Buscar

Globalização, Governança Global e Atores Transnacionais

Prévia do material em texto

Globalização, Governança Global 
e Atores Transnacionais 
TEORIA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS B 
Emílio J. Zeca 
 
Porto Alegre – RS, 25 de Maio de 2017 
Introdução 
• A globalização, governaça global e atores transnacionais são 
fenómenos e conceitos que desafiam as teorias tradicionais 
da Política Internacional e criam novas agendas de pesquisa. 
 
• São fenómenos e conceitos mal entendidos e que não 
conseguiram atingir o status de teoria internacional. 
 
A globalização, governança global e 
atores transnacionais desafiam o 
Sistema Westiphaliano. 
2 
Sistema Westiphaliano 
S
is
te
m
a
 
W
e
st
ip
h
a
li
a
n
o
 Estados Nacionais 
Poder Nacional 
Monopólio da Força 
Ordem e Hierarquia 
Soberania 
Capacidade autonoma de 
exercer o poder denteo das suas 
fronteiras 
Territorialidade Fronteiras Territoriais Físicas 
3 
Globalização e Governança Global 
Michael Zürn 
Principais questões de partida sobre a 
globalização 
O que? Quando Começou? 
Quais são as tipologias? O que fazer? 
Quais são as consequências? Quais são suas características? 
As respostas são diversificadas, tendo em 
conta as diferentes perspetivas teóricas e 
conceptuais. 
5 
Globalização 
• A globalização refere-se ao “conjunto de processos em que 
os povos do mundo são incorporados numa única sociedade – 
sociedade global” (KASSOTCHE, 1999, p. 23). 
 
• A globalização é um processo que consististe na 
“intensificação, à escala mundial, das relações sociais que 
ligam diferentes realidades” (GRAY, 1998, p. 75). 
6 
A globalização refere-se ao 
“processo de incremento de 
interconexões entre sociedades numa 
determinada parte do mundo com 
efeitos em sociedades distantes” 
(BAYLIS & SIMITH, 1997, p. 7). 
7 
Gênese da Globalização 
• Nas principais discussões teóricas, não há consenso quanto 
ao início do fenómeno da globalização. 
 
• As principais discussões sobre o tópico remontam a década 
de 1990 e abarcam períodos curtos. 
 
• A literatura mais recente sobre a globalização é 
confrontada com questões como: “o que há de novo?”. 
8 
PRINCIPAIS CORRENTES DE DISCUSSÃO SOBRE GLOBALIZAÇÃO 
Cépticos Hiperglobalizados Transformacionistas 
As ideias sobre globalização 
são exageradas, porque sua 
teorização são representações 
de posições sobre algo que 
não é realmente novo. 
 
Há uma superestimação de 
fenómenos relativos a casos 
de interconetividade global 
que não são tão inéditos como 
parecem. 
Globalização é um 
fenómeno bastante real 
e poderoso no mundo 
atual. 
 
As consequências da 
globalização podem ser 
sentias em toda a parte, 
ameaçando derrubar o 
papel dos governos 
nacionais. 
Globalização é uma força 
central por trás das mudanças 
que estão moldando as 
sociedades modernas. 
 
Globalização é um processo 
contraditório que envolve um 
vários fluxos multidirecionais 
de influências que às vezes 
funcionam em oposição e 
transformação. 
In. GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6ª Edição. Porto Alegre: Penso Editora, 2012, p. 110-111 
9 
ROTA DA SEDA: 
conjunto de rotas interligadas usadas no comércio da seda entre 
o Oriente e a Europa, por volta de oitavo milénio a.C. 
10 
O comércio triangular envolvia um conjunto de relações comerciais entre 
produtores e distribuidores da Europa, África e América, com carácter 
transcontinental e apoiado em vetores geopolíticos e econômicos. 
11 
13 
Todos estamos hiperglobalizados! 
14 
Globalização e Interdependência 
• A globalização implica a interdependência, mas são 
condições qualitativamente diferentes. 
 
1. Interdependência: dependência mútua assente na crescente 
sensibilidade e vulnerabilidade entre unidades do SI. 
 
2. Globalização: implica muito mais do que apenas a 
interdependência entre unidades distintas. 
15 
Características Dominantes da Globalização 
• Difusão e intensificação de relações políticas, econômicas e 
culturais, através da mundialização. 
 
• Internacionalização de atores, meios de produção, nova 
divisão do trabalho – mercado global. 
Globalização mundializa diversos domínio 
da vida das sociedades: cultural, social 
económica e política. 
16 
• A globalização cria condições para o surgimento de novas 
formas de interconexão de povos e espaços territoriais: 
 
1. Desenvolvimento de mecanismos de Interdependência. 
2. Crescente mediações e conexões de Estados. 
3. Promoção da Paz e Cooperação Internacional. 
4. Emergência de situações de desterritorialização de povos. 
5. Criação de forma de governança global. 
Novas Formas de Interconexões 
17 
1. Interdependência 
• Enquanto a dependência implica situações nas quais um 
sistema é contingente a forças externas, a interdependência 
implica situações de dependência mútua. 
 
• O surgimento do sistema westphalianos tornou os Estados 
cada vez mais interdependentes – Butterfly Effect. 
 
• Exemplo: a segurança nacional dos Estados sempre foi 
dependente das decisões dos governos nos Estados vizinhos. 
18 
1.1. Tipos de Interdependência 
• Interdependência de sensibilidade: tem que ver com 
situações definidas em termos de relacionamento de mútua 
efeitos (Keohane e Nye, Jr., 1977: 12-15) 
 
• Interdependência de vulnerabilidade: tem que ver com 
situações definidas em termos de custos de oportunidade de 
interromper um relacionamento (Keohane e Nye, Jr., 1977: 
12-15). 
19 
2. Desterritorialização da Sociedade 
• O aprofundamento da interdependência integra as 
sociedades e elimina o sentido de fronteiras físicas. 
 
• A globalização cria condições para surgimento da 
sociedade global integrada: diminuição do significado das 
fronteiras físicas nacionais. 
TODAVIA, a globalização não é idêntica 
nem conduz necessariamente à extensão do 
espaço político nem à governança global. 
20 
A globalização pode criar condições para a 
ocorrência de situações de interdependência, 
regionalismo e espaços políticos e económicos 
integrados, possibilitando que Estados nacionais 
possam dar lugar a Estados supranacionais e blocos 
regionais: União Europeia, MERCOSUL, ASEAN, 
NAFTA, SADC – declínio na importância de fronteiras 
físicas nacionais. 
21 
Ameaças Provenientes da Globalização 
• Há um conjunto de ameaças que emergem com o processo 
da globalização: 
 
1. Desregularização dos mercados. 
2. Novas ameaças militares e não militares. 
3. Fragmentação de unidades políticas. 
4. Conflitos Etnopolíticos: irredentismos. 
5. Proliferação de Grupos Terroristas. 
22 
3. Governança Global 
• “Governança refere-se ao conjunto de processos e 
instituições pelos quais a sociedade determina o exercício 
do poder e os seus mecanismos de tomada de decisões, para 
resolver problemas” (DAVID, 2001, p. 343). 
 
• A governança apoia-se em normas e princípios formais e 
informais, ao mesmo tempo que em leis e regras do direito 
estabelecidas. 
23 
No plano internacional, a governança é um conceito 
bastante fluído: 
 
• Governança global é um processo para “regulação, 
mediação, vigilância e legitimação de processos e transações 
globais” (LATHAM,1995, p.14). 
 
• Governança global refere-se a “ações coletivas para 
estabelecer normas e instituições capazes de controlar causas, 
efeitos adversos e problemas nacionais, transnacionais e 
supranacionais” (VÄYRYNEN, 1999, p.25). 
24 
Tradições Teóricas Sobre Governação Global 
Tradição Jurídica Tradição Realista Tradição Liberal Tradição Crítica 
Ligada ao Idealismo, 
postula o direito e 
conjunto de regras 
universaisde 
funcionamento 
aplicadas a todos 
Estados do sistema 
internacional. 
Ligada ao Realismo, 
postula a 
convergência de 
interesses comuns 
como mecanismo de 
criar instituições 
globais. 
Ligada ao 
liberalismo, postula 
que hábitos de 
cooperação criam 
confiança e 
possibilidade de 
criação de 
organismos globais. 
Postula a mudança 
intersubjetiva das 
normas, obrigações 
e deveres da 
sociedade civil 
global emergente. 
NOTA: Embora diferentes, as quatro tradições postulam que a 
governança global resulta da interação entre normas e 
instituições que produzem diferentes tipos de regimes 
25 
Efeitos da Governação Global 
• A governação global cria a supranacionalização, 
transnacionalização e descentralização do Estado nacional, 
criando problemas e desafios: 
Constatação: há deslocamento da autoridade política para 
níveis descentralizados do Estado-nação. 
26 
Principais Desafios da Governança Global 
• A efetivação da governança global traz consigo um 
conjunto de desafios institucionais e normativos: 
 
1. Conformidade e coordenação de políticas globais. 
 
2. A questão da legitimidade das instituições globais. 
 
3. Problema da politização e fragmentação das instituições 
globais devido a interesses particulares e grupais. 
27 
Atores Transnacionais e Política 
Internacional 
Thomas Risse 
Fim da Guerra Fria e Globalização 
• O fim da Guerra Fria e a globalização proporcionaram 
enorme interesse, debates e estudo sobre impacto dos 
atores não-estatais na política mundial. 
 
• As multinacionais e a sociedade civil transnacional global 
passaram a ter uma influência extraordinária no decurso da 
política internacional. 
29 
Relevância do Estudo dos Atores 
Transnacionais 
Os atores transnacionais – corporações 
multinacionais e as organizações não-
governamentais internacionais (ONGIs) – 
têm influenciado a dinâmica do sistema 
internacional o que faz com que não se 
possa teorizar o sistema internacional 
contemporâneo sem levar em conta sua 
influência (RISSE, 2013, p. 426). 
30 
Conceito de Atores Transnacionais 
• Relações Transnacionais referem-se a “interações regulares 
através de fronteiras nacionais envolvendo pelo menos um 
agente não-estatal” (Keohane e Nye, 1971). 
 
• Atores transnacionais são agentes não estatais cujas ações 
singulares ou conjugada possam produzir efeitos e influência 
fora das fronteiras do seu Estado. 
31 
Dimensão Histórica 
• Apesar de alguns teóricos apontaram para o século XIX como 
marco do surgimento de atores transnacionais, estes 
remontam períodos anteriores: 
 
1. Empresas Familiares dos Medici (Século XIV). 
2. Companhia das Índias Orientais (1600). 
3. Companhia Holandesa das Índias Orientais (1602). 
32 
Principais Atores Transnacionais 
• Multinacionais: empresas com sede num Estado e outras 
operações – subsidiárias e sucursais noutros. 
 
• Organizações Intergovernamentais: instituições de 
cooperação inter-estatal criada por Estados soberanos. 
 
• Organizações Internacionais Não-Governamentais: são 
instituições não-governamentais de natureza internacional e 
global atuando como mecanismos de pressão internacional. 
33 
Principais Multinacionais Globais e 
Brasileiras 
POSIÇÃO EMPRESA 
ÍNDICE 
DE 
TRANSNACIONALI
DADE 
1ª JBS 0,589 
2ª Gerdau 0,542 
3ª Stefanini 0,496 
4ª Magnesita Refratários 0,457 
5ª Marfrig Alimentos 0,433 
6ª Metalfrio 0,427 
7ª Ibope 0,364 
8ª Odebrecht 0,349 
9ª Sabó 0,333 
10ª Minerva Foods 0,32 
34 
Atuação dos Atores Transnacionais 
• Alguns atores transnacionais operam globalmente: Igreja 
Católica, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, a Amnistia 
Internacional, General Motors. 
 
• : Outros atores transnacionais concentram-se em uma 
única questão específicacampanha transnacional de 
proibição de uso de minas terrestres ou aquecimento global – 
GreenPeace. 
35 
• As multinacionais são instituições 
transnacionais que atuam de acordo com o 
interesse especial empresarial: mercados 
acessíveis e fatores de produção baratos. 
 
• As organização internacionais não 
governamentais, normalmente, devem atuar 
sem fins lucrativos – atividades em setores 
de ação humanitária. 
36 
Principais Contribuições Teóricas 
• As principais discussões teóricas sobre atores transnacionais 
centram-se nas seguintes contribuições: 
Teoria Década Precursores 
Teoria de Integração Regional 1950 Karl Deutsch e Bela Balassa 
Teoria da Dependência 1960 Ruy Marini, Theotonio dos Santos 
Teoria da Interdependência 1970 Robert Keohane e Joseph Nye 
Teoria da Estabilidade Hegemónica 1980 Neorealistas: Gilpin e Waltz 
Teoria de Redes Transnacionais 1990 M. Keck e Kathryn Sikkink 
Estas ferramentas teóricas são tentativas de explicar como o comportamento e 
ação de atores racionais conduzem à relações transnacional. 
37 
• A teoria da dependência constituiu a primeira 
grande contribuição para explicação das 
relações transnacionais por parte de estudiosos 
latino-americanos, africanos e asiáticos. 
 
• A teoria da estabilidade hegemônica foi a 
principal resposta realista aos argumentos de 
interdependência liberal: conexão original 
entre o transnacionalismo e o fortalecimento 
institucional internacional das entidades 
estatais. 
38 
Papel das Multinacionais nas Política 
Internacional 
• Os teóricos liberais advogam um papel relevante das 
multinacionais, enquanto agentes dinamizadores da 
cooperação e interdependência internacional. 
 
• Os teóricos críticos, particularmente, os “dependistas”, 
sustentam que, as multinacionais estão entre os principais 
culpados de todo o desenvolvimento desigual mundial. 
39 
Principais Considerações 
• Diversas pesquisas contemporâneas reconhecem a influencia 
dos atores transnacionais na política internacional. 
 
• A relevância dos atores transnacionais tem vindo a crescer 
devido a processos de regionalização e globalização. 
 
• Temos que começar a refletir de forma crítica se as ONGs 
são simplesmente “forças do bem” ou “potenciais agentes 
nocivos” à governança nacional e global. 
40 
TAREFA 
•Analise o papel e desafios dos atores 
transnacionais brasileiros na política 
internacional contemporânea. 
35 
Referências Bibliográficas 
• CARLSNAES, Walter; RISSE, Thomas e SIMMONS, Beth. Handbook of 
International Relations. Thousand Oaks-CA: SAGE, 2013. 
 
• BAYLIS, John; SMITH, Steve and OWENS, Patricia. The Globalization 
and World Politics. Oxford: Oxford University Press, Sixth Edition, 
2014. 
 
• DAVID, Charles-Philippe. A Guerra e a Paz: Abordagens 
Contemporâneas da Segurança e Estratégia. Lisboa: Piaget, 2001. 
Muito Obrigado!

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

18 pág.

Perguntas Recentes