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RESUMO 1 1.1 Evolução do Direito das obrigações: da execução pessoal à patrimonial Na Grécia Antiga não havia definição de “obrigação”, mas Aristóteles dividiu as relações obrigatórias em duas: voluntárias (acordo entre as partes),e involuntárias (resulta de um fato, que faz nascer uma obrigação). No Direito Romano: não se conheciam a expressão “obrigação”, mas tinha um equivalente chamado nexum , espécie de empréstimo, onde o credor podia exigir do devedor determinada prestação, que caso não fosse cumprida, o devedor poderia responder com o próprio corpo. O grande passo nesse processo evolutivo foi dado pela Lex Poetelia Papiria, de 428 a.C., que aboliu a execução sobre a pessoa do devedor, deslocando-a para os bens do devedor, realçando o seu caráter patrimonial. O grande diferencial do conceito moderno de obrigação para os anteriores é o deslocamento da garantia da pessoa do devedor para o seu patrimônio. O Código de Napoleão de 1804, consagrou essa conquista em seu artigo 2.093: “Os bens do devedor são a garantia comum de seus credores”. Regra geral para aquele Direito positivado e para a construção teórica moderna do Dir. das obrigações brasileiro. 1.2 As fontes das obrigações Fonte no contexto jurídico, →Causa ou origem dos institutos, todo fato jurídico de onde brota o vinculo obrigacional. São os meios pelos quais se formam ou se estabelecem as normas jurídicas. A doutrina costuma colocar a lei como fonte primária das obrigações. Contudo entre a lei e os seus efeitos obrigacionais (direitos e obrigações), existirá um fato jurídico (o contrato, o ato ilícito,etc). - A lei é a causa primeira de toda e qualquer obrigação – FONTE IMEDIATA (não pode existir obrigação sem que a lei, ou em síntese o ordenamento jurídico, a ampare) - Entre a lei e os efeitos obrigacionais há sempre uma situação de fato – FONTE MEDIATA (fatos, atos e negócios jurídicos que dão margem ao surgimentos de obrigações) (ex: No caso da prestação alimentar a causa é o próprio vinculo de parentesco existente entre pai e filho.) Classificação das fontes mediatas das obrigações: a) Os atos (ação) jurídicos negociais (o contrato, o testamento, as declarações unilaterais de vontade (promessa de recompensa e testamento são exemplos de declarações unilaterais de vontade) ) b) Os atos jurídicos não negociais (o ato jurídico stricto sensu, os fatos materiais – como a situação fática da vizinhança, etc) – simples comportamento humano produz efeitos na órbita do direito, sendo capaz de gerar obrigações perante terceiros, com características singulares. (ex. construir cerca que invade terreno do vizinho, obrigação de fazer + indenização) c) Os atos ilícitos (no que se incluem o abuso de direito e o enriquecimento ilícito) – comportamento humano, contrário ao direito e causador de prejuízo de ordem material ou moral. (alguém guia o veiculo, excede a velocidade, atropela outrem, concretiza o previsto no artigo 186 do CC/02./ O agente ficará vinculado à vitima até que cumpra sua obrigação de indenizar) Destaca-se o abuso de direito, conforme artigo 187, independentemente da intenção ou não de prejudicar o terceiro. Exemplo: negativa injustificada de contratar, após o aceitante efetuar gastos nesse sentido / abuso do direito de propriedade causando danos a vizinhos, etc. (obrigação do causado do dano (devedor) indenizar o prejudicado (credor) 1.3 Conceito e importância do direito das obrigações - Conceito: conjunto de normas (regras e princípios) reguladoras das relações patrimoniais entre um credor (sujeito ativo) e um devedor (sujeito passivo) a quem incumbe o dever de cumprir, espontânea ou coativamente, uma prestação de dar, fazer ou não fazer. - a locução direito das obrigações, embora difundida, é impugnada sob o argumento de que põe o acento tônico num dos lados da relação jurídica, precisamente o passivo. Outros preferem denomina-lo de direitos de crédito, salientando o aspecto ativo, incorrendo no mesmo vicio de unilateralidade. - Liga-se mais proximamente à relações econômicas. O direito das obrigações exerce grande influencia na vida econômica, em razão da notável frequência das relações jurídicas obrigacionais no mundo consumerista. Intervem na produção (aquisição de matéria prima) , nas relações de consumo (compra e venda, locação, arrendamento, etc), distribuição e circulação de vendas (revenda, consignação, armazenagem, contratos de transporte) 1.4 Distinções fundamentais entre Direitos Pessoais e Reais Direito Real: é o direito que traduz o poder jurídico direto de uma pessoa sobre uma coisa, submetendo-a em todos (propriedade) ou em alguns de seus aspectos (usufruto, servidão, superfície, etc) – Corrente realista Direito Pessoal: consiste num vínculo jurídico pelo qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação. Constitui uma relação de pessoa a pessoa e tem, como elementos, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação. 3 características dos direitos reais: a) Legalidade ou tipicidade – os direitos reais somente existem se a respectiva figura estiver prevista em lei. (art. 1225 do CC/02) b) Taxatividade: a enumeração legal é taxativa, não admite ampliação pela simples vontade das partes (numerus clausus) c) Publicidade – primordialmente para os bens imóveis, por se submeterem a um sistema formal de registro, que lhes imprimi essa característica. Teoria Unitária Realista: procura unificar os direitos reais e obrigacionais a partir do critério do patrimônio, considerando que o direito das coisas e o direito das obrigações fazem parte de uma realidade mais ampla, que seria o direito patrimonial. (a diversidade de princípios que orientam tais direitos, dificultam a sua unificação em um só sistema) Teoria Dualista (duas,dois direitos): o direito real apresenta características próprias, que o distinguem dos direitos pessoais ou obrigacionais. Possui princípios próprios. Os Direitos obrigacionais diferem dos direitos reais nos seguintes aspectos: a) Quanto ao objeto, porque exigem o cumprimento de determinada prestação, ao passo que os direitos reais incidem sobre uma coisa. b) Quanto ao sujeito: no direito obrigacional é: determinado ou determinável. No direito real é indeterminado (ou seja todas as pessoas do universo devem abster-se de molestar o titular) A escola clássica afirma que o direito real apresenta 2 elementos: uma pessoa (sujeito ativo de um direito) e uma coisa, objeto desse direito. A teoria personalista e anticlássica: o direito real não passa de uma obrigação passiva universal. Marcel Planiol, defensor da doutrina personalista, afirmava que não se pode conceber uma relação jurídica entre a pessoa e a coisa (nunca). A relação jurídica é sempre entre duas pessoas (sujeito ativo e passivo) A princípio disse que no direito real, há uma obrigação passiva universal ou seja, uma obrigação de abstenção de todas as pessoas. (quer dizer que todas as pessoas devem se abster de qualquer ato lesivo ao titular do direito). A ideia do dever geral de abstenção, que caracterizaria a obrigação passiva universal nas relações jurídicas reais é desprovida de maior significado jurídico, considerando que este “dever geral de respeito” deve ser observado sempre, em toda e qualquer relação jurídica, real ou pessoal, indistintamente. A existência de obrigação passiva universal não basta para caracterizar o direito real, porque outros radicalmente distintos pode ser identificados pela mesma obrigação negativa e universal. ATENÇÃO: para os direitos reais,o sujeito passivo (alguém) e sua correspondente obrigação somente surgem quando houver a efetiva violação ou ameaça concreta de lesão. (o infrator terá o dever de restabelecer o status quo, ou não tendo efetiva lesão, abster-se da prática de qualquer ato danoso, sob pena de ser civilmente responsabilizado.) ex: ameaça de invasão, esbulho de minha propriedade) c) Quanto à duração: Direitos obrigacionais são transitórios e se extinguem pelo cumprimento ou por outros meios. Direitos reais são perpétuos, não se extinguindo pelo não uso, mas somente nos casos expressos em lei (desapropriação, usucapião em favor de terceiro etc.) d) Quanto à formação: Direitos obrigacionais: resultam da vontade das partes, sendo ilimitado o numero de contrato inominados. Direitos reais: só podem ser criados pela lei, sendo seu número limitado e regulado por esta. (numerus clausus) e) Quanto ao exercício: Direitos obrigacionais: exigem uma figura intermediária que é o devedor. Direitos reais: são exercidos diretamente sobre a coisa, sem necessidade da existência de um sujeito passivo. f) Quanto à ação: Direitos obrigacionais: a ação é dirigida contra quem figura no polo passivo. Direitos reais: a ação real pode ser exercida contra quem quer que detenha a coisa. 1.5 Os elementos constitutivos das obrigações: sujeitos, objeto, vínculo São três os elementos próprios da obrigação: 1) elemento subjetivo: são os sujeitos da relação jurídica (sujeito ativo ou credor, sujeito passivo ou devedor) 2) elemento objetivo ou material (objeto que se chama prestação), 3) o vínculo jurídico ou elemento imaterial (abstrato ou espiritual). Sujeitos da relação obrigacional (elemento subjetivo) O elemento subjetivo é duplo: um sujeito ativo (credor) e um sujeito passivo (devedor). - O sujeito ativo é aquele em favor de quem o devedor prometeu determinada prestação, e como titular da prestação tem o direito de exigi-la. → Os sujeitos da obrigação tanto ativo como o passivo podem ser: pessoa natural ou jurídica. Devem ser determinados ou ao menos determináveis. Só não podem ser indetermináveis. As vezes o sujeito da obrigação não é desde logo determinado podendo ocorrer a indeterminação inicial e posterior determinação do sujeito (quando o ganhador na loteria apresenta o bilhete premiado, quando se promete recompensa a quem encontrar determinado objeto ou animal de estimação, etc) - o devedor é o sujeito passivo, sobre o qual recai o dever de cumprir a prestação convencionada. Pode ser determinado ou determinável. - artigo 381 do Código Civil, extingue-se a obrigação quando na mesma pessoa se confundem as qualidades de credor e devedor. Objeto da relação obrigacional (elemento objetivo) Objeto da obrigação é sempre uma conduta ou ato humano: dar, fazer ou não fazer (dare, facere, praestare, dos romanos). O objeto da obrigação se chama: prestação, pode ser positiva ( dar e fazer), ou negativa (não fazer). É uma ação ou omissão do devedor. As prestações serão: a) De dar: pode ser de dar coisa certa (artigo 233 e s. do CC), ou de dar coisa incerta (indeterminada quanto à qualidade: artigo 243) / consiste em entregar a coisa (no contrato de compra e venda, o vendedor se obriga a entregar a coisa), ou restituí-la (no comodato, o comodatário se obriga a restituir a coisa emprestada gratuitamente. b) De fazer: pode ser fungível ou infungível (247 e 249 do CC) e de emitir declaração de vontade. (CPC, art. 466-B) c) De não fazer: (artigo 250 e ss) A prestação (dar, fazer e não fazer) é o objeto imediato (próximo, direto) da obrigação. ( na compra e venda a obrigação de entregar é o objeto imediato. Objeto mediato ou objeto da prestação: →Para saber o objeto mediato (distante, indireto) da obrigação: dar, fazer ou não fazer o que? ) Se o vendedor se obrigou a entregar um veículo, este será o objeto mediato da obrigação. (objeto da prestação) →Na obrigação de dar: é a própria coisa / Na de fazer: a obra ou serviço encomendado. A prestação ou objeto imediato: → A prestação (dar, fazer e não fazer) é o objeto imediato (próximo, direto) da obrigação. (na compra e venda a obrigação de entregar é o objeto imediato.) → A prestação ou objeto imediato deve ser lícito, possível, determinado ou determinável. Objeto Lícito: é o que não atenta contra a lei, a moral ou os bons costumes. Exemplo: principio aplicado pelo legislador no artigo 150 do CC, que reprime o dolo ou torpeza bilateral e artigo 883 do Código Civil que nega direito a repetição do pagamento feito para obter fim ilícito, imoral, ou proibido por lei. Objeto possível: quando impossível, o negócio é nulo. Impossibilidade física: emana de leis físicas ou naturais. Quando a prestação avençada ultrapassa as forças humanas. Pode ser real: não se tratar de mera faculdade. Pode ser absoluta: alcançar a todos. (exemplo: colocar toda a água dos oceanos em um copo d’água. ) Impossibilidade jurídica: quando o ordenamento jurídico proíbe, expressamente, negócios a respeito de determinado bem, como herança de pessoa viva (artigo 426 CC), o bem público (art. 100, CC), e os gravados com cláusula de inalienabilidade. Objeto determinado ou determinável: →A prestação determinada é aquela já especificada, certa, individualizada: exemplo: obrigo-me a transferir a propriedade de uma casa, situada na rua das Oliveiras, s/n, cuja área total é de 100 metros quadrados... →A prestação determinável, por sua vez, é aquela ainda não especificada, mas que contém elementos mínimos de individualização. É objeto das obrigações genéricas. Exemplo: obrigou-se a dar duas sacas de café (obrigação genérica), no momento de individualizar o devedor ou o credor deverá especificar a prestação, individualizando-a. essa operação é chamada de concentração de débito. (conversão da obrigação genérica em determinada)
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