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Crise do sistema prisional brasileiro e estado de coisas inconstitucional

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CRISE NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E “ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL”
Joao pedro R O Mariano �*
Bruna Azevedo de Castro**
RESUMO 
O presente artigo tem como objetivo fazer uma análise do sistema prisional brasileiro e consequentemente penal, e com apoio da sociologia jurídica fazer uma contextualização histórica, mostrando de maneira resumida e sistemática como foi constituído o código penal no decurso do tempo, bem como a sua evolução e como ocorre, e o que causa o encarceramento em massa. Onde a segregação das minorias – pobres, negros, analfabetos, deficientes etc. – são um dos fatores causais provocantes desse fenômeno em nosso sistema prisional. E por meio de dados concretos dizer o quão eficiente é o sistema punitivo, tendo como base as porcentagens de reincidência dos egressos do mesmo. E também onde se faz uma análise estrita da decisão liminar do Superior Tribunal Federal na ADPF 347 onde reconheceu o estado de coisas inconstitucional do sistema penitenciário brasileiro. Que diz respeito às violações de direitos fundamentais de encarceramento, o que provoca uma precarização das prisões a um nível degradante onde os delinquentes sob custodia do estado, são tratados como animais e sem o mínimo de salubridade. Um ponto a ser abordado também no trabalho são os casos recentes de rebeliões ocorridos no estado do Amazonas, Roraima e Rio Grade do Norte, com altos índices de mortes, o que deixa evidente que o estado deveria ter um olhar mais crítico sobre a crise desse sistema que necessita de uma grande reforma, para um efetivo funcionamento.
PALAVRAS-CHAVE: Custodia; encarceramento; estado; prisão
ABSTRACT
The purpose of this article is to analyze the Brazilian prison system and, consequently, criminal law, and with the support of juridical sociology, make a historical contextualization, showing in a summarized and systematic way how the criminal code was constituted in the course of time, as well as its evolution And how it occurs, and what causes mass incarceration. Where the segregation of minorities - poor, black, illiterate, disabled etc. - are one of the causal causal factors of this phenomenon in our prison system. And by means of concrete data to say how efficient the punitive system is, based on the percentage of recidivism of the graduates of the same. And also where it is made a strict analysis of the preliminary decision of the Superior Federal Court in ADPF 347 where it recognized the unconstitutional state of things of the Brazilian penitentiary system. That concerns violations of fundamental rights of incarceration, which causes a precariousness of prisons to a degrading level where offenders in state custody are treated as animals and without the least healthiness. The recent cases of rebellions in the state of Amazonas, Roraima and Rio Grade do Norte, with high death rates are also a point to be addressed, which makes it clear that the state should take a more critical look at the A system that needs a major overhaul, for an effective operation.
KEYWORDS: Custody; incarceration; state; prison
SUMÁRIO: Introdução – 1. Historia do Direito Penal – 1.1. Vinganças – 1.2. Periodos do Direito Penal – 2. Direito Penal no Brasil – 3. Pena privativa de liberdade – 4. O encarceramento em massa – 5. ADPF 347 – Conclusao – Referencias bibliograficas – Anexos
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Introdução
	Desde os inicio da humanidade, o homem vem se desenvolvendo em todos os âmbitos de sua vida. Através do desenvolvimento ético-moral e racional, o homem tem sempre se organizado em grupos e sociedades, na busca incessante do atendimento de suas necessidades mais básicas, anseios, conquistas, desejos e entre outras necessidades almejadas por eles. Porém, nem sempre esse convívio é pacifico, pois, nela o homem se mostra ao seu natural e suas fraquezas visíveis, demonstrando agressividade e hostilidade como instinto maior.
	Deste modo Luiz Regis Prado preceitua que:
A tarefa primordial e de maior relevância da lei positiva e de superar e conter a ameaça latente de luta de todos contra todos, propiciando uma ordem que assegurasse a vida e a convivência de todos os homens. Justamente por que dá lugar a uma ordem que conserva a existência, e a que obriga.
	Ou seja, o direito é ao mesmo tempo poder protetor e valor obrigatório, sendo que como poder coage e como valor obriga. Por conseguinte, o direito como ordem jurídica, é importante fator de estabilidade e de harmonia nas reações sociais, enquanto soluciona os conflitos individuais e sociais, impondo, por assim dizer, uma ratio à própria realidade humana.�
	No decurso do tempo o homem tem vivido numa verdadeira sociedade do crime. Diante disso viu se necessário a criação de regras e normas que disciplinasse esses conflitos (poder coercitivo) e também, com o intuito de defender a coletividade e promover uma sociedade mais pacifica. Dessa forma o direito penal tem evoluído junto com a humanidade, passando de os primórdios até chegar a sociedade moderna. Magalhaes Noronha diz que: “ele surge como homem e o acompanha através dos tempos, isso por que o crime, qual sombra sinistra, nunca dele se afastou”. Ou seja, independentemente do passar do tempo o homem nunca abandonou as práticas de atos ilícitos, sempre prevalecendo seu lado sombrio. Então, segundo o enfatizado, era extremamente necessário a criação de um sistema jurídico para a organização da vida no seio social. Por assim ouve alguns períodos, no qual os mesmos foram criados dessa necessidade de proteção e coerção dos indivíduos infratores. São eles, período da vingança, período medieval, período iluminista, período humanitário da pena e período cientifico ou criminológico da pena. 
1 História do direito penal
	Tendo início nos tempos primitivos o período das vinganças se estendeu até o século XVIII. Esse foi criado da ânsia de proteção e punição de indivíduos que cometiam atos delituosos. TELLES (2008: 16) vem a corroborar isto ao afirmar que “o pensamento sobre as teorias da pena não se iniciou na modernidade. Desde os primórdios da filosofia, este tema é pensado e repensado, haja vista sua relevância social, filosófica, política, psicológica e, até mesmo, econômica”
	No início de uma sociedade organizada não se admitia um sistema orgânico de normas gerais, pois esse período havia uma grande influência do mágico-religioso. Fenômenos naturais como erupções vulcânicas, pestes, secas e etc., eram vistas como punições das divindades, pelas práticas delituosas de seus seguidores. Onde eram exigidas a redenção e a punição pelos atos praticados.
	Podem-se definir três fases da evolução das vinganças:
Vingança privada
Vingança divina
Vingança publica 
1.1 Vinganças
	Essa primeira faze denominada faze da vingança privada, na qual a própria pessoa ou parentes da vítima poderiam fazer justiça com as próprias mão. Ou seja, a pena era aplicada com fim de apenar o delinquente na mesma proporção de danos que o mesmo causou a vítima. 
	Nesse sistema o condenado não tinha chance alguma de refutar as prováveis acusações feitas a ele, ou seja, uma vez acusado, o mesmo era automaticamente declarado culpado, mesmo não havendo provas concretas. Um dos exemplos mais notáveis desse tipo de coerção penal é a lei das XII tabuas e o código de Hamurabi. Onde esse código já era possível perceber a regulamentação escrita e “positivada” da pena. Mesmo sendo punições aplicadas pela vítima ou familiares, havia o princípio da lex talionis, alguns propõem que este foi, pelo menos em parte, destinado a evitar excessiva punição às mãos de qualquer vingador, justiça feita pelas próprias mãos, privada ou do Estado.
	 Na vingança divina dava-se a punição um cunho religioso, acreditando-se que assim a humanidade estava amenizando a ira dos deuses. A administração da sanção penal ficava a cargo dos sacerdotes que, como mandatários dos deuses, encarregavam-se da justiça. Aplicavam-se penas cruéis, severas, desumanas. A "vis corpolis" era usa comomeio de intimidação.
	 Na vingança privada o estado já possuía poder punitivo, obviamente o estado na época era representado por um soberano, ou seja, rei, príncipe ou regente. Este exercia sua autoridade em nome de Deus e cometia inúmeras arbitrariedades. A pena de morte nesta época era uma sanção largamente difundida e aplicada por motivos que hoje são considerados insignificantes. Usava-se mutilar o condenado, confiscar seus bens e estender a pena além da pessoa do apenado, geralmente atingia-se até os familiares do delinquente.
	No mais é também importante salientar que as fazes do período de vingança embora também supostamente seguido uma ordem cronológica durante todo o período as mesmas chegaram a coexistir e de forma gradativa a sociedade foi deixando de utilizar a punição pela vingança.
1.2 Períodos do direito penal
	No período medieval se caracterizou pelo jus puniendi, que os senhores feudais detinham, mas com uma influência muito forte da igreja católica, período de forte domínio do direito canônico, no entanto com o advento do absolutismo o direito e a lei dos soberanos se sobrepõem as demais. A arbitrariedade chegou ao extremo e causou reações filosóficas que levaram a novas teorias fundadas no respeito à lei e aos direitos humanos. Tem se assim o início do período iluminista da humanidade. 
	A partir do século XVIII onde se inicia o período iluminista, período no qual permitiu uma transação da arbitrariedade da pena que era imposta anteriormente para uma punição fundada na razão e no respeito às leis. Punições essas fundadas no direito natural em que o ser humano deve ser respeitado. Ou seja, se almejava um sistema com penas onde o corpo da apenado não seria torturado, assim a humanização do sistema era o objetivo onde devia-se findar esse período.
		Já no período humanitário a pena sai da sanção corpórea para a punição delitiva do ato em si deixava assim o autor do delito de pagar com o seu próprio corpo pelos delitos cometidos. A privação da liberdade é a que passa a ser mais utilizada durante esse período. A prisão passa a ser o destino dos aqueles que infringiam a norma penal.
	E no período cientifico ou também conhecida como período criminológico, caracteriza-se por um notável entusiasmo científico. Começa a partir do século XIX, por volta do ano de 1850 e estende-se até os nossos dias. No qual estuda o comportamento humano relacionado com o meio social em que vive, para tentar justificar os fatos sociais juridicamente relevantes e o motivo no qual os mesmos transcorreram, assim se preocupando com o homem que delinque e o porquê delinque, período como forma evolutiva surgem os regimes disciplinares diferenciados.
2 Direito penal no brasil
	No brasil em seu início político o direito teve influência iminentemente português, isto que Portugal ignorou totalmente a cultura cevícula, aqui existente na quele tempo. Na época do descobrimento, Portugal passava pelo período de vingança pública, mas ainda com forte influência do período de vingança divina, advinda da igreja católica. Chegando aqui os portugueses encontraram uma terra habitada por índios, onde não possuíam um direito penal organizado, harmônico e proporcional, assim aplicavam as penas nos moldes da vingança privada, onde a principal forma de penalidade era a tortura, morte e o banimento da tribo onde vivia. Mas sem dificuldades, implantou-se a legislação portuguesa. No início, vigoraram as Ordenações Afonsinas (1446), da época de D. Afonso V. Posteriormente, passaram a viger as Ordenações Manuelinas (1521), da época de D. Manuel I. Antes das ordenações Filipinas (1603), do reino de D. Filipe II, houve a aplicação da compilação organizada por D. Duarte Nunes de Leão, por volta de 1569.
	A mais longa delas – 1603 a 1830 – foram as Ordenações Filipinas, que previam penas desproporcionais, sem qualquer sistematização. Somente com a edição do Código Criminal do Império (1830), advindo do projeto elaborado por Bernardo Pereira de Vasconcellos, conseguiu-se uma legislação penal mais humanizada e sistematizada. Constitui-se aí um grande avanço, criando institutos que são usados até hoje no direito brasileiro e estrangeiro.� Resumidamente o direito penal brasileiro foi constantemente modificado, seguindo fortemente a tendência governamental no período que o pais estava vivenciando, até chegar ao código penal de 1940. Que apesar de ser anterior a constituição, já passou por várias reformas e modificações, procurando alcançar os princípios constitucionais.
3 A pena privativa de liberdade 
	Assim como supracitado a pena mais aplicada no mundo moderno pena privativa de liberdade. Mas afinal o que vem a significar pena? Pena é sanção do Estado, valendo-se do devido processo legal, cujo a finalidade é a repressão ao crime perpetrado e a prevenção a novos delitos, restringindo os bens jurídicos determinado pela lei, objetivando reeducar o delinquente, retira-lo do convívio social enquanto for necessário, bem como reafirmar os valores protegidos pelo Direito Penal, e intimidar a sociedade para que o crime seja evitado.� 
	Visando estabelecer limites ao legislador, a Carta Magna foi usada como base para a redação da CF, que dispôs um rol de leis, que foram adotadas pelo direito contemporâneo existente hoje. Como por exemplo o Art. 39º que diz: “Nenhum homem livre, será preso, aprisionado ou privado de uma propriedade, ou tornado fora da lei, ou exilado, ou de maneira nenhuma destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém contra ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares, ou pele lei da terra. ”. Significando que o rei deveria julgar o apenado com forme as leis positivadas, seguindo o devido processo, e não segundo os seus costumes e vontades. Já o Art. 40º do referido código discorre que: “A ninguém venderemos, a ninguém recusaremos ou atrasaremos, direito e justiça. ”. Fazendo uma comparação do Art. 39º do referido código com o Art. 5º, § XLVI e XLVII da Constituição Federal, onde vê-se visivelmente que a Carta Magna teve muita influência sobre o legislador no momento da redação da mesma. 
	Hoje a constituição prevê vários tipos de punições a serem aplicadas aos que delinquem, como discorre o Inciso XLVII: a privação ou restrição de liberdade, perda de bens, multa, prestação social alternativa e suspenção ou interdição de direitos. O seguinte inciso complementa que não haverá penas de morte, salvo em caso de guerra declarada, de caráter perpetuo, de trabalho forçado, de banimento e cruéis. Mas atualmente, a pena privativa de liberdade consiste no centro do sistema penal. A partir do século XIX, quando a prisão se converteu na principal resposta penal, acreditava-se que esta seria o meio mais adequado para a “restauração” do delinquente. Mas com os fatos vistos em nossa sociedade leva alguns doutrinadores à descrença deste instituto, onde é necessário uma atenção e um cuidado maior com essa área.
	Roxin, formula em seu livro “Sentido e limites da pena estatal” (ROXIN, 1982) a seguinte questão: “com base em que pressupostos se justifica que o grupo de homens associados no Estado prive de liberdade alguns dos seus membros ou intervenha de outro modo conformando sua vida? ”. Ora, certo que é necessário ao Estado o poder disciplinar que regule as normas sociais, sendo delegado ao Direito Penal, o caráter de ultima ratio, tutelando apenas os bens jurídicos mais relevantes.� Sendo assim, este poder punitivo do Estado, só encontra legitimidade quando o bem jurídico ofendido for de grande importância à sociedade, devendo ainda refletir a realidade social; o Direito Penal só pode intervir quando se mostrar imprescindível para a proteção dos cidadãos (BARROS, 2001).
	Percebe-se, contudo, que mesmo ante as máximas garantias individuais dentro do processo e execução penal, a pena privativa de liberdade enfrenta sua decadência, justamente por falhar na sua finalidade declarada, a ressocialização do delinquente. Pelo contrário, parece mais real, que esta estimule a reincidência(BITENCOURT, 2006). Com base nesses fatores a reincidência acaba sendo alarmante, com altos níveis de reincidência para a vida do crime, o percentual aproximado desse fator chega aos 47% (ver figura 1). (AVANTE, 2014). Michel Foucault, em sua obra Vigiar e Punir, declara que a prisão não fracassou, pois cumpriu o objetivo a que se propunha: estigmatizar, segregar e separar os delinquentes (FOUCAULT, 2000). Ou seja, a pena só cumpriu o cunho de segregar o delinquente do resto da sociedade, apenas recluindo o indivíduo das demais, sem cumprir o que esta foi estipulado a cumprir, ressocializar e incluir o apenado novamente na sociedade. Mas o Estado apenas se preocupou em prendê-lo e jogá-lo numa cela, onde o mesmo fica encarcerado com até 20 presos, em um espaço onde no máximo caberia 5 pessoas. E assim sucessivamente e reiteradamente acontece, dessa maneira é causado um problema social muito grade, o chamado encarceramento em massa. Mas esse problema seria causado por erros no devido processo legal penal, ou de âmbito social? Amontoar de forma desordenada, pessoas que foram condenadas apenas com base em indícios de livre convencimento abstrato, é o sistema que deve perpetuar?
 
4 Encarceramento em massa 
	A população brasileira assiste ao aumento da criminalidade, que se estende desde os grandes centros urbanos até cidades do interior, e almeja que essa violência gratuita que atinge a todos sem exceção seja freada o quanto antes. A todo momento a mídia veicula notícias bizarras de várias categorias de crimes que assola o brasil, onde o sentimento de impunidade é grande, e sustenta que a única solução para frear a criminalidade, seria a extensão das penas privativas de liberdades. Mas ainda considerando que o nosso sistema penal já contém penas com um grande período de reclusão, e o mesmo não está sendo eficiente para conter o aumento desenfreado do crime na sociedade, então qual seria o problema que poderia estar levando esse sistema a decadência e sua ineficiência? A resposta até parece ser implícita, mas muitos doutrinadores prelecionam que o problema da prisão seria a própria prisão.
	Na lição de Heleno Fragoso:
“A prisão representa um trágico equívoco histórico, constituindo a expressão mais característica do vigente sistema de justiça criminal. Validamente só é possível pleitear que ela seja reservada exclusivamente para os casos em que não há, no momento, outra solução”. (FRAGOSO, 1980).
	Mas na verdade a realidade da justiça criminal brasileira, vai totalmente ao contrário ao que diz Heleno. Pois o sistema acaba por jogar pessoas, de forma desordenada, sem critérios sólidos, apenas sob o pseudos argumentos que até hoje são inexplicáveis. Nós além de permitir o Estado de punir os seus cidadãos com meros indícios, ainda seja chancelado a irresponsabilidade para com a dignidade da pessoa humana. Não pode a causa de um único delito por indução falimentar, servir de base para o isolamento social do ser humano em jaulas. A Constituição Federal no seu Art. 5º, estabelece que: “ninguém será privado de seus bens, sem o devido processo legal; ”, e que: “ninguém será considerado culpado até o transito em julgado de sentença penal condenatória”. Além da CF, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu Art. 11.1, discorre que:
 “Toda pessoa acusada de delito tem o direito a que se presuma sua inocência, enquanto não se prova sua culpabilidade, de acordo com a lei e em processo público no qual se asseguram todas as garantias necessárias para a sua defesa”. 
	Texto de lei esse, que deveriam ser regra, mas que na real aplicação, acaba sendo totalmente ao contrário.Uma solução cabível as penas privativas de liberdade, seriam as penas alternativas e o sistema de dias-multa, mas com a falta de vontade pública e dotação orçamentaria, acabou se na má aplicações dessas penas alternativas. Afirmava-se que juízes tinham receios de aplicar as alternativas apenas, sob o argumento de que não havia estrutura, e a falta de fiscalização dessas penas dificultavam a sua aplicação. O poder público, e incluindo o STF, faz preleção a um discurso reformador e humanizador do sistema penitenciário, mas, na pratica, adota uma política inversa, qual seja, restringindo o uso de habeas corpus, ampliando o uso da prisão provisória (antes do transito em julgado), aumentando o encarceramento em massa, enfim, contribuindo diretamente para o agravamento dessa crise. Da qual os massacres e rebeliões dos estados do Amazonas, Roraima e Rio Grade do Norte, com altos índices de morte, representa apenas uma pequena amostra do agravo dessa crise.
	Com efeito, além do historio trágico do caos do nosso sistema penitenciário, com sua desumanidade, excesso de presos, carência de vagas, presos dormindo amarrados na parede por falta de espaço para deitarem-se, onde as prisões de mulheres com homens são consideradas totalmente normais, todo esse caos se agravou com uma determinação do STF de que todos os condenados em segundo grau devem ser imediatamente recolhidos a prisão, independentemente de ser avaliada a sua necessidade.
5 ADPF 347 e Estado de coisa inconstitucional	 
	A primeira coisa que se deve saber é onde surgiu o instituto “Estado de coisa inconstitucional (ECI) ”. Que recentemente foi adotado pelo Superior Tribunal Federal (na ADPF Nº 347/DF). Pois bem, esse instituto tem origem nas decisões da Corte Constitucional Colombiana (CCC), que em 1997 cerca de 45 professores entraram com uma demanda na Corte Constitucional, alegando descumprimento de direitos previdenciários. A corte intendeu que houve um descumprimento generalizado, que ultrapassava as 45 pessoas daquele processo e declarou ECI. Deste modo obrigando os demais municípios que estavam em situações semelhantes, a corrigirem essa inconstitucionalidade. Resumindo assim ECI significa violações generalizadas, continuas e sistemática de direitos fundamentais, tento por finalidade a construção de soluções estruturais, volvidas a superação do quadro de violações de direitos das populações vulneráveis em face das omissões do Estado. Mas para a configuração e imposição desse instituto, são necessários 3 pressupostos, que estão implícitos nesta decisão. Que se inicia pela violação massiva de direitos básicos e fundamentais de maneira sistemática, o segundo pressuposto se dá por uma falha estatal estrutural, uma completa inercia do Estado nesse ponto, desde os governantes até mesmo o judiciário, há falhas do ponto de vista judicial e também falhas orçamentarias, ou seja, as falhas são múltiplas. E o terceiro pressuposto que para a superação desse Estado de Coisa Inconstitucional, seja necessárias medidas multifocadas, uma pluralidade de medidas que envolvam uma multiplicidade de órgãos visando à adoção de mudanças estruturais (como, por exemplo, a elaboração de novas políticas públicas, a alocação de recursos, etc.). Assim preleciona Dirley da Cunha Júnior:
É inegável que o reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional pressupõe uma atuação ativista do Tribunal (uma espécie de Ativismo Judicial Estrutural), na medida em que as decisões judiciais vão induvidosamente interferir nas funções executivas e legislativas, com repercussões, sobretudo, orçamentárias (CUNHA, 2015).
 	Por conseguinte, é indispensável a atuação do tribunal para o reconhecimento dessas violações, sem se esquecer do diálogo institucional que é imprescindível para a efetiva aplicação das medidas para a superação e reconhecimento de ECI. No Brasil houve o reconhecimento deste instituto apenas em 2015, nos autos da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental Nº 347 impetrada pelo partido político PSOL-Partido Socialismo e Liberdade x União, ocasião essa que o sistema carcerário brasileiro estava com níveis alarmantes de violações de direitos constitucionais dos presos, onde era ainda mais gravoso pelos bloqueios políticos. 
	De modo específico o PSOL fez oito pedidos na ADPF, sendo estes: 
a) que os magistrados, na decretação ou manutenção de prisões provisórias, fundamentassemsua decisão, expressando claramente qual o motivo pelo qual estão aplicando a prisão e não uma das medidas cautelares alternativas previstas no art. 319 do CPP; b) a implementação, no prazo máximo de 90 dias, das audiências de custódia; c) que na imposição de cautelares penais ou em decisões durante a execução penal, os magistrados considerassem, fundamentadamente, o quadro crítico do sistema penitenciário brasileiro; d) o estabelecimento, quando possível, de penas alternativas à prisão; e) o abrandamento dos requisitos temporais necessários para que o detento usufrua determinados benefícios, como progressão de regime, livramento condicional e a suspensão condicional da pena, quando se demonstrar que as circunstâncias de cumprimento da pena estão, na prática, mais severas do que as previstas na lei em decorrência do panorama do sistema carcerário; f) o abatimento do tempo de prisão pelos magistrados, quando verificado que as condições de efetivo cumprimento são, na prática, mais severas do que as previstas na lei, de modo a "neutralizar" o fato de o Poder Público estar cometendo um ilícito estatal; g) a determinação para que o Conselho Nacional de Justiça organize um mutirão carcerário para efetuar a revisão de todos os processos de execução penal em curso no Brasil em que possivelmente haja a aplicação de pena privativa de liberdade, visando adequá-los às providências requeridas nas alíneas “e” e “f” acima mencionadas e h) que a União liberasse, sem qualquer tipo de restrição, o saldo previsto no Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), com o propósito de destiná-lo à finalidade para a qual foi criado, obstando que ocorram novos contingenciamentos.�
	Mas que no qual o STF apenas julgou precedente em sede de liminar, a proibição do Poder executivo de contingenciar os valores disponíveis no Fundo Penitenciário Nacional, determinando que a União libere este saldo acumulado para atender a finalidade que esse se destina. E realizar audiências de custodia para o comparecimento do preso perante o juízo, num prazo de até 24 horas da prisão. Assim fomentando atingir uma melhora mesmo que pequena, para poder se iniciar de forma sistemática e gradativa a melhora desde sistema.
CONSIDERAÇOES FINAIS 
	Ante todo esse processo de desenvolvimento do direito penal ao longo do tempo, ainda vê se muito necessárias mudanças sistemáticas, que mesmo a sociedade sendo desenvolvida, o sistema penal brasileiro ainda se mantém arcaico, que por isso carece de ser estudo com mais atenção possível, por se tratar de uma matéria social, onde o indivíduo está inserido. A atenção não se deve apenas ser voltadas as normas que definem a pena ao delinquente, mas também ao sistema em que é aplicado a pena, pois é onde o indivíduo deve passar a maior parte do seu tempo ​- dependendo da gravidade de seu delito – para pagar o que o mesmo praticou contra a sociedade. 
	Portanto se o Estado continuar negligenciando e fingindo que esse problema não existe, o aparelho de regulação criminal caminhara cada vez mais para a decadência, levando consigo assim a “paz e o bom andamento” da coletividade. A sociedade não deve ver o criminoso com escarnio e repulsa, mas sim de modo que o mesmo pode ser revitalizado para se viver ao meio social, oferecendo assim oportunidades iguais ao mesmo. E com a decisão do STF há de se ver uma luz ao final do túnel, um avanço significativo foi alcançado com a declaração de Estado de Coisa Inconstitucional de modo a pensar que o sistema carcerário pode começar a ter uma visão diferente e otimista.
	 Fazendo valer o papel inicial previsto pela prisão privativa de liberdade, punir e ressocializar o indivíduo. Não impondo assim a desesperança ao criminoso. Como Dante Alighieri discorre: “Ó, vos que entrais, abandonai toda a esperança [...]”, ou seja, a impressão de quem entra no sistema e de que a partir daquele momento não se tem mais esperança de se viver dignamente outra vez. 
Referências Bibliográficas 
CAMPOS, C. A.; Jota Mundo: Estado de Coisas Inconstitucional. Brasilia, 2015. Disponivel em: http://jota.info/jotamundo-estado-de-coisas-inconstitucional Acesso em 28 de maio de 2017
CAPEZ, F.; Curso de direito penal: parte geral. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011
DUARTE, M. F.; Evolução histórica do Direito Penal. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 4, n. 34, 1 ago. 1999. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/932>. Acesso em: 2 de junho de 2017.
FOUCAULT, M.; Vigiar e punir: história da violência nas prisões. 26. Ed. Vozes, 2000
 HORTA, A. C. C. Evolução historica do Direito Penal e Escolas Penais. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, VIII, n. 21, maio 2005. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=514>. Acesso em 24 de maio de 2017.
HIRECHE, G. F. A falência da pena de prisão. In: I Congresso das Américas de Ciências Criminais, 2000. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/54480084/Afalencia-da-pena-de-prisao>. Acesso em: 02 de junho de 2017
JESUS, D. E.; Penas alternativas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
NUCCI, G. S., Manual de direito penal: parte geral: parte especial. 7. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
NUCCI, G. S. Manual de processo e execução penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
RIBEIRO, F. N., A finalidade da pena privativa de liberdade: Ressocializar ou revidar? In: I Simpósio Internacional de Análise Crítica do Direito, 2011, Jacarezinho: Universidade Estadual do Norte do Paraná.	
STF. Supremo Tribunal Federal. Informativo 798. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo798.htm/Sistema carcerário: estado de coisas inconstitucional e violação a direito fundamental >. Acesso em: 25 de maio de 2017.
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. 5. ed. Saraiva: São Paulo. 1994
ANEXOS
Figura 1
* Acadêmico do 2º Período de Direito da Faculdade Integrado de Campo Mourão, Paraná.
Contato: � HYPERLINK "mailto:oliveira232@live.com" �oliveira232@live.com�
** Docente do Curso de Direito da Faculdade Integrado de Campo Mourão, Paraná.
Contato: � HYPERLINK "mailto:brunacastro@grupointegrado.br" �brunacastro@grupointegrado.br�
� PRADO, L. R., Curso de direito penal brasileiro. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2011. V1 
� Nucci, G. S., Manual de direito penal: parte geral: parte especial. 7. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
� Capez, F., Curso de direito penal: parte geral. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011
� Ribeiro, F. N., A finalidade da pena privativa de liberdade: Ressocializar ou revidar? In: I Simpósio Internacional de Análise Crítica do Direito, 2011, Jacarezinho: Universidade Estadual do Norte do Paraná.
� STF. Supremo Tribunal Federal. Informativo 798. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo798.htm/Sistema carcerário: estado de coisas inconstitucional e violação a direito fundamental >. Acesso em: 31 de maio de 2017.

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