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INTEGRAÇÃO MUSEU-ESCOLA Um exemplo na Amazônia Propostas de reflexão e práticas de ensino para professores que atuam com as várias linguagens da arte na escola INCLUSÃO Estudantes com deficiência no museu AUDIOVISUAL Olhar crítico e desafio expressivo ARTES VISUAIS Leitura de imagens e apropriações DANÇA Sociabilização e diversidade TEATRO Mediações com o contemporâneo MÚSICA Currículo, diálogo e formação ARTE POPULAR Aproximar o Brasil da sala de aula CADERNO 0 5 25 75 95 100 anuncio_FVW quinta-feira, 23 de outubro de 2014 11:37:51 0 5 25 75 95 100 anuncio_FVW quinta-feira, 23 de outubro de 2014 11:37:51 Sumário 5 Editorial Por Eduardo de Azevedo Barros 6 Apresentação Por Rosa Iavelberg 8 Introdução ARTE É EDUCAÇÃO. A criança como fruidora e produtora de obras de arte Por Cesare de Florio La Rocca 14 Brasileiríssima ARTE POPULAR BRASILEIRA NA SALA DE AULA. A arte popular vista de um ângulo mais signifi cativo. Por Ana Carina Marques 22 Imagem em movimento ARTES AUDIOVISUAIS E EDUCAÇÃO. A produção audiovisual desafi a os alunos. Por Laura Maria Coutinho 30 Videoarte LEITURA DA IMAGEM NA SALA DE AULA. Um meio de problematizar os efeitos de sentido gerados por linguagens visuais e sonoras. Por Analice Dutra Pillar 40 Investigações APROPRIAÇÃO DE IMAGENS EM SALA PELO PROFESSOR. A abordagem semiótica e a signifi cação da obra. Por Moema Martins Rebouças 50 Jogos de cena TEATRO NA ESCOLA: CENA CONTEMPORÂNEA. O professor e seu papel de mediador entre a arte contemporânea e os alunos. Por Dirce Helena Benevides de Carvalho 60 Expressão corporal DANÇA E A QUESTÃO DO CORPO NA ESCOLA. A contribuição docente durante a transformação da infância em adolescência. Por Ana Maria Rodriguez Costas e Annamaria Noêmia Xavier 70 Dança contemporânea PLURALIDADE CULTURAL E A DANÇA NA ESCOLA. O ensino diante das produções culturais contemporâneas. Por Karenine de Oliveira Porpino 78 Educação musical MÚSICA NA ESCOLA: OS SABERES DO PROFESSOR. O equilíbrio entre propostas docentes e o que surge dos alunos como propulsor de novos saberes. Por Marili Macruz e Pedro Paulo Salles 88 Métodos musicais EDUCAÇÃO MUSICAL, CULTURA E CURRÍCULO. Os objetivos, conteúdos e metodologias para a formação escolar na área. Por Luís Ricardo Silva Queiroz 96 Arte e inclusão ACESSIBILIDADE CULTURAL: A INCLUSÃO DE PÚBLICOS ESCOLARES COM DEFICIÊNCIAS. A inclusão contribui para ampliar instrumentos e métodos de aprendizagem. Por Amanda Pinto da Fonseca Tojal 104 Interação museu-escola EDUCAÇÃO PARA ARTE NA AMAZÔNIA. O Arte Pará fi gura entre os projetos mais sólidos e contínuos no cenário nacional integrando saberes e instituições de ensino. Por Vânia Leal Machado Presidente: Edimilson Cardial Diretoria: Carolina Martinez Marcio Cardial Miriam Cordeiro Rita Martinez Rubem Barros CADERNO ARTE + EDUCAÇÂO Diretor editorial: Rubem Barros Consultoria editorial e coordenação: Rosa Iavelberg Edição: Camila Ploennes Copidesque: Eugênio Vinci de Moraes Projeto gráfi co: Casa Paulistana Diagramação: Cleiton Sá Pesquisa iconográfi ca: Ana Teixeira Capa: Casa Paulistana Colaboradores: Amanda Pinto da Fonseca Tojal, Ana Carina Marques, Analice Dutra Pillar, Ana Maria Rodriguez Costas, Annamaria Noêmia Xavier, Cesare de Florio La Rocca, Dirce Helena Benevides de Carvalho, Karenine de Oliveira Porpino, Laura Maria Coutinho, Luís Ricardo Silva Queiroz, Marili Macruz, Moema Martins Rebouças, Pedro Paulo Salles, Vânia Leal Machado (texto); Luiz Roberto Malta e Maria Stella Vali (revisão) Imagem de capa: Getty Images Processamento de imagem: Paulo Cesar Salgado Produção Gráfi ca: Sidney Luiz dos Santos PCP: Isabela Elias PUBLICIDADE Gerente: Daisy Fernandes MARKETING Diretora: Carolina Martinez EVENTOS Coordenadora: Priscilla Rodrigues OPERAÇÕES Diretora: Miriam Cordeiro Gerente de Assinaturas: Beatriz Zagoto Eventos Assinaturas: Lúcia Sousa Caderno Arte + educação é uma publicação da Fundação Volkswagen em parceria com a Editora Segmento. Esta publicação não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. EDITORA SEGMENTO Rua Cunha Gago, 412 – 1o andar CEP: 05421-001 – São Paulo (SP) CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR De 2a a 6a feira, das 8h30 às 18h Tel.: (11) 3039-5666 / Fax: (11) 3039-5643 e-mail: atendimento@editorasegmento.com.br acesse: www.editorasegmento.com.br CONSELHO CURADOR Presidente: Holger Rust Vice-Presidente: Carsten Isensee Conselheiros: Décio Carbonari de Almeida, André Senador, Antonio Roberto Cortes, Michael Lehmann, Antonio Megale e Bernd Schmidt-Liermann CONSELHO FISCAL Presidente: Osmar Carfi Conselheiros: Luis Fabiano Alves Penteado e Claudio Herbert Naumann DIRETORIA Superintendente: Eduardo de Azevedo Barros Diretora de Administração e Relações Institucionais: Keli Smaniotti Diretor de Finanças: Mauro Lucchini Diretor de Investimentos: Luiz Paulo Brasizza PROJETO Aprendendo com Arte: Claudia Frederico, Carlos Augusto Bohone, Liliane Petris e Mario Off enburger © R ep ro du çã o FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 4 • 5Editorial Aprender com arte Caros Educadores, É com imensa alegria e satisfação que apresentamos o Caderno Arte + Educação, elaborado a partir de uma parceria entre a Fundação Volkswagen e a Editora Segmento. Este material foi produzido por especialistas na interação entre arte e educação, a fim de reunir uma ampla abordagem das temáticas que devem ser trabalhadas em sala de aula, como parte do material de formação do projeto Aprendendo com Arte, da Fundação Volkswagen. Tal projeto oferece formação continuada a educadores das redes públi- cas de ensino que trabalham com Arte, nos anos finais do ensino fundamen- tal, e que acreditam na Educação como chave para transformar o mundo. Em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o projeto Aprendendo com Arte é orientado pela proposta triangular, que asso- cia o fazer, a leitura e sua contextualização. Tem como objetivo proporcio- nar aos professores de Arte e aos alunos de escolas públicas a ampliação da aprendizagem e a oportunidade de aprofundarem seus conhecimentos em Arte como instrumentos de inserção social. Estamos sempre inovando e buscando novas formas de educar. Desde 1979, a Fundação Volkswagen investe em projetos de educação e desenvolvimento social, promovendo e realizando ações que contribuam para a melhoria da qualidade da educação pública em nosso país e que fomentem o desenvolvimento so- cial de comunidades de baixa renda. Suas atividades são realizadas em parceria com os setores públicos, privados e a sociedade civil organizada (organizações não governamentais – ONGs) para, conjuntamente, implementar projetos que influenciem políticas públicas e que sejam sustentáveis a longo prazo. O projeto Aprendendo com Arte acontece da mesma forma, em parceria com o Instituto Arte na Escola e com as secretarias municipais ou estaduais de Educação e Cultura das localidades onde é realizado. Por meio de um acordo de cooperação técnica com estados e municípios, a Fundação Volkswagen oferece formação presencial e a distância durante um ano. Nesse período, os educadores aprendem a fazer um mapeamento de lugares e equipamentos culturais disponíveis, resultando na produção do material regio- nal para ser usado no seu processo de formação e na construção de seus próprios percursos e trajetórias. Contudo, queremos ir mais longe e atender mais. Por isso, outra modalidade do projeto é a formação totalmente a distância, voltada aosprofessores de Arte interessados em participar, mas que não lecionam nas cidades onde o projeto acontece. A participação e a inscrição são feitas pela Plataforma do Letramento (www. plataformadoletramento.org.br) com material exclusivo e moderação com profissionais especializados. Como premissa e compromisso com a produção do conhecimento oriunda do investimento social pri- vado como bem público, disponibilizamos todos os materiais de formação desse e dos demais projetos educacionais da Fundação Volkswagen para acesso livre e gratuito. É importante destacar que este Caderno Arte + Educação também está disponível on-line para leitura e download na Plataforma do Letramento. Acessem, leiam, usem e compartilhem. Acreditamos e investimos nos educadores porque trabalham para garantir um direito que a todos per- tence: o de aprender. Boa leitura! Dr. Eduardo de Azevedo Barros Superintendente da Fundação Volkswagen e diretor de Assuntos Jurídicos da Volkswagen do Brasil © R ep ro du çã o Apresentação por Rosa Iavelberg Prezado leitor, Esta revista é um convite à leitura de artigos escritos por profissionais habilitados e atuantes na área de arte na educação, radicados em diferentes regiões do Brasil. Com a publicação buscamos aperfeiçoar a qualidade do ensino da área nas escolas brasileiras e expandir o acesso à arte em sua diversidade de culturas, requisito impres- cindível à equidade social. Apoiados em experiências e reflexões, na legislação e nos documentos oficiais, reunimos textos sobre as di- ferentes linguagens da arte contempladas nas Diretrizes Curriculares Nacionais e nos Parâmetros Curriculares Nacionais, com o propósito de orientar práticas com fun- damentos para professores, gestores e demais agentes da educação escolar do 6o ao 9o ano do ensino fundamental. A arte é essencial na formação dos alunos, pois pode aliar o conhecimento estético à postura ética, pela própria natureza intrínseca aos objetos artísticos, quando feitos com liberdade, sensibilidade e consciência crítica. Além disso, Arte é uma área de conhecimento cujos produtos, quando socializados junto à comunidade, a aproximam da escola, por tratar de temas culturais consti- tutivos da formação de seus membros ou pelo fato de am- pliar seu repertório cultural, criando espaços de abertura à participação, na escola, dos familiares, agentes sociais e moradores do entorno. Desse modo, Arte na educação escolar é um caminho aberto à participação cultural e so- cial dos alunos e daqueles que usufruem das experiências artísticas promovidas pelas escolas, ao passo que convida a comunidade ao diálogo com as questões universais tan- gidas pela arte e com os símbolos artísticos como forma de pertencimento a cada região. É por termos consciência do papel único e funda- mental da arte na educação que apresentamos aos leito- res artigos que articulam teoria e prática. Eles discorrem sobre o trabalho de atendimento a públicos escolares com deficiências em museus; propostas de arte audiovi- sual nas escolas; procedimentos de leitura de imagens da arte por professores na sala de aula e educadores de mu- seu; aprendizagem escolar da arte popular brasileira, da música, do teatro e da dança. Seus autores conhecem a realidade da arte no currículo, seja por terem experiência na interação com escolas em instituições culturais, seja por trabalharem em pesquisas orientadas à educação es- colar na área, ou ainda por atuarem ou já terem atuado diretamente em sala de aula. Cada texto foi concebido como alimento para as re- flexões e práticas dos professores, com foco na expansão do repertório didático e do conhecimento de diferentes modalidades de transposição didática em arte. Na intro- dução Arte é Educação, Cesare de Florio La Rocca expli- cita o valor inestimável da área na formação dos apren- dizes para que alcancem níveis elevados e dignos no seu existir, reconhecidos como direito pela sociedade. Em Acessibilidade cultural: inclusão de públicos escolares com deficiências em museus de arte, Amanda Pinto da Fon- seca Tojal ressalta que não basta à escola apenas abrir-se para a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais nos âmbitos social, cultural, de infraestrutura física ou de aprendizagem. Segundo a autora, além dessa abertura, uma educação inclusiva de qualidade requer a adaptação de conteúdos da área de arte, realização de pes- quisas e produção de recursos de apoio multissensoriais e tecnologias específicas para a participação dos alunos. Instalação do artista italiano Maurizio Cattelan. A arte é essencial na formação dos estudantes, porque alia o conhecimento estético à postura ética © M au riz io C at te la n, S em tí tu lo , 1 99 7. R ep ro du çã o FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 6 • 7 Ana Carina Marques, em Arte Popular Brasileira na Sala de Aula, discorre sobre a importância da inserção da arte popular brasileira no currículo escolar, com base em uma visão de História da Arte que inclui as modalidades de produção artística que seguem cânones próprios liga- dos aos saberes populares. Nessa perspectiva multicultural, Karenine de Oli- veira Porpino, em Pluralidade cultural e a dança na escola, situa a dança no contemporâneo como possibilidade de trânsito e troca de repertório. Para a autora, a dança na escola segue o mesmo caminho da dança contemporâ- nea: engloba muitas influências estéticas que permitem ao aluno criar, relacionar-se com o mundo e participar de uma experiência com sentido. Já no artigo Dança e a questão do corpo na escola, Ana Maria Rodrigues Cos- tas e Annamaria Noêmia Xavier valorizam a atitude de observação do corpo e do movimento dos alunos com o propósito de lhes oferecer repertório de ações corporais, formas de movimento, interações, jogos e danças, partin- do do que os estudantes dominam de antemão. Em Teatro na escola: cena contemporânea, Dirce Hele- na Benevides de Carvalho explicita fundamentos do tea- tro contemporâneo, no qual os elementos cênicos (como texto, personagens e cenário) interagem sem hierarquia, compondo o discurso da obra. Ao apresentar os conceitos, ela propõe jogos teatrais para o trabalho em sala. No contexto da arte contemporânea, Analice Dutra Pillar analisa imagens e produções audiovisuais em Lei- tura da Imagem na Sala de Aula. E com o foco em habili- tar o professor na compreensão do processo de expressão com imagens em movimento, Laura Maria Coutinho es- creve o texto Artes visuais na produção dos alunos na sala de aula. Para a autora, apesar de as escolas costumarem ter pouco domínio sobre essa linguagem, é fundamental tanto a apropriação como o uso consciente e inteligente das tecnologias da comunicação contemporânea pelos es- tudantes. Já Moema Martins Rebouças, ao escrever Apro- priação de imagens em sala pelo professor, dá pistas para que o docente possa propor a seus alunos investigações com imagens a partir de outras já selecionadas. Sob o ponto de vista de que a música deve ser en- sinada e aprendida na escola por ser uma linguagem componente do patrimônio cultural da humanidade, Luís Ricardo Silva Queiroz, no artigo Educação musical, cultura e currículo, lista ações que podem ser desenvolvi- das pelos professores em sala. Entre elas, práticas cole- tivas e individuais via apreciação, interpretação e cria- ção; experimentação de repertórios musicais variados, incluindo o da cidade, do estado, da região e do país, e expressões musicais de diferentes culturas. Já Marili Macruz e Pedro Paulo Salles escrevem a quatro mãos o texto Música na escola: os saberes do professor, no qual desenvolvem a ideia de conexão entre repertórios mu- sicais e práticas na linguagem, considerando a escuta, a pesquisa de sons, a notação musical, a construção de instrumentos,com destaque à apreciação musical na escola e fora dela, assim como a criação e a improvisa- ção na linguagem como parte da aprendizagem. Finaliza a edição o artigo Contexto sociocultural nas interações museu, instituição cultural e escola. Nele, a auto- ra Vânia Leal Machado reitera a importância do trabalho do educador que recebe, em espaços expositivos, públicos escolares e seus professores. Com base em suportes teó- ricos da didática contemporânea e tendo em vista que a arte nos faz pensar em constante estado de atenção, ela afirma que é preciso considerar o contexto educativo e social dos visitantes, promovendo interações singulares com as obras a cada encontro. Frente à riqueza de conteúdos dos textos da publica- ção, esperamos satisfazer as necessidades e os interesses dos profissionais que atuam nas escolas e instigá-los a advogar, como nós, a causa da arte no currículo escolar, ocupando o lugar de área de conhecimento muito impor- tante entre as demais. Rosa Iavelberg é doutora em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Atualmente é pro- fessora e pesquisadora da graduação e da pós-graduação do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da USP (Feusp). Introdução FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 8 • 9 A Arte, em todas as suas manifestações e lingua-gens, é a mais atraente, agradável e instigante maneira de transformar o ser humano. Sem um processo gradativo, contínuo e permanente de transfor- mação, o homem não atinge os níveis mais altos do seu existir. A Arte é uma construção artificial, não é uma força inata e sim uma busca incessante e inalcançável da perfeição. É como o desejo: quanto mais se realiza, mais se afasta. Por isso podemos afirmar, quase como um paradoxo, que se a Arte é prazer, realização, ela tam- bém é busca incessante do belo e do perfeito. É possível entender isso olhando para a experiência revolucionária de Michelangelo: diante da obra do Moisés ele grita: “por que não falas?”. E já na sua velhice, esculpindo sua tercei- ra Pietà depois da primeira do Vaticano e da segunda em Florença, essa, chamada de Pietà Rondanini, apresenta ao visitante em Milão toda a carga de tormento e de êxtase e, sobretudo, de busca incessante no bloco de mármore de uma forma que não conseguiu concretizar. A mesma vivência, com as devidas diferenças, aconte- ce na experiência artística da criança. Colocada em con- tato com o universo das linguagens artísticas, ela experi- menta e experiencia duas grandes explosões: a primeira capaz de torná-la fruidora da obra de arte e a segunda que a transforma em produtora de obra de arte. A criança, em contato com as linguagens artísticas, experimenta as possibilidades de ser fruidora e de se tornar produtora de obras de arte por Cesare de Florio La Rocca Escultura da artista americana Tip Toland. A arte não é a reprodução da realidade. Criação, imaginação e ousadia são os seus ingredientes fundamentais, qualquer que seja a linguagem utilizada Arte é educação © T ip To la nd , O ra çã o D iá ria , 2 01 0. R ep ro du çã o No processo de criação e de realização da obra de arte, a criança transforma e se transforma, cria e imagina até aquilo que não existe no mundo real. Se não entender- mos tudo isso, como poderemos entender, introjetar e fruir, por exemplo, da arte de Picasso? Como poderíamos entender, introjetar e fruir, por exemplo, da música do- decafônica? Ou das artes indígena ou africana? A Arte não é a reprodução da realidade. Caso contrá- rio, a mais perfeita obra de arte seria a fotografia. Por isso, criação, imaginação e ousadia são os seus ingredientes fun- damentais, qualquer que seja a linguagem utilizada. A Arte é uma necessidade básica do ser humano e a história da hu- manidade nos ensina quanto essa afirmação é verdadeira. Arteducação* sem receitas A Educação é o processo que estimula, facilita e realiza a transformação do ser humano. No processo educativo a criança não é “uma tábua rasa”. Ela é portadora de cul- tura, de conhecimentos, de percepções, e de sensações. A Educação é, portanto, um processo de trans- formação do ser humano. O conhecimento também é uma construção artificial e se realiza ao longo de toda a vida, se constitui na atividade mais caracteristicamente hu- mana, no processo educativo. A relação dia- lógica entre educador e educando é a mais importante e fundamental: Educação não é monólogo de quem sabe mais, é diálogo per- manente e contínuo entre duas pessoas das quais uma já construiu seu conhecimento e a outra está em franco processo de constru- ção. O diálogo gera confiança e o educando adquire a capacidade de elaborar conceitos, ideias e conhecimentos. Quando a Educação acontece nesse pata- mar e com esses instrumentos, então o fato educativo gera também prazer no educando. Essa sensação de prazer vem da descoberta de que o desconhecido pode se tornar conheci- do; o oculto pode se tornar visível; o incom- preensível torna-se transparente. Um processo educativo que não seja ca- paz de garantir prazer ao educando e ao edu- cador não se caracteriza como Educação e sim como depósito de noções. Minha trajetória arte-educativa me ensi- nou que a missão é delicadíssima e, portanto, o que é preciso fazer? Precisamos fazê-lo com arte. Fazer com arte é fazer bem feito, é superar expectati- vas, é superar o tédio, gerar excitação. Todas as portas da percepção têm de estar abertas: somente assim é possível captar a criança competente (il bambino competente), ou seja, aquela criança que possui de maneira plena seus sentidos, em outras palavras, o desejo de conhecimento e da vida. Qualquer lugar em que se faça arteducação é um lugar onde a mesa está posta e há sempre “pão e vinho sobre a mesa” para os “viandantes da vida”, como dizem os versos de Georg Trakl citados por Heidegger em A caminho da linguagem (1959). A imagem da mesa sempre rica de pão e vinho é aquela da arteducação, mesa ao redor da qual *A pedido do autor, a expressão “arte-educação”, neste artigo, é gra- fada “arteducação”, sem o hífen. Para ele, Arte é a própria Educação e a aglutinação das palavras significa a superação do conceito instru- mental da Arte em relação à Educação. Acreditamos numa criança que demonstra sua vontade de crescer, movida e animada pela riqueza da “curiosidade” © R ep ro du çã o Introdução FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 10 • 11 se conversa, cria-se o conhecimento e aprendizagem, no compartilhar de sentimentos. A energia, indispensável a esse processo, por sua natureza é volátil. Muito mais que o líquido, o fluido se recusa à solidez das coisas que se desmancham no ar. Por isso arte! Arteducação, portanto, é sentimento, mas é também imaginação, estética pura, sensações e sentidos. Isto é Educação. Isto é Arteducação. A criança competente Relembrando educadores, artistas, processos, ideias, ações e sobretudo as crianças que fazem arteducação, um conceito se apresenta como recorrente – o conceito elabo- rado pelos educadores das escolas municipais infantis de Reggio Emilia, na Itália, definidas como “as mais belas esco- las do mundo”. O conceito da “criança competente”. Muitas são as representações e as imagens que se têm da criança. Pode-se pensá-la segundo a psicanálise filtrada pela academia norte-americana ou a partir das várias tendências da sociologia ou da psicologia. São teorias muito diferentes entre si, mas a maioria com um ponto em comum: a iden- tificação determinística da criança como um sujeito frágil, muito mais portador de necessidades do que de direitos. É indispensável ter a ideia de uma criança forte, rica e poderosa desde seu nascimento. Nesse sentido, assumimos decididamente os valores, as significaçõese as abordagens do Construtivismo e do Socioconstrutivismo. Acreditamos numa criança que demonstra sua vontade de crescer, movida e animada pela riqueza da “curiosidade” que leva permanen- temente a buscar os porquês de todas as coisas. Uma criança que possui de maneira plena seus sentidos, ou seja, o desejo do conhecimento, o desejo da vida. Uma criança competen- te! Competente na construção de si própria, por se construir enquanto constrói o mundo e pelo mundo é construída. Reconhecer a criança como portadora de direitos não tem como consequência apenas o reconhecimento dos di- reitos de cada criança, mas sobretudo a criação de um es- tado de acolhimento no contexto mais complexo em que ela vive e continuará vivendo. A consequência dessa teoria é, de um lado, a capacidade de acolher a subjetividade, a unicidade e a originalidade de cada criança e, do outro, a necessidade de abrir novos espaços onde cada criança possa ser construtora de novos direitos. Uma teoria que nos permite fazer uma afirmação que não é apenas peda- gógica, mas também política e cultural: a importância de respeitar a subjetividade de quem aprende. Assim, a aprendizagem não se dá através da transmis- são ou da pura reprodução, mas se apresenta como um processo de construção dos porquês, dos significados, do sentido dos outros e das coisas, dos acontecimentos, da realidade. Em síntese, da vida. Malaguzzi dizia com grande brilhantismo: “Nunca en- sinar à criança aquilo que ela pode aprender sozinha”. A grande verdade é que não se vive sem teorias e, portanto, essas são as teorias de que a ação político-pedagógica está impregnada. É aquilo que deve ser. No processo de arteducação é fácil perceber a presença dessas teorias: cada criação, cada produção, cada manifes- tação da imaginação constituem a indiscutível explosão da competência. Arteducação é o locus intelectual, pedagógi- co, político e artístico onde a competência infantil e juvenil se manifesta quase com arrogância e prepotência. Na ma- nifestação artística, a criança ao mesmo tempo aprende e ensina, assimila e comunica. Um processo educativo que não seja capaz de garantir prazer ao educando e ao educador não se caracteriza como Educação e sim como depósito de noções A arte não é um instrumento para educar, a Arte é a própria Educação © A na Te ix ei ra . R ep ro du çã o Superar a visão instrumental da arte no processo edu- cativo não é por um simples desejo de “originalidade”, e sim porque no dia a dia são cada vez mais claros o concei- to e a práxis de que arte é Educação. Um adolescente famoso por assaltar ônibus no subúr- bio hoje toca com encantamento e visível prazer o saxofone ou o teclado do conjunto de câmara do Axé; a menina caída nas redes de exploradores hoje se arrisca a dançar o mais emocionante pas-de-deux; o jovem que toca a percussão pesquisa, atento, os sons que extrai de seu instrumento; a moça que cria modelos encantados e encantadores se ex- pressa na aproximação e na fusão de formas e cores. Todo menino que sob o signo da arteducação tece a tela de sua própria existência no tear da vida, com fios desfiados de sua razão e de sua emoção, revela que a ética e a estética, a arte e a educação são filhas legítimas de um único e fan- tástico princípio que todos os grandes artistas de todos os tempos vivenciaram e nele acreditaram: toda pessoa huma- na é artista e somente a beleza salvará o mundo. Paulo Freire inspirou a metodologia do Projeto Axé. A Pedagogia do Desejo elaborada no interior do Axé é uma fi- losofia de autossustentação e não de filantropia, envolve o constante cultivo da ética através da estética, para devolver a dignidade a essas crianças e instrumentalizá-las com as fer- ramentas necessárias para realizar mudanças positivas em suas vidas. Ao invés de pressupor suas necessidades, coloca- -se em evidência e focaliza-se o que as crianças já conhecem e gostam: música, dança, criação de moda, artes visuais. Nessa área é indispensável sermos orientados pela crença de que o fazer Arte é uma atividade essencialmen- te espiritual, através da qual o ser humano tem a possibi- lidade concreta de analisar as experiências, a qualidade e o significado da própria vida. Certa vez o escritor Italo Calvino disse que, ao ver pes- soas que sofrem, sua vida passa a ser povoada por todas es- sas pessoas. As crianças com as quais trabalhamos estarão conosco para todo o sempre. Todos os dias vemos a face da dor, como ela age e como dói. Sob o signo da arteducação. Anarquistas da imaginação É claro que, escrevendo este texto, a referência cons- tante é o Projeto Axé. Tendo a arteducação como eixo de suas ações, o Axé vem gradativamente refinando e consoli- dando sua proposta e práxis pedagógica, sempre tomando em consideração e respeitando as características pessoais e socioculturais de seus educandos. Para tanto, desenvolve- -se na instituição um processo permanente de reflexão, de observação da realidade e de formação contínua de seus educadores sob o signo da Pedagogia do Desejo, buscando dessa forma participar da discussão da educação no país, contribuindo com ideias e experiências para esse debate. A Arte e a Educação são dois campos específicos que podem ou não ser conciliáveis, dependendo da ótica que os articulem. No Axé, alguns desses pontos de articula- ção, que aprendemos na prática cotidiana pedagógica, são a autonomia e a transgressão, características estas dos educandos com quem trabalhamos. Nos vários conceitos de Arte, uma característica está sempre presente: sua in- dependência e sua proximidade com a transgressão, ou seja, com o rompimento de padrões e paradigmas. No Projeto Axé, uma característica está sempre presente: sua independência e sua proximidade com a transgressão, ou seja, com o rompimento de padrões e paradigmas © M ila P et ril lo . R ep ro du çã o Introdução FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 12 • 13 Nos vários modos de fazer educação, dois são signifi- cativos: o primeiro é uma educação formal e cartesiana, voltada para a reprodução automática do status quo na perspectiva perversa de um controle social de longo pra- zo. O outro é a educação libertadora (Paulo Freire), que incorpora a transgressão como a alma que permite ao jovem o questionamento, a criatividade, a imaginação e, nesse processo, a transformação do mundo. Nas crianças socialmente excluídas, transgressoras por sua própria natureza, em sua qualidade de seres em formação, é reconhecida uma tríplice subjetividade. Elas são sujeitos de direitos, sujeitos de conhecimentos, sujei- tos de desejos. É nessa intersecção das dimensões política, pedagógica e artística que o Axé identifica a Arte com a Educação e sua prática como Educação em si. A perspectiva que deveria ser da escola pública em ge- ral é realizar uma Educação libertadora, como queria Pau- lo Freire, aproveitando e valorizando o imenso potencial de meninas e meninos, autênticos sobreviventes da socie- dade brasileira, que lutam bravamente pela vida. A ideia fundamental é “respeitar” a autonomia con- quistada a duras penas pelos educandos nas suas curtas, mas densas e quase sempre trágicas histórias de vida. É preciso considerar e respeitar no processo educativo o co- nhecimento prévio dos educandos. Em lugar da opção de domesticá-los e torná-los dependentes, impõe como op- ção de educação reconhecer a vida vivida como a grande experiência do educando, ao invés de negá-la ou negligen- ciá-la, o que levaria a ignorar suas dores, suas perdas, suas derrotas, mas também seu inconformismo, tenacidade, capacidade de indignação, superação de dificuldade, bus- ca de caminhos, incluindo-se aí a transgressão. Certamen- te eles e elas saem em busca de vida e não da morte. Essa fantástica energia vital queMaffesoli chama “vitalismo”, essa invencível vontade de viver, é tratada no Axé como valiosíssima matéria-prima em sua ação pedagógica. É impossível introjetar, executar e repassar para as crianças o conceito e a prática da arteducação na escola pública se o educador não tiver competência suficiente para juntar harmoniosamente a matemática com a mú- sica, a geometria com as artes visuais, a educação física com a dança e assim por diante. “É uma utopia!”, dirão alguns. E eu acrescento: para os gregos a Utopia não é algo de impossível. É algo que ainda não existe, mas que pode vir a existir. Em Arteducação, vida cotidiana e Projeto Axé (2008), Gey Espinheira diz que a “problematização até agora feita permite a percepção de que a ‘oferta’ que deve ser feita àqueles que nada têm ou para quem não tem nada a perder; ou noutros termos, a ‘dívida’ que a socieda- de tem com esses adolescentes e crianças é de grande significado e, por isso, requer uma ação de excelência, de extrema dedicação. E isso significa que devem ser acionados os bens materiais e simbólicos mais valio- sos, no processo de associação da ética à estética, na construção do homem estético, no quadro de formação de um novo referencial para a subjetividade humana. Essa sociedade em construção precisa ser a sociedade do presente no caso de meninos e meninas em situação de risco, de rua/na rua fora de casa e da escola. A trans- posição de uma situação de ‘por conta própria’ para a de ‘orientado’ é uma necessidade social fundamental, mas que requer elevada competência. É a construção dessa competência que nos interessa no momento”. Marle Macedo, na mesma obra, afirma que “na Educa- ção a Arte emerge como catalisadora do desenvolvimento dos educandos, colocando-lhes desafios a superar, esti- mulando seu potencial criativo e interpretativo, impon- do-lhes uma disciplina à qual se submetem por prazer/ opção, uma vez que fazer Arte é uma escolha. E essa es- colha é livre”. Após anos de observação e reflexão sobre os processos que a arte deflagra nos educandos, supera-se o conceito instrumental da arte na educação: a arte não é um instrumento para educar, a Arte é a própria Educação. Walter Benjamin dizia “a arte é educadora enquanto arte, não enquanto arte-educadora”. A maior aprendizagem para os meninos que fazem arte é o fato de experimentarem que a miséria não é um destino inevitável e sim uma construção social, que, como a intolerância, pode ser desfeita e que esse é o ca- minho para desfazê-la. As considerações acima refletem algumas das ques- tões que inspiram e provocam todos aqueles que fazem arteducação. A anarquia, do ponto de vista político, dis- pensa chefias, autoridades, comandos. É o total triunfo da responsabilidade, da autonomia e da liberdade. Para fazer arteducação é preciso ser sempre anarquis- tas da imaginação. Cesare de Florio La Rocca é italiano de Florença, está há 47 anos no Brasil, idealizou e fundou o Projeto Axé, em Salvador, do qual é coordenador. Trabalhou na Unesco e foi um dos redatores do Esta- tuto da Criança e do Adolescente. Faz tudo isso sempre sob o signo da Infância e da Juventude que são o axé, ou seja, a energia mais preciosa de uma Nação. Brasileiríssima Em todos os cantos do Brasil, inúmeras possibilidades expressivas encontram-se o tempo todo ativadas. O talento de milhares de artistas anônimos é colocado em prática a cada dia. Portadores de história e herança cul- tural, esses artistas são, muitas vezes, ignorados pelas esco- las. A arte popular brasileira é a expressão criativa de ho- mens e mulheres com pouca ou nenhuma formação artís- tica formal, e ilumina aspectos da cultura brasileira através da estética da vida cotidiana. Ela fala diretamente da nossa diversidade, do patrimônio e da experiência compartilha- da, da criatividade individual, e dos valores da comunidade. Quando se fala do ensino da arte popular brasileira em um contexto escolar algumas questões se impõem. Na escola, abordagens limitadas e por vezes equivoca- das, sob o pretexto de valorizarem nossa identidade cul- tural, restringem a ideia de cultura popular ao estudo de mitologias e lendas, de festas e costumes, que podem, muitas vezes, parecer caricatos. Quando a arte e a cul- tura popular aparecem restritas a festas juninas, brinca- deiras e atividades descontextualizadas como as do Dia do Folclore, falamos de uma identidade distorcida que não possibilita o conhecimento sobre a origem, a neces- sidade, a função e mesmo o resgate dessa cultura. O ensino da arte no Brasil pouco tem contemplado as questões relativas à diversidade étnica e cultural bra- sileira, e as características dos diversos grupos culturais que a compõem ficam relegadas a segundo plano.Estu- dar a poética de determinados artistas populares, assim como se estuda Van Gogh e Monet, é uma maneira de lutar contra a hierarquização da arte, que a divide em cultura erudita e cultura popular. Os professores de arte apresentam, em geral, obras de diferentes artistas para seus alunos, mas privilegiam a arte erudita e seus códigos formais. Alguns livros didáticos Compreender a criação na arte popular, os caminhos que os artistas transitam para criar, possibilita ver essa produção de outro ângulo, mais próximo, mais verdadeiro, mais significativo por Ana Carina Marques Arte popular brasileira na sala de aula FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 14 • 15 Arte popular brasileira na sala de aula A arte popular brasileira fala diretamente da nossa diversidade, do patrimônio e da experiência compartilhada, da criatividade individual, e dos valores da comunidade © A na Te ix ei ra . R ep ro du çã o reforçam essa postura, mostrando determinadas obras como referência do que seja a verdadeira arte. A primeira necessidade do grupo de professores de arte na escola é estabelecer relações entre as concepções de arte popular e meios pelos quais ela possa ser mobili- zada para a criação em arte. As reflexões devem acontecer sob duas orientações: histórica e prática. A primeira pode tratar historicamente do conceito arte popular, buscan- do demonstrar quais são as referências teóricas que o têm delimitado; e a segunda, apresentando um projeto que ar- ticule a arte popular brasileira e proposições práticas que explorem as possibilidades criativas do tema. Arte popular, como abordá-la? O termo “arte popular” é controverso, e já foi utilizado em contextos muito variados. Esses contextos, segundo Martha Abreu em Cultura Popular, um conceito e várias histórias,“quase sempre [estão] envolvidos com juízos de valor, idealizações, homogeneizações e disputas teóricas e políticas”. Apesar dos diferentes sentidos que a expressão recebe, é importante delimitar esse conceito, sem perder de vista que essa concepção é apenas uma das maneiras de pensar e observar a sociedade e sua produção cultural. Em um sentido mais amplo, “arte popular” descreve artistas que criam obras fora das referências e dos câno- nes de uma determinada história da arte, uma vez que existem muitas formas de selecionar e organizar os obje- tos artísticos. Os indivíduos, participantes na formação da cultura popular brasileira, nas artes visuais, influen- ciaram gerações de artistas e estabeleceram tradições ar- tísticas vivas. Em geral autodidatas (ou formados entre os pares em uma educação de pai para filho), eles se en- caixam dentro de uma abrangente e mutável cultura, que influencia, é influenciada e reflete a cultura geral. Frequentemente apontam-se duas maneiras de com- preender a arte popular. Ou ela é observada no contexto em que está inserida ou é compreendida por suas qualida- des estéticas, poéticas e formais. Isso não colabora na cons- trução de um projeto significativo de ensino da arte popu- lar, jáque pode parecer que apenas uma forma está correta. Melhor, então, é utilizar as duas possibilidades den- tro da prática pedagógica, uma vez que podemos con- templar diferentes maneiras de abordar o tema, pensar nos objetivos, selecionar os artistas e procedimentos de criação. Durante todo o processo, é necessário manter as discussões com o grupo de alunos, para avaliar os resul- tados e adequar as ações posteriores. Agora passamos a relatar um trabalho que desenvolve- mos em uma escola particular, com grupos de 5º e 6º ano do ensino fundamental na cidade de São Paulo, cujos alunos não têm, em geral, contato e repertório de arte e cultura popular, um universo bem distante e desconhecido deles. Quando a aula pode ser uma festa Iniciamos uma sequência didática mostrando aos alunos uma gravura representando uma folia de reis de Pirenópolis, Goiás. Queríamos saber o quanto eles en- tendiam aquela imagem. Eles respondiam: “É uma fes- ta!”, “São pessoas tocando!”. Perguntamos que festa era aquela e se eles já tinham visto uma. O que chamou mais a atenção do grupo foi a pomba do Divino Espírito Santo e mostraram espanto: “É uma festa para a pomba da paz!”. Em seguida, o grupo viu fotografias da festa do Divino. As danças e as roupas chamaram-lhes a atenção. Entre as imagens, uma que representava a cavalhada foi muito men- cionada. Pediu-se a eles que pesquisassem para a próxima aula o que era a cavalhada e quais componentes a forma- vam. Na aula seguinte os alunos trouxeram muitas histó- rias acerca da cavalhada. O que despertou mais interesse foram os mascarados (“curucucus”) e suas indumentárias. Deste interesse das crianças partiu-se para a atividade de criação. Propôs-se a elas que pensassem que tipo de curu- Em um sentido mais amplo, “arte popular” descreve artistas que criam obras fora das referências e dos cânones de uma determinada história da arte © A na Te ix ei ra . R ep ro du çã o Brasileiríssima FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 16 • 17 cucu fariam, qual deles representariam em uma máscara e, então, começou a fase da construção das máscaras. A produção da máscara foi extremamente desafiadora, já que, tecnicamente, era uma novidade para eles. Fizemos a base da máscara de papelagem (técnica onde se aplicam di- versas camadas de cola e papel, a fim de criar uma superfície rígida) e depois de pronta passamos a caracterizar os curucu- cus. Nesse momento eles tiveram de encontrar soluções para as ideias que tinham criado. Um menino que escolheu fazer um veado, por exemplo, teve de achar um recurso para fazer os chifres. Cada máscara requeria uma solução diferente e foi interessante perceber como nessa fase do processo eles se ajudavam mutuamente e sabiam que sempre podiam contar com nosso apoio e orientação técnica. Depois da confecção das máscaras voltamos às narrati- vas da cavalhada e dos seus personagens. Uma festa popu- lar apresenta diversos elementos plásticos e performáticos. Danças, roupas dos dançarinos e encenações fazem parte do mesmo contexto festivo, e era importante que os alunos investigassem a interação das festas populares com a produ- ção de alguns artistas. O estudo das festas foi a ponte para a próxima fase do projeto: conhecer virtualmente o maior acervo de arte popular brasileira e pesquisar suas obras. Curadorias virtuais Não é simples obter imagens e reproduções de arte po- pular. Diferentemente de outros segmentos da arte, com rico acervo de livros e catálogos, a arte popular fica restrita a poucos museus e a uma quantidade limitada de publica- ções. Por isso, a ideia de fazer uma visita virtual a um mu- seu com esse acervo nos pareceu uma excelente saída. O Museu Casa do Pontal, no Rio de Janeiro, possui o maior acervo de arte popular do Brasil. Segundo membros do International Council of Museums (ICOM), associado à Unesco, ele não é apenas um museu completo de arte popular brasileira, mas pode ser considerado como um verdadeiro museu antropológico, que permite uma visão abrangente da vida e da cultura do homem brasileiro. Os objetos da arte popular brasileira constituem um patrimônio que está continuamente ameaçado. Por suas próprias características de produção e de distribuição, as obras ficam vulneráveis e muitas já se perderam. O museu desempenha então, a despeito das qualidades formais e estéticas dessa arte, um papel importante na preservação da memória e da produção artística desse segmento. Jacques Van de Beuque, o idealizador e criador do mu- seu, divide a produção dos artistas populares em duas gran- des categorias: realista/figurativa ou imaginária/incomum. Cada máscara requeria uma solução diferente e foi interessante perceber como nessa fase do processo os alunos se ajudavam mutuamente © A na C ar in a M ar qu es . R ep ro du çã o A produção realista/figurativa está dividida em gru- pos temáticos: Cotidiano, Religião, Festas e Ciclo da Vida. Em Cotidiano, estão as cenas do dia a dia, que re- tratam quase sempre o artista e as pessoas que os cer- cam, rotinas e cotidiano social, com um vasto repertório de representações do seu meio. Religião é um tema pre- dominante na produção plástica, com seus santos, presé- pios e procissões. Além das obras de inspiração católica, há um vasto repertório de obras ligadas à umbanda, ao candomblé, a seus rituais e variantes. Em festas apare- cem com frequência temas como atividades de entrete- nimento social e comunitário. Intensamente presentes na vida brasileira, festas, danças e músicas populares são representados pelos artistas com figurinos e elementos característicos. Por fim, o Ciclo da Vida, composto pelos ciclos da existência – nascimento, a infância, a juventu- de, a maturidade e a morte –, e pelos ritos de passagem – batismo, comunhão, casamento, velórios e enterros. Já a produção imaginária/incomum centra-se em uma temática subjetiva ou irreal. Ainda segundo Jacques Van de Beuque essas representações surgem como um sinal da extrema vitalidade da criação estética do gênero arte po- pular, e o artista que se dedica a esse tipo de produção se destaca de seu meio, criando um universo singular, que, mesmo refletindo referências ancestrais, arquetípicas, religiosas ou mitológicas, traduzem um mundo psíquico pessoal, de intensa expressividade. Não é simples categorizar onde as poéticas de determi- nados artistas populares se encaixam. Essa divisão da pro- dução plástica em duas grandes categorias contribuiu para selecionar os artistas que seriam trabalhados e, dentre es- ses, quais obras seriam mais representativas de sua poética. O espaço virtual do museu, quando apresenta sua cole- ção, está dividido em artistas, temas e localidades. Quando escolhemos um determinado tema e clicamos nele, apre- sentam-se os artistas que trabalharam esse tema, e a qual localidade (comunidade criativa) ele pertence. Dessa ma- neira, organizam o acervo criando possibilidades de conhe- cimento e interação que favorecem o processo educativo. Com os alunos sentados em duplas, pedimos ini- cialmente que visitassem os temas e suas subcategorias e que fossem selecionando as obras que lhes pareciam mais interessantes. Eles tinham de discutir com o cole- ga de dupla a escolha de determinada obra e por que ela seria representativa de um tema específico. O conceito de curadoria foi trabalhado nesse momento, mostrando que o papel do curador é estabelecer relações, articular e integrar determinadas obras dentro de um vasto acervo, dando-lhe um novo sentido. No nosso projeto a curado- ria foi um exercício de compreensão e sensibilidade com relação às obras. Cada dupla selecionou imagens que acreditavam representativas de determinado aspecto da arte popular. Na apresentação para a classe tiveram dejustificar suas escolhas, o que resultou na invenção de novas “percepções” (ou seja, modos de ver). Nesta visita virtual ao acervo do museu os alunos per- ceberam qual era a ideia de coletividade criadora e como essa se insere no contexto da arte popular. Alto do Moura (Pernambuco), Vale do Jequitinhonha (Minas Gerais) e Jua- zeiro do Norte (CE) são exemplos de coletividades criado- ras, com estilos próprios e marcas comuns. Mestre Vitalino, por exemplo, é figura maior da co- letividade criadora do Alto do Moura (PE). Era um ex- traordinário ceramista, construindo figuras a partir do imaginário popular, mas além de grande criador foi um disseminador da escultura cerâmica no seu meio, pri- meiro através da família e, depois, dos outros artistas que se formaram na comunidade e foram continuadores da tradição por ele inaugurada. Alguns artistas, embora pertencentes a uma comuni- dade criadora, possuem uma produção não confinada a Obra do artista goiano Rodrigo Godá, cuja série “Máquinas delirantes” foi mostrada aos alunos, com resultados surpreendentes © R od rig o G od á, Te cn ic ol or , a cr íli ca so br e te la . R ep ro du çã o Brasileiríssima FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 18 • 19 ela. Essa autenticidade possibilita um percurso criativo que pode ser estudado nas aulas de arte, e foi o que fize- mos na segunda fase do projeto, conhecendo a produção, a linguagem e a poética de artistas específicos. Godá e as suas engenhocas Rodrigo Godá é um artista goiano cuja obra possui um rico repertório de símbolos e imaginação. Sobre ele o crítico de arte Oscar D’Ambrosio faz a seguinte análise: “O diferencial de Godá está na capacidade de articular o fato de ser autodidata com uma capacidade ímpar de olhar ao seu redor”. Sua série a Máquina do mundo foi a escolhida para trabalharmos com o grupo, pois já perce- bíamos algumas identificações dos trabalhos dos alunos com o do artista. No primeiro dia um longo tempo foi dedicado à apresentação da atividade. Trouxemos algumas ima- gens da sua série “Máquinas delirantes”, tais como “A máquina que produz floresta”, “A máquina de fazer nuvens coloridas” ou “A máquina que produz árvore”. Godá constrói engenhocas que ironizam as máquinas poluidoras da qual estamos rodeados. Em roda, conver- samos sobre cada engenhoca, sobre suas diferenças e os aspectos plásticos que as constituíam. Depois, como exercício, desenharam no papel e com canetas de dife- rentes formatos uma engenhoca. Os resultados foram surpreendentes: máquinas de criar bois (onde se colocavam bifes inteiros de um lado e saíam bois do outro), máquinas de voar, engenhocas capa- zes de molhar plantações com a água do mar. Esse foi um primeiro momento do trabalho. Como a obra de Godá que apresentamos era bidimen- sional, sugerimos que eles construíssem suas engenhocas tridimensionalmente. Na aula seguinte, trouxeram mate- riais que pensaram para construir a engenhoca. Na sala folhas de papel foram transformadas em formas com rele- Alguns desenhos de engenhocas feitos pelos alunos, inspirados pela obra de Rodrigo Godá © A na C ar in a M ar qu es . R ep ro du çã o vos a partir de cortes e dobras. Eles precisavam pensar em soluções para que essas construções ficassem em pé. Ou seja, depois de dar os cortes necessários, a dobra precisa ser bem marcada, podendo-se fazer isso com o auxílio da régua ou da tampa de uma caneta. Novamente as soluções foram as mais inventivas. Muitos queriam que as engenho- cas tivessem movimento, como as máquinas, e pensavam o objeto com esteiras, entradas e saídas, roldanas. A trans- posição de uma ideia bidimensional para o tridimensional criou possibilidades inventivas e de experimentação. Eles puderam perceber que as soluções podiam ser alcançadas a partir da manipulação da forma, do tratamento dado aos materiais assim como pela escolha desses. Manoel Santos e seus animais Manoel Santos nasceu em 1965, em Goiânia, onde vive atualmente. É um artista autodidata, mas teve acesso aos materiais de arte quando foi modelo vivo em uma facul- dade de artes plásticas, onde trabalhava como faxineiro. Em seu trabalho destacam-se como forma recorrente os animais, retratados com delicadeza. Uma fauna fantásti- ca, repleta de pássaros, tartarugas, jacarés, capivaras, pin- tada com detalhes, utilizando cores contrastantes em tin- ta a óleo. Sua temática está relacionada à degradação do meio ambiente e ao extermínio dos animais. Seus bichos estão sempre relacionados a ações humanas: usam reló- gio, trabalham e constroem coisas. Na sua obra percebe-se como a arte popular se modificou e incorporou elementos do meio urbano as suas criações. Nessa aula o grupo teve contato, primeiro, com as re- produções das pinturas de Manoel Santos. Queríamos que o grupo percebesse o que caracterizava a poética do artista e sua temática. Sua pintura tem muitos detalhes e logo eles ficaram interessados na sua liberdade imaginativa. O antropomorfismo é temática recorrente na arte popular e a proposta era que eles criassem um ser mágico, mistu- rando animais e ações humanas. Nesse momento ouvi no grupo uma das frases mais emblemáticas e representati- vas da apropriação da arte popular pelos alunos: um dos alunos perguntou se podia misturar um jacaré com uma borboleta fazendo rapel. A resposta veio prontamente de outro aluno – “Claro que pode, é arte popular!”. Criados os seres, cada um apresentou na roda a sua figura. Discu- timos se era possível perceber quais animais estavam mis- turados e o que eles faziam. Esses seres antropomórficos foram a base para uma pintura e também a chave para a compreensão do próximo artista. Miguel dos Santos e suas esculturas quase “surrealistas” Miguel dos Santos é um artista que transita entre a arte erudita e a arte popular, e despertou nosso interesse justamente por isso. Queríamos discutir as aproximações e rupturas entre os dois universos. Ficou claro para nós, professores, que as fronteiras entre o erudito e o popular estão cada vez mais tênues. Muitos artistas contemporâ- neos utilizam elementos da arte popular em sua lingua- gem, assim como a arte popular acaba por ser influencia- da por uma cultura ampla e dominante. Segundo Ariano Suassuna, o que distingue o trabalho de Miguel dos Santos é a ligação com o realismo mágico do romanceiro popular nordestino. A escultura de Miguel dos Santos é povoada de seres estranhos, metamorfoses de dragões e humanos, mitos e demônios. “Uma obra tão ligada ao romanceiro e por isso mesmo, tão expressiva da visão tragicamente fatalista, cruelmente alegre e mitica- mente verdadeira que o povo brasileiro tem do real.” Nascido em 1944, em Caruaru (PE), Miguel dos Santos reside e trabalha em João Pessoa. Suas esculturas possuem forte influência africana e do imaginário das lendas nordes- tinas. Sua produção inclui totens de quase três metros de altura. Quando mostramos essas esculturas para os alunos eles ficaram muito surpresos. As obras de Miguel dos San- O antropomorfismo é temática recorrente na arte popular e a proposta era que os alunos criassem um ser mágico, misturando animais e ações humanas © A na C ar in a M ar qu es . R ep ro du çã o Brasileiríssima FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 20 • 21 da argila. Apresentamos algumas técnicas de cerâmica que poderiam ser utilizadas, conforme as necessidades do trabalho. Essa foi a fase do projeto pelo qual eles ficaram mais fascinados. Na roda discutíamos quem tinha conse- guido atingir os seus propósitos, quais tinham sido as di- ficuldades. Todas as vezes que as turmas entravam na sala corriam para a bancada para ver as produções das outras turmas e discutiam o quetinha sido feito. Organizamos uma grande exposição desses trabalhos, envolvendo es- culturas, pinturas, máscaras. Compreender a criação na arte popular, os caminhos que os artistas transitam para criar, possibilita ver essa produção de outro ângulo, mais próximo, mais verdadei- ro, mais significativo. Esse projeto procurou evidenciar o papel imprescindível da arte popular brasileira no currí- culo das nossas escolas, e como ela pode promover nos alunos um enriquecimento dos seus percursos criativos individuais. Para isso foi preciso conhecer e compreender as concepções presentes na Arte Popular que se relacio- nam com as suas possibilidades de criação e interpretação. Ana Carina Marques é especialista em Linguagens da Arte pela Uni- versidade de São Paulo (USP), graduada em Artes Plásticas pela Uni- versidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em gravura pela Toron- to School of Art. Trabalhou na Formação Contínua de Professores da Prefeitura de São Paulo e de escolas particulares. Desenvolveu e atuou em oficinas de Arte no Sesc-SP. Atuou em projetos de mediação cul- tural em instituições como Fundação Bienal e MAC- USP. Atua como professora da rede particular de ensino de São Paulo. Referências ABREU, Martha. “Cultura popular, um conceito e várias histórias”. In: ABREU, Martha e SOIHET, Rachel. Ensino de História, Conceitos, Temáticas e Metodologias. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003. AYALA, Marcos & AYALA, Maria Ignez Novais. Cultura Popular no Brasil. 2ª ed. São Paulo, Ática, 2003. BEUQUE, Jacques Van de. “Arte Popular Brasileira”.In: AGUILAR, Nelson (org.). Arte popular. Mostra do Redescobrimento. São Paulo: Fundação Bienal: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000. CHARTIER, Roger. “Cultura popular”: revisitando um conceito his- toriográfico. Estudos Históricos, v. 8, n. 16, págs. 179-192, 1995. Sites ArtCanal: www.artcanal.com.br/oscardambrosio/rgoda.htm. Museu Casa do Pontal: www.museucasadopontal.com.br/. Miguel dos Santos: www.migueldossantos.com.br/criticas.aspx?id=3 tos causam certo estranhamento a princípio. São pessoas, são animais, são seres míticos? Todas as respostas são afir- mativas. O grupo criou muitas interpretações possíveis. Passamos para a criação das esculturas. Cada um es- colheu um pedaço de argila (de tamanhos diferentes) e depois receberam algumas orientações de como trabalhar o material. Toda a parte procedimental foi encaminhada para que eles pudessem expressar suas ideias sem medo Cada aluno escolheu um pedaço de argila e depois recebeu algumas orientações de como trabalhar o material © A na C ar in a M ar qu es . R ep ro du çã o Cena do filme Babel. O sentido de um filme não está apenas nas imagens vistas, está também nas que não se vê. E o que não se vê é também pleno de sentidos © B ab el , d e A le ja nd ro G on zá le z Iñ ár rit u, 2 00 6. R ep ro du çã o Imagem em movimento FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 22 • 23 O cinema é a arte de criar histórias deslocando pontos de vista. Uma arte que pode ser compre-endida por quase todas as pessoas que vivem em cidades. Mas não foi sempre assim; no início do cinema, era necessário ensinar o público a ver filmes. Ao lado da tela havia uma pessoa, o explicador, segundo nos conta Carrière, no livro A linguagem secreta do cinema, para ir fazendo as relações entre as cenas, as personagens e os fatos. De certa forma, o que o explicador fazia era sig- nificar o corte e a montagem, ou seja, expressar o senti- do presente no intervalo entre uma e outra imagem. O sentido do filme não está apenas nas imagens vistas, está também nas que não se vê. E o que não se vê é também pleno de sentidos, torna-se um intervalo de significação. É preciso haver o corte para que haja a montagem que é chamada específico fílmico, aquilo que faz do cinema, ci- nema. É o corte e a montagem que fazem o filme ser filme e não apenas uma justaposição de imagens e sons. Hoje, fazer uma referência a isso pode soar estranho, pois a linguagem cinematográfica – e, ampliando-se o leque, a linguagem audiovisual em todos os suportes – ganhou tanta autonomia, que não se pensa mais nesse aspecto. A arte cinematográfica e a gramática do audiovisual são Levar a produção audiovisual para a sala de aula é desafiar os alunos a trabalharem com a arte de pensar e de se expressar por meio de imagens em movimento por Laura Maria Coutinho Artes audiovisuais e educação acessíveis a todos, sobretudo aos jovens que estão nas es- colas e que já trazem consigo, na maioria das vezes, no seu rol de habilidades, a capacidade de ver filmes e de compreendê-los sem grande esforço. A origem As origens do cinema estão dispersas em muitas eta- pas precursoras do que conhecemos como arte cinema- tográfica. Para que se chegasse à obtenção da fotografia foram necessários muitos estudos e experiências com o desenvolvimento de processos óticos, químicos e mecâ- nicos. O físico francês Joseph Niepce realizou um dos primeiros trabalhos, que conseguiu, com sucesso, fixar imagens captadas da realidade em superfície sensível à luz, no ano de 1839. Antes disso, porém, foi necessário o aperfeiçoamento da câmera escura que permitia construir imagens pictóricas considerando a ideia de espaço em três dimensões, a partir da perspectiva que buscava dar mais realidade e naturalidade à pintura. Em seu livro Cinema: arte da memória, Milton José de Almeida (1999) cria uma alegoria do nascimento do cinema, considerando que uma de suas origens, como arte narrativa e figurativa, estaria na Capela do Scrovegni, em Pádova, na Itália, onde Giotto pintou as principais cenas da história de Cristo em quadros que podem ser vistos à semelhança das histórias em quadrinhos. Ao entrar nessa capela “estamos dentro de um processo de educação cultural da inteligên- cia visual. Uma arte que, em forma plástica, dá visibilidade estética a um momento social, político, religioso”. Nesse estudo, Almeida reflete sobre a perspectiva e os usos dessa técnica de representação como instrumento de educação visual e de construção imagética. A perspectiva, ao constituir-se predominantemente como teoria e prática da representação do real visível, de forma lógica, natural, neu- tra, científica, artística, está, ao mesmo tempo, reproduzin- do “em ilusão geométrica e matemática, a estética do poder burguês laico e religioso”. Esse está presente, ainda hoje, nas lentes, câmeras e em todo tipo de aparato tecnológico para captação de imagens, inclusive os telefones celulares. As primeiras formas da linguagem cinematográfica tiveram lugar de destaque nas exposições universais que eram os locais onde se buscavam reunir inventores, co- merciantes, fabricantes, cientistas, artistas. A Exposição Universal de Paris de 1900 foi palco para a apresentação de um cinematógrafo com uma tela gigante que exibia a projeção de filmes e de fotografias que ganhavam cores. Esse espetáculo promovido pelos irmãos Lumière foi visto por cerca de 1,5 milhão de pessoas. Pinturas de Giotto datando de 1305, na Capela dos Scrovegni, em Pádova, Itália. E (na página ao lado) Câmera escura feita de caixa de papelão, que pode ser utilizada com os alunos para que eles entendam os princípios da fotografia © R ep ro du çã o Imagem em movimento FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 24 • 25 A invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, é um filme que constrói uma alegoria da história de Marie- -George-Jean Méliès. Méliès era um ilusionista e mágico de profissão francês que estava presente na plateia que assis- tiu, em 1895, à primeira projeção realizada pelos irmãos Lumière, de quem desejou, semsucesso, comprar a nova invenção. Com um protótipo do cinematógrafo Méliès inicia suas próprias experiências com o registro de ima- gens em movimento. Realiza os primeiros filmes de ficção a partir de trucagens e cenários móveis e constrói o pri- meiro estúdio cinematográfico na Europa. George Méliès é considerado o criador do cinema de ficção, um dos pri- meiros e o principal artista a colocar em prática as possi- bilidades expressivas do novo invento – o cinematógrafo. Depois da imagem, o som Para que os sons se unissem às imagens e constituíssem a forma de arte e espetáculo audiovisual que temos hoje, foram necessários cerca de 30 anos. Nas salas de cine- ma, as músicas, que ajudavam a dar o ritmo e a criar o clima dramático da narrativa, eram executadas ao vivo por músicos locais contratados para cada exibição. So- mente em outubro de 1927, quando estreou, com enorme repercussão e sucesso de público, em Nova York, o filme O cantor de jazz (1927) é que, pela primeira vez, foi pos- sível assistir a um filme falado. Ele ainda tinha partes mudas e um roteiro medíocre e pouco convincente, mas o rosto em close do ator Al John- son enchia a tela e a sua voz sincronizada com a imagem foi ouvida perfeitamente por uma plateia extasiada. Estava consolidada assim a arte audiovisual, fato que revolucionou a indústria cine- matográfica, embora muitos cineastas famosos do cinema mudo se opusessem à novi- dade como Charles Chaplin e Serguei Eisenstein. O cine- ma mudo criou obras-primas como Metrópolis (1927), O Encouraçado Potemkin (1925), um dos filmes mais impor- tantes do cinema em todos os tempos. Charles Chaplin criou filmes antológicos como O garoto (1921) e Tempos modernos (1936). O cinema mudo imortalizou inúmeros atores e muitos não puderam ser absorvidos pelos filmes sonoros por não terem voz ou não se adaptarem à nova forma de atuação que a introdução do som exigia. Em 2011, outro filme, O artista, de Michel Hazanavi- cius, homenageia o cinema mudo e seus atores. Esse filme mudo, passado na Hollywood dos anos 1920 e 1930, conta a história de um casal formado por uma atriz iniciante – vivida por Bérénice Bejo – em ascensão – e um ator famoso – Jean Dujardin – em franco declínio, enquanto os filmes mudos iam, cada vez mais, dando lugar aos filmes falados. Cinema na sala de aula Além de ter acesso ao extenso material disponível por meios eletrônicos e digitais, é possível realizar com alunos atividades práticas que recriam situações do universo de criação das imagens. Pode ser muito pro- veitoso o aprendizado em sala de aula, fazendo uso de uma caixa de papelão ou de outro material disponível, recriando a câmara escura. São muito interessantes tra- balhos escolares que utilizam os princípios do teatro de sombras e as lanternas mágicas. As lanternas mágicas têm suas origens perdidas no tempo, pois desde sempre os jogos de luzes e sombras fas- cinam a humanidade, muito antes que pudessem ser usa- das para contar histórias. Uma pesquisa desenvolvida por Erizaldo Pimentel aponta para o fato de que “um dia to- das as escolas poderão lidar (...) com as novas tecnologias, em particular, com o audiovisual, e mais particularmente ainda com a prazerosa aventura de se construir vídeos com e para os São muito interessantes trabalhos escolares que utilizam os princípios do teatro de sombra e as lanternas mágicas, pois desde sempre os jogos de luzes e sombras fascinam a humanidade © R ep ro du çã o Nas oficinas que realizamos com alunos, após uma bre- ve passagem pelas dimensões políticas e estéticas das lin- guagens audiovisuais, são discutidos os aspectos específicos da construção de um produto audiovisual e o seu processo de elaboração. Toda construção artística audiovisual come- ça por uma ideia. Em Da criação ao roteiro (1993), Doc Com- parato afirma que “as ideias não surgem do nada”. Ele defi- niu seis campos de ideias que podem ser interessantes para o trabalho em sala de aula: “ideia selecionada, ideia verbali- zada, ideia lida, ideia transformada, ideia solicitada, e ideia procurada”. A esses seis campos acrescentamos o campo da ideia demandada. Muitas vezes as ideias surgem como nar- rativas de ficção, mas devido ao tempo exíguo e às dificul- dades, sobretudo com relação às locações, aos atores e aos cenários, terminam transformando-se em documentário. O mundo das ideias é praticamente inesgotável. Mas sempre é preciso escolher uma. Uma vez escolhida, essa ideia é trabalhada em uma breve explanação escrita, a si- nopse. Do desenvolvimento da sinopse chega-se ao argu- mento, que é construído já como um relato de uma histó- ria com começo, meio e fim. Com a história alinhavada é o momento de caminhar para a elaboração do roteiro lite- rário; nele a história é descrita já introduzindo a descrição das sequências, ou seja, o encadeamento das imagens e sons que comporão o audiovisual. O roteiro técnico será o guia da gravação de imagens e sons na etapa da capta- ção. Após a captação é realizada a decupagem, ou seja, são definidos os cortes que irão compor cada plano. Depois da decupagem feita, é possível fazer o roteiro de montagem ou edição. Após a montagem chega-se ao processo de fi- alunos” (2013). Existem tecnologias disponíveis, baratas e acessíveis a professores e os alunos estão prontos para aco- lher a linguagem audiovisual no âmbito das escolas. Bons trabalhos com o uso da linguagem audiovisual têm acontecido em escolas do Distrito Federal. No Nú- cleo Bandeirante, produziu-se a TV Guri. Alunos de 7 a 12 anos, sob a orientação do professor Jefferson Guima- rães, elaboraram vídeos jornalísticos sobre temas varia- dos, que eram veiculados na escola durante o recreio. O professor Josué de Sousa Mendes realiza, em uma escola de Brasília, um trabalho em que os alunos registram em vídeo as atividades comunitárias que realizam e poste- riormente editam os programas e os exibem na escola. Não é possível criar uma sistemática de uso do audio- visual na educação, sem que os professores tenham con- tato mínimo com essa linguagem em sua formação. Os cursos regulares de formação de professores, de alguma forma, se preocupam em dar espaço para a utilização das chamadas tecnologias da educação. No entanto, essa for- mação é intermitente, mesmo naquelas faculdades que têm tradição com o uso dessa linguagem. A linguagem audiovisual, que, como a própria palavra expressa, é feita da junção do som e da imagem, parece expandir-se cada vez mais. São artefatos da cultura que afetam estes dois sentidos do homem: a visão e a audição. Estes são os sentidos humanos mais privilegiados e exigi- dos no mundo moderno, pois por meio deles podemos ver o mundo estando fora dele, e uma das características da modernidade é justamente esta: permitir um afastamento cada vez maior das pessoas do chamado mundo natural. Cenas do filme O artista, de 2011, que homenageia o cinema mudo e seus atores Imagem em movimento FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 26 • 27 da, o que se deseja expressar. As histórias seguem sempre, de alguma forma, essa estrutura inicial. Se esses aspectos forem considerados, o argumento da história estará cons- truído e é possível passar para o roteiro. Som e imagem em ação Quando passamos para a etapa de elaboração do ro- teiro técnico, os alunos são levados a refletir sobre a natu- reza da linguagem audiovisual. As imagens são elementos estético-visuais que, a partir da sua composição, visam dar unidade e harmonia aos assuntos que serão expostos. As imagens serão lidas a partir da identificação do que, ob- jetivamente, é possível ver, dos elementos que possuem e esses elementos podem ser vivos, quando apresentam pessoas e animais; móveis, quando tratam de coisas que implicam deslocamentos como carros e outrostipos de transportes; e estáveis, como edificações, cidades, árvores, paisagens naturais. As imagens poderão ser lidas também pelo que os seus elementos representam. Os elementos que serão vistos pela câmera, e poste- riormente expostos na tela, precisam obedecer a certa composição a ser resolvida quando se definem os seus elementos estruturais. Esses elementos estruturais são os planos, os ângulos de câmera, os enquadramentos, a ilu- minação, a cor. No audiovisual os movimentos de câmera permitem a alteração dos enquadramentos – distantes, intermediários e aproximados – sempre em relação ao as- sunto principal, dentro do mesmo plano, que é tudo o que se registra, entre o disparo do dispositivo para gravar e o disparo do mesmo dispositivo para parar a gravação. nalização onde são inseridos, basicamente, textos off, efei- tos e créditos. Ao final é preciso acontecer a apresentação, sem a qual nenhum audiovisual se realiza plenamente e nem cumpre a sua função. Realizar coisas em sala de aula é sempre um desafio, pois os alunos estão muito acostumados com o mode- lo de aulas expositivas, lousas, slides projetados, textos, discussões, provas. Para superar essa etapa inicial é pre- ciso convencê-los de que realizaremos um audiovisual e contaremos uma história por meio de sons e imagens em movimento e precisamos encontrar uma ideia. Para isso podemos recorrer, por exemplo, às histórias orais ou às histórias que acabaram de ouvir em casa, na televisão, no rádio, no transporte coletivo. A partir de uma relação de histórias possíveis as ideias vão tornando-se mais concretas. Para Doc Comparato, a primeira forma da narrativa audiovisual é a palavra, ini- cialmente oral e depois escrita. Os alunos começam a contá-las por meio de relatos orais e depois em pequenos textos escritos como relatos ou diálogos e em seguida pas- sam a desenhá-las no formato de um pequeno storyboard. Ao desenvolverem essa etapa, vão se apropriando das di- ferentes formas de contar as histórias e os grupos de tra- balho vão se definindo a partir da identificação das habili- dades que cada participante possui e das próximas etapas. Doc Comparato diz ainda que o roteiro deve ter três aspectos fundamentais: o logos, que é o discurso, a forma oral e escrita da história; o páthos, o aspecto dramático da narrativa, o que gera os acontecimentos; e o ethos, o objetivo da história, o que justifica a história ser conta- © T he a rti st, M ic he l H az an av ic iu s, 20 11 . R ep ro du çã o No roteiro, os enquadramentos são defi nidos a partir de uma determinada nomenclatura que pode mudar de ro- teirista para roteirista: GPG: grande plano geral; PGG: pla- no geral de conjunto; PG: plano geral; PC: plano de conjun- to; esses são os planos distantes que situam a ação. PMC: plano de médio conjunto; PM: plano médio; PA: plano americano; Pfi g: Plano de fi gura; são planos intermediários que dão certa precisão ao tema. MPP: meio primeiro pla- no; PP: primeiro plano; PPP: primeiríssimo primeiro plano são planos aproximados que procuram revelar a expressão mais íntima e peculiar, sobretudo das pessoas. Outro aspecto fundamental que deve ser defi nido no roteiro técnico é a posição da câmera. Ela pode estar no alto, CA; na posição horizontal, CH; e câmera baixa, CB. A AVANT-PREMIÈRE NA ESCOLA Trazer os audiovisuais para a sala de aula é desafi ar os alunos a trabalharem com a arte de pensar e de se expressar por meio de imagens em movimento. Sobretudo com a arte do enquadramento. Na linguagem audiovisual as palavras escritas são muito importantes e ajudam a estruturar a ideia para que ela possa se transformar em um audiovisual. Jean- Claude Carrière, um dos roteiristas mais importantes do cinema, diz em A linguagem secreta do cinema, que uma das características do roteiro é o fato de ele ser evanescente, ou seja, algo que se faz para desaparecer em seguida, algo que não terá mais sentido depois de ser transformado em imagens e sons. Com o roteiro pronto e a produção organizada, a etapa da pré-produção está cumprida e chega-se à fase da captação de imagens e sons. A câmera de vídeo entra em cena e este é um momento de muita animação. Muitos iniciantes são levados pelo lado lúdico que os equipamentos possuem e passam a usar certos recursos, como o zoom, por exemplo, pelo simples fato de acioná-los. Alguns participantes tendem a assumir demais certas tarefas, não permitindo que outros tenham a experiência de passar por todas as etapas, o que é sempre bastante desejável. É estabelecido o cronograma de gravação, são defi nidas as equipes de trabalho, os personagens, os locais de gravação; se as gravações ocorrerão durante o dia ou durante a noite, para que o registro não seja prejudicado. Com as imagens e sons registrados, chega-se à etapa da pós-produção. É o momento de assistir ao material e fazer a decupagem, ou cortes. Em seguida, elaborar o roteiro de edição, gravar as narrativas sonoras que serão inseridas em off e selecionar as músicas e sons complementares. O que cortar, o que deixar de fora? O corte é um dos aprendizados mais importantes para os realizadores iniciantes. A melhor sequência fora do fl uxo narrativo pode ser a pior opção para compor um trabalho em audiovisual. No momento da fi nalização, são inseridos os efeitos especiais, quando necessários, e os créditos de início, com o título do audiovisual, que deve ser defi nido nesta etapa, e os créditos fi nais com o nome de todos os participantes, colaboradores e responsáveis. A avant-première de um audiovisual produzido em sala de aula é sempre um prazer e uma festa. Chegar ao fi m de um trabalho dessa natureza é muito positivo sob vários aspectos, que vão além da apresentação do audiovisual, que é a última etapa da sua realização. E, como já foi dito, sem um público que possa assisti-lo, o trabalho não cumpre a sua função artística e social. © R ep ro du çã o Imagem em movimento FUNDAÇÃO VOLKSWAGEN 28 • 29 Toda posição de câmera revela e faz a imagem signifi car muita coisa. Por meio da câmera alta, de certa forma, é possível enterrar uma pessoa ou assunto. A câmera – e, portanto, quem vê– assume uma postura de maior rele- vância em relação ao assunto em tela. A câmera baixa ele- va o assunto podendo enaltecê-lo. E a câmera posicionada na horizontal estabelece uma relação de igualdade de va- lor entre quem fi lma e quem ou o que é fi lmado. O som é um elemento estético auditivo e também possui uma estrutura. A estrutura do som pode ser per- cebida a partir da intensidade, do volume, da altura, do timbre e da duração. No audiovisual, de modo geral, os sons são constituídos a partir da fala produzida por meio da captação do som direto, que é aquele captado ao mes- mo tempo que a imagem, o som off ou a narração oral que é construída e gravada posteriormente, as músicas e os ruídos adicionais. Quando, na história a ser contada, há a necessidade de gravar entrevistas, há um momento específi co para tratar desse aspecto. São trabalhadas as perguntas de maneira que o interlocutor possa expressar as suas ideias e não apenas responder sim ou não. Para a entrevista é importante estudar também os enquadra- mentos e os contraplanos que enriquecem a narrativa e revelam os assuntos de forma bastante positiva quando usados adequadamente. Laura Maria Coutinho é professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Graduada em Comunicação Social – Audio- visual: Cinema, Rádio e Televisão – pela FAC/UnB, é doutora em Edu- cação, Conhecimento, Linguagem e Arte, pela FE/Unicamp. Atuou como consultora na área de cinema e televisão em educação em várias
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