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1 A TEORIA EVOLUCIONISTA Porque existe um número tão grande de espécies, freqüentemente tão semelhantes entre si que só podem se distinguir aos olhos de um especialista? As espécies se modificaram, ao longo de sua história, por meio de transformações lentas e progressivas, num processo de permanente adaptação às circunstâncias do meio externo. As formas dos vegetais e animais de hoje são originadas de formas anteriores, muitas delas já extintas. EVOLUÇÃO A palavra evoluir tem origem latina, significando literalmente desenrolar, isto é, passar progressivamente de um a outro estado. Aplica-se a inúmeras circunstâncias, como quando dizemos: “a evolução das idéias”, ou “evolução de uma doença”. Aplicada ao estudo dos seres vivos, porém, a palavra evolução tem o significado bem preciso de transformação de espécies vegetais ou animais em novas espécies. Foi o francês Georges-Louis-Marie Le Clerc de Buffon (1707-1788), um grande naturalista, quem primeiro demonstrou a existência de uma série de substituições de espécies ao longo dos tempos. Ele chegou à conclusão de que “a forma da espécie animal não é inalterável. Ela pode mudar e até mesmo transformar-se completamente, acompanhando a mudança do meio onde vive. Um aspecto muito importante da concepção de Buffon é que ele relacionou essas mudanças a alterações ocorridas na conformação geológica dos continentes, tendo sido, pois, o primeiro cientista a contestar a idade atribuída à terra pela Bíblia, admitindo que ela é, na verdade, muito mais antiga. Buffon chegou a comparar a fauna de diversas regiões do planeta, concluindo que a história da Terra compreende diversas etapas geológicas e que o Novo Mundo já esteve ligado ao Antigo. A observação dos fósseis, encontrados em diversos lugares em todo o mundo, constituía, já havia muito tempo, uma fonte de enigmas indecifráveis. Foi Buffon quem apresentou, pela primeira vez, uma teoria transformista unificada da natureza. Seu importante trabalho Épocas da natureza mostra, apoiado na observação dos fósseis e na comparação de animais de diferentes regiões do planeta, que o universo inteiro nasceu de um lento processo de transformação. Foi ele quem, finalmente, abriu para os naturalistas o caminho para a compreensão evolucionista do mundo vivo. O QUE É UMA TEORIA CIENTÍFICA A ciência, aos reunir uma grande quantidade de informações a respeito do objeto de sua pesquisa, ordena-as segundo uma seqüência lógica ou histórica e cria uma teoria 2 explicativa do fenômeno em questão. Para que essa teoria seja válida e aceita pela exigente comunidade científica, é necessário que ela explique o maior número possível de fatos e que não apresente incoerências em si mesma. A teoria científica representa, pois, aquilo que se conhece, em dado momento, sobre um assunto determinado, sobre um assunto determinado. Mas, se surgir outra teoria que explique melhor, ou com maior abrangência, essa mesma questão, a teoria anterior tem que ser abandonada, em favor da segunda. A teoria científica origina-se da observação e experimentação dos fatos e fenômenos da natureza. Os fatos da teoria evolucionista, no entanto, não podem ser submetidos à experimentação de laboratório nem repetidos para verificação – o que também acontece com os fatos astronômicos e históricos. Ela usa outras maneiras para comprovação de suas afirmações, principalmente o recolhimento pelos cientistas de evidências materiais na forma ossos e objetos fossilizados. As únicas alterações de caráter evolutivo que podem ser presenciadas ou experimentadas pelos cientistas são as que ocorrem em pequenos animais invertebrados , que produzem várias gerações por ano, ou melhor ainda, em microorganismos, com várias gerações por dia. DARWIN E A TEORIA DA SELEÇÃO NATURAL Em 1859, o naturalista inglês Charles DARWIN publicou um livro de impacto imediato e gigantesco: Origens das espécies através da seleção natural. Em 1838, Darwin teve a oportunidade de ler o livro de um sociólogo – o reverendo Malthus, intitulado abreviadamente Teoria das populações. Nessa obra era demonstrado que os meios de subsistência na natureza e na sociedade não conseguem crescer na mesma proporção em que se multiplicam as populações. Por conseguinte, se os povos de todo o mundo continuassem a crescer continuamente, deveria ocorrer um colapso, isto é, a fome generalizada. Se isto não ocorria. Dizia Malthus, era devido à existência de limitações naturais (ou sociais, no caso humano) restringindo a natalidade ou a proporção de nascidos que chegam à idade adulta. Seriam, pois, a escassez de alimentos e outras formas de restrições impostas ao ambiente, segundo acrescentaria Darwin, as causas da destruição das formas de vida menos adaptadas, ou menos “aptas”, em favor das que, por alguma singularidade constitucional, fossem mais capazes de se ajustar às peculiaridades ambientais. Darwin imaginou, pois, que a transformação das espécies não seria resultado de um “esforço ativo” da própria espécie no sentido de adaptar-se – como afirmava nessa época Lamarck -, mas sim de um processo de seleção passiva, em que seria viável apenas a forma que melhores condições apresentasse em função das características do meio ambiente. Se essas características mudarem, por força de alterações de clima, de disponibilidade de alimentos ou outras quaisquer, sobreviveriam sempre – e apenas – as espécies mais capazes de aproveitá-las. UMA VISÃO PANORÂMICA SOBRE O SURGIMENTO DO HOMEM NA TERRA 3 Nas últimas décadas, a descoberta de um grande número de antropóides fósseis no leste da África, muitos deles com características “humanóides”, veio trazer novas luzes para a questão da origem do homem. Entre esses fósseis, há várias espécies que apresentam postura ereta permanente, porém um volume cerebral não superior a 500 centímetros cúbicos. Estes são considerados hominídeos, porém não pertencentes ainda ao gênero Homo. Nesse gênero são incluídos apenas os hominídeos de maior capacidade cerebral, sendo que os especialistas divergem quanto a um valor mínimo: 750 centímetros cúbicos, segundo alguns, e 650, segundo outros. O Homo sapiens sapiens, espécie à qual pertencemos e que representa a única sobrevivente do gênero, possui, em média, 1350 centímetros cúbicos, mas esse valor pode variar muito. Na verdade, observa-se um aumento gradual não só do volume, mas também da superfície do cérebro, ao longo da série dos vertebrados, embora o nível de inteligência, dentro de uma mesma espécie, não possa ser deduzido a partir desse parâmetro. Já vimos que as características ambientais – em particular o clima – constituem o principal fator que irá determinar, por meio da seleção natural, a modificação adaptativa das espécies vegetais e animais. Por outro lado, sabemos que a Terra, desde a sua formação, vem sofrendo várias modificações climáticas que fatalmente teriam causado a extinção da vida terrestre se esta não fosse dotada de uma grande plasticidade, no sentido de transformar-se adaptativamente de maneira contínua. As condições vigentes, por exemplo, no Período Carbonífero, há cerca de 300 milhões de anos, seriam totalmente incompatíveis com as formas de vida hoje existentes, devido à sua alta temperatura e às elevadas concentrações de gás carbônico, entre outros fatores. Tais mudanças climáticas progressivas constituíram, pois, ao longo do tempo, o principal fator selecionador das noivas formas que “espontaneamente” foram surgindo, como se tratasse de “experiências novas” realizadas pela natureza. Com relação ao ser humano, disse o antropólogo sul-africano C. K. Brain: “Parece razoável admitir-se que, se não tivessem ocorrido grandes mudanças ligadas à temperatura do ambiente em que viviam os primeiros hominídeos, nós ainda estaríamos ao abrigo de alguma florestaquente hospitaleira, como existiam no Mioceno, vivendo sob as árvores”. De fato, parece que episódios de grande resfriamento do planeta foram acompanhados, sempre, de extinções em massa de espécies e significativas modificações adaptativas. Há cerca de 12 milhões de anos ocorreu na África uma série de importantes modificações na superfície terrestre, as quais teriam desempenhado um papel decisivo no processo de transformações adaptativas de antropóides, levando à formação do homem. Como conseqüência, ainda, do processo de separação dos continentes, iniciado há 200 milhões de anos, grandes deformações de relevo ocorreram na África e na Ásia, como, por exemplo, o levantamento da cordilheira do Himalaia e a abertura de uma enorme brecha, no sentido norte-sul, unto à costa oriental africana, constituindo o Vale do Grande Rift. Essas significativas alterações de relevo, acompanhadas de um resfriamento constante da superfície terrestre, constituíram as causas principais de severas modificações climáticas em toda aquela vasta região. Nessa época, ou seja, há 12 milhões de anos, a maior parte de Europa, da Índia, da Arábia e do oriente africano era coberta por espessas florestas onde viviam, 4 desde os últimos 50 milhões de anos, inúmeras espécies de símios arborícolas. Em conseqüência das transformações climáticas, essas florestas foram se tornando mais rarefeitas, substituídas na maior parte por vegetação mais rala e rasteira. Passaram a predominar as espécies herbáceas e arbustos de menor porte, que vieram a constituir as savanas de hoje. Estas, que atualmente se estendem por grande parte do território africano, não oferecem as mesmas condições de proteção a um animal arborícola. Não há muitos frutos nem grandes árvores onde se esconder e, além disso, constituem um ambiente muito favorável aos grandes predadores, como os leões e outros felinos. UMA NOVA “OPÇÃO” ADAPTATIVA O novo ambiente favorecia particularmente outro tipo de adaptação. Era a situação ideal para um símio capaz de caminhar em pé, pois, além de lhe permitir realizar longas caminhadas à procura de alimentos, proporcionava-lhe a liberação das mãos, que passaram a ser utilizadas em sua defesa, sobretudo com o uso de artefatos que ele começou a elaborar e a empregar com habilidade crescente. Animais com essas características constituíram a família dos hominídeos primitivos, da qual são conhecidos, hoje, vários representantes fósseis (nenhum sobrevivente), principalmente pertencentes ao gênero Australopithecus. O mais antigo deles parece ter sido o Australopithecus afarensis, descoberto há poucos anos na Etiópia. O primeiro espécime encontrado, uma fêmea, foi batizado com o cognome afetivo de “Lucy”. Esses animais teriam vivido na África oriental há cerca de 5 milhões de anos. A partir de Lucy, originaram-se várias outras espécies de Australopithecus. Há cerca de 2 milhões de anos, aquela região da África era habitada por inúmeros hominídeos, que tinham em comum a bipedia e uma notável diferença de talhe entre machos e fêmeas, sendo os primeiros, em média, 30% maiores e 45% mais pesados. Eram animais com uma estrutura social semelhante à dos chimpanzés atuais e sua dentição indica uma alimentação vegetariana, com grande capacidade para trituração, típica de animais que se alimentam de sementes e outras partes fibrosas, mais que de frutos carnosos, como os símios arborícolas. Sua estatura era um pouco mais de 1 metro e seu cérebro tinha cerca de 500 centímetros cúbicos. Também nessa época, 2 milhões de anos, começaram a aparecer, ans mesmas regiões, outros tipos de hominídeos, porém dotados de capacidade cerebral bem maior. São os do gênero Homo, dos quais o mais antigo que se conhece foi denominado Homo habilis, descoberto, em 1960, pelo antropólogo africano Louis Leakey. A capacidade craniana do Homo habilis era de apenas 680 centímetros cúbicos, o que, entretanto, condicionou várias modificações importantes na morfologia e hábitos desses animais. Há cerca de 1,6 milhões de anos, surge um novo personagem nesse cenário. Trata-se do Homo erectus, antigamente conhecido como Pithecantropus erectus, primeiramente descoberto na Ilha de Java. Nos últimos anos, um grande número de esqueletos fósseis dessa espécie tem sido desenterrado na África oriental por Richard Leakey e seus colaboradores. A capacidade craniana do Homo erectus é de 900 5 centímetros cúbicos, e essa espécie, ao que tudo indica, há cerca de 1 milhão de anos começou a espalhar-se pelo mundo. Essas migrações parecem ter tido uma grande influência na evolução do homem, por terem colocado essa espécie primitiva em confronto com diferentes situações ambientais. Particularmente, o contato com o frio, nas grandes glaciações que ocorreram durante o último milhão de anos, deve ter exercido forte pressão no sentido de uma hominização mais rápida. O Homo erectus parece ter sido o primeiro hominídeo a utilizar o fogo. Migrando para regiões frias, aprendeu a viver em cavernas. Dessa espécie ter-se-iam originado diferentes variedades de Homo sapiens, como o neandertalense (antigamente considerado uma espécie diferente, denominada Homo neandertalensis), muito semelhante ao atual, porém mais robusto e que não deixou descendentes. Finalmente, o Homo sapiens sapiens, contemporâneo ao anterior e provável causador da sua extinção, tendo como característica singular uma grande habilidade manual e artística, deixou seus primeiros traços nas cavernas dos Pirineus e outras regiões da Europa e da Ásia, há cerca de 220 mil anos. As relações entre essas diversas variedades de Homo erectus, porém, estão longe de ser bem conhecidas. EXERCÍCIOS: 1) Assinale a alternativa correta. De acordo com as descobertas da arqueologia e da paleontologia, o homo sapiens-sapiens se desenvolveu: a) A partir da criação de uma espécie dotada de capacidades especiais, reproduzidas à imagem e semelhança de formas superiores e sobrenaturais, tendo permanecido estável e imutável através dos tempos com o destino de povoar e dominar o planeta. b) Como a forma mais sofisticada de evolução, sendo, portanto o resultado de um processo contínuo de progresso das espécies em direção a uma forma definitiva e superior de vida biológica, podendo ser tomada como modelo do projeto evolutivo pelo qual todas as espécies devem passar. c) A partir de transformações anatômicas sucessivas e formas de adaptação ao meio e às demais espécies, pertencendo a um grupo de espécies que desenvolveram uma capacidade simbólica como instrumento adaptativo e de organização das relações com o ambiente e com os demais indivíduos da espécie. d) A partir da evolução casual e súbita de uma família de símios que começou a gerar uma prole com cérebro avantajado e a postura ereta. e) Como resultado de uma evolução prevista, pois nenhuma outra espécie teria tido capacidade de desenvolver raciocínio, postura ereta e comportamento modelável pela cultura. 2) Entre as características de comportamento que estão associadas à nossa evolução para o humano, é ERRADO afirmar que foram determinantes: a) A capacidade de cooperar, a linguagem e a transformação da natureza. b) A acumulação de conhecimentos e a plasticidade de comportamento. 6 c) A aquisição da postura ereta, o polegar opositor que capacita habilidades manuais e a caixa craniana em aumento progressivo. d) A sociabilidade, a socialização e a simbolização. e) Os instintos, a dificuldade de adaptação a novos meios, uma prole biologicamente evoluída. 3) A respeito do evolucionismo, podemos afirmar que: a) Os evolucionistas e antropólogos encaram a espécie humana como um exemplo especial da evolução uma vez que as outras espécies vivas evoluem muito mais lentamente pelo fato de não terem desenvolvido um cérebro equivalente ao nosso.Isso permitiu que nossa espécie sofresse modificações que dificilmente serão igualadas por qualquer outro ser vivo. b) Segundo o evolucionismo, todas as espécies conseguem evoluir, portanto não existe possibilidade de mudança na quantidade de espécies existente, e sim na sua condição biológica que sofre alteração a cada passo da evolução. c) A busca de restos humanos pré-históricos nos obrigou a considerar a evolução da espécie humana como outro animal qualquer. Além disso, segundo essa teoria todas as espécies vivas são fruto de uma longa e lenta evolução, não apenas o ser humano. Devemos então compreender que o processo da vida é evolutivo, inacabado e sem um objetivo ou plano pré- definido. d) Para os evolucionistas, todo organismo EVOLUI. Evolução para eles significa que todas as espécies que evoluem se tornam necessariamente melhores, mais fortes e com organismos superiores aos que tinham há milhares de anos atrás. e) Segundo o evolucionismo, apenas as espécies superiores evoluem, enquanto as inferiores acabem sofrendo extinção. 4) Há muitas teorias que tentam sustentar a idéia de que a capacidade de agir culturalmente não faz parte de uma evolução, mas de uma prova de superioridade da espécie humana. Uma dessas teorias é a do “Ponto Crítico”, ou seja, que teria acontecido um “momento mágico” e não como conseqüência de uma evolução. Então, a partir desse momento teríamos sido subitamente capazes de pensar, falar, articular idéias e memória, enfim, adquirido todas as nossas habilidades humanas. Segundo LARAIA, Roque de Barros no capítulo “Idéia sobre a origem da cultura”, in CULTURA - Um Conceito Antropológico, a “Teoria do Ponto Crítico” pode ser: a) considerada errada, pois trata-se de uma tentativa de nos diferenciar dos macacos através da idéia segundo a qual o ponto critico foi uma exclusividade de nossos antepassados, que não seriam da mesma família que os símios. b) considerada errada, pois trata-se de uma impossibilidade científica, dado o fato que os vestígios da evolução demonstram que a natureza não age por saltos, e sim através de um longo e lento processo de pequenas modificações. c) considerada correta, uma vez que é a única forma de darmos uma explicação para o fato de que os macacos não evoluíram, e tendo passado pelo ponto crítico, o ser humano adquiriu habilidades superiores de uso dos membros e do cérebro. d) considerada correta, pois é comprovada cientificamente através de provas arqueológicas; foram descobertas duas gerações sucessivas de restos humanos, em que a mais antiga se 7 assemelha mais a um macaco, e a geração seguinte já possui a nossa estrutura anatômica atual; portanto não houve evolução. Nossa espécie “surgiu” assim. e) considerada ultrapassada, pois hoje já sabemos que não houve apenas um ponto critico, mas vários momentos críticos; primeiro aquele em que fomos capazes de andar na postura ereta, e usar as mãos com habilidade, depois o momento em que adquirimos a capacidade da fala e da comunicação, e finalmente o momento em que passamos a viver em grupos com diferentes culturas. 5) Entre as características que definem e marcam as especificidades da espécie humana em comparação com as outras que nos cercam, podemos apontar: a) Organiza agrupamentos de indivíduos que definem formas coletivas e ordenadas de práticas, pensamento, comportamento, convivência e sobrevivência. b) É uma espécie que dependeu das características biológicas para definir a Humanidade. A única diferença entre o Humano e as outras espécies, pode ser resumida à evolução biológica de um cérebro capaz de efetuar operações complexas. c) Define-se coletivamente dentro de grupos que seguem a mesma história e que não se importam com as diferenças entre as diversas sociedades e culturas existentes. d) Trata-se de uma espécie que tem garantido em sua carga genética a capacidade de aprendizado e socialização, reproduzindo através do tempo sempre as mesmas respostas às mesmas necessidades. e) Enquanto as outras espécies tiveram pouca evolução cultural, a espécie humana teve pouca evolução biológica. Isso nos faz uma espécie diferente das outras. 6) Ao afirmar que “a cultura é produto do humano mas o humano é também produto da cultura”, GEERTZ citado no texto de Guerriero, S. “As origens do humano”, procura defender as seguintes idéias: a) Reflete sobre as diferenças entre ser humano e natureza; propõe que o humano produz cultura porque não evoluiu naturalmente. b) Propõe pensar que a cultura é produzida pelo ser humano, o que nos torna uma espécie diferente das outras; ao produzir cultura é que nos tornamos humanos. c) Defende a idéia de que não produzimos nada sem uma razão, portanto para existir cultura teve que se produzir o ser humano. d) A evolução é um processo contínuo, linear, cujo nível de complexidade caminha do mais simples ao mais elaborado, portanto ao produzir cultura o ser humano adquire uma posição superior em relação às outras espécies animais, incapazes de atingir essa evolução. e) Que nossa espécie produz cultura humana, enquanto outras produzem tipos de cultura diferentes; ao longo da evolução a produção da sobrevivência capacitou cada espécie para se diferenciar dos seres humanos. 7) Leia o texto abaixo e assinale abaixo a alternativa INCORRETA: “Apoiando o criacionismo está a fé religiosa que é baseada nos textos bíblicos. O evolucionismo é apoiado em evidências cosmológicas, geológicas, arqueológicas, paleontológicas e antropológicas. Sua negação envolve a recusa em aceitar uma boa parte das ciências naturais, principalmente as descrições da história do planeta e da vida. A teoria 8 evolucionista naturaliza o homem concebendo-o como parte imanente e contingente de um processo mais amplo e global. O criacionismo lhe atribui uma origem transcendental e necessária através do sopro da vontade divina”. a) O criacionismo e o evolucionismo baseiam-se nas mesmas fontes de explicação sobre a origem do universo e do homem; b) O ato divino, segundo o criacionismo, é o que explica a origem do homem e de todas as formas vivas na natureza; c) O evolucionismo tem como base provas científicas que biólogos, paleontólogos, geólogos e antropólogos encontram em suas pesquisas; d) O evolucionismo explica a origem do homem a partir da evolução de formas de vida (espécies) menos complexas da natureza. 8) A explicação evolucionista mais aceita sobre a origem geográfica do ser humano afirma que: a) Nossa espécie teve origem de algumas famílias de macacos da África, e só mais tarde surgiram os primeiros hominídeos no Norte (Europa) e Oriente Médio; b) Somos originários da Europa, por isso durante muito tempo ela foi chamada de o “velho continente”; dali partiram as correntes migratórias humanas para o resto do globo. c) O ser humano teria surgido ao mesmo tempo em dois pontos do globo - África e Europa - tendo se dispersado pelo resto do mundo a partir das eras glaciais; d) O ser humano teve origem de algumas famílias de hominídeos africanos que se dispersaram pelo globo em busca de alimento, adquirindo características locais em conseqüência da adaptação a diferentes ambientes. 9) As principais vertentes atuais de explicação sobre a origem humana são respectivamente: a) A evolucionista que defende que viemos dos macacos, a funcionalista que defende que nossa espécie cumpre a função de manter a evolução e a criacionista, baseada em um conjunto de evidências sobre a criação da nossa espécie por um ser superior; b) A criacionista que defende que somos criados pelos macacos, a evolucionista que afirma, baseada em evidência, que somos fruto de uma evolução crítica, e a estruturalista, responsável pela afirmação que nossa estrutura biológica foi favorecida por eventos climáticos; c) A evolucionista,baseada em um conjunto de evidências que sugerem que somos fruto de uma evolução que partiu dos símios, e a criacionista, baseada em um conjunto de dogmas e crenças que partem da idéia de um ser superior que criou a vida humana exatamente como ela é hoje, e procuram na ciência um embasamento para essa afirmação; d) A científica, representada pela teoria do ponto crítico, e as religiosas representadas pelo evolucionismo teológico. 10) Segundo a teoria evolucionista: a) A espécie humana é uma das mais antigas existentes no planeta, tendo surgido praticamente no momento em que nosso planeta resfriou o suficiente para permitir a existência de uma imensa diversidade biológica; b) A espécie humana evoluiu de antepassados que foram adquirindo lentamente capacidades que os diferenciavam de um ancestral comum aos macacos, e nessa cadeia evolutiva podemos encontrar as famílias de Australopithecus, os Homo Habilis e os Homo Erectus; c) Cada espécie surgiu em um determinado momento, de acordo com a maior capacidade de sobreviver naquele ambiente; assim, nossos antepassados humanos tiveram que conviver com 9 mamíferos como os dinossauros, pois ambos necessitam do mesmo tipo de condição climática e ambiental; d) Evoluir é uma medida de superioridade de uma espécie. Assim, todas as espécies que sobreviveram à extinção podem ser consideradas melhores que seus antepassados. O melhor exemplo disso é o ser humano. 11) Ao adquirir cultura, podemos dizer que o homem: a) Não perdeu a propriedade animal, geneticamente determinada, de repetir os atos de seus antepassados; b) Desenvolveu a propriedade animal, de repetir os atos de seus antepassados, com a necessidade de copiá-los e sem se submeter a um processo de aprendizado; c) Manteve intacto o processo de transmissão de conhecimento determinado pela genética aos seus descendentes; d) Perdeu a propriedade animal, geneticamente determinada, de repetir os atos de seus antepassados, sem a necessidade de simplesmente copiá-los e passou a se submeter a um processo de aprendizado que é cultural; e) Sofreu uma mutação biológica que o possibilitou a alterar geneticamente a sua mente. 12) Podemos explicar o surgimento da postura ereta nos ancestrais humanos com a afirmativa que: a) A postura ereta foi adotada como resposta a uma transformação ambiental no continente africano, que se tornou mais seco (savanas). Resultou daí uma escassez de alimentos, e a postura ereta foi a que se mostrou mais eficiente para buscar e transportar alimentos a grandes distâncias; b) A postura ereta foi adotada como resposta a uma pressão ambiental. Devido ao estremecimento das placas tectônicas abaixo do continente ocorreu uma glaciação que resfriou todo o território africano, resultando na falta de alimentos, que forçou o hominídeo a caminhar longas distâncias carregando os vegetais que encontrava; c) De acordo com os cientistas, essa postura resulta da necessidade de combater a violência que outros grupos de hominídeos impunham ao ancestral humano. Essa teoria, chamada Teoria do Símio Assassino, é a que melhor explica, inclusive, o surgimento da humanidade; d) O desenvolvimento da postura ereta ou bipedismo se explica como resultado de uma mutação genética já esperada num plano genético previamente traçado para esta espécie. Não houve grande peso dos fatores ambientais nesse caso; e) A postura ereta foi uma exigência para que pudéssemos evoluir e nos diferenciar dos macacos; sendo mais inteligente, o ser humano pode perceber desde o início que permanecer em pé era uma vantagem. 13) Entre as características físicas que são importantes peculiaridades na evolução de nossa espécie, podemos citar: a) A posição do polegar opositor, a postura ereta, a dimensão da caixa craniana e a visão estereoscópica; 10 b) O uso do pensamento, a laringe que possibilitou a fala, as características pessoais e a capacidade de sobrevivência em qualquer meio ambiente; c) As habilidades manuais, o olfato aguçado, a fala simbólica e o crânio modesto; d) A postura bípede, a gestação de nove meses, o uso do símbolo para comunicação e o cérebro evoluído; e) A coluna ereta, a postura bípede, a liberação dos membros superiores e a sustentação nos membros inferiores. 14) Sobre a evolução da espécie humana, podemos afirmar que: I. O desenvolvimento de habilidades físicas e intelectuais na espécie humana deve-se principalmente ao fato de nossa hereditariedade garantir aos novos membros da espécie características vantajosas como a capacidade intelectual e do uso da razão, bem como habilidades motoras como o polegar opositor. II. Nossa evolução deve-se ao mesmo tempo a fatores de três ordens diferentes: às respostas do nosso organismo às demandas impostas pelo meio ambiente, às demandas coletivas desenvolvidas por nossa característica gregária e às lentas modificações físicas que disso se sucederam. III. O desenvolvimento de um cérebro maior, da postura ereta e o surgimento do polegar opositor foram fatores determinantes para que nossos ancestrais tivessem sobrevivido. Entretanto, os biólogos não admitem que essas sejam características que nos atribuam superioridade em relação aos outros seres vivos. IV. De acordo com a teoria evolucionista, a espécie humana teve origem ao mesmo tempo em todos os continentes. Isso explica o fato de que em cada lugar encontramos características biológicas diferenciadas como a cor da pele, dos olhos, estatura média do grupo e assim por diante. a) Estão corretas as alternativas I, II e IV; b) Estão corretas as alternativas II, III e IV; c) Estão corretas as alternativas II e IV; d) Estão corretas as alternativas I, II e III; e) Estão corretas as alternativas II e III. 15) O comportamento humano se diferencia do comportamentos das demais espécies, principalmente porque: a) Não possuímos mais instinto animal; b) Ao invés do instinto, o que predomina no comportamento humano é a cultura; c) Além do instinto, possuímos a capacidade de dominar as outras espécies; d) Nosso instinto está baseado na existência da linguagem e do estabelecimento de regras de comportamento coletivo; e) Nosso comportamento é imprevisível, e em alguns momentos se baseia totalmente na cultura, enquanto em outros podemos ver que somos bastante intuitivos. 11 TRANSIÇÃO PARA A HUMANIDADE Clifford Geertz O problema da ligação entre o homem e os restantes animais tem sido tema constante nas ciências humanas. A partir de Darwin, deixou-se praticamente de duvidar da existência de tal relação. Mas no que respeita à natureza dessa relação e especialmente ao seu grau, o debate tem sido muito mais amplo e não completamente esclarecedor. Alguns estudiosos, em particular aqueles que se dedicam às ciências biológicas – zoologia, paleontologia, anatomia e fisiologia -, revelaram a tendência de dar demasiada ênfase ao parentesco existente entre o homem e aquilo a que nos damos o luxo de chamar animais inferiores: consideram a evolução como um fluxo relativamente ininterrupto do processo biológico, e têm a tendência a olhar para o homem apenas como uma das mais interessantes formas em que a vida se manifesta, tal como fazem com os dinossauros, com os ratos brancos e com os golfinhos. O que lhes prende a atenção é a continuidade, a unidade de todo o mundo orgânico, a generalidade incondicional dos princípios sob os quais ele próprio se forma. No entanto, se bem que os estudiosos das ciências sociais – psicólogos, sociólogos, especialistas em ciências políticas – não neguem a natureza animal do homem, revelaram a tendência de considerá-lo único no seu gênero, diferente, como às vezes eles mesmos dizem, não só de “grau”, mas também de “qualidade”. O homem é um animal que consegue fabricar ferramentas, falar e criar símbolos.Só ele ri; só ele sabe que um dia morrerá; só ele tem aversão a copular com sua mãe ou sua irmã; só ele consegue imaginar outros mundos em que habitar (chamados religiões por Santayana) ou fabricar peças de barro mentais (a que Cyril Connolly chamou arte). Considera-se que o homem possui, não só inteligência, como também consciência; não só tem necessidades, como também valores, não só receios, como também consciência moral; não só passado, como também história. Só ele – concluindo à maneira de grande sumário – possui cultura. A conciliação desses dois pontos de vista não tem sido fácil, especialmente numa disciplina como a antropologia, que, pelo menos nos Estados Unidos, sempre se tem relacionado com ambos os campos. Por um lado, os antropólogos têm sido os principais estudiosos da evolução física dos seres humanos; seguiram os vestígios das etapas no decurso das quais surgiu o homem moderno destacando-se da categoria geral dos primatas. Por outro lado, os antropólogos têm sido os estudiosos por excelência da cultura, mesmo quando não sabiam exatamente o que exprimir por esse termo. Ao contrário do que acontecia com alguns biólogos, não podiam ignorar a vida cultural do homem, situando-a no domínio das artes, para lá dos confins das ciências. E ao contrário de alguns especialistas das ciências sociais, não podiam igualmente menosprezar a história física do homem como irrelevante para a compreensão de sua condição atual. A consequência de tudo isso é que o problema da origem da cultura – pouco importa as vezes em que foi ignorado por se considerar pouco importante, ou que se ridicularizou considerando-o sem solução – tem chamado cada vez mais a nossa atenção à medida que, fragmento após fragmento, se foi reconstruindo o processo da evolução do Homo sapiens. 12 Durante a última metade do século XIX, a solução que prevalecia quanto ao problema da origem da cultura foi o que poderia chamar de teoria do “ponto crítico”. Esse termo, que foi adotado pelo decano da antropologia norte-americana, Alfred Kroeber, postula que o desenvolvimento da capacidade de adquirir cultura foi uma conquista repentina, de um momento para outro, tipo salto quântico, na filogenia dos primatas: num dado momento da história da hominização – isto é, da “humanização” de um ramo da linha dos primatas – se produziu uma alteração orgânica prodigiosa ainda que provavelmente pequena em termos genéticos ou anatômicos. Esta modificação, que se poderia supor ter tido lugar na estrutura cortical, tornou possível que um animal cujos progenitores não tinham conseguido um desenvolvimento superior, se tornasse apto, segundo as palavras de Kroeber, “a comunicar, aprender, ensinar, generalizar a partir de uma ínfima cadeia de sentimentos e atitudes diferentes”. Com ele começaria a cultura e, uma vez iniciada estabelecer-se-ia sobre o seu próprio curso de tal modo que o seu desenvolvimento seria completamente independente da ulterior evolução orgânica do homem. Todo o processo de criação da capacidade do homem moderno de produzir e de utilizar a cultura foi definido como uma transformação quantitativa marginal que deu lugar a uma diferença qualitativa radical. Kroeber empregou o exemplo do congelamento da água, cuja temperatura se pode reduzir grau a grau sem que o líquido perca fluidez até que, de repente, se solidifica a 0° C. Outro antropólogo comparou o pro cesso ao decolar de um avião que vai aumentando de velocidade ao longo da pista até chegar ao momento em que começa a voar. Um antropólogo físico, ao criticar essa noção, referiu-se-lhe sucintamente apresentando o esquema do aparecimento do homem como uma promoção militante, “como se tivesse sido de repente promovido de coronel a brigadeiro”. A humanidade do homem, tal como o fogo no fósforo, começou a existir repentinamente. Foram três as considerações fundamentais que conduziram a essa opinião geral e lhe serviram de apoio. Em primeiro lugar havia o enorme abismo aparente entre as capacidades mentais do homem e as dos seus parentes vivos mais próximos, os grandes símios. O homem pode falar, fazer símbolos, fabricar ferramentas, etc. Nenhum outro animal contemporâneo pode sequer aproximar-se de tais conquistas. Um casal de primatólogos impôs-se a tarefa de levar a cabo a heróica experiência de criar um chimpanzé no seu lar como se tratasse de um irmão adotivo da sua filha, oferecendo-lhe, dentro das medidas do possível, a mesma educação e atenção que à criança. No entanto, apesar do animal ter aprendido um grande número de coisas bem insólitas para um chimpanzé – tais como manipular uma pistola de água, abrir latas com um abridor e, num momento culminante, puxar um brinquedo imaginário com uma corda também imaginária, nem começou a aprender a falar. Sendo incapaz de falar, depressa foi ultrapassado pela sua irmã humana, a qual se pode supor terá continuado a avançar até chegar a elaborar complexas teorias sobre a unicidade da condição humana. Em segundo lugar, a linguagem, a simbolização, a abstração, etc., pareciam ser, do ponto de vista puramente lógico, assuntos de extremos, ou sim ou não. Fala ou não fala, fabrica ou não fabrica ferramentas, imagina demônios ou não os imagina. As meias religiões, meias artes, meias línguas não podiam sequer ser concebidas, uma vez que o processo essencial que está por detrás destas capacidades – isto é, a 13 imposição à realidade de uma estrutura arbitrária de significado simbólico – não constituía o tipo de atividade de que existissem versões parciais. O progresso, desde a atividade reflexa simples até ao pensamento simbólico, foi considerado como uma série de saltos e não como um continuum ascendente. Entre a concepção da relação natural nuvem escura-chuva até ao estabelecimento da relação arbitrária nuvens escuras/desespero não havia, segundo se cria, etapas intermédias. E, em terceiro lugar, havia o problema ainda mais delicado daquilo a que comumente se conhece pela “unidade psíquica da humanidade”. Isto está relacionado com a tese – que pouquíssimos antropólogos atualmente põem em dúvida – de que não existem diferenças importantes na natureza do processo do pensamento entre as diferentes raças humanas atuais. Supondo que a cultura surgiu plenamente desenvolvida num dado momento, e no período anterior ao início da diferenciação racial, então esta tese fica implicitamente demonstrada por dedução. Defender a possível existência de diferenças históricas entre as diferentes espécies de hominídeo – ou seja, entre as diferentes classes de “homens”, atuais e extintos – parecia apoiar a citada afirmação relativamente às diferentes raças do homem moderno. Uma vez que a evidência empírica contradiz de forma redundante as tais diferenças entre os diferentes grupos do Homo sapiens, a hipótese parecia refutada de antemão. Assim, a psicologia comparada, a semântica e a etnologia convergiam no apoio à teoria do “ponto crítico” da origem da cultura. Apesar disso, havia um ramo da antropologia que não conduzia ao mesmo resultado: a paleontologia humana, isto é, o estudo da evolução humana através da descoberta e análise de restos fósseis. Desde que o estranho médico holandês Eugene DuBois encontrou o casco do crânio do Pithecanthropus erectus, o “homem-símio ereto”, num leito fluvial de Java em 1891, a antropologia física tem acumulado sem cessar provas que tornam cada vez mais difícil traçar uma linha definida entre o homem e o não-homem sob o ponto de vista anatômico. Apesar de algumas tênues tentativas de estabelecer um “Rubicão cerebral” – um tamanho cerebral crítico, a partir do qual nasce já desenvolvida a capacidade de se comportar corretamente de modo humano, como Atenas da fronte de Zeus -, as descobertas paleontológicas suavizaram, fragmento de fóssil após fragmento, a curva da ascendência do homem, até ao ponto em queas simples afirmações sobre o que é humano e o que não o é, tomaram um lamentável ar de arbitrariedade. As mentes e almas humanas surgirão ou não de modo gradual; mas já não há dúvida que com os corpos é assim que acontece. As descobertas de fósseis que maior perplexidade causaram, neste sentido, foram as dos vários tipos de “homens símios” australopithecus que têm vinso a aparecer na África meridional e oriental desde quem em 1924 Raymond Dart desenterrou o primeiro no Transval. E de fato, estes fósseis cuja idade oscila entre 750.000 e 1.750.000 anos, são as descobertas mais importantes da história da paleontologia humana: mostram um contrastante mosaico de características morfológicas primitivas e avançadas, cujos traços mais particulares são a formação da pélvis e da perna assustadoramente parecida com a do homem moderno, e uma capacidade craniana pouco maior que a dos grandes símios atuais. A tendência inicial foi considerar esta desconcertante conjugação num mesmo animal de um sistema locomotor bípede “semelhante ao do homem” e de um cérebro “semelhante ao dos símios”, como indício de que os australopithecus constituíam uma linha de 14 desenvolvimento aberrante, mal-aventurada, separada tanto da linha humana como da dos grandes símios: era preferível ser completamente macaco a ser meio-homem, como disse uma vez Ernest Hooton. Mas o consenso atual é de que representa as mais antigas formas conhecidas do processo evolutivo, as quais, com o andar dos tempos, deram origem ao homem moderno a partir de algum tronco símio geral. Estes estranhos semi-homens constituem as raízes da nossa humanidade. O nosso interesse pelos australopithecus deriva de suas implicações com a teoria do “ponto crítico” da origem da cultura. Estes proto-homens semi-eretos, de cérebro pequeno, cujas mãos estavam livres das funções de locomoção, fabricavam ferramentas e é provável que tenham caçado animais pequenos. Mas é bastante improvável que tenham tido uma cultura desenvolvida comparável, digamos, à dos aborígines australianos, ou que possuíssem uma língua, no sentido moderno do termo, contando com um cérebro cujo tamanho era apenas um terço do nosso. Ao que parece no australopithecus temos um tipo de “homem” que era evidentemente capaz de adquirir alguns elementos de cultura (fabricação de ferramentas simples, caça periódica, e talvez algum sistema de comunicação mais avançado que o dos grandes símios atuais e menos avançado do que a língua verdadeira), mas apenas estes - situação esta que projeta como que uma sombra sobre a teoria do “ponto crítico”. Aquilo que parecia pouco provável, ou mesmo logicamente impossível, surge como empiricamente certo: tal como no homem, a capacidade de adquirir cultura apareceu contínua e gradualmente, pouco a pouco, durante um período de tempo bastante longo. Mas a situação é ainda mais desesperada, porquanto se os australopithecus possuíam uma forma de cultura elementar (aquilo a que um antropólogo chamou de “protocultura”), com um cérebro cujo tamanho era apenas um terço daquele do homem moderno, daqui se infere que a maior parte da expansão cortical humana seguiu, e não precedeu, o “início” da cultura. Na teoria do ponto crítico considerava-se o homem já mais ou menos completo – pelo menos neurologicamente – antes de se iniciar o desenvolvimento da cultura, uma vez que a capacidade biológica de adquirir cultura era uma questão de tudo ou nada. Uma vez alcançada totalmente essa capacidade, o resto foi uma mera adição de novos costumes e aperfeiçoamento de outros mais antigos. A evolução orgânica teria prosseguido até chegar a certo ponto, e então, uma vez franqueado o “Rubicão cerebral”, teria se iniciado a evolução cultural, processo autônomo por si só, e independente de ser ou não produtor de alterações posteriores no sistema nervoso. O fato de assim não ter acontecido, segundo se julga, do desenvolvimento cultural se verificar muito antes de terminar o desenvolvimento orgânico, tem uma importância fundamental para a nossa noção da natureza do homem. Ele converte-se agora, já não só no produtor da cultura, mas também, num sentido biológico específico do termo, no seu produto. Isto assim é porque as pressões do padrão de seleção durante as fases finais da evolução do animal humano eram parcialmente determinadas pelas fases iniciais do desenvolvimento cultural humano, e não simplesmente por fatores do meio ambiente natural. A dependência do fabrico de ferramentas, por exemplo, confere maior importância tanto à destreza manual como à previsão. Numa aldeia de australopithecus, um indivíduo um pouco mais dotado dessas características teria uma vantagem seletiva sobre outro indivíduo um tanto menos dotado. A caça de pequenos 15 animais, com o uso de armas primitivas, requer – entre outras coisas – grande persistência e paciência. O indivíduo que possuísse em maior grau estas sóbrias virtudes teria vantagem sobre outro mais inconstante e menos dotado. Todas estas capacidades, aptidões ou disposições dependem, evidentemente, do sistema nervoso. Deste modo, a introdução da elaboração de ferramentas e a caça devem ter atuado de tal modo que as pressões de seleção modificaram-se e favoreceram o rápido crescimento do cérebro anterior, assim como, muito provavelmente, determinaram os progressos na organização social, comunicação e normação moral, que - tudo leva a crer – teriam tido lugar durante este período de inter-relacionamento entre a transformação biológica e a cultural. Como é natural, grande parte das conjeturas neste campo são de índole especulativa e estamos mais começando a formular questões do que a contestá-las. Assim por exemplo, o estudo sistemático da conduta dos primatas sob condições naturais descrito por De Vore, e que tem atualmente um grande impacto nas nossas concepções da vida social do homem primitivo, tem, salvo raras exceções, uma escassa década. O arquivo de fósseis aumenta de dia para dia e os processos de determinação cronológica são aperfeiçoados com tal rapidez, que só os imprudentes tentariam estabelecer opiniões definitivas sobre determinadas matérias. Mas, deixando de lado pormenores, provas e hipóteses específicas, verificamos que o ponto essencial é que a constituição inata, genérica do homem moderno (aquilo a que, de uma maneira mais simples, se costuma chamar de “natureza humana”) parece ser um produto tanto cultural quanto biológico. “Seria provavelmente mais correto – escreveu o antropólogo físico Sherwood Washburn – considerar uma grande parte da nossa estrutura física como resultado da cultura, em vez de imaginar homens iguais a nós do ponto de vista anatômico, e descrever, assim, a cultura lentamente”. A expressão “o homem faz a si próprio” tem atualmente um significado mais literal do que antes se supunha. A era glacial - com suas rápidas e radicais variações climáticas nas formações terrestres e na vegetação - é reconhecida desde há muito tempo como um período durante o qual as condições foram ótimas para o acelerado e eficiente desenvolvimento evolutivo do homem. Julga-se também atualmente que terá sido um período em que o meio ambiente cultural terá substituído gradualmente o meio ambiente natural no processo de seleção, de tal modo, que acelerou ainda mais o ritmo evolutivo do homem fazendo-o atingir uma velocidade sem precedentes. Ao que parece não foi apenas um período de retrocesso dos seios frontais e de diminuição dos maxilares, mas foi também um período no decorrer do qual se forjaram todas aquelas características da existência do homem que são mais humanas: o seu sistema nervoso, dotado de um bom encéfalo; a sua estrutura social baseada no incesto como tabu, e a sua capacidade de criar e utilizar símbolos. O fato destas diferentes características da humanidade terem surgido a um mesmo tempo, numacomplexa interação e não sucessivamente, como se supôs durante muito tempo, é de excepcional importância para a interpretação da mentalidade humana, uma vez que sugere que o sistema nervoso do homem não só lhe permite adquirir cultura, como também é necessário que o faça para que possa funcionar. Em lugar de considerar a cultura apenas na sua função de suprir, desenvolver e aumentar capacidades com base orgânicas, geneticamente anteriores a ela, dever-se-ia considerá-la como 16 integrante das mesmas capacidades. Um ser humano desprovido de cultura não seria provavelmente um grande símio intrinsecamente dotado de talento ainda não realizado, mas uma monstruosidade carente de psique e, por conseguinte, irrealizável. Como a couve - a que tanto se assemelha – o cérebro do Homo sapiens, que surgiu dentro do contexto da cultura humana, não seria viável fora da mesma. As implicações gerais desta opinião revista sobre a transição para a Humanidade são imensas, e apenas algumas podem aqui ser consideradas. Por um lado, levou a que se efetuasse uma reinvestigação e reformulação das considerações teóricas que serviam de base à tese do “ponto crítico”. Por exemplo, a argumentação baseada na psicologia comparada dos primatas, como se pode verificar atualmente, estabelecia não tanto a unicidade do homem moderno, mas mais o caráter distintivo de toda a linha hominídea num período de 5 a 25 milhões de anos, da qual o homem não é mais do que o representante máximo e, de fato, o único vivo; mas inclui um número maior de classes diferentes de animais, todos eles extintos, muito mais “próximos” do homem do que qualquer dos grandes símios atuais. O fato dos chimpanzés não falarem é ao mesmo tempo interessante e importante. Mas extrair desse fato a conclusão de que a fala é um fenômeno de tudo ou nada, seria como supor que sendo a girafa o único quadrúpede vivo que possui um pescoço muito longo, o teria adquirido mediante algo comparável a um salto quântico. Os grandes símios podem ser os parentes vivos mais próximos do homem; mas o “próximo” é, por assim dizer, um termo relativo. Considerando-se uma escala cronológica realista, não são certamente tão próximos, uma vez que o último antepassado comum viveu, no mínimo há 50.000 séculos, no período que os geólogos denominam de plioceno. No que respeita ao raciocínio lógico, podemos dizer que isto também foi posto em dúvida. O crescente interesse pela comunicação como um processo geral – que caracterizou durante as duas últimas décadas disciplinas que vão desde a engenharia à etnologia – reduziu a linguagem, por um lado, a um só mecanismo (com grande flexibilidade e eficiência reconhecidas) para a transmissão de significados entre muitos interlocutores e, por outro lado, ofereceu um contexto teórico em cujos termos se pode conceber uma série gradual de passos conducentes à linguagem verdadeira. Esta questão não pode ser aqui analisada; mas, como exemplo, um linguísta comparou oito sistemas diferentes de comunicação, que compreendiam desde a dança das abelhas, o cortejo dos peixes e o canto dos pássaros até aos gritos dos gibões, a música instrumental e a linguagem humana. Em vez de concentrar toda a sua análise na diferenciação de sinal versus símbolo, distingue treze aspectos fundamentais da linguagem, e tenta, baseando-se nestes, analisar com maior precisão a diferença existente entre a comunicação humana e subumana e construir uma linha possível de desenvolvimento - gradual na era glacial – da linguagem verdadeira a partir da protolinguagem. Também este tipo de investigação se encontra no começo; mas, segundo parece, aproxima-se o fim da etapa em que a única coisa de útil que se podia dizer sobre a origem da linguagem era que todos os humanos a possuíam por igual e que, do mesmo modo, todos os não-humanos a não possuíam. Por último, o fato comprovado da não existência de diferenças significativas na capacidade mental entre as raças atuais do homem não é negado e, em última instância, é apoiado e aprofundado pelo postulado da existência de diferenças na capacidade de adquirir cultura entre as várias formas de homens pré-sapiens. A 17 diversidade física das raças humanas é, evidentemente, algo de muito recente; ter-se- ia verificado há talvez 50.000 anos, ou, segundo as estimativas mais conservadoras, menos de uma centésima parte da duração de toda a linha hominídea, isto é, da formação do homem. Portanto, a humanidade não só passou a maior parte da sua história envolvida num processo evolutivo comum, como se julga hoje em dia ter sido precisamente este o período durante o qual se forjaram as características fundamentais da sua humanidade. As raças modernas são apenas isso: modernas. Elas representam adaptações muito tardias e secundárias da cor da pele, estrutura facial, etc., devidas, provavelmente, a diferenças climáticas, à medida que o Homo sapiens se foi estendendo por todo o planeta até os finais da era glacial. Estas adaptações são, por conseguinte, inteiramente posteriores aos processos formativos básicos do desenvolvimento nervoso e anatômico que teve lugar entre o estabelecimento da linha hominídea e o aparecimento, há 50-150 milênios, do Homo sapiens. Mentalmente, o homem formou-se na era glacial, e a força modeladora realmente decisiva na produção de sua unicidade - a interação das fases iniciais do desenvolvimento cultural as fases culminantes da formação biológica – faz parte da herança comum de todas as raças modernas. Deste modo, a opinião de que a capacidade de deter cultura não floresceu num dado momento, mas que foi elaborada nas oficinas de ferramentas do paleolítico inferior, durante um período de tempo prolongado, longe de enfraquecer a doutrina da unidade psíquica, explica-a e especifica-a, conferindo a ela uma base histórica de que carecia anteriormente. Mais importante ainda do que a revisão ou reinterpretação das antigas teorias - que o conceito sincrônico e não conceito de sequência da relação entre a evolução da anatomia humana e o nascimento da cultura humana requeria - são as duas implicações no novo modo de pensar a própria cultura. Se o homem cresceu, por assim dizer, dentro do contexto de um meio ambiente cultural em desenvolvimento, então é necessário considerar esse meio ambiente cultural não apenas como uma mera amplificação extra-somática, uma espécie de extrapolação artificial das capacidades inatas já conferidas, mas como parte integrante da existência dessas mesmas capacidades. O fato patente das etapas finais de evolução biológica do homem terem tido lugar depois das etapas iniciais do crescimento da cultura implica, como já foi assinalado, que a natureza humana “básica”, “pura” - ou “não- condicionada”, no sentido da constituição inata do homem – é tão incompleta do ponto de vista funcional que se torna impraticável. As ferramentas, a caça, a organização familiar, a arte, a religião e uma forma primitiva de “ciência” moldaram o homem somaticamente, e são, portanto, não só necessárias para a sua sobrevivência, como também para a sua realização existencial. É certo que sem homens não existiriam manifestações culturais. Mas é igualmente certo que sem manifestações culturais não haveria homens. A trama simbólica formada por crenças, expressão e valores, em cujo interior vivemos, provê-nos dos mecanismos necessários a uma conduta ordenada. Nos animais inferiores, ao contrário do que acontece conosco, estes mecanismos não se encontram geneticamente instalados no corpo. A unicidade do homem costuma 18 exprimir-se em termos do quanto e de quantas coisas diferentes é capaz de aprender. E assim é, embora o fato de chimpanzés jogarem com objetos imaginários nos possa pôr momentaneamente algumas dúvidas. Mas o que tem talvez de maior importância teórica é saber quanto pode o homem aprender. Semos padrões guias da cultura humana, a vida intelectual do homem não seria mais do que uma confusão barulhenta e estrondosa, como disse William James. O conhecimento no homem, ao contrário do que acontece com os símios, depende da existência de modelos simbólicos da realidade, objetivos e externos. Emocionalmente, a situação é a mesma. Sem o guia das imagens exteriorizadas, dos sentimentos falados no ritual, dos mitos e da arte, não saberíamos, de fato, como sentir. Tal como o próprio cérebro anterior desenvolvido, as idéias e as emoções são artefatos culturais do homem. O que isto anuncia, creio eu, é uma revisão fundamental da própria teoria da cultura. Nas próximas décadas consideraremos os padrões de cultura menos em termos do modo em que estes limitam a natureza humana, e cada vez mais na forma em que a atualizam; cada vez menos como uma acumulação de mecanismos engenhosos para alargar as capacidades inatas preexistentes, e cada vez mais como parte de tais capacidades; cada vez menos como uma massa supra-orgânica de costumes, e cada vez mais – como nas palavras do falecido Clyde Kluchhonh – desenhos para viver. O homem é o único animal vivo que necessita de tais desenhos, uma vez que é o único cuja história evolutiva se desenvolveu de tal forma que o seu ser físico se modelou em grau significativo pela existência dos mesmos e, portanto, os pressupõe. A tensão existente entre a concepção do homem como simples animal dotado de talento e do homem como estranhamento único no seu gênero evapor-se-á, assim como os conceitos teóricos que lhes deram origem, no momento em que se reconheça o alcance total deste fato. FIM DO TEXTO DE GEERTZ 19 O estudo da evolução dos seres vivos é possível graças à ocorrência de várias evidências de que as espécies modificaram-se ao longo do tempo geológico. A ocorrência de fósseis – considerados os testemunhos da evolução -; o estudo comparativo do desenvolvimento embrionário; o estudo comparativo de biomoléculas; as ocorrências de órgãos vestigiais e de órgãos homólogos são boas evidências da evolução. Ao estudar esse assunto, o estudante deve olhar com atenção os conceitos de órgãos homólogos (mesma origem embrionária refletindo, assim, um parentesco comum entre as espécies; são decorrentes de uma irradiação adaptativa) e de órgãos análogos (mesma função e diferente origem embrionária; não indicam parentesco evolutivo; são decorrentes de uma convergência adaptativa). Propusemos várias questões envolvendo esses tópicos relacionados a evidências da evolução. 20 QUESTÕES: 1 - Faz muito tempo que o diálogo sobre a origem do homem vem revelando descobertas científicas e esclarecendo, mesmo que de maneira provisória, a expansão dos seres humanos pelo planeta terra. Descoberto há poucos anos, o Australopithecus garhi é considerado: a) um ancestral do homem que viveu entre quatro e três milhões de anos atrás. b) o elo perdido entre o homo habilis e o homo erectus. c) da espécie a que pertencia Lucy, o mais famoso dos antepassados da humanidade. d) um hominídeo que viveu entre o Australopithecus aferensis e os Homo habilis e erectus. e) um ancestral do homem de cérebro menor e menos inteligência que os Australopithecus boisei que viveram na África, há cerca de dois milhões de anos atrás. 2 - Analisando a linha do tempo, no período que vai do surgimento do homem até o desenvolvimento da agricultura, encontra-se a fase: a) Neolítica. b) da invenção da escrita. c) dos Metais. d) da Antigüidade. e) Paleolítica. 3 - A denominação "Revolução Neolítica", cunhada nos anos 60 pelo arqueólogo Gordon Childe, refere-se a uma série de intensas transformações. Entre essas mudanças, é correto citar: a) a criação do poder político centralizado associado ao domínio do poder religioso. b) o desenvolvimento de conglomerados urbanos baseados no trabalho escravo. c) a instituição privada das terras, com o cultivo de cereais e a criação de animais. d) o surgimento da divisão natural do trabalho, com a atribuição de papel produtivo relevante à mulher. e) a transição da economia de subsistência para uma economia industrial. 4 - Nas últimas décadas o Piauí vem figurando como um tema obrigatório nas discussões sobre o primitivo povoamento do território americano, o que decorre, principalmente, dos achados arqueológicos da Serra da Capivara, no município piauiense de São Raimundo Nonato. Sobre esse assunto, assinale, nas alternativas a seguir, aquela que está INCORRETA: 21 a) Os municípios de São Raimundo Nonato, no Piauí, e de Central, na Bahia, detêm os mais antigos vestígios da presença humana na região nordeste. b) O acervo arqueológico de São Raimundo Nonato é administrado pela FUMDHAM - Fundação Museu do Homem Americano. c) A arqueóloga Niede Guidon, personalidade mais conhecida entre os profissionais que atuam junto ao acervo arqueológico de São Raimundo Nonato, tem protagonizado, ao longo dos anos, vários conflitos e polêmicas com o governo do Piauí, com órgãos federais como o IBAMA e até mesmo, com nativos do município de São Raimundo Nonato. d) Os achados arqueológicos de São Raimundo Nonato, no Piauí, assim como aqueles encontrados na Bahia, impõem uma revisão das teorias sobre o povoamento da América e não deixam dúvidas quanto à natureza autóctone do homem americano. e) Hoje, apesar de ainda ser forte a tese do povoamento da América ter-se dado através do Estreito de Behring, os estudiosos, a partir de acervos arqueológicos como os do Piauí, consideram seriamente a hipótese de múltiplas correntes de povoamento. Quanto à data da chegada dos primeiros povoadores, ainda há muitas controvérsias, não estando, em rigor, nada definitivamente estabelecido. 5 - (UFV-JULHO/2007) Dentre as afirmativas seguintes, assinale a que NÃO corresponde a uma evidência que apóie a Teoria de Evolução das espécies: a) Estudos de anatomia comparada mostram que as semelhanças internas entre seres de espécies diferentes são resultantes de irradiação adaptativa. b) Os embriões dos vertebrados apresentam os mesmos padrões básicos de desenvolvimento, decorrentes do parentesco entre eles. c) Os estudos envolvendo fósseis indicam que a vida na terra sofreu alterações ao longo do tempo, além de permitirem comparações com os seres vivos atuais. d) Ao longo de sua vida, os seres vivos sofrem alterações de seu material genético, em conseqüência das pressões seletivas do ambiente em que vivem. 6 - (PUC-MG) Recentes análises do DNA de chimpanzés permitiram concluir que o homem é mais aparentado com eles do que com qualquer outro primata. Isso permite concluir que: a) o chimpanzé é ancestral do homem. b) o chimpanzé e o homem têm um ancestral comum. c) o homem e o chimpanzé são ancestrais dos gorilas. d) a evolução do homem não foi gradual. e) os chimpanzés são tão inteligentes quanto o homem. 7 - (UNESP/2006) Apesar do acúmulo dos estudos sobre evolução dos seres vivos e de uma série de evidências coletadas desde a época de Darwin, observa-se uma onda de posicionamentos contrários às teorias evolucionistas. Em vários estados dos EUA e em um estado do Brasil, por exemplo, foi incluído o ensino do criacionismo, por decisão governamental. Um dos professores que ensinará o criacionismo em uma destas escolas brasileiras afirmou: Tenho certeza de que minha avó não era macaca ("Ciência Hoje", outubro de 2004). No entanto, a partir dos estudos de evolução dos primatas, em particular, podemos afirmar que: 22 a) Macacos originaram-se tanto na América quanto na África, assim como os humanos, o que reforça a hipótese da existência de um ancestral comum. b) Humanos e macacos têm um mesmo ancestral, uma vez que o tamanho do cérebro dos macacos é muito próximo do tamanho do cérebro doshumanos. c) Geneticamente, alguns macacos são muito próximos dos humanos, o que se considera como uma evidência em termos de ancestralidade comum. d) Humanos e macacos têm um ancestral comum, pois em suas regiões de origem apresentam hábitos alimentares muito semelhantes. e) O fato de apenas macacos e humanos apresentarem as mãos com cinco dedos é a maior evidência de ancestralidade comum. 8 – O continente considerado o berço da humanidade é: a) Oceania. b) Ásia. c) América. d) Europa. e) África. 9 – Uma das características que distingue os hominídeos dos restantes seres vivos é: a) O bipedismo. b) O polegar oponível (ou polegar opositor). c) O pêlo no corpo. d) As mamas na região peitoral. e) Os dentes molares. 10 - O assunto na aula de Antropologia Física era a evolução do Homem. Foi apresentada aos alunos uma árvore filogenética, igual à mostrada na ilustração, que relacionava primatas atuais e seus ancestrais. 23 Após observar o material fornecido pelo professor, os alunos emitiram várias opiniões, a saber: I - os macacos antropóides (orangotango, gorila e chimpanzé e gibão) surgiram na Terra mais ou menos contemporaneamente ao Homem. II - alguns homens primitivos, hoje extintos, descendem dos macacos antropóides. III - na história evolutiva, os homens e os macacos antropóides tiveram um ancestral comum. IV - não existe relação de parentesco genético entre macacos antropóides e homens. Analisando a árvore filogenética, você pode concluir que: a) todas as afirmativas estão corretas. b) apenas as afirmativas I e III estão corretas. c) apenas as afirmativas II e IV estão corretas. d) apenas a afirmativa II está correta. e) apenas a afirmativa IV está correta. 11 – Explorando a charge abaixo de acordo com seus conhecimentos sobre a teoria da evolução, é incorreto afirmar: a) Comer, sobreviver e reproduzir podem depender de características adaptativas. b) Diferente dos outros animais, o homem não está sujeito à seleção natural. c) As ações do homem podem afetar o curso da evolução dos outros animais. d) Pela seleção artificial e manejo, o homem pode reduzir pressões seletivas sobre animais. 12 - A competição por um recurso de disponibilidade limitada é um dos pressupostos do conceito de seleção natural na teoria evolutiva de Darwin. Sobre esta declaração, é correto afirmar que é: 24 a) verdadeira, pois o conceito de seleção natural do organismo melhor adaptado pressupõe que os predadores mais eficazes levem suas presas à extinção. b) falsa, pois apenas a competição interespecífica por um recurso de disponibilidade limitada contribui efetivamente para o conceito de seleção natural. c) verdadeira, pois apenas em decorrência da competição por um recurso de disponibilidade limitada é que há a seleção do organismo melhor adaptado. d) verdadeira, pois tanto a competição intra-específica quanto a interespecífica são comportamentos que apresentam um alto grau de expressividade gênica. e) falsa, pois apenas a competição intra-específica por um recurso de disponibilidade limitada contribui efetivamente para o conceito de seleção natural. 13 - Se os filhos de atletas nascessem com corações maiores que os da média da população, isso seria considerado um reforço para a teoria: a) neodarwinista. b) da seleção natural. c) da sobrevivência do mais apto. d) da luta pela reprodução diferencial. e) da herança dos caracteres adquiridos. 14 - Leia os trechos seguintes, extraídos de um texto sobre cor de pele na espécie humana. A pele de povos que habitaram certas áreas durante milênios adaptou-se para permitir a produção de vitamina D. À medida que os seres humanos começaram a se movimentar pelo Velho Mundo há cerca de 100 mil anos, sua pele foi se adaptando às condições ambientais das diferentes regiões. A cor da pele das populações nativas da África foi a que teve mais tempo para se adaptar porque os primeiros seres humanos surgiram ali. ("Scientific American Brasil", vol. 6, novembro de 2002). Nesses dois trechos, encontram-se subjacentes idéias: a) lamarckistas. b) darwinistas. c) neodarwinistas. d) da Teoria Sintética da Evolução. e) sobre especiação. 15 - Numere a segunda coluna de acordo com a primeira. 1 - Lamarckismo 2 - Darwinismo (__) A falta de função do 3º molar (ciso) nos seres humanos, decorrente dos seus hábitos alimentares, tem induzido seu desaparecimento. (__) Para que mamíferos cetáceos se adaptassem à natação, suas patas foram aos poucos se transformando em nadadeiras. 25 (__) O uso constante de antibióticos em hospitais tem contribuído para a seleção de um número crescente de bactérias resistentes a eles. (__) Para se proteger de predadores, o bicho-pau desenvolveu forma e cor semelhante à de galhos secos. Marque a alternativa que atribui a cada afirmação a respectiva ideia ou teoria evolutiva. a) 1, 2, 1, 2 b) 1, 1, 2, 1 c) 1, 2, 1, 1 d) 2, 2, 1, 2 e) 1, 1, 2, 2 16 - Analise o texto abaixo: "Em todo animal que não tenha ainda se desenvolvido completamente, o uso frequente a repetido de um órgão qualquer fortalece, pouco a pouco, esse órgão, desenvolve-o, aumenta-o, tornando-o mais forte, com uma força proporcional ao tempo de uso, enquanto o desuso de tal órgão enfraquece-o aos poucos, deteriora-o, diminui progressivamente suas faculdades e acaba por fazê-lo desaparecer" (Filosofia Zoológica, 1809). O texto acima deve ser atribuído a: a) Darwin, para explicar a seleção natural. b) Lamarck, para explicar o criacionismo. c) Mendel, para explicar a genética. d) Darwin, para explicar o evolucionismo. e) Lamarck, para explicar o evolucionismo. 17 - Em relação à evolução biológica de coelhos de uma determinada região: I - O coelho evoluiu de ancestrais de orelhas curtas que se desenvolveram gradativamente pelo esforço do animal em ouvir a chegada dos predadores. II - Os ancestrais dos coelhos apresentavam tamanhos variáveis de orelhas; o predatismo dos carnívoros selecionou aqueles de orelhas mais longas. III - Os coelhos de orelhas longas conseguem deixar um maior número de descendentes que os de orelhas curtas. IV - Os coelhos de orelhas longas, adquiridas pela necessidade de perceber a aproximação dos predadores, transmitem essa característica para seus descendentes. Considerando as afirmativas acima, selecione a alternativa correta: a) I e II são lamarckistas e III e IV são darwinistas. b) II e III são lamarckistas e I e IV são darwinistas. c) I e IV são lamarckistas e II e III são darwinistas. d) III e IV são lamarckistas e I e II são darwinistas. e) I e III são lamarckistas e II e IV são darwinistas. 26 CULTURA: CONHECIMENTOS, TÉCNICAS, SÍMBOLOS Jair Aniceto de Souza Na passagem do século XIX para o século XX, dava-se o nascimento da Sociologia, como uma teoria científica da sociedade e de suas formas de organização social e política, tendo o estudioso francês Émile Durkheim estabelecido as bases do método sociológico. O filósofo alemão Karl Marx, décadas antes, já havia analisado o Capitalismo, considerando-o como o sistema econômico impulsionador da Modernidade, enquanto o político e pensador, também alemão, Max Weber, ampliava o campo do estudo sociológico para o que ele denominava “ciências histórico- culturais”, incluindo o estudo da cultura. Os fenômenos culturais assumiam para Weber o caráter de um objeto de pesquisa necessário para a análise dos fenômenos sociais, e sua abordagem solicitava um método científico diferente do que era então o método sociológico, em sentido estrito, segundo a concepção de Durkheim, ou método histórico, segundo a concepção de Marx. A diferença entre esses três grandes iniciadores do pensamento sociológico talveznão esteja apenas no método de investigação que propuseram, mas nas características do objeto que selecionaram para estudo. Durkheim selecionou o funcionamento das instituições sociais, Marx selecionou a produção econômica das condições de vida social e Weber, a presença dos valores guiando a ação dos agentes sociais, em contextos histórico-culturais específicos. Na verdade, esses três olhares para os fenômenos sociais não se opõem, nem manifestam-se em momentos diferentes. São simultâneos e complementares. Distinguem-se apenas pelo olhar e pelo interesse do cientista ao recolher dados da realidade que estudam, em seu compromisso de encontrar a verdade sobre os processos sociais. O resultado é a criação de perspectivas diferentes de análises teóricas, dando origem a três disciplinas distintas – a Sociologia, a Ciência Política e a Antropológia –, conforme se privilegiem os padrões e normas da organização social – olhar sociológico clássico –, a produção e reprodução econômica da vida social – olhar sociológico-histórico –, ou, as questões relacionadas às formas de dominação e às lutas pelo controle do poder político, definindo a área da Ciência Política. Finalmente, os temas relativos aos padrões de crenças, conhecimentos, técnicas e símbolos, os quais permitem a identificação e comparação entre as diferentes formas de vida social como um todo – passaram a definir o campo da Antropologia. Academicamente, essas disciplinas científicas acham-se referidas como Ciências Sociais, embora alguém que se diplome em Ciências Sociais possa desenvolver uma especialização como sociólogo, cientista político ou antropólogo. Neste momento, cabe entender o que estuda e em que se especializa um antropólogo? O QUE É POSSUIR CULTURA? O antropólogo se especializa em estudar as culturas, elegendo-as como seu campo específico de estudo, permitindo a comparação entre elas. De fato, a antropologia surgiu na onda do evolucionismo da teoria de Charles Darwin, quando interessava mostrar que as culturas europeias eram superiores em relação às culturas colonizadas da América, da África e Ásia. O olhar antropológico diferenciou-se, portanto, do olhar sociológico ou histórico por realçar aqueles aspectos da realidade social que possuem natureza simbólica, fixada como significados, crenças, valores, conhecimentos, técnicas, enfim, distinguiu-se por destacar aquelas qualidades subjetivas 27 compartilhadas pela totalidade dos indivíduos dos grupos sociais estudados, dando- lhes identidade frente a outros. Ressalte-se que a realidade social é um complexo que se apresenta diante do olhar do estudioso, e este faz recortes nessa realidade para especializar seu olhar segundo os instrumentos metodológicos que dispõe, visando compreender e explicar os aspectos que lhe interessa do fenômeno que se desenvolve ante seus olhos ou seus instrumentos de observação. Os antropólogos se interessam justamente pelos aspectos que são caracterizados como fenômenos culturais, isto é, como manifestações da cultura de um grupo social. Cultura é uma palavra que possui muitos significados, tanto na linguagem do senso comum, como na linguagem técnica da Antropologia e Filosofia. Porém, os antropólogos buscaram encontrar uma definição a mais objetiva possível, de modo a tornar a cultura abordável pelo método antropológico. Uma definição de um objeto que se torna adequada ao manuseio por meio de um método dotado de procedimentos uniformes e rigorosos é a condição para se fundar uma ciência. E foi assim que se fundou a ciência das culturas, inicialmente chamada de Antropologia Social, depois de Antropologia Cultural, e atualmente apenas de Antropologia. Já existia um ramo da Filosofia conhecido como Antropologia Filosófica que especulava sobre a natureza humana, isto é, sobre o Homem. De fato, na origem da palavra, antrophos significa em grego ‘homem’. A novidade agora foi definir o homem como um ser essencialmente pertencente a uma cultura. Mas o que significa cultura? Comecemos pelo sentido da palavra cultura na linguagem do senso comum. Você mesmo provavelmente já usou a expressão “fulano de tal possui ou não possui cultura”. Também existe o Ministério ou secretarias estaduais ou municipais da Cultura, encarregadas de promover eventos culturais, em geral relacionados às artes eruditas ou populares, mas também às ciências, como é o caso das feiras, museus ou estações de ciências. O antropólogo brasileiro Roberto da Matta assim se refere a essa concepção de corriqueira de cultura: Quando falamos que ‘Maria não tem cultura’, e que ‘João é culto’, estamos nos referindo a um certo estado educacional dessas pessoas, querendo indicar com isto sua capacidade de compreender ou organizar certos dados e situações. Cultura aqui é equivalente a volume de leituras, a controle de informações, a títulos universitários e chega até mesmo a ser confundido com inteligência, como se a habilidade para realizar certas operações mentais e lógicas (que definem de fato a inteligência) fosse algo a ser medido ou arbitrado pelo número de livros que uma pessoa leu, as línguas que pode falar, ou aos quadros e pintores que pode, de memória, enumerar (...) Nesse sentido, cultura é uma palavra usada para classificar as pessoas e, às vezes, grupos sociais, servindo como arma discriminatória contra algum sexo, idade (‘as gerações mais novas são incultas’), etnia (‘os pretos não tem cultura’) ou mesmo sociedades inteiras, quando se diz que ‘os franceses são cultos e civilizados’, em oposição aos americanos que são ‘ignorantes e grosseiros’. MATTA, Roberto da. “Você tem cultura?” In: Explorações: Ensaios de Sociologia Interpretativa. Rio de Janeiro: Rocco, 1986 (pág. 121-128). 28 Como a ‘Cultura’ tornou-se o objeto da Antropologia A preocupação com o estudo científico das culturas surgiu com a fase de expansão do domínio europeu sobre a África e a Ásia, chamada de neocolonialismo, ocorrida no século XIX. Destacava-se, sobretudo, o neocolonialismo inglês e francês. Pretendia- se conhecer as culturas das tribos e dos povos da África, Índia, Indonésia e outros, consideradas exóticas aos olhos dos europeus, para melhor dominá-las, fazendo-as aceitar a superioridade cultural dos colonizadores. A ciência da sociedade que estava surgindo, a Sociologia, incluía os aspectos culturais na análise dos processos sociais, mas era herdeira dos ideais iluministas do progresso e das conquistas da razão. Com a ampla divulgação e aceitação da teoria de Darwin sobre a evolução das espécies, no final do século XIX, era inevitável que a concepção evolucionista servisse também para classificar e hierarquizar as culturas, desde aquelas que seriam bárbaras, selvagens ou primitivas até as culturas letradas e científicas da Europa civilizada e moderna. Até então o tema da cultura era pertencente à reflexão filosófica, pois definir a cultura equivalia a compreender a própria natureza humana, como distinta dos animais. Dizia- se que apenas os homens possuiam cultura, significando que apenas estes acumulavam conhecimentos e técnicas, desenvolviam-se intelectual e artisticamente, possuiam consciência do uso de sua inteligência e de sua liberdade com um sentido de responsabilidade moral, medida frente a valores. A palavra cultura tem origem no latim, oriunda da tradição agrícola, significando cultivo, cuidado com plantas ou animais úteis à sobrevivência. Foi apenas no século XVIII que essa palavra migrou definitivamente do campo da agricultura e pecuária para o campo do cultivo da mente propriamente, cujos frutos seriam responsáveis pela identidade dos grupos sociais quanto ao modo como se diferenciavam em seus hábitos, crenças e costumes. Foi na Alemanha que a palavra cultura entrou para o vocabulário filosófico, sendo contraposta à palavra civilização, embora na Inglaterra e
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