenia sp.. Observar os acúleos no interior do ovo e as estriações no envoltório. (B) Cisticercos retirados de músculo suíno em infecção experimental. B A 119 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Quando as pessoas comem a carne de gado crua ou mal cozida, os cisticercos são liberados no tubo digestivo, desenvaginam os escólex, fixam-se à mucosa e crescem como tênias adultas. IV.3.2 - Cisticercose A cisticercose humana é o resultado da infecção de certos indivíduos pelas formas larvárias da tênia do porco ou Taenia solium. As proglotes grávidas dessa tênia contêm cada uma, 30 a 50 mil ovos já embrionados, isto é, com oncosferas formadas. Os pacientes parasitados eliminam quase todos os dias pequenos segmentos do estróbilo com 3 a 6 proglotes, por ocasião das evacuações. As superfícies de apólise (que resultam da fragmentação da cadeia e, portanto, sem tegumento) permitem que por aí os fundos de saco uterinos herniem e se rompam, liberando seus ovos. A condição para que os ovos eclodam é sua passagem pelo estômago e duodeno, onde agem os sucos digestivos e a bile, o que sucede normalmente no porco. Quando isso se Figura 20 - Músculo bovino com cisticercos de T. saginata. http://cal.vet.upenn.edu/paraav/images/lab7-16.jpg 120 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores dá no homem, a oncosfera liberada e ativada invade a mucosa intestinal e penetra na circulação, indo localizar-se em algum tecido do organismo. Ela se transforma então em cisticerco. O mecanismo envolvido pode ser por: a) heteroinfecção, que é o caso mais comum, o paciente ingere acidentalmente os ovos da tênia, veiculados pela água, por alimentos contaminados ou por mãos sujas. O portador de T. solium, em uma casa, representa alto risco para os que aí convivem. Pois, suas fezes são muito ricas em ovos. Por vezes um cônjuge tem a teníase e o outro a cisticercose. Nesses casos o número de cisticercos adquiridos costuma ser pequeno. A gravidade da infecção dependerá da localização dos parasitos (no olho, no sistema nervoso central etc.). b) por auto-infecção externa, o paciente é portador de uma tênia adulta e, por suas mãos sujas, ingere muitos ovos que vão formar cisticercos. c) ou por auto-infecção interna, os movimentos anti-peristálticos ou de vômito levam proglotes grávidas até o estômago, onde são digeridas. Os ovos liberados eclodem e são ativados, indo causar cisticercose maciça e disseminada em todos os tecidos. Condição que é extremamente grave. As oncosferas sofrem elevada mortalidade, mas as que sobrevivem aos mecanismos imunológicos e já se encontrem nos tecidos, passam por um processo de crescimento e, depois, de vacuolização central (Figura 21 A). Em um ponto de sua parede vai formar-se uma invaginação onde se distinguem (Figura 21 B): - um receptaculum capitis (a), - o escólex invaginado (b) com suas pregas (c), e - no fundo, as 4 ventosas e o rostro, com sua dupla fileira de acúleos. Tudo mergulhado num líquido (Figura 21 Bd) segregado pela parede do cisticerco (Figura 21 e). Aos três meses a diferenciação está completa. A vesícula pode atingir 15 mm de comprimento por 7 ou 8 mm da largura. Sua forma varia com as pressões que sofre nos tecidos. 121 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Só depois de um a três dias de ocorrida a infecção, os ovos eclodem, as oncosferas invadem a mucosa intestinal e ganham a circulação, indo localizarem-se nos tecidos. As localizações mais freqüentes, quando há raros parasitos, são : a) Olhos e anexos ...... 46,0%; destas, 60% ocorrem na retina ou no vítreo. b) Sistema nervoso .... 41,0% c) Pele e subcutâneo.. 6,3% d) Músculos ................ 3,5% e) Outros órgãos ........ 3,2% As manifestações patológicas do parasitismo só se evidenciam depois que o cisticerco comece a crescer. Dois fatores respondem por sua variada sintomatologia: a) a compressão mecânica e o deslocamento das estruturas anatômicas, com as conseqüentes alterações da fisiologia; p.ex., obstrução da circulação liquórica, produzindo hidrocefalia; b) o processo inflamatório, que envolve o parasito, pode estender-se às estruturas vizinhas, sendo do tipo celular crônico. Tudo depende da localização, do número e da vitalidade ou não dos parasitos. Figura 21 - Cisticercos de T. solium. (A) Cisticerco vacuolizado (B) Já em processo de diferenciação (C) Cisticerco desenvaginado. Fonte: Rey, 2005. http://www.facmed.unam.mx/deptos/salud/periodico/cyt/img/0 5.jpg 122 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores IV.3.3 - Formas clínicas da teníase e da cisticercose O período de incubação da teníase é, em geral, de dois a três meses. Depois, muitos pacientes se queixam de uma dor epigástrica, com caráter de ‘dor de fome’, e que simula a dor de úlcera duodenal, melhorando com a ingestão de alimentos. Inapetência e perda de peso são freqüentes; mas, em outros casos, o apetite está aumentado, com dores abdominais fugazes. Em um terço dos pacientes, as queixas são de dor abdominal, náuseas, astenia e perda de peso. Em outros há cefaléia, vertigens, constipação intestinal ou diarréia e prurido anal. Eosinofilia (entre 5 e 35%) costuma estar presente. Pode haver apendicite, por penetração do parasito no apêndice, ou obstrução intestinal pela massa total da tênia. Clinicamente, o parasitismo humano pelos vermes adultos de Taenia solium é menos evidente que pela T. saginata, pois o estróbilo é menor e suas proglotes menos ativas. E por saírem estas passivamente de mistura com as fezes, podem passar despercebidas pelo paciente. O quadro clínico, quando presente, é semelhante ao produzido pela tênia do boi, sendo mais freqüentes as formas assintomáticas ou as benignas. Figura 22 - Quadros de cisticercose humana. (A) Cisticerco na língua (B) Cisticercos no cérebro - neurocisticercose (C) Cisticerco no olho de paciente. http://www.facmed.unam.mx/deptos/salud/periodico/cyt/img/05. jpg http://www.facmed.unam.mx/deptos/salud/periodico/cyt/img/05.jpg http://www.facmed.unam.mx/deptos/salud/periodico/cyt/img/0 5.jpg 123 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores A gravidade da Taenia solium está em poder o homem tornar-se ocasionalmente o hospedeiro de sua forma larvária – o cisticerco – que determina os quadros clínicos da doença denominada cisticercose humana. Donde a necessidade de um diagnóstico rápido da espécie de tênia que parasita um paciente e de seu tratamento imediato. Não há cisticercose humana atribuível à Taenia saginata. Como já foi dito anteriormente, as formas clínicas da cisticercose humana, depende da localização, do número e da vitalidade ou não dos parasitos. IV.3.4 - Diagnóstico laboratorial das teníases O diagnóstico é feito, muitasvezes, pelo próprio paciente ao observar a expulsão de proglotes. Quando elas saem entre as evacuações e são encontradas nos lençóis ou na roupa íntima, trata-se de T. saginata. As de T. solium só saem passivamente, durante as evacuações e em geral formando cadeias com 3 a 6 segmentos unidos. Quando é o médico quem levanta a suspeita, deve-se buscar as proglotes nas fezes, para o que o bolo fecal será desfeito na água e tamisado em peneira de malhas finas. Nos três primeiros meses da infecção não se encontram proglotes nem ovos. Depois, os ovos podem ser encontrados no exame de fezes ou, melhor, pesquisados com a técnica da fita adesiva transparente (Figura 23). Os ovos chegam a ser abundantes na pele do períneo, onde as proglotes, exprimidas ao passar pelo esfíncter anal, deixaram sair muitos deles pelas superfícies de apólise. A fita gomada, montada sobre uma lâmina de microscopia (Figura 23 A) com a parte colante para fora (a) deve ser aplicada contra o ânus (Figura 23 B); e as nádegas comprimidas contra ela, para que os ovos situados na pele adiram. Colar depois a fita na lâmina (Figura 23 C) e examinar ao microscópio. O método só permite o diagnóstico de teníase, sem revelar a espécie e o risco, eventual, de cisticercose. 124 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores As teníases podem ser diagnosticadas também pelo exame de sedimentação espontânea das fezes (ver guia de exames parasitológicos - Módulo I). IV.3.4.1 - Diagnóstico diferencial entre T. solium e T. saginata Para o diagnóstico de espécie, as proglotes serão comprimidas entre duas lâminas de vidro grosso; o conjunto posto a clarear no ácido acético e, depois, examinado com lupa para ver as estruturas uterinas: a) se com 15 a 30 ramos uterinos em cada lado da haste e aspecto dicotômico, é T. saginata (Figura 24 A). A proglote é mais retangular. b) se com 7 a 16 ramificações de cada lado e aspecto dendrítico, é T. solium (Figura 24 B). A proglote é mais quadrada. Figura 23 - (A, B e C) Técnica da fita gomada. Ao lado ovos de tênia aderidos à fita gomada, vistos ao microscópio. Fonte: Rey, 2005. A B Figura 24 - Diferenças nas proglotes de T. saginata (A) e T. solium (B). Fonte: Rey, 2005. 125 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores IV. 4 - HIDATIDOSE Os Echinococcus são cestóides da família Teniidae, de pequenas dimensões na fase adulta, que vivem em grande número no intestino de diversos canídeos e de alguns felídeos. IV.4.1 - Biologia de Echinococcus granulosus Echinococcus granulosus (Figura 25 A), parasito habitual do cão doméstico, nas zonas de criação de carneiros, é o mais importante para a medicina humana. Pois, seus ovos (Figura 25 B) e suas larvas (Figura 25 C) podem desenvolver-se no organismo das pessoas, crescendo como grandes tumores vesiculares ─ as hidátides ─, sobretudo no fígado ou nos pulmões. Figura 25 - (A) Echinococcus adulto; (B) ovo; (C) hidátide, com vesículas prolígeras (d-e) e hidátide-filha (h); (D) proto-escólex invaginado e (E) desinvaginado. Fonte: Rey, 2005. 126 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores O Echinococcus granulosus (Figura 25 A, Figura 27), na fase sexuada ou adulta, mede 4 a 8 mm. Possui um escólex com 4 ventosas e um rostro armado de acúleos que ficam inseridos entre as vilosidades intestinais do cão (Figura 26). O colo é muito curto e seguido de apenas três a seis proglotes: uma ou duas jovens, outras maduras (hermafroditas) e a última grávida, que logo sofre apólise. Esta é eliminada com as fezes do cão e contém 500 a 800 ovos que irão poluir as pastagens e o solo do peridomicílio. O aspecto do ovo é semelhante ao de outros tenídeos. No solo úmido ou na água, os ovos resistem 3 semanas; 11 dias ao ar seco e 1 hora aos desinfetantes comuns. No interior já se encontra formado o embrião hexacanto ou oncosfera, com 3 pares de acúleos e protegido por envoltório espesso, o embrióforo ingerido com o pasto, pelos carneiros (hospedeiros intermediários normais desta tênia), os embrióforos eclodem sob a ação dos sucos digestivos e da bile e liberam as oncosferas. Essas oncosferas invadem a mucosa, com ajuda dos acúleos (que perdem em seguida) e ganham a circulação sanguínea. As pessoas infectam-se acidentalmente ao ingerir ovos do helminto disseminados pelos cães no domicílio ou no peridomicílio. As larvas são retidas em geral no fígado (onde chegam depois de 3 a 5 horas) ou no pulmão, lugares onde vão dar origem às hidátides. No tecido, a oncosfera se vesiculisa e se transforma em um sincício que segrega a Figura 26 - Escólex de E. granulosus inserido entre vilosidades, na luz de uma glândula de Lieberkühn. Fonte: Rey, 2005. Figura 27 - Echinococcus granulosus adulto.http://www.ufrgs.br/para-site/Imagensatlas/Animalia/Ima gens/granulosus.jpg 127 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores cutícula, externamente, e líquido hidático, internamente. Em torno, desenvolve-se a reação inflamatória que acabará por formar uma cápsula fibrosa envolvendo o parasito. A velocidade de crescimento da hidátide depende do hospedeiro e do tecido, levando meses para chegar a 1 cm de diâmetro. No homem, seguirá crescendo ao longo dos anos. IV.4.1.1 - Cisto hidático ou hidátide A parede do cisto (Figura 28) é formada por um sincício, rico em núcleos. Ele só é reconhecível ao microscópio, mas empresta um aspecto aveludado à sua face interna. É a membrana germinativa ou prolígera do cisto. Do lado externo, ela segrega a membrana cuticular anista que, ao microscópio, mostra-se refringente e finamente estratificada. A espessura da membrana anista aumenta com o tempo. Ela é tensa e elástica, enrolando-se para fora quando rota. Na face interna, a membrana germinativa forma, por brotamento, numerosas cápsulas prolígeras, que crescem e formam por sua vez os protoescóleces, a partir dos quais novas tênias adultas terão origem, se comidos pelos cães. Tanto as vesículas prolígeras íntegras como as rotas e os escóleces que ficam livres no líquido hidático formam o que se chama de “areia hidática” e constitui o material infectante, na hidatidose canina. IV.4.2 - Formas clínicas da hidatidose A infecção tem início por via digestiva e as hidátides vão localizar-se no fígado em 75 a 80% dos casos ou nos pulmões em 10 a 20% deles. Nos músculos encontram-se 4,7% de cistos, no baço 2,3%, no rim 2,1% e no cérebro 1,4%. Os cistos são múltiplos em 1/3 dos Figura 28 - Representação esquemática da parede de um cisto hidático. Fonte: Rey, 2005. 128 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores casos, mas fatores epidemiológicos, fisiológicos ou outros devem impedir que eles sejam mais numerosos. Mesmo a parede íntegra dos cistos permite a passagem de substâncias antigênicas que levam à produção de anticorpos. Alguns são muito específicos,outros de grupo. A sensibilização do paciente dá lugar a reações alérgica do tipo urticária, edema angioneurótico, asma e choque anafilático, assim como à reação intra-dérmica de Casoni. As ações do parasito são de ordem física, por compressão ou desvio de órgãos, ou metabólica. A reação inflamatória inicial consiste em infiltração de eosinófilos e mononucleares. Eventualmente o parasito é destruído e fagocitado. Senão, forma-se a hidátide e organiza-se a membrana adventícia do cisto, de espessura variável segundo o tecido, e que o isola. Com o tempo ela necrosa e se calcifica o que a torna visível radiologicamente. IV.4.3 - Diagnóstico laboratorial da hidatidose A hidatidose é uma parasitose que ora se mostra pobre de sinais e sintomas, ora como doença polimorfa, capaz de produzir variadas síndromes sem características específicas. O diagnóstico diferencial deve ser feito, sobretudo com os processos tumorais do fígado ou dos pulmões. Nas áreas endêmicas ou para onde convergem seus pacientes, deve-se pensar sempre nela. Noutros lugares o diagnóstico é mais difícil porque a suspeita não ocorre. Exceto nos raros casos de hidatidoptise ou de punção exploradora contendo areia hidática. Contribuem para o diagnóstico: a origem do paciente, seus hábitos, eosinofilia moderada (ou alta, após punção ou ruptura de cisto). Outros aportes vêm da radiologia ou são uma surpresa na sala de cirurgia. A radiologia ─ mostra bem as imagens dos cistos localizados no pulmão ou na face superior do fígado; mas não é suficiente para o diagnóstico específico. Ela mostra também os cistos com as paredes calcificadas, no interior do fígado ou de outros lugares. Cistos com infecções anaeróbias ou aqueles em que o ar penetrou (punção, abertura para 129 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores um brônquio etc.), ou as bolsas residuais pós-operatórias, mostram imagens com nível líquido; ou o descolamento da membrana de sua loja primitiva. As hidátides ósseas requerem estudo radiológico. A cintilografia ─ permite localizar hidátides no interior do parênquima hepático, mediante administração de radioisótopos e medida da radiação gama. A tomografia e a ecografia ─ são as modernas técnicas, atualmente em uso, que melhoraram notavelmente o diagnóstico da hidatidose humana. Testes sorológicos ─ As principais técnicas são: a) a imunoeletroforese (primeira a positivar-se), b) a hemaglutinação indireta c) o teste de ELISA. Ainda que muito específicos esses testes não têm sensibilidade satisfatória, podendo dar resultados falsamente negativos. Associá-los, portanto. Reação de Casoni ─ É feita com líquido hidático de cistos férteis de carneiro (conservado com mertiolato). Nos casos positivos, 5 a 10 minutos após a injeção intradérmica, forma- se pápula de contornos irregulares (>2 cm de diâmetro) e, após 24 horas, uma tumefação endurada no local. IV.5 - Hymenolepis nana Os cestóides da família Hymenolepididae são tênias de tamanho pequeno ou médio, cujo escólex apresenta um rostro armado de acúleos ou não e as proglotes têm 3 ou 4 testículos. As larvas são cisticercóides. Hymenolepis nana (ou tênia anã) (Figura 29) é parasito do intestino humano. Mede 2 a 10 cm de comprimento e o escólex possui uma coroa de pequenos acúleos no rostro. As numerosas proglotes são mais largas do que longas, com o poro genital sempre do mesmo lado. 130 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores IV.5.1 - Biologia de Hymenolepis nana Os ovos (Figura 30) são abundantes nas fezes, têm forma oval, duas membranas separadas por um espaço ocupado por filamentos polares; dentro está a oncosfera (seta). O ciclo é monoxeno: os ovos passam de uma pessoa a outra, ou dá-se uma auto- infecção. No intestino, a oncosfera eclode dos ovos ingeridos e invade a mucosa, onde se transforma em cisticercóide. Após 10-12 dias, volta à luz intestinal e migra para o íleo onde cresce como verme adulto. O ciclo de ovo a ovo completa-se em um mês e a longevidade da tênia é de poucos meses. A infecção é maior em crianças que em adultos, parecendo que a resistência aumenta depois da puberdade. Os anticorpos, que são produzidos na fase de cisticercóide, perdem sua efetividade cinco a seis meses depois da cura. Os distúrbios gastrintestinais só aparecem quando os parasitos são muitos e, em geral, nas crianças menores de 10 anos. Anorexia, emagrecimento, inquietação e prurido, são as manifestações mais freqüentes. Nas formas graves, há congestão e ulcerações da mucosa, diarréia, dor abdominal, náuseas e vômitos e, até mesmo, um quadro toxêmico. Figura 29 - Exemplar adulto de Hymenolepis nana http://www.parasitologia.uchile.cl/apuntes_de_clases/_PRIVATE/TecMedBasic o/tablas/Imagenes%20tablas/himenolepis_adulto.jpg 131 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores IV.5.2 - Diagnóstico laboratorial da himenolepíase O diagnóstico é feito pelo exame de fezes (sedimentação espontânea), a repetir se negativo. IV.6 - ANCILOSTOMÍDEOS Os ancilostomídeos são pequenos vermes da família Ancylostomatidae (classe Nematoda) e parasitos obrigatórios de mamíferos. Duas espécies parasitam freqüentemente o homem e são responsáveis por uma doença tipicamente anemiante, a ancilostomíase ou ancilostomose. São elas: Ancylostoma duodenale e Necator americanus, que produzem praticamente o mesmo quadro clínico. IV.6.1 - Os parasitos: Ancylostoma duodenale e Necator americanus Os vermes adultos vivem na luz do intestino delgado fixados à mucosa, da qual sugam sangue (Figura 31 A, B). Põem ovos (Figura 31 C) que embrionam no solo, onde as larvas eclodem e vivem durante alguns dias, nutrindo-se de matéria orgânica. Depois de duas mudas, passam a ser larvas infectantes (embainhadas pela cutícula da última muda que não se desprende). As L3 não se alimentam. Mas, podem penetrar através da pele das pessoas que andam descalças por terrenos poluídos com fezes humanas. No caso de A. duodenale a infecção pode dar-se por via oral. http://www.cdfound.to.it/IMG/Hym4.jpg Figura 30 - Ovo de Hymenolepis nana. Observe os acúleos no interior. 132 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores As espécies que parasitam cães e gatos (A. braziliensis, A. caninum etc.) que não conseguem completar sua evolução na espécie humana, podem invadir a pele e nela permanecerem algum tempo. Aí abrem túneis na epiderme e produzem uma dermatite conhecida como larva migrans cutânea ou “bicho geográfico”. Estes helmintos medem cerca de um centímetro de comprimento, os machos sendo pouco menores que as fêmeas. Eles apresentam duas estruturas muito características: a cápsula bucal e a bolsa copuladora dos machos. Em ambos os sexos, a cápsula bucal é uma modificação da extremidade anterior, formada pela cutícula, que permite ao verme aderir, por sucção, à parede do intestino. Tem forma globular, com ampla abertura para o exterior, em cujas margens encontram-se papilas sensoriais. A cápsula é provida de estruturas que dilaceram a mucosa intestinal, como dentes, lâminas cortantes ou saliência pungitivas.O sistema digestório continua-se com um esôfago muscular claviforme e um intestino simples, que nas fêmeas termina no ânus e, nos machos, abre-se na bolsa copuladora. Os ancilostomídeos que parasitam o homem habitual ou ocasionalmente podem ser distinguidos pela morfologia da cápsula bucal e pela da bolsa copuladora. As figuras ao lado mostram as diferenças entre as principais espécies, pela cápsula bucal (Figura 32 A): a) Ancylostoma duodenale (Figura 32 B), com dois pares de dentes na cápsula bucal; b) Necator americanus (C), com lâminas cortantes na cápsula; c) Ancylostoma braziliensis (D), com um par de dentes grandes e um pequeno; d) Ancylostoma caninum (E), com 3 pares de dentes. Figura 31 - Ancylostoma duodenale. (A) macho; (B) fêmea; a) cápsula bucal; b) glândula cefálica; c) o testículo; d) vesícula seminal; e) canal ejaculador; f) espículos; g) a bolsa copuladora do macho; h) faringe; i) útero; j) ovário; k) intestino; l) reto e ânus (C) ovos. Fonte: Rey, 2005. 133 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Na ancilostomíase, as relações parasito-hospedeiro têm lugar através da fixação do helminto à mucosa intestinal que é aspirada e dilacerada, seja com as placas cortantes de Necator, seja com os dentes e lancetas dos Ancylostoma. A bolsa copuladora é uma expansão cuticular da extremidade posterior dos machos, sustentada por raios carnosos agrupados de modo diferente para cada espécie e permitindo, portanto, identificá-las. O sistema reprodutor destes helmintos é de tipo tubular e bastante simples, havendo dois ovários e um só testículo. Os machos têm como anexos dois espículos finos e longos e a bolsa copuladora com que se fixam às fêmeas durante a cópula. Estas depois de fecundadas, põem ovos de casca fina que logo iniciam a segmentação. Necator põe 6 a 11 mil ovos por dia ao passo que Ancylostoma duodenale põe 20 a 30 mil/dia. O embrionamento larvário (Figura 33) completa-se no meio exterior em cerca de 18 horas e a eclosão dá-se em um ou dois dias, saindo uma larva rabditóide, isto é, com o esôfago formado por corpo, istmo e bulbo. Figura 32 - (A) Corte sagital da cápsula bucal: a) boca; b) dente; c) parede da cápsula; d) lanceta; e) canal do dente dorsal; f) lado dorsal; g) lado ventral; h) esôfago; (B) A. duodenale (B) N. americanus (C) A. braziliensis (D) A. caninum. Fonte: Rey, 2005. 134 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores A larva rabditóide de 1º estádio (ou L1) (Figura 34) alimenta-se ativamente de bactérias e matéria orgânica do solo e cresce de modo que aos três dias tem lugar a 1ª muda. A larva rabditóide de 2º estádio (L2) cresce mais. Seu esôfago alonga-se, passando a ser de tipo filarióide. Ocorre então a 2ª muda. Mas, agora, a velha cutícula permanece envolvendo a larva como uma bainha e isolando-a do meio ambiente: é a larva filarióide embainhada ou encistada (L3). Uma semana depois torna-se infectante. Nesse 3º estádio, ela já não se alimenta, mas passa a consumir suas próprias reservas energéticas, que lhe permitem crescer e mover-se ativamente com um geotropismo negativo, mas hidro, termo e tigmotropismo (ou de contato) positivos. Em vista desses tropismos, as larvas tendem a elevar-se sobre as partículas do solo ou a vegetação, até onde lhes permitir a película de água que as reveste. Em contato com a pele humana, são estimuladas a penetrar nela. As larvas infectantes dos ancilostomídeos (L3), que entram pela pele, vão pela circulação venosa ou linfática ao coração e aos pulmões, onde tem lugar a 3ª ecdise. As L4 penetram nos alvéolos e bronquíolos, sendo arrastadas pela corrente de muco da árvore respiratória até a faringe, Figura 33 - Ovos de ancilostomídeos em duas fase de embrionamento (A e B) e com uma larva já formada no seu interior (C). Fonte: Rey, 2005. A B C Figura 34 - Larva de primeiro estádio (rabditóide) de Necator. Fonte: Rey, 2005. 135 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores que é o fim do ciclo pulmonar. São então deglutidas, indo parar nos intestinos; onde sofrem a 4ª e última ecdise, passando a vermes adultos. Os vermes adultos localizam-se de preferência no duodeno e no jejuno, fixando-se à mucosa com sua cápsula bucal. Larvas que casualmente penetrem pela boca, com água ou alimentos, não fazem o ciclo pulmonar. Uma das características dos Ancylostoma duodenale, mesmo quando penetrem pela pele, é que alguns passam rapidamente pelos pulmões, sem fazer a 4ª muda. As larvas filarióides (L3), que não passaram pela árvore brônquica, invadem outros tecidos e entram em estado de dormência, que pode durar até 8 meses. Ao fim desse período, migram para o tubo digestivo e completam seu desenvolvimento, tornando-se vermes adultos. O ciclo completo normal de A. duodenale dura 4 a 5 semanas, aparecendo os ovos nas fezes na 5ª ou 6ª semanas depois da infecção. Os ovos de Necator, só aparecem depois de 7 a 8 semanas. Em geral, a carga parasitária aumenta até os 15 ou 20 anos de idade para estabilizar-se ou diminuir em seguida. Mas não se sabe se devido ao desenvolvimento da imunidade ou às mudanças comportamentais, como o uso de calçado mais freqüente entre adultos. IV.6.2 - Diagnóstico laboratorial da ancilostomose e da necatoríase O diagnóstico da ancilostomíase não oferece dificuldades, pois os ovos são típicos e em geral abundantes nas fezes dos pacientes. O exame coproscópico de um simples esfregaço feito com fezes e solução fisiológica, em lâmina de microscopia, é suficiente. Se forem escassos, usar uma técnica de enriquecimento, como a centrífugo-flutuação no sulfato de zinco. Cada 35-40 ovos por grama de fezes correspondem a uma fêmea, sendo que as fêmeas representam 50% da população helmíntica. 136 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Uma infecção com menos de 50 vermes é considerada leve; entre 50 e 200 já tem significação clínica, podendo causar anemia; entre 200 e 1.000 é intensa e, acima de 1.000 vermes, muito intensa. IV.7 - Strongyloides sp. A família Strongyloididae compreende nematóides de vida livre que vivem em geral no solo ou na água. IV. 7.1 - Biologia de Strongyloides Strongyloides stercoralis é parasito freqüente da espécie humana, desenvolvendo seu ciclo vital em parte no solo, onde se encontram fêmeas (Figura 35 A) e machos (Figura 35 B), e parte como parasitos teciduais da parede intestinal, onde só há fêmeas partenogenéticas (Figura 35 F). Estas produzem ovos (Figura 35 C) já embrionados ou parem larvas (Figura 35 D) de tipo rabditóide, L1, que deixam a mucosa e saem com as fezes. http://www.k- state.edu/parasitology/625tutorials/FIGancylostoma03.jpg 137 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores No solo elas formam machos e fêmeas que põem ovos de onde eclodem outras larvas L1. As larvas L1, de ambas origens transformam-se no solo em L2 ou larvasfilarióides infectantes (Figura 35 E), capazes de penetrar através da pele humana. A infecção é a estrongiloidíase (= estrongiloidose ou anguilulose) que pode ser assintomática, produzir enterite ou enterocolite de maior ou menor intensidade e, um quadro grave e fatal nos pacientes que usam corticóides. O parasito apresenta dois ciclos possíveis: a) Ciclo direto: onde as larvas rabditóides eliminadas com as fezes transformam-se, no meio exterior, em larvas filarióides capazes de infectar diretamente as pessoas; b) Ciclo indireto: larvas rabditóides formam, no solo, machos e fêmeas que produzem ovos; estes eclodem produzindo larvas L1 que passam a L2, infectantes para aqueles que andam descalços ou põem alguma região cutânea em contato com o solo. Somente as larvas filarióides são infectantes e penetram habitualmente pela pele dos pés. Mas podem infectar por via oral (sem fazer o ciclo pulmonar). Além da heteroinfecção, em que o parasito vem do solo ou de outro paciente, pode haver: Figura 35 - A fêmea de vida livre (A) mede 1-1,5 mm; o macho (B) 0,7 mm; a larva L1 (D); e L2 (E). Os ovos (C) não são vistos nas fezes. Fonte: Rey, 2005. 138 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores a) auto-infecção externa, se as larvas L1 passarem a L2, no períneo e invadirem a pele do próprio paciente; ou forem levadas à boca pelas mãos sujas deste ou pelos alimentos que contaminou. b) auto-infecção interna, se a passagem de L1 para L2 ocorrer no intestino do próprio paciente, devido a constipação intestinal (casos raros) ou a imunodepressão. Essas circunstâncias explicam a duração ou o aumento da população parasitária em certos casos. Mas, a situação mais grave é a decorrente do uso de doses elevadas e prolongadas de corticóides. Pois, no metabolismo destas drogas formam-se compostos semelhantes aos hormônios de crescimento e muda dos helmintos: as ecdizonas, que fazem as larvas L1 passarem a L2 sem sair do intestino. O ciclo parasitário fecha-se então com grande produção de fêmeas partenogenéticas e invasão larvária de todo o organismo, levando o paciente ao óbito. IV.7.2 - Formas clínicas da estrongiloidíase As lesões causadas por esta infecção situam-se em diferentes níveis: a) Na pele, costumam ser discretas ou formarem placas de eritema nos pontos de penetração das larvas; lesões urticariformes aparecem em torno do ânus na auto-infecção externa. b) Durante o ciclo pulmonar, são produzidas pequenas hemorragias no parênquima quando as larvas invadem os alvéolos e aí fazem suas mudas. Elas chegam a causar uma pneumonite difusa ou síndrome de Loeffler, com a presença de larvas no escarro. Esse quadro pode prolongar-se ou repetir-se com freqüência. c) No duodeno e no jejuno as lesões são produzidas na mucosa pela presença das fêmeas partenogenéticas, dos ovos que eclodem e das larvas filarióides que migram para a luz intestinal, produzindo lesões mecânicas, histolíticas e inflamatórias. Observa-se aí uma inflamação catarral, pontos hemorrágicos e ulcerações várias, em função da carga parasitária. O edema pode estender-se à submucosa. Em conseqüência da duodeno- jejunite, aumenta o peristaltismo, causando diarréia e evacuações muco-sangüinolentas. Fibrose e atrofia da mucosa vão transformando o duodeno e jejuno em um tubo quase rígido. 139 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores No início, a penetração larvária pode ser assintomática ou, em pacientes sensibilizados, acompanhar-se de eritema, de prurido ou de manifestações urticariformes. Dias depois, podem surgir tosse, expectoração e ligeira febre; ou a síndrome de Loeffler (pneumonite difusa). Em alguns casos, uma crise de asma. Depois, os sintomas mais importantes são os digestivos, variando com a carga parasitária: desconforto abdominal, cólicas, dores vagas ou imitando úlcera péptica, surtos diarréicos, anorexia, náuseas e vômitos. Na fase aguda, há leucocitose que pode apresentar 15 a 45% de eosinófilos. Nos casos graves aparecem: anemia, emagrecimento, desidratação, astenia, irritabilidade nervosa ou depressão. As infecções podem assumir um curso crônico, devido à auto-infecção, tanto externa como interna, persistindo por 20 ou 30 anos. Também sucede de a doença evoluir de forma grave ou fatal com ulcerações extensas ou uma síndrome de sub-oclusão intestinal alta. IV.7.3 - Diagnóstico laboratorial da estrongiloidíase O diagnóstico deve ser suspeitado sempre que houver eosinofilia não explicada por outras causas; ou deve ser procurado em pacientes que vão tomar ou estão tomando corticóides. Mas, devido ao caráter inespecífico do quadro clínico, ele deve ser confirmado pelos exames de laboratório. Em um exame de fezes comum (exceto o método de Kato) o que se espera é encontrar as larvas rabditóides (L1); não os ovos. Como elas são escassas, usar uma das técnicas coproscópicas de enriquecimento para a pesquisa de larvas nas fezes, como: a) o método de Rugai; b) o método de Baermann; c) ou a coprocultura de Harada-Mori. http://www.higiene.edu.uy/ciclipa/parasito/strongyloides.jpg 140 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores IV.8 - Ascaris, Enterobius e Trichuris IV.8.1 - Ascaris lumbricoides É um helminto nematóide da família Ascarididae e o maior parasito habitual do homem. Os áscaris são conhecidos, popularmente, como lombrigas ou bichas. Localizam-se de preferência no duodeno e no jejuno, onde produzem um quadro clínico variado denominado ascaríase. São vermes longos, cilíndricos e com extremos afilados, sobretudo anteriormente. A extremidade posterior das fêmeas é quase reta, enquanto a dos machos é enrolada ventralmente em espiral (Figura 37). Em geral, há em torno de 6 vermes por paciente. Mas esse número pode elevar-se a 500 ou 700 em alguns casos. Na maioria das vezes, a infecção é leve e clinicamente benigna. Mais comum, em crianças, é a obstrução intestinal por um bolo de áscaris, que determina o quadro de abdome agudo. Os vermes localizam-se, em geral, nas alças jejunais (90%); o resto no íleo. Raramente migram para o duodeno, estômago ou outros lugares. Mas, crianças muito parasitadas podem eliminar alguns pela boca ou pelas narinas. Figura 36 - (A) Larva de primeiro estádio de S. stercoralis. (B) Extremidade anterior em detalhe. Observar o esôfago rabditóide (em forma de bulbo). http://www.paru.cas.cz/helminti/Nematod a/strongyloides.gif A B 141 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Os áscaris mantêm-se em atividade constante, movendo-se quase sempre contra a corrente peristáltica. Aí, se nutrem de materiais semi-digeridos ou outros, dispondo para isso de todas as enzimas necessárias. As fêmeas devem ser fecundadas várias vezes. Elas acumulam os espermatozóides amebóides (sem flagelos) no útero ou começo do oviduto, onde são fertilizados os óvulos ao passarem. Os ovos férteis são ovais ou quase esféricos. Eles têm uma delgada casca interna, impermeável; outra média, quitinosa; e a mais externa é albuminosa, espessa e com rugosidades grosseiras (Figura 38).No solo, embrionam em 2 semanas (entre 20 e 30ºC) e se tornam infectantes dentro de outra semana. Mas podem permanecer aí infectantes durante um ou mais anos. Os ovos de áscaris são abundantes no chão do peridomicílio poluído com fezes humanas, e podem ser suspensos no ar, com a poeira, pela ação dos ventos. Quando isoladas ou mais numerosas que os machos, as fêmeas podem por ovos inférteis, mais alongados, que não embrionam. Ovos de áscaris podem ser ingeridos com os alimentos ou a partir das mãos sujas. Mas, também, serem aspirados e depois deglutidos com o muco das vias aéreas. No cecum do hospedeiro, os ovos embrionados são induzidos a eclodir pela ação do CO2 e de outros fatores, liberando uma larva de 2º estádio. Esta que é aeróbia invade a mucosa intestinal e vai pela circulação até o pulmão, onde chega em 4 ou 5 dias. Aí, cresce e sofre nova muda, passando a larva de 3º estádio após 8 ou 9 dias. As larvas de 3º estádio penetram nos alvéolos, onde ocorre a 3ª muda. Medindo agora 1 a 2 mm, são arrastadas pela corrente de muco dos bronquíolos e brônquios, sobem pela traquéia e laringe, sendo deglutidas com as secreções brônquicas. Ao chegarem ao intestino, dá-se a 4ª e última muda que as transforma em adultos jovens. O crescimento continua até a maturidade, ao fim de 2 meses. 142 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Os áscaris podem permanecer nos intestinos sem molestar o paciente, sendo descobertos, ocasionalmente, quando um deles for expulso com as fezes. Ou pelo encontro de ovos (Figura 38), durante um exame coproscópico de rotina. Nos casos sintomáticos, as manifestações mais freqüentes são: desconforto abdominal, dor epigástrica, cólicas intermitentes e má digestão; assim como náuseas, anorexia e emagrecimento. Também costuma haver irritabilidade, sono intranqüilo, ranger de dentes à noite e coceira no nariz. Pessoas hipersensíveis podem apresentar quadros alérgicos, como urticária, edemas e crises de asma que se curam com anti-helmínticos. Em populações de baixa renda e crianças desnutridas, os parasitos agravam o mau estado nutricional. Os quadros clínicos não permitem distinguir a ascaríase de outras helmintíases intestinais, a menos que um verme tenha sido eliminado durante uma defecação ou vomitado, é o exame parasitológico das fezes a melhor forma de se diagnosticar esta helmintíase. B Figura 37 - (A) Desenho esquemático de uma fêmea e um macho de Ascaris (B) Os parasitos adultos. Fonte: Rey, 2005. Figura 38 - Ovo de Ascaris lumbricoides. Fonte: Rey, 2005. 143 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Dada a quantidade de ovos habitualmente produzida, basta um simples exame de fezes diluídas e colocadas entre lâmina e lamínula, para que sejam reconhecidos ao microscópio (Figura 38). Se for utilizado o método de sedimentação em vaso cônico (método de Lutz), o resultado aproxima-se de 100% de sensibilidade. IV.8.2 - Enterobius vermicularis Este helminto (outrora denominado Oxiurus vermiculares) é agente etiológico da enterobíase (ou oxiuríase) parasitose intestinal peculiar à espécie humana e freqüente, em crianças. A fêmea cilíndrica e com extremidades afiladas (Figura 39 A) mede cerca de 1 cm. A cutícula lisa forma 2 expansões cervicais (a). O macho (Figura 39 B) muito menor tem a extremidade posterior enrolada ventralmente. O hábitat dos vermes adultos é a região cecal do intestino grosso humano e suas imediações, onde vivem aderidos à mucosa. Os enteróbios têm um esôfago com bulbo posterior e um intestino simples. Ovário, oviduto e útero são duplos e a vagina abre-se no limite entre terço anterior do corpo e o médio; o ânus fica no início do terço posterior. A fêmea fecundada, quando cheia de ovos no útero, relaxa sua inserção e é arrastada para fora do intestino sendo exprimida no ânus, razão pela qual expulsa grande quantidade de ovos na pele em torno. A morte da fêmea, ao fim de 35-50 dias, também libera ovos. Figura 39 - (A) fêmea; (B) macho; e (C) ovo de Enterobius vermicularis; a) aletas cervicais; b) esôfago; c) intestino; d) útero; e) vagina; f, ovário; g) reto e ânus; h) canal ejaculador; i) testículo. 144 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Os ovos são característicos, sendo mais achatados de um lado e, além de sua dupla casca, contêm uma larva L2 já formada por ocasião da postura (Figura 40). Os ovos só se tornam infectantes após contato com o oxigênio no períneo ou no meio ambiente. Na temperatura da pele (30ºC) essa maturação faz-se em 4 a 6 horas. Quando ingeridos, eclodem no intestino delgado do novo hospedeiro (ou do próprio paciente: é a auto-infecção), desenvolvendo-se as larvas até vermes adultos, enquanto migram lentamente até o cecum. Não há ciclo pulmonar. No hábitat definitivo copulam e as fêmeas começam a produzir ovos. A ação patogênica é, principalmente, de natureza mecânica e irritativa, ao produzirem os vermes pequenas erosões da mucosa onde se fixam. Ou ao provocarem uma inflamação catarral quando o parasitismo for intenso. Só em casos extremos estão presentes milhares de vermes; pois, geralmente, eles são muito poucos. Em geral apenas uma de cada dez crianças infectadas apresenta sintomas, podendo-se encontrar uma ou algumas fêmeas, no períneo, a cada manhã. O principal sintoma é o prurido na região anal, que leva o paciente a coçar-se e chega, mesmo, a produzir escoriações. O períneo fica vermelho e congesto, podendo dar lugar a infecções. Também podem surgir lesões na mucosa retal. Em meninas pode haver prurido vulvar. Fenômenos de hipersensibilidade devem estar presentes, pois os pacientes sentem também prurido nasal. Crises de urticária não são raras. Irritabilidade, distúrbios do sono ou insônia podem resultar do parasitismo. Na esfera genital, a irritabilidade local leva, eventualmente, a um exagerado erotismo, masturbação ou ninfomania. No parasitismo intenso, instala-se uma colite crônica, com fezes moles ou diarréia e inapetência. Em conseqüência, há um Figura 40 - Ovo de Enterobius vermicularis. http://www.mt.mahidol.ac.th/eLearning/Par asite/Para%20pic/Enterobiasis%20egg1.jp g 145 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores emagrecimento do paciente. Pensa-se em enterobíase nos casos de prurido anal que se agrava à noite, com eosinofilia ligeira (4 a 15% de eosinófilos) e sem outras causas. O exame de fezes (com enriquecimento) só revela 5 a 10% dos casos. O diagnóstico é fácil quando as pessoas que cuidam das crianças encontram os vermes no períneo, na roupa íntima ou de cama. O melhor método para o diagnóstico é a busca de ovos (ou vermes) no períneo, de manhã antes do banho, pela técnica da fita adesiva. IV.8.3 - Trichuris trichiura São vermes redondos de tamanho pequeno ou médio, que são filiformes em sua porção anterior e fusiformes posteriormente. A espécie que habitualmente parasita o homem é o Trichuris trichiura, que tem distribuição cosmopolita. T. trichiura é também denominado tricocéfalo (nome antigo). A infecção recebe os nomes de tricuríase, tricurose e tricocefalose.
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