Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Dado que a posse se caracteriza com a possibilidade de exercício de algum dos poderes inerentes à propriedade – uso, gozo, disponibilidade –, estes podem se concentrar na esfera patrimonial de uma pessoa ou se dispersar em mais de uma titularidade, quando então todas as pessoas estarão na posse, mas com poderes diversos e, naturalmente, limitados. A primeira hipótese é a do proprietário que detém a coisa, preservando os poderes de uso, gozo e disponibilidade. A segunda ocorre quando o proprietário mantém o direito à substância da coisa, enquanto outrem dispõe do poder de uso ou gozo, como o locatário ou usufrutuário. A propriedade é um direito real que atribui variados poderes ao seu titular. Este poderá transferi-los separadamente ou em conjunto para outrem. Quando alcança a totalidade, transfere-se em realidade o próprio direito de propriedade. Isto ocorre, por exemplo, pelo contrato de compra e venda, quando todos os poderes passam a outrem. Se apenas o uso ou o gozo é transferido, a posse se desmembra: o proprietário detém a posse indireta, “uma espécie de senhorio espiritualizado que não implica um poder físico”, e o usuário, a direta. Na esfera jurídica, assim, a posse pode ser objeto de translação, em meio à dinâmica dos negócios. A distinção entre posse direta, também chamada imediata ou derivada, e indireta ou mediata, aplica-se quando os poderes inerentes à propriedade possuem distintas titularidades. A dicotomia da posse nasce de um fato jurídico, especificamente de um contrato. A dualidade inexistiu no Direito Romano, bem como no ordenamento pátrio anterior ao Código Beviláqua, tendo surgido especialmente para o fim de conferir proteção possessória a todos que detêm algum tipo de poder inerente à propriedade. No usufruto, posse direta é a exercida pelo usufrutuário, que tem o direito de uso e gozo da coisa, enquanto a indireta é a do nu-proprietário, que é dono, mas sem os poderes de utilização. Quando todos os poderes se reúnem na pessoa do proprietário, a posse se apresenta sem qualquer adjetivação, embora alguns prefiram denominá-la posse absoluta ou plena. Na opinião de Darcy Bessone, a classificação não encontra fundamento na teoria de Savigny, nem na de Ihering. Na hipótese de usufruto, perante a primeira, o usufrutuário não teria posse alguma, pois destituído do animus domini. Em relação à de Ihering, para quem a posse é a exteriorização da propriedade, o nu-proprietário não seria possuidor, pois não se apresenta, exteriormente, como proprietário. A posse seria do usufrutuário, que mantém a aparência de dono da coisa. Para Darcy Bessone, como a dupla posse não se enquadra em qualquer das duas teorias, a solução do legislador se funda em conveniência de ordem prática. Tal opinião se contrasta com a de Caio Mário da Silva Pereira, para quem o desdobramento da posse se afina com a teoria de Ihering. Tal afirmativa encontra respaldo na própria definição do art. 1.196, que filia o nosso sistema à teoria objetiva de Ihering. A posse direta, pertencente a quem tem a coisa em seu poder, pode emanar de um direito real ou pessoal. Como exemplo do primeiro caso, temos a posse pignoratícia: o credor detém a coisa dada em garantia (posse direta), enquanto o devedor mantém o direito à substância da coisa (posse indireta). Na exemplificação do segundo, podemos nos valer do contrato de comodato: fisicamente a coisa fica com o comodatário (posse direta), enquanto o comodante conserva o direito real de propriedade. Constituem posse direta, também, a do arrendatário, testamenteiro, depositário, entre outros. Conforme a titularidade do direito correspondente, o possuidor direto pode transferir a sua posse para terceiro, assumindo a condição de possuidor indireto, ao lado de quem lhe transmitiu a posse. Tal fato se dá, quando todos os poderes passam a outrem. Quando o locatário, na forma da lei, subloca ou quando o usufrutuário aluga a coisa, deixam a condição de possuidores diretos e assumem a de possuidores indiretos. Entendimento contrário se revelaria destituído de fundamento, pois não há como se atribuir ao sublocador ou ao usufrutuário-locador a posse direta, quando ambos não detêm a posse em seu poder. Seria pura ficção. San Tiago Dantas preleciona: “O nu-proprietário é possuidor indireto; o usufrutuário é possuidor direto e, por isso mesmo que é usufrutuário, pode dar a coisa em locação. Dando-se em locação, ele se torna possuidor indireto e possuidor direto sendo o locatário e este, pela índole do contrato, pode dar uma sublocação...”. Consoante a disposição do art. 1.198, a posse direta é temporária, seja em razão de um direito real ou pessoal. Entre o possuidor direto e o indireto há uma relação jurídica de natureza transitória, finda a qual os poderes se concentram unitariamente no titular da propriedade. As posses direta e indireta não se anulam; são simultâneas, coexistem, embora diversos os poderes. Ambas, todavia, gozam de proteção possessória. Tanto o locatário quanto o locador, por exemplo, podem se valer dos interditos, com a circunstância de que o locatário poderá exercer tais direitos em face do próprio locador, mas a recíproca não é verdadeira, pois a este cabe apenas a ação de despejo e nas hipóteses previstas em lei. Quanto à relação entre o possuidor direto e o indireto, o art. 1.197 refere-se apenas à hipótese de o primeiro defender a sua posse contra o segundo, mas, de acordo com a interpretação sistemática, havemos de reconhecer ao possuidor indireto a possibilidade de acionar o direto, não a fim de defender a sua posse, mas para recobrar a coisa em poder daquele. No vínculo comodatício, o comodante dispõe de ação de reintegração de posse, caso o comodatário se recuse à entrega do objeto, findo o prazo contratual ou, sendo este por tempo indeterminado, após o prazo da notificação. Observe-se que, in casu, ao possuidor indireto a lei não confere poder para defender a sua posse contra o direto, mas para o fim de concentrar, unitariamente, a posse. a aparência de dono da coisa. Para Darcy Bessone, como a dupla posse não se enquadra em qualquer das duas teorias, a solução do legislador se funda em conveniência de ordem prática. Tal opinião se contrasta com a de Caio Mário da Silva Pereira, para quem o desdobramento da posse se afina com a teoria de Ihering. Tal afirmativa encontra respaldo na própria definição do art. 1.196, que filia o nosso sistema à teoria objetiva de Ihering. A posse direta, pertencente a quem tem a coisa em seu poder, pode emanar de um direito real ou pessoal. Como exemplo do primeiro caso, temos a posse pignoratícia: o credor detém a coisa dada em garantia (posse direta), enquanto o devedor mantém o direito à substância da coisa (posse indireta). Na exemplificação do segundo, podemos nos valer do contrato de comodato: fisicamente a coisa fica com o comodatário (posse direta), enquanto o comodante conserva o direito real de propriedade. Constituem posse direta, também, a do arrendatário, testamenteiro, depositário, entre outros. Conforme a titularidade do direito correspondente, o possuidor direto pode transferir a sua posse para terceiro, assumindo a condição de possuidor indireto, ao lado de quem lhe transmitiu a posse. Tal fato se dá, outrem, sobre uma determinada coisa. Caracteriza-se pelo fato de que apenas uma pessoa dispõe de determinada posse, que poderá ser plena, direta ou indireta. Sobre uma coisa pode incidir mais de uma posse exclusiva, mas cada qual recaindo sobre poder diferente. Se o usufruto possui apenas um titular, a posse correspondente será exclusiva. Posse exclusiva não se confunde com a absoluta ou plena. Esta diz respeito ao conteúdo amplo da posse. Seu titular detém a gama de poderes inerentes à propriedade. Se “A” adquire um imóvel não gravado, podendo exercer todos os poderes inerentes ao domínio, será detentor de uma posse plena.Pelo fato de não partilhar com qualquer pessoa os poderes a sua posse será também exclusiva. Se “ A” adquire a nua-propriedade de um apartamento, assumirá a posse exclusiva, que não será absoluta ou plena, porque não reunirá todos os poderes inerentes ao domínio. À luz da teoria subjetiva de Savigny, a posse deve ser necessariamente exclusiva. Para o jurisconsulto Paulus, a posse não se dividia: “... muitos não podem possuir fisicamente a mesma coisa. É contra a natureza que, quando eu tenha uma coisa, se considere que tu também a tenhas...”. Para outros jurisconsultos romanos, como Trebatius, Sabinus e Julianus, seria possível a posse conjunta sobre uma coisa, mas neste caso uma seria justa possessio e a outra, injusta possessio. Impossível, sim, que todas fossem justa possessio ou injusta possessio. Na prática a hipótese se configurava com os vícios da posse, como no caso de alguém apoderar-se violentamente da coisa, assumindo a injusta possessio, continuando a justa possessio do possuidor prejudicado. Curso de Direito Civil, Direito das Coisas, Vol. 4, Paulo Nader, 2016.
Compartilhar