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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES PROF. VICTOR EDUARDO S. LUCENA E-MAIL: VICTORLUCENA84@GMAIL.COM 2016.2 AULA - II 1. Obrigações e o direito constitucional 2. Conceito e evolução das obrigações 3. Características essenciais e elementos constitutivos 4. O direito obrigacional e seus impactos no direito civil, empresarial e consumerista 1. OBRIGAÇÕES E O DIREITO CONSTITUCIONAL O DIREITO DAS OBRIGAÇÕES À LUZ DO LIBERALISMO Passagem da obrigação pessoal para o sistema de obrigação patrimonial. Antes, o indivíduo respondia pela obrigação contraída com o próprio corpo (Lei das XII Tábuas). O patrimônio do indivíduo passou a responder pelas obrigações por ele contraídas, de forma satisfazer a pretensão econômica do credor. Com o advento do liberalismo, a autonomia privada do indivíduo passou ganhou importância substancial. Houve um tempo no qual as relações privadas eram quase intocáveis. O indivíduo poderia contrair obrigações livremente, sem que houvesse qualquer interferência estatal na sua atuação. A autonomia privada garantia uma esfera de atuação na qual nem mesmo o Estado ou terceiros alheios à obrigação podiam interferir. O CONSTITUCIONALISMO O constitucionalismo foi o movimento que deu força normativa à constituição. Ou seja, a constituição deixou de ser uma mera carta de intenções e passou a ter força de norma jurídica, razão pela qual tornou-se aplicável aos indivíduos e às relações públicas e privadas. No Brasil, a Constituição de 1988 positivou uma série de direitos fundamentais e princípios que têm íntima relação com o direito das obrigações, cujos principais são a dignidade da pessoa humana, o princípio da solidariedade, da livre iniciativa e da função social. A NOVA AUTONOMIA PRIVADA É a Constituição Federal que estabelece os limites da autonomia privada. Vejamos: Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:(...) III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; (...) XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; Assim sendo, a autonomia privada deve ser exercida dentro dos limites constitucionais, ou seja, de acordo com o que apregoa a Constituição Federal. Sob uma nova ótica, a autonomia privada consiste no direito à felicidade através do exercício da liberdade, desde que realizado dentro dos limites impostos pelo ordenamento jurídico civil- constitucional. O DIREITO DAS OBRIGAÇÕES E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL Aplicada ao Direito das Obrigações, a nova autonomia privada pressupõe que o indivíduo pode exercer a sua liberdade de contrair obrigações, mas que, para isso, deve: i) atender o princípio da boa-fé objetiva ii) estar em acordo com a função social A relação obrigacional deixa de ser um simples vínculo entre credor e devedor, uma fotografia tirada do momento da sua materialização. Segundo Chaves e Rosenvald, a nova relação obrigacional: (...) é dada pela vontade e integrada em todos os seus momentos pela boa-fé́, como um modelo de conduta intersubjetiva leal e honesta, que exige das partes uma forma de agir na qual cada parceiro visualize no outro um igual titular de direitos fundamentais. Da mesma forma, a obrigação, por força da função social, não pode causar prejuízos à sociedade, à coletividade ou a terceiros. Tanto a boa-fé objetiva como a função social visam preservar a esfera a liberdade dos indivíduos. Esses dois princípios asseguram que a vontade do mais forte não seja realizada em detrimento da vontade do mais fraco. Notem: Há uma inclinação do Direito das Obrigações em direção ao princípio da solidariedade, ao direito da dignidade e na direção do bem estar social. QUESTÕES RELEVANTES Todos os bens do devedor respondem pelo inadimplemento das obrigações por ele contraídas? É possível - e constitucional - a prisão por não cumprimento de determinada obrigação civil? Como deve ser entendida a dignidade da pessoa humana em relação ao devedor executado? A dignidade do executado pode anular a pretensão do credor? 2. CONCEITO E EVOLUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES CONCEITO DE OBRIGAÇÃO Do latim: ob + ligatio: atar, ligar, unir, impor um determinado compromisso. No sentido jurídico, a obrigação é um vínculo entre pessoas, pelo qual uma assume determinada responsabilidade em favor de outra, vinculando, o devedor, o seu patrimônio à satisfação da pretensão do credor. Segundo Luiz Antônio Rolim, estudioso do Direito Romano, desde a Roma antiga, a obrigação "significa um dever jurídico de caráter eminentemente econômico, uma vez que envolve essencialmente dois sujeitos, sendo um deles o credor, que exige do outro - o devedor - o cumprimento de uma prestação de conteúdo econômico (o pagamento de uma dívida)". ROLIM, Antônio. p, 221. O conceito de obrigação se manteve quase o mesmo com o passar dos anos. Vejamos o posicionamento da doutrina: “obrigação é́ o vinculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra prestação economicamente apreciável”. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 5. “um vinculo jurídico em virtude do qual uma pessoa fica adstrita a satisfazer uma prestação em proveito de outra”. GOMES, Orlando. Obrigações, p. 15. “a obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório (extingue-se pelo cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível”. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, p. 21. "relação jurídica transitória, estabelecendo vínculos jurídicos entre duas diferentes partes (denominadas credor e devedor, respectivamente), cujo objeto é uma prestação pessoal, positiva ou negativa, garantido o cumprimento, sob pena de coerção judicial". FARIAS, Cristiano Chaves de. Curso de direito civil, p. 14. CARACTERÍSTICAS DAS OBRIGAÇÕES: 1. Transitoriedade 2. Vínculo jurídico entre as partes 3. Caráter patrimonial 4. Prestação positiva ou negativa Questão: Considerados o sistema civil-constitucional e os conceitos de obrigação, como deve ser vista a relação obrigacional? Exemplifique. Na relação obrigacional há uma série de direitos e deveres recíprocos entre as partes. (visão de uma relação obrigacional dinâmica) Hoje em dia, fala-se da passagem da obrigação como uma relação estática entre credor (aquele que tem direitos) e devedor (aquele que tem responsabilidades) para a visão do processo obrigacional. No processo obrigacional, ambas as partes têm, em diferentes momentos, direitos e deveres dentro da relação obrigacional. A relação obrigacional tem caráter dinâmico. Exemplo: Contrato de compra e venda. No contrato de compra e venda, de um lado há o comprador, que tem a obrigação de pagar. Do outro, há o devedor, que, logo após o pagamento, tem a obrigação de entregar a coisa. "as obrigações encerram em si verdadeiros processos intersubjetivos que, englobandonormalmente vários poderes e deveres, se desenrolam no tempo, para satisfação do interesse de uma pessoa, mediante a cooperação de outra”. ANTUNES VARELA, Joao de Matos. Direito das obrigações, p. 64. Pode-se dizer que o aspecto dinâmico das obrigações decorre da boa-fé objetiva, que estabelece deveres anexos de conduta às partes obrigadas. Entretanto, não obstante o caráter dinâmico da relação obrigacional, a finalidade da obrigação é a satisfação dos interesses do credor, desde que respeitados os valores constitucionais. EMENTA: ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA. Obrigação de fazer. Outorga de escritura definitiva. Imóvel não desmembrado de área maior onde se localiza. Obrigação das rés realizarem o desmembramento, o que não foi feito. Obrigação como processo. Sentença mantida. Recurso desprovido. (TJ-SP - APL: 00084057020138260066 SP 0008405-70.2013.8.26.0066, Relator: Francisco Loureiro, Data de Julgamento: 09/04/2015, 6ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 09/04/2015) 3. CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS E ELEMENTOS CONSTITUTIVOS Sujeitos (elemento subjetivo) Prestação (elemento objetivo) Vínculo jurídico (elemento imaterial) Assim, a relação obrigacional é composta por: Elemento subjetivo + elemento objetivo + Elemento imaterial. SUJEITOS Na obrigação há dois sujeitos determinados ou determináveis. De um lado, há um sujeito ativo, o credor, titular de um direito subjetivo. Do outro, há um sujeito passivo, o devedor, que tem um dever jurídico. Pode existir pluralidade em qualquer dos polos da relação obrigacional (veremos as obrigações solidárias ativa e passiva) Casos especiais: Incapacidade absoluta: Representação Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. Incapacidade relativa: Assistência Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Possibilidade da existência de entes despersonalizados como sujeitos das obrigações: Condomínios edilícios, massa falida, sociedade de fato, espólio. Os sujeitos das obrigações podem assumir nomenclaturas próprias: Consumidor, locatário, comodatário, vendedor etc. O sujeito da relação não precisa ser determinado no momento do surgimento da relação, mas deve ser determinado. Exemplo: relações ambulatoriais ativas (credor) e passivas (passivas). Pode também haver alteração de sujeitos nas obrigações. Isso ocorre quando da cessão de crédito (art. 286 a 298 CC); da assunção de dívida ou cessão de débito (art. 299 a 303 CC), sub-rogação, novação etc. Pode também haver confusão de sujeitos da obrigação, o que implicará na extinção da mesma (art. 381 CC). PRESTAÇÃO: O objeto jurídico da relação é a prestação, que consiste naquilo que deve ser feito, no ato de entregar a coisa (obrigação de dar), ou no ato de prestar algo (obrigação de fazer ou não fazer), que importa em uma ação ou omissão do devedor. Assim, pode-se dizer que ao dever jurídico (débito) imposto ao sujeito passivo corresponderá um direito subjetivo (crédito) do sujeito ativo. A relação obrigacional reside no elo entre os dois sujeitos da relação. A esse vínculo se dá o nome de "núcleo central da obrigação". O objeto imediato da obrigação é a prestação. O objeto mediato, o bem da vida. O objeto da prestação é a coisa a ser entregue (obrigação de dar) ou a ato a ser prestado (obrigação de fazer). O elemento objetivo da obrigação deve, necessariamente, ter as seguintes características, toas descritas no art. 104 do Código Civil: a) licitude b) possibilidade física e jurídica c) determinabilidade d) patrimonialidade Objeto lícito: O objeto da relação não pode atentar contra a lei. Assim sendo, é nula a obrigação ilícita. Possibilidade física ou jurídica: A impossibilidade física deriva das leis naturais (Exemplo: alcançar a lua com as mãos). A impossibilidade jurídica advém de proibição do ordenamento jurídico (proibição de negociar a herança de pessoa viva). A impossibilidade superveniente não importa na extinção da obrigação. Objeto determinado ou determinável: O objeto ou deve ser determinado, sendo descrita a sua qualidade e quantidade, ou determinável no momento da execução (quantidade e gênero). A indeterminabilidade do objeto acarreta na nulidade da obrigação. Economicidade (ou patrimonialidade): A obrigação deve ser economicamente apreciável, quantificável, ela deve gerar proveito direto ou indireto. A patrimonialidade está presente tanto na prestação como na sanção. VÍNCULO JURÍDICO É o elemento abstrato da relação obrigacional. É o vínculo jurídico que une as partes obrigadas, possibilitando que uma exija da outra o objeto da prestação. O vínculo jurídico dá coercibilidade à relação obrigacional e é ele quem assegura a sujeição do devedor ao credor, possibilitando que este exija em juízo o cumprimento da obrigação por aquele. Note: Mesmo que com a cessão de parcela da sua liberdade, o devedor não é completamente obrigado ao credor. O vínculo que os une é de cooperação, não de subserviência. Há, entretanto, obrigações que não possuem o caráter coercitivo do vínculo jurídico, como, por exemplo, as obrigações naturais. Não cumprida a obrigação, é facultado ao credor ingressar em juízo na busca pelo adimplemento. Prisão civil por dívida Art. 5o, inciso LXVII CF/88: não haverá prisão civil por dividas, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntario e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel. O Brasil é signatário da Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), que veda, no seu art. 7º, qualquer prisão civil, salvo a do devedor de alimentos. O STF já se posicionou contra a prisão civil por dívida (Informativo DTF 531 e RE 466.343). Há a possibilidade de prisão civil do devedor para se garantir os direitos fundamentais do credor? Prisão por alimentos Prisão do descumprimento de ordem judicial por ente público É possível a prisão como medida coercitiva? Segundo Cristiano Chaves, sim. Mas apenas nos casos que envolvem direitos fundamentais extrapatrimoniais. Débito: é uma prestação que deve ser espontaneamente cumprida pelo devedor. É o bem da vida solicitado pelo credor (comportamento de dar, fazer ou não fazer). O cumprimento voluntário e exato da prestação extingue o direito à prestação. Note: O credor não dispõe do poder de exigir o cumprimento, mas tão somente de expectativa do adimplemento por parte do devedor. O devedor possui o dever de prestar. O inadimplemento da obrigação gerará a responsabilidade do devedor. Responsabilidade patrimonial: é a sujeição que recai sobre o patrimônio do devedor como garantia do credor. Deriva do inadimplemento do débito originário. Busca concretizar a pretensão do credor. Assim, na relação obrigacional existem o débito (dever do sujeito passivo para com o sujeito ativo) e a responsabilidade, essa latente, que virá à tona quando do inadimplemento. Outra função da responsabilidade é a de coerção do devedor para que cumpra com a obrigação contraída. Nesse sentido, a responsabilidade visa constranger o devedor a satisfazer a prestação de modo a não causar prejuízo ao outro sujeito da obrigação Veja, pois, que a responsabilidade tem dois vieses: o reparatório e o inibitório. Assim, contraída a obrigação: 1 - surge o direito subjetivo de crédito do credor em face do devedor; 2 - Em caso de lesão a esse direito subjetivo, nasce a pretensão de direito material em favor do credor; Pretensão: A pretensão é o poder de exigir a prestação, inclusive mediante a invasão do patrimônio do devedor e dos corresponsáveis. Vejamos o que nos diz o Código Civil: Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. Não obstante o Código Civil fale que todos os bens do devedor respondem pela obrigação não cumprida, em consonância com os princípios da solidariedade e da dignidade da pessoa humana, há bens que, por regra, não podem ser penhorados e que não respondem pelas obrigações do devedor. Vejamos o Código de Processo Art. 833. São impenhoráveis: I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; Civil: IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2o; V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado; VI - o seguro de vida; VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos; XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da lei; XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra. Antes do advento do Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015), restava, ainda, controvérsia sobre a extensão da responsabilidade sobre os bens do devedor. Tal controvérsia, hoje, inexiste por força do artigo 883. Além disso, a súmula 486 do Superior Tribunal de Justiça também considera como impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros e cuja renda seja revertida em sua subsistência: Súmula 486 do STJ: é impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família. O débito tem finalidade imediata e deve ser voluntariamente adimplido. A responsabilidade patrimonial, de diferente modo, tem finalidade mediata (remota) e vem à tona pelo inadimplemento ou pelo ato ilícito. Chamamos as obrigações que têm finalidade imediata e mediata de obrigações civis ou perfeitas. CASOS ESPECIAIS: Dívida sem responsabilidade: São aqueles casos nos quais pretensão, advinda da relação obrigacional que surgiu validamente, pode ser repelida pelo devedor. Exemplo: Prescrição (art. 193 CC), ou obrigações naturais. Obrigações naturais ou imperfeitas são aquelas despidas de coercibilidade, que não podem ser efetivadas por meio de ação. Responsabilidade sem débito: Há hipóteses nas quais pessoas fora da situação jurídica passiva assumem a responsabilidade pela satisfação da obrigação. Tal situação ocorre, por exemplo, quando o devedor oferece outras garantias, externas ao seu patrimônio, para fortalecer a posição do credor, tais como caução real prestado por terceiro. Nesses casos o terceiro torna-se responsável e passa a garantir o débito contraído pelo sujeito passivo com o próprio patrimônio. Há também casos em que a responsabilidade recai sobre o patrimônio de terceiros por força da lei. É, por exemplo, o caso da desconsideração da responsabilidade jurídica (art. 50 CC). Responsabilidade sem dívida atual: Nesse caso, a responsabilidade do devedor surge antes mesmo da exigibilidade do débito. Exemplo: Fiador, que garante a dívida do devedor com o seu próprio patrimônio. É importante ressaltar que o Supremo Tribunal Federal já se posicionou pela penhorabilidade do bem de família dado pelo fiador como garantia. OUTRAS CARACTERÍSTICAS Vastidão das obrigações: o direito obrigacional tem grande projeção sobre os demais domínios do Direito. Uniformidade das obrigações: existe grande aproximação das obrigações nos diversos sistemas jurídicos. GARANTIAS As garantias constituem substrato jurídico fundamental para o desenvolvimento do crédito. Nos sistemas jurídicos modernos coexistem três tipos de garantias: a pessoal, a mobiliária e a imobiliária. Garantias acessórias: são as garantias do dever de prestação. Objetivam a realização da conduta devida, sob responsabilidade patrimonial mediante o seu descumprimento. Garantias principais: têm em vista a utilidade da prestação. Visam assegurar o bem da vida. TIPOS DE GARANTIA Garantia real: institui a afetação de bens do devedor ou de terceiro (penhor, hipoteca e anticrese) para o pagamento de certas dívidas. Garantia pessoal: institui uma obrigação secundária, assumida por devedor diferente. É um reforço à garantia geral e vincula o patrimônio de terceiros à obrigação do devedor. Nessa hipótese, caso o terceiro satisfaça a obrigação, surge para ele, direito de regresso ou a sub-rogação sobre o devedor primitivo. O mais conhecido exemplo de garantia pessoal é a fiança (arts. 818 e 819 CC) 4. O DIREITO OBRIGACIONAL E SEUS IMPACTOS NO DIREITO CIVIL, EMPRESARIAL E CONSUMERISTA Conforme já visto, o direito obrigacional disciplina três coisas: 1. As relações de trocas de bens; 2. A reparação de danos em sentido estrito; 3. O enriquecimento sem causa. Dessa forma, é fácil perceber que o Direito das Obrigações permeia todas as atividades humanas. Exemplos de aplicação do Direito das Obrigações podem ser verificados nos seguintes casos: Contratos de locação Contratos de compra e venda Relações de consumo (relações jurídicas assimétricas) Poder estatal de cobrar tributos Dever de reparar danos causados Emissão de títulos de créditos Casamento (obrigações conjugais) Obrigações alimentares Morte (testamento, como negócio jurídico unilateral e gratuito, ou até mesmo no próprio Direito Sucessório) Obrigações jurídicas do Direito do Trabalho RELAÇÕES ENTRE O DIREITO CIVIL, O DIREITO EMPRESARIAL E O DIREITO DO CONSUMIDOR Quando da substituição do Código Civil de 1916 pelo Código Civil de 2002, ou seja, da reconstrução do direito privado brasileiro, foram identificados três sujeitos: o civil, o empresário e o consumidor. O legislador brasileiro optou por regular as relações civis e empresariais no Código Civil. As relações consumeristas são reguladas por um microssistema específico, o Código de Defesa do Consumidor. Importante ressaltar que a aplicação das regras às obrigações assumidas dependerá da posição jurídica de cada uma das partes no momento da contratação. Isso porque, devido a dinamicidade da sociedade, um mesmo indivíduo pode ser empresárioem um contrato, consumidor em outra obrigação e civil em uma terceira obrigação. Entretanto, isso não significa dizer que houve a unificação o Direito de Empresa com o Direito Civil. O Direito de Empresa continua autônomo, com regras próprias. Ele apenas utiliza-se do regramento das obrigações civis para ser operacionalizado. Consumidor - Direito ao tratamento diferenciado, por ser sujeito débil, vulnerável, hipossuficiente, da relação obrigacional. (art. 48 do ADCT) O Código Civil cuida das relações obrigacionais entre iguais. O direito do Consumidor objetiva preservar a ordem pública e o interesse social. Relação entre a função social das obrigações e as relações consumeristas. Conceito de consumidor: art. 2º do CDC: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Teorias que buscam definir as relações obrigacionais consumeristas: Teoria finalista e teoria maximalista. Teoria finalista: Consumidor é o destinatário final do produto ou serviço. Segundo essa teoria, o produto ou serviço deve ser "retirado do mercado" pelo consumidor para que a relação seja dita de consumo. Teoria maximalista: Consumidor é o destinatário fático do bem. É irrelevante a destinação final do produto. Considera-se que a teoria finalista (mitigada pela vulnerabilidade) está mais alinhada com a proteção especial do consumidor definida pela CF/88.
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