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1 ROTEIRO DE ESTUDOS SOCIOLOGIA Cursos da área de Saúde FAINOR – Faculdade Independente do Nordeste Prof. Zenildo Soares de Souza Júnior, MSc. profzjr@hotmail.com Administrador Texto digitado JOÃO VÍCTOR BRITO DA SILVA PEREIRAnullENFERMAGEM - FAINOR 2014.1 nullI SEMESTREnullDISC. SOCIOLOGIA - PROF. ZENILDO JÚNIORnullE-MAIL: victorsilvaenfermagem@hotmail.com 77 91072396 whatsappnullANO 2014 Administrador Texto digitado Administrador Texto digitado 2 Nas páginas seguintes, você encontra textos que tratam dos temas e linhas gerais que abordamos em nossa disciplina. Os assuntos estão dispostos aproximadamente da mesma forma de sua apresentação em sala de aula, e as questões para avaliação serão extraídas do seu conteúdo. Assim, leia com atenção, acompanhe as explanações em sala, anote e reflita sobre estes textos, procurando rememorar o que discutimos, de modo a consolidar os seus conhecimentos sobre a disciplina. Tema 1 - AFINAL, O QUE É A SOCIOLOGIA? Podemos compreender simplificadamente a Sociologia como uma ciência dedicada a estudar o homem em seu aspecto social, conforme verificado na atualidade. É fundamental entender que o objeto de estudos da sociologia são as INTERAÇÕES entre os seres humanos quando em coletividade – ou seja, são as atitudes que tomamos levando em conta que vivemos junto com outros seres humanos, e pensando nas ações e reações deles. Neste sentido, a Sociologia se volta para os vínculos dos indivíduos quando tomados em grupo, interessando-se tanto pela dimensão de “ida” (a relação da pessoa com o seu meio social) quando pela “volta” (a forma como o meio social funciona em relação às pessoas). A sociologia é o estudo científico da vida humana, de grupos sociais, de sociedades inteiras e do mundo humano. É uma atividade fascinante e instigante, pois seu tema de estudo é o nosso próprio comportamento como seres sociais. O âmbito da sociologia é extremamente amplo, variando da análise de encontros passageiros entre indivíduos nas ruas à investigação de relações internacionais e formas globais de terrorismo. A maior parte das pessoas entende o mundo em função das características que parecem familiares em nossa própria vida – família, amizades e trabalho. Porém, a sociologia demonstra a necessidade de adotar uma visão muito mais ampla de nossas vidas para explicar por que agimos como agimos. Ela nos ensina que aquilo que consideramos natural, inevitável, bom ou verdadeiro pode não ser, e que as coisas que consideramos como normais são profundamente influenciadas por fatos históricos e processos sociais. Entender as maneiras sutis, porém complexas e profundas, em que nossas vidas individuais refletem os contextos de nossa experiência social é básico para a perspectiva sociológica. A imaginação sociológica Aprender a pensar de maneira sociológica – olhar, em outras palavras, o quadro mais amplo – significa cultivar a nossa imaginação. Estudar sociologia não é apenas um processo rotineiro de adquirir conhecimento. Um sociólogo é alguém que consegue se libertar da imediatez das circunstâncias pessoais e colocar as coisas em um contexto mais amplo. O trabalho sociológico depende daquilo que o autor americano C. Wright Mills, em uma expressão famosa, chamou de imaginação sociológica. A imaginação sociológica exige que, acima de tudo, “nos afastemos em nosso pensamento” das rotinas familiares de nossas vidas cotidianas para enxergá-las como algo novo. Considere o simples ato de tomar uma xícara de café. O que poderíamos observar para falar, do ponto de vista sociológico, sobre esse comportamento aparentemente desinteressante? Uma quantidade enorme de coisas. Podemos apontar, antes de mais nada, que o café não é apenas uma bebida. Ele tem valor simbólico como parte de nossas atividades sociais cotidianas. Muitas vezes, o ritual associado a tomar café é mais importante que o simples ato de consumir a bebida. Em todas as sociedades, beber e comer proporcionam ocasiões para interação social e a encenação de rituais – que oferecem um tema rico para estudo sociológico. 3 Em segundo lugar, o café é uma droga que contém cafeína, que tem um efeito estimulante sobre o cérebro. Muitas pessoas tomam café pelo “impulso extra” que ele proporciona. O café é uma substância que leva ao hábito, mas os viciados em café geralmente não são considerados pela maioria das pessoas em culturas ocidentais como “usuários de drogas”. Como o álcool, o café é uma droga socialmente aceitável, ao passo que a maconha, por exemplo, não é. Ainda assim, existem sociedades que toleram o consumo de maconha, ou mesmo de cocaína, mas desaprovam o café e o álcool. Os sociólogos se interessam nas razoes para essas diferenças e em como vieram a ocorrer. Em terceiro lugar, um indivíduo que toma uma xícara de café se encontra em meio a um complicado conjunto de relações sociais e econômicas que se estende pelo mundo. O café é um produto que conecta pessoas em algumas das partes mais ricas e mais pobres do planeta; ele é consumido em grandes quantidades nos países ricos, mas é cultivado principalmente em países pobres. Juntamente com o petróleo, o café é a mercadoria mais valiosa no comércio internacional. Ele é a maior fonte de moeda estrangeira para muitos países. Em quarto lugar, o ato de bebericar um cafezinho pressupõe um longo processo de desenvolvimento social e econômico. Juntamente com outros elementos conhecidos das dietas ocidentais – como o chá, bananas e açúcar refinado – o café somente passou a ser consumido amplamente a partir do final do século XIX, mesmo que já fosse considerado elegante entre a elite antes disso. Praticamente todo o café que bebemos atualmente vem de áreas como a América do Sul e a África, que foram colonizadas por europeus; de maneira alguma ele é parte “natural” da dieta ocidental. O legado colonial teve impacto enorme no desenvolvimento do comércio global de café. Em quinto lugar, o café é um produto que está no coração de debates contemporâneos sobre a globalização, o comércio internacional justo, os direitos humanos e a destruição do meio ambiente. À medida que o café cresceu em popularidade, ele foi sendo “marcado” e politizado; as decisões que os consumidores tomam sobre o tipo de café que beberão e onde comprá-lo se tornaram estilo de vida. Os sociólogos estão interessados em entender como a globalização aumenta a consciência das pessoas sobre questões que ocorrem em cantos distantes do planeta e as leva a agir em suas próprias vidas com base nesse novo conhecimento. Para os sociólogos, o ato aparentemente trivial de tomar café dificilmente poderia ser mais interessante. Estudando as pessoas e a sociedade A imaginação sociológica nos permite ver que muitos fatos que parecem dizer respeito apenas ao indivíduo na verdade refletem questões mais amplas. O divórcio, por exemplo, pode ser um processo muito difícil para alguém que passa por um – o que Mills chama de um “problema pessoal”. Porém, o divórcio também é uma “questão pública” importante em muitas sociedades ao redor do mundo. O desemprego, para usar mais um exemplo, pode ser uma tragédia pessoal para alguém que perde o emprego e não consegue encontrar outro. Ainda assim, ele vai muito além da questão do desespero privado quando milhões de pessoas em uma sociedade se encontram na mesma situação: é uma questão pública que expressa grandes tensões sociais. Embora sejamos todos influenciados pelos contextos sociais onde nos encontramos, nenhum de nós é determinado totalmente por esses contextos em nosso comportamento. Possuímos, e criamos, nossa própria individualidade. É trabalho da sociologia investigar as conexões entre o que a sociedade faz de nós e o que fazemosde nós mesmos e da sociedade. Nossas atividades estruturam o mundo social que nos rodeia e, ao mesmo tempo, são estruturadas por esse mundo social. O conceito de estrutura social é um conceito importante em sociologia. Ele se refere ao fato de que os contextos sociais de nossas vidas não consistem em variedades aleatórias de fatos ou atos; eles são estruturados, ou padronizados, de maneiras distintas. Existem regularidades na maneira como agimos e nas relações que temos uns com os outros. 4 Todavia, a estrutura social não é como uma estrutura física, como um prédio, que existe independentemente das ações humanas. As sociedades humanas estão sempre em processo de estruturação. Seus componentes básicos – seres humanos como você ou eu – as reconstroem a cada momento. Considere novamente o caso do café. Uma xícara de café não chega a suas mãos de maneira automática. Você escolhe ir a um café específico e qual tipo de café vai tomar. À medida que toma essas decisões, juntamente com milhões de outras pessoas, você molda o mercado de café e afeta as vidas dos produtores de café que vivem talvez a milhares de quilômetros de distância. O desenvolvimento do pensamento sociológico Quando começam a estudar sociologia, muitos estudantes ficam surpresos com a diversidade de abordagens que encontram. A sociologia nunca foi uma disciplina em que existe um corpo de ideias que todos aceitam como válidas, embora haja ocasiões em que certas teorias são mais aceitas que outras. Os sociólogos muitas vezes discutem sobre como estudar o comportamento humano e a melhor maneira de interpretar os resultados das pesquisas. Por que isso ocorre? Por que os sociólogos não chegam a um consenso mais consistente, como os cientistas naturais parecem conseguir fazer? A resposta está ligada à própria natureza do nosso tema de estudo. A sociologia diz respeito às nossas próprias vidas e nosso comportamento, e estudar nós mesmos é a coisa mais difícil e complexa que podemos fazer. Teorias e perspectivas teóricas Tentar entender algo tão complexo quanto o impacto da industrialização sobre as sociedades, por exemplo, aumenta a importância da teoria para a sociologia. As pesquisas factuais mostram como as coisas ocorrem; porém, a sociologia não consiste apenas em coletar fatos, por mais importantes e interessantes que possam ser. Em sociologia, também queremos saber por que as coisas acontecem. Para fazê-lo, temos que construir teorias explicativas. Por exemplo, sabemos que a industrialização teve grande influência na emergência das sociedades modernas, mas quais são as origens e precondições para a industrialização? Por que encontramos diferenças entre sociedades em seus processos de industrialização? Por que a industrialização está associada a mudanças em formas de punição criminal ou em estruturas familiares e sistemas matrimoniais? Para responder essas questões, temos que desenvolver um pensamento teórico. As teorias implicam a elaboração de interpretações que podem ser usadas para explicar uma ampla variedade de situações empíricas ou “factuais”. Uma teoria sobre a industrialização, por exemplo, deveria se preocupar em identificar as principais características que os processos de desenvolvimento industrial têm em comum e tentaria mostrar quais deles são importantes para explicar esse desenvolvimento. É claro, a pesquisa factual e as teorias jamais podem ser totalmente separadas. Somente podemos desenvolver explicações teóricas válidas se formos capazes de testá-las por meio de pesquisas factuais. Precisamos de teorias para nos ajudar a conferir sentido aos muitos fatos que observamos. Ao contrário da afirmação popular, os fatos não falam por si mesmos. Muitos sociólogos trabalham principalmente com pesquisas factuais, mas, a menos que sejam orientados por algum conhecimento teórico, é improvável que seu trabalho consiga explicar a complexidade da 5 sociedade. Isso se aplica mesmo a pesquisas realizadas tendo como objetivo apenas o diagnóstico prático em mente. Muitas “pessoas práticas” tendem a suspeitar de teóricos e gostam de se considerar “pé no chão” demais para prestar atenção em ideias mais abstratas. Ainda assim, todas as decisões práticas têm alguma premissa teórica por trás delas. O gerente de uma empresa, por exemplo, pode ter pouca consideração por “teorias”. Porém, toda abordagem à atividade empresarial envolve pressupostos teóricos, mesmo que sejam tácitos. Desse modo, o gerente pode pressupor que os empregados são motivados para trabalhar principalmente por causa do dinheiro – o nível dos salários que recebem. Essa é uma interpretação teórica subjacente do comportamento humano, ainda que seja equivocada, como as pesquisas em sociologia industrial tendem a demonstrar. Sem uma abordagem teórica, não saberíamos o que procurar ao começar a estudar ou ao interpretar nossos resultados ao final da pesquisa. Todavia, a explicação de evidências factuais não é a única razão para a importante posição da teoria na sociologia. O pensamento teórico deve responder a problemas gerais colocados pelo estudo da vida social humana, incluindo questões que são de natureza filosófica. Decidir o nível até que ponto a sociologia deve seguir o modelo das ciências naturais e como devemos conceituar a consciência, ação e instituições humanas são problemas que não têm soluções fáceis. Esses problemas foram tratados de maneiras diferentes nas várias abordagens teóricas que surgiram dentro da disciplina. TTeemmaa 22 -- OO HHOOMMEEMM,, AANNIIMMAALL SSOOCCIIAALL Sociedade humana e sociedades animais não humanas O pressuposto básico da Sociologia é de que somos seres sociais – como, aliás, outros animais também o são. A diferença é que, no caso dos humanos, a sociabilidade tem caráter especial, já que representa a agregação em torno de elementos culturais, valores e normas de conduta abstratas. Enquanto os outros animais sociais se reúnem apenas movidos pelo instinto (autoproteção, reprodução), o homem transpõe essa limitação e encontra outros elementos que o levam a se agregar a outros homens: o afeto, a solidariedade, a ideologia, a intenção de preservar tradições etc. Todos sabem que existe certo tipo de organização social entre animais sociais não humanos, como os macacos, elefantes, golfinhos, felinos. E também os insetos, como formigas, cupins, abelhas etc. Entre esses insetos podemos perceber algo que poderíamos chamar de “divisão do trabalho”, “hierarquia social”, “poder político” etc. Mas não podemos chamar, no sentido humano, a vida desses animais de “vida social”. Existem diferenças fundamentais em relação aos seres humanos. Quando comparamos as sociedades animais não humanas, nós o fazemos porque constatamos que o comportamento deles apresenta certas padronizações parecidas com as que se verificam entre os seres humanos. Padrões de comportamento são formas regulares de ação associadas a determinadas situações. Todas as espécies animais, não apenas o homo sapiens, apresentam alguma forma de ações padronizadas de comportamento. Mas os padrões observados entre os animais não humanos são substancialmente diferentes dos nossos. Formigas de uma mesma espécie, mas localizadas em lugares diferentes vão se comportar da mesma maneira. Da mesma forma, podemos observar uma colmeia de abelhas durante anos a fio e veremos que elas terão sempre o mesmo comportamento. Ou seja, os padrões desses animais são constantes, no tempo e no espaço. No entanto, os padrões de comportamento do homem, e por consequência suas formas de organização social são mutáveis. Os padrões do homem brasileiro na atualidade são diferentes daqueles de dez anos atrás. E não são iguais ao do homem francês, do homem japonês ou do homem australiano. Assim, enquanto os padrões de comportamento dos animais não humanos possuem umalto grau de estabilidade, os padrões humanos são extremamente flexíveis. 6 Isso ocorre porque os padrões básicos de comportamento dos animais não humanos são transmitidos através da herança biológica. Já os padrões de comportamento humano são transmitidos e aprendidos por meio da comunicação simbólica. As formas padronizadas de agir dos animais não humanos são transmitidas geneticamente. Logo, decorrem da natureza. Enquanto as padronizações predominantes do comportamento humano não estão nas condições biológicas típicas da nossa espécie. Eles são artificiais, criados pelo próprio homem. Se as abelhas se comunicam entre si através de uma espécie de “dança” peculiar durante o voo, isso não foi inventado por elas. Está em seu próprio organismo, pois resulta de impulsos inatos, naturais, biologicamente estabelecidos. Elas já nascem com eles. Mesmo quando supomos que os padrões de comportamento dos animais não humanos resultam da “pressão das circunstâncias”, a verdade é que a adaptação às condições ambientais vai acabar se incorporando ao patrimônio genético da espécie. Isso não significa que os animais não humanos sejam incapazes de aprender, mas sim que o seu comportamento é predominantemente padronizado pela herança biológica, enquanto o comportamento humano é, sobretudo, padronizado pela aprendizagem através da comunicação simbólica. Por outro lado, as peculiaridades orgânicas da espécie homo sapiens não explicam, por si sós, o comportamento humano típico e as suas formas de convívio. As características do nosso corpo físico (visão estereoscópica, aparelho vocal, a mão preênsil, a posição da coluna vertebral etc.) são necessárias, mas não suficientes para o desenvolvimento de nossa personalidade e nosso comportamento em sua forma social. A forma típica da sociabilidade humana não e consequência direta das peculiaridades do organismo. Em outras palavras, o homem precisa de mais do que um organismo normal para se tornar social, no sentido humano da expressão. O homem não nasce social, ele somente adquire as características de comportamento tipicamente humanas através da socialização. É por isso que os seres humanos são não apenas devotados ao convívio com o seu grupo social: são dependentes dele e vice-versa. Repetidas experiências têm demonstrado que, se submetidos a condições de isolamento, não somos capazes de desenvolver de forma autônoma os traços de comportamento que nos caracterizam como propriamente HUMANOS. Pelo contrário, nesses casos o que se observa é uma tendência a realçar traços de comportamento tipicamente animais e instintivos, mesmo levando em conta que as habilidades potenciais dos seres humanos estejam presentes. Socialização e comunicação simbólica O modo como desenvolvemos a capacidade de interagir com os outros membros do nosso grupo social é denominado SOCIALIZAÇÃO. Basicamente, se compõe de um processo simultâneo de “treinamento” e incorporação de regras e métodos pelos quais nos tornamos capazes de estabelecer vínculos com aqueles que nos cercam. Espera-se que, ao longo desse processo, as pessoas sejam capazes não apenas de apreender o sentido e o conteúdo das regras e normas sociais, mas também de incorporá-las de tal maneira a sua conduta que estas se transformem numa espécie de “segunda natureza” de cada um. É o que os sociólogos chamam de “interiorização” das regras sociais. As regras, por sua vez, são derivadas de valores e práticas que o grupo social considera válidos e interessantes. Estes valores e práticas são assimilados por nós à medida em que crescemos, nos integramos a grupos sociais em diferentes etapas e níveis de socialização e nos tornamos capazes de relacionamento com universos humanos cada vez maiores e mais diversificados. 7 A socialização significa transmissão e assimilação de padrões de comportamento, normas, valores e crenças, bem como o desenvolvimento de atitudes e sentimentos coletivos pela comunicação simbólica. Socialização, portanto, é o mesmo que aprendizagem. A comunicação entre animais não humanos se faz através da chamada “linguagem emocional”, isto é, de uma linguagem que deriva diretamente dos estados emocionais – o que explica porque são limitadas as possibilidades de comunicação entre eles. Já a comunicação humana ocorre através de símbolos. O símbolo é “alguma coisa cujo valor ou significado é atribuído pelas pessoas que o usam” (segundo o antropólogo Leslie White). Ele é definido como uma “coisa” porque pode assumir qualquer forma física; um objeto material, uma cor, um som, um cheiro, um gosto etc. O símbolo está presente em todos os momentos de nossa vida, pois ele não se limita à palavra. A palavra é o símbolo por excelência, mas não é a sua única expressão. Ainda assim, a linguagem verbal é o mais importante instrumento de socialização. O símbolo verbal permite ao homem conduzir suas ações segundo situações, objetos e pessoas fisicamente distantes, assim como de acordo com acontecimentos passados ou hipoteticamente futuros. Permite transmitir conhecimentos, técnicas e ideias em geral; permite, enfim, a elaboração de um universo de ideias paralelo e tão real quanto o ambiente e as pessoas. Por isso é tão rica de possibilidades a comunicação entre os homens. É, portanto, compreensível que o símbolo, sobretudo o verbal, seja tão importante para o processo de socialização e, em consequência, para a continuidade dos sistemas sociais. A socialização é mais intensa durante a infância e adolescência, mas na verdade trata-se de um processo permanente, porque ao longo da nossa vida ocorrem mudanças de grupos e de posições sociais. A cada mudança se faz necessária a aprendizagem de novos modos padronizados de agir e mesmo de pensar. Além disso, todas as sociedades estão sempre se modificando, o que leva à mudança dos padrões de organização. Sociedades simples, como as sociedades indígenas, mudam lentamente; já as sociedades do tipo urbano-industrial se transformam com mais rapidez. De qualquer modo, seja qual for o tipo de sociedade, ela está sempre em mudança. Isso exige que o indivíduo se adapte ao ambiente social dinâmico, assimilando novos padrões de comportamento. É através da socialização que o indivíduo pode desenvolver a sua personalidade e ser admitido na sociedade. Por isso, ela é um processo fundamental não apenas para a integração das pessoas, mas também para a continuidade dos sistemas sociais. Faz-se a distinção entre dois tipos de socialização: a primária e a secundária. Socialização primária: é a socialização que dá aos indivíduos padrões de comportamento básicos necessários a uma vida normal na sua sociedade; Socialização secundária: se refere à aprendizagem de padrões de comportamento especiais para determinadas posições e situações sociais. Se o indivíduo assume uma determinada profissão, é através da aprendizagem dos conhecimentos e das técnicas, bem como da assimilação dos padrões de comportamento próprios daquela ocupação que ele se submete à adaptação à nova posição e às situações sociais que daí decorrem. O casamento é outro exemplo que exige a socialização secundária. Principais agentes de socialização 8 Entre os principais agentes de socialização estão a família, os pequenos grupos, a escola, os grupos de status, os meios de comunicação de massa e os grupos de referência. a) A família é o principal agente de socialização. É o agente básico e mais importante, no qual o indivíduo é influenciado em um primeiro momento, ao nascer, e mantém algum grau de influência por praticamente toda a vida. Os estilos de relacionamento na família variam em função da classe social, dos grupos culturais diversos, podem ser mais ou menos autoritários, mais ou menos permissivos, com alto ou baixo grau de indiferença. Os pais, de modogeral, socializam suas crianças com base no universo cultural que conhecem, em que foram socializados e no qual estão adaptados. Assim, reproduzem para seus filhos os valores, normas e costumes por meio de um processo de transmissão cultural; b) Os pequenos grupos, o que pode incluir a família, são os principais agentes de socialização. São os chamados grupos primários. Constituem-se em poderoso agente de formação da personalidade, cuja força dificilmente pode ser rompida. Estabelecem relações estreitas de compromisso e solidariedade grupal, que fazem da convivência com o grupo uma experiência única de fortalecimento recíproco. Essa força tem sido utilizada para recuperar viciados em drogas e álcool, tornando o compromisso com o grupo mais forte do que o apelo do vício. Em alguns casos, os que frequentam o grupo por muito tempo passam a se vestir da mesma maneira, pentear-se e se comportar de forma semelhante uns aos outros. Essa característica é muito visível em adolescentes; c) A escola transmite, particularmente às crianças, a experiência de lidar com uma grande organização, onde as relações sociais são diferentes daquelas do núcleo familiar. Entram em contato com a burocracia, com regras aplicáveis a todos e com um ambiente no qual os indivíduos são reconhecidos por seu desempenho. Na escola, as relações informais e pessoais da família são substituídas por relações formais e impessoais. Nessa fase, os indivíduos podem entrar em contato com membros de subculturas existentes na sociedade, o que vai aprofundar sua socialização, consolidando sua personalidade tanto social quanto individual. d) Os grupos de status aumentam sua importância para o processo de socialização com o aumento da idade. No grupo de jovens, os indivíduos têm a oportunidade de testar o que aprenderam com os adultos, tendo o apoio do grupo para desenvolver outros valores e normas alternativas. Mais tarde, na fase adulta, os grupos de status (faixa de renda, de consumo etc.) farão parte de sua existência como forma de atuar na sociedade mais geral. Nesses grupos, o indivíduo aprenderá gestos, gosto por determinadas leituras, um linguajar próprio, um tipo de consumo e assim por diante. e) Os grupos de referência são usados como modelo de comportamento e atitudes ao longo de toda a vida do indivíduo e podem ter papel positivo ou negativo. São geralmente artistas, figuras populares, celebridades etc. f) Os meios de comunicação de massa, principalmente a TV, o cinema e a Internet, são agentes de socialização relativamente novos. Influenciam o comportamento, principalmente da juventude, incentivando novos hábitos, modismos e atitudes em relação a determinados grupos sociais. Para melhor desempenharem seus papéis na mídia, atores baseiam-se em estereótipos de grupos sociais e tendem a acentuar suas características. Assim, esses veículos de comunicação tornam-se também meios de consolidação de imagens distorcidas da realidade: os estereótipos. TEMA 3 – SOCIALIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PESSOAL 9 Podemos definir “cultura” como tudo aquilo que é aprendido socialmente e compartilhado pelos membros de uma sociedade. O indivíduo recebe cultura como parte de uma herança social e, por sua vez, pode introduzir mudanças que serão transmitidas às gerações futuras. Essa herança social nós recebemos ao nascer. A criança ainda pequena é cercada por influências do grupo onde nasceu: o modo de falar, a língua, o vestir, o modo de comer etc. À medida que cresce, vai aumentando esse fluxo de influências a partir desse mesmo grupo, de modo que a pessoa vai adquirindo novos hábitos e costumes e se integrando de forma cada vez mais completa como membro dessa sociedade. Essa aquisição da cultura é o que denominamos de processo de socialização. A cultura, vale recordar, é transmissível de uma geração para outra através do convívio social, e não pela herança biológica; por isso, ela faz parte da socialização. Enquanto a herança biológica transfere características físicas ou genéticas, os hábitos e costumes compõem a herança cultural. Desse modo, o ser humano adquire os conhecimentos necessários para sobreviver física e socialmente. Todas as sociedades possuem cultura, sejam elas rurais ou urbanas, simples ou complexas. Cada cultura e cada sociedade têm sua integridade própria, seu sistema de valores e costumes. A socialização do indivíduo em uma determinada sociedade permite que ele adquira uma personalidade própria, que o diferenciará dos demais e ao mesmo tempo o identificará com o seu grupo social. Embora haja elementos comuns na experiência de todas as pessoas, cada uma delas continuará sendo única. Assim, cada pessoa é socializada de tal modo que sua personalidade é, ao mesmo tempo, parecida com as dos outros em sua sociedade e, em outro sentido, possui também diferenças que a tornam única. Personalidade e socialização “Personalidade” significa a soma das tendências de comportamento do indivíduo e que o tornam distinto dos demais em sua atuação cotidiana. Há diversos fatores que concorrem para o desenvolvimento da personalidade; no entanto, todos, de uma forma direta ou indireta, constituem parte da experiência social e cultural do indivíduo e integram seu processo de socialização. São fatores que influenciam o desenvolvimento da personalidade: a) A herança biológica: o ser humano tem um conjunto de necessidades biológicas comuns. Para satisfazer essas necessidades, os homens interagem com outros indivíduos de várias maneiras, o que provocará comportamentos que o diferenciarão de outras pessoas. A herança biológica, portanto, induz a diferentes interações com o outro, o que provoca modificações em nosso comportamento em determinado grupo social. b) O ambiente físico: o comportamento dos indivíduos sofre influência do ambiente físico e muitas vezes está diretamente associado a nossa herança biológica. Em ambientes frios somos induzidos a utilizar muita roupa, o que pode influenciar nosso relacionamento com os outros. Ao mesmo tempo desenvolveremos preocupações com a segurança, com o dia de amanha, a provisão de alimentos etc. Essas atitudes provocadas pelo ambiente físico causam mudanças no comportamento humano. c) A cultura da qual o indivíduo faz parte: Cada cultura adota determinadas normas no cuidado das crianças, a fim de desenvolver certos traços de personalidade, ou alguns deles. Numa 10 sociedade na qual a força física tem importância, por exemplo, desde cedo os meninos são submetidos a testes e treinamentos para desenvolver a coragem e o vigor. Assim, o indivíduo vai adquirir algumas características que são comuns a todos os outros que fazem parte de seu grupo. d) A história da vida do indivíduo ou sua experiência biológica e psicossocial únicas: cada pessoa tem experiências psicossociais e biológicas absolutamente diferentes de qualquer outro indivíduo. É praticamente impossível reproduzir em dois indivíduos a mesma experiência de vida. A história pessoal e única desenvolve em cada pessoa tendências de comportamento que em seu conjunto formam um ser único. Cada indivíduo, portanto, tem uma personalidade única, que não pode ser imitada de nenhum modo, pois é impossível reproduzir as condições em que se desenvolveu. Personalidade social Personalidade é o sistema de tendências do comportamento total de uma pessoa. A personalidade normal difere muito de uma sociedade para outra e dentro de uma mesma sociedade podem existir várias “personalidades normais”, em função das culturas existentes. Cada indivíduo desenvolve uma “personalidade normal” que é produzida pela experiência total de sua vida e é aceita pelos demais membros da sociedade. Nassociedades mais simples existe uma maior uniformidade da personalidade. Nas mais complexas, ocorre uma variação muito grande, embora haja traços gerais que identificam o indivíduo com o grupo ao qual ele pertence. Existe certo número de relações entre a estrutura da personalidade do indivíduo e a estrutura da sociedade á qual pertence. Essa relação é funcional, de modo a permitir que os indivíduos funcionem normalmente em sua sociedade. O patológico de uma sociedade pode ser o normal em outra, e vice-versa. Logo, o normal e o patológico são definidos pela sociedade e variam de uma para outra. Em sociedades complexas e heterogêneas, diferentes subculturas podem se formar, cultivando traços próprios de “normalidade” – por exemplo, as regiões brasileiras, com seus diferentes costumes, sotaques e tradições. Papel social Um papel social é um conjunto de direitos, obrigações e expectativas culturalmente definidos que acompanham um status na sociedade. A cada posição social (status) ocupada por uma pessoa corresponde um determinado papel social. Papel é o comportamento social esperado de uma pessoa que detém certo status. Cada pessoa pode ter inúmeros status aos quais correspondem papéis apropriados. Do mesmo modo que um ator em uma peça de teatro, o indivíduo que ocupa determinada posição social terá que atuar de acordo com o status que ocupa; nesse sentido, podemos falar dele como um ator social. Assim como no teatro, na vida real há bons e maus atores, aqueles que desempenham seus papéis de forma adequada ou não. Há bons e maus professores, médicos, pais, filhos etc. A existência do status pressupõe um determinado papel, que deve ser cumprido por quem ocupa esse status. De acordo com o status do indivíduo na sociedade, as pessoas sabem o que esperar ou exigir dele. Caso não cumpra seu papel, a sociedade possui meios de puni-lo. 11 É importante assinalar que um mesmo indivíduo ocupa vários status diferentes ao mesmo tempo. Ele pode ser simultaneamente professor, marido, sócio de um clube, vizinho, pai etc. E um único status estabelece várias relações diferentes, que podem ser coletivamente reconhecidas como um jogo de papéis. Assim, espera-se que um professor desempenhe seu papel com os estudantes, colegas, outros membros da universidade e assim por diante. Em grande medida, a socialização consiste no aprendizado de papéis. As pessoas precisam aprender a desempenhar o papel que seu status lhe determina – o estudante, o membro de uma associação, o filho, o cidadão etc. A aprendizagem dos papéis envolve pelo menos dois aspectos: aprendemos a cumprir os deveres e reivindicar os privilégios do papel; e adquirimos as atitudes, sentimentos e expectativas apropriados ao papel. Desempenho de papel Sendo o papel o comportamento esperado e alguém que ocupa determinado status, “desempenho de papel” é o comportamento real de quem o desempenha. O desempenho pode diferir do esperado por muitas razões: diferenças de interpretação, características de personalidade, variações no grau de comprometimento com o papel e até conflitos com outros papéis. Decorre daí que não há dois indivíduos que desempenhem um dado papel exatamente da mesma forma. Muitas vezes, os papéis podem entrar em conflito. Um trabalhador promovido a um posto de chefia, em um primeiro momento, pode sentir-se dividido entre sua lealdade á direção da empresa e para com os seus antigos colegas trabalhadores. Uma mulher que é mãe, esposa e, ao mesmo tempo, estudante, poderá ter problemas para cumprir bem todos esses papéis. Tema 4 – O AGENTE SOCIAL ATIVO O grupo social: a sociedade precede o indivíduo e o ser humano é um produto da interação social. Os seres humanos, desde tempos imemoriais, sempre viveram em grupos. Nossa espécie aprendeu que esse é o modo mais seguro de superar outros animais, fisicamente mais dotados para sobreviver na natureza. A essa necessidade se acrescentaram muitas outras, ao longo dos tempos, tornando a convivência social indispensável. Com isso, aumentaram as formas de interações humanas, que por sua vez fizeram surgir as instituições e organizações fundamentais para permitir o funcionamento das estruturas baseadas nas relações sociais. Assim, a própria existência fora do grupo social tornou-se difícil, quase impossível, para o ser humano. Por meio das interações recíprocas, os homens criam instituições, organizações e fenômenos sociais. Podemos dizer que o homem ao nascer já encontra o grupo estruturado, com base em valores, normas, costumes etc. Através da transmissão cultural, aprende a viver em sociedade, transformando-se assim de um animal da espécie humana (no sentido puramente biológico) em um ser humano culturalmente definido. Pode-se portanto dizer que, sem contato com um grupo social, o animal homem dificilmente desenvolveria as características do que chamamos de “HUMANO”. Todas as pessoas nascem dentro de um grupo, e este dotará o indivíduo com os mesmos traços sociais dos outros membros e que o farão ser aceito dentro do grupo social a que pertence. É por 12 isso que podemos definir que o homem é um ser social. Essa definição pode ser simples, mas na verdade apresenta várias implicações. Como é um ser social, o indivíduo é produto de um sistema complexo de interações, que de um modo ou de outro ocorre com toda a humanidade, e mais particularmente na sociedade de que ele faz parte. Ao se relacionar com outros indivíduos no processo de socialização, ele vai adquirindo hábitos e costumes que vai se agregando aos poucos em sua personalidade individual e se identificando com uma personalidade social cada vez mais difusa. Isso acontece porque as interações vão se ampliando à medida que o tempo passa. Existe toda uma gama de possibilidades entre os dois extremos – o indivíduo isolado e aquele outro, profundamente integrado e interagindo com um número infindável de outras pessoas. Cada conjunto de interações vai formando estruturas mais ou menos complexas. Essas estruturas são manifestações humanas e só podem existir como tal. As possibilidades de interações são praticamente infinitas ao longo da vida, por isso há a chance de cada indivíduo contribuir para a criação de numerosas estruturas sociais. O indivíduo e as interações sociais. Quando duas ou mais pessoas estão em contato entre si e estabelecem uma comunicação, ocorre uma ação recíproca entre elas, isto é, suas ideias, sentimentos ou atitudes provocarão reações umas nas outras, acontecendo uma modificação do comportamento de todos. As pessoas influenciam e também sofrem influência dos outros. Quando isso ocorre, dizemos então que existe uma INTERAÇÃO SOCIAL. Podemos definir interação social como: AÇÃO RECÍPROCA DE IDEIAS, ATOS E SENTIMENTOS ENTRE PESSOAS, ENTRE GRUPOS OU ENTRE PESSOAS E GRUPOS. A INTERAÇÃO IMPLICA MODIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO DAS PESSOAS OU GRUPOS QUE DELA PARTICIPAM. A BASE DE TODA VIDA SOCIAL É A INTERAÇÃO, QUE É RESPONSÁVEL PELA SOCIALIZAÇÃO DOS INDIVÍDUOS E TAMBÉM PELA FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE. Na interação social, as ações de uma pessoa dependem das ações de outros, e vice-versa; é o resultado da influência mútua. As interações sociais formam a base de toda organização e estrutura social. Para que exista interação social é preciso que haja contato social entre os indivíduos. Não é suficiente que exista contato físico. O que é importante é que, como resultado desse contato social e da comunicação que se estabelece entre os indivíduos, ocorre uma modificação de comportamento dos envolvidos. Os passageiros de um ônibus, por exemplo, estão fisicamente próximos, mas nem sempre estão interagindo. A interação social pode ocorrerde diferentes maneiras, e a essas maneiras denominamos RELAÇÃO SOCIAL. As relações sociais podem ser de vários tipos: culturais, econômicas, religiosas, políticas, pedagógicas, familiares etc. As relações que se estabelecem entre as pessoas nas instituições econômicas, como indústrias e bancos, podem ser denominadas 13 “relações econômicas”; as que ocorrem no âmbito do sistema educacional, como universidades e escolas, são “relações educacionais”; as existentes no âmbito de uma família são “relações familiares”; entre pessoas que se agregam em instituições religiosas desenvolvem “relações religiosas”. Interação e identidade social Chamamos de “identidade social” a percepção de quem somos e qual o nosso papel no conjunto da sociedade. As identidades sociais são importantes porque permitem ao indivíduo definir seus planos de ação, adquirir um critério para avaliar seu próprio desempenho e dar significado a sua vida. A afirmação da identidade social ocorre estabelecendo-se um parâmetro com outros membros da sociedade. A roupa que a pessoa usa pode servir para distinguir um indivíduo em um grupo ou para demonstrar sua aptidão para uma determinada função. Em outro exemplo, a aptidão para tocar um instrumento pode servir como símbolo de identidade social. Atualmente, um fator muito valorizado na identidade social é a condição física das pessoas. Na verdade, a identidade social está sempre associada à identificação com um grupo particular e à diferenciação com outros grupos. O fato de o indivíduo querer ser mais magro ou mais elegante é querer se identificar com um determinado grupo que é mais bem aceito na sociedade em que ele vive. Os diferentes modos de se vestir são associados a determinados grupos que são prejulgados socialmente em um determinado contexto cultural. Assim, o processo de formação da identidade social tem dois momentos importantes: 1º momento – a diferenciação do grupo mais geral 2º momento – a procura pelos semelhantes que constituirão um grupo, o qual se identificará como tal perante os outros. Esse processo de formação da identidade é bastante claro quando um adolescente procura se diferenciar dos outros membros de sua família, pela adoção de determinado tipo de vestimenta, corte de cabelo, utilização de adornos etc.; é um momento importante de afirmação da identidade social e que se completa com a procura de outros adolescentes, de outras famílias, mas que apresentam os mesmos interesses. Os processos sociais básicos Denominamos “processos sociais” a interação repetitiva de padrões de comportamento comumente encontrados na vida social. São as diversas maneiras pelas quais os indivíduos e os grupos se relacionam, estabelecendo assim as relações sociais. Os principais processos sociais básicos são: Cooperação; competição; conflito; acomodação; assimilação. Vejamos como eles são definidos. a) COOPERAÇÃO – consiste sempre em uma ação comum para realizar determinado fim. Ou seja, é um modo de interação em que diferentes indivíduos ou grupos trabalham juntos para um fim comum. Um mutirão de limpeza, um estudante emprestar ao outro uma caneta, recolher alimentos para a população pobre, formar 14 uma comissão para angariar fundos para a formatura na faculdade e tantos outros são exemplos de cooperação. A divisão social do trabalho que as diferentes sociedades estabelecem é uma maneira importante de cooperação. Assim, cada indivíduo ou grupo realiza um trabalho diferente para a manutenção da sociedade como um todo. Há pessoas ou grupos que fabricam roupas; outros, alimentos; outros são encarregados de fornecer a energia elétrica; outros transportam pessoas; outros são responsáveis pela transmissão formal da cultura etc. A divisão social do trabalho é uma característica exclusiva das sociedades humanas, pois os animais, de modo geral, realizam um tipo de trabalho específico, como as abelhas, que produzem mel, ou os castores, que constroem represas. Com a industrialização, cresceu muito a divisão técnica do trabalho, que é quando os homens dividem uma atividade em inúmeras partes, as quais serão executadas por diferentes pessoas, que passam a não ter o controle do processo como um todo. Esse parcelamento do processo produtivo permitiu o incremento na fabricação de produtos para o atendimento de um número maior de pessoas, sendo a linha de montagem da indústria a expressão maior desse fenômeno. b) COMPETIÇÃO – É um processo social que ocorre com os indivíduos ou grupos sociais e que consiste na disputa, consciente ou inconsciente, por bens e vantagens sociais limitadas em número e oportunidades (bens escassos). Os indivíduos ou grupos podem competir por alimentos, dinheiro, empregos, prestígio, afeto de outras pessoas, ou por uma infinidade de motivos. Na sociedade capitalista, os indivíduos são estimulados a competir em todas as suas atividades, seja no emprego, no lazer, na escola etc. Assim, é a competição um processo permanente. Quando a competição se torna altamente consciente, e há hostilidade deliberada, torna-se rivalidade. Da rivalidade pode ser gerado o conflito. De modo geral, a competição apresenta utilidade para a sociedade ou para determinados grupos sociais quando é regulada de algum modo, seja formal (por leis, regulamentos, decretos) ou informalmente (pelos costumes, tradições etc.). Campeonatos esportivos, o vestibular, a disputa comercial entre as nações, a concorrência entre empresas pelo mercado são formas de competição. c) CONFLITO – O conflito ocorre quando pessoas ou grupos procuram recompensa pela eliminação ou enfraquecimento dos competidores. Ao contrário da competição, envolve uma atitude consciente, emocional e transitória. Em sua forma mais extrema, o conflito leva à eliminação total dos oponentes. Os indivíduos ou grupos em conflito têm consciência de suas divergências, existindo entre eles rivalidade, críticas fortemente carregadas de emoção, muitas vezes o ódio, e apresentam como primeiro impulso a destruição do adversário. Em razão do elevado grau de tensão social que envolve os indivíduos ou grupos que dele participam, o conflito não pode durar muito tempo. Portanto, é periódico e intermitente. O conflito externo tende a integrar internamente um grupo. O conflito com outro grupo proporciona aos membros uma saída externa para suas hostilidades e seus ressentimentos, aliviando, desse modo, grande quantidade de tensões internas. Os conflitos podem ser de vários tipos: raciais, econômicos, religiosos etc. O conflito pode assumir várias formas, como o litígio, o duelo, a sabotagem, a revolução e a guerra. 15 d) ACOMODAÇÃO – A acomodação é o processo pelo qual o indivíduo ou grupos se ajustam a uma situação conflituosa sem terem admitido mudanças importantes nos motivos que deram origem ao conflito. Consiste em criar acordos temporários entre os oponentes. A acomodação pode ter vida curta ou durar até séculos. Por meio dela, os indivíduos ou grupos aceitam uma determinada situação, permitindo acabar com o quadro de conflito, embora não mudem suas atitudes, pensamentos ou sentimentos. Na realidade, a acomodação só encobre ou provoca a diminuição do conflito. Ela não o elimina. Somente com a assimilação o conflito pode desaparecer. A acomodação, portanto, é o ajustamento aparente, superficial e quase sempre precário dos que estiveram em conflito e pode apresentar vários graus: a. A coerção: quando o contendor vitorioso domina completamente seu rival e lhe impõe seus costumes e modos de agir; b. A tolerância – quando as partes em conflito encerram a luta, mas não buscam qualquer tipo de entendimento, apenasse toleram mutuamente; c. O compromisso ou acordo – quando ocorrem concessões de ambas as partes que estão em conflito. O acordo pode ser obtido através de uma arbitragem (quando uma terceira parte estabelece os termos, e as partes em conflito os aceitam antes de conhecê-los) ou uma mediação (quando a terceira parte propõe um acordo, cujos termos são discutidos com os interessados); d. A conciliação – ocorre quando as partes em conflito, após identificarem interesses e propósitos comuns, resolvem viver em paz, embora mantenham algum tipo de hostilidade. e) ASSIMILAÇÃO – A assimilação é um processo longo e complexo, que implica que os indivíduos ou grupos alterem profundamente suas maneiras de pensar, sentir e agir. Garante uma solução permanente para os conflitos, além de possibilitar uma difusão cultural mútua, pela qual grupos e pessoas passam a partilhar uma cultura comum. em relação ao conflito, podemos dizer que, se a acomodação o diminui, a assimilação praticamente o faz desaparecer. A assimilação é o processo que surge se a acomodação teve êxito e perdurou, que acabará afetando, além do comportamento exterior, os hábitos e costumes daqueles que se acomodaram. Por ser um processo profundo e durável, os valores e as atitudes são partilhados por pessoas ou grupos que eram diferentes e se tornam semelhantes. Podemos definir a assimilação, também, considerando-a um modo de interação social, pelo qual os indivíduos ou grupos modificam profundamente suas atitudes e seus valores com o objetivo de se integrar ao meio social em que vivem. Quando ocorre uma assimilação de elementos culturais de um grupo por parte de outro e vice-versa, denominamos esse processo de “aculturação”. Quando acontece uma modificação na fé religiosa ou nos ideais políticos de alguém, dizemos que houve uma “conversão”. O melhor exemplo de assimilação é o que ocorreu com diversas correntes imigratórias no Brasil, as quais se identificaram de tal modo com a nova cultura que passaram a fazer parte dela. 16 Tema 5 – OS AGRUPAMENTOS SOCIAIS a) Grupos Sociais Grupo social, segundo o Novo Dicionário Aurélio, é “a forma básica da associação humana; agregado social que tem uma entidade [individualidade] e vida própria, e se considera como um todo, com suas tradições morais e materiais”. Para o psicanalista argentino José Bleger, “um grupo é um conjunto de pessoas que entram em interação, mas, além disso, o grupo é, fundamentalmente, uma sociabilidade estabelecida”. Complementando este conceito, o filósofo francês Jean-Paul Sartre afirmava que “enquanto não se estabelecer a interação não existe grupo, há somente uma serialidade, em que cada indivíduo é equivalente ao outro e todos constituem um número de pessoas equiparáveis e sem distinção entre si”. Um exemplo de serialidade são pessoas numa fila de ônibus ou de cinema. Elas estão juntas, mas não interagem, pois não se comunicam entre si. Não formam, portanto, um grupo. Seja qual for a definição, uma coisa é certa: grupo social sempre significa a reunião de pessoas que estão mutuamente em interação. Duas pessoas já podem formar um grupo. Para a Sociologia, grupo social é toda reunião mais ou menos estável de duas ou mais pessoas associadas pela interação. Devido à interação social, os grupos têm de manter alguma forma de organização, no sentido de realizar ações conjuntas de interesse comum a todos os seus membros. Os grupos sociais apresentam normas, hábitos e costumes próprios, divisão de funções e posições sociais definidas. Como exemplos podemos apontar a família, a escola, a igreja, o clube, a nação etc. Principais grupos sociais Ao longo da vida, as pessoas participam geralmente de vários grupos sociais. Eis alguns deles: Grupo familiar – representado pela família; Grupo vicinal – representado pela vizinhança; Grupo educativo – desenvolvido na escola; Grupo religioso – representado pelas instituições religiosas (católica, evangélica, espírita etc.) Grupo de lazer – formado por clubes, associações esportivas, grupos de teatro etc. Grupo profissional – constituído por profissionais que trabalham em empresas, escritórios, lojas etc. Grupo político – formado pelos militantes de um partido político, por integrantes de organismos do Estado etc. Principais características dos grupos sociais Os grupos sociais se caracterizam por ter: Pluralidade de indivíduos – grupo dá a ideia de algo coletivo; Interação social – para que haja grupo, é preciso que os indivíduos interajam uns com os outros em seu interior; Organização – todo grupo, para funcionar bem, precisa de uma certa ordem interna; Objetividade e exterioridade – os grupos sociais são superiores e exteriores ao indivíduo, isto é, quando uma pessoa entra no grupo, ele já existe; quando sai, ele continua a existir. 17 Conteúdo intencional ou objetivo comum – os membros de um grupo unem-se em torno de certos princípios ou valores para atingir um objetivo comum; quando uma parte deles coloca em dúvida algum desses princípios, o grupo se desagrega ou sofre divisões; Consciência grupal ou sentimento de “nós” – são as maneiras de pensar, sentir e agir próprias do grupo; existe um sentimento mais ou menos forte de compartilhamento de uma série de ideias, pensamentos e modos de agir; Continuidade – as interações passageiras não chegam a formar grupos sociais estáveis; para isso, é necessário que as interações tenham certa duração, como acontece, por exemplo, com a família, a escola, a Igreja etc.; mas há grupos de duração efêmera, que aparecem e desaparecem com facilidade, como os mutirões para a construção de casas populares. Tipos de grupos sociais Os grupos sociais podem ser classificados em: Grupos primários, que são aqueles em que predominam os contatos primários, isto é, os contatos pessoais diretos; a família, os vizinhos, os grupos de lazer; Grupos secundários, que são mais complexos, como as igrejas e os partidos políticos, em que predominam contatos secundários; os contatos sociais, nesse caso, realizam-se de maneira pessoal e direta, mas sem intimidade; ou de maneira indireta, por meio de cartas, internet etc.; Grupos intermediários – são aqueles em que se alternam e se complementam as duas formas de contatos sociais: primários e secundários. Um exemplo desse tipo de grupo é a escola. b) Agregados Sociais Existem sensíveis diferenças entre grupos sociais e agregados sociais. Agregado social é uma reunião de pessoas com fraco sentimento grupal e frouxamente aglomeradas. Mesmo assim, essas pessoas conseguem manter entre si um mínimo de comunicação e de relações sociais. O agregado social se caracteriza por não ser organizado – não tem estrutura estável nem hierarquia de posições e funções. As pessoas que dele participam são relativamente anônimas, isto é, são praticamente desconhecidas entre si. O contato social entre elas é limitado e de pequena duração. Tipos de agregados sociais Multidão – Um grupo de pessoas observando um incêndio e uma reunião de foliões que se encontram na rua são exemplos de multidão. As principais características da multidão são: a) Falta de organização – apesar de contar, eventualmente, com um líder, a multidão não dispõe de um conjunto próprio de normas; seus membros não ocupam posições definidas no agregado; b) Anonimato – os componentes da multidão são anônimos, pois, ao se integrarem à multidão, seu nome, sua profissão ou posição social não são levados em conta, não têm importância alguma no agregado; c) Objetivos comuns – os interesses, as emoções e os atos são coletivos na multidão; d) Indiferenciação – não há espaço para as diferenças individuais se manifestarem, o que torna iguais seus integrantes;e) Proximidade física – seus componentes ficam próximos uns dos outros, mantendo contato direto e temporário. 18 A multidão pode assumir uma forma pacífica ou violenta. Quando adota uma atitude agressiva, é chamada de turba. Público – O público é um agrupamento de pessoas que seguem os mesmos estímulos. É espontâneo, amorfo, não se baseia no contanto físico, mas na comunicação recebida através de diversos meios de comunicação. Os indivíduos que assistem a uma competição esportiva ou a uma representação teatral ou show musical formam públicos. Todos os indivíduos que compõem o público recebem o mesmo estímulo (que vem da competição esportiva, da peça de teatro, da música etc.). Não se trata de uma multidão porque a integração dos indivíduos que formam o público é geralmente intencional. Na multidão, a integração é ocasional. Os modos de pensar, agir e sentir do público compõem o que é conhecido como opinião pública. O público é um tipo intermediário entre a multidão e os grupos sociais, porque no público há um tipo primário de organização, pois as pessoas estão sujeitas a certos regulamentos (compra de ingressos, obediência a horários etc.). Massa – As pessoas que assistem ao mesmo programa de televisão, veem o mesmo anúncio num cartaz ou leem em casa o mesmo jornal constituem a massa. Portanto, a massa: a) É formada por indivíduos que recebem, de maneira mais ou menos passiva, opiniões formadas, que são veiculadas pelos meios de comunicação de massa; b) Consiste num agrupamento relativamente grande pessoas separadas e desconhecidas umas das outras. Como não obedece a normas, o processo de formação da massa é espontâneo. Existe uma certa semelhança entre público e massa, pois também os componentes da massa estão unidos por um estímulo. Mas há uma diferença importante: ao contrário da massa, o público não tem uma atitude passiva diante da mensagem que recebe; ele opina, por meio de palmas, críticas e discussões. Ou seja, o público não apenas recebe opiniões, mas também exprime a sua. Isso em geral não ocorre com a massa. Por exemplo, ao assistir a um comício, as pessoas podem aprovar as ideias de um político com palmas, ou reprová-las por meio de vaias e impropérios. Algumas delas podem até mesmo externar suas opiniões no meio do público. Numa sociedade de massa, o tipo de comunicação que predomina é aquele transmitido pelos veículos de comunicação de massa. Por exemplo, um fabricante de sabonetes, ao anunciar seus produtos na televisão, não está procurando divulgá-lo para um conjunto de pessoas concretas, com sexo, cor, instrução ou idade, mas para as que estão diante da tela naquele momento e que, atingidas pela mensagem, eventualmente poderão comprar seu produto, muitas vezes sem necessidade imediata. Líderes demagógicos podem fazer o mesmo. Através de mecanismos de comunicação de massa podem induzir milhares de pessoas a comportamentos emotivos e irracionais, sem refletir sobre as mensagens que estão recebendo. Ao agir dessa forma, o demagogo não objetiva transmitir suas ideias ao cidadão esclarecido, mas a uma massa incorpórea, informe, sem identidade. De modo geral, podemos dizer que o grupo de indivíduos que se comporta como massa tende a ser manipulado, pois, na maioria das vezes, reage de forma espontânea, impensada, sem ter consciência de grupo. c) Mecanismos de sustentação dos grupos sociais 19 Toda sociedade conta com forças que mantêm coesos os grupos sociais. As principais dentre elas são a liderança, as normas e sanções, os símbolos e os valores sociais. Liderança A expressão liderança designa a capacidade de alguém, denominado líder, ou de algumas pessoas, de chefiar, comandar ou orientar um grupo de indivíduos em qualquer tipo de ação. Líder é aquele (ou aquela) que dirige o grupo, transmitindo ideias e valores aos outros membros. Há dois tipos de liderança: a) Liderança institucional – deriva da autoridade que uma pessoa tem em virtude de sua posição social ou do cargo que ocupa; o gerente de uma fábrica, o pai de família e o diretor de uma escola são líderes institucionais; seu poder de mando vem de seu cargo e de sua posição no grupo; b) Liderança pessoal – é aquela que se origina das qualidades pessoais do líder (inteligência, prestígio social e moral, poder de comunicação, atitudes, encanto pessoal etc.). Entre os chefes que exercem a liderança pessoal podem surgir líderes carismáticos, ou seja, pessoas dotadas de um encanto pessoal tão forte que os torna, aos olhos de seu público, iluminados, proféticos, ou mesmo sobrenaturais. Alguns exemplos de líderes carismáticos: Fidel Castro, Getúlio Vargas, Evita Perón, Adolf Hitler. Como peça importante de sustentação do grupo, o líder desempenha um papel integrador entre seus membros, transmitindo-lhes ideias, normas e valores sociais, ao mesmo tempo que representa os interesses e os valores do grupo. Por seu papel na condução e na sustentação do grupo, o líder é geralmente respeitado por todos os seus membros. Alguns deles chegam mesmo a ser venerados, como é o caso de Mahatma Gandhi (1869-1948), que liderou a luta pela independência da Índia, conquistada em 1947, ou o sul-africano Nelson Mandela (1918-2013). Normas e sanções sociais Toda sociedade e todo grupo social conta com uma série de regras de conduta que lhe dão coesão, orientam e controlam o comportamento das pessoas. Essas regras de ação são chamadas normas sociais. Segundo o que está socialmente estabelecido, as normas sociais indicam o que é “permitido” – e como tal pode ser seguido – e o que é “proibido” – que não pode ser praticado. A toda norma social corresponde uma sanção social. A sanção social é uma recompensa ou uma punição que o grupo ou a sociedade atribuem ao indivíduo diante de seu comportamento social. As sanções sociais podem ser: Aprovativas – quando são aplicadas sob a forma de aceitação, aplausos, honrarias, promoções; é o reconhecimento do grupo por ter o indivíduo cumprido o que se esperava dele; Reprovativas – quando correspondem a punições impostas ao indivíduo que desobedece a alguma norma social; tais punições variam de acordo com a importância que a sociedade dá à norma infringida; assim, são sanções reprovativas o insulto, a zombaria, a vaia, a perda dos bens, a prisão e, em alguns países, a pena de morte. Símbolos A todo momento nos deparamos com símbolos. Nas igrejas católicas, por exemplo, a cruz simboliza a fé em Cristo. Nos prédios públicos, a bandeira hasteada simboliza a autonomia e a unidade da nação. A pomba branca é o símbolo da paz. 20 Um símbolo é algo que representa ou substitui outra coisa, geralmente mais complexa e abstrata. É algo, portanto, cujo valor ou significado é atribuído pelas pessoas que o utilizam. Em nossa sociedade, por exemplo, a aliança é um objeto que simboliza a união e a fidelidade entre os cônjuges no casamento. Qualquer coisa pode tornar-se um símbolo. As pessoas atribuem significados a um objeto, uma cor, um hino ou um gesto, e estes se tornam símbolos de algo, como a riqueza, o prestígio, a posição social elevada etc. Entre nós, a cor que simboliza o luto é o preto; entre os povos orientais, é branco. Esse exemplo mostra que os símbolos são convenções. Ou seja, cada sociedade ou grupo social pode se utilizar de símbolos diferentes para exprimir o mesmo significado. A linguagem é um conjunto de símbolos. Por exemplo, as palavras menino, boy, garçon e bambino significam todas “criança do sexo masculino”, respectivamente em português, inglês, francês e italiano. A linguagem é a mais importante forma de expressão simbólica. Sem a linguagem não haveria organização social humana, em nenhuma de suas manifestações: política, econômica, religiosa, cultural etc. Sem ela provavelmente não existirianenhuma norma de comportamento, nenhuma espécie de lei, nenhuma criação científica ou literária. A criança amadurece e se socializa à medida que aprende a usar símbolos. Podemos dizer que todo comportamento humano é simbólico e todo comportamento simbólico é humano, já que a utilização de símbolos é exclusiva da espécie humana. Sem os símbolos não haveria cultura. Valores Sociais A sociedade estipula o que é desejável e o que é proibido, o que é bonito e o que é feio, o que é certo e o que é errado. Assim, na vida em sociedade, as ideias, as opiniões, os fatos, os objetos não são avaliados isoladamente, mas dentro de um contexto social que lhe atribui um significado,um valor e uma qualidade determinados. Quanto maior o contexto social, maior a variedade de opiniões, de princípios, de valores sociais, muitas vezes conflitantes. Os valores sociais variam também, principalmente no espaço e no tempo, em função de cada época, de cada geração, de cada sociedade. O trabalho doméstico e o cuidado dos filhos, antes considerados tarefas exclusivamente femininas, hoje são normalmente divididos entre o casal. Um pai que dá mamadeira a seu filho é olhado com simpatia e aprovação. O comportamento sexual é outra área em que se notam grandes mudanças. Até meados do século XX, a sociedade exercia um controle rígido sobre a sexualidade das pessoas, especialmente com relação às mulheres. O sexo, para a mulher, só era aceito socialmente dentro do casamento, e tinha como única finalidade gerar filhos. As mulheres que não se comportassem exatamente de acordo com esses valores eram malvistas e sofriam uma série de sanções sociais. Lentamente, esses valores foram se modificando. Mas sempre existiram mulheres mais liberadas e independentes o que a maioria de sua época. Devido à pluralidade de valores e tendências dentro de uma mesma sociedade, é comum encontrarmos pessoas que não conseguem se entender em determinadas questões, como religião, política, moral etc. Isso acontece porque elas têm escalas de valores diferentes. Conflitos de opinião entre pais e filhos também são comuns, configurando choques de geração. São problemas que sempre existiram na história da humanidade, mas que atualmente, devido às rápidas transformações sociais, tornaram-se mais complexos e evidentes. Em todos os tempos, jovens tendem a acompanhar e aceitar com mais facilidade do que os mais velhos as mudanças que ocorrem na sociedade. Esse fato faz com que eles se desentendam com a geração anterior. Tal situação configura uma crise de valores: os novos valores chocam-se com os já estabelecidos, criando tensão entre jovens e adultos. Tema 6 - SISTEMA DE STATUS E PAPÉIS SOCIAIS 21 Todo indivíduo ocupa na sociedade em que vive posições sociais que lhe dão maior ou menor valor, prestígio social e poder. A posição ocupada pelo indivíduo no grupo social ou na sociedade denomina-se status social. O status social implica direitos, deveres, manifestações de prestígio e até privilégios, conforme o valor social conferido a cada posição. Assim, os diretores de uma grande empresa gozam de certas regalias – altos rendimentos, carro à disposição, sala bem decorada, secretárias, tratamento cerimonioso por parte dos funcionários –, vantagens que os outros empregados não têm. Ou seja, o status dos diretores é mais elevado. Seus deveres e responsabilidades estão ligados a esse status, e muitas vezes eles precisam tomar decisões difíceis a favor da empresa, como demitir funcionários ou cortar salários. Numa sociedade, o indivíduo ocupa tantos status quantos são os grupos sociais a que pertence. Vejamos o exemplo de uma pessoa que é chefe de família, ocupa o cargo de gerente de vendas de uma empresa, é sócio de um clube, frequenta a igreja de seu bairro, pertence ao diretório regional de um partido político. Essa pessoa tem um status no grupo familiar, um status ocupacional, um status no grupo de recreação, outro no grupo religioso e outro ainda no partido político. Dependendo da maneira pela qual o indivíduo obtém seu status, este poder pode ser classificado em: Status atribuído – não é escolhido voluntariamente pelo indivíduo e não depende de suas ações ou qualidades. Por exemplo, o status de “filho de operário” ou de “irmão caçula”. Os principais fatores atribuidores de status são idade, sexo, raça, laços de parentesco, classe social etc. Status adquirido – obtido em função das qualidades pessoais do indivíduo, de sua capacidade e habilidades. Os status que uma pessoa obtém ao longo da vida como resultado de competição e trabalho são status adquirido, pois dependem de suas habilidades pessoais e supõem uma vitória sobre outros concorrentes e o reconhecimento de tal êxito pelo grupo social. Em algumas sociedades, como na Europa medieval, os status eram quase que exclusivamente atribuídos (uma pessoa era nobre porque sua família pertencia à nobreza). Nas sociedades modernas, predominam os status adquiridos. Um exemplo de sociedade em que ainda imperam os status atribuídos é a Índia, onde as pessoas já nascem dentro de uma categoria social –a casta – e nela permanecem até a morte, sem possibilidade de mudança de status. Em nossa sociedade, os indivíduos geralmente buscam status mais elevados. Isso explica a insistência com que se procura “subir na vida”. Quanto mais escassas as oportunidades para se conquistar determinado status, mais intensa a competição entre os concorrentes em disputa por ele. Papel social Ao dar uma aula e exigir que os alunos prestem atenção, o professor está cumprindo os deveres e exercendo os direitos ligados a seu status social. Ou seja, está cumprindo seu papel social. Papéis sociais são os comportamentos que o grupo social espera de qualquer pessoa que ocupe determinado status social. Corresponde mais precisamente às tarefas, às obrigações inerentes ao status. Por exemplo, de um médico se espera que atenda corretamente seus pacientes, que se preocupe com eles, que ouça suas queixas, que faça um diagnóstico preciso e que trate as enfermidades de modo competente. Caso não seja assim, não estará cumprindo o papel que seu status de médico determina e será, portanto, questionado pela sociedade. Status e papel social são coisas inseparáveis e só os distinguimos para fins de estudo. Não há status que não corresponda a um papel social e vice-versa. Todas as pessoas sabem o que esperar ou exigir do indivíduo, de acordo com o status que ele ocupa no grupo ou na sociedade. E a sociedade 22 sempre encontra meios para punir os indivíduos que não cumprem seu papel. Estrutura e organização social Uma escola é formada por pessoas que estudam – os alunos – e por pessoas que trabalham – entre as quais o diretor, o coordenador pedagógico, os professores, os professores, o secretário e os serventes. Cada um desses indivíduos ocupa uma posição social, um status no grupo. Cada posição está relacionada com as demais, e todas elas, em conjunto, formam a estrutura social da escola. Desse exemplo, pode-se concluir que estrutura social é o conjunto ordenado de partes encadeadas que formam um todo. Dito de outro modo, a estrutura social é a totalidade dos status existentes num determinado grupo social ou numa sociedade. Cada participante de uma estrutura desempenha o papel correspondente à posição social que ocupa (status). O conjunto de todas as ações realizadas quando os membros de um grupo desempenham seus papéis sociais compõe a organização social. Esta corresponde, portanto, ao funcionamento do organismo social. Durante o período letivo, a organização da escola é bastante dinâmica. No período de férias baixa a níveis mínimos, pois quase todos os indivíduos que a constituem não estão desempenhando seus papéis. Assim, quando a estrutura social dá ideia de algo estático, quesimplesmente existe, a organização social dá ideia de algo dinâmico, em permanente movimento. A estrutura social se refere a uma totalidade composta de partes, enquanto a organização social se refere às relações que se estabelecem entre essas partes. Quanto mais complexa a sociedade, maiores e mais complexas suas estruturas e sua organização social. Tanto a estrutura quanto a organização social são passíveis de mudanças, não permanecem sempre iguais. Elas podem passar, e passam com frequência, por processos de mudança social. Tema 7 - ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL CONCEITO O termo Estratificação social significa a divisão da sociedade em camadas (ou seja, estratos, de onde o termo estratificação). Estas camadas são distribuídas de maneira tal que seus ocupantes têm acesso desigual às oportunidades sociais e recompensas. Com isso, forma-se o que conhecemos como HIERARQUIA SOCIAL, que é portanto constituída pela superposição de estratos e camadas sociais. Todas as formas de organização social conhecidas até o presente se organizam de acordo com algum tipo de estratificação. Jamais existiu nenhuma sociedade onde a igualdade dos seus membros fosse absoluta. Os diferentes modelos de ordem social conhecidos são determinados pelas classes ou categorias que ocupam posições diferentes a hierarquia. Diversos fatores levam à estratificação. Na sua maioria, são causas sociais como a competição, o conflito, a divisão do trabalho e a especialização. Mas são importantes também os fatores biológicos, como o sexo, a idade, a raça e a etnia. Neste início de século a estratificação social está presente mais que nunca neste início de século, já que a mundialização da economia cria novos desafios, maior concorrência e novas exigências profissionais. 23 A estratificação social está diretamente ligada à existência de BARREIRAS SOCIAIS. Podemos definir as barreiras como sendo todos os elementos culturais que se destinam a impossibilitar ou dificultar o acesso de um indivíduo a um grupo ou camada social. Barreiras são, portanto, obstáculos que os indivíduos precisam superar para poder fazer parte de certos segmentos que eles desejam ou necessitam. Um mero diploma, por exemplo, pode constituir uma barreira, se o objetivo da pessoa é exercer certa atividade profissional. Existem no entanto barreiras sociais ilegítimas, como os preconceitos, a discriminação ou a segregação, que arbitrariamente servem para excluir as pessoas em função do interesse de outras, que dispõem de maior poder e controle que elas. A QUESTÃO DA IGUALDADE SOCIAL Se a desigualdade entre os indivíduos é antiga, é também verdade que houve muitas tentativas de remover essa desigualdade. No período contemporâneo foram feitas várias tentativas de criar uma sociedade igualitária. Os mais notórios foram os esforços de comunistas, anarquistas e socialistas. Mas eles nunca conseguiram atingir seu objetivo. O problema com esses esforços é que o sentido que conferiam à condição IGUALITÁRIA era equivalente a uma SOCIEDADE DE IGUAIS. Ou seja, as diferenças entre os indivíduos seriam desconsideradas, e todos seriam tratados como equivalentes. Essa intenção, no entanto, era voltada pra uma REALIDADE IDEALIZADA. Não levava em conta a complexidade da sociedade humana em termos reais. Por isso se entende que era uma utopia irrealizável e não foi plenamente bem sucedida em nenhum lugar do mundo. Hoje entendemos que as diferenças individuais permitem aos homens avançar na busca de suprir suas necessidades, valendo-se de suas capacidades e habilidades de trabalho, inventividade e senso de progresso pessoal. Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que não somos condicionados apenas por necessidades básicas, como alimentação, vestuário e abrigo. Também buscamos outros tipos de necessidade, de cunho estético, artístico, etc. Compreende-se assim que a diferenciação social sempre vai existir, pois existem pessoas que têm afinidades diferentes com certos níveis de hierarquia social. Na atualidade, a busca da igualdade se dá em outros termos. Essencialmente, buscam-se dois objetivos básicos: a) Obtenção e garantia de direitos iguais para todos, independentemente da condição social, sexual, de raça, de etnia etc.; b) Atendimento das necessidades básicas de alimentação, moradia, saúde, bem-estar social etc. Esses dois elementos devem integrar os direitos fundamentais da existência humana, com a garantia de toda a sociedade e sob a responsabilidade do Estado. O objetivo passou a ser a garantia de EQUIDADE SOCIAL. É com ela que procuramos combater a desigualdade e buscamos fazer com que o princípio de sociedade igualitária se refira a IGUALDADE DE OPORTUNIDADES, sem qualquer tipo de discriminação. A IGUALDADE E A DESIGUALDADE NA TEORIA Vários autores abordaram o problema da desigualdade na teoria sociológica. Entre eles, os mais influentes foram Karl Marx e Weber. 24 A visão de Marx é mais macrossociológica e dinâmica, enquanto a interpretação de Weber se volta mais para o indivíduo, analisando as relações entre eles e os grupos e dos grupos entre si. Os dois processos são incompatíveis, mas não se excluem sob o ponto de vista metodológico. A Visão marxista Karl Marx entendia que todos os fenômenos sociais estão ligados à economia. Por isso, ele via o problema da estratificação social em termos econômicos, expressando-se com maior clareza na sociedade capitalista, onde a desigualdade se estabelece nas relações de produção. É aí que se pode identificar as diferenças entre os homens, especialmente entre os que exploram e os que são explorados. As camadas sociais identificadas nas sociedades industriais passaram a ser denominadas “classes sociais”. Segundo a definição marxista, classes sociais são a expressão do modo de produzir da sociedade. A posição de cada classe é definida pela sua relação com os instrumentos de produção – isto é, se a classe os controla ou não. No primeiro caso, trata-se da classe dominante; no segundo, da classe dominada. Assim, as relações sociais são definidas de acordo com a classe social a que o indivíduo pertence. A visão de Weber Ao contrário de Marx, o também alemão Max Weber não acreditava que o papel da economia fosse exclusivo na definição da posição social dos indivíduos. Essa posição não seria definida apenas por um elemento da realidade social, mas por três: além da economia, também eram importantes as dimensões social e política. A estratificação social, portanto, seria produzida pela combinação desses três fatores, sendo que cada um se expressa por um componente específico: a posição econômica se expressa pela riqueza e renda. A posição social (status) se expressa pelo prestígio, baseando-se na HONRA SOCIAL. E a posição política se expressa pelo poder. Além disso, Weber tinha uma concepção diferente da de Marx sobre o que era uma classe social. Ele entendia que a condição de classe dos indivíduos não era estabelecida por sua posição em relação aos meios de produção, mas sim pela sua condição de satisfazer suas necessidades materiais no presente e no futuro. Tema 8 - DESIGUALDADE DE RAÇA E ETNIA Entre os fatores que influenciam a desigualdade social estão as divisões por critérios de raça e etnia, e os comportamentos derivados dessas condições. Esses conceitos são importantes, porque se referem a agrupamentos humanos identificados por suas características externas. Mas há uma diferença: essas características se manifestam através de formas culturais (étnicas), através de modo de vida, de falar, hábitos e costumes; ou a partir de especificações físicas/hereditárias (raça), através de cor da pele, 25 formato
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