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AGENTES ANTIPSICÓTICOS (Referência: KATZUNG, Bertram G. Farmacologia básica e clínica. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014) NATUREZA DA PSICOSE E DA ESQUIZOFRENIA: “psicose” denota uma variedade de transtornos mentais. A esquizofrenia é um tipo particular de psicose, caracterizada principalmente por sensório claro, porém com transtorno pronunciado do pensamento. É considerada um transtorno de neurodesenvolvimento. HIPÓTESE SEROTONINÉRGICA DA ESQUIZOFRENIA Descoberta de alucinógenos indólicos (ex. LSD e mescalina) possibilitou a identificação de muitos subtipos do receptor 5-HT o 5-HT2A e 5-HT2C constitui a base dos efeitos alucinógenos desses agentes 5-HT2A modulam a liberação de dopamina, norepinefrina, glutamato, GABA e acetilcolina no córtex, região límbica e estriado o Estimulação: despolarização dos neurônios glutamatérgicos e estabilização dos receptores NMDA 5-HT2C modulam a atividade dopaminérgica cortical e límbica o Estimulação: inibição da liberação cortical e límbica de dopamina Antipsicóticos atípicos (ex. clozapina): bloqueio do receptor 5-HT2A (fator chave) o Esses fármacos são agonistas inversos do receptor 5-HT2A HIPÓTESE DOPAMINÉRGICA DA ESQUIZOFRENIA Evidencias que sustentam essa teoria a) Muitos dos fármacos antipsicoticos bloqueiam acentuadamente os receptores D2 pós-sinápticos do SNC b) Fármacos que aumentam a atividade dopaminérgica agravam a esquizofrenia ou produzem nova psicose c) A densidade de repectores de dopamina em pacientes esquizofrênicos post mortem está aumentada d) Alguns estudos relatam que a quantidade de receptores D2 e dopamina estão aumentados no núcleo accumbens, caudado e putamen e) Exames de imagem demonstraram uma liberação aumentada e dopamina estriatal induzida por anfetaminas, aumento da ocupação basal dos receptores D2 estriatais pela dopamina extracelular e outras medidas Os receptores de serotonina (principalmente o 5-HT2A) podem mediar efeitos sinérgicos ou proteger contra as consequências extrapiramidais do antagonismo de D2 HIPÓTESE GLUTAMATÉRGICA DA ESQUIZOFRENIA Glutamato: principal neurotransmissor excitatório do cérebro Fenciclidina e cetamina: inibidores não competitivos do receptor NMDA o Exacerbam o comprometimento cognitivo e a psicose em esquizofrênicos NMDA: necessitam de glicina para sua atividade integral o Esquizofrênicos: sítio de glicina desse receptor não está totalmente saturado o Receptores de glicina: fase de desenvolvimento FARMACOLOGIA BÁSICA DOS AGENTES ANTIPSICÓTICOS Diversas estruturas químicas foram associadas a propriedades antipsocóticas. Os fármacos podem ser classificados em vários grupos: o Derivados da fenotiazina Derivados alifáticos (ex. clorpromazina) e derivados da piperidina (ex. tiorizadina) são os menos potentes Produzem mais sedação e ganho de peso Derivados da piperazina (note que o anterior era piperidina) Mais potentes, mais seletivos, porém não necessariamente mais eficazes o Derivados do tioxanteno Exemplificado principalmente pelo tiotixeno o Derivados da butirofenona HALOPERIDOL o Fármacos antipsicóticos atípicos Protótipo: clozapina Farmacologia complexa, com uma maior capacidade de alterar a atividade dos receptores 5-HT2A se comparados aos receptores D2 Atuam também sobre os receptores 5-HT1A, produzindo efeitos sinérgicos com antagonismo dos receptores 5-HT2A SULPRIDA e SULPIRIDA: potência equivalente para receptores D e D3, sendo antagonistas de 5-HT7 Aumento pronunciado de prolactina Não são desprovidos do risco de discinesia tardia Farmacocinética o Absorção e distribuição Absorvidos rapidamente, mas de modo incompleto Muitos sofrem metabolismo de primeira passagem intenso -> menor biodisponibilidade Maioria: altamente lipossolúvel e liga-se às proteínas CLOPROMAZINA Alguns metabólitos podem ser encontrados na urina após meses da administração Formulações injetáveis: bloqueio dos receptores D2 em até 3-6 meses CLOZAPINA Ocorrência de recidiva rápida e grave, após a suspensão do fármaco Nunca deve ser interrompida de modo abrupto o Metabolismo Maioria: metabolizados por oxidação ou desmetilação Principais: CYP2D2, CYP1A2 e a CYP3A4 Farmacodinâmica o Sistemas dopaminérgicos Via mesolímbica-mesocortical Via nigroestriatal Coordenação dos movimentos voluntários Sistema tuberoinfundibular Libera dopamina na circulação porta-hipofisária, que inibe a secreção de prolactina pela adenohipófise Via medular-periventricular Pode estar envolvido no comportamento alimentar Via incerto-hipotalâmica Parece regular a fase motivacional antecipada Antagonistas dos receptores de dopamina Bloqueiam a dopamina a fim de inibir a atividade da adenililciclase no sistema mesolímbico o Receptores de dopamina e seus efeitos D1 Aumenta AMPc Gs Putâmen, núcleo accumbens e no tubérculo e córtex olfatório D2 Diminui AMPc Gi Neuronios pré e pós sinápticos, no caudado-putâmen, núcleo accumbens e no tubérc. olfat. D3 Diminui AMPc Gi Córtex frontal, bulbo e mesenc. D4 Diminui AMPc Gi Córtex D5 Aumenta AMPc Gs Hipocampo e hipotálamo Agentes antipsicóticos tipicos: bloqueiam D2 de modo esteroseletivo Devem bloquear pelo menos 60% dos receptores D2 estriatais o Isso não é necessário no caso de fármacos antipsicóticos atípicos, como a clozapina e a olanzapina que são efetivos em doses mais baixas de ocupação, provavelmente devido à elevada ocupação concomitante de receptores 5-HT2A ARIPRAZOL Ocupação muito alta de receptores D2 (atua como agonista parcial) ARIPIPRAZOL Antagonista parcial de 5-HT2A Esquizofrenia: sistema 5-HT > D2 o Diferenças entre os fármacos Maioria dos agentes típicos e atípicos inibem tanto receptores 5-HT2a quanto D2 ARIPIPRAZOL: agonista parcial de D2 Alguns fármacos também antagonizam receptores alfa-adrenérgicos o Efeitos psicológicos EEP leves e graves, acatisia, sonolência, inquietação etc QUETIAPINA: usada para induzir o sono (em baixas doses) Indivíduos sem doença psiquiátrica + antipsicóticos = prejuízo de desempenho Indivíduos com doença psiquiátrica + antipsicóticos = melhora no desempenho o Efeitos endócrinos Antipsicóticos mais antigos: elevação da prolactina Antipsicóticos mais recentes: pouco efeito nos níveis de prolactina e riscos reduzidos de disfunção do sistema extrapiramidal e discinesia tardia = antagonismo D2 diminuído o Efeitos cardiovasculares Fenotiazinas de baixa potência: hipotensão ortostática e taquicardia + diminuição da pressão arterial média, resistência periférica e volume sistólico Tioridazina: prolongamento do intervalo QT e alterações dos segmentos ST e das ondas T (cuidado: arritmias perigosas) As alterações anteriores são revertidas com a suspensão do fármaco FARMACOLOGIA CLÍNICA DOS AGENTES ANTIPSICÓTICOS Indicações Psiquiátricas o Esquizofrenia: principal indicação o Formas catatônicas da esquizofrenia: melhor tratadas com benzodiazepínicos por via IV Pacientes apresentam pouca resposta o Transtornos esquizoafetivos (transtorno bipolar?) o Mania: monoterapia com antipsicóticos atípicos Melhora: suspensão do fármaco o Antipsicóticos não estão indicados para tratamento de várias síndromes de abstinência, como opioides Indicações não psiquiátricas o Os fármacosantipsicoticos típicos mais antigos apresentam acentuado efeito antiemético Bloqueio de receptores de dopamina centrais (zona de gatilho) e periféricos (estomago) Exceção: tioridazina o Fenotiazinas de cadeias laterais mais curtas têm considerável ação de bloqueio dos receptores H1 Usadas para alívio do prurido e, no caso da prometazina, sedativos pré-operatórios Escolha do fármaco o Fármacos antipsicóticos típicos e atípicos apresentam igual eficácia no tratamento de cerca de 70% dos pacientes o Fármacos atípicos: menos efeitos colaterais, porém pode haver ganho de peso, aumento de lipídeos e desenvolvimento de diabetes (olanzapina e clozapina) o Ziprasidona: produz menor ganho de peso o Clozapina e olanzapina: fármacos de segunda linha Produzem muito aumento de peso e aumento de lipídeos o Clozapina: indicada para a redução do risco de suicídio o Fármacos antipsicóticos recentes são mais efetivos que os antigos no tratamento de sintomas negativos Clozapina, risperidona e olanzapina > haloperidol Combinação de fármacos o Antidepressivos tricíclicos ou os ISRSs são usados com agentes antipsicóticos o Terapia eletroconvulsiva: aumenta efeito da clozapina o Risperidona + clozapina: não é benéfica Reações colaterais o Efeitos comportamentais Atenuados com a administração de pequenas doses durante o dia Pseudodepressões o Efeitos neurológicos Início do tratamento: síndrome de Parkinson típica, acatisia e reações distônicas agudas Parkinsonismo, nesse caso, pode ser tratado com os fármacos anti-parkinsonianos convencionais (exceto levodopa) Discinesia tardia: causada por uma deficiência colinérgica relativa, secundária à supersensiilidade de receptores de dopamina no caudado-putâmen Tratamento: antipsicótico típido, risperidona paliperidona o Eefeitos sobre o SNA Clorpromazina e mesoridazina: hipotensão ortostática e comprometimento da ejaculação Tratamento: troca de fármacos o Efeitos metabólicos e endócrinos Ganho de peso é comum (clozapina e olanzapina) Pode haver desenvolvimento de hiperglicemia (resistência à insulina) Tratamento: monitorização do peso e dos alimentos ingeridos Hiperprolactinema Mulheres: amenorreia-galactorreica e infertilidade Homens: perda de libido, impotência e infertilidade Osteoporose, principalmente em mulheres o Reações tóxicas ou alérgicas Raramente ocorrem agranulocitose, icterícia colestatica e erupções cutâneas Complicações oculares o Clopormazina: depósitos na córnea e cristalino | acentua o envelhecimento do cristalino Toxicidade cardíaca o Tioridazina em altas doses: anormalidades menores das ondas T (facilmente reversíveis) o Clozapina: miocardite Uso durante a gravbidez; dismorgênese o Aumento no risco teratogênico o Decisão de uso: varia de caso a caso Síndrome neuroléptica maligna o Acentuada rigidez muscular Superdosagens com agentes antipsicoticos são raramente fatais (exceção: mesoridazina e tioridazina) Matheus Leara Medicina UFPI 86
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